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SEMINÁRIO I - DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE “TRIBUTO” Aluna: Kelly Fernanda Bernardes Questões 1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Explique. Conceituar “Direito” não é tarefa fácil, para isso, faz-se necessário utilizar do conhecimento do professor Paulo de Barros Carvalho que afirma que o “direito manifesta-se em linguagem”, para ele, o direito possui constantemente os seguintes planos: (i) o das formulações literais, (ii) o de suas significações enquanto enunciados prescritivos e (iii) o das normas jurídicas, como unidades de sentido obtidas mediante o grupamento de significações que obedecem a determinado esquema formal (implicação), dentro de uma estrutura hierarquizada e coordenada segundo a lógica sistêmica do direito posto; e se pensarmos que todo nosso empenho se dirige para construir essas normas a partir de um estrato de linguagem, não será difícil verificar a gama imensa de obstáculos que se levantam no percurso gerativo de sentido ou, em termos mais simples, na trajetória da interpretação.1 De acordo com o professor Paulo de Barros Carvalho direito positivo e Ciência do Direito não se confundem. Para o professor: direito positivo é o complexo de normas jurídicas válidas num dado país. À Ciência do Direito cabe descrever esse enredo normativo, ordenando-o, declarando sua hierarquia, exibindo as formas lógicas que governam o entrelaçamento das várias unidades do sistema e oferecendo seus conteúdos de significação. 2 2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais dessas hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 1 CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2011. p. 10. 2 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 6 13.467/17) (anexo III); (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo. O conceito de tributo vem disposto no Art. 3º do Código Tributário Nacional entendido como “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Sobre tributo, a ADI n. 447 traz a delimitação do conceito de tributo adotada pelo Supremo Tribunal Federal “constituir ele uma obrigação que a lei impõe às pessoas, de entrega de uma certa importância em dinheiro ao Estado”. Para o professor Paulo de Barros Carvalho3: tributo é nome de uma classe de objetos construídos conceptualmente pelo direito positivo. Trata-se de palavra ambígua que pode denotar distintos conjuntos de entidades (relação jurídica, direito subjetivo, dever jurídico, quantia em dinheiro, norma jurídica e, como prefere o Código Tributário Nacional, a relação jurídica, o fato e a norma que juridiciza o fato). De acordo com referido professor, o vocábulo compreende seis significações diversas, sendo tributo como: (i) quantia em dinheiro; (ii) prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; (iii) direito subjetivo do sujeito ativo; (iv) sinônimo de relação jurídica tributária; (v) norma jurídica de competência; (vi) norma jurídica instituidora de tributo e, (vii) como norma, fato e relação jurídica. Nesse sentido, o (i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda pode ser entendido como tributo na acepção de um direito subjetivo do sujeito ativo, pois, como afirma Rubens Gomes de Souza apud Paulo de Barros Carvalho, tributo é a “receita derivada que o Estado arrecada mediante o emprego da sua soberania, nos termos fixados em lei..”. Ainda, de acordo com o REsp 1448096/PR, de relatoria do Min. Napoleão Nunes Maia Filho, com relação ao valores exigidos estão relacionados ao poder de fiscalização da União. 3 CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018. p. 417-418 Com relação à contribuição sindical e as alterações trazidas pela Lei 13.467/2017, dentre as quais há exigência prévia e expressa anuência para que seja realizado o desconto da contribuição, garante nesse caso, a facultatividade no pagamento, logo, não se trata de um dever jurídico. (Anexo III, ADI 5794) No que concerne à tributo instituído por meio de decreto, o AgRg no REsp n. 429.413/RJ, dispõe que “a prestação pecuniária exigida por lei inconstitucional não é tributo, mas um indébito genérico contra a Fazenda Pública, aplica-se a regra geral de prescrição de indébito contra a Fazenda Pública, prevista no artigo 1º do Decreto 20.910/32”. Sendo assim, não há que se falar em tributo. 3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica sem sanção? Justifique. De acordo com o professor Paulo de Barros Carvalho4, entende-se por norma jurídica a “significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito positivo. Trata-se de algo que se produz em nossa mente, como resultado da percepção do mundo exterior, captado pelos sentidos”. Complementa que “a norma jurídica é exatamente o juízo (ou pensamento) que a leitura do texto provoca, em nosso espírito”. Sintetiza o autor5 que, “norma jurídica é uma estrutura categorial construída, epistemologicamente, pelo intérprete, a partir de significações que a leitura dos documentos do direito positivo desperta em seu espírito”. Entendo que a norma jurídica completa é aquela que prescreve uma conduta e a consequência, incluindo, segundo professor Paulo, a própria sanção. Referido professor6 é categórico ao afirmar que não existe norma sem sanção, para ele, o que há “são enunciados prescritivos sem normas sancionatórias que lhes correspondam, porque estas somente se associam a outras normas jurídicas prescritoras de deveres”. (grifo no original) 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 32 5 CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018. p. 197 6 CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 43 4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e norma jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido amplo e norma em sentido estrito. Documento normativo é o documento que contém às normas e enunciados prescritivos. Segundo Paulo de Barros Carvalho7, os enunciados prescritivos são “usados na função pragmática de prescrever condutas”. Já a proposição, para o autor, “aparece como o enunciado de um juízo, da mesma maneira que o termo expressa uma ideia ou noção”. Para o autor, a: prescritividade reside no modo como tal linguagem é empregada, a despeito da composição sintático-gramatical que presidir seu revestimento. Os enunciados do direito positivo não são expressões de atos de objetivação cognoscente. Não pretendem reproduzir o real- social, descrevendo-lhe os aspectos. Longe disso, o vetor semântico que os liga ao “mundo da vida” contém, invariavelmente, um dever-ser, assim no estado neutro, sem modalização, ou operando por intermédio dos functores obrigatório, proibido ou permitido, com o que se exaure o campo material das possíveis condutas interpessoais.8 De acordo com Lourival Vilanova apud Paulo de Barros, a proposição que dá forma à norma jurídica: é uma estrutura lógica. Estrutura sintático-gramatical é a sentença ou oração, modo expressional frástico(de frase) da síntese conceptual que é a norma. A norma não é oralidade ou a escritura da linguagem, nem é o ato de querer ou pensar ocorrente no sujeito eminente da norma, ou no sujeito receptor da norma, nem é, tampouco a situação objetiva que ela denota. A norma jurídica, é uma estrutura lógico- sintática de significação.9 (grifo no original) A diferença entre norma e proposição para citado autor, pode ser explicado da seguinte forma: “enunciado” quer aludir tanto à forma expressional, matéria empírica gravada nos documentos dos fatos comunicacionais, como ao sentido a ele atribuído. Assim, os enunciados pertencem à plataforma da literalidade textual, suporte físico de significações, ao mesmo tempo em que participam do plano de conteúdo, com o sentido que 7 Ibdem, p. 44, 8 Ibdem, p. 122. 9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 12 necessariamente suscitam. Distingue-se, por isso, o enunciado da proposição por ele expressa. Muitas vezes, de um único enunciado podemos chegar a duas ou mais proposições (sentidos), circunstância que indica ambiguidade. Entretanto, a recíproca também é verdadeira, porquanto de dois ou mais enunciados podemos, em alguns casos, construir apenas uma proposição (ou sentido).10 Ainda de acordo com referido autor11, “norma tributária em sentido estrito àquela que marca o núcleo do tributo, isto é, a regra-matriz da incidência fiscal, e de normas tributárias em sentido amplo a todas as demais”. 5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda: a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de trânsito é uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”? Levando em consideração o conceito trazido pelo professor Paulo de Barros, de que sanção é: A penalidade aplicada ao infrator, quanto a relação jurídica que a veicula, tratando-se de norma individual e concreta. Também é “sanção” o consequente da norma geral e abstrata, como a própria norma que tem como antecedente a tipificação do ilícito. E participa do mesmo nome, ainda, o ato jurídico-administrativo que encerra o processo de elaboração de certas leis.12 Entendo que, a sanção como benefício não está prevista nas hipóteses acima elencadas. b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? Responda fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes afirmações do autor Fernando Favacho: “a definição conotativa do art. 3º do CTN conflita com a definição denotativa do art. 182 da CF. Em suma, a Constituição traz um tributo (IPTU sancionatório progressivo) que, para o CTN, não é tributo”13 e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo, a par do mandamento do CTN”14. 10 Ibdem, 119 11 Ibdem, p. 264 12 Ibdem, p. 543. 13 . FAVACHO, Fernando Gomes. Definição do conceito de tributo. São Paulo, 2010. p. 33. 14 . Idem. Loc. cit. Com relação ao IPTU e ITR, levando em consideração o que dispõe o Art. 182, §4º, II da CF, que determina a aplicação de alíquotas diferentes como “pena”, entendo que podemos considerar um ilícito analisando comjuntamento com o preâmbulo da CF que diz ser “destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional”, isso pois, uma propriedade que não exerce sua função social acaba de uma forma ou de outra, deixando de gerar renda, emprego, consequentemente, mantendo uma propriedade improdutiva nas mãos de um único indivíduo enquanto, parcela da população não tem a mesma oportunidade. Realmente, o direito penal não tipifica como ilícito a não utilização da terra, mas considerando a Constituição a legislação suprema, considero sim uma forma de ilícito contra a sociedade, por isso, a parcela progressiva, caracterizada como sanção. 6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte sentença: “Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário”. Utilizando-se dos dizeres do já citado professor Paulo de Barros Carvalho, para quem o direito tributário é o ramo didaticamente autônomo do direito, integrado pelo conjunto das proposições jurídico-normativas que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos. Compete à Ciência do Direito Tributário descrever esse objeto, expedindo proposições declarativas que nos permitam conhecer as articulações lógicas e o conteúdo orgânico desse núcleo normativo, dentro de uma concepção unitária do sistema jurídico vigente.15 De acordo inclusive com o próprio autor referenciado, a matéria de direito tributário não pode ficar limitada às questões diretamente ligados à 15 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 18. especialidade, devendo se relacionar de forma indireta com todos os ramos que haja integração de conteúdo, sentido e alcance. (CARVALHO, p. 20) 7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício): Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017 A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades. Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos. Art. 3o. A alíquota é de 3%. Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade de exploração ou aproveitamento econômico. Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido. Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte,a autoridade fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida. Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo destinados à atividade agropecuária (...) Pergunta-se: a) Quantas normas há nessa lei? Identifique-as. Levando em consideração os ensinamentos trazidos pelo professor Paulo de Barros Carvalho, podemos identificar 5 normas, sendo elas: Norma de incidência: localizada por meio dos artigos que contém os elementos da regra-matriz de incidência. (Art. 1º ao Art. 4º e o critério temporal no início do Art. 5º). Norma de dever instrumental: identificada no Art. 5º no seguinte enunciado: “mediante preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do recurso hídrico”. Norma sancionadora: a norma sancionadora do tributo descrita no Art. 6º da Lei. Norma sancionadora do descumprimento do dever instrumental: descrita no final do Art. 5º. Norma de isenção: prescrita no Art. 7º b) Qual dessas normas institui tributo? A norma instituidora do tributo é a norma de incidência, ou seja, todos os artigos, ou parte deles, que contém os elementos da regra-matriz. c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar. Considerando o entendimento do professor Paulo de Barros, todasas normas são estudadas pela Ciência do Direito Tributário já que, para que ocorra um entendimento preciso, ou mais próximo disso, é preciso uma análise de todos os dispositivos de forma conjunta. d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar. Entendo não se tratar de Ciência do Direito, já que a norma escrita é considerada como direito posto. Referências bibliográficas CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2011. CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018. CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015
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