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ANTROPOLOGIA CULTURAL APRESENTACAO DO PROFESSOR E DOS ESTUDANTES Complexidade etnolinguística e cultural da turma Nyanjas…Macuas…Macondes…Chuabos, etc. – miscelânea (História)/miscigenação (Antropologia)…………………………………………………………………………….. Consequências: Aculturação……………………………………………………….. Consequências: Anomia cultural…………………………………………………. Consequências: etnocentrismo (Antropologia)/revolucionismo étnico (História) Exemplos do etnocentrismo no continente africano: 1. R. D. C – duas províncias estratégicas como Katanga Oriental, no sul onde estão e saem as grandes elites políticas do país, incluindo o Patrice Lumumba; Katanga Ocidental – potencialmente detentora das grandes reservas diamantíferas e outros recursos da economia nacional. Cada grupo residente e autóctone dessas regiões reivindica a paternidade da nação congolesa, uns usando o seu potencial intelectual e político, e outros supõem-se ser os produtores e donos da economia nacional. 2. Na República do Ruanda – existem dois grandes grupos étnicos em lutas seculares devido a tomada dos destinos políticos do país. Destacam-se: a) Utus – são uma minoria mas que dominam a vida política nacional, são os mais letrados, urbanizados, tradicionalmente são eles os fazedores da história da nação; em 1994 a liderança utu, no governo importou do ocidente 400 toneladas de catanas alegando que iriam distribuir no seio da população para desencadear a campanha agrícola anual, mas na verdade, foram-se distribuir entre eles para exterminar a etnia adversária. b) Tutsis – representam a grande maioria do povo ruandês. Consequentemente, são secundarizados na liderança política, económica e administrativamente do estado. Deste modo, eles reivindicam a sua inserção nos grandes cargos governamentais, a posse da economia, etc. 3. A República Federativa da Nigéria, igualmente tem dois grupos étnicos tradicionalmente rivais. Trata-se dos: a) Hausas – islamizados, do norte, detentores de grandes poços petrolíferos, instituíram os tribunais islâmicos baseados na lei da sharia, lei com uma acepção meramente islâmica; b) no sul encontram-se os yoruba – donos da vida política nacional, da capital do país, com uma instrução ocidental e cristianizados. Os Grandes Debates da Ciência Contemporânea A partir da segunda metade do século XIX, começou a surgir o debate representando o evoluir do conhecimento intelectual do Homem como um ser pensante. Nos finais do século XIX, surgiram duas posições antagónicas em volta do que devia ser considerado como conhecimento científico ou não verdadeiramente científico. Assim, destacaram-se nesta vertente as posições como: A. A Pseudociência ou Metafísica – aqui surgiram questionamentos sobre a Astrologia, o Marxismo e a Psicanálise se eram ciências ou não. Destacaram-se como figuras proeminentes deste movimento, Pierre Duhen, Ernest Meach e Jules Henri Poincaré. B. A Ciência propriamente dita – este movimento foi notável por estabelecer o Positivismo lógico do circulo de Viena. Nos princípios do século XX, um grupo de cientistas reuniu-se em Viena (Áustria) onde traçaram fronteiras existentes entre a Pseudociência e a Ciência. Foi em 1922 sob direcção do físico alemão, Mortz Shelik, que na companhia de seus homólogos e junto também, de seus estudantes, discutiram a temática e revolucionaram a maneira de conceber o pensamento científico. De entre os presentes destacaram-se na ocasião os seguintes especialistas: 1. Herbert Feighl 2. Otto Neurath 3. Rudolf Carnap 4. Kurt Gödel. Este grupo ficou bastante notabilizado por ter publicado uma obra intitulada "Visão científica do mundo". Nesta obra, o grupo de Viena apresentava a sua visão sobre o conhecimento científico denominado Positivismo Lógico, que com a sua posição filosófica sobre o conhecimento, surge então a famosa doutrina, o Positivismo Lógico do Círculo de Viena. A nova visão do Positivismo Lógico de Viena 1. A base da ciência deve estar assente na Matemática e na Lógica – eles compreendiam que apenas essas ciências é que constituem ferramentas para a elaboração de um conhecimento científico. Negaram a credibilidade de um conhecimento resultante da observação; 2. A explicação das afirmações devia ser feita por uma análise lógica – aqui, eles não concordam com as análises empíricas nem das experiências sucessivas; 3. Indução como mecanismo teórico para a elaboração do conhecimento científico; 4. Princípio de verificabilidade – este princípio postulava que seria considerado científico o enunciado que pudesse ser verificado, isto é, posto à prova, por meio de uma validação empírica; 5. Processo indutivo – foi considerado como o motor da ciência, mas, mais tarde acabou desaguando no princípio de verificabilidade. A verificabilidade foi bastante criticada por diferentes cientistas da época, e desta forma, surgiram novas personalidades como: . Rudolf Carnap – preocupou-se em compreender a verificabilidade procurando encontrar um critério para se adequar aos problemas emergentes nos anos de 1930. Desta feita, ele adoptou o princípio de confirmacionismo. O princípio de confirmacionismo foi um modelo segundo o qual, os graus probabilísticos deviam passar por um alto grau de confirmação dependendo da experimentação empírica. Das conclusões tiradas das confirmações, não devem ser consideradas como verdades definitivas. C. Karl Popper e o princípio da Falseabilidade Popper publicou uma obra "A lógica da Pesquisa científica" em 1934 onde propunha que não existe nenhuma garantia que uma indução elaborasse uma verdade conclusiva. Ele defendia que as observações e os testes sucessivos não podiam mostrar evidências de um conhecimento verdadeiramente científico. Sempre defendeu que mesmo havendo uma verdade lógica, é pertinente a existência de uma outra teoria que confronte e contrarie essa verdade lógica. D. Paradigmas científicos e programas de pesquisa A ideia relacionada com o desenvolvimento do conhecimento científico, mesmo depois da II guerra mundial, foi de Karl Popper com o seu princípio de Falseabilidade. Até 1960, surgiram novos cientistas que contrariaram Popper destacando-se como figuras principais: 1. Thomas Kuhen que escreveu "Estruturas das evoluções científicas" onde introduziu pela primeira vez o conceito Paradigma. Para ele, este conceito representava um conjunto de crenças de valores comungados por uma comunidade científica, necessários para resolver problemas concretos da época e que deviam ser respeitados por todos os membros com que se identificam. Kuhen destaca dois momentos importantes da evolução científica que se compreendem em: a) Momento da ciência normal – foi o momento de questionamentos e de abrandamento no âmbito das discussões científicas envolvendo vários especialistas; b) Momento da revolução científica – foi o momento em que as ideias antes concebidas caíram em descrédito. Neste âmbito, a teoria dos Paradigmas de Thomas Kuhen foram fortemente criticadas e contestadas. Discutiu-se que o conceito Paradigma foi demasiado exagerado na sua aplicação em vários contextos e foi substituído pelos termos Matriz Disciplinar. A partir das críticas a que foi alvo, Kuhen desenvolveu a tese de Incomensurabilidade. Aqui, ele explica que a comunidade científica daquela época (1960), não podia comparar os modelos porque são de contextos, valores, critérios e modelos de referência diferentes aos dos seus antecessores. Ainda nesta base, Kuhen observou que os paradigmas não são verdadeiros nem falsos porque o mais importante era avaliar a sua funcionalidade. E. O Anarquismo Metodológico de Feyerabend Paul Feyerabend foi um filósofo austríaco que publicou uma obra "Contra o Método" na qual avança três ideias principais: a) A ciênciaavança com os factos solidamente provados – foi um princípio também conhecido por princípio de Tenacidade. Para Feyerabend não há ciência sem questionamentos; b) Não há critérios científicos definitivos que garantem teorias científicas definitivas – todas as teorias que surgem em diferentes contextos, são em função da subjectividade das circunstâncias do momento. O Anarquismo Metodológico de Feyerabend sugere a criação de critérios para avaliar a qualidade da teoria científica assente em três regras principais: . Exactidão – as previsões das quantidades das teorias criadas devem estar de acordo entre elas. Devem ter concordância com as observações as experiências; . Consistência – uma teoria deve estar isenta de contradições internas e ser compatível com as outra teorias da época; . Fecundidade – uma teoria devia não só levar a novas descobertas como também sugerir novos problemas a serem resolvidos. F. A rebelião das Ciências Sociais No final do século XIX, com a crescente consolidação das Ciências Sociais, iniciaram as polémicas divergências a cerca da aplicabilidade dos métodos e procedimentos desenvolvidos pelas ciências naturais e também pelas Ciências Sociais. Wilhelm Dilthey (1833-1911), filósofo alemão estabeleceu uma distinção clara que se tornou um marco notável nessas discussões. Ele diferenciou: a) Explicação – compreendeu que era a operação básica existente nas ciências naturais que estabelece as causas e efeitos dos fenómenos observados; b) Compreensão – é um procedimento típico das Ciências Sociais nas quais, as causas dos fenómenos dificilmente seriam explicadas. Com o seu método de observação e de comparação, as Ciências Sociais ganharam o campo de pesquisa com específico objecto de estudo. Para tal, foi-se privilegiando a interpretação em Ciânicas Sociais com base no cruzamento entre as várias áreas do conhecimento como: História Geografia Demografia Etnografia Antropologia Sociologia etc. A partir desta distinção de Wilhelm, o sociólogo alemão Marx Weber (1864-1920) propós um novo método científico para as Ciências Sociais – o Método Compreensivo. Este método consistia em entender o sentido que as acções humanas possuem, em vez de focalizar meramente os aspectos exteriores dessa mesma acção. No início da década de 1920, surgiu um movimento importante no Instituto de Pesquisas sociais de Frankfurt, Alemanha, onde se destacaram como figuras proeminentes: Herbert Marcuse, Theodoro Adorno e Walter Benjamim. A escola de Frankfurt propôs um conjunto de ideias multidisciplinares que passou a ser conhecido como Teoria Crítica. De uma inspiração marxista, esses teóricos defendiam que a ciência havia-se tornado desconectada da realidade social, servindo unicamente como instrumento das classes dominantes para a manutenção do seu status social. No final de 1960, surgiu um movimento na filosofia das ciências Sociais denominado Sociologia do Conhecimento. De entre os seus representantes, destacam-se: David Bloor, Barry, Barnes, David Edge, Steve Shapin, entre outros cientistas daquela geração. Estes e tantos outros especialistas eram da Universidade de Edimburgo, tinham abraçado a tese de Incomensurabilidade de Thomas Kuhen e inspiraram-se fortemente no Anarquismo Metodológico de Paul Feyerabend (a cerca dos critérios de avaliação das teorias científicas). A escola de Edimburgo passou a considerar o conhecimento científico como sendo uma construção social. Ainda em 1960 surgiu uma outra vaga de pensadores reafirmando a necessidade de existência de um método científico capaz de emancipar o ser humano submerso nas ideias capitalistas. O seu principal mentor foi o filósofo alemão Jürgen Habermas. O principal pensamento deste cientista, foi pela preservação das ciências naturais porque segundo ele, tinham uma lógica objectiva enquanto que as ciências sociais e humanas, deviam seguir uma lógica interpretativa porque a cultura e a sociedade encontram-se embaçadas de símbolos. Para Habermas, o pensamento aplicado às ciências sociais era fundamental porque podia proporcionar a separação da dicotomia "saber" e "fazer", a "ciência" e "sociedade". Para ele, as ciências sociais deviam ter um carácter intervencionista, o cientista social deve ser mais interventivo para garantir a transformação da sociedade através dos seus estudos, realizados a base das suas constantes e permanentes constatações. Pensamento Antropológico e as correntes fundamentais da Antropologia 1. Pensamento Antropologico Antropologia é a ciência do Homem. Anthropos = Homem, no contexto e dimensão da espécie. Ethnos = colectividade = povo. Desde há muito tempo, foi conhecido e usado o termo Antropologia. Mas o conceito Etnologia foi conhecido a partir do século XIX através de uma pesquisa social projectada por antropólogo francês chamado Ampère. A sua pesquisa baseou-se em escritos de relatos e viagens da aventura expansionista levada acabo pelos europeus a partir do século XV, ao mudo extra-eurpeu. Neste âmbito, a partir desta compreensão, foram determinados fundamentos científicos com as seguintes linhas de orientação: Em 1839 foi fundada na França a Société d’Etnologie onde foi usado publicamente o termo Etnologia. Em 1859 foi fundada e funcionou em paralelo a Sociedade de Antropologia (Société d`Anthropologie). As duas instituições tendiam definir a Antropologia e a Etnologia como ciência de todo o Homem. Devido as particularidades e interesses individuais dos membros das duas sociedades, distinguiram de forma superficial e concluíram que: . Antropologia – é o estudo paleontológico e morfológico da anatomia humana incluindo as raças; . Etnologia – é o estudo dos aspectos culturais, espirituais ou sociais da actividade humana. Esta distinção foi adoptada na sua fase inicial em toda a Europa, conforme se pode depreender: 1. Na Inglaterra foi constituída em 1843, a Sociedade de Etnologia de Londres encarregada de fazer estudo do Homem na componente de formação das raças humanas, ao desenvolvimento das línguas e da civilização. Em 1863 surge a Sociedade da Antropologia de Londres com uma missão específica de estudar os aspectos anatómicos da etnologia das sociedades humanas. As duas sociedades (sociedade de Antropologia e de Etnologia) caracterizaram-se por um forte antagonismo que tais divergências terminaram com a fusão das duas instituições formando-se o famoso Royal Instituto de Antropologia da Grã-Bretanha nos finais do século XIX, precisamente em 1871. A partir desta altura, em todos os países de expressão inglesa, o termo Antropologia passou a ser mais usado enquanto que a Etnologia aplica-se a uma especialização secundária respeitante a história das culturas dos diferente povos de diferentes quadrantes do planeta terra. No universo da ciência antropológica, a distinção básica centra-se fundamentalmente em duas perspectivas: a) Antropologia Física – ocupa-se ao estudo morfológico das raças humanas. Compreende-se nesta linha de estudo, a lenta e progressiva transformação do Homem na sua existência (teoria de transformação de Charles Darwin em comparação com a teoria criativa defendida pelas crenças religiosas). Demonstra-se neste estudo morfológico e paleontológico, a genealogia lenta, progressiva e sucessiva transformação de: . Prossímio = símio = Arcantropo = Australopitecos – constituindo a primeira linha da transformação do Homem. Aqui, nota-se que esta revolução traduziu-se na emergência do homem inteligente (homo habilis). Razões dessas transformações: na história da existência da humanidade, foram registados vários cataclismos naturais que fustigaram a fase da terra.No período de Pleosteceno, registaram-se chuvas intensas (pluviações) em África e Ásia. Na mesma altura, no continente europeu formaram-se montanhas de gelo (glaciações) devido ao frio intenso. Tempos mais tarde, surge um aquecimento que fez derreter o gelo (regressões marinhas) na Europa cuja água aumentou a quantidade das aguas oceânicas que transbordaram o seu limite normal (transgressões marinhas). Biologia e Quimica Foi na altura da formação de montanhas de gelo em que houve o desfasamento das águas do mar provocando uma cedência da terra em diferentes quadrantes que culminou com a separação dos continentes. Esta separação foi aproveitada pelos povos do sudoeste asiático, nas suas migrações, transitarem para o extremo sul americano de onde não saíram devido a acção das transgressões marinhas que aumentaram o leito dos locais antes por eles atravessados. Significa para isso dizer que, a América não foi descoberta, como território habitável, pelos europeus conforme se divulgou universalmente, pois, os asiáticos já se fizeram presentes muito antes do século XV. b) Antropologia Social – dedica-se ao estudo dos aspectos culturais da existência humana nos seus valores e nas suas concepções cosmológicas ou perspectiva ontológica do Homem (a dimensão metafísica, a religiosidade, a antropologia histórica, política, etc.) 2. Nos Estados Unidos da América atribui-se a paternidade da Antropologia ao Franz Boas. É uma perspectiva antropológica com matrizes inglesas devido a língua e acultura daquele país europeu colonizador. A Antropologia americana é genérica, mas o uso do termo tem apenas uma acepção cultural e não física. Deste modo, a estrutura e a organização do Departamento da Antropologia nas universidades americanas corresponde ao valor da acepção compreensiva e neutro do termo: Antropologia Física, Antropologia Filosófica, Antropologia Política, etc. Desta feita, encontram-se as ramificações específicas como Antropologia Física, Antropologia Cultural, Antropologia Política, Antropologia Social, Antropologia Económica, etc. Assim, os manuais de ensino da Antropologia são redigidos seguindo esta acepção compreensiva e com uma panorâmica científica bastante complexa. 3. Na Itália, desde sempre a Etnologia foi considerada o estudo dos aspectos históricos e culturais da vida dos homens distinguindo-se dos aspectos paleontológicos e anatómicos da espécie humanos. A Antropologia Cultural, como denominação académica, ou seja, de um curso universitário especializado e distinto da Etnologia, é uma aquisição recente com nítida origem americana. A emergência do termo surge com a justificação de que a Etnologia se dedica ao estudo da cultura primitiva e das sociedades simples e exóticas, enquanto a Antropologia Cultural se dedicava a pesquisa de valores ideais e das relações entre e a cultura e a personalidade nas sociedades complexas. De forma análoga, os etnólogos e antropólogos italianos têm em comum o vasto campo da cultura, mas, diferenciam-se em pela pesquisa especializada e sectorial que partilham. Dada a estão dispersa da acepção compreensiva da Antropologia italiana, A. M. Cirese em 1970 introduziu uma nova expressão – Estudos Etno-Antropológicos. Nesta mesma visão, Bernardo Bernardi escreveu uma obra intitulada "Introdução aos Estudos Etno - Antropológicos". Natureza e Cultura Antropológicas O objecto de estudo específico da Antropologia é o Homem no contexto da espécie racional. A Antropologia Física estuda as formas e as estruturas do corpo humano. Antropologia Cultural estuda o significado e as estruturas da vida do Homem como manifestação da sua actividade mental. O Homem é condicionado pela construção de indivíduo, pelas relações que o liga com outros indivíduos com os quais comparticipa a sua vida e a natureza mais vasta que o circunda. O estudo antropológico assenta-se profundamente em grandes temas da existência humana como: . O Homem como indivíduo; . As relações entre os homens; . A relação humana dos indivíduos e dos grandes grupos com a natureza envolvente. A Antropologia estuda a natureza definindo-lhe as várias acepções sob as quais o conceito de natureza se ajusta a mente humana para ordenar a vida do Homem em sistemas de interpretação teórica e de instituições. Natureza é o universo como totalidade cósmica, visível e invisível dentro do qual o Homem está imerso. A natureza como complexo de forças estranhas ao Homem, é encarada como contraste a cultura e ao próprio Homem e a sua actividade. Tal oposição suscita a linguagem mítica e mística. As leis físicas e biológicas que regem a constituição íntima das coisas e dos seres são descritas também como natureza. O próprio Homem na sua estrutura física, sujeita-se a essas leis: nasce, cresce e morre. A constituição natural do Homem apresenta-se sob forma dupla devido a diferenciação de sexos. A distinção entre homem e mulher é um facto natural. Não é produto de livre escolha do Homem, por isso, ele vê-se perante uma distinção que não pode deixar de aceitar e que deve respeitar. Há vários modelos pelos quais a estrutura sociocultural se apresenta relativamente a distinção de sexos. A partir desta linha de compreensão, Emile Durkhein estudou os princípios e fundamentos da vida das sociedades e constatou que: 1.Os Wogeo – povos da Nova Guiné, entendem que os membros de qualquer grupo sexual serão salvos, invulneráveis, sãos e prósperos desde que cada um se isole e se abstenha de misturar-se com membros de outro grupo sexual; 2. Hogbin (1970) – entende que para uma mulher se abster do homem é possível quando estiver no ciclo menstrual e os homens se menstruam periodicamente fazendo incisões no pénis para se purificar pela perda de sangue; 1. Griaule (1968) – constatou que os Dogon, estrato social existente na república do Mali, o nascimento de gémeos no seu seio, constitui um princípio constitutivo da vida de todos os seres e da ordenação cósmica. Tudo que contradiga este princípio é desordem; 2. Turner (1969) – estudou os Ndembu, grupo étnico que se encontra na Zâmbia. Para este grupo, o nascimento de gémeos é um paradoxo vital. Para evitar este facto absurdo e brutal, para estabelecer a ordem na família e na sociedade, devem-se cumprir rituais apropriados no seio da comunidade onde surgiram os gémeos. O significado Antropológico de Cultura De forma correcta utilizam-se dois significados do termo cultura: 1. Significado humanístico – é de âmbito limitado e restritivo que refere ao processo de conhecimentos mais ou menos especializados e adquiridos mediante ao estudo. É sinónimo de conhecimento ou doutrina. Deste modo, considera-se homem culto, aquele que completou estudos superiores; possui conhecimentos sistemáticos resultantes da formação universitária. Na mesma ordem, o termo cultura refere-se a épocas particulares, daí, a designação da cultura renascentista, a cultura do século XX, etc.; 2. Significado antropológico – nasceu com o aparecimento da Antropologia científica e de forma lenta foi-se introduzindo no uso comum. Aqui, o termo cultura é reservado a uma concepção de vida especial de uma dada região ou localidade, como na expressão: cultura maconde, cultura ndau, cultura jaua, etc. Esta acepção conduz a consequências conceptuais e sociais limitativas. Por isso, é uma concepção refutada pelos antropólogos profissionais. Salmon, no século XVIII (1740) concebeu um mapa geográfico da África daquele século e nele representou áreas ocidentais correspondentes actualmente a países como Angola e Botswana e escreveu «nação selvagem que se diz, nem se quer conhece a palavra». Para os Humanistas e os povos da Antiguidade Clássica, os povos sem cultura eram os bárbaros (povos invasores que faziam lutas deconquistas, anexações territoriais, etc.). O s Iluministas do século XVIII, consideraram povos sem cultura aos naturais ou autóctones de qualquer região. Alegavam que a falta de viagens, não dá a possibilidade de alguém se familiarizar com as outras culturas de povos diferentes. Nesta base, a Antropologia começou a estudar os costumes e tradições dos povos por não concordar que haja povos sem cultura. A primeira formulação antropológica do termo cultura foi feita por Edward B. Taylor que definiu a cultura como sendo um complexo unitário que inclui conhecimentos, a crença, a moral, a religião, a arte, as leis e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo Homem como membro da sociedade. Um indivíduo simples pode-se ver como ele se insere na cultura e como esta serve para moldar a sua personalidade enquanto ele próprio participa activamente na sua criação, manifestação e manutenção. Para a comunidade, o complexo da cultura pode olhar-se na sua estrutura actual e operante, sob aspecto funcional e sincrónico, como um imediato e global e pode estudar-se sob aspecto histórico e diacrónico para reconstruir o seu processo evolutivo e causal. Como complexo unitário, a cultura assume ainda valor de património, um valor transmitido pelos pais e torna-se na herança tradicional que caracteriza não somente todo o indivíduo, mas também toda a sociedade. Os antropólogos americanos foram os estudiosos que mais se aplicaram ao estudo do conceito cultura ao ponto de tornar uma disciplina especializada denominada culturologia. As suas pesquisas alargaram-se a vasta problemática da dinâmica cultural da ontogênese (processo de formação e integração da cultura). Radcliff Brown em 1940 defendeu que a cultura não se observa porque tal palavra denota, não uma realidade concreta, mas uma observação bastante vaga. ……………………………….Hist/Geog…..11.o8.11……………………………….. Cultura e Civilização Na óptica de Bernardo Bernardi, cultura é a actividade humana, da sua constituição física e biológica como indivíduo e como pólo de realizações sociais. Luís Gonzaga de Mello, citando Claude Levi-Strauss compreende que cultura é um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crença, arte, moral, lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo Homem como membro duma sociedade. Francisco Lerma Martínez, defende que etimologicamente o termo cultura provém do Latim - COLERE significando cultivar, cuidar ou seja, apresenta um sentido ligado ao cultivo da terra, como: . Agri-cola = cultivador da terra; . Colonus = quem cultiva; . In-cola = morador; . Colónia = o local cultivado; . Colere terram – é o primeiro sentido de cultura, significando cuidar da terra; . Colere deos Loci ou Cultus deorum – cuidar os deuses da terra. Na Idade Média, os dois termos encontraram-se no ideal do centro de cultura – nos mosteiros. A acção da missão de São Bento da Núrsia – instituição criada para garantir uma convivência ecuménica alterando o cenário da vida particularista, simplista em que uns viviam na ociosidade e outros na penúria. Durante o Renascimento, com os humanistas, se desenvolveu um terceiro significado: cultivar espírito. George de Napolis, antropólogo americano e professor da Universidade Gregoriana de Roma, define a cultura como um conjunto de significados e valores partilhados e aceites por uma comunidade. É a maneira de viver de um grupo humano, valores e compartimentos que identifica os mesmos membros. É a cultura que distingue o Homem dos outros animais pelo reconhecimento da noção de consciência que está presente no Homem. A cultura é uma tarefa social e não um acto individual. É um conjunto de experiências vividas pelo Homem através da história. Ela adquire-se pelo processo de aprendizagem – socialização. Português – 12.08.11 Principais acepções da cultura Cultura objectiva e cultura subjectiva . Cultura objectiva – é a cultura enquanto exteriorizada. Todo o conjunto complexo da obra humana de todos os tempos e de toda a terra habitada pelos humanos; . Cultura subjectiva – é quando se refere ao conjunto de valores, conhecimentos, crenças, aptidões, qualidades e experiências presentes em cada indivíduo. Cultura real e cultura ideal; . Cultua real – é o que concretamente fazem as pessoas; . Cultura ideal – o comportamento que as pessoa dizem e acreditam que deviam ter. Principais características da cultura 1. A cultura é simbólica – a cultura é um conjunto de significados e valores transmitidos necessariamente através de símbolos e sinais. Símbolo é um fenómeno físico que tem um significado conferido por aqueles que o utilizam. 2. A cultura é social - o seu carácter permite que seja transmitida, comunicada e seja social. Os hábitos, os costumes e a padronização do comportamento aos processos sociais. A cultura pertence ao grupo humano a ela representada, transmite-se por meio da sociedade. O indivíduo atinge socialmente a cultura que lhe é transmitida por alguém que age em nome da sociedade. Segundo Keesing, a cultura não pode existir sem pessoas a ela relacionadas e transmitindo a seus descendentes. 3. A cultura é dinâmica e estável a) Estável - no sentido de identidade e tradição. Segundo Boka Di Mpasi "Religião e cultura em África" a tradição não significa repetição. Repetição Tradição 4. A cultura é selectiva - a cultura é um acto e facto humano contínuo, um processo que lhe implica reformulações. Esse processo de reformulações se acentua na sucessão de gerações. Alguns valores são relegados ao esquecimento e outros novos são integrados. 5. A cultura é universal e regional – a cultura é um fenómeno universal. Desde a existência da espécie humana, nunca foi encontrado um grupo que não tenha cultura. Cada grupo alimenta seus interesses, tarefas e dentro do conjunto cultural próprio e assim se formam padrões regionais de cultura conforme as situações próprias e as suas necessidades particulares. Os aspectos comuns a todas as culturas regionais denominam-se universais da cultura. 6. A cultura é determinante e determinada – a cultura faz o Homem e este faz a cultura porque impõe aos indivíduos e estes pouco podem fazer no sentido de fugir os padrões culturais socialmente aceites. . a cultura determina o comportamento humano na sua padronização. . a cultura é determinada na medida em que se transforma ao longo do tempo devido a seguintes factores: - modificações geográficas; - modificações sociais; - modificações demográficas; - modificações culturais, etc. ………………………………………………………………………………………………… …………………………………………………………………………………….. Relação entre cultura e sociedade Joseph H. Fichter entende sociedade como sendo um número maior de seres humanos que agem conjuntamente para satisfazer suas necessidades sociais e compartilham uma cultura comum. Kingsley Davis - divide o facto cultural em dois grupos ou tipos a saber: . Facto social bio-social – é um facto comum entre todos os animais e é herdado por hereditariedade (procriação); . Facto social sócio-cultural – é o fenómeno social próprio da espécie humana e é herdado pela cultura. Dinâmica – na lei da vida, a cultura muda com um ser vivo da espécie, as mudanças podem ser pequenas ou grandes, despercebidas ou grandes. Processo de endoculturação (inculturação) A endoculturação ou inculturação é o processo de ajustamento de respostas individuais aos padrões de cultura de uma sociedade. O primeiro especialista a utilizar o termo endoculturação, foi Melville Herskovits que defende que o processo de endoculturação começa após nascimento da criança porque a cultura não é transmitida biologicamente. Trata-sede um processo que inicia com a aparição da criança, vai-se consolidando durante o seu crescimento e se estende até a morte. Segundo Mischa Titiev "A ciência do Homem" a criança ao nascer tem um comportamento 100 % biológico. Ao crescer passa a receber o impacto da cultura e é levada a assimilar comportamentos padronizados que observa a sua volta. Assim, absorve o máximo da cultura e conforma o seu comportamento a ela. Aprenderá todo o dispositivo simbólico que lhe permitirá comunicar-se com os outros e tornará apta para o processo intelectual, sensitivo e volitivo. Adquirirá hábitos e costumes, disciplinar os seus movimentos biológicos e sofrerá uma mudança progressiva que transformará seu comportamento de 100 % biológico ao ponto de 100% cultural. Fig. Factores do processo de endoculturação ou inculturação. O processo de endoculturação ou inculturação apesar de estender-se por toda a vida do indivíduo, apresenta variações e intensidades diversas. Na criança, durante a sua infância, não há selecção. Ela assemelha-se a uma esponja que absorve tudo. Adquire os condicionamentos fundamentais como hábitos de dormir, de comer, de falar, de pensar, etc. Neste processo de inculturação, o indivíduo vai modelando a sua personalidade que perdura durante toda a vida, com aceitação ou repulsa consciente dos factos em função dos contextos adequados. A endoculturação é importante porque torna o indivíduo um membro ajustado à sociedade onde o seu comportamento atinge padrões culturais aceitáveis por todos. Etnocentrismo – é a atitude que os grupos humanos manifestam em se supervalorizar diante dos outros. É uma atitude que pode ser tomada como consequência do próprio processo de endoculturação ou inculturação. As Principais teorias ou escolas antropológicas 1. Evolucionismo - o estudo das sociedades humanas vivas na continuidade das interrogações renascentistas, só passou a representar um interesse real a partir do momento em que foi possível obter informações sobre as sociedades muito afastadas e estranhas do contexto europeu. O contacto estabelecido com os povos de todos os continentes graças a descoberta das vias marítimas pelos portugueses da época, constituiu um marco importante na história de toda a humanidade e que a Antropologia tira maior proveito para o conhecimento geral sobre o Homem. As primeiras descrições reveladoras de mundos distantes, diferentes e inanimados para os europeus do século XVI, suscitavam a curiosidade dos espíritos pelas revelações e eram feitas a cerca das novas criaturas humanas até aí desconhecidas e dos seus modos de viver na fase da terra. Como exemplos destas descrições destacam-se: a) A crónica dos descobrimentos e descoberta da Guiné – Gomes Eanes Zurara (1410-1474) – ele descreve o contacto dos portugueses com as tradições guineenses; b) O roteiro da viagem de Vasco da Gama – por Álvaro Velho (1497) descreve o encontro dos portugueses com os habitantes da baía de Santa Helena e São Brás; c) Carta de Pêro Vaz Caminha – um escrivão que viajou junto de Pedro Álvares Cabral, até ao Brasil. Tal carta tão volumosa, foi enviada ao rei de Portugal, D. Manuel, na qual se relatava o comportamento, o ornamento e a reacção ao vinho de uvas pelos ameríndios; d) Etiópia Oriental – de Frei João dos Santos (1609) – que relata as informações sobre os costumes, artes, ofícios, modos de viver e vestir, tatuagens, enfeites de cabeça dos vários povos da costa oriental africana, principalmente os macuas do norte de Moçambique; e) Aventura de viagens de Fernão Mendes Pinto (1510-1583), pelo oriente em peregrinação; f) Relatos sobre as viagens no Cazembe – de Lacerda entre os séculos XVIII e XIX; g) Considerações sobre a religiosidade dos pretos da África Ocidental portuguesa e da região central do Equador – por António Gil. 2. Evolucionismo Cultural – depois das reportagens trazidas ao mundo europeu pelos portugueses, a partir do século XV, devido as suas viagens marítimas, os séculos subsequentes, ou seja, os séculos XIX e XX constituíram momentos de euforia e optimismo. O século XX despoletou um medo enorme e apreensão devido aos progressos tecnológicos alcançados. Destas grandes vitórias tecnológicas e científicas registadas, atribui- se a sua autoria aos seguintes especialistas: a) Edward B. Taylor (1832-1917) – foi considerado pai da Etnologia por tentar sistematizar o estudo das culturas; b) Duncan Mitchell "Dicionário de Sociologia" na sua abordagem sobre a evolução social, apresenta alguns nomes como sendo os precursores do evolucionismo cultural da Etnologia e de entre eles, se destacam os seguintes: . Henry Maine (1622-1888) – estudou a organização da vida nas sociedades primitivas; . Saint – Simoin (1760-1825) – defendeu nas suas várias obras de que há uma sequência evolutiva através da qual toda a humanidade atravessa; . Auguste Comte (1798-1870) concordando com o seu antecessor, ele apresenta um esquema onde fala de um estado primitivo ou teológico, de um intermediário (metafísico) e o terceiro estado é o positivo ou científico. Segundo ele, todas as sociedades passam por todos estes três estados; . Herbert Spencer (1820-1903) foi o autor da expressão clássica "sobrevivência dos mais aptos e extinção dos mais fracos" mais tarde publicada por Charles Darwin e Wallace. Segundo Evans Pitchard, os primeiros a considerar a sociedade primitiva como tema interessante e merecedora de estudo, foram Mclenan e Taylor (Inglaterra) bem como o Lewis Morgan (América). Foram eles a extrair informações acerca das sociedades primitivas com base na selecção dos escritos sobre as diversas classes, apresentaram de forma sistematizada estabelecendo as bases da Antropologia Social. Em 1871, Taylor publicou a sua obra "cultura primitiva" onde mostra o desenvolvimento da prática religiosa. Foi responsável pelo conceito do termo cultura distinguido-o do de raça. James Frazer (1854-1941) escreveu sobre Antropologia Social onde apresenta três etapa da evolução pelas quais passam todas as sociedades: magia, religião e ciência. Evolucionismo Cultural: principais características 1. Amplitude do objecto de estudo – o evolucionismo visava o estudo da cultura definida por Taylor como sendo um conjunto complexo que inclui conhecimentos, a moral, a arte, a religião, os hábitos e costumes e várias outras aptidões adquiridas pelo Homem como membro de uma determinada sociedade. A Antropologia nascente do século XIX, abrangia um vasto campo de estudo, respeitava as diferenças e semelhanças culturais dos povos. Segundo esta holística antropológica emergente, o evolucionismo começou a acreditar na noção de unidade psíquica do Homem (todos os povos mais cedo ou mais tarde evoluíram e evoluirão em sua cultura). Este posicionamento refuta a postura de Montesquieu segundo a qual, as mutações culturais devem-se ao ambiente onde-se insere cada sociedade, daí, os africanos por excelência são povos atrasados até a sua eternidade. Para Lewis Morgan, o aspecto material ou técnico é o grande responsável pela transformação na organização das sociedades e posterior transformação do equipamento. A amplitude do objecto do estudo permitiu o desenvolvimento acelerado de actividades científicas que vieram ampliar o conhecimento sobre o passado humano, pois, foi privilegiado o estudo da Arqueologia e da Paleontologia históricas. Deste modo, o estudo e a abordagem sobre o Homem e da sua cultura passou a não ser apenas um dogma religioso. 2. Factor tempo – o evolucionismo procura criar um novo tempo cultural onde apresenta as fases ou estágios da evolução cultural. Foi assim que surgiram os termos como tempo primitivo, tempo moderno e outros, para os evolucionistas,os níveis de desenvolvimento cultural determinam também o tempo da vivência do Homem que com a qual se identifica. 3. O método comparativo - é o método que tinha por objectivo explicar aquilo que se ignorava quase que completamente. Foi um método usado pela primeira vez por Aristóteles no seu estudo sobre os sistemas políticos. Desta visão, a ciência antropológica veio dar uma revolução ao método comparativo privilegiando observações nas diferenças e semelhanças dos factos sociais. Analisando o método comparativo do século XIX, Percy S. Cohen diz que em todo o século XIX, houve uma ligação entre o método comparativo e a abordagem evolucionista fundamentalmente pela influência crescente da corrente identificada com o darwinismo. John Stewart Mill (1806-1873) – demonstrava que o método comparativo era apenas uma aplicação da lógica científica para os casos já dados. Nos dias correntes, o método comparativo é enfatizado nas ciências humanas por Emile Durkhein e Marx Weber. Os evolucionistas falharam nas metodologias usadas e por não fazer a crítica das fontes usadas para as suas informações, pois, basearam-se somente nas narrações bíblicas e na mitologia grega da época. Mas foi o evolucionismo que começou com o método comparativo de forma mis correcta quando passou a estudar os povos primitivos contemporâneos para através das observações concretas, aumentar o seu verdadeiro conhecimento cultural universal. …………………………………….Hipogep…17.08.11……………………………… 4. Principais temas e conceitos – para os evolucionistas, os principais temas da sua análise, foram as instituições familiares e religiosas. De igual modo, preocuparam-se também ao estudo das instituições jurídicas e dos aspectos da cultura material – como foi o caso do Morgan. Morgan defendia que a história do género humano é única em sua origem, na sua experiência e no seu progresso (ele refutava a existência de povos primitivos, bárbaros e civilizados). Os principais conceitos introduzidos pelo evolucionismo foram: cultura, sistema de parentesco, sobrevivência, aderência, evolução cultural, religião, magia simpática, totemismo, clã, tribo, frataria, descendência matrilinear ou patrilinear, etc. Dinamismo Cultural: a cultura como processo As culturas estão sempre em movimento, mesmo aquelas consideras como sendo impávidas, inertes ou semi-morfas. Todas elas vibram, palpitam e tem vida. Em cada membro estão os valores culturais. Deste modo, a cultua constitui um modo colectivo de provar a sobrevivência de todos e de cada um dos membros da população. Em linhas gerais, o comportamento cultural assenta-se em dois extremos sem nunca atingidos completamente: 1. Estado de estabilidade ou funcionamento – a cultura é um padrão de comportamento colectivo sempre actualizado cujas raízes se perdem no espácio-temporal (estrutura). O estado de estabilidade é considerado por vários autores especialmente Claude Levi-Strauss, Pagés, Eric Wolf, Lefebvre, Aron e outros referenciados por Roger Bastide, em 1950, como sendo estrutura. 2. Mudança ou transformação – a cultura nasce, cresce, se desenvolve, atinge o auge e decai. Difusão cultural Todos os antropólogos são unânimes em reconhecer que o fenómeno da difusão cultural é incontestável e é importante na vida dos seres humanos. Segundo Ralph Linton: "O cidadão americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional antes de ser transmitido a América. Sai das mantas de algodão cuja planta foi domesticada na Índia ou de linho e lã de carneiro domesticado no Próximo Oriente. Lava-se com sabão inventado pelos antigos gauleses; faz a barba que é um ritual dos sumérios do Egipto Antigo. As suas roupas tem a forma de peles das estepes dos nómadas da Ásia; tem sapatos de pele curtida por um processo inventado no Egipto e com um feitio do Mediterrâneo. Antes de ir tomar café, olha as ruas pela vidraça feita de vidro inventado no Egipto e se estiver chovendo, calça galochas de borracha descobertas pelos índios da América Central e toma um guarda chuva inventado no sudoeste asiático. A caminho do café, pára para comprar um jornal pagando com moedas, invenção da Líbia Antiga. O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada da China e a faca é feita de liga de aço inventado pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo foi inventado na Itália medieval e a colher vem de um original romano. Começa o seu café com uma laranja vinda do Mediterrâneo, melão da Pérsia (Irão) e uma melancia africana , tomando café, planta africana da Abissínia (Etiópia)". Toma um xarope de maçã inventado pelos índios da floresta do leste dos Estados Unidos da América; come ovo duma espécie de ave domesticada da Indochina; finas fatias de carne de um animal domesticado da Ásia Oriental e come salgados e defumados por um processo desenvolvido na Europa. Acabando de comer, fuma, hábito implantado pelos índios americanos mas utilizando uma planta tipicamente do Brasil e usando um cachimbo dos índios da Virgínia ou cigarros provenientes do México. Mas também pode usar um charuto transmitido à América do Norte pelas Antilhas por intermédio da Espanha. Com este texto, pode-se entender a Difusão Cultural como sendo um processo universal de cultura que consiste na propagação de elementos de uma dada cultura para outras culturas através de contactos entre povos. Processo de aculturação Em 1880, J. W. Powell utilizou o termo aculturação para significar empréstimos culturais entre diferentes povos localizados em distintos quadrantes do globo terrestre. Em 1899, Franz Boas usou o conceito difusão cultural para os estudos sobre a disseminação das culturas. Para Melville J. Herskovits, a difusão cultural é o processo de transmissão cultural consumada enquanto que aculturação é estudo da transmissão da cultura em marcha. Darcy Ribeiro "os índios e a civilização" defende que no processo de aculturação, as culturas de alto índice técnico em contacto com as do baixo nível de desenvolvimento técnico, as de baixo índice tecnológico acabam sendo absorvidas. Estudo do Parentesco na Antropologia Parentesco refere-se aos laços de consanguinidade que marcam a ligação entre os seres humanos. Mas também referem-se aos laços de afinidade como por exemplo, o casamento. O parentesco no sentido amplo tem três tipos de laços: a) Laços de sangue - descendência; b) Laços de afinidade – casamento ou matrimónio; c) Laços fictícios – adopção. Descendência – são laços ou relações do indivíduo com os seus parentes de sangue. Portanto, é uma relação biológica. Em algumas sociedades, leva-se em consideração apenas a descendência unilateral, seja de pai ou de mãe. Segundo Tornay Copans "Antropologia, ciência das sociedades primitivas", entre o homem e a mulher quem teria precedido o outro para o desenvolvimento da humanidade? (História de Adão e Eva = Adam e Hawa ) Nas sociedades modernas, a descendência é bilateral. Consideram portanto, ancestrais tanto o pai como também a mãe. A descendência matrilinear é também conhecida por uterina e a patrilinear é também chamada por agnática. A descendência é igualmente chamada por linhagem. Desta feita, sistema matriarcal ou patriarcal é diferente de linhagem ou descendência matriarcal ou patriarcal. Os sistemas referem-se aos regimes políticos, o exercício do poder. Descendência unilinear dupla – trata-se de uma sociedade onde não se considera de forma igual a descendência pelas duas linhas. Assim o reconhecimento unilinear é por certos objectivos que tem em vista conforme diz Lacy Mair in Introdução a Antropologia Social " Para os Yakö, do Cross River, na Nigéria Oriental, a descendência matrilinear tem uma importânciaadicional. A terra é propriedade das patrilinhagens… o gado e dinheiro, ferramentas, armas e utensílios domésticos são herdados na linha feminina". Pai e genitor – genitor é o pai biológico. Pai refere-se ao pai social. O pai é um dado cultural, socialmente reconhecido. O biológico é um e único. Nomenclatura de parentesco – também chamada por terminologia de parentesco é o sistema simbólico de denominação das posições relativas aos laços de descendência e de afinidade. São exemplos de nomenclaturas os termos como: pai, mãe, tio, irmão, imã, primo, esposa, etc. Os antropólogos classificam as nomenclaturas em dois tipos: 1. Descritivo – são aqueles em que usa um termo diferente para designar cada parente normalmente em linha directa de um descendente, tal como o pai ou mãe; 2. Classificatório – é o sistema que não restringe a utilização de um termo a um único indivíduo. Emprega um termo para designar uma classe ou grupo de pessoas algumas das quais são de parentesco linear outras de colateral. Por exemplo o termo pai, pode designar o irmão do pai. Clã – é o conjunto de pessoas que acreditam derivar de um único ancestral comum. Foi o sistema governativo predominante no mundo antigo na Ásia, África, Europa e Austrália. Fratria – é o conjunto de vários clãs. Apresentação gráfica dos laços de parentesco - Homem - Mulher - Sexo indiferente - Homem ou Mulher - Falecido - Primogénito - irmão ou seja, filho mais velho - primogénita – irmã ou seja, filha mais velha - Casamento - Casamento polígamo - Filiação - germandade – relação entre irmãos - Divórcio. Os símbolos de diagrama de parentesco P= primos paralelos Px= primos cruzados G+= gerações superiores G-= gerações inferiores G0= gerações zero Primos paralelos – são indivíduos nascidos de irmãos do mesmo sexo; Primos cruzados – são os indivíduos cujos progenitores são de sexos diferentes. Para a leitura de diagramas genealógicos, existem diferentes parâmetros que cruzados permitem indicar com rigor a posição de cada indivíduo em referência a outro, determinando assim o tipo de relação de parentesco entre eles. Os parâmetros são os seguintes: a) Linha recta – ao longo da qual se encontram os ascendentes e os descendentes; b) Linhas colaterais – nas quais se distribuem os colaterais a diferentes níveis. Aqui, os irmãos são os primeiros colaterais e o ponto de partida para a contagem de tantos outros; c) O grau de consanguinidade – informa sobre a maior ou menor proximidade parental dentro de uma certa categoria (por exemplo, entre primos); d) O grau genealógico – indica a posição do indivíduo no grupo de parentesco. As abreviações Para além dos símbolos utilizados para construir os diagramas genealógicos, utiliza-se também um sistema de abreviações ou de notação dos termos de parentesco, representando uma criação científica universalmente aceite. Os primeiros a fornecer a aplicação correcta da nomenclatura do parentesco, foram os ingleses e mais tarde os franceses. Na língua portuguesa, a notação das relações de parentesco são: Consanguíneos P - pai; M - mãe; Fo - filho; Fa - filha; Io - irmão; Iã - irmã; IoP/IoM – tio (irmão do pai ou irmão da mãe); IãP/IãM – tia (irmã do pai ou irmã da mãe); FoI/FoIã – sobrinho (filho do irmão ou filho da irmã); FoIoP/FoIoM/FoIãP/FoIãM – primo (filho do irmão do pai ou filho do irmão da mãe ou filho da irmã do pai ou filho da irmã da mãe). Pgt = primogénito Laços de parentesco afins: Mdo - marido; Esp/mer – esposa ou mulher Io Mdo/Io Mer; MdoIã/MdoIãMdo/MdoIãEsp - Cunhado (irmão do marido ou irmão a mulher; marido da irmã ou marido da irmã do marido ou marido da irmã da esposa). Sumário de abreviaturas: tipos primários de parentes Inglês Português Abreviaturas Father Pai Fa F F Mother Mãe Mo M M Husband Marido Hu H H Wife Esposa Wi W W Brother Irmão Br B B Sister Irmã Si Z Z Son Filho So S s Daughter Filha Da D d Para Schuscky, a melhor de eliminar a confusão dos antropólogos de usar sistemas variados de parentesco, é bom que se use o método latino que consiste no seguinte: Inglês Português Abreviaturas Termo latim Father Pai Fa F F Pater P Mother Mãe M M Mater M Husband Marido Hu H H Spnsus Sp Wife Esposa Wi W W Uxor U Brother Irmão Br B Frater F Sister Irmã Si Z Z Soror s Son Filho So S s Filius Fu Daughter Filha Da D d Filia Fa O casamento e a aliança matrimonial O casamento de dois indivíduos de sexos diferentes pressupõe uma aliança entre grupos distintos. O grau de distância consanguínea entre os grupos de onde emanam os indivíduos esposáveis pode ser consideravelmente variado duma sociedade para outra, pelo que a aliança pode realizar-se fora de qualquer laco de parentesco, como dentro de um grupo de consanguíneos relativamente próximos. O incesto como proibição universal de relações sexuais entre os consanguíneos, geralmente com os parentes do primeiro grau, obriga a procura de cônjuges fora de circulo de aparentados consanguineamente próximos. Esta proibição de carácter universal, tem como característica fundamental, a proibição de casamento entre irmãos. Segundo Claude Levi-Strauss, em 1967, defendeu que a aliança corresponde a escolha de cônjuge segundo dois grandes modelos: 1. Regras positivas – indicam preferencialmente a escolha do cônjuge; 2. Regras negativas – limitam-se a proibir um pequeno circulo de parentes consanguineamente muito próximos, deixando livre a escolha do cônjuge relativamente a indivíduos não aparentados ou ao conjunto dos outros parentes. As regras positivas são também chamadas por estruturas elementares do parentesco que tem um carácter positivo no sentido em que a escolha do cônjuge deve ser realizada numa zona determinada do parentesco. As regras negativas são igualmente conhecidas por estruturas complexas do parentesco, são mais aplicáveis no contexto europeu em que o código civil e a igreja limitam as regras definindo uma zona de parentesco cujos membros não podem contrair matrimónios entre eles. Os tipos de casamento 1. Monogamia ou poligamia –numerosos povos praticam a poligamia. A poligamia divide-se em duas partes e práticas distintas conhecidas no contexto universal que são: a) A poligínia – é típica da cultura islâmica e consiste em um único homem ter várias esposas; b) A poliandria – é o inverso da poligínia ou seja, uma única mulher tem vários maridos legalmente autorizados. É uma prática peculiar dos Toda (grupo tribal existente no norte da Índia ou no Tibete) em que é feita de forma délfica (todos os maridos dessa mesma mulher devem ser irmãos carnais) entre si. 2. O levirato ou sororato – o levirato é uma forma de casamento considerado secundário, na medida em que é precedido por um primeiro. Consiste na obrigação que uma mulher tem em casar com o irmao do seu marido falecido. Os filhos saídos deste novo casamentonão são considerados como deste genitor, mas, do falecido. Em certas sociedades poligínicas, quando um homem morre, os seus filhos partilham as suas várias esposas entre si, com a excepção da sua própria mãe (prática típica dos Arapesh, também na Índia). O inverso de levirato está o sororato que consiste no princípio segundo qual, quando uma mulher morre, os seus parentes de origem, tem a obrigação de fornecer uma outra mulher em substituição da primeira. Procedência dos cônjuges a) Casamento exogâmico – os cônjuges são de grupos de parentesco diferentes; b) Casamento endogâmico – é feito por indivíduos do mesmo grupo de parentesco. Formas de obtenção da esposa 1. Casamento por captura – consiste no rapto ou roubo da moça, que será feita como futura esposa; 2. Casamento por fuga – não sendo do agrado e consentimento dos pais, a jovem menina foge para se encontrar e casar com o seu futuro marido; 3. Casamento por serviço – quando é feito como condição para alguém se empregar ou atingir níveis de direcção; 4. Casamento de compra – trata-se de lobolo ou dote; 5. Casamento por herança – quando alguém as esposas do falecido pai, a viúva do irmao (levirato) ou a irmã da esposa falecida (sororato). Residência matrimonial Em muitas sociedades, o local da residência matrimonial é determinado pelas regas e sistemas de parentesco. A partir de experiências do terreno, os antropólogos elaboraram uma tipologia específica de residência matrimonial que respeita os seguintes modelos principais: 1. Residência patrilocal – corresponde a regra que leva a que os dois cônjuges devam residir na casa ou terras do pai do marido; 2. Residência virilocal – os cônjuges estabelecem-se nas terras e na casa própria e não no grupo de parentes do marido; 3. Residência matrilocal – o casal vive junto dos parentes da mãe da esposa ou no seu território; 4. Residência uxorilocal – os cônjuges instalam-se na casa da mulher; 5. Residência bilocal – não impõe um único local de domicilio. O casal pode escolher em funcao de determinados critérios, o local de residência que ode ser junto de parentes do marido ou da esposa. Segundo a escolha, o casal integra-se num ou noutro grupo de parentes podendo um dos cônjuges deixar de ser membro de origem abandonada. É uma prática típica dos Iban do Bornéu, na França. 6. Residência alternada – consiste em alternar entre a residência patrilocal e a matrilocal. Pode ser uma alternância periódica em funcao das regras estabelecidas. Os Boschimanes são obrigados a viver na casa do pai da esposa até o nascimento de determinado número de filhos, antes de mudar para ir residir em casa dos parentes do marido; 7. Residência duolocal ou natal – cada um dos cônjuges vive separadamente em casa dos seus respectivos pais. Os homens Ashanti, casados vivem na casa da sua mãe juntamente com os seus irmãos e irmãs e filhos das irmãs. As esposas vivem na casa das suas mães junto dos filhos onde confeccionam comida que é levada por estes ao seu respectivo pai genitor. Segundo B. O´Neil em 1984, no norte de Portugal, os cônjuges viviam e trabalhavam separadamente durante o dia em casa de seus respectivos pais e só passavam a noite juntos na casa da esposa. 8. Residência avuncolocal – um casal vai residir junto do irmão da mãe do marido; 9. Residência neo-local – os cônjuges vivem num local independente, neutro, fora dos parentes de cada um. FIM.
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