Buscar

ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA Unidade I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Autora: Profa. Maria Aparecida de Almeida
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Glaucia Aquino 
Profa. Angélica Carlini
Antropologia e
Cultura Brasileira
Professora conteudista: Maria Aparecida de Almeida
Olá, aluno! Bem-vindo à disciplina de Antropologia e cultura brasileira. Eu sou a professora Maria Aparecida de 
Almeida e elaborei o conteúdo deste livro texto. Sou brasileira, nascida na cidade de Ivaiporã, Paraná, em 14 de maio de 
1968. Sou formada em Ciências sociais (Antropologia, Ciências políticas, Sociologia), bacharelado e licenciatura, pela 
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, de 1991 a 1994. Entre 1994 e 1996 realizei cursos na Universidade de 
Campinas, como aluna especial do mestrado, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. A partir de 1996, comecei 
a lecionar História, Geografia, Sociologia e Pesquisa de mercado, nos cursos técnicos de 2º grau do Colégio Politécnico 
Bento Quirino, em Campinas, e, também, nesse momento realizei o curso de especialização em Marketing e negócios. 
Em 2000, fui convidada a ministrar aulas na Universidade Paulista, campus Sorocaba, trabalhando as disciplinas de 
Estatística, Pesquisa de mercado e opinião, Sociologia da comunicação, Métodos e técnicas de pesquisa, Metodologia 
do trabalho acadêmico, Filosofia geral, Filosofia da ciência, Homem e sociedade e Ciências sociais. Entre 2007 e 2008, 
sentindo a necessidade de aperfeiçoar meus estudos e voltando à Pontifícia Universidade Católica para realizar meu 
mestrado em Educação, analisei o programa PROUNI, uma política pública implantada no primeiro governo de Lula. 
Atualmente, realizo um curso de especialização em Ensino a distância, na Universidade Paulista.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A447a Almeida, Maria Aparecida de
Antropologia e cultura brasileira / Maria Aparecida de Almeida. 
- São Paulo: Editora Sol, 2011. 
148 p., il.
Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-043/11, ISSN 1517-9230. 
1. Antropologia. 2. Cultura brasileira. 3. Sociedade brasileira I. 
Título
CDU 572.1/.4
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Alessandro de Paula
Sumário
Antropologia e Cultura Brasileira
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................................11
Unidade I
1 VISÃO GERAL SOBRE A ANTROPOLOGIA ............................................................................................... 15
2 OS ANTROPÓLOGOS NO GABINETE ......................................................................................................... 22
2.1 O evolucionismo social ...................................................................................................................... 22
2.2 O positivismo .......................................................................................................................................... 25
2.3 Determinismo biológico e determinismo geográfico ............................................................ 27
3 OS ANTROPÓLOGOS VÃO PARA O CAMPO ........................................................................................... 31
3.1 O funcionalismo .................................................................................................................................... 31
3.2 O culturalismo norte-americano ................................................................................................... 35
3.3 O estruturalismo ................................................................................................................................... 37
3.4 A Antropologia interpretativa ......................................................................................................... 40
4 A CRÍTICA DOS PARADIGMAS TEÓRICOS .............................................................................................. 41
4.1 A Antropologia pós-moderna ou crítica ..................................................................................... 41
Unidade II
5 A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA .......................................................................................... 49
5.1 Histórico da formação da sociedade brasileira ........................................................................ 49
6 UMA ANTROPOLOGIA DO BRASIL: OS PILARES .................................................................................. 58
6.1 A perspectiva de Gilberto Freyre em Casa-grande e senzala ............................................. 58
6.2 A perspectiva de Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil ...................................71
6.2.1 Pedagogia moderna e as virtudes antifamiliares....................................................................... 73
6.2.2 A identidade do homem cordial ....................................................................................................... 79
6.3 A perspectiva de Darcy Ribeiro em O povo brasileiro ............................................................ 83
6.3.1 A formação da organização social do Brasil ................................................................................ 84
6.3.2 Conformação urbana e cultural........................................................................................................ 87
6.3.3 Deterioração urbana .............................................................................................................................. 93
6.3.4 Classe, cor e preconceito ..................................................................................................................... 96
6.3.5 Raça e cor ................................................................................................................................................103
7 A CULTURA É POPULAR OU ERUDITA? .................................................................................................107
7.1 Cultura popular e cultura erudita ...............................................................................................108
7.2 Cultura popular ou folclore? ......................................................................................................... 112
8 INDÚSTRIA CULTURAL ................................................................................................................................. 115
7
APRESENTAÇÃO
Este livro texto pretende apresentar a você, aluno de Serviço social, um pouco do conhecimento 
da Antropologia. Buscando inseri-lo no mundo da universidade, da ciência, assim sendo, no mundo 
científico.
No final da apostila consta a referência, você indo até lá, conseguirá todos os dados da obra.
Por falarem textos e leituras, acredito que seja apropriado apresentar uma estória, anedota muito 
bem contada por Santos (2005, p. 11-12):
Um dia um homem acordou e verificou que precisava fazer uns concertos 
em casa, mas não tinha martelo. Resolveu, então, que pediria um martelo 
emprestado ao vizinho, mas logo pensou: “E se ele não me emprestar o martelo? 
Pode estar de mau humor, ou quem sabe estará utilizando o martelo, quem 
sabe não quer ser incomodado e pode ficar chateado comigo...”. E foi assim 
durante a manhã. O homem andava de um lado para o outro, coçava a cabeça, 
queixava-se para a esposa a falta que fazia um martelo e falava de sua certeza 
da má vontade do vizinho. A mulher ouvia, ouvia e comentava vez por outra: 
“– Você já experimentou ir até lá e pedir o martelo emprestado?”. O homem 
não ouvia a esposa. Continuava remoendo-se, chateando-se antecipadamente 
com o vizinho que, pensava ele, não lhe emprestaria a ferramenta. Perto 
da hora do almoço, já cansado e ansioso (na verdade, bastante irritado), o 
homem levantou-se, saiu de casa, caminhou apressado e, de punhos cerrados 
em direção à porta do vizinho, tocou insistentemente a campainha. Quando 
o vizinho abriu a porta, o homem foi logo falando aos berros: “– Olhe aqui, 
você pensa que é o dono do mundo, não é? Acha que estou precisando do seu 
martelo? Acha? Pois eu não estou nem aí, pode ficar com ele, seu egoísta!”. 
Virou-se e voltou para sua casa, deixando o vizinho com boca de espanto, 
paralisado pelo susto. Moral da estória: nem fez os consertos que precisava 
fazer, nem ficou sabendo se o vizinho emprestaria o martelo! Além de tudo 
ficou estressado e perdeu toda a manhã por conta do tal martelo.
Conforme Santos (2005), o mesmo acontece com os alunos universitários quando precisam ler um 
texto, ou escrever um. É como na história do martelo. O problema não está no martelo (texto), mas nas 
cabeças, por causa da nossa história de vida, dos nossos hábitos, pela deficiência recebida ao passarmos 
pelos níveis de ensino anteriores. Assim, passamos a brigar com o autor (o vizinho), sem nem mesmo 
tê-lo ouvido.
Os textos são ferramentas que usamos para dizer ou para ouvir sobre determinados temas produzidos 
e você terá que utilizar essa ferramenta também, ora como aluno, ora como profissional do Serviço 
social, ora como cientista, um pesquisador.
8
 Observação
Uma dica para leitura: para você ler e escrever textos, na universidade, 
são necessárias certas normas, assim vou utilizar uma que se chama 
autor/data, isto é, cada vez que eu usar uma obra de algum autor, você 
verá o sobrenome-nome e o ano, além disso, se eu copiar o pensamento 
do mesmo, além do sobrenome-nome e ano, aparecerá também a página 
da obra. Exemplo: Laplantine (1991, p. 50).
Por que aprender Antropologia?
Você está realizando um curso universitário para se tornar um assistente social. Logo, terá que ler 
muitos textos e escrevê-los também, já que esses fazem parte das ferramentas utilizadas no curso. 
Assim, para aprender Antropologia, você precisa ler.
 Saiba mais
Por que o assistente social precisa aprender Antropologia?
Leia e reflita sobre o artigo “Quando o pobre é o ‘outro’”, de Andréa 
Moraes Alves e Myriam Moraes Lins de Barros, disponível na internet no 
seguinte endereço: www.abant.org.br/file?id=43.
O objetivo de você aprender Antropologia está colocado no foco da sua profissão.
Veja!
O Serviço social é uma profissão que lida com a sociedade, analisando e buscando diminuir as 
desigualdades sociais. Em seu trabalho de assistente social, você terá como objetivo garantir que os 
direitos e a assistência atendam à população necessitada, a partir das políticas sociais.
O assistente social elabora seu trabalho a partir de pesquisas e análises sobre a realidade social, na 
criação, realização e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que atendam e defendam a 
extensão dos direitos humanos e da justiça social.
Campos de trabalho de um assistente social:
• Serviços sociais oferecidos pelo governo.
• Hospitais.
• Escolas.
9
• Administração municipal, estadual e federal.
• Conselhos de direito.
• Movimentos sociais.
 Observação
A sociedade é o seu foco de trabalho. Especialmente os seres humanos 
que precisam de ajuda.
A Antropologia é a ciência que irá ajudá-lo, como assistente social, a entender os seres humanos.
Nós somos diferentes, para começo de conversa, dos outros animais.
 Observação
O que nos leva a ser diferentes dos outros animais? Você vai 
responder que somos racionais, mas a Antropologia vai dizer outra 
coisa. Veja!
Seria muito pouco dizer que é a cultura. Primeiro, faz-se necessário saber o que é a cultura como 
objeto da Antropologia. E, para que você saiba o que é a cultura, como esse conceito foi se constituindo 
através da história, faz-se necessário saber o que é a ciência chamada Antropologia e como esta se 
constituiu.
A sociedade do modo de produção capitalista é formada pela estrutura de classes sociais. Estas 
classes se relacionam a partir do momento da produção. Isto é, no momento em que o dono da empresa, 
chamado de capitalista, contrata o trabalhador, que a partir de agora chamaremos de proletário. O 
conjunto de proletários, isto é, trabalhadores, vai formar o proletariado.
É justamente no momento da relação social entre as classes que o assistente social vai atuar, pois “o serviço 
social aponta para uma visão das relações sociais orientada pela perspectiva da exploração e da alienação” 
(ALVES & BARROS, 2007, p. 2). Isto é, a nossa sociedade é marcada pela desigualdade entre os seres humanos. 
Desta forma, sua profissão vai levá-lo a refletir sobre essa desigualdade e as contradições existentes, buscando 
criar estratégias políticas para enfrentar os efeitos da exploração.
O assistente social, segundo Alves e Barros (2007), analisa a questão do poder em nossa 
sociedade, sendo esse seu campo de trabalho a questão da desigualdade. É justamente nesse 
ponto que entra a Antropologia, para ajudá-lo a entender a noção de diferença e, a partir 
desta, a categoria de raça. A distinção de raça está presente na história da Antropologia desde 
o período colonial. As relações de trabalho na sociedade capitalista, segundo a Antropologia, 
10
ultrapassaram o processo de obtenção de riqueza a partir da exploração do trabalhador, utilizando 
como elemento fundamental as outras relações sociais e culturais.
Em nosso país, a raça sempre acompanhou a questão do trabalho, tornando-se um adjetivo 
do trabalhador. Assim, existe o trabalhador índio, negro, italiano, imigrante. Denotando 
diferenciações entre eles e chegando ao ponto dos seres humanos serem classificados em 
quanto superior e inferior segundo suas características biológicas, geográficas, econômicas, 
culturais e sociais.
Assim, conforme eu explicar como a Antropologia surgiu, você poderá compreender como 
a sociedade contemporânea (atual) foi sendo criada; poderá entender melhor nossa condição de 
seres humanos; refletir a partir da Antropologia para analisar os efeitos da globalização, bem como 
compreender a diversidade da sociedade e da cultura brasileira, que é não contexto no qual exercerá 
sua profissão.
 Lembrete
Estes estudos que você agora inicia irão ajudá-lo a ter um olhar 
antropológico sobre o outro, compreendendo que ele é diferente de 
você e permitindo que possa entender o porquê dessas diferenças. E esta 
compreensão é essencial, pois o outro é, justamente, a pessoa que você vai 
assistir em sua vida profissional.
Para que possa compreender melhor do que trataremos, apresento-lhe o Plano de Ensino:
I – Ementa
A cultura enquanto objeto de estudo da Antropologia. As noções antropológicas de cultura e as 
representações simbólicas. O relativismo cultural, etnocentrismo e diversidade cultural. As diferentes 
formas de produção cultural. A análise da formação cultural brasileira. A formação da sociedade 
capitalista no Brasil e a cultura, a mundialização da cultura no Brasil. A diversidade culturale a 
identidade cultural no Brasil.
II – Objetivos gerais
1. Oferecer linguagem e metodologia específica no que diz respeito à relação entre Antropologia e 
Cultura.
2. Analisar criticamente a formação econômica, política e cultural brasileira, ressaltando suas bases 
culturais.
11
III – Objetivos específicos
1. Capacitar o aluno para identificar os referenciais étnicos.
2. Compreender a relação cultural brasileira contemporânea com a questão da identidade cultural, 
sob os efeitos da mundialização da cultura no Brasil.
3. Oferecer linguagem e metodologia específica da sustentabilidade cultural.
Vamos caminhando!
INTRODUÇÃO
Em um primeiro momento, você pode encontrar-se perguntando: “O que é essa tal Antropologia?”.
Pois bem, seria simples dizer que Antropologia é o estudo do homem (antropos = homem; logia = 
estudo), mas só isso não basta, já que se pode estudar o homem de várias formas. Assim, ela é um estudo 
sobre as diversas culturas que são elaboradas pelo homem.
Por enquanto, basta compreender que a Antropologia é uma ciência, isto é, “um conjunto de 
teorias (nem sempre concordantes) e diferentes métodos1 e técnicas2 de pesquisa que buscam explicar, 
compreender ou interpretar as mais diversas práticas dos homens e mulheres em sociedade.” (SANTOS, 
2005, p. 19).
Muitas destas teorias realizam pesquisa de campo, e os antropólogos acabam por conviver com 
grupos locais e aprende seus modos de vida, costumes, hábitos, crenças etc. buscando relacionar 
essas dimensões sociais com o objetivo de compreender essa cultura, sua maneira de pensar, sentir 
e agir.
A Antropologia é um conhecimento que começa a ser discutido no século XVIII, mas que se torna 
ciência apenas no século XIX.
No início, é chamada apenas de Antropologia e, posteriormente, ganha também a composição 
de “social” ou “cultural”. Mas não existe apenas essa área do conhecimento e, para que seja possível 
compreender melhor o homem e as várias dimensões do ser humano em sociedade, fui buscar Laplantine 
(1991), que diz que há cinco áreas principais da antropologia, e que as mesmas não são possíveis de 
serem dominadas por um único pesquisador. Porém, é preciso saber que essas áreas possuem relações 
estreitas entre si. Observe o quadro a seguir:
1 Significado de Método: s.m. Maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, segundo certos princípios e em 
determinada ordem... Dicionário online de português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/metodo/. Acesso em 25 mar. 
2011. Nota inserida.
2 Significado de Técnica: s.f. Conjunto de métodos e processos de uma arte ou de uma profissão: técnica cirúrgica. 
P. ext. Maneira (hábil) de agir, método. Dicionário online de português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/tecnica/. 
Acesso em 25 mar. 2011. Nota inserida.
12
Quadro 1 – As principais áreas da antropologia. 
Áreas da Antropologia Características
Antropologia biológica
(conhecida também como 
Antropologia física)
Refere-se ao estudo das variações biológicas do homem em determinado 
espaço e tempo. Busca analisar as relações entre a herança genética e 
o meio (geográfico, ecológico, social). Assim, o antropólogo biologista 
considera os fatores culturais como os que influenciam no crescimento 
e na maturação do indivíduo. Por exemplo, “por que o desenvolvimento 
psicomotor da criança africana é mais adiantado do que o da criança 
europeia?” (ibid., p. 17). Essa área da ciência antropológica, além de 
estudar as formas de crânios, medir esqueletos, tamanho, peso, cor da 
pele, comparar anatomia das etnias e dos sexos, a partir dos anos 1950, 
tem atenção especial pela genética das populações, podendo, com suas 
investigações, distinguir o que é inato3 e o que é adquirido, bem como a 
interação entre os mesmos. 
Antropologia pré-histórica
Estuda o homem a partir dos vestígios materiais enterrados, é a parte que 
se liga à Arqueologia, busca reconstruir as sociedades desaparecidas, isto 
é, suas técnicas, organizações sociais, produções culturais e artísticas. 
Antropologia linguística
A linguagem é a forma utilizada pelos indivíduos de uma sociedade de se 
expressarem e demonstrarem seus valores e seus pensamentos. A partir 
do estudo da língua, é possível compreender como os sujeitos pensam e 
o que sentem sobre o que vivem; como divulgam seu contexto social (a 
literatura escrita e oral); e, por fim, como eles interpretam o seu saber. 
Antropologia psicológica
É a área que estuda os processos e o funcionamento do psiquismo humano. 
Isto é, a partir dos comportamentos, conscientes e inconscientes, das 
pessoas, é possível apreender a totalidade dos comportamentos sociais.
Antropologia social e cultural 
(ou Etnologia)
Essa tem como abrangência tudo que diz respeito a uma sociedade: “seus 
modos de produção econômica, suas técnicas, sua organização política 
e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, 
suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas criações artísticas”. 
(ibid., p. 19).
Fonte: Laplantine, 1991.
 Lembrete
A área que será abordada aqui é a Antropologia social ou cultural. Assim, 
perceba que não é possível dominar todas as cinco áreas da Antropologia, 
mas temos que ter claro, como pesquisadores, que as mesmas têm uma 
estreita relação entre si. Desta forma, sempre que for utilizado o termo 
Antropologia, de maneira geral, iremos nos referir à Antropologia social e 
cultural (ou Etnologia), sem esquecer que esta é apenas uma das áreas da 
Antropologia.
Agora que você tem claro que iremos trabalhar com a Antropologia social ou cultural (ou Etnologia) 
veja quais os conteúdos a serem trabalhados:
3 Significado de Inato: adj. Que nasce conosco: pendores inatos. Congênito. Ideias inatas, ideias que, segundo certos 
filósofos, não provêm da experiência, mas estão em nosso espírito desde que nascemos. Dicionário online de português. 
Disponível em: http://www.dicio.com.br/inato/. Acesso em 23 mar. 2011.
13
• Na primeira unidade, teremos uma visão geral sobre a Antropologia: os primórdios da Antropologia 
e as escolas antropológicas; seus avanços e a atualidade. A cultura como objeto de estudo 
antropológico: tanto da perspectiva etnocêntrica como relativista; a formação da identidade 
étnica, as fronteiras e a formação de estereótipos.
• Na segunda unidade, aprenderemos sobre a cultura brasileira: a sua formação, além da formação 
das diversas categorias culturais.
 Lembrete
Não fique assim, sentindo-se perdido. Tenha calma, pois se você ainda 
não detém o significado de tudo o que foi colocado acima, tenha certeza 
de que, ao final dessa disciplina, você saberá.
14
15
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Unidade I
1 VISÃO GERAL SOBRE A ANTROPOLOGIA
Nessa unidade falaremos sobre o surgimento da Antropologia, as escolas antropológicas, mostrando 
seus avanços e atualidade, bem como entenderemos a cultura como objeto de estudo da Antropologia, 
tanto na perspectiva etnocêntrica como na relativista.
A Antropologia não consiste simplesmente em levantar sistematicamente os aspectos da cultura de 
uma sociedade. Esta ciência se preocupa em apresentar como esses aspectos estão relacionados entre 
si, demonstrando a especificidade, a particularidade desta sociedade, isto é, a sua totalidade, o que nem 
sempre é colocado no papel. São coisas como os menores gestos, as trocas simbólicas e os menores 
comportamentos e atitudes de um grupo, de um povo.
Trata-se de uma ciência que estuda a composição das sociedades, isto é, a formação de todas as 
culturas que compõem a humanidade em sua diversidade histórica e geográfica. Assim sendo, como 
ciência, a Antropologia ocupa-se da análise das diferenças culturais. Como pode ser percebido na 
explanação elaborada por François Laplantine (1991, p. 22-23), no seu livro Aprender Antropologia:
Aquilo que, de fato, caracteriza a unidade do homem, de que a antropologia, 
(...) faz tanta questão, é sua aptidãopraticamente infinita para inventar 
modos de vida e formas de organização social extremamente diversos. E, a 
meu ver, apenas a nossa disciplina permite notar, com maior proximidade 
possível, que essas formas de comportamento e de vida em sociedade 
que tomávamos todos espontaneamente por inatas (nossas maneiras de 
andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, comemorar os eventos de 
nossa existência...) são, na realidade, o produto de escolhas culturais. Ou 
seja, aquilo que os seres humanos têm em comum é sua capacidade para 
se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de 
conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos: pois se há algo 
natural nessa espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à 
variação cultural.
 Lembrete
Esse respeito apresentado acima pela diversidade nem sempre existiu 
historicamente.
16
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
No período do Renascimento, com a exploração de locais até então desconhecidos, como o Novo 
Mundo, a América, a grande questão que se colocou a partir do confronto visual com a alteridade1, com os 
que eram diferentes dos europeus, foi justamente se os seres encontrados pertenciam à humanidade.
As diferenças culturais das sociedades nem sempre apareceram como um fato. Na maioria das vezes, 
eram vistas como aberrações, necessitando de justificativa.
Laplantine (1991) nos lembra de que, na antiguidade grega, os homens de cultura diferente eram chamados 
de bárbaros, já que não faziam parte da helenidade (da sociedade deles). No Renascimento (séculos XVII e 
XVIII), os homens que não eram pertencentes à cultura europeia eram chamados de selvagens, os seres da 
floresta, apresentando-se como oposição à humanidade. Porém, no século XIX, o termo que será utilizado é o 
primitivo, que, no século XX, será substituído pelo subdesenvolvido, muito utilizado ainda hoje.
O mesmo autor (1991, p. 37-38) afirma que, no período do Renascimento, o critério que atribuía o 
estatuto de humano era o religioso, isto é: “O selvagem tem uma alma?”.
Essa forma de agir, de expulsar da cultura, isto é, para a natureza aquele que não participa da 
nossa humanidade é, segundo Lévi-Strauss, o que mais caracteriza os verdadeiros “selvagens.” (apud 
LAPLANTINE, 1991, p. 40).
Assim, a partir do século XIV, os europeus vão utilizar critérios para conceder aos índios o estatuto 
de humanos. Além do critério religioso, isto é, que consistia no questionamento sobre “se o índio tinha 
alma” – e naquele momento a resposta foi negativa –, os mesmos foram colocados como “sem religião” 
e ainda como “diabos”. Além deste, ainda utilizaram os seguintes critérios para a figura do mau selvagem 
(LAPLANTINE, 1991, p. 41):
a aparência física: eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”; os 
comportamentos alimentares: eles “comem carne crua”, e é todo o imaginário 
do canibalismo que irá aqui se elaborar; a inteligência tal como pode ser 
apreendida a partir da linguagem: eles falam “uma língua ininteligível”.
Desta forma, por não acreditarem em Deus, não têm alma, não falam a linguagem dos europeus, 
tendo uma aparência diferente da deles e apresentavam-se alimentando como animais, serão chamados 
de selvagem. Serão vistos como os demais animais e não como seres humano, já que eram seres “sem 
moral, sem religião, sem lei, sem escrita, sem Estado, sem consciência, sem razão, sem objetivo, sem arte, 
sem passado, sem futuro”. (LAPLANTINE, 1991, p. 41).
Na segunda metade do século XIX, na Europa, a Antropologia, como também a Sociologia (socio = 
sociedade; logia= estudo. Ou seja, o estudo da sociedade) começam a dar seus primeiros passos. As duas 
começam em um mesmo contexto histórico e em uma mesma região, devido às várias mudanças sociais, 
econômicas e políticas trazidas pela Revolução Industrial. Ou seja, pelas transformações que esta trouxe 
e que deu origem ao modo de produção capitalista, mais conhecido por sociedade capitalista.
1 Significado de Alteridade: s.f. Qualidade do que é outro (por opos. a identidade)”. Dicionário online de português. 
Disponível em: http://www.dicio.com.br/alteridade/. Acesso em 23 mar. 2011.
17
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
O modo de produção capitalista não se manteve apenas na Inglaterra e no continente europeu. No 
século XIX, houve a expansão colonialista, que estava em curso desde o mercantilismo do século XV 
(quando o Brasil foi colonizado).
Figura 1 – Caravela
Essa nova expansão das colônias, do século XIX, é chamada de neocolonialismo (novo colonialismo) 
ou imperialismo, já que é o momento em que a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Bélgica, a Itália e os 
Estados Unidos, grandes potências industriais, vão formar grandes impérios econômicos, conquistando 
e influenciando novos continentes. Dirigiram-se para os continentes da África, da Ásia, da América e da 
Oceania, dominando e explorando esses povos.
 Lembrete
É nesse momento histórico que surge a Antropologia, no processo de 
expansão do modo de produção capitalista, a partir do neocolonialismo e 
do imperialismo dessas poderosas nações sobre os povos que viviam em 
lugares longínquos.
Os Estados Unidos, no século XIX também está se industrializado, já é capitalista, porém sua 
expansão territorial não se dava para fora, mas internamente, já que “ela fazia um movimento do 
leste para o oeste, provocando o contato dos colonos com diferentes sociedades indígenas nativas”. 
(SANTOS, 2005, p. 21)
Lembre-se dos filmes onde os soldados norte-americanos protegiam os colonos brancos que 
desbravavam o território americano com suas carroças e avançavam adentrando o território dos 
peles-vermelhas. Para sua melhor compreensão, coloquei algumas fotos relembrando esse fato 
histórico.
18
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
Figura 2 – Índios sioux norte-americanos
Figura 3 – Fazenda em Old Fields, West Virginia
É partir destes aspectos econômicos e políticos que serão refletidas as noções e teorias da Antropologia 
que estava surgindo. Assim a ciência resultante deste contexto é chamada de “antropologia de gabinete”, 
já que os antropólogos ficavam em suas salas elaborando as teorias a partir dos relatos dos viajantes, 
comerciantes, religiosos, militares, exploradores, administradores da colônia etc. Assim, sua produção 
estava centrada nas descrições dos locais e dos povos que as habitavam, mostrando o quanto esses eram 
diferentes dos europeus. Veja o quadro a seguir:
19
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Quadro 2 – A antropologia produzida entre séculos XIV – XIX.
A formação de uma literatura “etnográfica” sobre a diversidade cultural
Período Séculos XVI-XIX. 
Características Relatos de viagens (cartas, diários, relatórios etc.) feitos por missionários, viajantes, 
comerciantes, exploradores, militares, administradores coloniais etc.
Temas e conceitos Descrições das terras (fauna, flora, topografia) e dos povos “descobertos” (hábitos e 
crenças).
Primeiros relatos sobre a alteridade.
Alguns representantes e 
obras de referência
• Pero Vaz de Caminha (“Carta do descobrimento do Brasil” – séc. XVI).
• Hans Staden (“Duas viagens ao Brasil” – séc. XVI).
• Jean de Léry (“Viagem à terra do Brasil” – séc. XVI).
• Jean-Baptiste Debret (“Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” – séc. XIX).
Fonte: Vagner Gonçalves da Silva. Disponível em: www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
Na busca de interpretar as diferenças entre os grupos humanos, a cultura exerce papel fundamental 
para o olhar antropológico, já que esta passa a ser compreendida como prática significante que distingue 
o homem da natureza, o homem do animal, além de ser responsável pelas diversas formas de visões 
demundo. A cultura é apreendida por meio das experiências que os seres humanos realizam como 
membros da sociedade.
O conceito antropológico de cultura é assim construído pelas questões da unidade biológica e a 
grande diversidade cultural da espécie humana. Essa temática – compreender a diversidade de modos de 
comportamento existentes entre os diferentes povos – é, ainda hoje, o grande desafio para a Antropologia.
Para os cientistas do passado, era comum buscar explicações sobre as diferenças de comportamento 
entre os homens, usando como referência as variações dos ambientes físicos.
Com o decorrer do tempo, esses estudiosos chegaram à conclusão que as diferenças de comportamento 
entre os homens não poderiam ser explicadas a partir das diversidades geográficas ou biológicas, visto 
que o comportamento dos indivíduos depende muito mais de um aprendizado que se adquire durante 
o convívio social. Este processo foi chamado de “endoculturação”, ou seja, um menino e uma menina 
agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas por causa de uma educação diferenciada 
que recebem em sua sociedade. (LARAIA, 2004).
Por essa concepção, o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um 
herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas 
numerosas gerações que o antecederam.
De acordo com Laraia (2004), a primeira definição de cultura que foi formulada do ponto de vista 
antropológico pertence a Edward Tylor, em seu livro Primitive Culture (1871). Tylor demonstrou que a 
cultura pode ser o objeto de um estudo sistemático, isto é, cientifico, pois se trata de um fenômeno 
natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capaz de 
proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução da sociedade.
20
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
Porém, você deve estar se perguntando agora: “Mas o que cultura tem a ver com evolução?”. Pois é, 
no século XIX, as ciências naturais, principalmente a Biologia, tinham grande influência no meio científico 
europeu, particularmente as teorias evolucionistas de Jean-Baptiste Lamarck e de Charles Darwin.
A primeira teoria da evolução, elaborada por Lamarck, dizia que os animais mudavam devido à 
pressão do ambiente e que essas mudanças eram passadas para os filhos. Mesmo tendo sido descartada, 
essa teoria foi revolucionária para aquele momento.
Para Darwin, a ideia de transmissão hereditária não era verdadeira. Em sua teoria, todos os seres vivos 
vieram de ancestrais, a partir de um longo e contínuo processo de variações. Nesse processo, há variações 
nas espécies e, a partir da seleção natural, muitos seres são eliminados. Os que melhor se adaptam, 
em termos biológicos, irão viver em determinado ambiente, continuando a existir e transmitindo suas 
características às novas gerações.
Para que você perceba a diferença entre as teorias, veja o exemplo das girafas: segundo Lamarck, 
as girafas têm pescoço comprido porque forçavam continuamente o pescoço para cima, para comer as 
folhas no alto das árvores. Esse ato de esticar o pescoço, por muito tempo e por todos os seres de uma 
mesma raça, levou ao alongamento do pescoço das girafas. Para Darwin, existiam girafas com vários 
tamanhos de pescoço e, conforme o alimento na parte inferior das arvores ia acabando, somente as de 
pescoço longo continuaram a existir, já que conseguiram alcançar as folhas no topo das árvores.
Figura 4 – O evolucionista Charles Darwin
Darwin é o teórico mais conhecido quando se fala em evolução das espécies. Porém, tanto em uma 
teoria como na outra, a ideia central é a de que os seres vivos evoluem dos “mais simples” para os “mais 
complexos”, como pode ser visto na explicação de Guerriero (2004, p. 12-13):
... Hoje sabemos que os primeiros animais viveram nas águas dos oceanos 
há 700 milhões de anos. Depois de 300 milhões, alguns tornaram-se 
21
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
anfíbios e depois conquistaram as terras. Por volta de 200 milhões de 
anos atrás, surgiram entre os vertebrados os animais de sangue quente 
que alimentavam seus filhotes a partir de glândulas mamárias. A extinção 
dos dinossauros (há aproximadamente 65 milhões de anos) permitiu a 
rápida evolução dos mamíferos. De animais diminutos e ameaçados por 
seus predadores, passaram a dominar os territórios. Dentre os mamíferos 
surgiram, há 70 milhões de anos, os primatas, também chamados de 
prossímios. Estes desenvolveram habilidades de saltar entre as árvores, 
possuindo para isso uma visão aguçada e tridimensional, com os olhos 
próximos e na fronte. Os primatas logo evoluíram. Algumas características 
então existentes entre os prossímios seriam determinantes posteriormente. 
Suas mãos e pés permitiam-lhes agarrar as árvores por onde pulavam. 
Desenvolveram, para isso, unhas e dedos polegares em posições opostas 
aos demais, e habilidade para permanecerem eretos por alguns instantes 
para procurarem a presença de inimigos. Os primatas primitivos são os 
ancestrais de uma ampla ordem de animais que vai dos lêmures aos 
grandes antropoides, passando pelos micos e macacos. A separação 
entre os primatas e os antropoides ocorreu há 35 milhões de anos. Nesse 
período, as placas tectônicas se separaram por completo, fazendo com que 
a evolução dos primatas no novo e velho continentes fosse completamente 
distinta.
 Saiba mais
Assista ao filme
Criação. Direção: Jon Amiel. Inglaterra, 2009. Duração: 108 min.
A história de vida de Charles Darwin e o contexto no qual elabora o seu 
livro A origem das espécies.
Documentário
Xingu. Direção: Washington Novaes. Brasil, 1985. Duração: 120 min.
Leia
CASTRO, Celso (org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Taylor e 
Frazer. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
22
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
2 OS ANTROPÓLOGOS NO GABINETE
2.1 O evolucionismo social
O evolucionismo foi revolucionário para sua época, porque representou outra explicação sobre a 
origem do homem frente às explicações religiosas utilizadas até então, as teorias da criação chamadas 
de Criacionismo, que diz que o homem surge de Deus.
Figura 5 – Adán y Eva, de Vecellio di Gregorio Tiziano, 1628-1629
A Antropologia vai utilizar a teoria do evolucionismo para analisar as sociedades e as culturas, 
criando assim a linha do Evolucionismo social ou Darwinismo social.
Figura 6 – Processo evolutivo do homem
O evolucionismo social ou darwinismo social vai considerar que as sociedades evoluem assim como 
as espécies. Desta forma, vão considerar não civilizadas as sociedades que não vivem em um modelo 
industrial como o nosso.
23
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
O antropólogo norte-americano Henry Lewis Morgan (1818-1881) construiu uma escala para o 
desenvolvimento da humanidade com três estágios: “selvageria, barbárie e civilização”. (SANTOS, 2005, 
p. 23). Na Inglaterra, o escocês James Frazer (1854-1941) cria uma escala da evolução do pensamento 
com três fases: magia, religião e ciência. Tanto em um como no outro, a escala vai do mais simples para 
o mais complexo.
Assim, inicialmente o conceito de cultura esteve vinculado à ideia de evolução e progresso. Edward 
Tylor, em 1871, define cultura como sendo o comportamento que o homem aprende em sociedade. 
Deste modo, cultura é “um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o 
direito, os costumes e as outras capacidades ou os hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro 
da sociedade”. (LARAIA, 2004, p. 25).
A principal característica da teoria evolucionista foi considerar as sociedades primitivas como 
sociedades em estágio inferior ao desenvolvimento alcançado pelassociedades ditas civilizadas. Para 
os defensores desta teoria, as condições materiais e culturais das sociedades humanas passariam, 
necessariamente, das etapas primitivas à civilização.
Nesse sentido, o evolucionismo, que surge com a ciência antropológica no século XIX, conduz 
à concepção etnocêntrica do mundo, isto é, parte-se da ideia de que as diferenças entre grupos 
e sociedades possuem uma escala evolutiva, considerando o mundo europeu como modelo 
único de sociedade. Santos (2005) explica que a sociedade europeia se considerava “civilizada” 
e “complexa” por ter conseguido a industrialização, a ciência, a tecnologia etc. No entanto, as 
demais culturas – as das colônias – eram as “primitivas” e “atrasadas”, por não possuir tecnologia 
como eles.
As ideias e posturas consideradas etnocêntricas podem ser identificadas em afirmações do tipo 
“povos e grupos sem cultura”. O pior é que, no senso comum, na sociedade em geral, esse tipo de ideia 
é bastante usual, mesmo no século XXI.
Para que você possa entender melhor o que é ser etnocêntrico, leia o autor Everardo Rocha (2006, 
p. 10-11):
Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens um pastor se 
preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho 
de evangelização e catequese. Muito generoso, comprou, para os 
selvagens, contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si 
próprio apenas um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, 
alarmes, fazer contas, marcar segundo, cronometrar e até dizer a hora 
sempre absolutamente certa, infalível. Ao chegar, venceu as burocracias 
inevitáveis e, após alguns meses, encontrava-se em meio às sociedades 
tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinação. Tempos 
depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a 
todos os lugares de sua pregação e mostrava-se admirado de muitas 
24
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o 
pastor trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, 
vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relógio, dando-o 
meio sem jeito e a contragosto, ao jovem índio.
A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o 
apressadamente para mostra-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando 
seguidamente o galho superior de uma árvore altíssima nas cercanias da 
aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo ornamento 
de penas e contas multicolores tendo no centro o relógio. O índio queria que 
o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e 
interessante objeto. Quase indistinguível em meio às penas e contas e, ainda 
por cima, pendurado a vários metros de altura, o relógio, agora mínimo e sem 
nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no rosto do 
pastor. Fora-se o relógio.
Passados mais alguns meses o pastor também se foi de volta para casa. 
Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatórios e, naquela 
manhã, dar uma última revisada na comunicação que iria fazer em seguida 
aos seus colegas em congresso sobre evangelização. Seu tema: “A catequese 
e os selvagens”. Levantou-se, deu uma olhada no relógio novo, quinze para 
as dez. Era hora de ir. Como que buscando uma inspiração de última hora 
examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos, flechas, 
tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração. 
Rústica e sóbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças. Com o 
pé na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo. Engraçado o que aquele 
índio foi fazer com o meu relógio.
Esta estória mostra alguns dos pontos essenciais sobre o etnocentrismo.
Em primeiro lugar, leva-nos a perceber que, neste choque cultural, os personagens de diferentes 
culturas fizeram o mesmo: utilizaram o objeto da outra cultura como ornamento, sendo que esses 
objetos em suas culturas tinham funções técnicas. Para o pastor, o uso do relógio pelo índio causou 
tanto espanto quanto o que causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e 
flecha.
O etnocentrismo está justamente nesse julgamento do valor da cultura do “outro” nos termos da 
cultura do grupo do “eu”.
Em segundo lugar, o choque cultural aqui na estória foi cordial. Mas, na maioria das vezes, o 
etnocentrismo leva à ação violenta, como o etnocídio (por exemplo, uma matança de índios). Como 
bem coloca Rocha (2006, p. 13) o exemplo abaixo:
25
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
... Um famoso cientista do início do século, Hermann von Ihering, diretor do 
Museu Paulista, justificava o extermínio dos índios Caingangue por serem 
um empecilho ao desenvolvimento e à colonização das regiões do sertão 
que eles habitavam.
Pode-se perceber, através da história, que a relação entre a chamada “civilização ocidental” e as 
sociedades tribais foi de extermínio. A antropologia do século XIX terá como característica o “povo 
primitivo”, veja o quadro abaixo:
Quadro 3 – O evolucionismo social do século XIX. 
Escola/paradigma Evolucionismo social
Período Século XIX.
Características Sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos 
primitivos”.
Predomínio do trabalho de gabinete.
Temas e conceitos Unidade psíquica do homem.
Evolução das sociedades das mais “primitivas” para as mais 
“civilizadas”.
Busca das origens (perspectiva diacrônica).
Estudos de parentesco/religião/organização social.
Substituição do conceito de raça pelo de cultura.
Alguns 
representantes e 
obras de referência
Maine (“Ancient Law” – 1861).
Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” – 1864).
Edward Tylor (“A cultura primitiva” – 1871).
Henry L. Morgan (“A sociedade antiga” – 1877).
James Frazer (“O ramo de ouro” – 1890).
Fonte: Vagner Gonçalves da Silva. Disponível em: www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
Henry L. Morgan destacou-se como um importante evolucionista do século XIX, influenciando 
muitos pensadores. Entre eles, seu aluno Franz Boas.
Franz Boas, no entanto, transforma-se em um dos maiores críticos do evolucionismo, afirmando que 
as sociedades e os grupos possuem uma história particular, diversa, e é essa diversidade que constitui a 
riqueza da vida social humana.
2.2 O positivismo
O positivismo é a primeira linha de pesquisa da Sociologia. Porém, nós o trazemos aqui porque o 
pensamento produzido por essa linha irá influenciar muito a produção antropológica.
O positivismo também surge com grande influência das ciências naturais. Isso porque, no século 
XIX, as ciências humanas (Antropologia, Sociologia) estavam surgindo e ainda não tinham seu método 
de pesquisa próprio. Por isso, vão utilizar os métodos utilizados pelas ciências naturais (como Biologia, 
Física e Química). Além disso, neste século a ciência buscava explicações racionais para livrar-se das 
explicações religiosas e de seu poder sobre a humanidade.
26
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
O primeiro pensador desta linha foi o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), que vai criar 
a palavra Sociologia, a ciência da sociedade, que se baseava nos métodos de observação das ciências 
naturais. Para Comte, “as explicações que os homens davam para os fenômenos em geral (naturais 
ou sociais) haviam passado por três fases diferentes” (SANTOS, 2005, p. 24). A primeira foi chamada 
de teológica ou fictícia. Nesta fase, o homem explica que a causa dos fenômenos é divina ou de ação 
sobrenatural; na segunda, metafísica ou abstrata, as explicações deixam de ser calcadas no divino e 
passam a ser filosóficas; e a terceira fase é chamada de científica ou positiva, na qual se buscam as 
explicações a partir da utilização de métodos científicos para explicar as leis que regem o social e o 
natural.
Com o passar do tempo,sociólogos e antropólogos notaram que não era possível analisar homens e 
mulheres, isto é, a sociedade e a sua cultura, da mesma forma que a Biologia ou a Matemática analisa 
os seus objetos.
Podemos perceber, segundo Santos (2005), que há semelhanças entre os modelos de estágios criados 
por Comte, Morgan e Frazer quanto ao pensamento de evolução das sociedades.
Quadro 4 – Comparação entre os modelos de Comte, Morgan e Frazer. 
Comte – França
(1798-1857)
Morgan – EUA
(1818-1881)
Frazer - Inglaterra
(1854-1941)
Os homens explicam os 
fenômenos a partir de:
Fase teológica ou fictícia
Fase metafísica ou abstrata
Fase científica ou positiva
Estágios de pensamento:
Magia
Religião
Ciência
Fase de desenvolvimento da 
sociedade:
Selvageria
Barbárie
Civilização
Fonte: Santos.
Atualmente, sabe-se que as explicações sobrenaturais, filosóficas e científicas não se relacionam 
com o sentido de evolução. Mas, sim, que essas são explicações diferentes que dependem da cultura 
dessas sociedades para serem ratificadas. Tanto é que, em nossa sociedade, encontramos pessoas que 
se utilizam de explicações sobrenaturais para os fenômenos sociais, com fundamento religioso.
Além disso, sabe-se também que não há evolução social, de sociedades mais simples para mais 
complexas, já que, a partir do momento em que os antropólogos começaram a conviver com as 
sociedades tribais, perceberam que as mesmas tinham suas estruturas, línguas, sistemas simbólicos e 
que os mesmos não eram menos complexos do que os de outras sociedades.
Além de Comte, no positivismo, teremos também Émile Durkheim, o pensador que criará um 
método de pesquisa para a Sociologia, dizendo que o pesquisador, ao estudar a sociedade, deve 
tratá-la como uma coisa assim como a Física trata uma pedra, sem sentimentos e valores, para 
que seja possível ao pesquisador conseguir a neutralidade cientifica. Durkheim irá dizer, também, 
que eu não necessito analisar o indivíduo, mas a sociedade, já que a sociedade se sobrepõe 
ao indivíduo, pois, quando nascemos, a sociedade já estava pronta, com suas regras e normas 
27
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
de conduta, com suas instituições. Só se faz necessário compreender como essa sociedade 
funciona.
Quadro 5 – A produção positivista no século XIX. 
Escola/Paradigma Escola Sociológica Francesa
Período Século XIX.
Características Definição dos fenômenos sociais como objetos de 
investigação socioantropológica.
Definição das regras do método sociológico.
Temas e conceitos Representações coletivas.
Solidariedade orgânica e mecânica.
Formas primitivas de classificação (totemismo) e teoria do 
conhecimento.
Busca pelo fato social total (biológico + psicológico + 
sociológico).
A troca e a reciprocidade como fundamento da vida social 
(dar, receber, retribuir).
Alguns representantes e 
obras de referência
Émile Durkheim: “Regras do método sociológico” – 1895; 
“Algumas formas primitivas de classificação” – c/ Marcel 
Mauss – 1901; “As formas elementares da vida religiosa” 
– 1912.
Marcel Mauss: “Esboço de uma teoria geral da magia” – c/ 
Henri Hubert – 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” – 1923-
1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de 
pessoa, a noção de eu” – 1938).
Fonte: Vagner Gonçalves da Silva. Disponível em: www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
 Lembrete
A teoria do evolucionismo social e do positivismo, no século XIX, 
representava o discurso europeu sobre suas colônias, tratando-se de um 
discurso de poder, no qual o mais forte era o mais avançado, civilizado, 
científico e o mais fraco era o atrasado, selvagem e místico.
2.3 Determinismo biológico e determinismo geográfico
Os primeiros pesquisadores considerados antropólogos não vão a campo, não vão até esses países 
longínquos para conhecer a cultura desses povos, eles formulam teorias fundamentando-se “em relatos 
feitos por leigos: missionários, viajantes, negociantes”. (COSTA, 2005, p. 90).
É justamente neste momento que serão utilizadas as teorias preconceituosas, como a do determinismo 
biológico e a do determinismo geográfico.
O determinismo biológico (LARAIA, 2004) é a teoria que afirma que o comportamento cultural é resultado 
da genética e da hereditariedade dos indivíduos. Assim sendo, consideravam que os grupos humanos eram 
diferentes uns dos outros devido a traços psicologicamente inatos, como a inteligência ou temperamento.
28
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
Essa forma de pensar, de hierarquizar as sociedades utilizando, para isso, a raça e o nível de 
desenvolvimento alcançado pelo grupo fica mais claro quando falamos das populações negras (ou 
afrodescendentes) que, nos Estados Unidos, eram consideradas, até pouco tempo, portadoras de 
uma cultura inferior. Além deste exemplo, podemos lembrar Hitler, na Alemanha, que fundamentou 
o extermínio de outras populações por acreditar que o povo alemão era superior aos outros.
 Saiba mais
Assista ao filme
Arquitetura da destruição. Direção: Peter Cohen. Suécia, 1992. Duração: 
121 min.
Documentário sobre a trajetória de Hitler e a sua relação com a arte.
Podemos notar o determinismo biológico na citação utilizada por Eduardo Galeano (2010) para 
demonstrar o pensamento dos europeus sobre os negros do Haiti:
O Haiti fora a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande 
plantação de açúcar, com mão de obra escrava. No Espírito das leis, 
Montesquieu havia explicado sem papas na língua: “O açúcar seria demasiado 
caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos 
são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é 
quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um 
ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num 
corpo inteiramente negro”.
 Observação
Você deve sempre refletir sobre os conteúdos que lhe são apresentados. 
Deve perguntar-se, por exemplo: “O comportamento cultural do ser humano 
é dado pelas suas características biológicas? Como a cor da pele? O sexo?”
Para os europeus, naquele momento, sim. Desta forma, o outro era colocado como o selvagem e 
o europeu como o civilizado. Pensando assim, os outros povos eram inferiores e, por isso, deviam ser 
colonizados para que aprendessem a ser civilizados.
Como não fosse o bastante a utilização da teoria preconceituosa do determinismo biológico, há 
também a do determinismo geográfico, isto é, teoria que afirma que as diferenças do ambiente físico 
determinam a diversidade cultural (LARAIA, 2004).
29
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Como pode ser notado pela citação utilizada por Laplantine (1991, p. 43) da obra de Cornelius de 
Pauw, publicado em 1774, que falava sobre a influência negativa da natureza e do clima úmido sobre 
os índios da América do Norte:
Deve existir, na organização dos americanos, uma causa qualquer que 
embrutece sua sensibilidade e seu espírito. A qualidade do clima, a 
grosseria de seus humores, o vício radical do sangue, a constituição de seu 
temperamento excessivamente fleumático podem ter diminuído o tom e o 
saracoteio dos nervos desses homens embrutecidos. (...) temperamento tão 
úmido quanto o ar e a terra onde vegetam.
Assim, essas ideias apresentadas no século XVIII são retomadas e expressas por Hegel em 1830, em sua 
Introdução à Filosofia da História, demonstrando seu horror frente aos que vivem em estado de natureza, 
pois esses povos jamais ascenderão à “história” (LAPLANTINE, 1991). Desta forma, a América do Sul é tratada 
como tão estúpida como a do Norte. A Ásia, da mesma forma. Porém, é a África que, para este filósofo, 
possui os seres de forma mais inferior entre todos que se apresentam nessa infra-humanidade. Hegel 
chega ao ponto de considerá-los como “coisas”, sendoimpossível transformá-los, a partir da colonização, 
em seres humanos.
Tendo sua origem no período da expansão do mundo colonial, período em que o mundo europeu 
se confronta com outros povos e culturas, nas américas, na Ásia e na África, esta ciência surge para 
compreender as diversas formas do ser, do sentir e do pensar humano.
Desta forma, não só a figura do mau selvagem será elaborada pelo pensamento do europeu, como 
também a do bom selvagem será formulada sistematicamente no século XVIII. Porém, a ideia já se fazia 
presente desde os primeiros viajantes à América, como por exemplo, a descrição de Cristóvão Colombo 
que, ao aportar no Caribe, descreve: “Eles são muito mansos e ignorantes do que é o mal, eles não sabem 
se matar uns aos outros (...) Eu não penso que haja no mundo homens melhores, como também não há 
terra melhor.” (apud LAPLANTINE, 1991, p. 47).
Esse bom selvagem vai ser compartilhado não apenas pelos navegadores como também pelos 
filósofos, pelos literatos e pela arte, nas apresentações teatrais parisienses. Como no exemplo citado 
por Laplantine (1991), sobre o espetáculo O arlequim selvagem, no qual um personagem declama no 
palco em Paris, em 1721, que os homens eram loucos, por buscarem ter coisas, dinheiro, no lugar de 
simplesmente viver em natureza e desfrutar de tudo como os selvagens. A figura do bom selvagem leva 
a mensagem de que a sociedade deles é o paraíso e a do europeu, a do ocidente, que é a civilizada, o 
inferno da sociedade tecnológica.
Ora a repulsa, ora o fascínio, sendo que a alteridade não tem relação com a realidade. Na verdade, este 
imaginário vai ser utilizado como pretexto para a exploração colonial do século XVI e XVII (econômica, 
militar, política, religiosa, cultural e social).
Assim, é nessa época que se tem a origem do conhecimento sobre o homem, mas não o de um saber 
antropológico. Esse momento poderia ser chamado de “saber pré-antropológico”, pois ainda não se 
tratava de um saber científico.
30
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
Segundo Laplantine (1991), é somente no século XVIII que se começa o projeto de criar uma 
ciência do homem, mas ainda não é a Antropologia que entendemos hoje. Esse projeto busca a 
construção de conceitos, como o do próprio conceito de homem como objeto do conhecimento 
(se tornando um objeto a ser observado) pelo próprio homem (o observador); um saber que deixa 
de ser reflexivo e passa a ser de observação (ver a realidade concreta do homem, sua organização, 
relação de produção, linguagem, instituições, comportamentos), um conhecer empírico2; sendo a 
diferença entre os povos o foco central de estudo; e um método para observar e analisar, o método 
indutivo, isto é, os povos começam a ser analisados como sistemas “naturais”, necessitando ser 
estudados empiricamente, a partir da observação de fatos, com o intuito de buscar as leis gerais, 
isto é, as regras naturais que organizam todas as sociedades.
Essas teorias do determinismo biológico e geográfico são negadas historicamente no século XX, 
como bem mostra Laraia (2004):
Em 1950, quando o mundo se refazia da catástrofe e do terror do racismo 
nazista, antropólogos físicos e culturais, geneticistas, biólogos e outros 
especialistas, reunidos em Paris sob os auspícios da UNESCO, redigiram uma 
declaração da qual extraímos dois parágrafos:
a) Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam 
a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias 
constituiriam um fator de importância primordial entre as causas 
das diferenças que se manifestam entre as culturas e as obras das 
civilizações dos diversos povos ou grupos étnicos. Eles nos informam, 
pelo contrário, que essas diferenças se explicam, antes de tudo, pela 
história cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel 
preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de 
aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de 
todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das características 
específicas do Homo Sapiens.
b) No estado atual de nossos conhecimentos, não foi ainda provada 
a validade da tese segundo a qual os grupos humanos diferem uns 
dos outros pelos traços psicologicamente inatos, quer se trate de 
inteligência ou temperamento. As pesquisas científicas revelam que 
o nível das aptidões mentais é quase o mesmo em todos os grupos 
étnicos.
A partir da necessidade de compreender o outro (aquele que era diferente do mundo europeu) como 
parte integrante de um contexto em que o universo da cultura ocidental se impõe à cultura do outro, 
implicando em violência e visões distorcidas desses povos e de suas culturas.
2 Significado de Empírico: adj. Que se apoia exclusivamente na experiência e na observação. Dicionário online de 
português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/empírico/. Acesso em 23 mar. 2011.
31
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
 Observação
O que você pensa sobre os tópicos até agora abordados? Será que existe 
uma cultura melhor do que a outra? Por exemplo, a minha cultura é melhor 
do que a sua?
Ao procurar identificar de forma precisa o não europeu, o antropólogo do século XIX tinha por base 
uma falsa imagem da cultura europeia, compreendida como uma sociedade homogênea e integrada. 
Não compreendia que havia tantas diferenças e conflitos entre pessoas de nações diferentes.
Por isso, a Antropologia foi sempre considerada a ciência da alteridade, isto é, a ciência que busca investigar 
o outro, aquele que é essencialmente diferente de mim. Assim, para Santos (2005, p. 22), os primeiros 
antropólogos vão sofrer forte influência das correntes de pensamento, como o positivismo, o evolucionismo, 
e os determinismos geográficos e biológicos sobre as ideias que elaboraram sobre as culturas dos povos 
distantes e também pela ausência dos estudiosos em campo, já que sua análise era feita por meio de relatos 
e não de sua presença in loco (no próprio local), em que estava pesquisando a cultura estudada.
 Lembrete
A teoria do determinismo biológico é falsa, porque a nossa genética 
não determina o nosso comportamento em sociedade.
Assim como o determinismo geográfico também é falso, já que as 
características do ambiente geográfico não determinam a minha forma de 
me comportar em sociedade.
Pois é sabido que apreendemos o nosso comportamento cultural através 
do processo de endoculturação, isto e aprendemos com o nosso grupo a 
cultura de nossa sociedade.
3 OS ANTROPÓLOGOS VÃO PARA O CAMPO
3.1 O funcionalismo
Bronislaw Malinowski foi o antropólogo que trouxe a grande mudança para a Antropologia.
Esse polonês que vivia na Inglaterra inicia uma nova Antropologia, que também é chamada de 
etnografia – mapeamento de etnias (SANTOS, 2005). A mudança que realizou foi quanto à forma de 
se fazer a pesquisa, já que esse pesquisador parou de utilizar informações indiretas, aquelas colhidas 
por viajantes, colonizadores e missionários, e começou a realizar pesquisa de campo, ir até as tribos e 
conviver com os mesmos para, a partir daí, elaborar suas teorias.
32
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
 Saiba mais
Assista ao filme
Dança com Lobos. Direção: Kevin Costner. EUA, 1990. Duração: 180 min.
Observe o modo como o personagem de Kevin Costner vai lentamente 
aprendendo a cultura sioux.
Essa mudança na postura do antropólogo leva-o a compreender a complexibilidade das sociedades 
que antes eram chamadas de primitivas, bárbaras e atrasadas, como Malinowski (apud SANTOS, 2005, 
p. 38) demonstra:
A ideia geral que se faz é que os nativos vivem no seio da natureza, fazendo 
mais ou menos aquilo que podem e querem, mas presos a crenças e apreensões 
irregulares e fantasmagóricas. A ciência moderna, porém, nos mostra que 
as sociedades nativas têm uma organização bem definida, são governadaspor leis, autoridades e ordem em suas relações públicas e particulares, e 
que estão, além de tudo, sob o controle de laços extremamente complexas 
de raça e parentesco. (...) As suas crenças e costumes são coerentes, e o 
conhecimento que os nativos têm do mundo exterior lhes é suficiente para 
guiá-los em suas diversas atividades e empreendimentos. Suas produções 
artísticas são cheias de sentido e beleza.
A teoria funcionalista surgiu no século XX como sucessora do evolucionismo, respondendo, em 
parte, às críticas que surgiam em relação ao eurocentrismo e ao etnocentrismo. De acordo com a 
concepção funcionalista, cada sociedade deve ser estudada como um organismo constituído por partes 
interdependentes e complementares, cuja função é satisfazer as necessidades essenciais dos seus 
integrantes (COSTA, 2005).
O grande idealizador do funcionalismo foi Malinowski, que organizou e sintetizou uma visão 
integrada e totalizante do modo de vida de um povo não europeu.
Em sua pesquisa, desenvolveu o método da observação participante entre os nativos das Ilhas 
Trobriand, próximas à Nova Guiné, onde reconstituiu os principais aspectos da vida trobriandesa, desde 
as grandes cerimônias até aspectos da vida cotidiana.
Veja como Malinowski realiza essa observação participante:
... nesse tipo de pesquisa, recomenda-se ao etnógrafo que de vez em quando 
deixe de lado sua máquina fotográfica, lápis e caderno e participe pessoalmente 
33
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
do que está acontecendo. Ele pode tomar parte nos jogos dos nativos, 
acompanhá-los em suas visitas e passeios, ou sentar-se com eles, ouvindo e 
participando das conversas. (MALINOWSKI apud SANTOS, 2005, p. 39).
A concepção de Malinowski consiste em demonstrar como se faz uma organização de trabalho de 
campo, analisando uma determinada cultura. Mostra que o olhar etnocêntrico não deve ser utilizado, 
pois para ele as diferenças existem em todas as sociedades e povos: pois, se para nós eles são diferentes, 
para eles os diferentes somos nós. Se determinada sociedade aparece ao pesquisador como desordenada 
ou desintegrada, isso se deve apenas ao seu desconhecimento em relação a ela, o que pode ser superado 
após um processo de investigação, a chamada observação participante.
A observação participante é o método de pesquisa que revolucionou os estudos antropológicos. 
No lugar de análise de relatos, o pesquisador passa a ir conhecer os povos, penetrar em sua cultura, 
desvendar seus significados, guiados por essas informações. “Para que uma observação seja participativa, 
é essencial que essa integração do investigador seja aceita e reconhecida pelos demais integrantes do 
grupo ou comunidade”. (COSTA, 2005, p. 177).
Além da revolução que realizou no trabalho de campo, Malinowski trouxe novos elementos para 
contrapor ao evolucionismo social e ao etnocentrismo.
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre o etnocentrismo, leia:
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 2006.
Radcliffe-Brown é outro funcionalista (COSTA, 2005) que se destacou como defensor desta teoria e 
dos estudos das sociedades não europeias. Assim como Malinowski, considerava essas sociedades como 
totalidades integradas de instituições que têm a função de satisfazer necessidades básicas de alimento, 
segurança, entre outros.
Para Radcliffe-Brown, os evolucionistas não faziam Antropologia, pois se preocupavam apenas com 
a história como a via explicativa do presente cultural.
Assim, propunha uma abordagem funcional. O funcionalismo parte para elaborar uma análise sem se 
preocupar com a história, parte para o estudo da sociedade do “outro” sem se preocupar com o passado 
desta sociedade, pois essas sociedades nem sempre buscavam valorizar o tempo como nós fazemos, de 
forma linear, histórico, feito de acontecimentos sucessivos para pensar sua própria existência.
Segundo Rocha (1996), quando Radcliffe-Brown rompe a Antropologia da História, fornece uma nova 
forma para entender a sociedade do “outro” como ela é realmente. Assim, passa a ver o “funcionamento” 
34
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
de uma sociedade e, para tal, o pensador buscou o rigor teórico e conceitual para analisar a sociedade 
do outro. Isto é, o conceito de processo, estrutura e função.
Em primeiro lugar, para analisar a realidade concreta a ser estudada, a Antropologia observa, descreve, 
compara e classifica essa sociedade. É um fluxo permanente, um processo. Desta mesma forma, segundo 
Rocha (1996), é preciso ver na sociedade do outro o “processo social”, isto é, como as relações sociais 
estão encadeadas.
Em segundo lugar, para Rocha (1996), dentro do “processo social”, percebemos formas 
regulares, isto é, ações que se repetem na vida cotidiana – por exemplo, como estão compostas 
as famílias. Isso demonstra a “estrutura social”. Dentro dessa estrutura familiar, há relações e 
ações do processo social que se repetem, formam redes complexas de relações sociais onde todos 
estão envolvidos.
Em terceiro lugar, vem a “função” que complementa esse esquema teórico. Já que é a ligação entre 
“processo” e “estrutura”.
Radcliffe-Brown é chamado de funcionalista porque estabelece uma comparação entre a Antropologia 
e as ciências naturais, utilizando termos das ciências naturais e, por analogia, aplicando-os ao estudo da 
sociedade humana. Segundo Rocha (1996), uma analogia nos serve para explicar o conceito de “função” 
e sua relação com “processo” e “estrutura”.
Comparava o sistema social ao corpo humano. Este, como um organismo 
complexo que é, tem a vida como um fluxo permanente que habita 
este corpo. A vida caracteriza um constante processo, o processo vital, 
de permanência obrigatória para a manutenção do organismo. Este 
organismo, por sua vez, possui uma estrutura composta de ossos, tecidos, 
fluidos, etc. A função estabelece a correlação entre o processo vital e a 
estrutura orgânica. Assim, o coração, por exemplo, desempenha a função 
de bombear o sangue através do corpo. Se parar de executá-la, termina 
o processo vital e a estrutura orgânica, enquanto estrutura viva também 
desaparece.
Na sociedade, algumas instituições desempenham uma “função” crucial 
na manutenção do “processo” e da “estrutura”. Se estas funções forem 
suprimidas aquela sociedade se transformará numa outra diferente, 
onde outras instituições terão, por seu turno, outras “funções” cruciais. 
A sociedade não morreria, no mesmo sentido em que o corpo morre 
suprimida a função do coração, mas, atacada numa função básica, se 
descaracterizaria ao ponto de se transformar profundamente. (ROCHA, 
1996, p. 63-64).
Percebe-se que o antropólogo, para fazer esse tipo de análise, tem que viajar, isto é, morar, 
experimentar a vida junto ao povo e à cultura que está estudando.
35
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
Os estudos funcionalistas permitiram que sociedades não europeias passassem a ser compreendidas 
dentro de suas especificidades. As sociedades tribais africanas, australianas e asiáticas passaram a ser 
entendidas a partir de sua função social.
As críticas ao funcionalismo, a partir dos anos 1960, apontavam para a ineficácia dos modelos de 
mudanças sociais, suas contradições estruturais e conflitos. Outras críticas apontavam para a descrição 
das instituições sociais apenas a partir de seus efeitos, omitindo, portanto, as causas que levariam a 
esses efeitos.
Os funcionalistas, ao utilizarem conceitos como aculturação e choque cultural, deixavam de revelar as 
desigualdades que existem nesse contato, principalmente quando resultam de uma política colonialista. 
Além disso, são responsáveis pelo que ficou conhecido como relativismo cultural, ou seja, postura de 
tolerância e respeito em relação aos costumese traços culturais diferentes (SANTOS, 2005).
Veja no quadro abaixo as características do funcionalismo.
Quadro 6 – O funcionalismo do século XX até os anos 1920. 
Escola/Paradigma Funcionalismo
Período Século XX – anos 1920.
Características Modelo de Etnografia clássica (monografia).
Ênfase no trabalho de campo (observação participante).
Sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura.
Temas e conceitos Cultura como totalidade.
Interesse pelas instituições e suas funções para a manutenção da 
totalidade cultural.
Ênfase na sincronia x diacronia.
Alguns representantes 
e obras de referência
Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental” – 1922).
Radcliffe Brown (“Estrutura e função na sociedade primitiva” – 1952; e 
“Sistemas políticos africanos de parentesco e casamento”, org. c/ Daryll 
Forde – 1950).
Evans-Pritchard (“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” – 1937; 
“Os Nuer” – 1940).
Raymond Firth (“Nós, os Tikopia” – 1936; “Elementos de organização 
social” – 1951).
Max Glukman (“Ordem e rebelião na África tribal” – 1963).
Victor Turner (“Ruptura e continuidade em uma sociedade africana” 
– 1957; “O processo ritual” – 1969).
Edmund Leach (“Sistemas políticos da Alta Birmânia” – 1954).
Fonte: Vagner Gonçalves da Silva. Disponível em: www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
3.2 O culturalismo norte-americano
Franz Boas é um dos primeiros antropólogos a perceber a necessidade de se estudar um povo em 
suas particularidades, isto é, cada grupo tem suas condições históricas, climáticas, linguísticas etc. e 
tudo isso determina que cada cultura é específica, por isso a pluralidade de culturas diferentes (ROCHA, 
2006). E, assim como Malinowski, realizará estudos junto ao grupo pesquisado, resultando estes estudos 
também em uma Antropologia relativista.
36
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
Mas o que é �”relativista”, �”relativismo”? O que é relativizar?
Para relativizar, é necessário deixar de lado todos os meus valores e procurar conhecer o outro, da 
maneira como ele expressa e experimenta sua vida. Eu não posso falar de como o outro se comporta, 
pensa e sente. É necessário saber como o outro pensa e sente o seu mundo por meio de seus valores 
e de seu conhecimento. Não podemos explicar o outro pelo nosso mundo, nossos valores e nossos 
conhecimentos.
A primeira atitude para relativizar é abandonar as certezas etnocêntricas e começar a duvidar e 
questionar, de forma que, partindo destes questionamentos, encontrar novos sentidos para compreender 
o outro.
Segundo Rocha (1996), o relativismo aceita a diferença cultural e este é um pensamento revolucionário. 
No entanto, será mais complicado entender as culturas, os povos, já que agora não se tem mais um tipo 
de explicação, uma só cultura, mas diversas, o que contraria o pensamento evolucionista.
Boas não organizou e nem apresentou uma teoria da cultura. O conceito de cultura não fica claro, 
pois sua preocupação consistia mais em levantar hipóteses do que sistematizá-las. Pesquisou várias 
áreas como: antropologia física, linguística, folclore, geografia, migrações e organização social. O que 
há de importante em suas pesquisas, é que Boas percebeu que a cultura humana não é uma apenas, 
mas diversas, que existiam várias e que elas estão relacionadas pelo ambiente, pela língua ou pelo 
comportamento dos indivíduos que criaram estas culturas.
Rocha (1996) considera que Boas estudou a história concreta de cada cultura, inversamente ao 
evolucionismo, que pensava em uma única história geral, já que todas as sociedades passariam por 
estágios de evolução – os ocidentais estavam no ápice da civilização e as outras culturas eram as menos 
evoluídas, assim os “primitivos” um dia chegariam a ser os “civilizados”, depois de realizarem os mesmos 
estágios. Desta forma, Boas tira da categoria de história o seu “H” maiúsculo (a condição de universal), 
tão importante para os evolucionistas. Já que o “outro” também podia contar a sua própria história.
O pensamento de Boas vai embasar uma geração de antropólogos, como Gilberto Freyre, na 
Antropologia brasileira. Além deste, Franz Boas teve três grupos de alunos que acabaram por desenvolver 
algumas de suas ideias: um grupo que relacionou a personalidade e a cultura; outro que analisou as 
relações entre a linguagem e a cultura; e o terceiro grupo, que trabalhou a relação entre os ambientes 
geográfico, ecológico e físico com a cultura. São visões relativistas da cultura, pois, se compararmos 
ao evolucionismo, suas análises privilegiam elementos do próprio grupo que produz a forma pela qual 
compreendem sua cultura.
Esses grupos são importantes porque eles escaparam do etnocentrismo e partiram para uma análise 
relativista.
A Antropologia foi se desenvolvendo e, com o tempo, foi deixando de lado o campo da evidência 
empírica e se aprofundando na área de organização psíquica e emocional dos agentes sociais. Assim, 
surge, no início do século XX, a chamada Antropologia cultural, que substituiu a visão de que as diferenças 
37
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
biológicas determinariam as diferenças culturais. Ao fazer críticas à ideia da evolução cultural, os estudiosos 
passaram a defender que cada sociedade teria sua história e seu valor particular. Nesse sentido, a cultura e 
a história, e não mais a “raça”, seriam a causa das diferenças entre as populações (ROCHA, 2006).
Destacam-se alguns antropólogos culturalistas, como Franz Boas, Margareth Mead e Ruth Benedict, 
que acreditavam que a sociedade humana tem como características componentes inatos e componentes 
aprendidos e transmitidos.
A cultura, como o componente aprendido e transmitido, contribui para reprimir comportamentos, 
embora os instintos continuem a existir nos indivíduos.
Radcliffe-Brown, segundo Rocha (1996), vai criticar essa forma de análise, dizendo que os mesmos se 
tornaram reducionistas, ao quererem analisar a cultura apenas por um aspecto, seja pela personalidade, 
pela linguagem ou pelo ambiente.
Quadro 7 – Características do culturalismo norte-americano no século XX, anos 1930.
Escola/Paradigma Culturalismo Norte-Americano
Período Séc. XX, anos 1930.
Características Método comparativo.
Busca de leis no desenvolvimento das culturas.
Relação entre cultura e personalidade.
Temas e conceitos Ênfase na construção e identificação de padrões culturais (patterns 
of culture) ou estilos de cultura (“ethos”).
Alguns representantes 
e obras de referência
Franz Boas (“Os objetivos da etnologia” – 1888; “Raça, língua e 
cultura” – 1940).
Margaret Mead (“Sexo e temperamento em três sociedades 
primitivas” – 1935).
Ruth Benedict (“Padrões de cultura” – 1934; “O crisântemo e a 
espada” – 1946).
 Fonte: Vagner Gonçalves da Silva. Disponível em: www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.
3.3 O estruturalismo
No início do século XX, Claude Lévi-Strauss desenvolveu o estruturalismo, um novo método de 
investigação e interpretação antropológico influenciado pelas teorias da Linguística, que parte do 
princípio de que se faz necessário uma análise da estrutura, isto é, uma elaboração teórica capaz 
de dar sentido aos dados da realidade. Assim sendo, Lévi-Strauss define cultura como o conjunto 
de hábitos, atitudes e comportamentos, isto é, maneiras de pensar, sentir e agir de um povo. Veja o 
exemplo a seguir:
A palavra “pai”, por exemplo, pode pôr em evidência uma série de 
elementos ligados à estrutura de parentesco, como sexo, idade, poder, 
atribuições, deveres e relações com outros membros do grupo. Isso 
porque as palavras não constituem uma nomenclatura qualquer, mas são 
meios de pensar a realidade e se referem a situações reais que envolvem 
38
Unidade I
Re
vi
sã
o:
 A
le
ss
an
dr
o 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: L
éo
 -
 3
0/
08
/2
01
1
obrigações, comportamentos

Outros materiais