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1 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 INTRODUÇÃO • Dentro de trauma abdominal fechado, o baço é um dos órgãos mais acometidos. ANATOMIA DO BAÇO É importante ter uma visão global do abdome, pois o trauma abdominal tem relação com o trauma de baço, que é um órgão que está intimamente relacionado à diversas estruturas nobres. Nesta imagem, o fígado foi rebatido para que se consiga observar o sistema porta entrando no fígado, Veia cava subindo, artéria aorta descendo e se dividindo em ilíaca. Para se compreender a anatomia topográfica do baço é necessário entender: a íntima relação com a cauda do pâncreas (porção distal do pâncreas) e a primeira porção duodenal (engloba a cabeça do pâncreas; rebatida na imagem pra mostrar aorta e cava que ficam por trás). Toda vez que se tem um tumor de cauda de pâncreas que necessita de tratamento com uma pancreatectomia caudal, normalmente leva junto o baço, por conta dessas estruturas nobres que estão adjacentes. O tumor pode fazer uma reação desmoplásica que faz com que ele fique aderido à essas estruturas e quando se vai tentar tirar/dissecar de forma anatômica de forma a separar a cabeça do pâncreas do baço acaba lesando vasos. Por isso que na cirurgia de Whipple é feita a duodenopancreatectomia corpo-caudal com esplenectomia. Além disso, há uma íntima relação com a grande curvatura do estômago, porém por conta da encurvação do estômago, a parte que fica mais intimamente ligada com o baço é a parte mais superior da grande curvatura do estômago. Como essa imagem foi rebatida, a primeira porção duodenal foi retirada pra visualização dos vasos mais nobres, mas é possível ver parte do corpo do pâncreas, só que como ela passaria na frente da veia esplênica, aí foi retirada. Dos vasos mais nobres: • Artéria aorta: o primeiro ramo pequeno é a artéria diafragmática, mas o primeiro ramo abdominal de grosso calibre é o tronco celíaco, que se bifurca em artéria esplênica e outro ramo que dará origem a mesentérica superior. Esse ramo do tronco celíaco entra no baço e envia ramos trabeculares para todos os polos – superior e inferior, e é acompanhado pela drenagem venosa formando a veia esplênica que passa atrás do pâncreas até se juntar com a mesentérica superior e formar a veia porta. Antes da veia mesentérica superior sofrer uma anastomose e formar a veia porta, a veia esplênica se junta à veia mesentérica inferior (informação retirada do livro). Anatomicamente, a sua face mais lateral é a mais lisa, pois fica deitada no peritônio parietal no flanco, na transição tóraco-abdominal. E a face medial tem mais irregularidades, pois é o local de impressão dos órgãos adjacentes. Localiza o hilo Trauma esplênico 2 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 esplênico que é onde entra a artéria esplênica e onde sai a veia esplênica. Nesta impressão inferior é onde passa o ângulo esplênico do colo do intestino grosso – impressão colônica, que se curva para virar transverso. * O baço sangra muito, porém atualmente com os recursos disponíveis é possível cada vez mais preservar o baço do paciente. Retornando a anatomia, é importante que se consiga pensar no órgão em outras dimensões (como na TC). Nesta imagem, temos um corte sagital (o seu lado direito é o lado esquerdo do paciente), é como se estivéssemos olhando o paciente deitado na maca de barriga pra cima e a gente posicionado em frente ao pé do paciente – como na TC – que há uma visualização do órgão de 5/5 mm na direção pé- cabeça. Na imagem tem o “V” de ventral, “D” de dorsal - abaixo, “D” de direita - lateral e “E” de esquerda do paciente. Neste corte então é possível observar: coluna cervical, vértebras, canal medular (normalmente fica branco porque passa líquido dentro). Na frente da vértebra, a depender do corte e da fase do exame, são vistas duas bolinhas – artéria aorta mais pra esquerda e veia cava mais para direita. Na região peritoneal, de amarelinho, tem o peritônio parietal – por isso que os rins são órgãos retroperitoneais – revestidos pela fáscia de Gerota (camada de gordura que recobre o rim e o separa do baço). É possível ver na imagem o rim do paciente, a face lateral do baço que é a que repousa no peritônio parietal - parede e a face medial que é o local de contato com as estruturas adjacentes (estômago, duodeno, pâncreas). É possível ver também uma pequena porção final do lobo esquerdo do fígado. Com relação a divisão entre polos (superior e inferior) é preciso ver o abdome de maneira diferente. RELAÇÕES ANATÔMICAS • A → Baço; • B → Estômago; • C → Cauda do pâncreas; • D → Ângulo esplênico do cólon. Referente as relações anatômicas do baço: na letra “a” – íntima relação com a grande curvatura do estômago “b”; passando atrás do estômago o pâncreas (sombra) na letra “c”; na letra “d” o ângulo esplênico do cólon. Referente a relação com as costelas, o baço fica localizado mais ou menos entre o 9º, 10º e 11º arco costal esquerdo. CAUSAS DE TRAUMA ESPLÊNICO • Trauma fechado: acidente automobilístico (daqueles que batem na porta do motorista pegando todo o lado esquerdo), acidente de moto, atropelamento, esmagamento quedas, golpes esportivos (boxe), golpes diretos. • Trauma penetrante: ferida com arma de fogo, ferida com arma branca. • Trauma iatrogênico: golpe com endoscópio. Acontece em cólons que já passaram por algum processo infeccioso, inflamatório ou que já foi muito manipulado. Então, por ser uma região de muitas aderências, ao subir com endoscópio pode traumatizar o local. É raro. 3 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 IMAGENS Corte axial - transverso: paciente deitado na maca e a gente posicionado no pé do paciente, fazendo cortes na direção ventral – dorsal. Para se começar a interpretar a imagem, procura-se por estruturas com a mesma densidade (mesma cor) – observa-se inicialmente em branco: vértebra, coluna vertebral, canal medular (escuro dentro pelo LCR), costelas; acinzentado: órgãos sólidos – fígado (homogêneo; o que se vê dentro do fígado é o sistema portal, que está apagado pela fase da tomografia), baço; bolinha a frente da vértebra lateralizada para esquerda: aorta (mais redonda). A veia cava não está aparecendo na imagem, mas seria uma “bolinha” mais pra direita (mais oval - irregular). Lembrete: Transparente é o oposto de densidade (preto = hipertransparente = hipodenso; Branco = hipotransparente = hiperdenso). A estrutura destacada, que está com a parede espessada, é o estômago. Normalmente, ele não fica assim. Ao fazer a TC, se o paciente apresenta alimento no estômago, o estômago encontra-se distendido, com a parede mais fina. No caso acima, é um paciente que fez o exame em jejum, provavelmente pelo preparo para fazer este exame, estando com um estômago colabado. É possível perceber pouco resíduo líquido (preto) em seu interior, além de algumas pequenas bolhas de gás (é normal ter gases dentro do estômago). Neste corte, por ser mais alto, não é possível observar os rins (que ficam retroperitoneais). O baço (estrutura circulada) tem a mesma densidade do fígado. Para avaliar a estrutura do baço, olhar para ele como um todo. Seu parênquima normalmente é cinza, homogêneo. O radiologista não necessariamente precisa dar diagnóstico, ele precisa laudar o que ele vê, descrever a imagem. *Observação: o rim direito é naturalmente mais baixo por conta do fígado. No corte, se o paciente estiver na posição correta, o rim direito aparece depois do esquerdo. Imagem: alteração da densidade/homogeneidade do parênquima, sendo ela hipodensa, de caráter circular, bem delimitada, com focos centrais de hiperdensidade, que não faz abaulamento, não provoca edema na cápsula (continualisa) e nem tem aspecto de que invade estruturas adjacentes, sendo um provável hematoma esplênico. A região mais escura é a região da contusão, que sangrou/machucou, podendo ter edema e processo inflamatório, já a região mais branca é o sangue propriamente dito/sangramento ativo, é a “boca” do vaso, local que tem sangue naquele momento. Nesse caso, é um hematoma localizado, sem efeito de massa ou abaulamento, restrito ao parênquima esplênico e que não invade o hilo. 4 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 Para correlacionar a imagem vista no Atlas de anatomia do corte axial com a imagem da TC. O corte da tomografia (mais alto; não é possível visualizar os rins) não está na mesma altura do corte da imagem do atlas. Nessa imagem tomográfica, a aorta está um pouco mais branca do que na tomografia anterior, portanto, podemos inferir que a anterior era sem contraste, mas essa é com contraste, embora não seja possível dizer que esta já seja uma fase totalmente arterial, provável que seja ou uma fase portal ou tardia. Fígado: textura homogênea, parênquima normal, sistema portal bem visualizado. Baço: edemaciado, com alteração na homogeneidade (parênquima está heterogêneo) às custas de grande área hiperdensa (mais branca) associada a áreas focais hipodensas (mais pretas/cinza mais escuro). É um hematoma esplênico mais grave, um baço que está edemaciado, com um hematoma que se estende da cápsula até a região hilar (região muito delicada), além de um hematoma um pouco menor no polo inferior e áreas difusas de hipodensidade que podem representar contusão, edema, processo inflamatório. É um paciente com um trauma esplênico mais grave/significativo, quando comparado ao paciente anterior. Qual a conduta a ser tomada? Depende. Como está esse paciente que chega na emergência? Está estável ou instável? É jovem? Por exemplo, paciente de 22 anos, caiu de moto, chega à emergência conversando, PA de 12x8, FC 90bpm, com boa saturação, pode fazer tomografia? Pode. Na TC, esse paciente apresenta um hematoma grande, com área de sangramento, pegando o hilo, mas está estável. Não vai colocar esse paciente no centro cirúrgico para fazer uma esplenectomia se ele está estável, o sangramento pode ter parado, é um paciente jovem, com boa coagulação. Então, não necessariamente é um paciente que precisa de abordagem cirúrgica. Esse exemplo é um paciente que sangrou, está estável, formou coágulo e parou de sangrar, então, ele pode ser colocado em observação, mas pode complicar a qualquer momento. A equipe pode ser chamada 6 horas depois com relato de que o paciente começou a suar frio, a pressão caiu, está taquicárdico, taquipneico e saturando 79%, o que faz com que tenha que ser levado imediatamente ao centro cirúrgico. Neste caso, provavelmente, algum coágulo destampou/se deslocou e ele voltou a sangrar. Fígado: heterogêneo, parecendo esteatose hepática. Essa é uma tomografia com contraste, em corte genuinamente arterial. Observem como a aorta está branca da cor do osso/densidade similar. É um corte tomográfico bem mais baixo do que os anteriores, só sendo possível ver a porção final do lobo direito do fígado. Podemos dizer que é uma fase arterial tardia, porque um dos rins (o direito) está excretando contraste, está todo corado pelo mesmo contraste que está dentro da aorta. O rim esquerdo, se pegarmos um corte mais abaixo, provavelmente, caso o paciente não tenha nenhum problema de perfusão/deficiência renal, esse rim vai estar corado também. Tudo que fica preto na tomografia é gás. Cólon transverso com gases (circulado em rosa). Corte mais baixo evidenciando o polo inferior do baço, pâncreas e a mesentérica. Áreas de hipodensidade em região de cabeça, colo e corpo pancreático, além de rim esquerdo sem contraste evidenciado e nível aéreo em alças colônicas. *Não é para se ter nível hidroaéreo no cólon, porque no cólon é para ter fezes já formadas, 5 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 caso se evidencie nível hidroaéreo, significa que há algum distúrbio de absorção ou obstrução intestinal. CLASSIFICAÇÃO DE TRAUMA ESPLÊNICO A classificação vai de 1 a 5, sendo que as lesões de 1 a 3 se dividirão em hematoma e laceração. Em termos simples a laceração é um rasgo, enquanto o hematoma é uma pancada. Quando se toma uma pancada numa região forma-se um hematoma, se ficar roxo, uma equimose. O hematoma é quando se considera a consistência do sangue mais líquido, hematoma subgaleal, hematoma subdural. Então é como se tivesse algum vaso que extravasou sangue naquela região, mas ficou localizado, restrito, como se ficasse preso o sangue. Enquanto a laceração é um rasgo, rasgou um pedaço, simplesmente. (Não botem rasgo na prova, é apenas para lembrar). • Trauma esplênico grau 1 do tipo hematoma: subcapsular, não abaula a cápsula do baço, é restrito, circunferencial, bem delimitado e envolve menos de 10% da superfície do baço. • Grau 1 Laceração: quando se tem um pequeno rasgo, um rompimento do parênquima, com uma profundidade inferior a 1cm. • Grau 2 de hematoma: subcapsular, mas o nível de acometimento do parênquima esplênico vai entre 10 e 50% da sua superfície. Ou menos de 5cm de diâmetro. • Laceração grau 2: entre 1 e 3cm. Sem envolver vasos trabeculares (aqueles vasos mais grossinhos que são ramos diretos da artéria esplênica, que vão para os polos superior e inferior e depois se ramificam em vãos menos calibrosos até formar capilares). • Grau 3 de hematoma: Hematoma subcapsular, >=50% da superfície ou expansivo; subcapsular ou intraparenquimatoso roto (vaso sangrando naquele momento); intraparenquimatoso >= 5cm ou expansivo. Ou está abaulando a cápsula, ou é um hematoma que você está fazendo um tratamento conservador do paciente. Exemplo: tomografou ontem e viu um hematoma medindo 2,5cm, o paciente começou a cair o HB lentamente, mas ainda está estável, havendo tempo para retomografar, e 48h pós-trauma retomografa e o hematoma de 2,5cm foi pra 5cm, ou seja, hematoma que está em expansão). • Laceração grau 3: >3cm de profundidade e já envolve vasos trabeculares. Então é um trauma mais difícil de tratar, tem mais risco de instabilidade, um trauma borderline a respeito do que se vai fazer com o paciente. • Grau 4: pega vaso segmentar ou hilar (pegou em um esplênico já era), ou desvascularização de mais de 25% do baço. Pegou hilo → cirurgia. • Grau 5: tem secção total do hilo esplênico ou múltiplas destruições, completamente fragmentado. Não tem mais o que fazer. FLUXOGRAMA: TRAUMA ESPLÊNICO O trauma pode ser letal a depender do estado hemodinâmico do paciente. Se ele estiver estável, tem tempo de pensar, fosforilar, de tomografar, de fazer fast, do que quiser. 6 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 Chegou um paciente com trauma esplênico, a primeira coisa que vai ver é a hemodinâmica (pressão, FC, FR, saturação, nível de consciência - parâmetros usados para avaliar choque hipovolêmico). Ex.: um paciente chegou falando que caiu de uma laje de 3m, caiu de barriga para cima, bateu as costas. PA: 110x50, agitado, queixa de dor, FC de 90-95bpm. Equimose na região das costelas (entre a 9º e a 11º). Esse paciente está tendendo à hipotensão, mas ele não está gravíssimo. Pega um acesso calibroso, faz reposição volêmica. Se ele responder a volume, tem tempo de pensar. Se na sala vermelha tiver fast, então faz. Se tiver líquido livre, não necessariamente vai levar para cirurgia. Se o paciente estiver estável, vai observar ou tomografar. A presença de líquido livre não significa que o baço está destroçado. Ele pode sangrar muito, e pode parar. Fez um hematoma que tamponou, formou um coágulo aderido no lugar da laceraçãoe parou. Se no fast tiver muito líquido, mas o paciente estiver estável com pressão 120X80mmHg (exemplo), não vai precisar tirar o baço. Esplenectomia é a última opção. Atualmente, se o paciente estiver estável, com os recursos de imagem, recursos hemostáticos e recursos cirúrgicos, consegue preservar cada vez mais os órgãos sólidos em si. Então, no paciente com PA 120X80, fez o fast, tem líquido livre, mas está estável, vai levar para tomografia, que detectou o trauma esplênico grau 2, mas sem sinal de lesão de vaso trabecular, sem sinal de vaso de hilo, cápsula mantida, não está expandindo, pedir um Hb, que se encontra estável (11,5), não é necessário operar esse paciente. Ele vai para observação, pra UTI ou semi-UTI. Caso o paciente piore o quadro, com diminuição da pressão (80X50mmHg), nervoso, suando frio, confuso, respiração forte, pode ter destampado o coágulo. Nesse caso que o paciente fica instável, faz uma expansão com soro para ver se ele responde. Caso não funcione, será necessário transferir para sala de cirurgia. Mas, caso esse paciente melhore com o soro, com aumento da pressão, não será necessário levar para sala de cirurgia. Se o paciente respondeu a estabilização, mas acha que ele está sangrando, que sabe que destampou o coágulo, mas que não está sangrando como anteriormente, ele precisa de intervenção, mas não precisa ser uma intervenção tão invasiva como a esplenectomia. Ele vai instabilizar se deixar ele sangrar, então precisa acionar o hemodinamicista para fazer arteriografia (tomografia só dos vasos, com contraste, que vai corar todos os vasos abdominais). Na artéria esplênica vai ver os vasos trabeculares entrando no baço. Os vasos trabeculares íntegros são vistos como se fossem galhos de árvore; e o vaso trabecular que está sangrando, vai ser visto como um galho de árvore até que mancha a região. Isso é o lugar que rompeu e o contraste extravasou no parênquima. Então, aciona a hemodinâmica, faz a arteriografia e faz a embolização daquele vaso trabecular. Essa embolização pode salvar a vida do paciente, mas pode também não funcionar, pois o êmbolo pode deslocar. Então, se tentou estabilizar, tentou o tratamento conservador, tentou embolizar, e mesmo assim o paciente está fazendo episódio repetidos de instabilidade depois das tentativas de tratamentos minimamente invasivos, então terá que ir para sala de cirurgia. Para fazer a cirurgia, vai precisar usar o bom senso. Se o paciente já chega no hospital muito pálido, sangrando, faz 2mil de volume e não melhora, está taquicárdico, confuso, já manda para sala. Só em casos em que o paciente tolera que vai tentar estabilizar. A conduta vai depender sempre do estado hemodinâmico do paciente. 7 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 Observação: o trauma esplênico grau 5 é sinônimo de esplenectomia. CASO CLÍNICO Homem, 17 anos, veio encaminhado para o Hospital terciário com história de trauma fechado devido à queda de moto, há 30 horas, apresentando dor abdominal e hipotensão arterial sistêmica que foi revertida, apenas, com hidratação vigorosa. Não apresenta hematúria. Na sala de reanimação, o paciente se encontrava consciente e orientado (Escala de Coma de Glasgow – ECG de 15) apresentando sinais vitais de estabilidade hemodinâmica (pressão arterial de 128X54mmHg), frequência cardíaca (FC) de 90 bpm e frequência respiratória (FR) de 24 irpm. O abdome estava distendido e doloroso à palpação superficial do flanco esquerdo. Médico plantonista solicitou exame de imagem demonstrado abaixo. Quando se fala de dor em flancos, o primeiro órgão que pode estar envolvido é o rim. Quando o caso traz que não tem hematúria, significa que o trauma não foi no rim. Procurar a lesão em outro lugar. PROVA. Na tomografia tem achados importantes, e uma das coisas mais gritantes é o estômago cheio, com resíduo sólido. Isso quer dizer que a tomografia foi feita em caráter de urgência, não esperou o tempo necessário do jejum para realizar a tomografia de abdome. Outro detalhe: está em uma fase arterial tardia, porque ambos os rins estão repletos de contraste. Uma coisa que chamou atenção foi isso todo corado entrando no rim direito, que grosseiramente pode dizer que tem um aneurisma de artéria renal (há discordância se é ou não um aneurisma). Observando o baço, percebe-se uma hipodensidade, áreas de heterogeneidade do parênquima, sendo mais acometido a parte anterior, e com foco hiperdenso, provavelmente de vaso ou de algo que sangrou no centro. Teoricamente, esse sangramento está subcapsular, apesar de ter o vaso com sangramento fora, mas dá para ver que é um hematoma que está totalmente restrito, circunferencial, não abalou a cápsula, então não é para ter grandes extravasamentos, é um sangramento intraparenquimatoso. O grau desse trauma esplênico seria II, pois, além do local apontado pela seta, existem outras manchas abaixo que podem levar a pensar em grau II. Baseado nos dados fornecidos, responda: a) Qual hipótese diagnóstica para o caso? Justifique com achados do relato. Trauma esplênico grau 2. b) Em relação ao exame de imagem solicitado, julgue a conduta do médico plantonista como pertinente ou não e cite outros exames que você julgue necessário neste momento. c) Qual a conduta terapêutica inicial para este paciente. Faça uma prescrição completa de forma protocolar. d) Em relação ao manejo deste paciente, após medidas iniciais, quais devem ser as ações do médico plantonista? Tratamento conservador: monitorizar, pegar acesso, gasometria, pedir Hb de urgência, FAST, TC, tendo tempo suficiente para pedir os exames necessários. Ainda não é necessário pedir sangue para transfundir. Para hidratação, basta cristaloide (não precisa ser expansão volêmica, pois não há nenhum sinal de choque). A conduta terapêutica inicial, como ele está hemodinamicamente estável (PA de 128X54 mmHg, FC de 90bpm e FR de 24ipm), está lúcido, não está confuso, torporoso ou sudoreico, sem sinal nenhum de sangramento no momento, pode mandar o paciente para unidade semi intensiva, para manter sob observação. PRESCRIÇÃO 1. Repouso em leito absoluto, cabeceira à 45º. Essa primeira 24h é de observação, não pode levantar nem para banheiro. Não precisa passar sonda, pois os parâmetros vitais estão normais, não necessitando medir o debito urinário. Se o paciente estivesse com sinal de choque e precisasse monitorizar o débito urinário, com sinais 8 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 4 de má-perfusão e lactato elevado, seria necessário saber se o paciente está mantendo perfusão adequada, colocando assim, a sonda de Foley. 2. Dieta zero (até segunda ordem). Tem que manter sem comida, pois o paciente pode desestabilizar e precisar ir para a cirurgia. 3. Monitorização multiparamétrica, oximetria de pulso e PA não invasiva (PANI). O paciente está estável, então pode-se obter os parâmetros dele de forma não invasiva. Se o paciente chocar e precisar de droga vasoativa, vai precisar medir de forma mais invasiva. 4. SG 5% (água destilada e açúcar) 500ml + NaCl 20% 10ml + KCL 19,1% 10ml, IV, em BIC 84ml/h. Se propôs uma dieta zero, tem a obrigação de oferecer um aporte calórico e hídrico para o paciente através da veia. Se for fazer com SF, acrescenta glicose a 50%. Toda vez que coloca aporte eletrolítico (sódio e potássio) tem que fazer em bomba de infusão contínua. Correr por 24h. Hidratação basal: 30ml/kg/peso. Paciente 70kg: 70x30 → 2100ml. Não está contando as perdas insensíveis, pois não é um paciente crítico de UTI. É um paciente se quer liberar a dieta dele em 12h no máximo, se ele se manter estável. 5. Analgesia - Dipirona 1g, IV, 6/6h. Essa analgesia pode fazer 1 ou 2 g. Para um hematoma pequeno, subcapsular,restrito, não precisa colocar antibiótico. Não tem como fazer hematoma infectado. 30h é precoce para o hematoma (coleção de sangue) colonizar e infectar. O paciente que infecta, dá sinais (abdome distende, por exemplo). 6. Anti-inflamatório - Cetoprofeno, 100mg, EV, 12/12h Pode fazer um antinflamatório, já que o paciente está com dor, costela quebrada. OBS: Não te indicação formal de usar omeprazol, por risco de lesão de mucosa gástrica, mas pode colocar se quiser. OBS: Se for um acidente que achar que vai ficar restrito ao leito por mais dias, lembrar de prescreve: profilaxia mecânica antitromboembolítica. Ele não pode usar anticoagulante químico (Clexane), pois acabará com nossas medidas iniciais, destampando coágulo, levando o paciente a sangrar. Mas, se ele for ficar restrito ao leito, precisa prescrever CPI (compressão pneumática intermitente) – bota que fica insuflando e desinsuflando na perna do paciente. OBS: se o paciente fizer uso de medicação de uso contínuo, lembrar de deixar prescrito.
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