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EPIDEMIOLOGIA AULA 1: BASES CONCEITUAIS DA EPIDEMIOLOGIA, ANTECEDENTES E APLICAÇÃO 1. EPIDEMIOLOGIA – BASES HISTÓRICAS, CONCEITO E APLICAÇÃO. 1.1. BASES HISTÓRICAS 1.2. CONCEITO E APLICAÇÃO 2. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 3. TIPOS DE EPIDEMIOLOGIA 3.1. EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA 3.2. EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA 4. CLASSIFICAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E DETERMINANTES SOCIAIS DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 1. EPIDEMIOLOGIA – BASES HISTÓRICAS E CONCEITO 1.1. BASES HISTÓRICAS A epidemiologia originou-se das observações de Hipócrates feitas há mais de 2000 anos de que fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças. Entretanto, foi somente no século XIX que a distribuição das doenças em grupos humanos específicos passou a ser medida em larga escala. Isso determinou não somente o início formal da epidemiologia como também as suas mais espetaculares descobertas. Os achados de John Snow, de que o risco de contrair cólera em Londres estava relacionado ao consumo de água proveniente de uma determinada companhia, proporcionaram uma das mais espetaculares conquistas da epidemiologia. Os estudos epidemiológicos de Snow foram apenas um dos aspectos de uma série abrangente de investigações que incluiu o exame de processos físicos, químicos, biológicos, sociológicos e políticos. Tal feito rendeu a John Snow o título de “Pai da Epidemiologia”, uma vez que conseguiu através de um extensivo e minucioso trabalho de investigação científica – considerado um estudo clássico da Epidemiologia de Campo, determinar a fonte de infecção de uma doença, mesmo sem conhecer seu agente etiológico. Ao final, relatou que as feições clínicas da doença revelavam que “o veneno da cólera entra no canal alimentar pela boca, e esse veneno seria um ser vivo, específico, oriundo das excreções de um paciente com cólera. [...] Assinalou, afinal, que o esgotamento insuficiente permitia que os perigosos refugos dos pacientes com cólera se infiltrassem no solo e poluíssem poços” (ROSEN, 1994). Outro cientista marcante do século XIX foi o francês Louis Pasteur (1822- 1895), considerado o “Pai da Bacteriologia”, pois identificou inúmeras bactérias e tratou diversas doenças. Ele influenciou profundamente a história da epidemiologia, pois introduziu as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas (PEREIRA, 2013), determinando o agente etiológico das doenças e possibilitando o estabelecimento futuro de medidas de prevenção e tratamento. Outros nomes importantes na história da epidemiologia neste período foram os de (ROSEN, 1994, PEREIRA, 2013): John Graunt (1620–1674) Pioneiro em quantificar os padrões de natalidade e mortalidade. Pierre Louis (1787–1872) Utilizando o método epidemiológico em investigações clínicas de doenças. Louis Villermé (1782–1863) William Farr (1807–1883) Responsável pela produção de informações epidemiológicas sistemáticas para o planejamento de ações de saúde. Participou da investigação das causas de febre puerperal em Viena, na qual constatou que a contaminação das mãos estava relacionada à transmissão da doença e às altas taxas de mortalidade, introduzindo medidas de higiene que reduziram tais indicadores. Edward Jenner (1743–1823) Médico britânico considerado o “Pai da Imunologia”, pois foi o primeiro a utilizar, cientificamente, uma vacina contra a varíola. A abordagem epidemiológica que compara os coeficientes (ou taxas) de doenças em subgrupos populacionais tornou-se uma prática comum no final do século XIX e início do século XX. A sua aplicação foi inicialmente feita visando o controle de doenças transmissíveis e, posteriormente, no estudo das relações entre condições ou agentes ambientais e doenças específicas. Na segunda metade do século XX, esses métodos foram aplicados para doenças crônicas não transmissíveis tais como doença cardíaca e câncer, sobretudo nos países industrializados. Por fim, pode-se afirmar que, do final do século XX até os dias atuais, a epidemiologia se firmou enquanto ciência, baseada em pesquisas e evidências científicas que visam à determinação das condições de saúde da população e à busca sistemática dos agentes etiológicos das doenças ou dos fatores de risco envol- vidos no seu aparecimento, através de diferentes tipos de estudos (ex.: estudos de coorte, caso-controle) e da avaliação de intervenções em saúde para o efetivo controle das doenças que acometem a população. 1.2. CONCEITO E APLICAÇÃO A Epidemiologia vincula-se à área de conhecimento da saúde coletiva, pois é fundamental para a compreensão do processo saúde-doença das populações. Ao ser desenvolvida, por meio do raciocínio causal, contribui para a criação de estratégias que visam a promoção da saúde de grupos e comunidades. A origem da palavra epidemiologia, isto é, sua etmologia é a seguinte: EPÍ DEMÓS LOGOS EPIDEMIOLOGIA Epí, que significa SOBRE + Demós, que significa POPULAÇÃO + Logos, que significa ESTUDO. Portanto, de forma simplificada, o termo “epidemiologia” significa o estudo sobre a população, que direcionado para o campo da saúde pode ser compreendido como o estudo sobre o que afeta a população. A epidemiologia congrega métodos e técnicas de três áreas principais de conhecimento: estatística, ciências biológicas e ciências sociais. A área de atuação da epidemiologia é bastante ampla e compreende em linhas gerais (PEREIRA, 2013): » o ensino e pesquisa em saúde; » a descrição das condições de saúde da população; » a investigação dos fatores determinantes da situação de saúde; » a avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde. Sendo assim, podemos definir EPIDEMIOLOGIA: Os indicadores construídos pela Epidemiologia são os suportes dos planejamentos em saúde, pois é por meio deles que medidas de prevenção, controle e erradicação das doenças são tomadas (ROUQUAYROL, ALMEIDA- FILHO, 2003). É importante destacar que o estudo em Epidemiologia é fundamentado em método científico. Quando falamos em coletividade humana estamos nos referindo àquelas ocorrências que atingem, em massa, essas coletividades, como grupos, comunidades, por exemplo. Para tanto é preciso compreender as frequências com que os eventos, ou os riscos acometem uma dada população, É a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, no que diz respeito à distribuição e determinantes dos estados e eventos relativos à saúde coletiva, aplicando os estudos no controle dos problemas de saúde. o que é possível pelas comparações fornecidas pelas taxas, sendo que o padrão de ocorrência pode ser conhecido pela forma como é distribuído no tempo, espaço e pessoa. Também se preocupa com o tipo de evento, em qual área ocorre, como as ações serão subsidiadas, como evitar com que os indivíduos adoecem e minimizar a incidência das ocorrências a um nível mínimo e mesmo que sejam erradicadas, produzindo saúde que é um direito social. Portanto, podemos dizer que as pesquisas na área da epidemiologia contribuem decisivamente para melhorar a assistência à saúde. Boa parte do desenvolvimento da epidemiologia como ciência teve por objetivo final a melhoria das condições de saúde da população humana, o que demonstra o vínculo indissociável da pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência integral à saúde. Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição das doenças na população é influenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos aspectos socioculturais e econômicos de sua comunidade e pelos aspectos ambientais do seu entorno, fazendo com que o processo saúde-doença se manifeste de forma diferenciada entre as populações Clínica x Epidemiologia Enquanto a Clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisandocaso a caso, a Epidemiologia estuda os fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças em grupos de pessoas. Importante destacar Quadro 1 – Principais diferenças entre as abordagens clínica e epidemiológica Fonte: http://portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/livro_nova_ vigilancia_web.pdf. Clínico Epidemiológico Tipo de diagnóstico Individual Comunitário/populacional Objetivo Curar e prevenir a doença da pessoa Melhorar o nível de saúde da comunidade/identificar fatores risco... Informação necessária História Clínica Exame Físico Exames Complementares Dados populacionais Dados com referência de tempo e espaço geográfico de causas de morte, serviços de saúde, incapacidade, fatores risco... Ações Tratamento Reabilitação Programas de saúde/promoção Monitoramento no tempo Acompanhamento clínico (evitar doenças/melhorar/curar a pessoa) Mudanças no estado de saúde da população bem como diminuição das taxas de mortalidade, da incidência de doenças... Área de atuação - Epidemiologia Quem são os Epidemiologistas? Epidemiologistas podem ser: médicos, enfermeiros, dentistas, estatísticos, demógrafos, nutricionistas, farmacêuticos, assistentes sociais, geógrafos, dentre outros profissionais. Os epidemiologistas trabalham em salas de aula, serviços de saúde, laboratórios, escritórios, bibliotecas, arquivos, enfermarias, ambulatórios, indústrias e também nos mais variados locais de realização de trabalhos de campo. 2. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Para podermos desenvolver a compreensão do processo saúde-doença vamos definir o conceito de saúde e doença. A palavra saúde vem da palavra latina salutis, sendo que salus significa salvar, livrar do perigo. A palavra doença também vem do latim, sendo que dolentia significa dor e doer. A saúde foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948, como sendo “estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente ausência de doença”. Essa afirmação incorpora o fato de que o Estado tenha obrigações com relação à saúde pública, portanto, na sua promoção e proteção. Segundo a Constituição brasileira, saúde é um direito básico e um dever do Estado. A 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, define saúde como: (...) resultante das condições de alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, resultado de formas de organização social de produção, as quais podem gerar profudas desigualdades nos níveis de vida. Doença, pelo Ministério da Saúde, é conceituada como alteração ou desvio do estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio ambiente. Também, a doença pode ser considerada como o desequilíbrio do organismo como resultado de uma reação de defesa do mesmo. Definidos os conceitos de saúde e de doença precisamos começar a entender o processo saúde-doença, então vamos começar com a História natural da doença. A história natural da doença refere-se às relações que se estabelecem pelas inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente. Começa com o estímulo patológico, continua com a resposta ao estímulo, culminando com defeito, invalidez, recuperação ou morte, segundo Leavell; Clark, 1976 apud Rouquayrol; Almeida-Filho, (2003). Segundo o modelo Leavel e Clark (Figura 1), a história natural da doença pode ser contada em dois períodos sequenciais que são a vertente epidemiológica que compreende as relações suscetível e ambiente, e a vertente patológica composta pelas alterações que ocorrem no organismo, após contato com os agentes causais. É um instrumento importante para o embasamento da compreensão de situações de adoecimento e as consequentes ações preventivas. Figura 1 – Modelo da História natural da doença segundo Leavel e Clark. Fonte: Google imagens. A vertente epidemiológica corresponde ao período pré-patogênico. Esta é a fase em que ainda não há resposta biológica do organismo que precisa ser bem conhecida para poder propor medidas de prevenção, então é importante procurar a etiologia, identificando as relações causais, bem como as características dos agentes, dos fatores de risco, da intensidade da exposição, da suscetibilidade do organismo diante das agressões do local de ocorrência das situações de adoecimento. A vertente patológica corresponde ao período da patogénese. Esta é a fase que já há resposta biológica do organismo, o conhecimento da etiologia é importante para a definição de critérios diagnósticos e tratamento, visando a detecção e interrupção da evolução e regressão da doença instalada. No meio externo interatuam os determinantes e os agentes causais das doenças e no meio interno ocorrem as modificações bioquímicas, fisiológicas e histologias. As medidas preventivas dizem respeito a ações que evitem as doenças e os resultados destas. Podem ser classificadas em período pré-patogênico e período patogênico, sendo: Período pré-patogênico: neste pode ocorrer a evolução das relações dinâmicas entre os condicionantes ecológicos; socioeconômicos e culturais; condições intrínsecas do sujeito. Período patogênico: neste há interação agente-sujeito provocando alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas, que vão evoluir para os sinais e os sintomas e, na sequência para a cura, morte ou cronicidade. Os níveis de prevenção, segundo Leavell & Clark (1965), podem ser divididos em: Prevenção primária: Promoção à saúde: diminuir risco de doenças - estabelecimento de padrões de vida, sociais, econômicos e culturais. Exemplos: moradia e alimentação adequadas; educação; áreas de lazer. Proteção Específica: limitar incidência de doenças - controle de causas e fatores de risco. Exemplos: Imunização, saúde ocupacional, higiene, proteção contra acidentes, aconselhamento genético e controle de vetores. Prevenção secundária: Visa curar e reduzir consequências da doença. Dirigido para o período entre o início da doença e o momento em que normalmente seria feito o diagnóstico. Diagnóstico precoce: inquéritos para descoberta de casos na comunidade; exames periódicos, individuais, para detecção precoce dos casos; Tratamento imediato/limitação da incapacidade: evitar progressão da doença e sequelas. Prevenção terciária: Medidas para diminuir sofrimento provocado pela doença e promover adaptações às doenças incuráveis, reabilitação. Exemplos: fisioterapia; terapia ocupacional, emprego para o reabilitado. Descreveu-se a história natural de várias doenças, tanto transmissíveis como não transmissíveis, agudas ou crônicas. No esquema abaixo, mostra-se outro modelo da história natural da doença. Esse modelo assume que os casos clínicos da doença passam por uma fase pré-clínica detectável e que, na ausência de intervenção, a maioria dos casos pré-clínicos evoluem para a fase clínica. Como foi mencionado anteriormente, os períodos de tempo de cada etapa são importantes para a detecção, triagem (ou rastreamento) e intervenção com medidas preventivas e terapêuticas sobre os fatores do agente, hospedeiro e ambiente (Gordis,1996). Nas doenças transmissíveis, o período de latência é o tempo que transcorre desde a infecção até que a pessoa se torne infectada. O período de incubação é o tempo que transcorre desde a infecção até a apresentação dos sintomas. No caso das doenças não transmissíveis, a terminologia difere um pouco e se considera que o período de latência corresponde ao período que transcorre entre o desenvolvimento da doença subclínica até a apresentação de sintomas (Rothman, 1986).3. TIPOS DE EPIDEMIOLOGIA 3.1 EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA (Estudos descritivos) Epidemiologia descritiva é o estudo da distribuição da frequência das doenças e dos agravos à saúde coletiva, em função de variáveis ligadas ao tempo, ao espaço e ao indivíduo, possibilitando o detalhamento do perfil epidemiológico, com vistas à promoção da saúde. (ROUQUAYROL, 2000 apud CORBELLINI, 2014) O tripé da epidemiologia descritiva: • TEMPO: Distribuição do processo saúde-doença segundo variáveis relacionadas a pessoa, isto é, quem adoece e morre; • LUGAR: Distribuição do processo saúde-doença segundo variáveis relacionadas a espaço, isto é, o contexto sócio-político-cultural, econômico e o meio ambiente físico-químico e biológico que caracterizam o processo saúde-doença; • PESSOA: Distribuição do processo saúde-doença segundo variáveis relacionadas a tempo, isto é, quando começou o processo saúde-doença em pauta e os eventos a ele relacionados (início e final do quadro clínico, data da cura, ou óbito época do ano de maior ocorrência, etc.). A Epidemiologia Descritiva permite: • exposição circunstanciada do fenômeno • formulação de hipóteses geradoras de novos conhecimentos • distribuição das doenças • avaliação do estado de saúde populacional • orientação das atividades administrativas para solução dos problemas de saúde pública Ou seja, permite elencar os possíveis fatores que determinam o processo saúde-doença e, em conformidade, dar suporte para a formulação de medidas de prevenção para seu controle. Resumindo: A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde varia de acordo com determinadas características, como sexo, idade, escolaridade e renda, entre outras. Quando a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde difere segundo o tempo, lugar ou pessoa, o epidemiologista é capaz não apenas de identificar grupos de alto risco para fins de prevenção (por exemplo: na cidade de X, verificou-se que idosos com renda familiar inferior a três salários mínimos ingeriam menos frutas e legumes frescos e praticavam menos exercícios físicos do que aqueles com renda familiar mais alta), mas também gerar hipóteses etiológicas para investigações futuras. 3.2 EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA (Estudos analíticos) Estudos analíticos são aqueles delineados para examinar a existência de associação entre uma exposição e uma doença ou condição relacionada à saúde. São usualmente subordinados a uma ou mais questões científicas ou hipótese, que relacionam exposição e doença ou causa e efeito. Difere dos estudos descritivos pois o grupo-controle é formado ao mesmo tempo que o grupo de estudo, servindo para comparar os resultados. Quando o ponto de partida do estudo é a causa (exposição), a exposição pode ser aleatoriamente aplicada (estudo experimental randomizado) ou não (estudo de coorte). Quando o ponto de partida é o efeito, diz-se que o estudo é de caso-controle, visto que investiga retrospectivamente os fatores causais. No estudo transversal estuda- se simultaneamente exposição e doença. Nas próximas aulas serão abordados mais detalhadamente os Desenhos dos Estudos Epidemiológicos e vieses. 4. CLASSIFICAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA E OS DETERMINANTES SOCIAIS DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA • Epidemiologia Clássica: estuda as origens comunitárias dos problemas de saúde da população, preocupando-se com a distribuição e os determinantes da frequência das doenças. • Epidemiologia Clínica: estudam doentes para melhorar o diagnóstico e tratamento de várias doenças, bem como prognóstico dos pacientes já afetados pela doença. • Epidemiologia social ou crítica: tem como foco principal o estudo do modo pelo qual a sociedade e os diferentes modos de organização social influenciam a saúde e o bem-estar dos indivíduos e dos grupos sociais, possibilitando a incorporação de suas experiências societárias, para a melhor compreensão de como, onde e porque se dão as desigualdades na saúde. O processo saúde-doença é um conceito importante de epidemiologia social, que procura caracterizar a saúde e a doença como componentes integrados, de modo dinâmico, nas condições concretas de vida das pessoas e dos diversos grupos sociais; cada situação de saúde específica, individual ou coletiva é o resultado, em dado momento, de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos (ROUQUAYROL, 2002). As definições de determinantes sociais de saúde (DSS) explicam que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (BUSS, 2007). Os pesquisadores Dahlgren e Whitehead propõem um esquema que permite visualizar as relações hierárquicas entres os diversos determinantes da saúde (Figura 2). Figura 2 – Determinantes sociais de saúde. Fonte: Disponível em: http://dssbr.org/site/opinioes/intervencoes-individuais-vs-intervencoes-populacionais/. Dessa forma, os Determinantes Sociais da Saúde – DSS se relacionam com as condições de vida e de trabalho, educação e habitação. E esses determinantes influenciam o estilo de vida das pessoas uma vez que o hábito de fumar, atividade física, hábitos alimentares e outros estão também condicionadas pelos DSS. O primeiro NÍVel: Estilo de VIDA dos INDIVÍDUOS Relacionado com os fatores comportamentais e de estilos de vida das pessoas. Para uma ação eficaz neste nível são necessárias políticas públicas que estimulem a mudança de comportamento por meio de programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a uma alimentação saudável, cria- ção de espaços públicos para a prática de esportes e exercícios físicos, bem como proibição à propaganda do tabaco e do álcool em todas as suas formas (BUSS, 2007). O segundo NÍVel: Redes sociais e comunitárias As relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos são importantes para a promoção e proteção da saúde individual e coletiva. Para atuar neste nível são incluídas as políticas que buscam estabelecer redes de apoio e fortalecer a participação das pessoas e das comunidades (BUSS,2007). O terceiro NÍVel: Condições de VIDA e trabalho Esse nível se relaciona com as condições materiais e psicossociais nas quais as pessoas vivem e trabalham. As políticas que atuam nesse nível normalmen- te são de responsabilidade de vários setores, como oferecer a população água limpa e tratada, saneamento básico, habitação, alimentos saudáveis e nutriti- vos, emprego, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e educação de qualidade etc... (BUSS,2007). O quarto NÍVel de atuação: Condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais Este nível é conhecido como à atuação ao nível dos macrodeterminantes, através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que possam promover um desenvolvimento sustentável, diminuindo as desigualdades so- ciais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade (CNDSS, 2006; PELEGRINI FILHO, 2006 apud BUSS, 2007). REFERENCIAS ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Fundamentos metodológicos da epidemiologia. In: ROUQUAYROL, M. Z. (Org.). Epidemiologia & saúde. 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MEDRONHO, R. de A., WERNECK, G. L.; PEREZ, M. A. Distribuição das doenças no espaço e no tempo. In: MEDRONHO, R. de A. et al. Epidemiologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009. cap. 4, p. 83–102. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. de. (Orgs.). Epidemiologia & saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. 728 p. ROUQUAYROL, M. Z; GURGEL, M. (Orgs.). Epidemiologia & saúde. 7. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2013. SANCHES, K. R. B. et al. Sistema de Informação em Saúde. In: MEDRONHO, R. de A. et al. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2006. SNOW, J. Sobre a maneira de transmissão do cólera. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 1999. 250 p. UNASUS/UFSC. Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal de Santa Catarina. Conceitos e ferramentas da epidemiologia [Recurso eletrônico]. Florianópolis: UFSC, 2013. 97 p. (Eixo 1. Reconhecimento da Realidade).
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