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PESSOA HUMANA E A CONSCIÊNCIA MORAL
A consciência moral e a consciência psicológica não são a mesma coisa, mas não convém separa-las. A consciência moral pressupõe a consciência psicológica, mas esta não necessita da consciência moral. Contudo, a consciência psicológica encontra a sua realização segundo uma imagem ou conceito de ser humano, de vivência, etc. na consciência moral; isto é, a consciência moral prolonga e termina a consciência psicológica, porque a consciência psicológica e a consciência moral são distintas por razão do seu próprio objecto, mas não são contraditórias. Podemos afirmar que a consciência psicológica trata do homem, enquanto a consciência moral trata do homem enquanto um ser moral e com uma dimensão religiosa.
A consciência moral tem um carácter imperativo em dois sentidos:
a) É juízo em ordem à acção. O seu saber não é desinteressado. A consciência moral se orienta para a realização concreta do ego: é um projecto de vida; age para a realização concreta das acções; mas não é somente acção concreta, mas sim e muito mais uma realização em relação a um fim.
b) A consciência moral acrescenta à consciência psicológica o carácter de obrigação que compromete o ego.
3.2.2- Natureza da consciência moral
A- A subconsciência moral
Para explicarmos a consciência moral, Vidal (1983) refere que temos que primeiro passar por aquilo que chamamos de subconsciência moral. Trata-se daqueles aspectos e dinamismos que se dão na consciência moral, mas não formam propriamente o núcleo consciente da mesma.
A consciência moral é o caminho que o homem faz e aí encontra imaturidades e retrocessos. Não é logo-logo claro o que significa no indivíduo agir com uma consciência moral. Quais são estes retrocessos e essas imaturidades? Quais são os elementos ou estratos que podem definir a subconsciência moral?
a) O eco da sociedade: é em parte inevitável, pois sempre estamos condicionados pela história. Às vezes pensamos que estamos agindo com consciência pessoal, enquanto não somos nada mais que um eco da consciência social, meios de comunicação social ou outros elementos da sociedade. Acontece muitas vezes que nós somos o produto duma investigação psicológico-socio-económica.
b) Muitas vezes, achamos que a nossa consciência seja como a voz do inconsciente que pode ser individual ou colectiva. Significa que os aspectos da consciência foram colocados na educação, no tipo da família, dos valores da sociedade onde o sujeito vive, dos traumas infantis, dos tabus, das tradições, das proibições, das inibições, etc. Tudo isto não constitui, não prepara e nem ajuda para a consciência moral.
c) A consciência como papel-máscara diante dos outros: quantas vezes nós não agimos na base daquilo que os outros esperam de nós? e a personalidade fica como que algo desligado de nós mesmos.
d) A consciência como ideal do ego: o ego desdobra-se e se faz exemplar ou arquétipo de si mesmo. E nascem assim princípios ou critérios de actuação.
B- A preparação para a consciência moral
A consciência moral não é automaticamente adquirida. Ainda na linha de Vidal (1983), o ser humano precisa dum processo de preparação e adaptação em relação à definição da própria consciência. Vejamos alguns elementos que podem indicar o caminho possível para a definição da consciência moral:
a) Para sermos responsáveis e autónomos, devemos aprender que as dúvidas e os limites nos indicam o caminho a seguir; o homem não nasce com uma consciência moral perfeita, mas pode ser que exista uma ’via generationis’ (S. Tomás) para alcança-la. O que se deve afirmar é que existe no ser humano um crescimento moral.
b) O homem tem condicionamentos biológicos e cósmicos, pois ele está no presente. Isto condiciona a sua capacidade de entender as coisas. Propor um “homem ideal” para o homem concreto não parece hoje ser um caminho credível porque para o homem, o ideal está sempre e mais distante do concreto.
c) A subconsciência pode ser entendida como a força falseadora (ou integradora) da vida moral. Aqui entende-se aqueles valores que muitas vezes são propostos pela sociedade, religião ou comunidade espiritual. Estes valores muitas vezes falseiam a verdadeira face da consciência moral.
D- A consciência como faculdade moral e como juízo moral prático
Falar da consciência implica distinguir entre:
a) A consciência como faculdade moral: esta manifesta ao homem as suas obrigações morais e o impele para o cumprimento das mesmas.
b) A consciência como juízo moral prático: esta diz ao homem, na sua situação concreta, quais são as suas obrigações morais.
A consciência como faculdade moral
A consciência é o processo no qual as normas gerais da lei moral são aplicadas para um acto concreto, dizendo à pessoa qual é a sua obrigação aqui e agora ou julgando os seus actos passados. Neste sentido, a consciência é considerada um juízo de razão prática. Para S. Agostinho, consciência é o lugar dum colóquio amoroso entre Deus e o ser humano, e, por isso, da voz de Deus, lugar do encontro com Deus. Nesta mesma linha, Boaventura e os grandes místicos da Idade Média colocam o fundamento da consciência na scintilla animae. É este o centro da alma onde o homem encontra Deus e é o lugar acessível para a contaminação do pecado.
A consciência pode ser definida como aquela faculdade que faz conhecer ao homem as suas obrigações morais e obriga-lhe para seu cumprimento. Assim, todo homem está capacitado para procurar realizar a sua vocação última, que, de acordo com o Vaticano II, é uma e divina para toda a espécie humana (GS, n. 22).
A base elementar e o núcleo da consciência 
A consciência como juízo moral prático 
A faculdade da consciência entra na acção quando a moralidade duma linha concreta de conduta, que a pessoa quer seguir ou seguiu, e a obrigação moral nesta situação concreta, estão para ser julgados. Então, a faculdade moral formula um juízo, que é chamado ditame da consciência ou simplesmente consciência.
A consciência neste sentido é definida como o juízo último e prático na moralidade duma acção concreta, mandando a fazer o que é bom e a evitar o que é mau. Em muitos casos, este juízo não é reflexivo, mas espontâneo. O juízo da consciência é expressamente reflectido especialmente em instâncias de dúvida ou de resistência e desobediência aos ditames da consciência. 
A consciência é chamada juízo último e prático em contraposição ao juízo prático de natureza especulativa. O primeiro diz respeito à acção concreta da pessoa numa situação também concreta; o segundo formula princípios morais gerais que dizem respeito à moralidade das acções humanas em abstracto, sem nenhuma relação com uma actividade concreta da pessoa aqui e agora. 
O ditame da consciência contém um duplo elemento. 
a) O primeiro é o juízo na moralidade duma acção concreta que a pessoa intende emitir ou omitir. Este juízo pode ser erróneo, porque a consciência pode julgar boa uma linha de conduta que é objectivamente má/errada ou vice-versa. 
b) O segundo é o comando ou a obrigação de que aquilo que foi reconhecido como bom deve ser feito ou devia ser feito, e aquilo que foi reconhecido como mau deve ser ou devia ser omitido. Esta obrigação é categórica: é obrigatório fazer assim. 
3.2.3- Tipos de consciência 
A consciência pode ser: antecedente (se o juízo na moralidade duma acção e a obrigação para realizá-la ou omiti-la se passa antes da realização da acção; portanto, a consciência antecedente comanda, exorta, permite, proíbe) ou consequente (quando avalia um dado já feito ou omitido; portanto, a consciência consequente aprova, escusa, reprova ou acusa). 
Mas para que a actuação da consciência seja perfeita, se requer que haja rectidão com verdade e com certeza. Só assim é que uma acção será justa. Se a consciência não é recta, ela é viciosa, se ela não é certa, então é duvidosa, e se não é verdadeira, então é falsa ou errónea (vencível – culpável, ou invencível – inculpável). 
A- A rectidão da consciência: se não é recta, a consciência é viciosa 
A consciência recta é a consciência que actua com aautenticidade da pessoa (e a discussão que daqui sai é quem definirá tal autenticidade? qual o critério?). E precisa-se que a pessoa aja duma maneira prudente e procure encontrar o eco de Deus no seu interior. A rectidão é a qualidade fundamental da consciência moral, porque a consciência recta é a norma necessária da moralidade dos próprios actos. Ela é como que a conditio sine qua non4 da moralidade dos nossos actos. Não podemos estar em desacordo com a consciência em nossas acções humanas. Sem a rectidão não é possível agir humanamente. A consciência recta tem todos os direitos da consciência. Existe uma obrigação moral de seguir os ditames da consciência recta. Existe também o direito de segui-la. E a sociedade, na teoria, não deveria pôr obstáculos neste direito. A rectidão da consciência é o que une os cristãos com os homens de boa vontade (GS, n. 16). Ela faz com que seja possível um diálogo entre os cristãos e os não-cristãos. 
A consciência viciosa é a consciência da pessoa que não é sincera consigo mesma, conhece bem o caminho, mas não actua. Aqui temos todos os vícios, que são contrários às virtudes. Esta não tem nenhum direito. Por isso, há um dever de formar a consciência para que seja recta, pois ser recto não se nasce, mas aprende-se. 
B- A verdade da consciência: se não é verdadeira, a consciência é falsa (errónea) 
A consciência verdadeira é aquela que está de acordo com a verdade objectiva; há uma adequação da verdade pessoal (rectidão) com a verdade objectiva (verdade). Portanto, a consciência é verdadeira quando se põe em acção: a de perseguir a verdade objectiva e a ela se adaptar. 
A consciência falsa é aquela que não está de acordo com a verdade objectiva. Ela é também designada por consciência errónea. Ela existe em duas formas: a consciência vencivelmente errónea (é culpavelmente errónea quando o erro pode ser vencido ou superado) e a consciência invencivelmente errónea (o erro não pode ser descoberto nem superado; a consciência é inculpavelmente errónea). 
Na consciência invencivelmente errónea, é possível que exista o erro na consciência sem que, por isso, esta perca a sua dignidade e seu valor obrigatório, porque é considerada regra próxima da moralidade (Rm 14,23; GS nº 16), e porque o homem age de boa-fé, por isso é regra próxima da moralidade. Ela, por isso, deve ser seguida. Mas a consciência vencivelmente (e por isso culpavelmente) errónea não pode nunca ser regra de moralidade. É preciso sair dela porque é uma situação falhada e, por isso, dela sairá falseado qualquer conteúdo da acção. Não deve ser seguida.
C- A certeza da consciência: se não é certa, a consciência é duvidosa 
A certeza significa que existe uma obrigação de buscar e formar uma consciência que seja certa, porque somente na certeza é que é possível a regra da moralidade. Não se trata de certeza física ou metafísica, mas de certeza moral prática. Nunca se pode agir com uma consciência duvidosa; pois é, por consequência, sempre uma acção pecaminosa. É preciso que, antes de agirmos, devamos tirar todas as dúvidas. 
A consciência certa deve ser sempre obedecida quando manda fazer ou quando proíbe. Sempre deve ser seguida. A razão disto é que a consciência é aquela faculdade apropriada do ser humano que lhe diz quais são os seus deveres morais.
3.2.4- O desenvolvimento e a formação da consciência 
A- O desenvolvimento da consciência 
Certa distinção deve ser feita entre a consciência evoluente na criança, que é predominantemente uma consciência autoritária (must-conscience), e a consciência madura, forma adulta de consciência (ought-conscience). O importante aqui é saber que no caminho da maturação, a consciência autoritária da criança se desenvolve em consciência pessoal da pessoa madura. 
A consciência da criança se caracteriza por comandos paternais, restrições e proibições. De facto, a criança não sabe porque deve ou não fazer algumas coisas. Obedece as ordens porque assim estão prescritas pelos pais. A imitação e a identificação jogam um papel muito importante no desenvolvimento da consciência da criança.
Como a criança cresce e progride em direcção à maturação, a must-conscience deve ir dando lugar à ought-conscience do adulto. Esta não é sustentada pelas punições ou imitação externa, mas se origina a partir da convicção do próprio valor da obrigação moral, a partir da própria lei da natureza humana e do apelo divino. 
Mas essa transição duma para outra consciência nem sempre se efectua com sucesso. O crescimento físico, intelectual e moral nem sempre vão juntos. Há pessoas que permanecem com a consciência autoritária e não alcançam a maturidade e, assim, o seu comportamento moral tem como seus princípios, leis externas. Existem vários possíveis estágios na transição da must-conscience para a ought-consience. E a maturidade perfeita da consciência, aquela que chega ao ponto de fazer seu o dito de Santo Agostinho (ama e faz o que queres), é muito rara.
B- A formação da consciência 
Na linha de Haring (1960), e de acordo com o ensinamento da Igreja, há uma necessidade de formar a própria consciência para que o juízo moral prático possa coincidir com a vontade de Deus e para que a consciência autoritária da criança chegue a ser a consciência perfeitamente madura do adulto. Tal formação da consciência deve realizar-se em cada indivíduo no sentido de: 
a) Assumir as implicações dos princípios básicos da moralidade; 
b) Aprender a como aplicar as normas de tal forma que possa haver um juízo razoável da consciência; 
c) Escutar a verdade e procura-la a partir das fontes onde ela, de facto, pode ser encontrada. 
Na formação da consciência, cada um deve estar consciente dos princípios básicos da moralidade e sobretudo na escuta da voz interior, que é norma interiorizada. Certamente, uma consciência bem formada é caracterizada por quatro atitudes: racional, autónoma, altruísta, e responsável. 
A pessoa deve estar pronta para escutar o que é que a lei prevê como correcção dos seus próprios pontos de vista e como uma auto-salvaguarda ou defesa contra as influências deformantes dos seus juízos. Esta cedência à lei não é submissão imatura, mas é a aprovação resultante da iluminação das próprias limitações e do conhecimento de que as leis morais são fruto da experiência e do trabalho comum de muitas gerações. 
Portanto, a consciência moral, no ser fundamento maior da dignidade humana, deve ser formada. O dever formal e moral mais fundamental do ser humano é formar a sua própria consciência: “Se a luz que há em ti se converte em trevas... quão grandes serão as essas trevas” O meu dever formal é moral quando é realizado no concreto. A consciência é fazer (e não pensar ou sentir ou teorizar) o bem e evitar o mal.
3.4- A pessoa humana e a lei moral 
3.4.1- A noção da lei moral 
A mediação subjectiva da moralidade (a consciência) precisa de categorias das mediações objectivas (valores e normas). Não há consciência se não estão claros aqueles pressupostos que dão sentido a essa consciência. A consciência dá princípios teóricos duma possível acção. Os valores e as normas são dados como actualizações, concretizações, realizações destes princípios. Não é a lei que determina a acção, mas esta é consequência do que o ser humano quer ser, da sua opção fundamental. 
Na moral tradicional utilizou-se uma categoria para englobar as formas de mediação objectiva da moralidade. Tal categoria é a lei. As mediações objectivas da moralidade (leis), tendo já clara a mediação subjectiva da moralidade (a consciência), manifestam-se de múltiplas e várias formas, das quais, podemos sublinhar três: o valor, a norma e o juízo moral.
A- Conceito de lei moral 
Se é verdade que o ser humano lhe foi dado um fim objectivo pelo Criador, então ele deve se submeter à obrigação de fazer desse fim objectivo o seu fim subjectivo. E quando ele olha para este fim, uma ordem que deve ser seguida torna-se visível para ele: é a ordem moral. Esta ordem moral mostra-se por meio da lei moral. Mesmo sabendo que o homem sempre tende a resistir às leisem nome da liberdade (que é uma falsa liberdade), há um acordo geral de que o homem precisa de normas morais e de protecção institucional.
Lei, em geral, é um meio ou caminho constante de agir ou reagir, uma regra directiva de actividade. Existem vários tipos de leis, mas a moral teológica se preocupa por aquelas leis que resultam da obrigação que o homem tem de orientar toda a sua actividade em direcção a um fim último. Esta definição inclui demandas obrigatórias como conselhos, recomendações, permissões, proibições, etc. De acordo com esta definição, toda a lei moral genuína deve ser boa e santa no sentido de que ela deve cuidar que a actividade humana contribua para a realização do fim último da história humana e de toda a criação, e prevenir que o homem não se desvie desse fim.
B- A norma moral e a sua ligação com o valor moral 
A norma moral é a expressão do valor moral; isto é, uma mediação através da qual se formula o valor moral. Ela é a expressão lógica enquanto formula com exactidão o conteúdo do valor moral. Ela é também a expressão obrigante, já que com ela se manifesta a exigência interna do valor moral. E, por fim, ela é a formulação de princípios morais concretos passando pela estrutura lógica do discernimento.
Haring (1960, p. 297) sustenta que a norma da acção, nos casos concretos, costuma apresentar-se sob forma negativa (“não deves mentir”), ou sob forma positiva (“diz sempre a verdade”). A ideia de proibição ou de preceito (obrigação) parece ocupar o primeiro plano. Mas, na realidade, ela somente pode exercer a sua função orientadora partindo de um valor que solicita, e, não em primeiro lugar, de uma vontade eu impõe a obrigação. Por exemplo, o valor da lealdade. Este valor é, em si, muito mais rico do que o simples enunciado normativo, que a ele se refere (sobretudo na sua formulação negativa). Toda a norma autêntica enuncia um valor. E, reciprocamente, todo valor tende a ser normativo. Até mesmo a mais perfeita realização dos valores morais cai ou pode cair sob a ideia de norma a ser seguida. Não é a norma como tal, mas o valor, que constitui o verdadeiro objectivo do acto moral. Somente ele, pela sua própria natureza de valor e pela relação que ele estabelece comigo, está em condição de traçar-me uma regra de conduta ou uma norma para o meu comportamento.
 Uma norma moral não é uma coacção arbitrária exercida contra a liberdade humana. É um apelo, que, partindo do objecto, dirige-se à liberdade. É um convite imperioso no sentido de se preservar e cultivar o valor encarnado pelo objecto, e, por isso mesmo, de preservar a liberdade. Uma norma que não tivesse como fundamento um valor e não constituísse um dever “válido”, não chegaria a tornar-se uma obrigação moral. Mesmo em ordens e mandamentos que, de si, podem assumir formas diversas (preceitos puramente positivos), mister é que esteja contido algum valor, que coloque a vontade diante de uma solicitação.
3.4.2- A divisão da lei moral 
A lei moral, como norma objectiva da moralidade, divide-se em lei natural, lei revelada e lei humana. 
a) Lei natural: é aquela ordem moral que emerge da natureza do homem e de toda a criação e que pode ser reconhecida pela razão humana. Esta lei é também chamada lei divina natural porque a sua origem é directamente fundada na vontade de Deus que criou a natureza e que quis que as leis resultassem da própria natureza. 
b) Lei revelada: a lei revelada é, com certeza, de origem divina. Ela pode pôr em palavras ou em escrito as obrigações da lei natural para imprimir um conhecimento claro sobre eles, como, por exemplo, os 10 mandamentos. Ou ela também pode criar obrigações adicionais, tal como os preceitos sobre o descanso sabático, de leis cerimoniais no AT, ou dos sacramentos no NT. Em contradistinção à lei divina natural, a lei revelada é chamada lei divina positiva. É chamada “positiva” porque é posta ou submetida pela vontade autoritativa de Deus que endereça o homem na revelação. No sentido estrito, leis positivas são somente aquelas obrigações que não são ao mesmo tempo obrigações da lei natural; isto é, são aquelas cuja existência depende dum decreto adicional da vontade salvífica de Deus.
c) Lei humana: a lei humana, quer seja natural quer seja revelada, distingue-se da lei divina. A sua fonte imediata de origem é a autoridade humana, a lei humana pode também reafirmar obrigações da lei natural; por exemplo, a proibição de assassinar ou roubar. Ainda em alguns outros casos, a lei humana instituirá regulamentos que não são requerimentos directos da lei natural, mas sim fruto da vontade razoável do legislador; como por exemplo, a fixação do período necessário para a prescrição duma dívida. Onde o objecto da legislação humana são as leis naturais, as sanções pela transgressão dessas leis, que são normalmente adicionados pela lei criminal, não são preestabelecidas pela lei natural. A lei humana se subdivide em: lei civil do Estado e lei eclesiástica da Igreja, que, na Igreja Católica, é chamada lei canónica. A lei canónica está contida no Código do Direito Canónico.
Usualmente, a lei humana distingue-se da lei moral no sentido estrito, a qual (a lei moral) compreende somente a lei natural e a lei divina positiva. Mas sustenta-se que toda a lei humana justa une-se à consciência. Mas, por outro lado, as leis injustas de princípio não se ligam com a consciência e, assim, não é aconselhável obedecer tais leis, o que significa que do ponto de vista da moral, elas não são leis válidas ao todo. Desde então, toda a lei humana justa leva à obrigação moral.
3.6- A pessoa humana e a liberdade 
Diz a Sagrada Escritura: “Deus quis deixar ao homem o poder de decidir” (Eclo. 15,14). Por isso, a dignidade do homem exige que ele possa agir de acordo com uma opção consciente e livre; movido e levado por convicção pessoal e não por força de um impulso interno cego ou debaixo de mera coacção (Pontifício Conselho “Justiça E Paz”, 2002, n.135). 
O que caracteriza a pessoa humana é a liberdade. Perante este facto, uns afirmam a existência da liberdade e outros a sua não existência. Estas tendências partem de como definem o homem. Para definir o homem podemos encontrar duas tendências: uma individualista que encerra o homem na sua individualidade, afirmando que o homem é ser em si mesmo, e outros de tendência altruísta que afirmam que a pessoa humana é um ser em relação. 
Descartes definiu o homem a partir de si mesmo. Ė no “cogito ergo sum” que encontramos o significado do homem. Para Descartes o homem é um ser egoísta e individual, cujo centro de atenção é ele mesmo. Martin Buber, diferentemente, vai dizer que o homem é um ser de relações. 
O idealismo hegeliano não dá liberdade ao homem. A pessoa é ser de relação com o absoluto. Na relação com o absoluto o homem é absorvido. O absoluto engole a pessoa. 
No marxismo, como no idealismo, o homem é apresentado como um ser de relações. O homem é o ser que entra em relação com a comunidade e esta o devora. A comunidade é o centro das atenções. Não existe o homem individual, mas o homem colectivo. 
O existencialismo está mais para o sentido. O que existe está para fora. Gabriel Marcel diz que a pessoa está na relação eu-tu, através do diálogo comunicativo. O homem é ser com os outros. Karl Jaspers distingue três elementos na pessoa: ser histórico, ser em si mesmo e ser comunicativo. Sartre distingue o homem dos outros objectos. O homem é ser para si. O nada cria-se a partir do ser.
Liberdade é a capacidade de dizer sim ou não ao bem e também de dizer sim ou não ao mal. Por isso, perante o sim ao bem, o homem recebe louvores e graças por parte dos homens e de Deus, e perante o sim ao mal o homem recebe repreensão e castigo. Por isso, na liberdade, está implicada uma responsabilidade. A liberdade de (escolha) é ao mesmo tempo uma liberdade para (responsabilidade). “Liberdade é capacidade de decidir-se a si mesmo para um determinado agir ou sua omissão, respectivamente para este ou aquele agir” (RABUSKE, Edvino A., Antropologia Filosófica, Petrópolis, Vozes, 2001.p.89). 
Trata-se de um poder, do eu mesmo que se refere a um acto que tem um objecto. Isto implica duas situações: primeira, determinado acto deve ser posto ou não e, segundo, eu me decido ou não por este ou aquele modo de agir. No acto livre, a decisão da minha liberdade é a causa primeira para que a minha liberdade se torne assim e não de outra forma. Então, no querer livre aparece o agarrar-se à possibilidade ou aos objectivos. Por isso, a liberdade não é somente a capacidade duma escolha mas uma decisão sobre mim mesmo e as possibilidades da minha própria existência. A liberdade de escolha pressupõe como condição de possibilidade que o homem seja livre e tenha autonomia, espontaneidade, abertura ao ilimitado, e não esteja amarrado, determinado. Esta propriedade é liberdade fundamental.
A liberdade é uma propriedade da vontade, do querer, do tender. O que pretende é o bem, o valor. A capacidade de decidir-se livremente por um determinado bem supõe o conhecimento de que este bem é parcial. Mas o homem não é simplesmente livre como uma pedra. A consciência da liberdade deve ser conquistada pelo homem.