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Autora: Profa. Patricia Ceroni Scarabelli Luminotécnica, Instalações e Sistemas Estruturais Professora conteudista: Patricia Ceroni Scarabelli Arquiteta e urbanista, professora, pesquisadora, escritora e poetisa. É graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Paulista – UNIP, em 2001. É Mestre em Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-Campinas, em 2004. Atua, desde 2001, em seu escritório Scarabelli® Arquitetura, Design de Interiores e Paisagismo, desenvolvendo projetos e gerenciando obras. Possui diversos projetos e artigos publicados em revistas e jornais, bem como trabalhos em exposições, mostras e concursos de arquitetura. Tem dois livros publicados de uma trilogia. Seu primeiro livro, Arrabalde do Guanabara: um bairro em Campinas, foi lançado no ano de 2015, e o segundo, Guanabara nos trilhos da ferrovia: a pujança de um bairro, foi lançado em 2019. Desenvolve pesquisas relacionadas ao patrimônio histórico e arquitetônico desde 1999, tornando-se especialista na região do Guanabara em Campinas, São Paulo, e nas questões que envolvem o desenvolvimento urbano dessa cidade. Em 2008, participou da elaboração das diretrizes do projeto de restauro da Estação Guanabara, junto à Unicamp e à mostra de decoração e design Campinas Decor. Atualmente exerce o cargo de coordenadora pedagógica do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIP, no Campus Swift – Campinas-SP, e do Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores na modalidade EaD. Também coordenou os cursos de Desenho Industrial e Design de Interiores na modalidade presencial. Atua como professora nas disciplinas de Projeto Arquitetônico e de Design de Interiores e como orientadora de Trabalho de Curso e Projeto Integrado Multidisciplinar, na mesma instituição de ensino. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S285L Scarabelli, Patricia Ceroni. Luminotécnica, Instalações e Sistemas Estruturais / Patricia Ceroni Scarabelli. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 156 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-154/19, ISSN 1517-9230. 1. Sistemas estruturais. 2. Instalação hidrossanitária. 3. Luminotécnica. I. Título. CDU 621.32 U503.62 – 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jaci Albuquerque de Paula Marcilia Brito Elaine Pires Sumário Luminotécnica, Instalações e Sistemas Estruturais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 SISTEMAS ESTRUTURAIS .................................................................................................................................9 1.1 Breve histórico das construções ........................................................................................................9 1.2 Definição de sistema estrutural...................................................................................................... 12 1.3 Descrição do sistema estrutural ..................................................................................................... 12 1.3.1 Sistema estrutural linear: construção convencional e metálica ......................................... 13 1.3.2 Sistema estrutural plano: autoportante e pré-fabricado ....................................................... 15 1.3.3 Sistema estrutural espacial ................................................................................................................. 16 1.4 Classificação dos elementos estruturais ..................................................................................... 17 1.4.1 Pilar ............................................................................................................................................................... 17 1.4.2 Coluna ......................................................................................................................................................... 18 1.4.3 Viga ............................................................................................................................................................... 20 1.4.4 Laje ................................................................................................................................................................ 21 1.4.5 Treliça ........................................................................................................................................................... 23 1.4.6 Pórtico ......................................................................................................................................................... 24 1.5 Esforços na estrutura .......................................................................................................................... 24 1.6 Classificação dos apoios de uma estrutura ............................................................................... 30 2 O SISTEMA ESTRUTURAL E O DESIGN DE INTERIORES .................................................................... 33 2.1 Como agir diante do sistema estrutural? ................................................................................... 33 2.2 Tomada de decisões ............................................................................................................................. 34 2.3 Leitura do projeto estrutural ........................................................................................................... 35 Unidade II 3 INSTALAÇÕES PREDIAIS ................................................................................................................................ 39 3.1 Definição .................................................................................................................................................. 39 3.2 Principais instalações prediais ........................................................................................................ 40 3.2.1 Instalação hidrossanitária ................................................................................................................... 40 3.2.2 Instalação elétrica .................................................................................................................................. 41 4 INSTALAÇÃO HIDROSSANITÁRIA .............................................................................................................. 41 4.1 Instalação hidráulica: sistema predial de água fria ............................................................... 41 4.1.1 Definição ....................................................................................................................................................41 4.1.2 NBR 5626/1998: instalação predial de água fria, notas de estudo de engenharia civil .......................................................................................................... 45 4.2 Instalação hidráulica: sistema predial de água quente ........................................................ 51 4.2.1 Definição .................................................................................................................................................... 51 4.2.2 NBR 7198/1993: projeto e execução de instalações prediais de água quente.............. 55 4.3 Instalação sanitária: sistema predial de esgoto ....................................................................... 57 4.3.1 Definição .................................................................................................................................................... 57 4.3.2 NBR 8160/1999: sistemas prediais de esgoto sanitário – projeto e execução .............. 60 Unidade III 5 MATERIAIS E COMPONENTES ..................................................................................................................... 65 5.1 Materiais – tubos .................................................................................................................................. 65 5.2 Componentes – conexões ................................................................................................................. 68 5.3 Componentes – louças e metais sanitários ............................................................................... 69 6 PROJETO HIDROSSANITÁRIO ...................................................................................................................... 80 Unidade IV 7 INSTALAÇÃO ELÉTRICA .................................................................................................................................. 85 7.1 Definição .................................................................................................................................................. 85 7.2 NBR 5410/2004: instalações elétricas de baixa tensão – procedimentos..................... 88 7.3 NBR ISO/CIE 8995-1/2013: iluminação de ambientes de trabalho ................................. 91 7.4 Materiais e componentes ................................................................................................................105 8 LUMINOTÉCNICA ...........................................................................................................................................107 8.1 Percepção e cognição da luz natural .........................................................................................107 8.2 Relações entre Sol e Terra ...............................................................................................................110 8.3 Visão, cor e energia luminosa .......................................................................................................111 8.4 Fonte artificial de luz ........................................................................................................................113 8.4.1 Luminárias ...............................................................................................................................................114 8.4.2 Lâmpadas ................................................................................................................................................ 123 8.5 Projeto luminotécnico ......................................................................................................................128 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como objetivo fornecer ao aluno subsídios de concepção estrutural para o entendimento de projetos arquitetônicos e de design de interiores, de forma que seja possível conhecer os elementos estruturais das edificações, bem como seus elementos físicos. Outro objetivo é apresentar ao aluno os sistemas prediais elétrico e hidráulico, no que consistem os elementos que os compõem e a devida aplicação das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que regulamentam as instalações prediais. Além disso, conhecer a relação das estações do ano e do clima com a insolação e iluminação natural e artificial é fundamental para relacionar a percepção da realidade física com os sentidos e dosar essas energias nos espaços e ambientes projetados. Esta disciplina dará ao aluno o conhecimento necessário para poder atuar em ambientes internos de maneira responsável e consciente, sem risco de intervenções prejudiciais e danosas à edificação. Importante ressaltar que o profissional designer de interiores é tão responsável pela intervenção nos espaços internos quanto qualquer outro profissional envolvido no processo de transformação de ambientes. O conhecimento técnico o tornará capacitado a tomar decisões, gerir e acompanhar as intervenções no ambiente, bem como propor melhorias aos espaços internos das edificações, buscando o bem-estar e a qualidade de vida, tão importantes aos usuários. INTRODUÇÃO Este livro-texto tratará de assuntos relacionados ao sistema estrutural e às instalações prediais das edificações. Assim, os assuntos estão divididos por afinidade, organizando a relação de ensino-aprendizagem, tão importante para a capacitação e a qualificação técnica profissional. Inicialmente trataremos dos sistemas estruturais dos edifícios, com uma contextualização breve da história e da evolução das construções. A partir desse conhecimento, serão apresentados as características e os tipos de sistemas prediais, permeando conceitos dos sistemas estruturais linear, plano e espacial, bem como o que classifica os elementos construtivos em pilar, coluna, viga, laje, treliça e pórtico. Além desses elementos, abordamos os esforços que o sistema estrutural sofre e os tipos de apoios de uma estrutura, de forma a compreender as relações de estabilidade das construções. Para finalizar esse assunto, será discutido o posicionamento do profissional da área de design de interiores diante do sistema estrutural e sua respectiva responsabilidade técnica perante a legislação. Posteriormente, damos início ao assunto das instalações prediais, apresentando a sua importância para a edificação e as interferências em projeto. As principais instalações prediais são a hidrossanitária e a elétrica, ambas tratadas ao longo deste livro-texto e com base nas Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBR). Prosseguimos discorrendo sobre as instalações hidrossanitárias e sua divisão em instalação de água fria, instalação de água quente e instalação sanitária, relativas ao sistema predial de esgoto sanitário. 8 Então apresentamos os materiais e os componentes das instalações hidrossanitárias, bem como características, tipos e materiais, de forma a auxiliar na especificação técnica. No final, tratamos sobre a simbologia utilizada em um projeto hidrossanitário e a sua representação, dando subsídio técnico ao aluno na leitura desse tipo de projeto. Por fim, será abordado o assunto da instalação elétrica e suas características técnicas. Além disso, apresentamos os materiais e os componentes elétricos, bem como o detalhamento de lâmpadas e luminárias, e depois as relações do projeto luminotécnico quanto à influência da luz natural e artificial nas pessoas e nos ambientes construídos. Assim, este livro-texto permeia as principais instalações prediais e os tipos de sistemas estruturais das construções, fornecendo, ao aluno, conhecimento técnico para ser aplicado em sua atuação e vivência profissional. 9 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Unidade I 1 SISTEMAS ESTRUTURAIS 1.1 Breve histórico das construções Abrigar-se do sol, da chuva e do vento sempre foi o desafio da sociedade. As cavernas, por muitos séculos, foram utilizadas como abrigo de comunidades e povos nômades, que buscavam, além da proteção, locais que proporcionassem relativo conforto, com madeira para aquecer e animais disponíveis para caça,alimentação e vestes, ou seja, um local para viver. Não muito diferente dos dias atuais, nossos ancestrais buscavam a estabilidade das construções e, com o advento da tecnologia, mesmo que ainda inicial, buscaram novas formas de se abrigar em locais distantes das cavernas. Figura 1 – Caverna em Chipre O morar sempre foi essencial para a sobrevivência dos seres humanos, e cada comunidade criou e desenvolveu o necessário e o melhor para garantir a sobrevivência de seu grupo. Assim, a busca por materiais rígidos, estáveis, impermeáveis e duráveis passou a ser o objetivo de diversos povos. Em larga escala, os antigos passaram a utilizar a pedra como material de construção, para a edificação de moradias, templos ou fortificações, bem como para a travessia de rios e vales, por exemplo. A pedra se mostrou, ao longo do tempo, quando utilizada como pilar, um ótimo material de construção, durável e resistente a esforços de compressão, entretanto, quando utilizada como viga para vencer vãos, apresentava limitações, por não resistir à tração, levando ao rompimento do material. Os romanos foram especialistas na arte de construir pontes de pedra utilizando o arco como elemento estrutural e de sustentação, vencendo vãos maiores. Cada pedra em arco encaixada era estudada para, apenas, trabalhar com compressão e não se partir pela tração da peça. Assim, a limitação nas construções 10 Unidade I era grande, principalmente por não permitir que grandes vãos e longas distâncias fossem vencidos pelo uso desse material. Os arcos romanos também foram aplicados em anfiteatros e aquedutos. Figura 2 – Ponte em pedra na França Os templos gregos e romanos utilizavam o sistema de coluna e verga, e pela falta de resistência à tração da pedra, os vãos utilizados precisavam ser curtos, evitando, assim, falhas por flexão. Como a capacidade de cargas horizontais e verticais eram limitadas, as colunas precisavam ser grossas e as construções relativamente, baixas. Por isso muitos dos templos estão sobre bases de pedra, para criar uma ilusão de altura e imponência da edificação. Um exemplo é o Partenon, templo grego localizado em Atenas. Observação Vergas são vigas de rocha maciça distribuídas igualmente sobre colunas de pedra, relativamente grossas. Os gregos e romanos utilizavam o sistema coluna e verga para sustentação dos templos. Figura 3 – Partenon em Atenas, na Grécia; um símbolo das construções em pedra 11 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS A madeira, por sua vez, é provavelmente o material de construção mais antigo, utilizado desde a pré-história, devido à sua disponibilidade na natureza e facilidade de manuseio. Apesar de apresentar boa relação de resistência, a madeira está sujeita à degradação biológica e à ação do fogo, o que a torna frágil em algumas aplicações. Figura 4 – Cabana em madeira O advento do ferro na construção, como meio estrutural de estabilidade, passa a ser significativo a partir de meados do século XVIII, quando a produção do ferro fundido passa a ser em quantidades comerciais, proporcionando a elaboração, pelos engenheiros, de projetos de edifícios com colunas compactas e vigas delgadas, porém fortes para vencer vãos livres maiores. O uso do ferro marca a transição da era das construções em pedra e madeira para construções em aço e concreto. A Torre Eiffel, construída totalmente em ferro forjado em 1889, é um marco desse período. A mistura de materiais como madeira e pedra deixa de ser a principal solução de construção encontrada pela civilização até o século XIX. O advento do ferro e do concreto se sobrepõe às diversas técnicas construtivas e passa a ser referência em resistência e durabilidade. Assim o concreto resistente à compressão, passou a ser elemento importante na construção das edificações. Com o tempo foi aprimorado para o concreto armado, que além da mistura de cimento, pedra, areia e água, tem em sua composição aço para aumentar sua capacidade de tração. Saiba mais Para conhecer mais sobre concreto, visite: http://site.ibracon.org.br/ 12 Unidade I É possível afirmar que a evolução das formas estruturais está intimamente relacionada com os materiais disponíveis, bem como a evolução da tecnologia da construção, do conhecimento do homem e da habilidade dos trabalhadores envolvidos na construção das edificações. Figura 5 – Construção da Torre Eiffel, concluída em 15 de março de 1889, um marco na utilização do ferro na construção 1.2 Definição de sistema estrutural Podemos dizer que sistema é um conjunto de elementos conectados que formam um todo. No caso, sistema estrutural é o conjunto de elementos estruturais, tais como pilares, vigas, tirantes, treliças, baldrame, entre outros, que compõem o sistema estrutural de uma edificação. Os dois elementos estruturais e básicos de uma construção são o pilar e a viga. O sistema estrutural de uma edificação é formado conforme a geometria de seus materiais e como estes reagem às forças aplicadas sobre eles. Essa geometria e forma estrutural, por sua vez, influenciam as dimensões, a proporção e o arranjo dos espaços internos do volume construído (CHING, 2013, p. 10). Assim o objetivo do sistema estrutural é suportar cargas que incidem sobre a estrutura e conduzi-las, através dos elementos estruturais, de forma segura até o solo, onde são descarregadas, aliviando os esforços da construção. 1.3 Descrição do sistema estrutural Ching (2013) estabelece os sistemas estruturais como linear, plano e espacial. Na sequência iremos estudar essa classificação e como ela é aplicada nos sistemas de construção convencional, autoportante, metálico e pré-moldado. 13 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS 1.3.1 Sistema estrutural linear: construção convencional e metálica É composto pelos elementos pilar, viga e laje, além da fundação, e sugere uma malha de espaços repetitivos, modulados ou não. É um sistema que trabalha independentemente dos elementos de fechamento e vedação, montado como um esqueleto que recebe as camadas de composição. É preciso um conjunto de elementos para composição dos ambientes, tais como pisos, paredes e planos de teto para configurar o ambiente interno. Nesse caso, paredes e divisões não precisam ser portantes, ou seja, estruturais, nem estarem alinhadas com os pilares, mesmo sendo recomendável por uma questão estética. Apenas há a obrigatoriedade de alinhamento quando as paredes funcionarem como apoio ao vigamento e derem estabilidade estrutural à edificação. Os sistemas estruturais lineares são flexíveis e permitem ampliações, modificações e adaptações nos espaços, bem como a reformulação desses espaços de acordo com novos uso e função. Entre os sistemas lineares, podemos citar o convencional e o metálico. O convencional é o mais utilizado no Brasil, para obras de pequeno e médio porte, principalmente residenciais e comerciais de pequeno porte. A constituição do sistema construtivo é através, basicamente, de vigas e pilares de concreto armado independentes, com fechamento dos ambientes com tijolos ou blocos cerâmicos ou de concreto, definindo a robustez da construção. A modulação nesse tipo de construção não é obrigatória, permitindo fluidez nos espaços, bem como flexibilidade nos vãos livres. Figura 6 – Construção convencional por pilares e vigas, exemplo de sistema linear 14 Unidade I A) B) Figura 7 – Exemplos de projeto estrutural de sistema linear convencional em concreto armado O sistema de construção metálico é composto, por sua vez, de pilares e vigas parafusadas ou soldadas, independentes do material de fechamento e de laje, montado como um esqueleto. O fechamento dos espaços pode ser executado com os mais diversos materiais, sendo os mais comuns gesso acartonado, bloco cerâmico e vidro. A modulação nesse tipo de construção é recomendável, uma vez que os pilares e as vigas não são moldados à obra, mas, sim, efetuados sob encomenda, a partir das medidas definidas em projeto. Nesse caso,a modulação auxilia na montagem e na regularidade da edificação. A construção em sistema linear metálico permite grandes vãos, maiores que na construção convencional, bem como rapidez e segurança na execução do serviço. A obra é, relativamente, limpa se comparada ao sistema convencional de concreto armado, onde o canteiro de obra, constantemente, se apresenta com entulhos de construção. 15 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 8 – Sistema estrutural linear metálico 1.3.2 Sistema estrutural plano: autoportante e pré‑fabricado Basicamente, no sistema estrutural plano, os elementos de composição estrutural são as paredes autoportantes e a laje horizontal. A parede é estrutural e, no caso, funciona como um longo e fino pilar na sustentação da construção e na condução dos esforços de compressão a seus apoios e fundação. As aberturas, tais como portas e janelas, são planejadas durante o projeto, uma vez que devem ser executadas com a construção das paredes autoportantes. Assim não é possível, posteriormente, abrir vãos na alvenaria, pois essa ação desestabiliza o conjunto estrutural afetando sua integridade e estabilidade, que são dadas através do grauteamento da alvenaria estrutural, pela aplicação do graute e das barras de aço nos cantos de amarração dos blocos e nas contravergas de amarração dos vãos de portas e janelas, contribuindo para o equilíbrio e a durabilidade da construção. O fechamento superior, seja de piso ou cobertura, é dado por laje plana, treliçada ou maciça de concreto armado. Figura 9 – Exemplo de alvenaria estrutural: à direita alvenaria estrutural em bloco cerâmico e à esquerda em bloco de concreto 16 Unidade I Observação O graute pode ser definido como um concreto com agregados finos e alta fluidez e de baixa retração. Alguns autores o definem como uma argamassa. Em função de sua composição, ele pode ser fino (cimento + areia) ou grosso (cimento + brita + areia). O graute é encontrado em lojas de materiais de construção especializadas. O sistema estrutural plano também pode ser constituído pelo sistema pré-moldado de concreto, em que as peças que formam o conjunto estrutural são planejadas em projeto e executadas sob encomenda. Esses elementos são entregues na obra para montagem, e, normalmente, as peças são numeradas, como num quebra-cabeça, para serem montadas e coordenadas entre si. Nesse caso, assim como no sistema autoportante, não é possível abrir vãos de portas e janelas posteriormente, devido à estabilidade de todo o conjunto. Todas as aberturas devem ser planejadas, bem como os vãos livres e tipos de fechamentos internos. Figura 10 – Construção em concreto pré-moldado 1.3.3 Sistema estrutural espacial É um conjunto que consiste em uma massa tridimensional, um volume que ocupa o vácuo no espaço. Ou melhor, é a espacialidade de uma cobertura que se desconecta dos sistemas linear e plano, maleável, flexível visualmente, mas tão rígido e estável quanto os demais sistemas. Atualmente essa espacialidade é conseguida através de técnicas construtivas baseadas no sistema metálico, associadas a tirantes e cabos de aço. Esse tipo de conjunto já foi executado antigamente, com tijolos e pedras, sendo mais restrito o ganho de altura e de vãos livres suportados. 17 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 11 – A sala de concertos da Walt Disney, Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, Califórnia-EUA, é um exemplo de sistema estrutural espacial Saiba mais Conheça e saiba mais sobre o projeto da Walt Disney Concert Hall em: BALDWIN, E. Walt Disney Concert Hall servirá de tela para espetáculo de luzes controladas por algoritmos. Archdaily, 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/902333/walt-disney-concert- hall-servira-de-tela-para-espetaculo-de-luzes-controladas-por- algoritmos>. Acesso em: 9 ago. 2019. 1.4 Classificação dos elementos estruturais A concepção estrutural está relacionada com a concepção do projeto da edificação, alinhando arquitetura e engenharia para um bom resultado técnico e visual. Os elementos estruturais, normalmente, estão integrados na arquitetura e não são percebidos após os ambientes receberem os materiais de revestimento e acabamento, por isso é importante conhecer e saber quais são esses elementos estruturais. 1.4.1 Pilar É um elemento vertical da estrutura de uma construção, sem ornamento, podendo ser cilíndrico, quadrado, retangular ou em outro formato que esteja alinhado com a concepção estrutural e arquitetônica da construção. Transmitem carga em compressão direta de forma extremamente eficiente. A carga é descarregada na fundação, composta, normalmente, por baldrame e estacas profundas. Os pilares podem ser de concreto armado, pré-moldadas, metálicas ou de madeira. 18 Unidade I Nenhum pilar pode ser removido de um sistema estrutural, pois a retirada desse elemento desestabiliza todo o sistema e provoca o desmoronamento da construção. PILAR PILAR VIGA Figura 12 – Área interna residencial com pilares e vigas em destaque PILAR PILAR Figura 13 – Área interna comercial com pilares em destaque 1.4.2 Coluna É um elemento vertical, cilíndrico, com ornamento, podendo ser parte da estrutura de uma construção ou apenas ornato, sem função estrutural de sustentação. Quando possui ornamento, pode apresentar base ou pedestal, fuste e capitel, normalmente acompanhando as ordens dórica, jônica e coríntia ou, ainda, um desenho próprio criado pelo arquiteto do projeto. 19 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 14 – Capitel grego: ordem dórica Figura 15 – Capitel grego: ordem jônica Figura 16 – Capitel grego: ordem coríntia Figura 17 – Templo grego com colunas coríntias 20 Unidade I Sendo elementos estruturais do sistema, transmitem carga em compressão direta de forma, extremamente eficiente. A carga é descarregada na fundação, composta, normalmente, por baldrame e estacas profundas. Quando se caracterizam, apenas, como elemento decorativo, não suportam carga em compressão e tração. Podem ser de concreto armado, pré-moldadas, metálicas ou de madeira. Quando não são elementos estruturais podem sendo construídas com materiais alternativos, tais como gesso, madeira, PVC, metal, entre outros. COLUNA COLUNA Figura 18 – Área interna residencial com colunas ornamentadas Observação Não confunda pilar com coluna. O primeiro é um elemento estrutural vertical, e o segundo é um elemento vertical que nem sempre faz parte do sistema estrutural, principalmente quando é um ornamento. 1.4.3 Viga É um elemento de sustentação horizontal, sem ornamento, normalmente não cilíndrica, que pode estar apoiada sobre alvenaria ou não, que pode vencer grande vão ou não, estando sempre apoiada e interligada em pilares. Transmite os esforços aos pilares e funciona, também, como travamento da estrutura. Pode ser de concreto armado, pré-moldada, metálica ou de madeira. 21 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS VIGA Figura 19 – Cozinha residencial com viga aparente entre ambientes VIGA VIGA Figura 20 – Área interna comercial com vigamento aparente entre fechamentos de vidro 1.4.4 Laje É uma placa contínua, de superfície plana, com espessura pequena se comparada ao comprimento e à largura. Constitui os pisos e/ou pavimentos das edificações, bem como o teto das construções. Pode ser maciça em concreto armado, pré-moldada, metálica, nervurada ou treliçada com isopor ou cerâmica. As lajes podem ser planas ou inclinadas e, em alguns casos, curvas, dependendo da concepção estrutural e arquitetônica da edificação. 22 Unidade I Como possuem uma espessura pequena, são flexíveis, entretanto, dependendo da distância a vencer, podem se deformar e, até mesmo, romper. Na maioria das vezes, estão apoiadas sobre vigas, em toda sua extremidade, mas podem ocorrer variações, conforme a determinação do projeto estrutural. VIGA LAJE PILAR Figura 21 – Construção em sistema metálico Figura 22– Laje treliçada com enchimento em lajota cerâmica sendo montada LAJE Figura 23 – Área interna residencial com laje aparente 23 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 24 – Dormitório sem laje e com a estrutura do telhado em madeira aparente 1.4.5 Treliça É um elemento estrutural composto de barras delgadas que compõem uma estrutura reticulada, combinada por unidades triangulares construídas com elementos retos e ligadas pelos pontos de encontro das extremidades triangulares, chamados de nós. O comportamento de uma treliça é semelhante ao de uma viga, uma vez que, a alma sólida (enchimento) é substituída por várias barras verticais e diagonais. A vantagem é que, eliminando o enchimento, é possível reduzir, de forma significativa, o peso da treliça. A junção das treliças com a estrutura se dá pela soldagem, quando o sistema estrutural é metálico, ou por aparafusamento, quando o sistema estrutural é concreto armado. Assim como as vigas, as treliças transmitem os esforços da estrutura aos pilares e, também, funcionam como travamento da estrutura. Podem ser metálicas ou de madeira, sendo as primeiras as mais utilizadas nas construções. Figura 25 – Treliça metálica em estação de trem na Alemanha 24 Unidade I Figura 26 – Ponte Speicherstadt, construída em treliça metálica em Hamburgo, Alemanha Figura 27 – Viga em treliça metálica em galpão industrial 1.4.6 Pórtico É um elemento rígido, que também pode ser chamado de viga-pilar, uma vez que é constituído como um elemento único. Quando executado em concreto armado, as ligações são rígidas devido à característica monolítica do material. Quando executado com viga e laje, ou mesa de aço, necessita de elemento enrijecedor para transferir as forças, sendo as ligações entre viga e mesa dadas através de soldagem, rebitagem ou aparafusamento. 1.5 Esforços na estrutura Toda estrutura sofre com esforços, devido ao peso fixo, ao peso variável, às intempéries ou, ainda, devido a choques e batidas a que as construções estão sujeitas. É importante conhecer os esforços que as estruturas sofrem para poder reconhecer seus sinais e entender o que podemos fazer em um projeto sem sobrecarregar a estrutura da construção e ocasionar esforços extras. Assim, força pode ser definida como a ação de um corpo sobre outro, que afete o estado de movimento ou de repouso desse corpo. 25 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Botelho (2011) define os esforços da seguinte forma: • Tração: ocorre em uma estrutura quando suas partes sofrem estiramento, afastamento. • Compressão: ocorre numa estrutura quando suas partes sofrem encurtamento, aproximação. • Flexão: ocorre quando, numa estrutura, agem forças distribuídas longitudinalmente ao longo do eixo e forçam a estrutura sobre dobramento. • Torção: ocorre quando, numa estrutura, agem forças obrigando a estrutura a girar em torno do seu eixo de simetria. • Cisalhamento: ocorre quando existe uma tendência de cortar uma estrutura. • Flambagem: ocorre quando, numa estrutura, agem forças de flexão e compressão e forçam a estrutura sobre dobramento e encurtamento. Sem carga (neutro) Tração Compressão Flexão Flambagem Cisalhamento Torção Cargas combinadas Figura 28 – Diagrama de esforços nas estruturas As cargas podem, em muitos casos, agir de forma combinada, ocasionando na estrutura vários efeitos de esforços. Por exemplo, uma estrutura pode apresentar, ao mesmo tempo, tensão e flexão ou, ainda, torção e cisalhamento. 26 Unidade I Saiba mais Isaac Newton, no final do século XVII, resumiu os efeitos da força em três leis básicas: a primeira diz que qualquer corpo em repouso permanecerá em repouso, e qualquer corpo em movimento se manterá em movimento uniforme numa linha reta, a menos que haja sobre ele a atuação de uma força; a segunda lei afirma que a taxa de variação do movimento em relação ao tempo é igual à força que a produz, e a variação ocorre na direção na qual a força está atuando; a terceira afirma que, para cada força atuante, há uma reação de igual intensidade, direção oposta e mesma linha de ação. Leia mais sobre o assunto em: DIAS, P. M. C. F=ma?!! O nascimento da lei dinâmica. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 28, n. 2, abr./jun. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1806-11172006000200013. Acesso em: 12 set. 2019. Para elucidar, quando abrimos uma garrafa de água, aplicamos a força de torção e cisalhamento, ou seja, rotacionamos a tampa da garrafa em seu eixo até proporcionar o rompimento do lacre, que é o cisalhamento da peça. Nesse caso, a ação é positiva, uma vez que a torção e o cisalhamento proporcionam um resultado esperado, que é a abertura da garrafa. No caso das estruturas, essa situação de torção e cisalhamento proporcionaria o colapso da estrutura e, consequentemente, o desmoronamento da construção. TORÇÃO + CISALHAMENTO Figura 29 – O esforço de torção proporciona o cisalhamento do lacre da tampa e a abertura da garrafa 27 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Podemos citar outras ações comparativas, como, por exemplo, a ação de esticar uma corda através do esforço de tração. Se essa força for demasiada, a corda pode se romper, é o cisalhamento. Ou, ainda, quando colocamos muitos livros em uma prateleira e ela cede, formando uma curva na parte inferior, é a flambagem por força de compressão. Apenas é preciso lembrar que as ações dos esforços nas estruturas, na maioria das vezes, são prejudiciais ao conjunto estrutural e desestabilizam a construção, podendo levar ao colapso da estrutura e seu consequente rompimento, em parte ou no todo, ou, ainda, à deformação de parte da estrutura, inviabilizando a continuidade do uso da edificação. As intempéries também podem provocar a deformação do sistema estrutural, tal qual ventos fortes, como tornados e tufões, terremotos, tsunami, enchentes, entre outros. A força extrema causada na estrutura a partir dessas intempéries resulta, em muitos casos, no rompimento da estrutura, seja por torção, tração, compressão ou outros esforços combinados que podem ocorrer. Figura 30 – Terremoto na Itália; o terremoto proporciona diversas forças combinadas na estrutura das construções, sendo de tamanha intensidade que proporciona o rompimento de muitas delas Observação Não são apenas as construções que sofrem com os esforços, utilizamos as forças constantemente em nosso dia a dia para abrir latas e garrafas, amassar papéis e embalagens, rasgar ou picar documentos, dobrar roupas, entre outras ações que demandam esforços de tração, compressão, flexão, torção e cisalhamento em nosso cotidiano. Ainda sobre as ações de esforços nas estruturas, é possível classificar o tipo da duração das ações conforme quadro a seguir. 28 Unidade I Quadro 1 – Tipos de ações nas estruturas Classificação Definição Exemplo Ações permanentes São as que atuam com valores constantes ou de pequena variação em torno de um valor médio, durante toda a vida útil da estrutura. Essas cargas ocorrem em situação temporal duradoura. Essas ações permanentes podem ser diretas (cargas ou forças) ou indiretas (deformações impostas) Diretas (cargas permanentes): peso próprio dos componentes estruturais; peso próprio dos elementos construtivos fixos: alvenarias, revestimentos, contrapisos, coberturas etc.; peso próprio de instalações permanentes: máquinas de elevadores, bombas hidráulicas de recalque e demais máquinas e equipamentos fixos; empuxos de solo permanentes Indiretas (deformações impostas): deformações impostas por retração; deformações impostas por fluência; deformações impostas por deslocamentos de apoio; deformações impostas por imperfeições geométricas globais e/ou locais; deformações impostas por protensão Ações variáveis São as que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno de seu valor médio, durante a vida útil da construção. Podem ser as cargasacidentais, bem como outros efeitos indiretos. São cargas variáveis que atuam eventualmente sobre a estrutura, durante sua vida útil em função do seu uso. Essas cargas ocorrem em situação temporal transitória Diretas (cargas acidentais): sobrecargas de utilização (ocorrem em função da utilização do compartimento da construção, pessoas, mobiliário, veículos e materiais diversos); vento; cargas móveis; empuxo de solo; empuxo de fluido; cargas naturais (terremotos, nevascas, chuvas etc.); variação de temperatura; recalque diferencial Indiretas (deformações impostas): deformações impostas para compensar a ocorrência de uma ação variável direta Ações excepcionais São as que excepcionalmente atuam sobre a estrutura, durante sua vida útil. Podem ser cargas excepcionais, bem como outros efeitos indiretos. Essas cargas têm baixa probabilidade de ocorrer, sendo consideradas em apenas determinadas estruturas; têm duração temporal extremamente curta e seus efeitos são catastróficos, podendo levar a estrutura ao colapso Diretas (cargas excepcionais): explosões; choques; ventos fortes; abalos sísmicos Indiretas (deformações impostas): deformações excepcionais impostas para compensar a ocorrência de uma ação excepcional direta Ações de construção São as que ocorrem somente na etapa de construção. Essas cargas de construção têm duração transitória Diretas (cargas de construção): transporte de elementos estruturais; manipulação de elementos estruturais Indiretas (deformações impostas): deformações impostas para ajustes de peças estruturais ou para compensar as ações de construção diretas Carregamento Conjunto de ações que atuam simultaneamente em uma estrutura Peso próprio; peso próprio + vento; peso próprio + impacto de veículo; peso próprio + vento + impacto de veículo Adaptado de: Pinheiro e Crivelaro (2019, p. 11). 29 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 31 – Cargas típicas em edificações Observação O cálculo estrutural tem como função prever quais são as cargas que vão agir na edificação e é a base para o projeto estrutural. Caso as cargas sejam superestimadas e a estrutura superdimensionada, o custo da construção ficará alto, sendo inviável economicamente. Entretanto, caso as cargas sejam subestimadas e a estrutura subdimensionada, quando elas agirem, a estrutura poderá entrar em colapso por não suportar as forças. Dessa forma, as normas técnicas especificam valores mínimos a serem considerados no cálculo estrutural das cargas que atuam nas edificações. 30 Unidade I 1.6 Classificação dos apoios de uma estrutura Apoios são elementos responsáveis pelo vínculo da estrutura com o solo ou com outras partes do sistema estrutural. São os apoios que garantem a imobilidade da estrutura, bem como pequenos deslocamentos devido às deformações ocorridas a partir das forças aplicadas nas construções. Existem dois tipos principais de apoio: • Apoio simples: representa o descansar de uma peça em dois ou mais apoios, fixos ou com rolete. • Apoio por engastamento: quando existe encaixe, colagem, amarração, engaste entre a peça a ser suportada e seu apoio. Figura 32 – Diagrama de apoios nas estruturas 31 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 33 – Exemplos de apoios e conexões (engaste) Para compreender melhor, como exemplo, os pilares funcionam como os apoios no sistema estrutural, e as vigas e lajes como as peças apoiadas ou engastadas. Quando as lajes fazem a cobertura de um ambiente fechado, elas estão engastadas nas vigas que, consequentemente, estão engastadas nos pilares que compõem a estrutura. Entretanto, quando a laje se configura como uma marquise, ela está engastada em apenas um apoio, sendo as demais faces em balanço. Uma sacada também é um elemento engastado com um ou mais apoios, dependendo de quantas faces estão encaixadas nas paredes do edifício. 32 Unidade I Figura 34 – Sacada engastada de edifício em um único apoio junto à fachada Figura 35 – Sacada engastada de edifício em dois apoios junto à fachada Figura 36 – Os pilares funcionam como apoios que sustentam as vigas e as lajes, mantendo a construção estável 33 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Figura 37 – Museu Oscar Niemeyer, em São Paulo-SP; o apoio de sustentação da laje é central e ela fica em balanço nas duas extremidades Lembrete São seis as forças em uma estrutura: tração, compressão, flexão, torção, cisalhamento e flambagem. Cada uma age de forma específica na estrutura, causando, em alguns casos, prejuízo à edificação e, consequentemente, aos usuários. 2 O SISTEMA ESTRUTURAL E O DESIGN DE INTERIORES 2.1 Como agir diante do sistema estrutural? Muitas vezes nos perguntamos o porquê da necessidade de estudar a forma que as edificações são construídas e qual a interferência que isso tem na relação de projeto a ser desenvolvida. É simples, o designer de interiores lida com algo real, a edificação, e não apenas irreal, como o projeto. O papel aceita qualquer coisa, mas a construção não. O papel aceita a retirada de uma parede, mas a edificação sem uma parede pode ruir. Se isso acontece, o prejuízo material é grande e é de responsabilidade técnica do profissional envolvido, no caso, o designer de interiores. Mas, então, como se portar diante da necessidade de intervenção em ambientes existentes? Para tanto é preciso, primeiramente, ter cautela ao que prometer e oferecer ao cliente, uma vez que é necessário verificar quais elementos estruturais existem nos ambientes que serão alvo de projeto e como eles se configuram no contexto do sistema estrutural da edificação. 34 Unidade I Lembre-se, a Lei n. 13.369, que regulamenta a profissão de designer de interiores, diz, em seu artigo 4º, inciso VIII, que o profissional pode: Propor interferências em espaços existentes ou pré-configurados, internos e externos contíguos aos interiores, desde que na especificidade do projeto de interiores, mediante aprovação e execução por profissional habilitado na forma da lei (BRASIL, 2016, grifo nosso). Isso significa que você, enquanto designer de interiores, deve estar assessorado por um profissional da área de arquitetura, com registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), ou da área de engenharia civil, com registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). Nenhuma alteração da conformidade da edificação deve ser realizada sem assessoramento e orientação técnica desses profissionais, portanto, o designer de interiores trabalha em parceria ou em sociedade com outros profissionais. Após uma série de desabamentos pelo país, como os casos inesquecíveis do Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, em 1998, e o desabamento de três prédios vizinhos no Rio de Janeiro, em 2012, além de tantos outros, surgiu, em 2014, a NBR 16280: reforma em edificações – sistema de gestão de reformas, que normatiza a necessidade de acompanhamento técnico, com profissional habilitado, em toda intervenção em edifícios, de forma a prevenir a “perda de desempenho decorrente das ações de intervenção gerais ou pontuais nos sistemas, elementos ou componentes da edificação” além de prevenir a “segurança da edificação, do entorno e de seus usuários” (ABNT, 2014, p. 3). Observação A NBR 16280/2014 é referência para aprovação de projetos de design de interiores e de arquitetura em condomínios, sejam estes edifícios altos ou não, de forma a garantir a segurança e a estabilidade das construções. 2.2 Tomada de decisões Quando iniciamos a elaboração de um projeto, é necessário, como ação preventiva, fazer o levantamento de todos os elementos preexistentes no espaço e de todas as interferências reais a serem enfrentadas. Muitas vezes os ambientes possuem pilares e vigas aparentes, e é comum ouvir do cliente: “gostaria de tirar esse pilar daí”, mas nós como profissionais responsáveis temos que responder que essa ação não é possível, que ele faz parte do sistema estrutural da edificaçãoe que qualquer interferência pode desestabilizar o equilíbrio e a sustentação da construção. Assim estaremos sendo responsáveis e cuidando da segurança de todos. Após o levantamento dos elementos preexistentes, incluindo os estruturais e as instalações, é preciso que estes sejam registrados no projeto, para ter a situação real do ambiente. Isso ajudará nas tomadas de decisão do projeto, tais como, alterações, leiaute, especificação de materiais, entre outros. 35 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS A forma como encaramos os elementos do sistema estrutural no projeto pode, ou não, fazer com que ele passe despercebido no contexto do ambiente pronto. Assim, vale o exercício de ter o pilar e a viga como aliados, e não como inimigos do projeto. Segue sugestão de etapas para ter um bom levantamento técnico: • Visite o ambiente pessoalmente. • Tenha em mãos trena, prancheta, ou bloco de anotações, e lapiseira. • Efetue a medição detalhada do local. • Identifique o sistema estrutural da construção. • Anote os elementos preexistentes. • Anote as interferências identificadas. • Fotografe o ambiente de forma geral e, também, as especificidades. A partir disso você terá um levantamento detalhado para poder planejar e integrar os elementos estruturais no projeto. 2.3 Leitura do projeto estrutural Quando da elaboração de um projeto de arquitetura, há, posteriormente, a elaboração do projeto estrutural, definindo-se o tipo de estrutura a ser utilizada para a construção da edificação e o detalhamento dessa estrutura. Enquanto profissional, é importante saber efetuar a leitura de um projeto estrutural, uma vez que o projeto de interiores deve levar em consideração os elementos preexistentes no local. Em alguns casos é necessário recorrer a ele para verificar elementos preexistentes que não estão à vista nos espaços, tais como pilares e vigas. Assim, é importante conhecer os desenhos técnicos relativos à engenharia, de forma a identificar as possíveis interferências no projeto de design de interiores. • Planta de fôrma: é a representação gráfica ou um desenho técnico, visto de cima, das dimensões de uma peça, normalmente de concreto, a ser moldada na obra e dimensionada a partir de cálculos específicos de engenharia. Nessa planta são representados pilares, vigas e lajes da edificação, sendo estes nomeados com códigos específicos, sempre com a letra inicial da peça e a sua numeração. Por exemplo, os nomes dos pilares começam sempre com a letra P, das vigas com a letra V e as lajes com a letra L, todas maiúsculas e acompanhadas de um número que quantifica as peças e especifica os modelos utilizados. 36 Unidade I • Corte de fôrma: é a representação gráfica ou um desenho técnico, visto em corte, das dimensões de uma peça, normalmente de concreto, a ser moldada na obra e dimensionada a partir de cálculos específicos de engenharia. No corte, pilares, vigas e lajes podem ou não estar nomeados, e, caso não estejam, deve-se referenciá-los pela marcação do corte na planta. Figura 38 – Exemplo de planta de fôrma Figura 39 – Exemplo do corte A indicado na planta de fôrma O projeto estrutural apresenta desenho técnico específico e deve-se efetuar a leitura dos elementos conforme a legenda a seguir. Reconhecer esses elementos é fundamental para a compreensão do projeto estrutural, bem como a identificação dos elementos da estrutura no ambiente a ser planejado pelo profissional. Por exemplo, os pilares sempre virão acompanhados pela letra P de pilar e uma numeração, que indica o número do pilar no projeto. Essa lógica de nomeação dos elementos se repete com a viga, nomeada pela letra V e acompanhada por seu número, e para a laje, representada pela letra L e seguida de sua numeração. 37 LUMINOTÉCNICA, INSTALAÇÕES E SISTEMAS ESTRUTURAIS Legenda Representação de pilar em planta Representação de viga em corte Representação de pilar em corte Representação de laje em corte Representação de viga em planta Representação da indicação do corte Figura 40 A partir da leitura dessas informações, é possível saber a localização de pilares e vigas que estão ocultos nos espaços a serem remodelados, evitando, assim, possíveis interferências não previstas e a inviabilidade de algumas ideias propostas no projeto. Lembrete Deve-se consultar o projeto estrutural para localizar elementos estruturais ocultos sempre que houver dúvidas. Exemplo de aplicação Muitas mostras de decoração apresentam aos profissionais ambientes abandonados e degradados. Assim, considere que você foi escolhido para desenvolver um projeto de design de interiores para o ambiente da imagem. Faça como exercício prático profissional o levantamento dos elementos encontrados, as interferências e as possíveis soluções técnicas a serem propostas. Figura 41 38 Unidade I Resumo Estudamos, brevemente, o histórico da necessidade de se abrigar e que deu origem à busca de novas formas de construir e estabelecer um sistema construtivo estável e seguro. A partir da definição de sistema estrutural, foi possível relacionar os tipos e as características dos sistemas linear, plano e espacial, os quais possuem atributos específicos. O sistema linear trata do conjunto estrutural formado basicamente por pilares e vigas construídos de forma independente e que se sustentam sem a necessidade de suporte de alvenarias. Temos, nesse caso, o sistema convencional de construção e o sistema metálico. O sistema plano, por sua vez, se caracteriza por ser um conjunto autoportante, composto basicamente de alvenarias estruturais de bloco de concreto ou cerâmico, que são grauteadas em sua amarração. Por último, o sistema espacial se caracteriza por possuir formas estabelecidas no vácuo da construção, ou seja, em espaços até então não alcançados pelos outros sistemas. Na maioria dos projetos em sistema espacial utiliza-se o sistema metálico como elemento flexível e facilitador da execução desses projetos. Também estudamos os elementos que constituem um sistema estrutural, permeando os conceitos de pilar, coluna, viga, laje, treliça e pórtico, demonstrando suas aplicações reais em ambientes e construções. Além disso, verificamos os apoios necessários para a estabilidade de uma construção e suas características. Por fim, estabelecemos as relações de atuação diante do sistema estrutural quando da elaboração de um projeto, as tomadas de decisões pautadas na legislação e normas técnicas, bem como a leitura técnica dos projetos estruturais.
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