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Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs Depressão Objetivos : 1. Entender os mecanismos de neurotransmissão do SNC; 2. Conhecer a atuação do álcool no SNC; 3. Entender a depressão (Fisiopatologia, tipos, causas e diagnóstico, prevenção); 4. Compreender o tratamento da depressão (psicoterapia, antidepressivos e calmantes). Entender os mecanismos de neurotransmissão do SNC: Neurotransmissores são definidos como mensageiros químicos que transportam, estimulam e equilibram os sinais entre os neurônios, ou células nervosas e outras células do corpo. Esses mensageiros químicos podem afetar uma ampla variedade de funções físicas e psicológicas, incluindo frequência cardíaca, sono, apetite, humor e medo. Bilhões de moléculas de neurotransmissores trabalham constantemente para manter o funcionamento do nosso cérebro, gerenciando tudo, desde a respiração até o batimento cardíaco, até os níveis de aprendizado e concentração. Como os neurotransmissores funcionam Para que os neurônios enviem mensagens por todo o corpo, eles precisam se comunicar uns com os outros para transmitir sinais. No entanto, os neurônios não estão simplesmente conectados uns aos outros. No final de cada neurônio há um pequeno espaço chamado sinapse e para se comunicar com a próxima célula, o sinal precisa ser capaz de atravessar esse pequeno espaço. Isso ocorre através de um processo conhecido como neurotransmissão. Na maioria dos casos, um neurotransmissor é liberado do que é conhecido como o terminal do axônio após um potencial de ação ter alcançado a sinapse, um lugar onde os neurônios podem transmitir sinais uns aos outros. Quando um sinal elétrico chega ao final de um neurônio, ele dispara a liberação de pequenos sacos chamados vesículas que contêm os neurotransmissores. Esses sacos derramam seu conteúdo na sinapse, onde os neurotransmissores se movem através do espaço em direção às células vizinhas. Essas células contêm receptores onde os neurotransmissores podem se ligar e desencadear mudanças nas células. Após a liberação, o neurotransmissor atravessa a lacuna sináptica e se liga ao local do receptor no outro neurônio, estimulando ou inibindo o neurônio receptor dependendo do que o neurotransmissor é. Os neurotransmissores agem como uma chave e o local do receptor age como um bloqueio. Leva a chave certa para abrir bloqueios específicos. Se o neurotransmissor for capaz de funcionar no local do receptor, ele provocará mudanças na célula receptora. Neurotransmissores excitatórios e inibitórios Às vezes, os neurotransmissores podem se ligar a receptores e fazer com que um sinal elétrico seja transmitido pela célula (excitatório). Em outros casos, o neurotransmissor pode impedir que o sinal continue, evitando que a mensagem seja carregada (inibitória). Pode ser degradado ou desativado por enzimas Ele pode se afastar do receptor Pode ser retomado pelo axônio do neurônio que o liberou em um processo conhecido como recaptura Os neurotransmissores desempenham um papel importante no dia a dia e no funcionamento. Os cientistas ainda não sabem exatamente quantos neurotransmissores existem, mas mais de 100 mensageiros químicos foram identificados. Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs O que os neurotransmissores fazem Os neurotransmissores podem ser classificados por sua função. Então, o que acontece com um neurotransmissor depois que seu trabalho está completo? Uma vez que o neurotransmissor tenha tido o efeito projetado, sua atividade pode ser interrompida por diferentes mecanismos. a. Neurotransmissores excitatórios Esses tipos de neurotransmissores têm efeitos excitatórios no neurônio, o que significa que aumentam a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores excitatórios incluem epinefrina e norepinefrina. b. Neurotransmissores inibitórios Esses tipos de neurotransmissores têm efeitos inibitórios sobre o neurônio. Eles diminuem a probabilidade de o neurônio disparar um potencial de ação. Alguns dos principais neurotransmissores inibidores incluem a serotonina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). Alguns neurotransmissores, como a acetilcolina e a dopamina, podem criar efeitos excitatórios e inibitórios, dependendo do tipo de receptores que estão presentes. c. Neurotransmissores modulatórios Esses neurotransmissores, freqüentemente denominados neuromoduladores, são capazes de afetar um número maior de neurônios ao mesmo tempo. Esses neuromoduladores também influenciam os efeitos de outros mensageiros químicos. Onde os neurotransmissores sinápticos são liberados pelos terminais dos axônios para ter um impacto de ação rápida em outros neurônios receptores, os neuromoduladores se difundem através de uma área maior e são mais lentos. Tipos de neurotransmissores Existem várias maneiras diferentes de classificar e categorizar os neurotransmissores. Em alguns casos, eles são simplesmente divididos em monoaminas, aminoácidos e peptídeos. Os neurotransmissores também podem ser categorizados em um dos seis tipos: a. Aminoácidos b. Peptídeos c. Monoaminas d. Purinas e. Acetilcolina f. Gasotransmissores Drogas que influenciam Neurotransmissores Talvez a maior aplicação prática para a descoberta e compreensão detalhada de como os neurotransmissores funcionam tenha sido o desenvolvimento de drogas que afetam a transmissão química. Essas drogas são capazes de alterar os efeitos dos neurotransmissores, o que pode aliviar os sintomas de algumas doenças. Agonistas vs antagonistas Alguns medicamentos são conhecidos como agonistas e funcionam aumentando os efeitos de neurotransmissores específicos. Outros medicamentos e referidos como antagonistas e atuam para bloquear os efeitos da neurotransmissão. Efeitos diretos versus indiretos: Esses medicamentos de ação neurológica podem ser ainda mais discriminados com base no fato de terem um efeito direto ou indireto. Aqueles que têm um efeito direto funcionam imitando os neurotransmissores porque são muito semelhantes na estrutura química. Aqueles que têm um impacto indireto agem agindo nos receptores sinápticos. As drogas que podem influenciar a neurotransmissão incluem medicamentos usados para tratar doenças, incluindo depressão e ansiedade, como ISRS, antidepressivos tricíclicos e benzodiazepínicos. As drogas ilícitas, como heroína, cocaína e maconha, também afetam a neurotransmissão. A heroína age como um agonista de ação direta, imitando os opióides naturais do cérebro o suficiente para estimular seus receptores associados. A cocaína é um exemplo de uma droga de ação indireta que influencia a transmissão da dopamina. Identificando neurotransmissores A identificação real dos neurotransmissores pode ser bastante difícil. Embora os cientistas possam observar as vesículas que contêm Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs neurotransmissores, descobrir quais substâncias químicas são armazenadas nas vesículas não é tão simples. Por causa disso, os neurocientistas desenvolveram várias diretrizes para determinar se um produto químico deveria ou não ser definido como um neurotransmissor: • O produto químico deve ser produzido dentro do neurônio. • As enzimas precursoras necessárias devem estar presentes no neurônio. • Deve haver quantidade suficiente da substância química presente para realmente ter um efeito sobre o neurônio pós-sináptico. • O produto químico deve ser liberado pelo neurônio pré-sináptico e o neurônio pós- sináptico deve conter receptores aos quais o químico se ligará. • Deve haver um mecanismo de recaptaçãoou enzima presente que interrompa a ação do produto químico. Os neurotransmissores desempenham um papel crítico na comunicação neural. Eles influenciam em tudo, desde movimentos involuntários até o aprendizado e o humor. Este sistema é complexo e altamente interconectado. Os neurotransmissores atuam de maneiras específicas, mas também podem ser afetados por doenças, drogas ou mesmo pelas ações de outros mensageiros químicos. https://www.vittude.com/blog/neurotransmissores/ Conhecer a atuação do álcool no SNC: “O álcool tem ação direta no sistema límbico, do Sistema Nervoso Central, e age como um depressor das funções cerebrais, diminuindo o centro da crítica da pessoa, que fica mais expansiva. A ansiedade, a variação de humor e a depressão são consequências da ingestão de bebida alcoólica”, explica Claudio Jerônimo. Cérebro – o álcool afeta o Sistema Nervoso Central e pode causar perda de reflexo, problemas de atenção, perda de memória, sonolência e coma, que pode levar à morte. https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2266 -o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce- ingere-bebida-alcoolica O álcool atua como um depressor de muitas ações no Sistema Nervoso Central (SNC) e seus efeitos sobre este são dose-dependentes. Em pequenas quantidades, o álcool promove desinibição, mas com o aumento desta concentração, o indivíduo passa a apresentar uma diminuição da resposta aos estímulos, fala pastosa, dificuldade à deambulação, entre outros. Em concentrações muito altas, ou seja, maiores do que 0.35 gramas/100 mililitros de álcool, o indivíduo pode ficar comatoso ou até mesmo morrer. A Associação Médica Americana considera como uma concentração alcoólica capaz de trazer prejuízos ao indivíduo 0.04 gramas de álcool/100 mililitros de sangue. Concentração de álcool no sangue (CAS) (g /100 ml de sangue) Estágio Sintomas clínicos 0.01 - 0.05 Subclínico Comportamento normal 0.03 – 0.12 Euforia - Euforia leve, sociabilidade, indivíduo torna- se mais falante - Aumento da auto-confiança desinibição, diminuição da atenção, capacidade de julgamento e controle Início do prejuízo sensório-motor - Diminuição da habilidade de desenvolver testes 0.09 – 0.25 Excitação - Instabilidade e prejuízo do julgamento e da crítica https://www.vittude.com/blog/neurotransmissores/ https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2266-o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-ingere-bebida-alcoolica https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2266-o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-ingere-bebida-alcoolica https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/2266-o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-ingere-bebida-alcoolica Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs - Prejuízo da percepção, memória e compreensão - Diminuição da resposta sensitiva e retardo da resposta reativa - Diminuição da acuidade visual e visão periférica - Incoordenação sensitivo- motora, prejuízo do equilíbrio - Sonolência 0.18 – 0.30 Confusão - Desorientação, confusão mental e adormecimento - Estados emocionais exagerados - Prejuízo da visão e da percepção da cor, forma, mobilidade e dimensões - Aumento da sensação de dor 0.25 – 0.40 Estupor - Inércia generalizada - Prejuízo das funções motoras - Diminuição importante da resposta aos estímulos I - Importante incoordenação motora 0.35 – 0.50 Coma - Inconsciência - Reflexos diminuídos ou abolidos - Temperatura corporal abaixo do normal 0.45+ Morte - Morte por bloqueio respiratório central Efeitos do Álcool Sobre os Neurotransmissores O etanol é uma substância depressora do SNC e afeta diversos neurotransmissores no cerébro, entre eles, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato. GABA O ácido Gama-amino-butírico é o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Existem dois tipos de receptores deste neurotransmissor: o GABA-alfa e o GABA-beta, dos quais, apenas o GABA-alfa é estimulado pelo álcool. O resultado é um efeito ainda mais inibitório no cérebro, levando ao relaxamento e sedação do organismo. Diversas partes do cérebro são afetadas pelo efeito sedativo do álcool, tais como aquelas responsáveis pelo movimento, memória, julgamento e respiração. Evidências científicas sugerem que o álcool inicialmente potencializa os efeitos do GABA, aumentando os efeitos inibitórios, porém, com o passar do tempo, o uso crônico do álcool reduz o número de receptores GABA por um processo de ?down regulation? o que explicaria o efeito de tolerância ao álcool, ou seja, o fato do indivíduos necessitarem de doses maiores de álcool para obter os mesmos sintomas anteriormente obtidos com doses menores. Os sintomas de abstinência podem ser explicados pela perda dos efeitos inibitórios, combinado com a deficiência de receptores GABA. A interação entre o etanol e o receptor para o GABA foi melhor estabelecida a partir de estudos que demonstraram haver redução de sintomas da síndrome de abstinência alcoólica pelo uso de substâncias que aumentam a atividade do GABA, como os inibidores de sua recaptação e os benzodiazepínicos, mostrando a possibilidade do sistema GABAérgico ter efeito na fisiopatologia do alcoolismo humano. Glutamato O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais importante do cérebro humano, parecendo ter um papel crítico na memória e cognição. O álcool também altera a ação sináptica do glutamato no cérebro, reduzindo a neurotransmissão glutaminérgica excitatória. Devido aos efeitos inibitórios sobre o glutamato, o consumo crônico do álcool leva a um aumento dos receptores glutamatérgicos no hipocampo Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs que é uma área importante para a memória e envolvida em crises convulsivas. Durante a abstinência alcoólica*, os receptores de glutamato, que estavam habituados com a presença contínua do álcool, ficam hiperativos, podendo desencadear de crises convulsivas à acidentes vasculares cerebrais. *Síndrome de abstinência - Inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Os tremores de extremidade e lábios são os mais comuns, associados a náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos mais graves evoluem para convulsões e estados confusionais, com desorientação temporal e espacial, falsos reconhecimentos e alucinações auditivas, visuais e táteis (delirium tremens). Outros neurotransmissores O Álcool estimula diretamente a liberação de outros neurotransmissores como a serotonina e endorfinas que parecem contribuir para os sintomas de bem-estar presentes na intoxicação alcoólica. Mudanças em outros neurotransmmissores foram menos observadas. Danos do Álcool ao Cérebro Dificuldades em andar, visão borrada, fala arrastada, tempo de resposta retardado e danos à memória. De maneira clara, o álcool afeta o cérebro. Uma série de fatores podem influenciar o como e o quanto o álcool afeta o cérebro, a saber: • Quantidade e frequência de consumo de álcool; • Idade de início e o tempo de consumo de álcool; • Idade do indivíduo, nível de educação, gênero sexual, aspectos genéticos e histórico familiar de alcoolismo; • Risco existente de exposição pré-natal ao álcool; e • Condições gerais de saúde do indivíduo. Transtorno Amnésico Alcoólico O uso de álcool pode produzir danos detectáveis à memória após apenas algumas doses e à medida que o consumo aumenta, também aumentam os danos ao cérebro. Altas quantidades de álcool, especialmente quando consumidas de maneira rápida e com o estômago vazio, podem produzir um “branco” ou um intervalo de tempo no qual o indivíduo intoxicado não consegue recordar detalhes de eventos ou até mesmo eventos inteiros. Os estudos sugerem que as mulheres são mais susceptíveisdo que os homens para vivenciar esses efeitos adversos sob mesmas doses de álcool. Essa ação parece estar relacionada às diferenças orgânicas existentes entre homens e mulheres no metabolismo dessa substância. Síndrome de Wernicke-Korsakoff Os danos causados pelo álcool no cérebro pode ser decorrentes tanto de causas diretamente ligadas ao uso de álcool como de fatores indiretos, como saúde geral debilitada ou doença hepática severa. A deficiência de tiamina, por exemplo, pode ser um desses fatores. A tiamina, conhecida também com vitamina B1, é um nutriente importante para todos os órgãos e tecidos, incluindo o cérebro. Mais de 80% dos alcoolistas apresentam deficiência desse nutriente. Uma parcela dessas pessoas sofrerá consequências severas no cérebro tais como a Síndrome de Wernicke- Korsakoff. Trata-se de uma doença caracterizada por duas diferentes síndromes, uma de curta duração chamada Wernicke e outra permanente e bastante debilitante chamada Korsakoff. Os sintomas da Síndrome de Wernicke incluem confusão mental, paralisia dos nervos que movem os olhos e dificuldades de coordenação motora. Aproximadamente 80 a 90% desses pacientes manifestam a Síndrome de Korsakoff, caracterizada por perdas de memória anterógrada (eventos futuros) e de memória retrógrada (eventos passados). A boa notícia fica por conta do fato de a maioria dos alcoolistas que apresentam problemas cognitivos apresentam ao menos alguma melhora nas estruturas cerebrais a partir de 1 ano de abstinência do álcool. https://cisa.org.br/index.php/sua- saude/informativos/artigo/item/46-alcool-e- sistema-nervoso-central Entender a depressão (fisiopatologia, tipos, causas, diagnostico, prevenção): Os transtornos depressivos são caracterizados por humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações cognitivas e somáticas que afetam a funcionalidade do indivíduo, eles são um grupo de doenças que se diferenciam entre si pela intensidade e duração dos sintomas. A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos envolvidos na condução https://cisa.org.br/index.php/sua-saude/informativos/artigo/item/46-alcool-e-sistema-nervoso-central https://cisa.org.br/index.php/sua-saude/informativos/artigo/item/46-alcool-e-sistema-nervoso-central https://cisa.org.br/index.php/sua-saude/informativos/artigo/item/46-alcool-e-sistema-nervoso-central Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs dos estímulos através dos neurônios, que possuem prolongamentos que não se tocam. Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse, absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas. Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos. Na depressão, há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro. Epidemiologia: Atingindo mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, a depressão teve um aumento de 18% entre os anos de 2005 e 2015. No ano de 2017 a depressão alcançou o marco de ser a doença que mais causa prejuízos sociais e econômicos na população ativa, superando as doenças cardiovasculares e o câncer os anos de trabalho perdido por doença. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma séria condição de saúde. Ela está frequentemente associada a sofrimento ou incapacidade significativa que afeta as atividades sociais, acadêmicas ou profissionais, reduz o nível de funcionalidade e compromete a qualidade de vida. Transtorno Depressivo Maior pode aumentar em até duas vezes a incidência de Infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e diabetes. A depressão ainda leva ao aumento da mortalidade na diabetes tipo II (2,3 vezes), insuficiência cardíaca congestiva com fração de ejeção normal (8 vezes) e em doenças coronarianas (2,6 vezes). Nos casos mais graves a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo está a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Embora existam tratamentos eficazes conhecidos para depressão, menos da metade dos afetados no mundo (em muitos países, menos de 10%) recebe tais tratamentos. Os obstáculos ao tratamento eficaz incluem a falta de recursos, a falta de profissionais treinados e o estigma social associado aos transtornos mentais. Outra barreira ao atendimento eficaz é a avaliação imprecisa. Em países de todos os níveis de renda, pessoas com depressão frequentemente não são diagnosticadas corretamente e outras que não têm o transtorno são muitas vezes diagnosticadas de forma inadequada. Fisiopatologia: Com o amplo efeito que os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRSs) – por exemplo, a fluoxetina – tiveram sobre o tratamento da depressão, a serotonina tornou-se o neurotransmissor mais associado à depressão. Embora a noradrenalina e a serotonina sejam as aminas biogênicas mais frequentemente associadas com a fisiopatologia da depressão, a dopamina, o sistema GABA e peptídeos neuroativos (particularmente vasopressina e opioides endógenos) também parecem estar implicados. Fatores neuroendócrinos podem estar relacionados ao surgimento de sintomas depressivos. As síndromes e reações depressivas surgem com muita frequência após perdas significativas: de uma pessoa querida, de um emprego, de um local de moradia, de uma situação socioeconômica ou de algo puramente simbólico. Os transtornos depressivos podem surgir secundariamente a causas orgânicas, como disfunções hormonais, nesses casos deve-se buscar o tratamento da causa base. NOVAS HIPÓTESES FISIOPATOLÓGICAS DA DEPRESSÃO A hipótese que há mais de 30 anos tenta explicar a fisiopatologia é a teoria das monoaminas, que propõe que a depressão é causada por níveis reduzidos em especial da serotonina e a noradrenalina. A hipótese neurotrófica da depressão vem sendo bastante estudada nos últimos anos, no qual postula que o estado depressivo está relacionado à redução da neuroplasticidade e atrofia neuronal em áreas do cérebro relacionadas com o humor e a memória. O BDNF é uma neurotrofina imprescindível para o crescimento da célula neuronal e resultados mostraram que indivíduos com depressão apresentam redução dos níveis de BDNF, sendo um possível alvo terapêutico. Outra teoria que vem ganhando relevância é o estresse e o envolvimento do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal (HHA) e sua relação com estruturas do sistema límbico (principalmente hipocampo e amígdala). O estresse humano pode colaborar para a patogênese da depressão, bem como influenciar Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs na gravidade e na recorrência da doença. O eixo HHA é importante para a capacidade de o organismo responder ao estresse, e a estimulação do mesmo foi encontrada na patogênese da depressão, apresentando níveis elevados de cortisona e aumento da glândula pituitária. Em humanos, níveis aumentados de cortisol induzem uma atrofia hipocampal e tem sido implicado no déficit cognitivo observado nesses pacientes. A depressão também pode está relacionada ao aumento de citocinas pró- inflamatórias, caracterizando uma resposta inflamatória, no qual é capaz de ativar o eixo HHA, bem como a capacidade de reduzir a disponibilidade de triptofano para a síntese de serotonina e da enzima que converte o triptofano em quinurenina e ácido quinolínico, sendo também uma substância agonista dos receptores NMDA. Pacientes com depressão apresentam um número elevado de citocinas próinflamatórias, leucócitos sanguíneos e redução de serotonina.Todas essas teorias não vieram para negar a hipótese monoaminérgica, mas para complementar o que já está estabelecido, facilitando ainda mais na compreensão da fisiopatologia da depressão. Tipos: a. Depressão maior É o tipo mais comum e genérico. “Seus sintomas são tristeza, angústia, desânimo, culpa e alterações no sono, no apetite, na concentração e na libido que persistem por muito tempo”, lista o psiquiatra Volnei Costa. A doença se divide em três graus: leve, moderado e grave. Cada um possui a sua abordagem – aliás, não é porque a situação é mais branda que dá para relaxar e ignorar seu impacto no dia a dia. Tratamento: há três pilares fundamentais em qualquer recuperação: remédios antidepressivos, psicoterapia e a mudança no estilo de vida. Praticar exercícios físicos, por exemplo, é uma recomendação de dez entre dez psiquiatras. A relação entre o transtorno depressivo maior e essas condições crônicas e incapacitantes parece ser bidirecional, pois um pode influenciar o prognóstico do outro. b. Sazonal Essa não costuma dar tanto as caras no Brasil ou em outros países com temperaturas mais elevadas e clima ameno. Porém, é um tormento sério em lugares como o norte dos Estados Unidos, o Canadá, a Islândia, a Dinamarca e a Noruega. Durante o inverno, há pouca luz natural nesses locais — o dia começa tarde e já fica escuro de novo lá pelas 14 ou 15 horas. E a falta do sol afeta os indivíduos mais suscetíveis, que se tornam bastante deprimidos durante as épocas de frio extremo. Tratamento: além do combo básico (medicamentos, terapia e hábitos saudáveis), uma alternativa bem eficaz é a fototerapia. O paciente fica durante um tempo dentro de uma cabine de luz. Isso beneficia certas regiões do cérebro dele. c. Distímica O termo está caindo em desuso na medicina, mas você pode encontrar profissionais que falam sobre essa versão da melancolia. Ela é caracterizada por sinais bem leves, quase imperceptíveis, que perdura por dois anos ou mais. A pessoa acaba aprendendo a conviver com aquilo e, por mais prejuízos que tenha no dia a dia, não conversa com ninguém sobre o assunto. O problema é que o quadro pode se aprofundar rapidamente e provocar sérios danos à saúde física e mental. Tratamento: a psicoterapia é especialmente estratégica por aqui: durante as sessões, será possível identificar os sintomas e as melhores maneiras de desarmá-los a tempo. Fazer atividade física é outra boa pedida para elevar o ânimo. d. Atípica Apesar do nome, ela é prevalente e intriga os experts. A diferença está na forma como se manifesta. “Ela segue um padrão peculiar: em vez de sonolência excessiva, dá insônia. Enquanto nas outras há perda de apetite, nela ocorre um aumento na ânsia por comer”, exemplifica o médico Ricardo Alberto Moreno, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs Outras características são a piora dos sintomas no final do dia e um humor mais sensível e irritável. Tratamento: além dos antidepressivos básicos, o psiquiatra irá avaliar a necessidade de prescreve fármacos da classe dos estabilizadores de humor. Eles são muito utilizados em outros transtornos, como a bipolaridade. e. Psicótica É uma das depressões mais sérias e preocupantes da lista. Os sintomas corriqueiros estão presentes. Porém, junto deles, pintam outros, como delírios de perseguição ou a sensação de que algo muito ruim está para acontecer a qualquer momento. Há casos em que a psicose se agrava e o sujeito mistura a realidade com fantasias de sua cabeça. Alguns chegam a achar que seu coração parou ou já estão mortos. Essas situações extremas, ainda bem, são muito raras. Tratamento: não dá pra fugir das medicações antipsicóticas. Dentro do plano terapêutico, elas promovem uma reorganização do cérebro e aliviam a crise. Quanto antes o esquema for iniciado, melhores os resultados e menor o risco de recaídas. f. Mista Observada por pesquisadores desde o século 19, ela vem ganhando destaque na última década, com a descoberta de novas ferramentas para diagnosticar e encarar o problema. Suas principais marcas são aceleração do pensamento, maior irritabilidade e comportamentos compulsivos nas compras, no sexo ou na forma de reagir aos outros. “O dilema é que muita gente acaba confundindo a depressão mista com ansiedade, mas são entidades completamente distintas”, ressalta Costa. Tratamento: os antidepressivos podem deixar o pensamento ainda mais acelerado. Para evitar esse efeito colateral, é necessário primeiro recorrer a estabilizadores de humor ou antipsicóticos e fazer frente aos sintomas compulsivos mais urgentes. g. Melancólica Os maiores incômodos, como a falta de energia, a tristeza absoluta e a angústia, se agravam e ficam alarmantes. “Outro traço dela é o fato de os sintomas serem piores logo de manhã e melhorarem um pouco durante o dia”, observa Moreno. É o tipo mais fácil de ser identificado, mas, não raro, o indivíduo não deseja sair de casa para consultas com o especialista. Amigos e familiares precisam criar uma rede de suporte e dar toda a atenção necessária para fazer esse resgate. Tratamento: antidepressivos são essenciais. Outra saída em casos graves é a eletroconvulsoterapia, que recorre a estímulos elétricos na cabeça. O método é seguro e tem eficácia comprovada. h. Pós-parto A queda na produção de determinados hormônios logo após a gestação vira um tormento danado a mulheres suscetíveis. Elas desenvolvem uma ideia de incapacidade de cuidar do bebê ou simplesmente não experimentam a alegria da maternidade. Na sequência, aparece a culpa, que deixa tudo pior e prolonga a doença pelos meses seguintes. A melhor maneira de evitar que o transtorno alcance proporções catastróficas é conversar com o ginecologista e relatar qualquer sentimento que pareça estranho. Tratamento: Alguns antidepressivos específicos são indicados, pois não afetam o processo de amamentação. O acompanhamento com o psicólogo é outra ferramenta valiosíssima para identificar e vencer pensamentos negativos. Diagnóstico: Dentre os transtornos depressivos a depressão maior é aquele que causa mais prejuízos individuais e coletivos. Os critérios diagnósticos para a depressão maior segundo o DSM-V são: A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo ou por observação feita por outras pessoas (em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs atividades na maior parte do dia, quase todos os dias. 3. Perda ou ganho significativo, 5% de peso sem estar fazendo dieta ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada. 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 9. Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente com ou sem um plano específico ou uma tentativade suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é melhor explicada por outro transtorno psicótico. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. Prevenção: Prevenção • Ter uma dieta equilibrada; • Praticar atividade física regularmente; • Combater o estresse concedendo tempo na agenda para atividades prazerosas; • Evitar o consumo de álcool; • Não usar drogas ilícitas; • Diminuir as doses diárias de cafeína; • Rotina de sono regular; • Não interromper tratamento sem orientação médica. Compreender o tratamento da depressão (psicoterapia, antidepressivo e calmantes): O tratamento deve integrar a farmacoterapia com a intervenção psicoterápica. Os antidepressivos produzem, em geral, uma melhora de 60 a 70% dos sintomas depressivos em um mês. Em termos de eficácia, parece não haver diferença significativa entre as várias drogas disponíveis. No entanto, alguns critérios orientam o tratamento antidepressivo: - Se existe uma história familiar ou história anterior de resposta positiva a determinada droga, esta deve ser tentada em primeiro lugar; - Se não houver história prévia, deve-se utilizar como primeira escolha um Inibidor Seletivo da Recaptação da Serotonina (ISRS) ou tricíclico e monitorar por 2-3 semanas. A resposta geralmente aparece dentro de quatro semanas; - Os efeitos colaterais são a principal variável relacionada à não adesão dos pacientes, portanto deve-se estar atento ao perfil de efeitos indesejáveis; - Após quatro semanas, se o antidepressivo não tiver o efeito desejado, uma mudança de classe de antidepressivo e/ou potencialização da terapia podem ser experimentados; - L-triiodotironina (T3), carbonato de lítio e l- triptofano podem ser utilizados para potencializar o efeito antidepressivo; - Nos casos de depressão em idosos, a mirtazapina pode ser uma boa escolha devido ao padrão reduzido de efeitos colaterais. Também possui ação sedativa; - A retirada do antidepressivo deve ser gradual, ao longo de uma a duas semanas, dependendo da meia-vida do composto; - A Eletroconvulsoterapia (ECT) fica reservada aos casos de transtorno depressivo grave com sintomas psicóticos e refratário ao uso de antidepressivos. O que são medicamentos psiquiátricos? Os medicamentos psiquiátricos, psicofármacos ou psicotrópicos são grupos de substâncias químicas que trabalham no sistema nervoso central. Por afetarem os processos mentais, alteram a percepção, emoções e comportamentos dos pacientes. Sarah Silva Cordeiro | Medicina FITS | P3 2021.2 | Problema 3 MT2 | @study.sarahs Assim, é possível “se desligar” dos sintomas dos transtornos mentais, combatendo-os. Há dezenas de psicofármacos no Brasil para o tratamento do mesmo transtorno ou de transtornos diversos. O seu uso vai depender da orientação do profissional, portanto, nunca os tome por conta própria. A escolha do medicamento leva em consideração uma variedade de fatores particulares, como história pessoal do paciente, idade, patologias físicas, histórico de doenças e resposta a usos anteriores. O uso também poderá ser associado à psicoterapia dependendo do quadro clínico. Portanto, consulte um psicólogo antes de tomar quaisquer decisões. Ademais, os transtornos mentais apresentam peculiaridades e sintomas semelhantes que tornam o diagnóstico preciso mais demorado. Não é incomum o paciente experimentar mais de um remédio até encontrar aquele que aja da maneira desejada. O profissional é capaz de verificar se o medicamento está fazendo efeito logo nas primeiras semanas e ajustar o tratamento conforme as necessidades do paciente. Medicamentos psiquiátricos para depressão Fluoxetina É um dos medicamentos mais utilizados para o tratamento da depressão, ansiedade, síndrome do pânico, bulimia, disforia e outros. Ele aumenta os níveis de serotonina, o neurotransmissor responsável pela regulagem do humor, bem- estar, sono, apetite, entre outras funções. É ideal para transtornos que causam o desequilíbrio na produção de serotonina. Escitalopram Indicado para pacientes depressivos e ansiosos, além dos que apresentam síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno de ansiedade social, é um dos medicamentos mais recomendados pelos médicos. O escitalopram corrige as concentrações danosas de neurotransmissores no cérebro, aumentando os níveis de serotonina entre os neurônios. Combate os sintomas da depressão aguda mais rápido do que outros medicamentos. A importância da Terapia no tratamento Na última semana tive a grata surpresa de assistir a palestra do psiquiatra Eduardo Ferreira, em um evento de saúde mental. Em uma das suas falas, o Dr. Eduardo afirmou que somente o uso de medicamentos, sem o devido tratamento psicoterapêutico tem eficácia reduzida. É preciso lembrar que os fármacos têm atuação somente nos sintomas físicos dos transtornos mentais, não conseguindo ter ação nas causas que levaram cada indivíduo a adoecer. Por essa razão, um processo terapêutico é fundamental para que pessoas diagnosticados com qualquer distúrbio obtenham resultado mais rápido e com efeito duradouro. Portanto, se você está passando por alguma situação de vida que demanda a ingestão de um medicamento psiquiátrico, considere também a opção de consultar um psicólogo. Este é o profissional preparado para compreender a psique humana. Através das sessões de terapia, conseguimos olhar para dentro e compreender quais atitudes e crenças nos fizeram adoecer, bem como trabalhar questões como autoestima, limites, aprender a dizer não e descobrir um verdadeiro propósito.
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