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ASPECTOS JURÍDICOS DA ADOÇÃO NO BRASIL A adoção na ótica do Estatuto da Criança e Adolescente No Brasil, o menor, considerado criança e adolescente, tem seus direitos garantidos por uma lei conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que em seu art. 2º considera “criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos; e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Para Bueno (2000, p.164), criança é “menino ou menina; ser humano na fase infantil. [...] Infantil é adjetivo, que diz respeito à criança; próprio de crianças; inocente; ingênuo”. Amora (1999, p.16) define adolescente como “pessoa que está na adolescência”, [...] período de vida humana que começa na puberdade e vai até os 18 anos”. Inicialmente, a lei 8.069/90 que deveria entrar em vigor no “Dia da Criança”, 12 de outubro de 1990, foi antecipada para 13 de julho do mesmo ano, e veio regulamentar as conquistas em favor das crianças e dos adolescentes na Constituição Federal, promovendo um importante conjunto de revoluções no campo jurídico e em outros setores da realidade política e social brasileira, inclusive as profundas modificações sobre o instituto da adoção. O Estatuto da Criança e do Adolescente, criado há 17 anos, surgiu em decorrência de uma ampla discussão por vários segmentos sociais no que diz respeito à necessidade de garantir às crianças e os adolescentes o cumprimento de seus direitos e deveres. Para Granato (2003) o objetivo do Estatuto é a proteção integral da criança e do adolescente. Antes da implantação do Estatuto, as crianças e adolescentes eram consideradas simples cidadãos estando sob a proteção apenas do Código de Menor, no entanto após o ECA, os assuntos relacionados aos menores começaram a ser debatidas no âmbito social e político e não apenas no policial. O instituto da adoção também é tratada no ECA, onde em seu art. 45, “depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando” o ato da adoção, salvo quando os pais do menor “sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder” (art. 45, § 1°, do ECA). 2 Verifica-se que estamos diante de duas situações distintas em que o consentimento é dispensado: “quando os pais forem desconhecidos; quando os pais forem destituídos do pátrio poder”. Assim sendo, se o consentimento é dispensado para os casos de adoção quando os pais são desconhecidos, “o procedimento de colocação em família substituta reveste-se de extrema simplicidade” (art. 39 §. 1o. do ECA). Em caso de abandono e sem identificação, [...] a autoridade judiciária, no campo de procedimento próprio, diligenciará em verificar as circunstâncias do abandono, ouvindo eventuais testemunhas e verificando, junto aos órgãos competentes, a existência de registro de desaparecimento de criança com as características da que foi encontrada, com vistas à identificação dos país (TEIXEIRA,, 1993, p.353 apud ECA art. 153). Se após a investigação competente não for identificada a origem da criança e não sendo possível a identificação dos genitores, esta encontrar-se-á disponível para colocação em família substituta, observando o disposto no art. 101, VIII, do ECA, passando a criança a integrar o cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados, tendo ainda a autoridade judiciária poder para determinar a inscrição de seu registro de nascimento com dados fictícios. “O setor de colocação familiar do Juízo providenciará, então, a apresentação da criança às pessoas interessadas em adotar, inscritas no cadastro de pessoas interessadas em adoção” (art. 50, do ECA). Observa-se então que sendo desnecessário o consentimento dos pais e avaliando as reais vantagens para a criança o pedido de adoção há de ser deferido. A lei é tão clara e simples que chega a atordoar e confundir seus aplicadores, acostumados que estão a preocupar-se com inúmeras formalidades; processuais. Mas há que se atentar para a especialidade da matéria em tela, que tem, na proteção integral, seu objetivo maior (TEIXEIRA, 1993, p.262). Requisitos gerais para adoção: diferentes hipóteses de adoção previstas no ECA De acordo com Chaves (1993, p. 264), O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê procedimentos específicos para a colocação de criança ou adolescente em família substituta, os quais encontram- se previstos na Parte Especial da Lei n.º 8069/90 (Livro II, Título VI, capítulo III) [...] A estes procedimentos devem ser aplicados, apenas subsidiariamente, a legislação processual civil, art. 152, do ECA, prevalecendo o procedimento especial sobre as normas gerais. 3 Os candidatos a pais devem observar os procedimentos de perda do pátrio poder e de colocação em família substituta, que encontram-se previstos no ECA em seus arts. 155 a 163 e 165 a 170, respectivamente. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a análise sistemática da lei nos leva a concluir que a adoção se apresenta sob as seguintes modalidades: a) a adoção com o consentimento dos país ou do representante legal do adotando; b) a adoção de crianças e adolescentes cujos pais são falecidos; c) a adoção de crianças e adolescentes com destituição do pátrio poder dos pais; d) a adoção de crianças e adolescentes cujos pais são desconhecidos. A adoção com o consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, prevista no art. 45 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é ato de competência voluntária, que deve antes de tudo ser submetida à apreciação do Poder Judiciário (SILVA, 1995). Esse consentimento não é uma condição necessária, no entanto deve ter valor relativo na apreciação a ser feita pelo juiz na sentença. Segundo Granato (2003, p.87), “A sua concordância ou discordância, por si só, não deve representar a deferimento ou indeferimento da adoção”. Há ainda o fato do menor não possuir nem um representante legal, nem pais, nesses casos, o próprio menor deve ser ouvido para que se saiba se este concorda ou não com o pedido. “A adoção moderna é sempre conferida de acordo com os altos interesses dos menores, que eles nem sempre sabem aquilatar” (KAUSS apud GRANATO, 2003, p.87). De acordo com o ECA (art. 169), há ainda “a adoção de criança ou adolescente em que a destituição do pátrio poder constitui pressuposto da medida de colocação em família substituta”, que acontece quando há pais conhecidos, mas estes já destituídos do pátrio poder ou existe pedido neste sentido, baseado em; hipótese de castigos imoderados, abandono, prática de atos contrários à moral e aos bons costumes e descumprimento injustificado dos deveres e obrigações inerentes ao pátrio poder (TEIXEIRA, 1993, p. 163). Se os pais foram previamente destituídos do pátrio poder, o procedimento no pedido de adoção seguirá a previsão contida nos arts. 165 a 170, do ECA. De acordo com Granato (2003, p.75) o art. 21 do ECA estabelece que: o pátrio poder será exercido, com igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a lei civil, assegurado a qualquer deles o direito de, no caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. 4 Quando os pais do menor que se pretende adotar ainda não tiver destituído do pátrio poder, o pedido de adoção pela família substituta deverá ser antecedido do pedido de Destituição do Pátrio Poder (DPP), ou juntamente com este (ECA, arts. 155 a 163). De acordo com o exposto, concluí-se então que, para que um menor venha a ser colocado em uma família substituta é necessária a prévia destituição do pátrio poder, seguindo-se o procedimento contraditório previsto na lei, “quando tal providência constituir pressuposto lógico do pedido de adoção” (CHAVES, 1995, p. 169.). Dessa forma, a análise das modalidades de adoção apresentadas demonstram que “apenas o terceiro caso dependerá da medidaem foco, devendo os demais seguir o procedimento próprio, podendo a colocação em família substituta independer do procedimento previsto nos arts. 155 a 163” (CHAVES, 1995, p. 171.). Da desnecessidade da cumulação do pedido de adoção de crianças e adolescentes cujos pais são desconhecidos com o pedido de destituição do pátrio poder Tendo em vista que o menor não possui pais conhecidos, não há necessidade de cumulação quando há do pedido de destituição do pátrio poder (TEIXEIRA, 1993, p.134) O art. 45, do ECA, prevê que: Art. 45 - A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal; do adotando. Parágrafo 1°- O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder. Segundo Granato (2003, p.78) baseado no que diz o Código Civil, art. 1.637, “o pátrio poder, ora poder familiar, é mais um dever, um encargo, do que um direito”, pois os pais podem ter suspenso o poder familiar se abusar de sua autoridade, não cumprir com seus deveres de tutores suprindo as necessidades básicas do filho regido nos direitos fundamentais, se arruinar os bens dos filhos ou se condenado por crime por pena superior a dois anos de prisão. Dessa forma, observamos que os procedimentos de perda do pátrio poder ocorrem de acordo com a falta de compromisso e negligência dos pais para com o menor. 5 ADOÇÃO À LUZ DO NOVO CÓDIGO CIVIL Com a implantação em vigor do novo Código Civil ocorreram empecilhos nos processos de adoção de crianças e adultos no País. Ainda não está definido se as adoções acontecerão somente na Vara da Infância e da Juventude - regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - ou na Vara da Família, que adota o novo Código, no entanto há cogitações que ambas venham a ser responsáveis pelos processos. A dificuldade maior encontrada é a divergência entre os artigos do Código Civil e os princípios estabelecidos no Estatuto da Criança desde 1990. De acordo com Reale (2007), ao apresentar o projeto do qual resultou o novo Código Civil, afirmou tratar-se da "Constituição do homem comum", no entanto o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerada a Constituição da população infanto-juvenil, o que fez surgir no Brasil ramo do Direito denominado de "Direito da Criança e do Adolescente" 1. Como diz GARRIDO DE PAULA (2002, p.26), [...] sob o aspecto objetivo e formal, representa a disciplina das relações jurídicas entre crianças e adolescentes, de um lado, e de outro, família, sociedade e Estado, revelando verdadeira ruptura com o sistema de proteção reflexa dos direitos civis, onde a tutela do mundo infanto-juvenil estaria contemplada na proteção jurídica dos interesses do mundo adulto. O que ocorre é que o atual Código Cível revoga o anterior, o mesmo não fez com relação à adoção tratada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. De acordo com essa divergência levantada, serão expostas algumas considerações procurando observar se o Novo Código Civil apresenta atraso ou junta disposições e avanços imprescindíveis como os defendidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere ao instituto da adoção. Sendo disposto no art. 41 do ECA que a adoção “atribui a condição de filho ao adotado” e repetido-se no artigo 1.626, caput, do Novo Código Civil, ALICKE, e ALVES (2002, p.4), observam que “o conceito de adoção trazido pelo ECA, agora unificado, fica mantido”. Observa-se que o novo Código tratou, por inteiro, sobre o tema de adoção e em seu art. 2º, § 1º a Lei de introdução ao Código Civil (dec. – lei 4.657 de 04.09.1942), que diz que “A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior” (GRANATO, 2003, p.81) 1 Discurso do prof. Miguel Reale elaborado no Novo Código Civil 6 Assim, de acordo com o exposto, Jorge Júnior (apud GRANATO, 2003) afirma que: Com a entrada em vigor do Novo Código Civil, a adoção estabelecida no Código Cível ficará inteiramente revogada, prevalecendo as disposições do Novo Código Civil. Já no que diz respeito à adoção regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, por se tratar de lei especial editada com a finalidade precípua de disciplinar a proteção integral da criança (até 12 anos) e do adolescente (de 12 a 18 anos), deverá ela subsistir em harmonia com os dispositivos do Código Civil, prevalecendo as normas do novo Código Civil naquilo que não houver compatibilidade com o Estatuto, nos termos § 2º da lei de Introdução ao Código Civil. Requisitos subjetivos e objetivos A adoção é um direito de qualquer ser humano, no entanto há algumas regras que devem ser seguidas. Essas regras podem ser observadas entre os art. 39 e 52 do ECA e entre os art. 1.618 e 1.629 do Novo Código Civil (Anexo B). De acordo com Alicke e Alves (2002, p.5), [...] só há adoção após processo judicial. A conclusão decorre da exigência de que a adoção seja, em qualquer caso, assistida pelo poder público, independentemente da idade do adotando (art. 1.623 e parágrafo único do Novo Código Civil). Alguns requisitos para a adoção são necessários, o que podemos observar nos artigos seguintes: A idade: No que diz respeito à idade mínima para adotar uma pessoa, o ECA dispõe que sejam pessoas maiores de 21 e em se tratando de cônjuges ou companheiros que pelo menos um deles possua essa idade estipulada (art. 42 § 2º, do ECA), no entanto o novo Código Civil o limite de idade foi reduzido para 18 anos (art. 1.618 e parágrafo único) conservando o pré-requisito de que o adotado seja pelo menos 16 anos mais novo (art. 42 § 3º do ECA e art. 1.619 do Novo Código Civil): Art. 1.618. Só a pessoa maior de dezoito anos pode adotar. Parágrafo único. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito anos de idade, comprovada a estabilidade da família. Art. 1.619. O adotante há de ser pelo menos dezesseis anos mais velho que o adotado (CC, 2002). Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. [...] Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado civil. [...] 7 § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. Quem pode adotar: De acordo com o Novo Código Civil pode-se adotar cônjuges ou concubinos, homem ou mulher solteiros ou divorciados, casais separados judicialmente, não fazendo menção a adoção a duas pessoas do mesmo sexo. Art. 1.622. Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. Parágrafo único. Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. Também não é encontrado no Novo Código Civil a proibição de adoção por ascendentes e irmãos, prevista no art. 42 § 1º do ECA que gerou polêmica em seu advento. Entre os divorciados e separados judicialmente, a adoção pode ser realizada em conjunto, “desde que concordem sobre guarda e visitas e que o estágio de convivência haja sido iniciado na constância da sociedade conjugal” (art. 42 § 4º do ECA), esse contexto foi mantido pelo Novo Código Civil em seu art. 1.622 parágrafo único, quando rege: “Parágrafo único. Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal“, no entanto no que diz respeito somente aoart. 1.622, é dito: “Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável” (grifo nosso) (GRANATO, 2003). A regra elimina também qualquer polêmica sobre a possibilidade de adoção por casais homossexuais, porque a união estável só é admitida entre homem e mulher (art. 1.723 do Novo Código Civil) (ALICKE e ALVES, 2002). Consentimento: Sobre consentimento tanto o Eca quanto o Novo Código Civil rezam da mesma forma: “Art. 1.621 - A adoção depende de consentimento dos pais ou dos representantes legais, de quem se deseja adotar, e da concordância deste, se contar mais de doze anos” (CC, 2002). Completando em seus parágrafos 1º e 2º e art. 1.624): § 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. § 2º O consentimento previsto no caput é revogável até a publicação da sentença constitutiva da adoção. 8 [...] Art. 1.624. Não há necessidade do consentimento do representante legal do menor, se provado que se trata de infante exposto, ou de menor cujos pais sejam desconhecidos, estejam desaparecidos, ou tenham sido destituídos do poder familiar, sem nomeação de tutor; ou de órfão não reclamado por qualquer parente, por mais de um ano (CC, 2002). Adoção Unilateral e Póstuma: Sobre a adoção Unilateral e Póstuma, Alicke e Alves (2002, p.5) escrevem que “é possível a adoção pelo cônjuge ou companheiro de um dos pais do adotando, a chamada adoção unilateral” Nesse contexto, o novo Código Civil (art. 1.626, parágrafo único) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 41, § 5º) reconhecem a adoção póstuma e “e admite que o pedido seja formulado por tutor ou curador, mediante prévia prestação de contas e demonstração da inexistência de débitos” (CC, art. 1.620; ECA, art. 44). Os efeitos da adoção no caso de adoção Unilateral e Póstuma “retroagem à data do óbito, coincidindo com a abertura da sucessão, nos termos do art. 47, do parágrafo 6º do Estatuto”, ou seja, segundo as observações de Granato (2003, p.89) ela “produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença, exceto na hipótese prevista no art. 42, parágrafo 5º, caso em que terá força retroativa à data do óbito”. Adoção por estrangeiros: O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe detalha a adoção por estrangeiros com mais detalhes que o Novo Código Civil dizendo: Art. 51. Cuidando-se de pedido de adoção formulado por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, observar-se-á o disposto no Art. 31. § 1º O candidato deverá comprovar, mediante documento expedido pela autoridade competente do respectivo domicílio, estar devidamente habilitado à adoção, consoante as leis do seu país, bem como apresentar estudo psicossocial elaborado por agência especializada e credenciada no país de origem. § 2º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá determinar a apresentação do texto pertinente à legislação estrangeira, acompanhado de prova da respectiva vigência. § 3º Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos autos, devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado. § 4º Antes de consumada a adoção não será permitida a saída do adotando do território nacional. Art. 52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente. Parágrafo único. Competirá à comissão manter registro centralizado de interessados estrangeiros em adoção. O Novo Código Civil reza: “Art. 1.629. A adoção por estrangeiro obedecerá aos casos e condições que forem estabelecidos em lei”. 9 Alguns fatores entram em discordância entre o Estatuto e o Novo Código como são encontrados nos arts. 165/170 referente aos procedimentos utilizados para a colocação do menor em uma família, ou seja, guarda, tutela e adoção, nesse caso a referencia n/ao se faz presente quando se trata da adoção do maior, alegando que se todos forem maiores e capazes não se justificaria um processo judicial: “a condição fixada no caput 5º do art. 227 da Constituição Federal, ao exigir que a adoção deve ser assistida pelo Poder Público na forma da lei“, nesse caso o processo só precisa da intervenção do Ministério Público (PEREIRA (1997, p.134). Ainda há quatro itens do qual o Novo Código Civil se mantém em silêncio e é abordado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente: 1) A adoção por procuração, prevista no art. 39, 2) A proibição de adoção por ascendentes e irmãos do adotando, encontrado no § 1º do art. 42, 3) O estágio de convivência que merece ser mantido (art. 46), e, 4) Sobre o cancelamento do registro de nascimento anterior do adotado e proibição de referência à adoção no novo registro (§ 2º e 3º do art. 47). Pereira (1997, p. 133) e Diniz (2002, p. 418) concordam que o Estatuto da Criança e do Adolescente por ser uma Lei Especial deva sofrer modificações para adequar-se ao Novo Código, sendo que a discordância em idade mínima para o adotando ser um fator que pode gerar desencontro nos processos. Sendo também a diferença mínima de 16 anos, um jovem de 18 anos pode tranquilamente adotar uma criança de até dois anos. Esse contexto é analisado por Pereira (1997, p. 134) da seguinte forma: o novo Código Civil não destacou o âmbito de competência jurisdicional no que tange à adoção, ou seja, mantêm-se a atribuição exclusiva do Juiz da Infância e da Juventude para a concessão da medida e os procedimentos previstos no ECA quanto aos menores de 18 anos. A competência se deslocará para a Vara da Família e das sucessões quando o adotado for maior de 18 anos (CC. art. 1623). Diante do exposto observa-se que as tantas leis que o Brasil possui deveriam ser revistas todas as vezes que uma delas for modificada, principalmente no que diz respeito à Constituição Federal e os Códigos em relação às leis especiais para que não haja dentro de um processo falhas ou furos que levem a dúvida do que possa ser realmente feito. Essas falhas dão margem para a quantidade de processos recorridos e o atraso em outros tantos já que sempre é possível encontrar um caminho por onde recorrer devido à essas divergências entre as leis. 10 Cadastro Único De acordo com Alicke e Alves (2002, p.6): O cadastramento dos interessados em adotar, junto ao Juízo, continuará vigente para as adoções de crianças e adolescentes (art. 50 do ECA). Não há necessidade de exigir-se o mesmo requisito para as adoções de maiores de 18 anos, diante do silêncio do Novo Código Civil. Idêntica solução deve ser utilizada quanto ao estágio de convivência – aquele período fixado pelo juiz para a aferição da adaptação do adotando ao novo lar (art. 46, caput, do ECA) –, que também ficará restrito às adoções de menores de 18 anos Se faz necessário por determinação do O Estatuto da Criança e do Adolescente a existência de um cadastro único para controle de todas as famílias que estão em processo de adoção, o que não é obrigatório mediante o Novo Código Civil do qual extinguiu esse controle. De acordo com Paiva (2002), essa anulação pode vir a favorecer os casos de tráfico de crianças. "Esse cadastro representava uma segurança. O Novo Código Civil vai favorecer que pessoas procurem menores em locais como hospitais e creches, sem o controle do juizado”. Efeitos pessoais da adoção De acordo com Alicke e Alves, (2002) deve-se observar que dentre os efeitos pessoais da adoção [...] se estabelece o vínculo legal de paternidade e filiação (CC. Art. 1626; transferindo com isso o poder familiar para o adotante (CC. arts. 1630,1634 e 1635; havendo liberdade relativaem relação ao nome do adotado (CC. Art. 1627). Ou seja, o primeiro dos efeitos da adoção é a atribuição da condição de filho ao adotado. Como conseqüência, são desfeitos os vínculos do adotado com pais e parentes, salvo impedimentos matrimoniais (art. 41 do ECA e art. 1.626 do Novo Código Civil, com ligeira diferença de redação). Por esta razão, aliás, o art. 1.635, V do Novo Código Civil, prevê a extinção do poder familiar pela adoção, excetuada a hipótese de adoção unilateral. No que se relacionam com o patrimônio, os mais importantes efeitos são “de conferir ao adotante o direito à administração e usufruto dos bens do menor” (CC.art. 1689,1691 e 1693); “dever de sustento enquanto durar o poder familiar” (CC. art. 1634), “direito a alimentos” (CC. art. 1694, 1696 e 1697), e “reciprocidade dos direitos sucessórios”. Segundo o Novo Código Civil, a adoção “permite a alteração do sobrenome do adotado” (art. 1.627 do Novo Código Civil), mantendo o art. 47 § 5º, do ECA. 11 Existe uma inovação em relação ao prenome do adotado no Novo Código Civil (art. 1627) em relação ao art. 47 § 5º do ECA onde refere-se “Tratando-se de adotando menor, o prenome também poderá ser alterado, a pedido do adotante ou do adotado” (GRANATO, 2003). “A adoção pode ser extinta pela deserdação” (CC. Arts 1814, 1962 e 1963), “pela declaração de indignidade” (CC. 1814), “pela morte de adotante e/ou adotado ou pelo reconhecimento da paternidade do adotado pelo pai de sangue”. Considerações sobre o novo código civil Paiva (2002, p.6) refere-se ao novo Código Civil como “superficial, genérico e apresenta falhas em vários pontos”, em comparação ao Estatuto da Criança e do Adolescente que “é detalhado e mais completo”, dizendo: A adoção da forma como está no novo Código não representa um avanço e, sim, um retrocesso. Aparentemente, vai beneficiar quem quer adotar, mas, futuramente, vai trazer consequências danosas por não dar garantias antes do processo judicial (PAIVA, 2002). O que para ele essa liberdade “vai proporcionar a devolução dos menores, por ter sido extinto o estágio de convivência, e o tráfico de crianças. A pena para quem pratica esse crime no País é de um a seis anos de reclusão” (PAIVA, 2002, p.6). Muito ainda há para dizer sobre essas questões ligadas ao novel diploma civil e suas implicações no ordenamento jurídico pátrio, principalmente sobre os direitos relacionados à Criança e do Adolescente, pois em seus artigos artigos podemos perceber que não dispõe de posicionamentos afirmados sendo exceção o relativo à implicação da nova maioridade civil à aplicação de medida sócio-educativa. No entanto o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA corre por um caminho certo, importando-se sempre com o bem estar da criança e do adolescente, prima pela adoção que represente vantagem para o adotando e esteja fundada em motivos legítimos (art. 43). Da mesma forma, o Novo Código Civil exige o “efetivo benefício” para o adotando (art. 1.625). No entanto, seria proveitoso observar que uma adoção pode benéfica para o adotado mesmo que esta não esteja inspirada em motivos legítimos. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste estudo pode-se considerar que houve modificações significativas em leis em relação ao instituto da adoção em decorrência da necessidade na protegesse dos interesses diretos do indivíduo a ser adotado. Além das leis que já se preocupavam com essa questão como o Código Civil e a Constituição de 1988, entre outras, o Legislador pátrio veio a criar ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069 de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente de onde trouxe consigo a aplicação dos procedimentos e requisitos para que uma pessoa possa adotar uma criança ou adolescente. A adoção é um tema jurídico polêmico e mal compreendido por muitos principalmente por estar mais ligado ao coração que ao cérebro, ou seja, a emoção supera a razão em relação as famílias e ao indivíduo que espera a adoção. O que faz a adoção por parte destes ser vista com paixão e sem nenhuma objetividade, distorcendo- se suas reais finalidades, o que a própria legislação codificada brasileira contribui para esta situação. De acordo com o Código Civil (arts. 1618 a 1629) a adoção é um ato solene pelo qual nasce o chamado vínculo de parentesco civil, onde pessoa originalmente sem qualquer vínculo com o adotante passa a integrar o seio da família daquele de forma definitiva e irrevogável desligando-se o adotado de qualquer vínculo com os pais de sangue, salvo os impedimentos para o casamento. Diante das leis que regem sobre a temática em pauta, principalmente no que diz respeito o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Novo Código Civil encontramos algumas controvérsias como, por exemplo, a idade mínima para adotar onde o novo Código Civil diz que “só a pessoa maior de 18 anos pode adotar” (CC. Art. 1618) e o ECA (Lei 8069/90 arts. 39 a 52) afirma em seu art. 42 que só podem adotar aqueles que forem maiores de 21 anos, além de alguns requisitos encontrados no Eca e não comentados pelo Novo Código Civil. No entanto, podemos observar que os outros requisitos para adoção foram praticamente extraídos do ECA. Sendo maiores (de 18 anos) podem adotar, independente do estado civil (CC. Art. 1618), com as exceções estampadas nos parágrafos 1º ao 5º do art. 42 do estatuto supracitado devendo ainda, haver uma diferença de idade entre o adotante e o adotado nunca inferior a dezesseis anos (caput 3º art. 42 do ECA e CC. Art. 1619), que precederá, também, de consentimento dos pais ou o representante legal do 13 adotando (CC. Art. 1621 parágrafo 1º), ou do mesmo, se este for maior de doze anos ) caput 2º do art. 45 da Lei 8.069), e contar, na data do pedido, com o máximo 18 anos. Convém salientar, que, estabelecendo a adoção como um parentesco civil entre adotante e adotado, as demais pessoas da família conservam-se estranhas exceto para efeitos matrimoniais, atribuindo ao adotado a condição de filho, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios por tratar-se de herdeiro legítimo, desligando-se de qualquer vinculo com pais e parentes, cessando direitos e obrigações oriundos da relação de parentesco do adotado com a família de origem, não havendo aqui o direito sucessório entre o adotado e os parentes do adotante e vice-versa. Ante ao exposto, conclui-se que o Novo Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente seguirão convivendo, fazendo-se necessária a harmonização de seus dispositivos. Elevado à categoria de microssistema jurídico, o ECA permanece integrado ao ordenamento jurídico brasileiro; e o novo Código se restringe a servir, quanto à adoção, como norma meramente complementar. Assim sendo, o trabalho que ora se apresenta não tem a intenção de constituir- se a palavra definitiva, uma vez que entendemos que o conhecimento se renova a cada momento, isto porque é provisório, porém, deixa-se entreaberta uma janela de possibilidades para que outros autores, estudantes, profissionais interessados possam aprofundar os conhecimentos sobre a temática em pauta. Este trabalho, com certeza, servirá de suporte para que novas interrogações possam emergir. REFERENCIAS ALICKE, José Luís. ALVES, Roberto Barbosa. Reflexões sobre o instituto da adoção à luz do novo código civil. Revista “Infância e Cidadania”, vol. 5, São Paulo: InorAdopt, 2002. ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5o, ii e parágrafo único, da lei no 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Disponível em: http://www.juspodivm.com.br Acesso em: ALVES, P. 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