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Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 1 Biofísica dos Fluidos Pressão: agente físico capaz de romper a inércia (acelerar ou desacelerar) os fluidos. Fluidodinâmica: estudo dos fluidos (líquidos e gases) em movimento. Fluidos → as partículas têm grande independência e baixo grau de ordem objeto de pesquisa que demanda recursos matemáticos mais sofisticados. Estudo de extrema importância → no corpo humano os fluidos se movem sem cessar. Circulação de sangue pelos vasos Ar entrando e saindo continuamente dos pulmões. Mecânica dos fluidos: muitos princípios se aplicam exclusivamente a Sistemas Conservativos não existem no mundo real. Sistemas biológicos: são dissipativos, portanto o interesse da Biofísica. Conceitos da fluidodinâmica importantes para a compreensão da fisiologia cardiovascular e respiratória. Sistemas compostos por fluidos Fluidos em movimento organizado: água em um encanamento. Fluido (gás ou líquido) continente (recipiente) para acondiciona-lo. →Fluido interage ativamente com o continente→Constituem um sistema com fluidos dinâmicos→Circuito Circuito Circuito: qualquer estrutura que contenha fluidos em movimento. Sempre que um fluido está em movimento dentro de um continente é chamado circuito. Ex: ❖ Encanamento: circuito para a água da cisterna. ❖ Leito do rio: circuito por onde a água flui. ❖ Oceano: circuito em que as correntes marítimas fluem. Circuitos podem ser: Abertos e Fechados Circuito Fechado: O fluido contido nesse circuito movimenta-se sem contato direto com outros sistemas; o volume de fluido em seu interior é sempre constante. Circuito Aberto: O fluido contido nesse circuito estabelece contato direto com outros sistemas, ou seja, em algum momento, o fluido ou parte dele pode deixar o circuito. Ocorre perda de seu conteúdo. Aplicação do conceito de pressão Seringa com medicamento no seu interior introduzida na veia. Ao apertarmos o êmbolo → romper a inércia do medicamento → criar uma aceleração para fora da seringa → medicamento entra na veia Ao puxarmos o êmbol →aspirar sangue para o interior da seringa Sangue → Exerce pressão nos vasos sanguíneos Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 2 Quando apertamos o êmbolo da seringa e a pressão no seu interior fica maior que a pressão sanguínea → O medicamento acelera e entra na corrente sanguínea. Quando puxamos o êmbolo → pressão no interior da seringa fica menor que a pressão sanguínea e o sangue acelera em direção à seringa Para inspirar é necessário expandir o tórax..Para expirar o tórax se retrai Ao encher o peito, a pressão no interior dos pulmões torna-se menor que a pressão atmosférica e o ar acelera, entrando nos pulmões e os preenchendo. Na expiração, a retração do tórax faz com que a pressão nos pulmões fique maior que a pressão atmosférica e o ar acelere para fora dos pulmões em direção ao exterior. Lei fundamental da fluidodinâmica Só ocorrerá aceleração de um fluido se houver diferença de pressão entre dois pontos do circuito. Porém,Após ter sua inércia rompida pela diferença de pressão, o movimento do fluido em velocidade constante é mantido pela própria inércia. Ou seja: A lei da inércia também se aplica aos fluidos. Força de Resistência e Força Motriz Força de Resistência → Força que se opõe ao movimento. Força Motriz → Força que atua em favor do movimento. Em razão da existência de uma força de resistência inerente ao deslocamento do fluido ao longo do circuito, essa força de resistência deve der vencida por uma força motriz para que o líquido se mantenha em inércia. Ex: Sistema Circulatório humano em condições normais flui a uma velocidade mais ou menos constante. O coração é um motor que vence a resistência do sistema, para que o sangue se mantenha em movimento por inércia (sem aceleração). Exercício físico: coração bate mais depressa e com mais força, criando maior gradiente de pressão que acelera o sangue e aumenta o fluxo para suprir as necessidades do organismo. Conclusão A aceleração de um fluido ocorre do ponto de maior pressão do circuito para o de menor pressão. Por que quando puxamos o êmbolo da seringa ou expandimos os pulmões, a pressão no interior dessas estruturas torna-se menor? Lei de Boyle: Quando aumentamos o volume do continente, a pressão em seu interior diminui, e, quando diminuímos o volume do continente, a pressão em seu interior aumenta. Pressão positiva: pressão que expulsa o fluido de seu continente. Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 3 Pressão negativa: pressão que aspira o fluido para o interior de seu continente; pressão se sucção. Exemplo de pressão negativa O que ocorre no Sistema Linfático. Os capilares linfáticos são vasos em fundo cego que existem no interstício dos tecidos e cuja função é aspirar o excesso de líquidos e proteínas dos tecidos, desembocando no Sistema venoso para devolver à circulação o líquido recolhido (linfa) ao longo dos tecidos. Como exercem sua função de drenagem? Capilares linfáticos se dilatam → o capilar linfático aumenta seu volume e, portanto, sua pressão diminui → assim produz uma pressão negativa que aspira os líquidos em excesso do interstício. Para que os líquidos do interstício sejam aspirados peço capilar, este é dotado de grandes poros, que apresentam válvulas que só permitem a entrada do líquido. Objetivo das válvulas: após dilatar (aumentar o raio) e aspirar os líquidos, a tensão na parede do capilar aumenta (Lei de Laplace), gerando uma força elástica contrária que faz o capilar se contrair, bombeando a linfa adiante. Se as válvulas não existissem a linfa retornaria aos tecidos através dos poros. Ao se dilatarem e contraírem, os capilares linfáticos drenam os líquidos dos tecidos, bombeando-os para a frente, até desembocarem no sistema venoso e devolverem os líquidos recolhidos à circulação sistêmica. Outro exemplo: O coração realiza dois movimentos básicos: sístole e diástole. Durante a sístole (contração) a cavidade dos ventrículos diminui e a pressão interior aumenta o coração ejeta o sangue para os vasos. Na diástole (relaxamento) os átrios aumentam sua cavidade e, consequentemente a pressão interior diminui (pressão negativa) e, assim, o coração aspira o sangue de volta. Lógica do sistema circulatório: Vasos sanguíneos unidos por um coração entre eles (funciona como uma bomba) que aspira e, em seguida, ejeta o sangue fazendo-o circular. Sistema circulatório é fechado. Não ocorre perda de sangue, o volume de sangue é sempre constante Fluxo Grandeza física que exprime o volume de fluido que escoa por unidade de tempo. Fluxo (vazão) é volume por unidade de tempo. Nosso Sistema Circulatório é um circuito fechado estruturado na sequência: Coração→ vasos arteriais → rede capilar → vasos venosos → Coração O fluxo do coração (débito cardíaco) é de, aproximadamente, 5 litros por minuto. Se a cada minuto o coração ejeta 5 l nos vasos, a cada minuto retornam os mesmos 5 litros ao coração. Fluxo e velocidade Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 4 São grandezas diferentes: fluxo é volume por unidade de tempo, enquanto velocidade é a distância percorrida por unidade de tempo. Duas torneiras, A e B. Ambas enchem um reservatório de 5 l em 1 min (ambas têm o mesmo fluxo = 5 l/min). Seria possível que a velocidade de escoamento na torneira A fosse maior que na torneira B? Sim, desde que o calibre (diâmetro) da torneira A fosse menor, pois teria de escoar com maior velocidadepara oferecer o mesmo fluxo da torneira B. Assim, se o raio dos vasos for o mesmo, quanto maior a velocidade maior o fluxo; porém, quando os raios são diferentes (acontece ao longo do sistema circulatório), quanto menor o raio, maior a velocidade de escoamento caso se pretenda manter o mesmo fluxo. Energia Mecânica nos Fluidos Energia mecânica: composta pela energia potencial e pela energia cinética. Também se aplica nos fluidos. Um corpo tem energia potencial quando, em virtude de sua posição, ele tem possibilidade de entrar em movimento. Ex: um fluido sob pressão dentro de um continente. A energia potencial é um tipo de energia latente; uma energia armazenada e pronta para produzir um movimento. No caso dos fluidos, o agente capaz de colocar um fluido em movimento é a pressão. Nos fluidos, a energia potencial é representada pela pressão. A energia cinética é a energia que o corpo tem em virtude de seu próprio movimento. Quanto maior a velocidade, maior a energia cinética. Nos fluidos a energia cinética é representada pela velocidade. Pressão nos capilares Na extremidade final da maioria das arteríolas existem os esfíncteres pré- capilares que são constituídos por musculatura lisa e produzem um estreitamento importante na extremidade arteriolar, fazendo com que o volume de sangue que chega aos capilares flua de modo lento e contínuo. O choque da coluna de sangue com o esfíncter produz grande dissipação de energia, fazendo com que a pressão e a velocidade do sangue após o esfíncter fiquem bastante reduzidas pressão e velocidade do sangue nos capilares tornam-se pequenas. Para que um capilar cumpra bem o seu papel, o importante é que a pressão capilar e a velocidade de escoamento do sangue sejam baixas. Fluxo Laminar Experiência desenvolvida em laboratório sobre a dinâmica dos fluidos. Foram colocados dois fluidos imiscíveis e de coloração diferente, ambos em repouso, em um tubo (A). Em seguida foi aplicada uma pressão para acelerar a mistura e se analisar a trajetória percorrida pelos fluidos (B). Na situação B, as regiões centrais do fluido se deslocam com uma velocidade maior e as linhas de deslocamento (vetor Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 5 velocidade) formam linhas paralelas. É como se o fluido se deslocasse em lâminas (cilindros concêntricos). A lâmina (cilindro) mais externa apresenta contato com a parede do vaso que é um sistema sólido, havendo atrito. À medida que as lâminas do fluxo se afastam das paredes do vaso, seu contato diminui, logo sua aceleração aumenta e, portanto, se movem com maior velocidade. Caso o vaso apresente algum estreitamento, dilatação ou obstrução, haverá choque entre as lâminas e podemos dizer que houve turbilhonamento Fluxo Turbilhonado (Situação C) O choque mecânico entre as lâminas poderá liberar energia sonora e, então, é possível se escutar com um estetoscópio um som característico que denominamos sopro. Conclusão: O sopro ocorre quando existe turbilhonamento. Resistência ao fluxo O Fluxo é dado pela razão entre diferença de pressão e resistência. Resistência ao fluxo: dificuldade imposta ao escoamento do fluido. Variáveis que interferem no fluxo O fluxo depende diretamente da diferença (gradiente) de pressão entre o início e o fim do trajeto e também que o fluxo é inversamente proporcional à resistência imposta à sua passagem. Que fatores são responsáveis por tal resistência? 1 - O raio do vaso Quanto maior o raio do vaso menor a resistência e maior o fluxo. O esfíncter pré-capilar altera o raio do vaso, a resistência e, assim, a pressão no sistema. Lei de Poiseuille ou Lei da Quarta Potência Poiseuille mostrou que a relação não é linear e sim, exponencial. O fluxo em um vaso é diretamente proporcional à quarta potência de seu raio. Se dobrarmos o raio de um vaso, aumentamos o fluxo em 16 vezes Importância desse princípio Mínimas alterações no calibre de um vaso criam grandes alterações no fluxo de seu conteúdo. Se um determinado tecido necessita de maior fluxo sanguíneo, basta uma pequena dilatação dos capilares. 2 - Viscosidade Outro fator que interfere no fluxo. Imagine uma seringa cheia de água e outra, idêntica, com leite condensado. Em qual das duas teremos que aplicar mais força no êmbolo se quisermos esvaziá- las? Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 6 A de leite condensado, uma vez que apresenta maior viscosidade que a água e, portanto, oferece maior resistência em escoar. Quanto mais viscoso um fluido, maior o atrito entre as lâminas (cilindros) do fluido. O fluxo em um vaso é inversamente proporcional à viscosidade de seu conteúdo. Viscosidade nos gases Um cigarro aceso em repouso, a fumaça sobe de modo retilíneo e, após determinada altura (à medida que o atrito com os gases atmosféricos aumenta), a fumaça começa a sofrer um turbilhonamento → Fluxo Turbilhonado. 3 – Comprimento do vaso Se dobrarmos o comprimento do vaso, dobraremos sua resistência, ou seja, reduziremos seu fluxo pela metade. Explicação: quanto maior a extensão do vaso, maior a superfície de atrito entre a lâmina externa do fluido e a parede do vaso. Logo: O fluxo em um vaso é inversamente proporcional ao seu comprimento. Analisando a circulação humana Variável comprimento: não é muito importante, pois não há como aumentar ou diminuir significativamente o comprimento dos vasos sanguíneos. Variável viscosidade: apresenta importância relativa, pois raramente ocorrem grandes alterações da viscosidade do sangue – pode ocorrer relativo aumento da viscosidade em casos de desidratação ou discreta redução dela no caso das anemias. Variável raio do vaso: o principal determinante da resistência ao fluxo no sistema circulatório é o raio do vaso, como nos mostra a Lei de Poiseuille. Observações: 1 – A pressão arterial em nosso sistema circulatório fechado é diferente na sístole e na diástole. O coração fica 1/3 do tempo em sístole e 2/3 do tempo em diástole. Logo: A pressão sistólica tem por finalidade acelerar o sangue (romper sua inércia) para o exterior do coração. Já a pressão diastólica existe para contrabalançar a resistência e permitir que o sangue flua em velocidade constante, por inércia. 2 – As mesmas leis que se aplicam ao fluxo sanguíneo se aplicam ao fluxo aéreo, afinal líquidos e gases são fluidos. Assim, a Lei de Poiseuille se aplica também às vias respiratórias. Se uma pessoa com asma apresentar uma contração dos bronquíolos, reduzindo seu diâmetro pela metade, o fluxo naquele bronquíolo ficará reduzido em 16 vezes. Por isso, as doenças pulmonares obstrutivas podem levar a sérios problemas na oxigenação do sangue e dos tecidos. Reação exacerbada leva à formação de edemas nos bronquíolos, produção excessiva de muco e espasmos na musculatura dos brônquios (broncoespasmo), fatores que provocam uma grande redução no calibre das vias aéreas, dificultando a passagem de ar. Visão termodinâmica da circulação Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 7 Fluxo é movimento e apresenta energia mecânica, composta por energia potencial (pressão) e cinética (velocidade). Saída do sg do coração até seu retorno energia mecânica não se conversa → entropia ( calor) → Forcas dissipativas Grandes artérias (aorta)→ considerável grau de elasticidade →Energia potencial elástica →Calor (entropia) Força de atrito→ dissipação de energia mecânica do atrito com o endotélio Sg não é fluido homogêneo→ apresenta células e proteínas → fluxo não é perfeitamente laminar →atrito entre as lâminas→ perda de energia pelo atritoArtérias se bifurcam → choque de sg com as bifurcações →energia dissipada Esfincteres pré-capilares sg se choca com eles →perda de energia Todas essas variáveis dissipativas (calor/entropia) Sg chega aos capilares com baixa pressão (energia potencial) →baixa velocidade (energia cinética) Após deixar os capilares → chega ao sistema venoso baixa pressão Retorna ao coração → pressão aspirativa → diástole dos átrios Observações: ❖ Tanto a pressão quanto a velocidade nos capilares são muito baixas, em virtude das forças dissipativas presentes no sistema. ❖ Baixa velocidade nos capilares permite que haja tempo para as trocas ocorrerem nos tecidos. ❖ Baixa pressão nos capilares permite que a tensão nos mesmos não seja excessiva, protegendo-os de uma ruptura. Dinâmica da filtração renal Filtração: separação de um sistema sólido-líquido ou sólido-gasoso quando este passa através de um material poroso (filtro) que retém o corpo sólido e deixa passar a fase líquida ou gasosa. Ultrafiltração: filtração de substâncias de dimensões microscópicas. Os rins têm como principal função filtrar o plasma para formar a urina (produto final da excreção renal). Processo que ocorre sob pressão. As hemácias e as proteínas do plasma não são filtradas, já que são substâncias preciosas para o organismo. Para ocorrer a filtração, os vasos sanguíneos (ao chegarem aos néfrons), formam uma rede capilar enovelada: o glomérulo Pressão no glomérulo pressão hidrostática do sangue (pressão que o sangue exerce nas paredes dos vasos). Acelera o filtrado para fora, em direção à Capsula de Bowman (porção inicial do néfron). Opondo-se à filtração existem duas pressões: a pressão oncótica no glomérulo (determinada pelas proteínas ali existentes) e a pressão hidrostática na cápsula de Bowman (pressão capsular), Biofísica Médica Maria Eduarda Rodrigues 8 que aumenta com o acúmulo do filtrado na cápsula. A pressão efetiva de filtração (PEF) é determinada assim: PEF = PH – (PO + PC) Quando os rins falham (insuficiência renal) é preciso filtrar o sangue artificialmente, por meio de um processo denominado diálise, que consiste em um processo físico-químico pelo qual duas soluções (de concentrações diferentes) são separadas por uma membrana semipermeável; após certo tempo, as substâncias passam pela membrana para igualar as concentrações
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