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A posse e as ações possessórias no CPC

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A posse e as ações possessórias no CPC/2015
A lei n° 13.105/15, apesar de ter mantido quase a totalidade das disposições do CPC de 1973 no que tange às possessórias, trouxe inovações importantes e necessárias, tais como as inscritas nos parágrafos do artigo 554 do novo diploma e o próprio artigo 565
As ações possessórias estão reguladas nos arts. 554 a 568 do Código de Processo Civil de 2015 (Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015), especificamente no Capítulo III do Título III (“Dos procedimentos especiais”) do Livro I da Parte Especial da novel legislação, em três seções.
De fato, denota-se que o diploma processual civil a viger a partir de 2016 manteve a divisão constante no CPC/1973 dos procedimentos especiais, entre os de jurisdição contenciosa (os quatorze capítulos do Título III do Livro I da Parte Especial) e os de jurisdição voluntária (cap. XV, com 12 seções).
Acerca de tal diferenciação, comenta Cássio Scarpinella Bueno (2015, p. 430) que, ao invés de dividir, muito mais condizente com o sentido da moderna processualística seria a desjudicialização dos procedimentos de jurisdição voluntária (aqueles em que o juiz não atua para resolver o conflito entre as partes, mas tão somente para integrar, chancelar, a vontade delas), a teor do incentivo que a nova legislação processual oferece aos meios alternativos de solução de conflitos (art. 3°, §§ 2° e 3°, do CPC/2015).
Ainda, na linha do que ensina Cássio Scarpinella Bueno (2015, p. 432), a opção do legislador para caracterizar um procedimento como especial é feita: a) considerando razões históricas, tradicionais (portanto, sem grande vinculação ao direito material respectivo) e b) pelas “peculiaridades do próprio direito material envolvido” (2015, p. 431), a indicar que o direito substancial dita ao legislador adjetivo a necessidade da criação de um outro e específico procedimento, para a adequada e eficiente prestação jurisdicional.[1: Cite-se a oposição que, no CPC/2015, está entre os procedimentos especiais, ao passo que, no Código de 1973, se apresenta como modalidade de intervenção de terceiros.]
Portanto, os procedimentos especiais, com cognição parcial justamente para a racionalização da prestação jurisdicional que visam garantir (com o aporte do art. 5°, inciso XXXV, da CF), têm sua razão de ser pelo direito material que viabilizam, o qual, diante de valores ditados pelo ordenamento substantivo, não pode ser processado na vala comum do procedimento padrão (que não fica inviabilizado pelo ajuizamento dos especiais).
O procedimento das possessórias é especial, variante do procedimento comum (paradigma), alocado no mesmo Livro I da Parte Especial do CPC/2015, supra referido, logo após a regulação do procedimento comum (“Do procedimento comum”).
Nesse sentido e com relação às possessórias, o procedimento especial contencioso que as caracteriza visa tutelar a posse, protegê-la de agressões e ameaças iminentes.
A posse é um estado fático de aparência, juridicamente relevante (VENOSA, 2011, p.28), o que denota, pois, a necessidade de a resguardar, prioritariamente, frente à propriedade, estado de direito. Nesse sentido, para Sílvio de Salvo Venosa (2011, p 28), “cabe ao Direito fornecer meios de proteção àqueles que se mostram como aparentes titulares de direito” e “a posse trata de estado de aparência juridicamente relevante, ou seja, estado de fato protegido pelo direito”.
Portanto, visam as possessórias à proteção de situações de fato (a posse) em detrimento de situações de direito (a propriedade), que serão analisadas judicialmente, as últimas, a posteriori, com amplitude e segurança.
As teorias mais difundidas, que procuram explicar a posse, são a subjetiva e a objetiva. Para a teoria clássica, ou subjetiva, de Savigny, a posse abrange o corpus, elemento material, poder físico sobre a coisa, e o animus, elemento subjetivo, a intenção de possuir, a posse, assim, como fato e direito. Considerando, pois, a teoria de Savigny, a posse diferencia-se da detenção, situação em que não há o animus (é a condição do locatário, comodatário, depositário, entre outros).[2: “Na concepção mais aceita, o vocábulo posse provém de possidere; ao verbo sedere apõe-se o prefixo enfático por. Nesse sentido (semântico), posse prende-se ao poder físico de alguém sobre a coisa. Há também os que sustentam que o termo deriva de potis (senhor, amo)” (VENOSA, Direito civil: direitos reais, 11 ed., 2011, p. 30).][3: Acerca do animus, comenta Arnoldo Wald (1991, p. 66): “Também não constitui posse o simples contato material sem vontade deliberada e consciência de praticar certos atos sobre o objeto. Assim o espectador no cinema não é possuidor da cadeira que ocupa, nem a pessoa que janta num restaurante tem a posse dos talheres e dos pratos que lhe são servidos”.]
Já para a teoria objetiva, de Lhering, a posse constitui-se tão somente pelo corpus, o elemento material: a posse como exteriorização de um direito sobre a coisa, com a utilização econômica da mesma, ainda que em nome de outrem. A adoção da teoria objetiva permite a coexistência da posse direta e indireta sobre o mesmo bem (usufruto, comodato, locação, entre outros).
Nesse sentido, permite-se ao possuidor indireto também acionar as possessórias para a proteção da sua posse. Esta é a teoria adotada no ordenamento pátrio (art. 1.196 do CC) e resulta na posse como um direito.
Mas qual é a espécie deste direito: real ou pessoal? Caio Mário da Silva Pereira, Orlando Gomes e Pontes de Miranda visualizam-no como um direito real: na posse, a sujeição da coisa à pessoa é direta e imediata, o direito do possuidor é exercido erga omnes como todo direito real.[4: GOMES, Orlando. Direitos Reais. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. 3. ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1971. V. 10 a 21. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Condomínio e incorporações. 7. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993.]
Entretanto, no tocante à legitimidade ativa do cônjuge, junto ao autor, no ajuizamento das possessórias, em composse ou em atos praticados por ambos os cônjuges (art. 10, § 2°, CPC/1973), visualiza-se exemplo de comunhão de direitos e obrigações, independentemente da relação do casal com a coisa, a evidenciar direito pessoal.[5: Correspondente ao art. 73, § 2°, do CPC/2015.]
Também, ao se adotar a teoria objetiva para a conceituação da posse, mister o reconhecimento da posse justa e da injusta. Justa é a posse adquirida em conformidade com o direito ao passo que a injusta é a adquirida de forma violenta, clandestina ou precária (arts. 1.200 e 1.208 do CC).
Considerando a teoria subjetiva, visualiza-se a posse de boa ou de má-fé (art. 1.201 do CC), o que gera efeitos quanto aos frutos colhidos durante a posse (art. 1.214 do CC) e à indenização no tocante às benfeitorias, também no exercício da posse (art. 1.219 do CC).
Importante ainda para a determinação da legitimidade ativa nas possessórias é a diferenciação entre a posse direta e a indireta, nos termos do art. 1.197 do Código Civil.
A posse direta é a do não proprietário que exerce alguma das faculdades concernentes ao domínio (possuidor) enquanto que na indireta o proprietário cede a outrem alguma das prerrogativas que possui sobre a coisa.[6: Ainda considerando a adoção da teoria subjetiva, não acatada pelo ordenamento jurídico pátrio.]
Silvio Venosa (2011, p. 31) diferencia também o ius possidendi (direito de posse e propriedade) do ius possessionis (fundado unicamente na posse, consoante com o aspecto externo da relação da pessoa com a coisa), considerado, o último, pela teoria objetiva e a ser tutelado na via processual. Ainda, comenta o autor (2011, p. 33) a diferenciação, considerando a teoria objetiva adotada, que o artigo 485 do Código Civil de 1916 estabelecia entre domínio (concernente às coisas incorpóreas) e propriedade (englobante das relações da pessoas com as coisas corpóreas e incorpóreas).
Assim, considerando toda a dogmática existente acerca da posse, vista como aparência que deve ser protegidaprioritariamente ante a situação de direito concernente à propriedade, no âmbito processual denota-se, pois, os juízos possessório e petitório.
O juízo petitório (petitorium iudicium) considera exclusivamente o direito de propriedade, constituído por um caráter eminentemente ofensivo do proprietário, que deve provar juridicamente sua qualidade de senhor da coisa (são as ações reivindicatórias, de usucapião e imissão de posse).
Já o juízo possessório trata da questão da posse e, pois, refere ao caráter defensivo do possuidor, que visa, justamente, defender sua vinculação com a coisa (a posse) de violência ou agressão iminentes.
Por isso, são as possessórias rápidas e eficientes, com uma cognição parcial (prova somente da posse, fato externo), com vista a manter íntegro um estado fático.
No concernente às possessórias, consigna o artigo 554, caput, do CPC/2015 a fungibilidade que as caracteriza, considerando também o interdito proibitório, em vista da extensão do procedimento da reintegração/ manutenção de posse à ele (art. 568 CPC/2015). Os parágrafos do citado dispositivo, na visão de Cássio Scarpinella Bueno (2015, p. 440), constituem uma das maiores inovações do novel diploma processual no referente à matéria, ao estabelecerem regras facilitadoras da citação do corréus nos casos “em que figure no polo passivo grande número de pessoas” (art. 554, §§ 1° e 2°, CPC/2015) e da “intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública”, além da publicidade conferida ao procedimento (art. 554, § 3°), sem correspondentes na legislação de 1973.[7: Cássio Scarpinella Bueno critica o uso do termo “ações” que o CPC/2015 utiliza para nomear os diferentes procedimentos especiais que regula (2015, pp. 434-435) pois, segundo o autor, o vocábulo liga-se, sobretudo, ao direito material, integrando as “expressões idiomáticas”: opções legislativas, oriundas da tradição e não da técnica, apesar de reconhecer a praticidade do uso: “o uso daquelas expressões é útil, não nego, porque seria muito cansativo escrever e ler, invariavelmente, que mais correto do que ‘ação de consignação em pagamento’ é ‘procedimento especial de jurisdição contenciosa no qual o autor pretende a prestação de tutela jurisdicional consistente no reconhecimento judicial da extinção da obrigação pelo devedor em face de seu (s) credor (es), mediante o pagamento em consignação ocorrida no plano material”.][8: Correspondente ao art. 920 do CPC/1973.]
Entretanto, critica-se justamente a indeterminação do “grande número de pessoas”, a ser feita, pois, pelo magistrado, e a intimação do Ministério Público e da Defensoria Pública, o que representará, na verdade, uma procrastinação do feito, caracterizado, justamente, pela maior celeridade, consentânea aos procedimentos especiais.
Consequentemente, aponta-se que tal situação ocasionará na inversão da possessória em petitória, o que é vedado também na seara processual (art. 557, caput, do CPC/2015).[9: Data máxima venia, não concordamos com tais argumentos haja vista que a inclusão de tais disposições foi feita, justamente, com o fim de acelerar o procedimento e impedir a revelia, a ser evitada de todas as formas no âmbito dos procedimentos especiais, além de visar o oferecimento de maiores oportunidades de defesa e contraditório, com o intuito de cumprir, efetivamente, a promessa de salvaguarda da posse.]
Nos termos do artigo 555, I e II do CPC/2015, além do pedido possessório, pode ser cumulado pedido de perdas e danos e indenização dos frutos, além de “imposição de medida necessária e adequada para: I – evitar nova turbação ou esbulho; II – cumprir-se a tutela provisória ou final” (art. 555, § único, CPC/2015).[10: Correspondente ao art. 921 do CPC/1973.]
Já o art. 556 do CPC/2015 regula a defesa do réu nas possessórias, o que caracteriza o “caráter dúplice” do procedimento: o réu pode receber tutela jurisdicional equivalente à do autor no mesmo processo, sem formalidades, sendo desnecessária, pois, a reconvenção pelo legitimado passivo. O art. 557 e o seu § único do CPC 2015 reforçam a diferenciação entre os juízos possessório e petitório, ao vedar a propositura de ação para o reconhecimento do domínio na pendência da possessória, o que confirma os fundamentos alhures acerca da proteção privilegiada conferida pelo ordenamento jurídico pátrio à posse, em detrimento da propriedade.[11:  Correspondente ao art. 922 do CPC/1973.][12: Acerca deste dispositivo, Cássio Scarpinella Bueno (2015, pp. 438-440) aduz que o réu apresenta, na verdade, pedido contraposto em face do autor, o que não concordamos pois o pedido contraposto é específico do procedimento dos Juizados Especiais, regulado pela lei n. 9.099/1995. Já Silvio de Salvo Venosa comenta, oportunamente, que o caráter dúplice das possessórias decorre da lei, como forma de concentrar todas as controvérsias concernentes à posse num único procedimento, e não da deliberação das partes. Observa o autor: “mas a declaração de improcedência do pedido do autor não define com autoridade de coisa julgada a posse do réu sobre a área litigiosa” (2011, p. 139).][13: Correspondente ao art. 923 do CPC/1973.][14: O que diferencia as possessórias é, fundamentalmente, a causa de pedir das mesmas: a posse, enquanto que as petitórias têm como causa de pedir o domínio.]
Vide a jurisprudência: “AÇÃO POSSESSORIA. ‘JUDICIA DUPLICIA’. PROVA TESTEMUNHAL E PERICIAL. NÃO CABE, EM SEDE POSSESSORIA, A DISCUSSÃO SOBRE O DOMINIO, SALVO SE AMBOS OS LITIGANTES DISPUTAM A POSSE ALEGANDO PROPRIEDADE OU QUANDO DUVIDOSAS AMBAS AS POSSES ALEGADAS. NÃO CABE, EM RECURSO ESPECIAL, REAPRECIAR EM CONCRETO AS PROVAS EM QUE SE BASEARAM AS INSTANCIAS ORDINARIAS PARA DECLARAR A IMPROCEDENCIA DA DEMANDA E FIXAR A AREA A SER RESTITUIDA AO DEMANDADO REMANESCENTE. RECURSOS ESPECIAIS NÃO CONHECIDOS”. (Resp 5.462/MS, j. 20.08.1991).
As possessórias tutelam a denominada “posse nova”, ou de “força nova”, ocorrida em ano e dia do ajuizamento (art. 558 do CPC/2015).[15: Correspondente ao art. 924 do CPC/1973.]
Para a “posse velha”, ocorrida a mais de ano e dia do ajuizamento, o próprio § único do art. 558 da legislação adjetiva determina que o procedimento será o comum, “não perdendo, contudo, o caráter possessório”. Portanto, nos termos dos dispositivos mencionados, a par de na posse velha não ser possível o deferimento da liminar própria das possessórias (art. 562, CPC/2015, mencionado infra), cabe a concessão da tutela antecipada, nos termos dos arts. 294 a 311 do NCPC, apesar de, segundo Sílvio de Salvo Venosa (2011, p.149), “como há procedimento especial e circunstâncias próprias para o deferimento de liminar para as possessórias, as medidas gerais de antecipação de tutela, a nosso ver, mostram-se incompatíveis nesse campo”.
Fechando a Seção I (“Disposições gerais”) do rito das possessórias, o art. 559 do CPC/2015 trata da caução a ser prestada pelo autor provisoriamente mantido/reintegrado na posse, se o réu provar que o demandante não tem como suportar as perdas e danos, na improcedência do pedido (exceto se o demandante for hipossuficiente).[16: Corresponde ao art. 925 do CPC/1973.]
Acerca deste dispositivo, Sílvio de Salvo Venosa (2011, pp. 149-151) faz importantes considerações: que ele não se aplica, por obviedade, aos interditos proibitórios, que a caução, se real, será em dinheiro ou espécie, prestada na forma dos arts. 826 a 830 do CPC/1973 (“Da caução”), que deverá haver a prova da inidoneidade financeira do autor (ausência de outros bens, excesso de dívidas, número excessivo de ações ajuizadas em face do demandante), que, na hipótese de insatisfatória a caução, deverá haver o depósito judicial da coisa, com o fito de dar continuidade à liminar e ao próprio procedimento. Por fim, aconselha Venosa que a caução, a ser oferecida por termo nos autos, seja apensada, afim de se evitar tumulto no processamento (diante da possível instrução probatória acerca da situação financeira do demandante).[17: Semcorrespondentes no CPC/2015.]
A Seção II (“Da manutenção e da reintegração de posse”) abre, a partir do art. 560 do CPC/2015, a regulamentação dos remédios possessórios propriamente ditos (manutenção e reintegração de posse). Tais disposições devem ser analisadas em consonância com o disposto no art. 1.210 do Código Civil e também em conjunto com os arts. 170, III, 182, § 2°, e 186, ambos da Constituição Federal. Para Venosa (2011, p.130), “a mais grave das ofensas é o esbulho, em que o possuidor é despojado do poder de fato sobre a coisa [...] Busca-se recolocar o agente na disposição do direito possessório”. Acerca da manutenção, continua o autor (2011, p. 130): “a turbação situa-se em menor grau. Os atos turbativos molestam e dificultam a posse, sem suprimi-la do sujeito”. O art. 561 do CPC/2015 dispõe justamente acerca da causa de pedir das possessórias, que conferirá tal caráter a essas ações.[18: Correspondente ao art. 926 do CPC/1973.][19: Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. § 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.][20: Acerca da correspondência constitucional, comenta Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 129): “em princípio, não há que se proteger a posse, se a propriedade não cumpre sua função social”.][21: Correspondente ao art. 927 do CPC/1973.]
Já o art. 562 do CPC/2015 trata da expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, pelo magistrado, já ao analisar a inicial (“estando a petição inicial devidamente instruída”). Não havendo suficientes elementos probatórios do direito do demandante, o juiz designará uma “audiência de justificação”, com a participação do autor e do réu, para a colheita de provas e possível expedição, em audiência, do mandado liminar (art. 563 CPC/2015).[22: Correspondente ao art. 928 do CPC/1973.][23: Correspondente ao art. 929 do CPC/1973.]
Acerca desses dispositivos, comenta Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 146), que só o fato do juiz designar a audiência de justificação (que, devido à urgência, deve ser agendada para a data mais próxima na pauta do juízo) já demonstra que a petição inicial do autor está apta para o encaminhamento processual pois, no caso de inépcia da inicial, a ação seria extinta de plano. Ainda, aduz o mencionado autor (2011, p. 146) que o mandado liminar de manutenção ou reintegração de posse está sujeito aos mesmos requisitos das demais cautelares (fumus boni juris e periculum in mora), que a decisão concedente está sujeita a agravo de instrumento e, de modo geral, não pode ser modificada, salvo em retratação em sede de processamento do agravo ou alterações na situação fática, que recomendem a suspensão da liminar (a fungibilidade das possessórias - art. 554 do CPC/2015).[24:  Art. 295, I, cc. art. 267, I, ambos do CPC/1973, correspondentes aos arts. 330, I, cc. art. 485, I, ambos do CPC/2015.]
 Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 146) recomenda ainda que a liminar possessória seja dada somente na audiência de justificação pois “com a presença do réu citado para tal, poderá o juiz não somente obter a conciliação, como também decidir com base em prova mais palpável, colhendo diretamente os testemunhos acerca do conflito possessório.
O conteúdo da audiência prévia também é material importante para a decisão em segundo grau, no agravo de instrumento contra a decisão que defere ou indefere a medida, ou de eventual mandado de segurança para obtenção de efeito suspensivo excepcional a esse recurso.
Por fim, indaga o autor qual a função do réu na audiência de justificação se não foi aberto a ele, ainda, o prazo para contestar, a ser iniciado quando da decisão acerca da liminar (art. 930, CPC/73, ou 564, do CPC/2015).
O mesmo autor responde que, a par do prazo de contestação ainda não ter iniciado, pode o demandando, considerando o princípio constitucional da ampla defesa (art. 5°, LV, da CF) produzir provas em audiência, sobretudo com a oitiva do depoimento do autor e das testemunhas por ele trazidas, além da oitiva de suas próprias testemunhas e do seu depoimento.
O § único do art. 562 torna obrigatória a audiência prévia quando a medida liminar a ser oferecida for em face das pessoas jurídicas de direito público. Para Cássio Scarpirnella Bueno (2015, p. 439), tal disposição é inconstitucional, violadora do princípio da isonomia, inscrito no art. 37 da Carta Maior, e por isso não devia ser mantida na novel legislação processual civil. Segundo ele, inexiste presunção de que as pessoas jurídicas de direito público não agridam a posse particular (vide a criação doutrinária da “desapropriação indireta”).[25: Correspondente ao art. 928, § único, do CPC/1973.]
O art. 564 do NCPC estabelece o prazo para o autor promover a citação do réu, a partir da decisão concessória da liminar, mesmo que em audiência prévia (§ único do mesmo dispositivo).[26: Correspondente ao art. 930 do CPC/1973.]
Cássio Scapinella Bueno (2015, p. 440) aponta para o art. 565 do NCPC como a grande evolução que o novo Código trouxe no tocante às possessórias, juntamente com os parágrafos do art. 554 do novel diploma adjetivo.[27: Sem correspondência no CPC/1973.]
Segundo ele, a preocupação do legislador para com a realidade social do país, sobretudo no concernente às questões fundiárias, foi o cerne para a adição do supracitado dispositivo na matéria das possessórias.
Seja pela possibilidade de mediação, quando da posse velha, antes da decisão liminar (art. 565, caput) e caso a medida não seja cumprida, no prazo de 1 ano da sua concessão (art. 565, § 1°), seja pelo comparecimento do Ministério Público, da Defensoria Pública “sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça” e dos “órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município” que tiverem “interesse no processo”, para a “possibilidade de solução para o conflito possessório” (art. 565, §§ 2° e 4°), e também pela possibilidade de inspeção judicial (§ 3°) e extensão das normas em comento para o “litígio sobre propriedade de imóvel” (§ 5°), sem sombra de dúvida o art. 565 inserto na Lei Adjetiva muito contribuirá para a solução dos conflitos por terras, que assolam o país e que, sem o diálogo necessário entre os envolvidos (a que se propõe o dispositivo), poderá ter consequências fatais.[28: Vide a notícia: http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2015/11/integrantes-do-mst-tentam-impedir-reintegracao-de-posse-em-ubirajara.html.]
Compondo a Seção III (“Do interdito proibitório”), os artigos 567 e 568 do CPC/2015 regulam o interdito proibitório e estendem o procedimento das outras possessórias a este procedimento especial.[29: Correspondentes aos arts. 932 e 933 do CPC/1973.]
Acerca do interdito proibitório, ensina Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 130) que ele “é utilizado na situação de agressão iminente ou receio justificável de perturbação da posse. Cuida-se de situação em que a turbação ou o esbulho são altamente prováveis e atuais”. Com efeito, segundo autor, o interdito proibitório é cabível mesmo na hipótese de justo receio, caracterizado pelo “temor justificado de violência iminente contra a posse” (atos preparatórios de invasão do imóvel/ arma de fogo apontada na direção do possuidor, hipótese de agressão atual).
Também, segundo Venosa, o interdito visa a tutelar a ameaça ao “estado de fato de bens incorpóreos”, tais como a supressão do fornecimento de energia elétrica, a suspensão de sinais televisivos e informáticos, de linha telefônica ou outra modalidade de comunicação (2011, p.153).
Prevê-se a expedição do mandado proibitório como formade coibir a situação de ameaça ou violência iminente sobre a posse, com a imposição de pena pecuniária na hipótese de descumprimento. Sílvio de Salvo Venosa aponta que a pena pecuniária (astreintes) é fundamental para a efetividade do interdito, sendo que, caso o autor não requeira o mandado proibitório, deve o juiz concedê-lo de ofício (2011, p. 153).
De todo o exposto, denota-se que a lei n° 13.105, de 16 de março de 2015, apesar de ter mantido quase a totalidade das disposições do CPC de 1973 no que tange às possessórias, trouxe inovações importantes e necessárias, tais como as inscritas nos parágrafos do artigo 554 do novo diploma e o próprio artigo 565.
Tais dispositivos vieram em boa hora, a fim de minorar conflitos fundiários, oriundos das disputas acerca da legitimação da posse coletiva.

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