Buscar

Fichamento Livro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Faculdade Estácio de Sá 
Graduação em Direito 
Ciência Política e Teoria do Estado 
Professora Anne Caroline Fernandes Alves 
Brenda de Medeiros Emilio 
O Estado Constitucional e as Perspectivas do Estado Contemporâneo 
 
12.1 Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 
O marco inicial do nascimento Estado Constitucional é controverso, havendo certa divergência doutrinária acerca de seu verdadeiro início, ou seja, para alguns doutrinadores tal homenagem deve ser prestada à Declaração de Direitos do Povo da Virgínia de 1776, para outros, é a Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 que merece ostentar tal título. (p.157)
O Estado Constitucional contemporâneo surge com o fim da Guerra Fria, que gerou um sistema internacional de alta complexidade, no qual se destaca o projeto neoliberal de desconstrução do Estado Social e que defende a relativização do conceito westfaliano de soberania absoluta, [...] a partir da crise do Welfare State e do surgimento de um novo modelo estatal, ainda em construção e que a doutrina vem denominando de Estado Pós-Social (ou Estado Pós-Moderno). (p.157) 
12.2 O Estado Constitucional de Direito e sua gênese com o Estado Liberal
Conceito, origem e formação da Sociedade Sociedade é um conjunto de seres que convivem de forma organizada. A palavra vem do Latim societas, que significa "associação amistosa com outros". O conceito de sociedade pressupõe uma convivência e atividade conjunta do homem, ordenada ou organizada conscientemente. Constitui o objeto geral do estudo das antigas ciências do estado, chamadas hoje de ciências sociais. Entre as teorias favoráveis à ideia da sociedade natural, que têm, atualmente, maior número de adeptos e que exercem maior influência na vida concreta do Estado tem-se a afirmação clara e precisa de que o homem é um ser social por natureza encontra-se no século IV a.C., com a conclusão de ARISTÓTELES de que "o homem é naturalmente um animal político". Para o filósofo grego, só um indivíduo de natureza vil ou superior ao homem procuraria viver isolado dos outros homens sem que a isso fosse constrangido. Quanto aos irracionais, que também vivem em permanente associação, diz ARISTÓTELES que eles constituem meros agrupamentos formados pelo instinto, pois o homem, entre todos os animais, é o único que possui a razão, o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Opondo-se aos adeptos do fundamento natural da sociedade encontram-se muitos autores, alguns dos quais exerceram e ainda exercem considerável influência prática, sustentando que a sociedade é tão-só o produto de um acordo de vontades ou seja, de um contrato hipotético celebrado entre os homens, razão pela qual esses autores são classificados como contratualistas. Há uma diversidade muito grande de contratualismos, encontrando-se diferentes explicações para a decisão do homem de unir-se a seus semelhantes e de passar a viver em sociedade. O ponto comum entre eles, porém, é a negativa do impulso associativo natural, com a afirmação de que só a vontade humana justifica a existência da sociedade, o que vem a ter influência fundamental nas considerações sobre a organização social, sobre o poder social e sobre o próprio relacionamento dos indivíduos com a sociedade. O contratualismo aparece claramente proposto com sistematização doutrinária, nas obras de THOMAS HOBBES, sobretudo no "Leviatã", publicado em 1651. Para HOBBES o homem vive inicialmente em "estado de natureza", designando-se por esta expressão não só os estágios mais primitivos da História mas, também, a situação de desordem que se verifica sempre que os homens não têm suas ações reprimidas, ou pela voz da razão ou pela presença de instituições políticas eficientes. Quem retomou a linha de apreciação de HOBBES, explicando a existência e a organização da sociedade a partir de um contrato inicial, foi ROUSSEAU, especialmente em seu livro mais divulgado, "O Contrato Social", aparecido em 1762, no qual, entretanto, adotou posição semelhante à de MONTESQUIEU no tocante à predominância da bondade humana no estado de Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 2 natureza. O contratualismo de ROUSSEAU, que exerceu influência direta e imediata sobre a Revolução
Francesa e, depois disso, sobre todos os movimentos tendentes à afirmação e à defesa dos direitos naturais da pessoa humana, foi, na verdade, o que teve maior repercussão prática. Com efeito, ainda hoje é claramente perceptível a presença das ideias de ROUSSEAU na afirmação do povo como soberano, no reconhecimento da igualdade como um dos objetivos fundamentais da sociedade, bem como na consciência de que existem interesses coletivos distintos dos interesses de cada membro da coletividade. Como conclusão pode-se afirmar que predomina, atualmente, a aceitação de que a sociedade é resultante de uma necessidade natural do homem, sem excluir a participação da consciência e da vontade humanas. E inegável, entretanto, que o contratualismo exerceu e continua exercendo grande influência prática, devendo-se mesmo reconhecer sua presença marcante na idéia contemporânea de democracia.
 
1.2 – O Estado: conceitos, personalidade jurídica 
O conceito de Estado vem evoluindo desde a antiguidade, a partir da Polis e da Civitas romana. A própria denominação de Estado, com a exata significação que lhe atribui o direito moderno, foi desconhecida até o limiar da Idade Média, quando as expressões empregadas eram rich, imperium, land, terrae etc. Teria sido a Itália o primeiro país a empregar a palavra Stato, embora com uma significação muito vaga (SAHID MALUF, 19). Foi Maquiavel, criador do direito público moderno, quem introduziu a expressão, definitivamente, na literatura científica. No conceito de SAHID MALUF, 22, “Estado é o órgão executor da soberania nacional”, considerando que a Nação é de direito natural, o Estado é criação da vontade humana e que o Estado não tem autoridade nem finalidade própria. Von Ihering conceitua que “O Estado é a sociedade que se coage; e para poder coagir é que ela se organiza tomando a forma pela qual o poder coativo social se exercita de um modo certo e regular; em uma palavra, é a organização das forças coativas sociais” (SAHID MALUF, 21). Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 24ª edição, pág. 55, o Estado é pessoa jurídica de Direito Público Interno e ainda “como ente personalizado, o Estado pode atuar no campo do Direito Público como no Direito Privado, mantendo sempre sua única personalidade de Direito Público, pois a teoria da dupla personalidade do Estado acha-se definitivamente superada.” 
1.2.1 - Teorias sobre a origem do Estado
 As teorias sobre a origem do Estado derivam de raciocínios hipotéticos. As que mais se destacam são: 
a) Teoria da Origem Natural ou Espontânea – entende que não há coincidência entre as diversas formações dos Estados. Entende que o Estado surge naturalmente, a partir da conjugação espontânea de diversos elementos, como família, a sociedade e outros. Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 3 
b) Teoria da origem familiar (teorias de Aristóteles ou de São Tomás de Aquino) – a família seria a célulamãe do Estado, ou seja, a pessoa nasce em uma pequena sociedade, pela própria natureza, não por invenção. 
c) Teoria da origem patrimonial – (Dalmo Dallari e Sahid Maluf) – teoria que leva em consideração o fator econômico para o surgimento do Estado. Em virtude das relações econômicas que surgem os Estados e suas feições serão de acordo com o perfil econômico das suas relações sociais. O Estado Feudal ajustava-se perfeitamente a um modelo econômico baseado no direito de propriedade. 
d) Teoria da origem contratual – o Estado tem origem num contrato social entre vários indivíduos independentes, numa situação de liberdade plena ou “estado de natureza”, que, por conta de uma situação de beligerância, convencionam por mútuo acordo a substituição da liberdade plena pela liberdade civil obediente à lei. 
e) Teoria da força – o Estado surgiu quando“os mais fortes dominaram os mais fracos e os submeteram ao trabalho”. Ou seja, uma organização social imposta por um grupo vencedor a um grupo vencido, para mantê-lo dominado. 
1.3 – Elementos constitutivos do Estado 
Alguns autores definem o Estado como “uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupa um território definido e, na maioria das vezes, sua lei maior é uma Constituição escrita. É dirigido por um governo soberano reconhecido interna e externamente, sendo responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da coerção”. Por essa definição destacam-se de forma analítica alguns elementos essenciais que são pressupostos de existência dos Estados:
 
a) Elementos materiais a.1.) População Consiste no conjunto de todos os habitantes do território do Estado, quer com ele mantenham ou não vínculos políticos, mas
mantendo necessariamente vínculos jurídicos uma vez que estão sob o império das leis do Estado. Por oportuno é bom esclarecer que povo é o conjunto de cidadãos que mantêm necessariamente vínculos políticos e jurídicos, definida, inclusive, sua nacionalidade naquele Estado. Nação é formada por um conjunto de indivíduos que possuem caracteres de identidade referentes a origem, interesses, credos e aspirações, aparecendo como um conceito psicossocioantropológico (LÊNIO LUIZ STRECK). a.2.) Território É a base física, o âmbito geográfico da nação, onde ocorre a validade de sua ordem jurídica, sendo definição Hans Kelsen. Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 4 É o Locus sobre o qual será fixado o elemento humano e terá lugar o exercício do poder e aplicação do ordenamento jurídico-positivo estatal. Composição: solo, subsolo, espaço aéreo, plataforma submarina e mar territorial. 
b) Elemento formal b.1.) Governo Consiste no poder do Estado, exercido de forma soberana e com a participação popular. Soberania, segundo Miguel Reale, é o “poder que tem uma nação de organizar-se juridicamente e de fazer vale dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de conivência”. 
1.4 – Evolução Histórica do Estado 
Desde o seu aparecimento como organização do meio nacional, desde as mais primitivas formas de associação política, o Estado, elemento dinâmico por excelência, vem evoluindo sempre, e refletindo, nessa evolução, a trajetória ascensional da civilização humana. 1.4.1 – O Estado na Idade Antiga: “Estado” Oriental, Estado na Grécia Clássica e Estado Romano; A Idade Antiga é o período compreendido entre 3.000 A.C. até o século V da era cristã, quando o império romano desmoronou ante a invasão dos bábaros, época em que tem início a Idade Média. Em regra geral, nas antigas civilizações orientais não existiam doutrinas políticas, mas, sim, um única forma de governo, que era a monarquia absoluta, exercida em nome dos deuses tutelares dos povos. Os Estados eram formados e mantidos pela força das armas, porque reuniam povos de diferentes raças, conquistados e escravizados. Era comum a concentração de poderes numa mesma pessoa, que acumulava as funções militar, judicial, sacerdotal e de coleta de impostos. As monarquias orientais eram todas de feitio teocrático: o monarca era representante das divindades, descendente dos deuses. 
O poder do monarca era absoluto, e, sendo equivalente ao poder divino, não encontrava possibilidade de limitação na ordem temporal. 
a) Estado de Israel Constituía uma exceção entre os Estados antigos do Oriente o Estado de Israel, que era característicamente democrático, no sentido de que todos os indivíduos tinham a proteção da lei, inclusive contra o poder público. Os Dez Mandamentos, ou as Tábuas do Sinai, serviam como constituição do Estado de Israel e limitação do poder dos soberanos. A legislação judia era impregnada de profundo sentido humano e democrático. Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 5 Extinguiu-se o Estado antigo de Israel, com a expulsão de Jerusalém. Mas a nação israelita subsistiu nestes dois mil anos, sem Estado, conservando a sua unidade étnica, religiosa e histórica. E ressurgiu em 1948, no novo Estado de Israel, criado pela divisão da Palestina. 
b) Estado Grego A partir do século IX a.C., o Estado grego era monárquico e tipicamente patriarcal. Cada Cidade tinha o seu
Rei e o seu Conselho de Anciãos. Só em casos de maior importância se convocavam as Assembleias Gerais dos Cidadãos. No século VIII ou IX a. C a monarquia patriarcal evoluiu para república democrática direta, de fundo aristocrático. Mesmo no período dos reis, não chegou a ser um regime de tirania ou de desenfreado nepotismo monárquico, pois havia já a contenção do poder real pelo Conselho dos Anciãos e pela Assembleia dos Cidadãos. O objeto de análise nesta disciplina é o Estado helênico típico, que exerceu larga influência no evolver da civilização clássica por seu esplendor entre os séculos VI e IV a. C. Nesse período sob a liderança de Péricles, a população era de meio milhão de habitantes, cerca de 60% de escravos, sem direitos políticos de qualquer espécie, além de cerca de 20.000 estrangeiros. Assim, os cidadãos encarregados de governar Atenas eram pouco mais de 40.000 pessoas. A Polis (Estado-Cidade) era uma associação política e ao mesmo tempo uma comunidade religiosa, mas não se confundiam Estado e Religião nas mesmas instituições. As divindades gregas não conferiam caráter místico à autoridade, como ocorria nas monarquias orientais. Os Estados-Cidades eram numerosos e, consequentemente, contavam com reduzida capacidade de expansão. Por isso, surgiram Confederações de Estados. Instituiu-se o Senado em cada Polis e Assembleias Regionais para as ligas ou confederações. Também foi criada a Assembleia Geral de representação dos Estados gregos. 
c) Estado romano O Estado romano tinha sua origem, efetivamente, na ampliação da família. A família era constituída pelo pater, seus parentes, os parentes destes, os escravos (servus) e mais os estranhos que se associavam ao grupo. A autoridade do pater família era absoluta: pontífice, censor dos costumes, juiz e senhor, com poder de vida e morte sobre todos os componentes do grupo. O Estado romano, muito semelhante ao Estado grego, tinha suas características peculiares: distinguia o direito da moral, limitando-se à segurança da ordem pública: a propriedade privada era um direito que o Estado tinha o empenho em garantir; o homem gozava de relativa liberdade em face do poder estatal, não sendo obrigado, praticamente, a fazer ou deixar de fazer Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 6 alguma coisa senão em virtude de lei; o Estado era havido como nação organizada; a vontade nacional era a fonte legítima do Direito. Na época republicana, o poder supremo – imperium – pertencia ao povo, que o exercia nos comícios responsáveis pela fonte legislativa, que posteriormente foram restringidas, passando ao Imperador e ao Senado. 
1.4.2 – O Estado na Idade Média
O império romano foi o último dos grandes impérios da antiguidade. O seu desmoronamento, em consequência das invasões bárbaras, assinala o fim da idade antiga e o início da Idade Média. Admite-se, como convenção, que a Idade Média começa no século V da era cristã, a partir da queda do império romano no ocidente e termina no século XV, com o descobrimento da América. Depois do século XV começa a Renascença, com as grandes descobertas. A nova ordem implementada pelos bárbaros os costumes germânicos substituíram completamente as tradições romanas. O direito romano foi uma das poucas coisas que sobreviveu e ressurgiu, não sem passar pelo crivo dos glosadores germânicos. Os usos e costumes foram as fontes principais do direito, em consonância com as regras superiores do direito natural. O direito natural é a própria lei eterna, incontingente, imutável, que Deus inseriu na consciência de todos, tendo como preceito basilar que o homem não deve fazer aos outros o que não quer que lhe façam. A Idade Média, aliás, não conheceu o absolutismo monárquico comas características que assumiu essa forma de governo na renascença e no início da idade moderna. O absolutismo monárquico apareceu no declínio da civilização medieval. O Estado medieval que emergiu das invasões bárbaras cristalizou-se em torno da Igreja Romana. Assim, toda a história política da Idade Média gira em torno das
relações entre o Estado e a Igreja Romana. 
1.4.3 – O Estado na Idade Moderna
Um dos primeiro expoentes do absolutismo monárquico que se inicia no século XV foi Luiz XI, Rei da França. O absolutismo monárquico que compõe o período de transição para os tempos modernos teve as suas fulgurações produzidas pelo verniz teórico dos humanistas da Renascença, os quais, afastando os fundamentos teológicos do Estado, passaram a encarar a ciência política por um novo prisma, exageradamente realista. “Ao mesmo tempo em que a Renascença restaurou e aperfeiçoou a majestade das artes antigas restabeleceu, no seu panorama político, os costumes pagãos e a prepotência estatal das cidades gregas e romanas” (TEORIA GERAL DO DIREITO, SAHID MALUF, pág. 115). Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 7 Maquiavel na obra “Discursos sobre Tito Lívio”, em que glorifica a república romana e, baseado nos exemplos tirados da sua história, deduz os meios pelos quais podem as repúblicas expandir-se e durar. Sua obra principal, denominada “O príncipe”, foi publicada em 1531. Nessa obra Maquiavel se desliga de todos os valores morais, tradições e princípios éticos, para pregar o oportunismo desenfreado e o cinismo como arte de governar. Analisando friamente as qualidades que devem orientar a ação do Príncipe, aconselha-o a mentir, a praticar toda sorte de crueldade, e ao mesmo tempo dissimular e fazer crer que a sua conduta é virtuosa. Em seu livro assim dispõem: “o cuidado maior de um Príncipe deve ser o da manutenção do seu Estado; os meios que ele utilizar para esse fim serão sempre justificados e terão o louvor de todos, porque o vulgo se deixa impressionar pelas aparências e pelos efeitos – e o vulgo é quem faz o mundo. Em suma: ao Príncipe tudo é permitido, até mesmo a infâmia, a hipocrisia, a crueldade, a mentira, contanto que atinja o seu escopo. Todos os meios que forem por ele utilizados no exercício do poder são admissíveis e justificados. A natureza humana e as circunstâncias de cada momento indicam os meios e os instrumentos de que o Príncipe deve lançar mão. Segundo o sociólogo Abelardo Montenegro a obra de Maquiavel não teve o propósito de firmar “princípios para todos os séculos e para todos os homens. A generalidade de seus princípios subordinava-se à permanência daqueles fatores que o levaram a fazer tal inferência. Enquanto os homens forem maus, quem quiser conservar o Estado terá que agir conforme sua preconização. E os séculos posteriores deram razão ao escritor florentino”. 
1.4.4 – O Estado na Idade Contemporânea: Estado Liberal 
O liberalismo teve seu berço na Inglaterra. O próprio termo liberalismo tem a seguinte origem: O segundo Bill of Rights que o Parlamento impôs à Coroa, em 1689, em um dos seus treze artigos que estabeleciam os princípios de liberdade individual, especialmente de ordem religiosa, autorizava o porte de armas pelos cidadãos ingleses que professavam a religião protestante, para que pudessem defender suas franquias constitucionais. Foi precisamente esse sistema de liberdade defendida pelas armas que recebeu, na época, a denominação de liberalismo. O absolutismo monárquico, que surgiu no fim da Idade Média e triunfou em todo o continente europeu, procurou instalar-se na Inglaterra com Carlos I, mas ali encontrou a reação de uma consciência liberal já amadurecida, cujo processo de evolução se iniciara com a revolta das baronias em 1215. John Locke foi uma figura importante na defesa da limitação da autoridade real pela soberania do povo, a eliminação dos riscos da prepotência e do arbítrio. Em sua obra “Segundo tratado do governo civil” ofereceu justificação doutrinária para revoluções menos sangrentas que na França e serviu de alicerce ao sistema parlamentarista que vigora na Inglaterra desde 1695. Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 8 Em sua obra Segundo tratado do governo civil, baseada nos princípios liberais da teoria contratualista, prega a distinção entre os poderes Legislativo e Executivo, bem como o direito de insurreição dos
súditos. Em caso de conflito entre o poder governante e o povo, deve prevalecer a vontade soberana da comunidade nacional, que é a fonte única do poder. Inspirado em Locke, Montesquieu defendeu a ideia de poder limitado, Em sua também célebre obra De I'esprit des lois, o escritor francês admitiu que o homem investido no poder tende naturalmente a dele abusar até formação da Sociedade Sociedade é um conjunto de seres que convivem de forma organizada. A palavra vem do Latim societas, que significa "associação amistosa com outros". O conceito de sociedade pressupõe uma convivência e atividade conjunta do homem, ordenada ou organizada conscientemente. Constitui o objeto geral do estudo das antigas ciências do estado, chamadas hoje de ciências sociais. Entre as teorias favoráveis à ideia da sociedade natural, que têm, atualmente, maior número de adeptos e que exercem maior influência na vida concreta do Estado tem-se a afirmação clara e precisa de que o homem é um ser social por natureza encontra-se no século IV a.C., com a conclusão de ARISTÓTELES de que "o homem é naturalmente um animal político". Para o filósofo grego, só um indivíduo de natureza vil ou superior ao homem procuraria viver isolado dos outros homens sem que a isso fosse constrangido. Quanto aos irracionais, que também vivem em permanente associação, diz ARISTÓTELES que eles constituem meros agrupamentos formados pelo instinto, pois o homem, entre todos os animais, é o único que possui a razão, o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Opondo-se aos adeptos do fundamento natural da sociedade encontram-se muitos autores, alguns dos quais exerceram e ainda exercem considerável influência prática, sustentando que a sociedade é tão-só o produto de um acordo de vontades ou seja, de um contrato hipotético celebrado entre os homens, razão pela qual esses autores são classificados como contratualistas. Há uma diversidade muito grande de contratualismos, encontrando-se diferentes explicações para a decisão do homem de unir-se a seus semelhantes e de passar a viver em sociedade. O ponto comum entre eles, porém, é a negativa do impulso associativo natural, com a afirmação de que só a vontade humana justifica a existência da sociedade, o que vem a ter influência fundamental nas considerações sobre a organização social, sobre o poder social e sobre o próprio relacionamento dos indivíduos com a sociedade. O contratualismo aparece claramente proposto com sistematização doutrinária, nas obras de THOMAS HOBBES, sobretudo no "Leviatã", publicado em 1651. Para HOBBES o homem vive inicialmente em "estado de natureza", designando-se por esta expressão não só os estágios mais primitivos da História mas, também, a situação de desordem que se verifica sempre que os homens não têm suas ações reprimidas, ou pela voz da razão ou pela presença de instituições políticas eficientes. Quem retomou a linha de apreciação de HOBBES, explicando a existência e a organização da sociedade a partir de um contrato inicial, foi ROUSSEAU, especialmente em seu livro mais divulgado, "O Contrato Social", aparecido em 1762, no qual, entretanto, adotou posição semelhante à de MONTESQUIEU no tocante à predominância da bondade humana no estado de Teoria Geral do Estado Prof. Anderson Rosa Ribeiro 2 natureza. O contratualismo de ROUSSEAU, que exerceu influência direta e imediata sobre a Revolução Francesa e, depois disso, sobre todos os movimentos tendentes à afirmação e à defesa dos direitos naturais da pessoa humana, foi, na verdade, o que teve maior repercussão prática. 
Com efeito, ainda hoje é claramente perceptível a presença das ideias de ROUSSEAU na afirmação do povo como soberano,no reconhecimento da igualdade como um dos objetivos fundamentais da sociedade, bem como na consciência de que existem interesses coletivos distintos dos interesses de cada membro da coletividade. 
Como conclusão pode-se afirmar que predomina, atualmente, a aceitação de que a sociedade é resultante de uma necessidade natural do homem, sem excluir a participação da consciência e da vontade humanas. E inegável, entretanto, que o contratualismo exerceu e continua exercendo grande influência prática, devendo-se mesmo reconhecer sua presença marcante na idéia contemporânea de democracia. 
Formas de estado e governo
Quando falamos de formas de governo, referimo-nos ao modo como um determinado governo organiza e divide seus poderes e, sobretudo, como aplica o poder sobre quem é governado. Com o passar dos tempos, as formas de governo sofreram mudanças e foram teorizadas por diferentes filósofos e teóricos políticos. Entre as formas mais conhecidas, podemos citar: tirania, monarquia, democracia, república, principado e despotismo. 
Definição de formas de governo 
Paulo Bonavides, um dos maiores estudiosos de ciência política no Brasil, diz que existem três momentos cruciais para o entendimento das formas de governo em nossa história: a Antiguidade, com os escritos de Aristóteles, a Modernidade, com Maquiavel e Montesquieu, e a Contemporaneidade, com autores ligados ao direito e à ciência política que determinam formas de governo adequadas ao século XX. As formas de governo incluem maneiras democráticas e não democráticas de governar. As variantes relacionam-se ao número de pessoas que detêm o poder. 
As formas de governo incluem maneiras democráticas e não democráticas de governar. As variantes relacionam-se ao número de pessoas que detêm o poder. 
No entanto, a classificação mais completa dessas formas está no livro Política, de Aristóteles, pois esse filósofo reconheceu, desde o início, que, para tratar delas, é preciso reconhecer "o número de pessoas que exercem o poder soberano"|1|. A proposição aristotélica impõe a ideia de que as formas de governo estão diretamente relacionadas ao número de pessoas que exercem o poder soberano e, de um modo direto ou indireto, estão ligadas ao poder estatal. 
12.4.4 Formas de governo para a filosofia
Classificação de Aristóteles 
Monarquia: o poder político concentra-se nas mãos de uma única pessoa, que carrega consigo a soberania. O monarca deve estar capacitado para o cargo que lhe compete, pois, caso contrário, o governo pode degenerar-se e tornar-se uma tirania. Aristóteles discorreu sobre as formas de governo, na sua obra Política.Aristocracia: um grupo de pessoas aptas a governarem assume o poder. Caso o governo seja injusto e não represente o povo, a tendência é que ele se corrompa, tornando-se uma oligarquia.
Democracia: quando o corpo de cidadãos reúne-se para distribuir, entre si, o poder político, temos uma democracia. No entanto, é necessário observar os rumos que esse governo toma, pois a sua degeneração leva à demagogia, em que representantes políticos têm um governo que beneficia certa parte da população e esquece-se de outra parte. 
Classificação de Maquiavel 
Maquiavel é o autor de O príncipe, livro em que orienta como os príncipes devem comportar-se para alcançarem prestígio. Maquiavel é o autor de O príncipe, livro em que orienta como os príncipes devem comportar-se para alcançarem prestígio. República: nela há uma plural distribuição do poder. Podem ser classificadas como republicanas as democracias e algumas monarquias.Principado: diferentemente da república, o poder no principado é, essencialmente, concentrado nas mãos de um único governante, que chefia o Executivo e o Legislativo. 
Classificação de Montesquieu 
República: a soberania, neste caso, está concentrada nas mãos do povo, segundo Bonavides. Para que o povo una-se em benefício próprio para legislar, é necessário estabelecer as noções de igualdade e de pátria. Podem ser formas republicanas a aristocracia e a democracia, desde que regidas por um corpo legislativo.
Monarquia: quando se estabelece um corpo legislativo e o poder Executivo, que deve submeter-se ao Legislativo, é composto por uma pessoa, tem-se uma monarquia.
Montesquieu defendia que o poder deveria ser dividido em três: Executivo, Legislativo e Judiciário. Montesquieu defendia que o poder deveria ser dividido em três: Executivo, Legislativo e Judiciário. 
Despotismo: quando o monarca se corrompe, passa por cima das leis e ignora a Constituição, temos um regime despótico. Marquês de Pombal trajetória de um dos grandes nomes do despotismo esclarecido 
Formas de governo para a ciência política e a sociologia 
A ciência política e a sociologia compõem as ciências sociais. A ciência política visa compreender os diversos elementos do espectro político, tais como governo, estado, leis, sistema jurídico, ação política etc. Já a sociologia tem por finalidade compreender a sociedade de maneira mais complexa e cientificamente metódica, criando um campo do saber que formula leis para a organização social por meio de outros elementos fornecidos por outras ciências, como a ciência política, as ciências jurídicas, a economia e a antropologia. A filosofia fornece, em muitos casos, elementos para que a sociologia, a economia, a ciência política e a antropologia continuem operando. Quando elegemos as teorias de Aristóteles, Montesquieu e Maquiavel para explicar elementos políticos concernentes às formas de governo, por exemplo, estamos reconhecendo a primazia da filosofia para tratar de política. 
Diferença entre forma de governo e regime de governo 
Essa distinção é simples, porém causa muita confusão entre leigos no assunto. Enquanto as formas de governo dizem respeito ao número de governantes e à quantidade de pessoas que exercem o poder, o regime de governo é um atributo de cada governo que adjetiva o modo como ele ou seu governante comporta-se.Como regimes de governo, temos os regimes democráticos, autoritários e totalitários. Os regimes democráticos são aqueles em que as ações políticas são tomadas em conjunto por um corpo de cidadãos que compreende a maioria.
Um regime autoritário é aquele em que o corpo de cidadãos é excluído das decisões políticas e o poder é exercido autoritariamente por um grupo de pessoas ou por uma pessoa, passando por cima das leis e controlando a vida e a atividade política. Já os regimes totalitários, como os que ocorreram na Europa no século XX (nazismo, stalinismo e fascismo), são aqueles em que todos os aspectos da vida pública e da vida privada são controlados por um governo extremamente autoritário e por meio de um processo de hiperinflação do Estado. Totalitarismo: regime político que envolve o controle total da vida pública e privada 
Formas de governo no Brasil 
Quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, em 1822, surgiu um novo império na América do Sul sob o governo de Dom Pedro I. Nessa época, o Estado brasileiro foi governado por um regime monárquico que estabeleceu, desde 1824, uma Constituição e abriu a possibilidade da formação de um parlamento. No ano de 1889, os republicanos, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, aplicaram um golpe que destituiu o então imperador, Dom Pedro II, do poder, instituindo um regime republicano presidencialista. Até 1930, a república passa por um regime oligárquico, conhecido como política café com leite, em que apenas um grupo seleto de presidentes, produtores de leite, de Minas Gerais, e de café, de São Paulo, assume o poder. Em 1930, Getúlio Vargas toma o poder e estabelece um governo provisório. Após esse episódio, ele aplica um golpe, fecha o parlamento e governa autoritariamente até 1945, o que caracteriza uma forma não democrática de exercício do poder político. Entre 1964 e 1985, o Brasil vive outra ditadura, a Ditadura Militar brasileira, que passa por períodos de extremo autoritarismo, fechando o congresso em alguns momentos e impedindo a eleição popular para a ocupação do cargo da presidência da república. Com exceção desses momentos autoritários,que somam muitos anos, o Brasil viveu, desde 1889, sob o regime republicano.
12.4.5 O Estado e sua fragmentação quantitativa e qualitativa
Hoje, vários territórios lutam para serem reconhecidos como estados. Embora sejam mais notados os casos da Palestina e Chechênia, são oficiais o pleito de nove casos de territórios que buscam a independência, com consequente reconhecimento de soberania estatal (Abecásia; Camarões do Sul; Chipre do Norte; Nagorno-Karabakh; Ossétia do Sul; Saara Ocidental; Saaland; Transnítria; Venda). (p.188)
No plano qualitativo, apesar de ter auxiliado na produção de estados, o sistema internacional parece não saber como consolidá-los, não só quanto ao desenvolvimento econômico, mas, sobretudo em termos institucionais, legais, políticos e sociais, o que ajuda a explicar em grande parte o insucesso da “nova ordem internacional” . Após algumas décadas de independência, muitos dos novos estados formados a partir da década de 1940 têm sido incapazes de assegurar a sua estabilidade política e social, permanecendo frágeis e vulneráveis. (p.188)
As ONGs (Organizações não governamentais) são organizações formadas pela sociedade civil sem fins lucrativos e que têm como missão a resolução de algum problema da sociedade, seja ele econômico, racial, ambiental etc., ou ainda a reivindicação de direitos e melhorias e fiscalização do poder público. (p.189)
É o caso de algumas relevantes ONGs como a BRAC, International Rescue Committee, PATH, CARE, Médecins Sans Frontières, Danish Refugee Council, todas com importantes trabalhos voltados para o interesse das populações dos países em que funcionam. (p.190)
Porém, estes atores não só concorrem com os Estados tradicionais como contribuem decisivamente para a erosão do seu papel na sua dupla dimensão, interna e internacional. Procuram ocupar competências tradicionais do Estado, muitas vezes rivalizando com estes sob a alegação que a pesada burocracia estatal é um obstáculo à eficiência das ações. (p.190)
Nestas circunstâncias, como é perceptível, o Estado, entidade reguladora, produtora do corpo normativo, controladora das atividades e garante da lei e da estabilidade no seio dos seus territórios e populações, tem visto mitigado o seu poder soberano de exercer tais funções, ou mesmo o seu poder de controle sobre estes entes. (p.190)
Surge, então, no cenário contemporâneo outro tipo de cidadania, que compartilha lealdades e que se vê vinculada não apenas ao direito produzido pelo Estado nacional, mas também àquele produzido por outros entes. Isto porque, por trás do direito a ser diferente, do respeito pelos direitos culturais e pelos laços transnacionais, pode estar surgindo um regime legal, estabelecido por, até mesmo, fontes extra-estatais que, ao estabelecer a quebra do monopólio estatal, compartilhando competência de produção normativa, contribui fortemente para a relativização da soberania estatal e dos vínculos Estado/cidadão. (p.191)
Referência: 
LIMA, Marcelo Machado; GÓES, Guilherme Sandoval. Ciência política. Rio de Janeiro : SESES, 2015.

Continue navegando