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Indaial – 2019 Direito Civil i Prof.a Tatiana Constâncio Silva 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.ª Tatiana Constâncio Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SI586d Silva, Tatiana Constâncio Direito civil I. / Tatiana Constâncio Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 181 p.; il. ISBN 978-85-515-0393-5 1. Direito civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.1 III ApresentAção Prezado acadêmico! O livro didático de Direito Civil I tem por objetivo apresentar informações acerca dos principais institutos da parte geral do Direito Civil. A Parte Geral do Código Civil possui três livros, abrangendo os arts. 1º ao 232, que enunciam os direitos e deveres gerais da pessoa humana e estabelecem pressupostos gerais da vida civil. O Direito Civil regula e estuda a relação entre os particulares, pessoas naturais ou jurídicas, sendo um campo do Direito Privado e divide- se em relações pessoais, familiares, patrimoniais e obrigacionais, estando disciplinadas no Código Civil e em algumas leis especiais. A estrutura do Código Civil, no seu Livro Geral, cuida das situações que envolvem o direito subjetivo relacionado às pessoas, aos bens e aos fatos jurídicos. A exposição de motivos do Código Civil, demonstra os objetivos da lei na ocasião em que o referido diploma fora publicado. O direito se realiza, em atenção às necessidades da sociedade de sua época, por isto é imprescindível que quem estuda o direito busque compreender sua evolução histórica, e sua incidência no espaço e no tempo. Em determinado momento histórico, o Estado Social passou a garantir e efetivar o direito à dignidade da pessoa humana como garantia fundamental, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Desta forma, surgiu, como garantia fundamental a todos cidadãos, o princípio da dignidade da pessoa humana, através do qual se contempla a evolução social histórica do personalismo ético, um dos pilares básicos de nosso Estado Democrático de Direito, previsto no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988. Com a constitucionalização do Direito acontecendo em diversos países, é necessário que as normas passem por uma reorganização, tendo em vista a mutação dos seus valores fundamentais. Nesse sentido, o atual Código recolocou a pessoa humana como centro do direito civil; esta trajetória de emancipação humana, chamam os doutrinadores de repersonalização dos direitos civis. Desta forma, na primeira unidade, você estudará a pessoa natural, denominação para todo ser humano, estudará o conceito de personalidade jurídica e as teorias acerca do seu início, bem como a causa de extinção. Você também irá estudar a capacidade civil, suas classificações, hipóteses de incapacidade e formas de aquisição da capacidade. Aprenderá os modos para individualização da pessoa natural: nome, estado e domicílio. Estudará os direitos da personalidade, que são inerentes a todo ser humano decorrendo do princípio da dignidade da pessoa humana. Por fim, estudará a morte presumida e o instituto da ausência. Já na segunda unidade, você estudará a pessoa jurídica e seus institutos. Aprenderá sobre bens com suas classificações. Estudará ainda fato jurídico, ato jurídico e teoria geral dos negócios jurídicos. Finalmente, você também estudará a prescrição e decadência. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Finalmente, na terceira unidade, você estudará a prescrição e decadência. Também aprenderá sobre alguns direitos das coisas, que são tratados na parte especial do Código Civil, especialmente, estudará a posse e a propriedade. A disciplina Direito Civil I é de extrema importância para qualquer operador do Direito ou ciências correlatas, tendo em vista que traz as normas e princípios gerais a serem aplicados em todas as relações entre particulares, bem como seus institutos e conceitos são utilizados pelos demais ramos do Direito, como, por exemplo, o Direito Processual Civil utiliza o conceito de domicílio etc. Para que um operador do Direito aprenda e efetive os ensinamentos acerca de qualquer divisão do Direito Civil, indispensável o conhecimento das suas regras gerais, que serão as estudadas nesse livro. Prof.ª Tatiana Constâncio Silva V VI VII UNIDADE 1 – DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ................1 TÓPICO 1 – DA PESSOA NATURAL ...................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 PESSOA NATURAL ...............................................................................................................................3 3 PERSONALIDADE JURÍDICA ...........................................................................................................3 4 INÍCIO DA PERSONALIDADE E NATUREZA JURÍDICA DO NASCITURO .......................4 5 A CAPACIDADE CIVIL .......................................................................................................................9 5.1 INCAPACIDADE ............................................................................................................................. 10 5.2 AQUISIÇÃO DA CAPACIDADE CIVIL ...................................................................................... 11 6 EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ........................................................................... 12 7 MODOS DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL ................................................. 13 7.1 O NOME CIVIL ............................................................................................................................... 13 7.1.2 Conceito ................................................................................................................................... 13 7.1.3 Natureza jurídica .................................................................................................................... 14 7.1.4 Elementos do nome ................................................................................................................ 15 7.2 ESTADO ...........................................................................................................................................18 7.3 DOMICÍLIO ..................................................................................................................................... 19 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 – DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25 2 CONCEITO DE DIREITOS DA PERSONALIDADE .................................................................... 25 3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ............................................... 27 4 DIREITO AO CORPO .......................................................................................................................... 31 5 DIREITO À RECUSA AO TRATAMENTO MÉDICO .................................................................. 32 6 DIREITO AO NOME ........................................................................................................................... 34 7 DIREITO À IMAGEM ......................................................................................................................... 35 8 DIREITO À PRIVACIDADE E DIREITO À INTIMIDADE ........................................................ 36 9 PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ................................................................ 37 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 – DA MORTE PRESUMIDA E DA AUSÊNCIA ............................................................ 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 MORTE PRESUMIDA ......................................................................................................................... 43 3 AUSÊNCIA ............................................................................................................................................. 44 4 DECLARAÇÃO DA AUSÊNCIA E CURADORIA DOS BENS .................................................. 45 5 SUCESSÃO PROVISÓRIA ................................................................................................................. 47 6 SUCESSÃO DEFINITIVA .................................................................................................................. 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 55 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 56 sumário VIII UNIDADE 2 – DA PESSOA JURÍDICA, DOS BENS, FATO JURÍDICO, ATO JURÍDICO E NEGÓCIOS JURÍDICOS ......................................................................................... 59 TÓPICO 1 – DA PESSOA JURÍDICA .................................................................................................. 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61 2 CONCEITO ........................................................................................................................................... 61 3 NATUREZA JURÍDICA ....................................................................................................................... 62 3.1 TEORIA DA EQUIPARAÇÃO ....................................................................................................... 62 3.2 TEORIA DA FICÇÃO LEGAL ....................................................................................................... 62 3.3 TEORIA DA REALIDADE OBJETIVA.......................................................................................... 62 3.4 TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA .......................................................................................... 63 4 REQUISITOS PARA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ............................................. 63 5 INÍCIO DA PERSONALIDADE ........................................................................................................ 64 5.1 INÍCIO DA PERSONALIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO ........ 64 5.2 INÍCIO DA PERSONALIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO ....... 65 5.3 SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO ................................................................................... 66 5.4 GRUPOS DESPERSONALIZADOS .............................................................................................. 67 6 FIM DA PERSONALIDADE .............................................................................................................. 68 7 RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA .......................................................................... 68 8 DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA ............................................................................................ 70 9 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ...................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 74 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76 TÓPICO 2 – DOS BENS ........................................................................................................................ 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 CONCEITO ........................................................................................................................................... 79 3 DIFERENÇA ENTRE BENS E COISAS ........................................................................................... 80 4 PATRIMÔNIO ...................................................................................................................................... 80 5 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS ........................................................................................................... 81 5.1 BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS .................................................................................. 82 5.1.1 Bens Imóveis e móveis ........................................................................................................... 83 5.1.2 Bens fungíveis e infungíveis .................................................................................................. 86 5.1.3 Bens consumíveis e inconsumíveis ...................................................................................... 87 5.1.4 Bens divisíveis e indivisíveis ................................................................................................. 87 5.1.5 Bens singulares e bens coletivos ........................................................................................... 88 5.2 BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS .......................................................................... 89 5.2.1 Bens principais e bens acessórios ......................................................................................... 89 5.3 BENS QUANTO AO TITULAR DO DOMÍNIO .........................................................................90 5.3.1 Bens particulares e bens públicos ......................................................................................... 90 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 93 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 95 TÓPICO 3 – FATO JURÍDICO, ATO JURÍDICO E NEGÓCIO JURÍDICO ................................. 97 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 97 2 CONCEITO DE FATO JURÍDICO .................................................................................................... 97 2.1 FATO JURÍDICO NATURAL ........................................................................................................ 98 2.2 FATO JURÍDICO HUMANO ......................................................................................................... 98 2.2.1 Ato jurídico strictu sensu ....................................................................................................... 99 2.2.2 Ato-fato jurídico ...................................................................................................................100 2.2.3 Negócio Jurídico ...................................................................................................................101 IX 3 DISPOSIÇÕES GERAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO ..................................................................102 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ....................................................................103 3.1.1 Classificação quanto à manifestação de vontade ............................................................103 3.1.2 Classificação quanto às vantagens para as partes ...........................................................103 3.1.3 Classificação quanto à forma .............................................................................................104 3.1.4 Classificação quanto ao momento da produção dos efeitos ..........................................104 3.1.5 Classificação quanto ao modo de existência ....................................................................104 3.1.6 Classificação quanto ao número de atos necessários .....................................................105 3.1.7 Classificação quanto às modificações que podem produzir ..........................................105 3.1.8 Classificação quanto ao modo de alcançar o resultado ...................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................107 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................111 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113 UNIDADE 3 – NEGÓCIO JURÍDICO, ATOS ILÍCITOS, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ....... 115 TÓPICO 1 – NEGÓCIO JURÍDICO E ATOS ILÍCITOS ................................................................117 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117 2 CONCEITO ..........................................................................................................................................117 3 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS ...................................................................................................117 4 CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO.............................................................................118 4.1 QUANTO À MANIFESTAÇÃO DE VONTADE .......................................................................118 4.2 QUANTO À FORMA ....................................................................................................................119 4.3 QUANTO À VANTAGEM PATRIMONIAL ..............................................................................119 4.4 QUANTO À NATUREZA EXISTENCIAL .................................................................................119 5 PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO .............................................................................................120 5.1 PLANO DA EXISTÊNCIA ............................................................................................................120 5.2 PLANO DA VALIDADE ...............................................................................................................121 5.2.1 Agente capaz .........................................................................................................................122 5.2.2 Objeto lícito, possível e determinado ou determinável ...................................................122 5.2.3 Forma prescrita ou não defesa em lei ................................................................................123 5.2.4 Consentimento válido ..........................................................................................................123 5.2.5 Teoria da invalidade .............................................................................................................129 5.3 PLANO DA EFICÁCIA.................................................................................................................132 5.3.1 Condição (Art. 121 CC) ........................................................................................................133 5.3.2 Termo ......................................................................................................................................133 5.3.3 Encargo ...................................................................................................................................133 6 ATO ILÍCITO, EXCLUDENTES DE ILICITUDE E ABUSO DE DIREITO .............................134 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 TÓPICO 2 – PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA .................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 DECADÊNCIA ....................................................................................................................................141 3 PRESCRIÇÃO ......................................................................................................................................141 3.1 CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO .............................................................................142 3.2 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO .......................................................................143 4 PRAZO PRESCRICIONAL ..............................................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147 X TÓPICO 3 – DIREITOS REAIS ...........................................................................................................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 CONTEÚDO ........................................................................................................................................149 3 CLASSIFICAÇÃO ...............................................................................................................................1494 CARACTERÍSTICAS .........................................................................................................................150 5 DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS OBRIGACIONAIS ..........................150 5.1 OBRIGAÇÕES MISTAS.................................................................................................................151 5.1.1 Obrigação com eficácia real .................................................................................................151 5.1.2 Obrigação propter rem ...........................................................................................................151 6 POSSE ...................................................................................................................................................152 6.1 CLASSIFICAÇÃO ..........................................................................................................................153 6.1.1 Posse direta e indireta ..........................................................................................................153 6.1.2 Posse justa e injusta ..............................................................................................................153 6.1.3 Posse de boa-fé e de má-fé ...................................................................................................154 6.1.4 Posse nova e posse velha .....................................................................................................154 6.2 AQUISIÇÃO DA POSSE ...............................................................................................................155 6.2.1 Posse originária ou derivada ...............................................................................................155 6.2.2 Meios de aquisição da posse ...............................................................................................155 6.3 PERDA DA POSSE ........................................................................................................................156 6.4 PROTEÇÃO POSSESSÓRIA.........................................................................................................156 6.4.1 Desforço pessoal e legítima defesa .....................................................................................156 6.4.2 Ações possessórias ................................................................................................................157 7 PROPRIEDADE ..................................................................................................................................157 7.1 RESTRIÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE .....................................................................158 7.2 AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL .............................................................................159 7.2.1 Usucapião ..............................................................................................................................159 7.2.2 Acessão ...................................................................................................................................160 7.3 AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL ...............................................................................161 7.4 PERDA DA PROPRIEDADE ........................................................................................................162 8 DIREITO DE VIZINHANÇA ...........................................................................................................162 8.1 USO ANORMAL DA PROPRIEDADE .......................................................................................162 8.2 ÁRVORES LIMÍTROFES ..............................................................................................................163 8.3 PASSAGEM FORÇADA ...............................................................................................................163 8.4 PASSAGEM DE CABOS E TUBOS ..............................................................................................164 8.5 ÁGUAS ............................................................................................................................................164 8.6 LIMITES ENTRE PRÉDIOS E TAPAGEM ..................................................................................165 8.7 DIREITO DE CONSTRUIR ...........................................................................................................165 8.8 USO DE PRÉDIO VIZINHO ........................................................................................................165 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................167 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................172 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................177 1 UNIDADE 1 DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • aprender o conceito de pessoa natural; • conceituar personalidade jurídica; • aprender as principais teorias acerca do início da personalidade jurídica; • conhecer o momento da extinção da personalidade jurídica; • aprender sobre a capacidade da pessoa natural e sua classificação; • Identificar as hipóteses de incapacidade; • aprender as causas de aquisição da capacidade civil; • conhecer os modos para individualização da pessoa natural: nome, estado e domicílio; • conceituar os direitos da personalidade; • aprender as principais características dos direitos da personalidade; • estudar o direito ao corpo, direito à recusa ao tratamento médico, direito à imagem e o direito à privacidade e à intimidade; • aprender sobre a proteção dos direitos da personalidade; • conceituar a morte presumida; • aprender sobre a ausência; • conhecer as fases da situação da ausência • estudar a declaração de ausência; • aprender a sucessão provisória; • estudar a sucessão definitiva. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você poderá dispor de atividades que o auxiliarão na fixação do conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DA PESSOA NATURAL TÓPICO 2 – DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE TÓPICO 3 – DA MORTE PRESUMIDA E DA AUSÊNCIA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DA PESSOA NATURAL 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, você, acadêmico, irá aprender sobre a pessoa natural. Irá aprender que pessoa natural, ou física, é a denominação para todo ser humano, sujeito de direitos e de obrigações e que é através da personalidade jurídica que a pessoa exerce seus direitos e deveres na sociedade. Você ainda irá estudar as teorias acerca do início da personalidade jurídica, momento importante para verificarmos quando alguém pode ser considerado uma pessoa e, portanto, um sujeito de direitos e obrigações. Também verificará que o ordenamento jurídico adotou a teoria natalista para determinar o momento do início da personalidade. Você também irá estudar a capacidade civil, suas classificações, hipóteses de incapacidade e formas de aquisição da capacidade, quais sejam: maioridade, emancipação voluntária, emancipação judicial e emancipação legal. Aprenderá sobre a extinção da personalidade jurídica da pessoa natural, que ocorre com a morte da pessoa, sendo que a morte pode ser real ou presumida. Por fim, estudará os modos para individualização da pessoa natural: nome, estado e domicílio. 2 PESSOA NATURAL Pessoa natural é a denominação utilizada pelo direito civil ao ser da espécie humana, sendo, portanto, um sujeito de direito e obrigações. Para ser pessoa natural, basta existir, enquanto ser da espécie humana. Desta forma, todo ser recebe a denominação depessoa natural ou pessoa física. 3 PERSONALIDADE JURÍDICA É a aptidão genérica para se adquirir direitos e deveres. Para a atuação desse papel, na sociedade, que permite à pessoa humana que seja sujeito de direitos e obrigações ou deveres, denominamos de personalidade civil ou jurídica. UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 4 Portanto, a personalidade jurídica é a aptidão genérica para ser sujeito de direitos e deveres, sendo que tal aptidão poderá ser exercida a partir do nascimento com vida e dura até a sua morte. O simples fato de nascer com vida, o que se constata através da oxigenação dos pulmões, é suficiente para garantir a personalidade jurídica. Importante que você saiba que, ainda que não nascido, porém concebido e aguardando nascimento no ventre materno, é garantida a proteção ao ser humano concepto, denominado de nascituro. Conforme dispõe o art. 2º do Código Civil: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002, s.p.). Assim é a personalidade jurídica da pessoa natural que concede condições para que se estabeleçam as relações jurídicas entre as pessoas (sociedade). 4 INÍCIO DA PERSONALIDADE E NATUREZA JURÍDICA DO NASCITURO São diversas as teorias jurídicas a respeito do início da personalidade, sendo que para tanto é importante que você saiba a diferença entre nidação e fecundação. No processo de gestação, há dois momentos distintos: a nidação ou implantação e a fecundação. A segunda ocorre quando o espermatozoide fecunda o ovócito e pode correr naturalmente ou através de alguma técnica de reprodução assistida, já a nidação do embrião só ocorre após, aproximadamente, seis dias a partir da sua fecundação. Até esse momento, o embrião não foi implantado e, portanto, não entrou em contato com os tecidos da mãe. Caso não haja a implantação, o embrião não conseguirá sobreviver. Mesmo introduzido nas trompas, esse embrião fecundado, através de técnicas de reprodução assistida, poderá deixar de nidar. Assim como, embriões fecundados naturalmente, também podem não ser implantados no útero materno. Em razão dessa distinção entre o momento da fecundação e o da nidação, os doutrinadores divergem acerca do início da vida humana ou do momento da concepção. Basicamente, para alguns autores, a concepção ocorre apenas quando o tecido materno recebe o embrião, ou seja, no momento da nidação em que há a implantação do embrião no útero materno. Por outro lado, existem autores que defendem que a fecundação e a concepção sucedem no mesmo momento, isto é, quando o ovócito é penetrado pelo espermatozoide. O Código Civil brasileiro estabelece, conforme você aprendeu no item anterior que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002, s.p.). Significa dizer que o direito brasileiro, adota o nascimento com vida como marco inicial da personalidade. Entretanto, devem ser respeitados os direitos do nascituro, desde a concepção, uma vez que a partir desse momento já começa a formação de um novo ser humano. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 5 De acordo com a teoria geral do Direito Civil, personalidade jurídica é a aptidão genérica para ser titular de direitos e contrair obrigações, ou seja, ser sujeito de direitos, sendo a personalidade um atributo de toda e qualquer pessoa, natural ou jurídica. Desta forma, para o direito, pessoa natural é o ser humano enquanto destinatário de direitos e obrigações (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2017a; 2017b; 2017c). FIGURA 1 - FETO FONTE: <https://c1.staticflickr.com/3/2325/2128618333_ce728437dc_b.jpg>. Acesso em: 29 maio 2019. O nascimento ocorre quando a criança é separada do ventre materno. De acordo com o art. 29, V, da Resolução nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde, o nascimento com vida é: “a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta” (BRASIL, 1988b, s.p.). Todavia, apesar de a personalidade ter início a partir do nascimento com vida, a lei, na parte final do artigo 2º do Código Civil (BRASIL, 2002), protege desde a concepção os direitos do nascituro, ou seja, aquele que está para nascer. Portanto, nascituro é o produto da concepção, mas que ainda não foi retirado ou expulso do ventre materno. Significa dizer que, apesar de ainda não nascido, é considerado ser desde a sua concepção. Para análise mais profunda, é imprescindível tratar das três teorias que visam explicar e fundamentar o início da vida humana e a situação jurídica do nascituro. UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 6 De acordo com a Teoria Natalista, a personalidade se inicia apenas no momento do nascimento, e, portanto, até esse momento, o nascituro, por ainda não ser pessoa, possui mera expectativa de direito. Sérgio Abdalla Semião (2008, p. 40) afirma que “o nascituro é mera expectativa de pessoa, por isso, tem meras expectativas de direito, e só é considerado como existente desde sua concepção para aquilo que lhe é juridicamente “proveitoso”. O autor ainda cita que: Sustentam os natalistas que, caso os direitos do nascituro não fossem taxativos, como entendem os concepcionistas, nenhuma razão existiria para que o Código Civil declinasse, um por um, os seus direitos. Fosse ele pessoa, todos os direitos subjetivos lhe seriam conferidos automaticamente, sem necessidade de a lei declina-los um a um. Dessa forma, essa seria a verdadeira interpretação sistemática que se deve dar ao Código Civil Brasileiro (SEMIÃO, 2008, p. 40). A teoria natalista é a que prevalece entre os autores clássicos do Direito Civil, sendo adotada por diversos autores da doutrina tradicional, como Sílvio Rodrigues, Caio Mário da Silva Pereira e San Tiago Dantas. Na doutrina mais moderna, Silvio de Salvo Venosa filia-se a essa teoria e descreve que: O fato de o nascituro ter proteção legal não deve levar a imaginar que tenha ele personalidade tal como a concebe o ordenamento. Ou, sob outros termos, o fato de ter ele capacidade para alguns atos não significa que o ordenamento lhe atribuiu personalidade. Embora haja quem sufrague o contrário, trata-se de uma situação que somente se aproxima da personalidade, mas com esta não se equipara. A personalidade somente advém do nascimento com vida (VENOSA, 2006, p. 127). São muitas as críticas à teoria natalista, uma vez que acaba por considerar o nascituro como uma coisa, pois ele só teria mera expectativa de direito. Outrossim, essa teoria se encontra totalmente dissociada do surgimento das novas técnicas de reprodução assistida, assim como se afasta da proteção dos direitos do embrião. Nessa esteira, explica Flávio Tartuce: Do ponto de vista prático, a teoria natalista nega ao nascituro até mesmo os seus direitos fundamentais, relacionados com a sua personalidade, caso do direito à vida, à investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e até à imagem. Com essa negativa, a teoria natalista esbarra em dispositivos do Código Civil que consagram direitos àquele que foi concebido e não nasceu. Essa negativa de direitos é mais um argumento forte para sustentar a total superação dessa corrente doutrinária (TARTUCE, 2016, p. 70). Em outra perspectiva, a Teoria da Personalidade Condicionada estabelece que desde a concepção, o feto teria personalidade jurídica formal e, desta forma, merece total proteção relativa aos seus direitos personalíssimos. Entretanto, a personalidade jurídica material, acerca dos direitos patrimoniais, encontra- se sob condição suspensiva, ou seja, sujeita a um evento futuro e incerto, qual seja o nascimento com vida para sua efetivação. Significa dizer que essa teoria reconhece o início da personalidade da pessoa humana a partir do momento da concepção. Não obstante, deforma condicional. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 7 Os autores adeptos da teoria da personalidade condicionada explanam que com o nascimento com vida, a existência do indivíduo, no que diz respeito aos seus interesses, retroage ao momento da concepção, sendo que os direitos do nascituro se encontram em estado potencial, porém no aguardo do nascimento com vida para que sejam efetivados. Conforme sustenta Carlos Alberto Gonçalves (2010, p. 107): A constatação de que a proteção de certos direitos do nascituro encontra, na legislação atual, pronto atendimento, antes mesmo do nascimento, leva-nos a aceitar as argutas ponderações de Maria Helena Diniz sobre a aquisição da personalidade desde a concepção apenas para a titularidade de direitos da personalidade, sem conteúdo patrimonial, a exemplo do direito à vida ou a uma gestação saudável, uma vez que os direitos patrimoniais estariam sujeitos ao nascimento com vida, ou seja, sob condição suspensiva. Para confirmar tal entendimento, Maria Helena Diniz (2011, p. 43) pondera: Poder-se-ia até mesmo afirmar que na vida intrauterina tem o embrião, concebido in vitro personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos, visto ter carga genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro, passando a ter personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais, que se encontravam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Se nascer com vida adquire personalidade jurídica material, mas se tão não ocorrer nenhum direito patrimonial terá). Por fim, ainda existe a Teoria Concepcionista, influenciada pelo Direito Francês, que surge na busca de inovação do pensamento de alguns doutrinadores. De acordo com essa teoria, admite-se que o nascituro é pessoa humana e, portanto, possui direitos protegidos por lei. Essa teoria tem como adeptos Teixeira de Freitas e Clóvis Beviláqua, segundo os quais, a personalidade começa antes do nascimento, tendo em vista que desde a concepção já existe proteção aos interesses do nascituro, que devem ser assegurados prontamente e de modo efetivo. No direito contemporâneo, a teoria concepcionista é compartilhada por diversos doutrinadores renomados, como Pierangelo Catalano, professor da Universidade de Roma e Simara J. A. Chinelato e Almeida, que foi a precursora da teoria da concepção, no Brasil e que afirma: O nascimento com vida apenas consolida o direito patrimonial, aperfeiçoando-o. O nascimento sem vida atua, para a doação e a herança, como condição resolutiva, problema que não se coloca em se tratando de direitos não patrimoniais. De grande relevância, os direitos da personalidade do nascituro, abarcados pela revisão não taxativa do art. 2º. Entre estes, avulta o direito à vida, à integridade física, à honra e à imagem, desenvolvendo-se cada vez mais a indenização de danos pré-natais, entre nós com impulso maior depois dos Estudos de Bioética (ALMEIDA, 2000, p. 28). De acordo com a autora, o nascimento com vida não é o marco inicial para a tutela dos direitos patrimoniais, pois o nascimento apenas consolida tais direitos, uma vez que passa a possibilitar a defesa deles. UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 8 De acordo com os defensores da teoria concepcionista, ainda que o nascituro seja reconhecido apenas como um status ou um direito, é imperioso reconhecer a sua personalidade, tendo em vista que não existe direito ou status sem um sujeito, tampouco há sujeito que possua completa e integral capacidade jurídica, de direito ou de fato, que se refira apenas a certos e determinados direitos. Significa dizer que não existe meia capacidade ou meia personalidade e, portanto, afirma-se que a capacidade é a medida da personalidade, isto é, ou essa é total ou inexistente. Desta forma, é possível que a pessoa seja mais ou menos capaz, porém não pode ser mais ou menos pessoa. Assim, conforme a teoria concepcionista, o nascituro é titular de direitos desde o momento da sua concepção. FOTO 2 – NASCITURO FONTE: <https://infosol.files.wordpress.com/2014/11/mulher-grc3a1vida-3x2-infosol-me. jpg?w=730&h=486>. Acesso em: 29 maio 2019. Diante da teoria adotada pelo nosso ordenamento jurídico, portanto, pode-se afirmar que nascituro não se enquadra no conceito jurídico de pessoa. De acordo com o Direito Civil, ele é uma quase pessoa, porém possui seus direitos protegidos por lei. O Código Civil estabelece que devem ser resguardados os direitos do nascituro. Todavia, diante da evolução da biotecnologia, atualmente é possível a reprodução humana assistida. Desta forma, também devem ser resguardados direitos de embriões concebidos, fora do útero materno, para implantação posterior? AUTOATIVIDADE TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 9 DICAS Uma leitura interessante de um tema atual referente aos direitos sucessórios de filhos gerados por reprodução humana assistida post mortem, pode ser conferida no seguinte link: http://www.ibdfam.org.br/_img/congressos/anais/8.pdf. 5 A CAPACIDADE CIVIL Para que seja possível, ao sujeito de direitos, o exercício dos poderes inerentes à personalidade jurídica, é indispensável que ele tenha capacidade civil. Denomina-se capacidade civil, ou capacidade jurídica, a medida do exercício da personalidade jurídica de cada pessoa, sendo que a capacidade se classifica em: • Capacidade de direito: é a capacidade que todas as pessoas possuem. Para ter a capacidade de direito, basta nascer com vida, não havendo a necessidade de ser preenchida qualquer condição para que a pessoa possa adquirir ou gozar dos seus direitos. Desta forma, todos que nascem com vida possuem capacidade de direito e, consequentemente, são titulares de direitos. A capacidade de direito está prevista do art. 1º do Código Civil: “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” (BRASIL, 2002, s.p.). • Capacidade de fato: também denominada de capacidade de exercício e significa que a pessoa se encontra no exercício dos seus direitos e obrigações, ou seja, pode exercer, por si própria, todos os atos da vida civil. Portanto, a capacidade de fato, exige uma aptidão prevista em lei, sendo essa aquela que se adquire quando atingida a maioridade civil, aos dezoito anos de idade completos, ou por escritura de emancipação. Nesse momento, a pessoa pode exercer por si mesmo todos os atos da vida civil. • Capacidade plena: a capacidade plena está presente quando uma pessoa possui tanto a capacidade de direito quanto a capacidade de fato. • Capacidade limitada: ocorre quando uma pessoa possui a capacidade de direito, porém não possui a capacidade de fato. Como você pode perceber, a capacidade civil está relacionada à personalidade jurídica e garante à pessoa o exercício dos seus direitos e obrigações. Todavia, a sua ausência também acarreta efeitos no ordenamento jurídico e estabelece restrições ao exercício de tais poderes, sendo necessário identificarmos suas hipóteses. IMPORTANT E A capacidade de direito e a capacidade de fato se confundem? UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 10 5.1 INCAPACIDADE A incapacidade é a restrição ao exercício dos direitos e obrigações da pessoa, e pode ser classificada em: incapacidade absoluta e incapacidade relativa. A incapacidade absoluta significa que a pessoa não pode praticar qualquer ato da vida civil, sendo que a prática de um ato por pessoa absolutamente incapaz acarreta a sua nulidade, tendo em vista se tratar de proibição total. Portanto, para que o absolutamente incapaz possa praticar algum ato civil, ele deverá ser representado por uma pessoa capaz. Os absolutamente incapazes se encontram descritos no art. 3º do Código Civil: “são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos” (BRASIL, 2002, s.p.). Já na incapacidade relativa, a lei permite que os relativamente incapazes pratiquem atos da vida civil, mas desde que assistidos. Nahipótese de praticarem atos sozinhos, o ato será anulável. São relativamente incapazes aqueles elencados no art. 4º do Código Civil: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I- os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II- os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III- aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV- os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial (BRASIL, 2002, s.p.). Assim, os absolutamente incapazes não praticam atos da vida civil, devendo sempre serem representados pelo representante legal (pai, mãe ou tutor). Já os relativamente incapazes, podem praticar atos da vida civil, mas desde que assistidos pelo representante legal (pai, mãe, tutor ou curador, conforme o caso). O Estatuto da Pessoa com Deficiência, promulgado pela Lei nº 13.146, de 2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência), teve, por finalidade, que atender à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo para internalização de norma e, consequentemente, teve o objetivo de garantir os direitos fundamentais. O artigo 114 da referida lei, alterou expressamente o artigo 3º e 4º do Código Civil de 2002. Desta forma, atualmente está estabelecido que haverá incapacidade absoluta apenas para os menores de 16 (dezesseis) ano, revogando os incisos I, II e III do artigo 3º. Ademais, o estatuto alterou o artigo 4º, ao excluir a previsão de incapacidade relativa quando se tratar “deficiência mental, que tenham o discernimento reduzido” (BRASIL, 2002, s.p.), bem como os excepcionais sem desenvolvimento mental completo. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 11 DICAS Para conhecer o Estatuto da Pessoa com deficiência, veja a Lei nº 13.146, no endereço: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Mariana se encontra, atualmente, com 17 (dezessete) anos de idade e ela nasceu sem o movimento das pernas. Quanto à personalidade e capacidade de Mariana, podemos afirmar que ela é totalmente incapaz? AUTOATIVIDADE 5.2 AQUISIÇÃO DA CAPACIDADE CIVIL A incapacidade civil cessará, de forma natural, quando a pessoa adquirir a maioridade civil, ao completar dezoito anos de idade, a partir de quando exercerá a capacidade civil de fato e de direito, adquirindo a capacidade civil plena. Porém, ainda é possível que a incapacidade seja suprimida através da emancipação, que pode ser: emancipação voluntária; emancipação judicial; e emancipação legal. Qualquer que seja a espécie de emancipação, essa acarretará a aquisição da capacidade civil. O art. 5º do Código Civil estabelece as hipóteses que fazem cessar a incapacidade: Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I- pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II- pelo casamento; III- pelo exercício de emprego público efetivo; IV- pela colação de grau em curso de ensino superior; V- pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria (BRASIL, 2002). UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 12 A emancipação voluntária ocorre quando os pais, por ato de vontade, reconhecem que o filho adquiriu maturidade suficiente para zelar por sua pessoa e pelas suas posses, seus bens, não havendo mais a necessidade de tutela, pelo Estado, na qualidade de incapaz. Para que ocorra a emancipação voluntária, é necessário que os pais sejam titulares do poder familiar, sendo o ato unilateral de cada um deles e deve ser realizada, obrigatoriamente, mediante lavratura de escritura pública, sendo que apenas produzirá efeitos após o registro. Já a emancipação Judicial é aquela pela qual o menor, sob tutela, ajuíza demanda com o objetivo de ser emancipado civilmente, exonerando o seu tutor de qualquer obrigação. Só é possível quando completados dezesseis anos de idade, desde que o tutor seja ouvido no processo em favor do tutelado. Seus efeitos estão condicionados ao registro da sentença do juiz, nos termos do art. 9º, II, do Código Civil. Por fim, a emancipação legal ocorre nas hipóteses expressamente previstas no ordenamento jurídico, sendo que a lei estabelece determinados fatos em que a pessoa natural supre sua incapacidade civil: a) casamento; b) exercício de emprego público efetivo; c) colação de grau em curso de ensino superior; e d) abertura de estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego, desde que possua economia própria, que se encontram descritas no art. 5º do Código Civil. A emancipação legal independe de escritura pública e registro e surtirá efeitos a partir do dia do fato jurídico. Luciana teve um filho com Marcos, sendo que o pai não registrou a criança e não tem efetuado o pagamento dos alimentos. Diante dessa situação, quem é o titular de direitos e, consequentemente, quem irá propor a medida judicial cabível? AUTOATIVIDADE 6 EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A morte extingue a personalidade jurídica da pessoa natural, sendo que a morte pode ser real ou presumida. A primeira ocorre quando se encerram as atividades cardíacas ou respiratórias da pessoa, ou ainda quando ocorre a morte cerebral ou encefálica. A extinção da personalidade está prevista no Código Civil no Art. 6º, “A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva” (BRASIL, 2002, s.p.). Importante você saber que a personalidade jurídica da pessoa também se extingue quando ocorre a morte presumida, sendo que essa será estudada em outro tópico dessa unidade. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 13 7 MODOS DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL Para que uma pessoa natural, ou seja, um sujeito de direitos e deveres seja identificável, é indispensável que haja segurança acerca dos modos pelos quais ele será encontrado e sociedade, sendo, portanto, essencial que existam elementos para adequada individualização da pessoa. Tais elementos imprescindíveis são: o nome civil; o estado civil; e o domicílio civil. 7.1 O NOME CIVIL É o nome atribuído a uma pessoa natural. Tendo em vista que o homem vive em sociedade, é essencial que possibilite uma individualização para identificar cada pessoa como titular de direitos e deveres na sociedade. Toda pessoa natural tem direito à identidade civil, sendo que o nome civil possui um papel essencial de fazer com que uma pessoa seja um ser único. 7.1.2 Conceito O nome civil é um dos principais elementos individualizadores da pessoa natural, sendo que consiste em um símbolo da personalidade do indivíduo, que permite a particularização da pessoa no contexto da vida social, além de produzir reflexos na ordem jurídica. Em regra, conservamos para toda a vida o nome a nós atribuído quando do registro de nascimento. De acordo com Carlos Roberto Gonçalves: O vocábulo “nome”, como elemento individualizador da pessoa natural, é empregado em sentido amplo, indicando o nome completo. Integra a personalidade, individualiza a pessoa não só durante a sua vida como também após a sua morte, e indica a sua procedência familiar. No dizer de Josserand, o nome é uma etiqueta colocada sobre cada um de nós; ele dá a chave da pessoa toda inteira (GONÇALVES, 2012, p. 103). Desta forma, o nome pode ser conceituado como a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa natural se identifica no ambientefamiliar, bem como na sociedade. O nome pode ser considerado a expressão mais característica da personalidade de uma pessoa, sendo um elemento inalienável e imprescritível da individualidade da pessoa. Portanto, inconcebível que um ser humano, na vida social, não tenha um nome. O nome possui um aspecto público e um aspecto individual. O primeiro decorre do interesse do Estado para que as pessoas sejam corretamente identificadas pelo nome e, sendo assim, o uso do nome é disciplinado pela lei de Registros públicos (Lei nº 6.015/73), que proíbe alteração do prenome, salvo exceções expressamente admitidas (art. 58), bem como vedado registro de prenomes capazes de acarretar, para seus portadores, de exposição ao ridículo (art. 55, parágrafo único). UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 14 Já o aspecto individual significa o direito ao nome, no poder reconhecido ao seu possuidor de, por ele, se designar e de coibir abusos cometidos por terceiros. Assim estabelece o art. 16 do Código Civil: “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome” (BRASIL, 2002, s.p.). Esse direito ao nome abarca o direito de usar e de defender o nome contra exploração, como, por exemplo, no caso de direito autoral; assim como abarca também a proteção contra exposição ao ridículo. O exercício desses direitos é protegido mediante ações, que podem ser demandadas independentemente da ocorrência de dano material, sendo necessário apenas que exista interesse moral. As demandas acerca do uso do nome possuem duas finalidades, quais sejam: a retificação, para que seja preservado o verdadeiro nome; e a contestação, para que terceiros não usem o nome, ou, não exponham-no ao desprezo público, sendo que assim determina os art. 17 do Código Civil “o nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória” (BRASIL, 2002, s.p.). Ainda temos o preceituado no art. 18 do mesmo diploma legal, no sentido de tutelar também a honra objetiva: “sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial” (BRASIL, 2002, s.p.). O nome civil é inalienável, posto que um direito da personalidade, É importante você saber que muitos literatos e artistas, muitas vezes, são identificados através de um pseudônimo ou codinome, isto é, um nome fictício adotado, sendo que esse pseudônimo é diferente do seu nome civil verdadeiro. Determina o art. 19 do Código Civil que “o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome” (BRASIL, 2002, s.p.). Portanto, o pseudônimo possui a mesma proteção dada ao nome civil, como nos explica Carlos Alberto Gonçalves: Embora não sejam tais designações o nome civil de quem as usa, integram a sua personalidade no exercício de suas atividades literárias ou artísticas, e, em razão dos interesses valiosos que se ligam à sua identificação autoral, a projeção jurídica do nome estende-se ao pseudônimo. É inegável a sua importância por identificar os seus portadores no mundo das letras e das artes, desde que seja constante e legítimo, mesmo que não tenha alcançado a notoriedade. A tutela do nome, destarte, alcança o pseudônimo (art. 19), propiciando direito à indenização em caso de má utilização, inclusive em propaganda comercial, ou com o intuito de obter proveito político, artístico, eleitoral ou religioso (GONÇALVES, 2012, p. 105). 7.1.3 Natureza jurídica A doutrina diverge acerca da natureza jurídica do nome, sendo que, dentre as diversas teorias existentes, a teoria mais aceita pelos autores e que melhor define a natureza jurídica do nome é a que o considera um “direito da personalidade”, assim como outros, como o direito à vida, à honra, à liberdade, entre outros. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 15 Sem qualquer sombra de dúvidas, o nome representa um direito inerente à pessoa humana e, assim sendo, trata-se de um direito da personalidade. Portanto, dada a sua importância, o nome civil é tratado no Código Civil, com a necessária relevância, posto que possui um capítulo próprio dedicado aos direitos da personalidade, sendo que nesse se encontra disciplinado o direito e a proteção ao nome e ao pseudônimo, previstos nos arts. 16 a 19 do referido diploma. 7.1.4 Elementos do nome De acordo com o art. 16 do Código Civil: “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome” (BRASIL, 2002, s.p.). Portanto, o nome civil completo, composto por dois elementos: prenome (antigamente chamado nome de batismo) e sobrenome ou apelido familiar (denominado nome de família ou simplesmente nome). Desta forma, o prenome é o nome próprio de cada pessoa e é utilizado para diferenciar membros da mesma família, sendo que pode ser livremente escolhido pelos pais, mas desde que não acarrete exposição do filho ao ridículo, nos termos do art. 55, parágrafo único, da Lei nº 6.015 de 1973. Já o sobrenome é o que identifica a procedência da pessoa, uma vez que indica a sua filiação ou estirpe. Significa dizer que, o prenome é a designação do indivíduo, ao passo que o sobrenome é a característica da sua família e, consequentemente, é transmissível por sucessão. O sobrenome ainda é conhecido como patronímico ou apelido familiar. Ao contrário do prenome, que pode ser livremente escolhido pelos pais, a pessoa já nasce com o sobrenome, uma vez que este é herdado dos pais. Há também a possibilidade de que seja utilizado um agnome, sendo este um sinal que diferencia pessoas pertencentes a uma mesma família e que possuem o mesmo nome (Júnior, Neto, Sobrinho, Filho etc.). DICAS Para se aprofundar, acerca de detalhes que regem o nome, sugiro a leitura da Lei de Registros Públicos: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm. A lei de registros públicos deve ser interpretada de acordo com a Constituição Federal, portanto, o oficial, ao fazer o registro de uma criança, deve lançar o nome de ambos, genitor e genitora. O sobrenome integra, de acordo com a lei, o nome completo da pessoa. UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 16 O registro de filhos tidos fora do casamento, encontra-se estabelecido nos arts. 59 e 60 da Lei nº 6.015/73, que determina que não será lançado o nome do pai sem que este expressamente consinta. Contudo, nos termos da Lei nº 8.560 (lei de investigação de paternidade, os oficiais do Registro Civil têm o dever de remeterem ao juiz os dados sobre o provável pai, que será chamado para reconhecer de forma voluntária. Por outro lado, caso o suposto pai não faça o reconhecimento, as informações serão encaminhadas ao Ministério Público, que possui legitimidade para a propositura da ação de investigação de paternidade. Inicialmente, a Lei dos Registros Públicos previa que o prenome era imutável, porém era possível a retificação na hipótese de erro gráfico evidente, assim como também era possível a alteração em casos de prenomes que pudessem expor a pessoa ao ridículo. A imutabilidade do prenome só deve ser afastada em situações de necessidade comprovada, como nos casos acima descritos, e não porque o prenome desagrada o seu portador. A jurisprudência, contudo, tem admitido a retificação não apenas do prenome, mas ainda de outras partes esdrúxulas do nome. Com o advento da lei nº 9.708 de 1998, a redação do art. 58 da Lei dos Registros Públicos passou a ter a seguinte redação: “o prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios” (BRASIL, 1998, s.p.). Por outro lado, a Lei nº 9.807 de 1999, conferiu outra redação ao parágrafo único do referido artigo, que determina: “a substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público” (BRASIL, 1999, s.p.). Cumpre salientar que a jurisprudênciajá admitia a troca do prenome oficial pelo prenome de uso. Desta forma, caso a pessoa seja conhecida por um prenome diverso do que consta de seu registro, a alteração pode ser requerida perante o Poder Judiciário, uma vez que o prenome imutável é o colocado em uso e não o que consta do registro, de acordo com o entendimento da jurisprudência dominante. Anteriormente, os apelidos públicos notórios só podiam ser acrescentados entre o prenome, sendo que este era imutável, e o sobrenome, como ocorreu com, por exemplo, Maria da Graça “Xuxa” Meneghel. Entretanto, atualmente, o prenome oficial pode ser substituído e ela poderia passar a se chamar apenas Xuxa Meneghel, caso assim deseje. TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 17 A proteção do pseudônimo, nome por meio do qual autor de obra artística, literária ou científica se oculta, é expressamente assegurada se sua utilização for para atividades lícitas? AUTOATIVIDADE Em razão da evolução da ciência e da medicina, atualmente é possível a mudança de sexo realizada através de cirurgia. Desta forma não haveria qualquer lógica a pessoa manter o nome de homem caso tenha, por cirurgia, deixado de guardar todas as características masculinas. O Superior Tribunal de Justiça julgou o caso que abriu precedentes e concedeu ao requerente o direito à modificação de seu nome civil, inclusive determinou que não deveriam constar do teor das novas certidões a referida alteração com a finalidade de evitar constrangimentos (STJ, REsp 1.008.398/SP; REsp 679.933/RS e REsp 737.993/MG) (CURIA; RODRIGUES, 2015, p. 61). Todavia, a decisão pioneira foi proferida no Processo nº 621/89 que tramitou perante a 7ª Vara da Família e Sucessões de São Paulo, ao deferir a mudança de nome masculino para feminino, em razão da cirurgia para extração do órgão sexual masculino e inserção de órgão feminino. Porém, a decisão, apesar de conceder a alteração do prenome, indeferiu a mudança do sexo, no registro civil, sendo que o magistrado determinou que constasse a expressão transexual, com a finalidade de evitar que a pessoa se habilitasse para o casamento. Quanto à alteração do sobrenome, também são diversas as possibilidades: 1- Inclusão ou exclusão do sobrenome do cônjuge – o Código Civil atual permite aos noivos, optarem por incluir o sobrenome do consorte em seu nome civil quando casados. Na hipótese de divórcio ou a anulação do casamento, eles também podem optar pela exclusão do sobrenome do seu ex-cônjuge. 2- Inclusão ou exclusão do sobrenome do companheiro – aqueles que vivem em união estável, que se equipara ao casamento por força constitucional, também podem realizar a inclusão do sobrenome do companheiro, conforme já esclareceu o Enunciado nº 99 da I Jornada de Direito Civil (BRASIL, 2012, p. 30). Importante salientar que, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já autorizou o acréscimo de sobrenome do padrasto ao nome de adolescente, uma vez que este havia perdido o pai quando ainda criança e, inclusive, o apelido do padrasto também tinha sido adotado pela mãe do adolescente em razão do casamento, assim como pelos irmãos frutos desse matrimônio. Desta forma, a permissão para que o adolescente adotasse o sobrenome de seu padrasto, permite um relacionamento familiar mais integrado e harmonioso. UNIDADE 1 | DA PESSOA NATURAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 18 7.2 ESTADO O estado civil de uma pessoa é o complexo das suas qualidades referentes à ordem pública, à ordem privada e à ordem física do ser humano. Refere-se, assim, à cidadania, à família, e à capacidade civil. De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 116): A palavra “estado” provém do latim status, empregada pelos romanos para designar os vários predicados integrantes da personalidade159. Constitui, assim, a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos. Segundo Clóvis, é o modo particular de existir. É uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa. Modernamente, para o direito, o estado é composto de apenas dois elementos: a) nacionalidade ou estado político; b) e o estado familiar. Porém, ainda sob a influência do Direito Romano, parte da doutrina ainda diferencia três ordens de estado: o individual ou físico, o familiar e o político. O estado individual é a forma de ser da pessoa em relação à sua idade, sexo, cor, altura, saúde. Relaciona-se com os aspectos ou particularidades acerca da constituição orgânica do indivíduo e que exercem influência sobre a capacidade civil. Já o estado familiar é aquele que indica a situação da pessoa na família, acerca do matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado) e ao parentesco, por consanguinidade (filho, pai, mãe, neto, irmão etc.) ou por afinidade (enteado, padrasto, genro, sogro, cunhado etc.). De acordo com a Constituição Federal, a união estável é reconhecida como entidade familiar, porém, em que pese a qualidade de companheiro, o estado da pessoa não é alterado em seu registro, permanecendo como solteira. Por fim, o estado político é a qualidade que decorre da posição do indivíduo perante a sociedade política, sendo que pode ser nacional (nato ou naturalizado) e estrangeiro. O estado liga-se intimamente à pessoa, assim compõe a imagem jurídica da pessoa. Os principais atributos do estado são: a) Indivisibilidade: da mesma forma que não é possível ter mais de uma personalidade, também não é possível possuir mais de um estado. Portanto, ele é uno e indivisível, ainda que composto por vários elementos. Uma pessoa não pode ser, por exemplo, simultaneamente, casada e solteiro. b) Indisponibilidade: tendo em vista que o estado civil é um reflexo de nossa personalidade e, consequentemente, trata-se de uma relação que está fora do comércio, o estado é inalienável e irrenunciável. Contudo, essa característica, não impede a sua modificação diante de alguns fatos estranhos à vontade humana ou a em razão da manifestação da vontade da pessoa, mas desde que TÓPICO 1 | DA PESSOA NATURAL 19 preenchidos os requisitos legais. Portanto, menor pode tornar-se maior, solteiro pode passar a ser casado, o casado pode se tornar viúvo etc. Em que pese, nessas situações, os elementos que integram o estado tenham se modificado, tal mutação não prejudica a unidade do estado, sendo essa inalterável. c) Imprescritibilidade: estado não se adquire, tampouco se perde em razão de prescrição. Uma vez que se trata de elemento integrante da personalidade, nascendo com a pessoa, o estado, com ela, desaparece. Assim, as denominadas ações de estado são imprescritíveis, ou seja, não se sujeitam a qualquer prazo e podem ser propostas a qualquer tempo. Nesse sentido, as ações de estado (divórcio, anulação de casamento, investigação de paternidade, interdição etc.) têm por objetivo a criação, modificação os extinção de uma relação jurídica e, consequentemente, de um estado, com a constituição de um novo estado. Desta forma, são ações personalíssimas, intransmissíveis e imprescritíveis. 7.3 DOMICÍLIO A localização certa dos sujeitos de direito é de grande importância para o direito, tendo em vista que possibilita o cumprimento das relações jurídicas, ao passo que confere segurança ao cumprimento das obrigações. É necessário que todas as pessoas tenham um local, livremente escolhido ou imposto por lei, onde possam ser encontradas para cumprir e responder por suas obrigações. O domicílio civil é o local onde o sujeito de direitos e obrigações pode ser localizado, onde reside, ou mora. É no domicílio que se presume que a pessoa seja encontrada para dar cumprimento aos seus atos e negócios jurídicos. De acordo com o art. 70 do Código Civil: “o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo” (BRASIL, 2002, s.p.) Há dois elementos utilizados para a caracterização do domicílio: a) elemento objetivo: o local propriamente dito, ou seja, a residência da pessoa. b) elemento subjetivo:o ânimo definitivo, isto é, a vontade de permanecer no local e nele fixar moradia (domicílio residencial) ou exercer sua atividade principal (domicílio profissional). Em relação à quantidade, o domicílio pode ser único ou plúrimo. Quanto à existência, é real ou presumido. Sobre à liberdade de escolha, pode ser necessário ou voluntário, sendo que o necessário é aquele previsto por lei, enquanto o voluntário é o que pode ser estipulado pelas partes em relação jurídica. Apesar do domicílio ser conceituado e disciplinado pelo Direito Civil, possui um significado muito relevante para todos os ramos do direito, em especial para o Direito Processual Civil. O Código de Processo Civil se utiliza do domicílio do réu para estabelecer o foro competente para uma demanda em geral, sendo esse o critério territorial de fixação de competências para as ações pessoais e reais sobre bens móveis, o denominado foro geral previsto no art. 46 do CPC. 20 Neste tópico, você aprendeu que: • A pessoa natural é a denominação utilizada, pelo direito civil, ao ser da espécie humana, sendo um sujeito de direito e obrigações. Para ser pessoa natural, basta existir, enquanto ser da espécie humana. • A personalidade jurídica é a aptidão genérica para ser sujeito de direitos e deveres, sendo que tal aptidão poderá ser exercida a partir do nascimento com vida e dura até a sua morte. • Apesar de existirem diversas teorias acerca do início da personalidade, o Código Civil adota a teoria Natalista, segundo a qual a personalidade se inicia apenas no momento do nascimento, e, portanto, até esse momento, o nascituro, por ainda não ser pessoa, possui mera expectativa de direito. Mesmo o nascituro não sendo pessoa, ele tem seus direitos tutelados desde a concepção. • Para que o sujeito de direitos, possa exercer os poderes inerentes à personalidade jurídica, é indispensável que ele tenha capacidade civil. • A capacidade civil ou capacidade jurídica é a medida do exercício da personalidade jurídica de cada pessoa, sendo que a capacidade se divide em capacidade de direito, capacidade de fato ou de exercício, capacidade plena e capacidade limitada. • A capacidade de Direito é a que todas as pessoas possuem, bastando a pessoa nascer com vida para adquirir ou gozar dos seus direitos. Desta forma, todos que nascem com vida possuem capacidade de direito e, consequentemente, são titulares de direitos. • A capacidade de fato significa que a pessoa se encontra no exercício dos seus direitos e obrigações, ou seja, pode exercer, por si própria, todos os atos da vida civil. Portanto, a capacidade de fato, exige uma aptidão prevista em lei, sendo essa aquela que se adquire quando atingida a maioridade civil. • A capacidade plena está presente quando uma pessoa possui tanto a capacidade de direito quanto a capacidade de fato. • Ocorre quando uma pessoa possui a capacidade de direito, porém não possui a capacidade de fato. • A incapacidade é a restrição ao exercício dos direitos e obrigações da pessoa, e pode ser classificada em: Incapacidade absoluta e incapacidade relativa. RESUMO DO TÓPICO 1 21 • A incapacidade absoluta existe quando a pessoa não pode praticar qualquer ato da vida civil, sendo que a prática de um ato por pessoa absolutamente incapaz acarreta a sua nulidade. Para que o absolutamente incapaz possa praticar algum ato civil, ele deverá ser representado por uma pessoa capaz. • A incapacidade relativa significa que os relativamente incapazes podem praticar os atos da vida civil, mas desde que assistidos. Na hipótese de praticarem atos sozinhos, o ato será anulável. • A incapacidade civil cessa quando a pessoa adquire a maioridade civil, ao completar dezoito anos de idade. A partir desse momento, a pessoa exercerá a capacidade civil de fato e de direito, adquirindo a capacidade civil plena. • A incapacidade ainda pode ser adquirida através de três outras formas: emancipação voluntária, emancipação judicial e emancipação legal. • A morte extingue a personalidade jurídica da pessoa natural, sendo que a morte pode ser real ou presumida. A primeira ocorre quando se encerram as atividades cardíacas ou respiratórias da pessoa, ou ainda quando ocorre a morte cerebral ou encefálica. • Para que uma pessoa seja identificável, é indispensável que haja segurança acerca dos modos pelos quais ele será encontrado e sociedade, sendo, portanto, essencial que existam elementos para adequada individualização da pessoa. Tais elementos imprescindíveis são: o nome civil; o estado civil; e o domicílio civil. • O nome é a designação ou sinal exterior pelo qual a pessoa natural se identifica no ambiente familiar, bem como na sociedade. • O nome representa um direito inerente à pessoa humana e, assim sendo, trata- se de um direito da personalidade. • O nome civil completo é composto por dois elementos: prenome (antigamente chamado nome de batismo) e sobrenome ou apelido familiar (denominado nome de família ou simplesmente nome). • O estado civil de uma pessoa é o complexo das suas qualidades referentes à ordem pública, à ordem privada e à ordem física do ser humano. Refere-se, assim, à cidadania, à família, e à capacidade civil. • O domicílio civil é o local onde o sujeito de direitos e obrigações pode ser localizado, onde reside, ou mora. É no domicílio que se presume que a pessoa seja encontrada para dar cumprimento aos seus atos e negócios jurídicos. 22 1 (FCC, 2018) No tocante aos direitos da personalidade: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/c0c1b7b7-4e>. Acesso em: 29 maio 2019. a) ( ) Pode-se exigir a cessação da ameaça ou lesão a direito da personalidade; se pleiteadas perdas e danos, será vedado requerer outras sanções preventivas ou punitivas. b) ( ) É válida a disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico, para depois da morte; é defesa à disposição com objetivo altruístico. c) ( ) É admissível a limitação voluntária do exercício de direitos da personalidade, quaisquer que sejam, embora sejam intransmissíveis e irrenunciáveis por sua natureza.; d) ( ) De acordo com o Código Civil, salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes ato de disposição será admitido para fins de transplante, na forma prevista em lei especial. e) ( ) O nome da pessoa não pode ser empregado por ninguém em publicações que a exponham ao desprezo público, salvo se não houver intenção difamatória ou injuriosa. 2 (FCC, 2018) Pimpão é um palhaço de circo itinerante. Para efeitos legais: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes?migalha=true&or- der=id+asc&page=5&per_page=5&product_id=1&prova=57053&url_solr=master&user_id=0>. Acesso em: 29 maio 2019. a) ( ) O domicílio de Pimpão é o endereço do sindicato ou associação que represente sua categoria profissional. b) ( ) O domicílio de Pimpão é o endereço do circo constante em seu registro como pessoa jurídica. c) ( ) O domicílio de Pimpão é o último local em que Pimpão residiu. d) ( ) Pimpão não possui domicílio. e) ( ) O domicílio de Pimpão é o lugar em que Pimpão for encontrado com o circo. 3 (CESPE, 2018) A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória de bens de ausente não produzirá efeitos imediatamente, necessitando de um lapso temporal de cento e oitenta dias, contado da sua publicação; exceção a essa determinação ocorre quando há testamento, sendo os efeitos da sentença produzidos logo após o trânsito em julgado do procedimento de abertura testamentária. FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/152631a4-80>. Acesso em: 29 maio 2019. AUTOATIVIDADE 23 a) ( ) Errado. b) ( ) Certo. 4 (IADES, 2018) [...] a capacidade de fato é a aptidão da pessoa para exercer por si mesma os atos da vida civil. Essa aptidão requer certas qualidades, sem as quais a
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