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AS DESIGUALDADES NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

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SOCIOLOGIA - 2a EJA 
PROF. GUSTAVO LUÍS 
 
AS DESIGUALDADES NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS 
As desigualdades sociais, existem desde a Antiguidade e se expressam de muitas formas. Elas 
continuam em ascensão no mundo atual, apesar de todas as transformações existentes e do massivo 
desenvolvimento técnico‑cientifico em todas as áreas do conhecimento. 
Ao analisar as desigualdades na sociedade contemporânea globalizada, o sociólogo sueco Göran 
Therborn (1941‑) dá ênfase à pluralidade de desigualdades, identificando três grandes conjuntos: as 
desigualdades vitais, as existenciais e as de recursos. 
Desigualdades vitais 
As desigualdades vitais são aquelas que se referem diretamente à vida e à morte. A expectativa de 
vida ao nascer, a taxa de mortalidade infantil, a desnutrição crônica, a provisão de recursos do Estado na 
área da saúde e o acesso a eles são alguns dos indicadores mais utilizados para comparar e analisar a 
extensão das desigualdades. 
Para examinar apenas um deles, a desnutrição crônica, mais conhecida como fome, basta considerar 
a existência de indivíduos que não têm o que comer como aberração inaceitável, já que comprovadamente 
existem alimentos suficientes no mundo para satisfazer as necessidades de toda a humanidade. Hoje, 
considerando a produção de alimentos pelo mundo, 12 bilhões de pessoas poderiam ser alimentadas 
diariamente, de acordo com estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
(FAO). Não há, portanto, escassez de alimentos. A fome só existe porque o acesso aos alimentos é desigual. 
Mesmo com os avanços na produção de alimentos, a fome segue sendo uma triste realidade. Na 
década de 1950, 60 milhões de indivíduos passavam fome; atualmente, há em torno de 800 milhões de 
famintos em todo o mundo, boa parte composta de crianças. 
Jean Ziegler, sociólogo suíço, ex‑relator especial para o Direito à Alimentação das Nações Unidas 
(ONU), aponta algumas causas da fome nos dias de hoje: 
• Concentração da produção alimentícia. Cerca de 85% dos alimentos – principalmente trigo, soja e milho 
– negociados no mundo são controlados por dez empresas. Essa condição permite a essas empresas 
decidirem os preços dos alimentos direta ou indiretamente. Qualquer elevação de preço já é suficiente 
para dificultar o acesso aos alimentos. É o mesmo que acontece com os remédios, outro item essencial 
ao bem‑estar e à sobrevivência do gênero humano; 
• Utilização desmedida de terras aptas a produzir alimentos destinadas ao plantio de milho e cana-de-
açúcar voltados à fabricação de outros produtos, caso do álcool que abastece bombas de postos de 
combustíveis em todo o mundo. Nesses casos, torna‑se evidente e irrefutável a ação de desprezo por 
parte dos interesses mercantis em prover alimentos para todos os seres humanos. Além do que, 
monoculturas prejudicam o meio ambiente e agridem de modo irreversível o planeta; 
• Produção voltada para a alimentação de animais. A maior parte da produção de soja destina‑se à 
alimentação de animais que serão abatidos e vendidos em açougues cujos altos preços constituem um 
impedimento intransponível aos mais pobres; 
• Reduzido número de proprietários responsáveis pela produção de alimentos. Essa situação condiciona 
ainda mais a produção de alimentos às políticas de exportação, o que é muito positivo para a economia 
de um país, mas não contribui para alimentar os que passam fome. A posse da terra – suavizada por 
uma expressão muito em voga atualmente, agronegócio – é hoje muito mais do que uma questão 
econômica ou item relacionado ao direito fundiário. A posse da terra é um instrumento político de 
dominação e um reforço das desigualdades e da fome. 
Desigualdades existenciais 
As desigualdades existenciais se referem aos casos de restrições à liberdade, dificuldades de acesso 
a direitos, obstáculos ao reconhecimento da cidadania de indivíduos e coletividades, ou seja, naquilo que 
se esforça por manter e disseminar discriminações, estigmatizações e processos sociais humilhantes. Essas 
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desigualdades decorrem de muitas situações inerentes à vida social da atualidade, como as novas variantes 
da escravidão (em casa, no trabalho, nos latifúndios, no interior de instituições como presídios, quartéis e 
hospícios), o preconceito étnico-racial, a discriminação contra mulheres e as inúmeras modalidades de 
violência dirigidas às populações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e 
Transgêneros), os sistemas políticos que dificultam a participação efetiva dos indivíduos e das coletividades 
nos processos decisórios, a absoluta concentração dos meios de comunicação social nas mãos de poucos 
e poderosos grupos econômicos e empresariais etc. 
Desigualdades de recursos 
As desigualdades de recursos expõem os desníveis abissais de rendimentos e de riqueza, de 
escolaridade e de qualificação profissional, de capacidade cognitiva, de posição hierárquica nas 
organizações e de acesso às tecnologias de informação e ao conhecimento. Esse tipo de desigualdade 
pode ser analisada com base no trabalho de Pierre Bourdieu (1930‑2002). Segundo o sociólogo francês, as 
desigualdades de recursos tornam‑se visíveis na distribuição desigual de capitais (econômicos, culturais, 
sociais, simbólicos e políticos) e na estruturação do espaço público e social. 
Ao examinar as desigualdades de renda e de apropriação da riqueza, a ONG britânica OXFAM (Oxford 
Committee for Famine Relief – Comitê de Oxford de Combate à Fome), em estudo sobre os dados globais 
de 2014, constata que apenas 80 indivíduos detêm riqueza equivalente à riqueza de metade da população 
mundial, 3,5 bilhões de pessoas. 
Os dados, ainda com base no mesmo estudo de 2014, mostram também queda no número de 
bilionários, o que realça o aumento da desigualdade, já que em 2009 havia 388 bilionários no mundo e, em 
2013, 85. Os números evidenciam a concentração de riqueza cada vez maior e provam que o grupo que 
representa a minoria, 1% mais rico da população mundial, está cada vez mais próximo de controlar a maior 
parte da riqueza global. Em 2009, o grupo dos mais ricos acumulava 44% da riqueza mundial; em 2014, 
48%. Em 2016 a participação dos mais ricos ultrapassou os 50%. 
Conforme a OXFAM, a crescente desigualdade está restringindo a luta contra a pobreza global que, 
apesar de fazer parte da agenda mundial de discussões, vem aumentando. Confirmam esse fato os cálculos 
da organização que, considerando dados da União Europeia, formada por países em sua maioria 
desenvolvidos, mostram que em 2011 o número de pessoas pobres já alcançava 120 milhões. A estimativa, 
caso o ritmo de progressão das desigualdades se mantenha, é que o número de pobres chegue a 145 
milhões em 2025. 
Tudo isso decorre da deficiência das políticas públicas de emprego, salários, proteção social e 
serviços universais de educação e saúde qualitativos, mas também é resultado de uma política fiscal que 
não favorece uma distribuição mais igualitária da renda, taxando excessivamente assalariados e pequenos 
investidores e permitindo que grandes afortunados e mega conglomerados de capital sejam isentos de 
pagar impostos proporcionais ao volume concentrado de sua riqueza e de seu poder. 
Houve um tempo em que as desigualdades apareceram mais claramente na maioria dos países da 
Ásia, da África e da América Latina, reconhecidamente mais pobres. Hoje, porém, as desigualdades 
manifestam‑se também em países ricos, como nos Estados Unidos da América, que são a sociedade mais 
rica do planeta, tanto em termos de produção quanto de aquisição individual de renda. Isso traz à tona a 
desigualdade na apropriação da riqueza produzida e tem efeitos em todos os setores da atividade social. 
Em 2014, 1% dos estadunidenses mais ricos controlava 22% da renda do país. A décima parte desse 
grupo dos mais ricos, 0,1%, era responsável por 11% da renda nacional. E 95% de todos os lucrosobtidos 
no setor financeiro desde 2009 foram para o 1% mais rico. Estatísticas recentes demonstram que, 
considerando a inflação, o estadunidense típico ganha menos do que ganhava há 45 anos; os que 
terminaram o ensino médio, mas não completaram o ensino superior, recebem quase 40% menos do que 
costumavam ganhar quatro décadas atrás. 
Os dados cruzados com as dimensões expostas pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925‑) 
geram uma série de outras questões como a mortalidade infantil, a elevação da criminalidade, o 
desemprego, as doenças de todos os tipos, o uso crescente de drogas ilegais, a insegurança generalizada, 
a ansiedade e a depressão, o preconceito indiscriminado e outras tantas questões de tal forma que as 
desigualdades acarretaram a corrosão das sociedades ao realizarem um movimento endossistêmico, isto 
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é, a degradação da sociedade por ela mesma. Como se pode perceber, as desigualdades sociais contornam 
e caracterizam o mundo moderno. Suas consequências são abrasivas, uma vez que até aquelas sociedades 
que pareciam ter resolvido suas disparidades sociais mais agudas, como as chamadas democracias 
desenvolvidas europeias, voltam a sofrer dessa chaga, que, para além de toda conceituação, tem sido cada 
vez mais um elemento identitário das economias de mercado e das comunidades humanas divididas em 
classes sociais.

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