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CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 1 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO CONCURSO T.R.E.-RJ/2005 PROFESSOR MARCELO CARNEIRO CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 2 DIREITO CONSTITUCIONAL CONTEÚDOS: Noções de Direito Constitucional Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5º) Da Nacionalidade (arts. 12 e 13) Dos Direitos Políticos (arts. 14 a 16) Noções de Direito Administrativo Disposições Gerais Sobre Administração Pública (arts. 37, incisos I a XVII) Servidores Públicos (arts. 39 a 41) Noções de Direito Constitucional Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5º) A Carta Magna estabeleceu direitos e deveres, individuais e coletivos, bem como as garantias constitucionais. O Art. 5º, na prática trata de valores humanos em quatro áreas de delimitação: a) O chamados direitos personalíssimos; b) disposições sobre o Poder Judiciário; c) normas de Direito Penal, e d) os chamados remédios constitucionais (compreendidos entre as chamadas garantias constitucionais). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: O artigo 5º, com seus 77 incisos, retrata a própria essência do pós-positivismo, ou seja, os valores típicos do Direito Natural, devidamente protegidos pelo Direito Positivo. Ao inferir que todos são iguais perante a lei, o legislador constituinte, preconiza a existência do princípio da isonomia. I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Desdobramento natural do princípio da isonomia, temos aqui o chamado princípio da igualdade. Tal avanço extinguiu, por exemplo, o domicílio necessário da mulher e, pela, primeira vez, a mulher adquiriu igualdade legal em relação ao homem. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Princípio da legalidade ou da reserva legal. O enunciado é claro, somente a lei pode determinar que alguém faça ou deixe de fazer algo, ainda que contra sua vontade. III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante; CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 3 Reflexo dos traumas da ditadura militar, onde direitos fundamentais quanto à integridade física eram desrespeitados pelo próprio Estado. Cabe lembrar que a questão do tratamento desumano está intrinsecamente atada à aplicação de penas.1 IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; É lícito a qualquer pessoa manifestar seu pensamento, cabendo responsabilidade pelos excessos. Isso justifica, portanto, a vedação do anonimato, pois se assim não fosse, prevaleceria a leviandade de se levantar calúnias, injúrias e difamações, sem que se pudesse alcançar o autor. V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; Continuação lógica do inciso precedente, garante ao ofendido o direito de resposta. É comum em relação a citação de personalidades em noticiários e em campanhas eleitorais. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; O Brasil adota a forma de Estado laico, porém garante a todos o direito de livre escolha a crença, ou como pretendem alguns autores a livre ideologia filosófica e política. VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; A Carta garante a faculdade de se obter serviço religioso nas entidades de internação coletiva, independentemente da sua natureza (quartéis, presídios, hospitais, etc). VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; É garantido ao cidadão escusar-se de cumprir obrigação legal (servir exército, por exemplo), desde que cumpra uma prestação alternativa (serviços comunitários). Não pode, contudo, se escusar de cumprir tal obrigação quando não haja possibilidade da prestação alternativa. IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; Outro dispositivo que reflete o repúdio ao período da Ditadura Militar que precedeu à Carta de 88. A censura é a limitação prévia de determinado pensamento antes de sua divulgação. Da mesma forma, não se admite prévia autorização para divulgação de idéia. 1 ver Art. 5º, XLVII. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 4 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Este dispositivo protege alguns dos chamados direitos personalíssimos que, qualificados como absolutos, merecem proteção especial. O desrespeito de terceiros gera a obrigação de indenizar o ofendido. Destarte, ninguém pode publicar foto de outrem sem a devida autorização. No direito à imagem, é de importância basilar a questão do consentimento, pois o que se pretende evitar é o uso indevido, ou mesmo não consentido da imagem de uma pessoa. Aliás, nem o consentimento permite abuso, caso típico do direito de arena.2 XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; Inicialmente, cabe lembrar que o domicílio, na ótica do Direito Constitucional coaduna com a linha adotada pelo novo CC, por sua vez, inspirado no Direito Germânico que permite a pluralidade de domicílios. Isso importa dizer que tanto a doutrina quanto a jurisprudência apontam no sentido de que o conceito de domicílio abrange, inclusive, o local onde se exerce a profissão ou atividade laborativa.3 O STF vem garantindo a inviolabilidade do domicílio profissional do profissional liberal. Nos casos de dengue, por exemplo, ou nos demais casos de saúde pública, o STF admite a entrada arbitrária nos quintais, preservando a residência. A Carta Magna garante a inviolabilidade do domicílio, permitindo a violação sem consentimento apenas nas seguintes hipóteses: 4 Dia: Flagrante delito ou desastre para prestar socorro, ou, ainda, por determinaçãojudicial. Somente durante o dia, a proteção constitucional deixará de existir por determinação judicial. Noite: Flagrante delito ou desastre para prestar socorro. XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Aqui se busca proteger a intimidade, protegendo o acesso a correspondência alheia. A exegese é restritiva no que concerne à investigação civil, porém a interpretação é extensiva no caso de correspondência eletrônica. XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; A lei pode estabelecer qualificação profissional em alguns casos (medicina, direito, etc). Caso não haja lei nesse sentido, ou cumpridas as exigências requeridas em lei, ninguém pode vedar o acesso ao ofício. 2 CARNEIRO, Marcelo. Apostila de TECD. Resende, 2005. Aula 02. 3 idem. 4 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Ed. Atlas, 2004. Cap. 3, 14 – p. 84. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 5 XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; Na medida em que a própria Constituição veda o anonimato, todo jornalista é obrigado a assinar suas matérias. No entanto, não é obrigado a revelar suas fontes. Mais do que isso, legitima instrumentos de controle, tal como serviços públicos tipo “disque denúncia”. XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Ninguém pode ser impedido de adentrar ou sair no território brasileiro, salvo em caso de guerra. O termo é genérico e não faz distinção entre brasileiros ou estrangeiros. Em caso de restrição, salvo em hipótese de guerra, cabe a impetração de habeas corpus. XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; Outro reflexo do período da ditadura, a garantia constitucional de se reunir em público, desde que, pacificamente e sem portar armas, permite que grupo de pessoas possa realizar passeatas, manifestações públicas, independentemente de autorização, mas simplesmente de prévio aviso. No caso de prévio aviso, o mesmo se faz necessário, caso o evento enseje interdição do trânsito, proteção policial, etc... Também se justifica para impedir que, p.exemplo duas manifestações venham a ocorrer no mesmo horário e lugar. XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; Associação, de acordo com o novo CC, é a pessoa jurídica sem finalidade lucrativa, criada para exercer atividades, tais como culturais, educacionais, religiosas, desportivas, dentre outras. É vedada, contudo, a associação criada para fins paramilitares, por ser função típica de Estado, portanto, intransferível. XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; Tal dispositivo garante às associações e cooperativas, a autonomia para criação, cumpridos os requisitos legais exigidos. Uma vez estabelecidos legalmente, não pode o Estado intervir em seu funcionamento, salvo na hipótese do inciso XIX. Aqui, diga-se, o Estado abdica de seu papel interventor permitindo que essas entidades se auto-regulem, inclusive, sem necessidade de prévia autorização governamental. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 6 XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; Somente o Poder Judiciário, de forma motiva, pode intervir em sua independência e determinar a sua suspensão ou dissolução. Evidente, pois, sua ligação com o inciso anterior. Note-se que, no caso da dissolução, por mais grave, a Lei determina que a mesma só se concretiza após a sentença transitar em julgado, quando não há mais possibilidade recursal. XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; Aqui consagra-se a liberdade de associação. Não obstante, existe divergência quanto ao alcance deste dispositivo, já alguns órgãos de classe não admitem o exercício profissional (OAB, CFM, CREA, etc), com base no art. 149 da CR. XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; O texto, ao proclamar “expressamente autorizadas” despertou polêmica, já pacificada pelo STF. A questão da representação, a princípio, exige ou procuração ou autorização em assembléia para agir em nome dos associados. O STF, porém, entende que essa autorização existir expressamente no estatuto da entidade, pode a mesma ingressar, p.exemplo, com MS em nome dos associados sem termo específico de autorização. XXII - é garantido o direito de propriedade; A questão da propriedade no Brasil, em razão dos incisos XXII e XXIII, assume característica de direito misto. Se por um lado neste inciso consagrou o Direito à propriedade, historicamente absoluto e típico do direito privado. XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Por outro, ao atribuir-lhe função social deu-lhe característica de direito público, pois, pode o Estado promover expropriação (desapropriação punitiva) em caso de descumprimento da função social, respeitadas as diferenças entre imóvel rural e urbano.5 XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; O Instituto da desapropriação vem a ser um dos instrumentos mais típicos do ius imperium, através do qual o Estado toma para si imóvel pertencente a particular, visando o benefício coletivo. A CR estabeleceu que o pagamento corresponder ao valor real do imóvel, cuja quantia deve ser paga antecipadamente. Não obstante, estabelece exceções em que o Estado pode pagar em títulos da dívida pública, ou mesmo, a desapropriação sem indenização que o legislador denominou expropriação. 5 Ver art. 182,§ 2º c/c art. 186 da Constituição da República. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 7 XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; O instituto a ser analisado aqui é o da Requisição Administrativa,através do qual, o Estado pode requisitar imóvel de particular, em caso de perigo, para a sua utilização. Aqui não há transmissão de propriedade, mas sim da posse temporária, finda a qual, o imóvel deve ser restituído ao particular, garantido o direito a indenização em caso de dano. A CR estabeleceu que o pagamento corresponder ao valor real do imóvel, cuja pelo Estado em casos que não há perigo, mas tão somente uma extrema necessidade. Ex: Requisição de escola pública para a instalação de zona eleitoral. XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; A pequena propriedade rural mereceu especial atenção na atual Constituição, sendo que nesse caso específico, a pequena propriedade, desde que trabalhada pela família, não pode ser penhorada em razão de dívida decorrente de sua propriedade produtiva, ou seja, um empréstimo para a aquisição de tratores. A proteção não se estende, contudo, à dívida oriunda do não pagamento de tributos. XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; Bem de natureza incorpórea, a idéia de direito autoral visa proteger a propriedade intelectual, no campo específico das artes, garantido, ainda, o direito dos herdeiros. 6 XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; Um desdobramento da mesma idéia de proteção à atividade intelectual, visando a proteção individual em trabalho coletivo. Ex: Uma montagem teatral, onde muitos colaboram para a consecução de um objetivo comum. XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; O outro desdobramento da proteção ao intelecto se dá em relação aos inventos cujo registro da patente protege seu autor, sendo que, nesse caso, há de ser sempre um direito temporário e jamais, perpétuo. 6 Ver Lei nº 9.610/98. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 8 Outro ponto fundamental é o de que, caso o interesse particular se contraponha ao interesse público, deverá prevalecer este último, em razão de adotarmos o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. XXX - é garantido o direito de herança; A garantia ao direito de herança impede, antes de tudo que o Estado se aproprie dos bens do de cujus, em detrimento de herdeiros. Tal idéia se estende à impossibilidade de deserção, ainda em caso de filho ilegítimo. XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus"; Norma de Direito Internacional Privado trazida ao status de norma Constitucional, protege herdeiros, sempre que a lei natal do país de origem do de cujus, lhes for desfavorável. XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; O direito do consumidor envolve a interferência do Estado em problemas ligados à qualidade do produto, à relação de consumo, ao preço, aos contratos de fornecimento de produtos e serviços, à publicidade, dentre outras questões.7 XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; Novamente, o legislador constituinte trouxe proteção contra abusos cometidos durante a ditadura, neste caso, garantindo o direito à informação (individual ou coletiva), desde a sua concessão não enseje riscos à sociedade e/ou ao Estado. A fim de garantir efetividade a este inciso, existe a previsão do habeas data para obrigar a autoridade pública a entregá-los, sob pena de responsabilidade.8 XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; Aqui, consagra-se o direito de petição, através do qual, pode-se insurgir contra ato praticado pela administração, eivado de vício. Pode o licitante impedido de participar de certame, sem justa motivação, peticionar ao Tribunal de Contas para denunciar vício no procedimento licitatório. Além disso, todo cidadão tem direito a obter informações de seu interesse, mediante certidão. Na verdade, a questão referente ao pagamento de taxas, não vem eximindo o peticionário do pagamento de custas judiciais, de emolumentos, ou mesmo do custo do material. 7 Ver Lei nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor. 8 Ver art. 5º, LXXII. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 9 XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; O princípio da Inafastabilidade da Jurisdição está insculpido no art. 5º, XXXV, objetivando acertadamente que a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça de direito. Estreitamente correlacionado com o princípio da legalidade, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional é fundamental para manutenção do Estado de Direito. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, destaca o direito de o indivíduo fazer passar pelo crivo do Judiciário toda lesão a seus direitos é essencial a todo regime cioso das liberdades fundamentais.9 XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; Ato Jurídico Perfeito - É aquele que se realizou inteiramente sob a vigência de determinada lei. Assim, se alguém comprou alguma coisa, pagando na hora o respectivo preço total, o direito daquela pessoa sobre tal coisa está consumado, não podendo ser atingido por lei nova. Ressalte-se que se o ato não tiver sido aperfeiçoado durante a vigência da lei anterior, poderá ser atingido pela lei nova. Direito adquirido é aquele que, na vigência de determinada lei, incorporou-se ao patrimônio de seu titular. Pode ser de natureza patrimonial ou personalíssimo. Ex: O servidor público de carreira lotado em cargo de confiança por mais de cinco anos tem direito a incorporar o salário do cargo ao seu salário base; ao final de cinco anos o servidor A completou o tempo e adquiriu o direito. A lei nova extingue esse instituto jurídico. No caso do servidor A, ainda que o governo nãotenha apostilado suas vantagens, não poderá negar-lhe o direito à incorporação, pois o direito se aperfeiçoou na vigência da lei anterior. Coisa Julgada – Uma vez decidida determinada questão pelo Judiciário, transitada em julgado, ou seja, não mais havendo possibilidade de recurso, gera norma entre as partes, estabelecendo obrigações e direitos entre as mesmas. Nesse caso, a nova lei não poderá alcançar e desfazer o efeito da sentença definitiva. XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; Somente os órgãos com atribuição típica previstos constitucionalmente podem realizar julgamentos. Aqui inclui-se o dever de julgar atribuído ao Poder Legislativo, que tem competência exclusiva para julgar determinadas matérias, tal como cassação de mandato parlamentar por improbidade administrativa. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; 9 FERREIRA Filho, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional, pág. 245. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 10 A figura do júri, uma das mais emblemáticas do mundo do Direito, no Brasil, se compõe de 07 pessoas do povo para o julgamento de crimes dolosos contra a vida: Homicídio; Infanticídio; Aborto; e, Indução, auxílio ou instigação ao suicídio. Após a análise do caso, os jurados deliberam e, em voto secreto, declaram se o acusado é culpado ou inocente, não cabendo ao juiz o poder de alterar a decisão, mas somente a aplicação da pena compatível. É garantida ao acusado a ampla defesa e o contraditório, sob pena de invalidade. XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Outra manifestação do Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal. Ninguém poderá ser condenado por crime não prescrito em Lei, nem poderá cumprir qualquer tipo de pena que, igualmente, a Lei não preveja. Uadi Lammêgo Bulos com toda propriedade afirma que o princípio da legalidade vem a ser o “Mandamento nuclear do direito penal”.10 Continua, afirmando que “a existência de um delito está condicionada ao surgimento de uma lei prévia. Alguém só poderá ser punido se houver comando legislativo anterior. Considerando o seu comportamento criminoso”. Tal disposição, em respeito à tradição constitucional brasileira, constitucionalizou o artigo 1º do Código Penal que, por sua vez já consagrava o princípio nullum crimen, nulla poena sine lege. Sua constitucionalização de forma geral é bastante antiga e tem como marco a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1793). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Na definição de Paulo Dourado de Gusmão, “Entende-se por retroatividade a incidência dos efeitos jurídicos da lei nova sobre fatos ou atos ocorridos anteriormente a ela. Discute-se, então, se a nova lei é aplicável a situações jurídicas constituídas sob o império da lei anterior (revogada)”.11 Muito embora alguns autores defendam a retroação das leis – como Sílvio Rodrigues –, existe toda uma corrente (majoritária) – dentre eles Paulo D. Gusmão e Paulo Nader – que aponta no sentido de que a retroatividade como regra constitui fator de insegurança jurídica, pois permitiria a modificação do passado legalmente estabelecido. Fosse admitida a retroatividade como princípio absoluto ao invés da exceptio “não haveria o Estado de Direito, mas o império da desordem”. 12 Logo, o Princípio da Irretroatividade das Leis adotado no Direito Positivo Brasileiro é relativizado, na medida em que o Direito Penal admite a pretensa exceção como regra. XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; Aqui temos um dos muitos dispositivos constitucionais de eficácia contida, já que dependem de lei que o regulamente. Não é, portanto, auto-aplicável. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 10 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada, Ed. Saraiva, p. 207. 11 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito, 142 – p. 243. 12 NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 136 – p. 246. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 11 Em respeito à miscigenação do povo brasileiro, combinada com o repúdio ao racismo, o legislador considerou grave a prática do racismo, tratando-o como crime inafiançável (não cabe fiança) e imprescritível (não é suscetível a prescrição). O condenado por esse crime, sofrerá pena de reclusão na forma da lei, ou seja, pena privativa de liberdade. Não se olvide que, muito embora o cumprimento da pena se dê, em regime fechado, pode ser transformado em semi-aberto ou aberto. XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Da mesma forma que o racismo, a tortura, o tráfico de entorpecentes, terrorismo e crimes hediondos, são insuscetíveis de fiança, além de, nesse caso, graça ou anistia, ou seja, o perdão presidencial mediante decreto, ou aquele decorrente de lei ordinária aprovada pelo Congresso.13 XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; A defesa do Estado Democrático de Direito passa pela premissa de que só o Estado pode se utilizar da força, razão pela qual, toda ação de grupos armados que não seja no interesse do próprio Estado é ilegítima e sujeita ao status de crime inafiançável e imprescritível. XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; A pena não poderá passar da pessoa do condenado. É o princípio da personalidade ou intransmissibilidade da pena. A consagração desse princípio extirpou a imputação objetiva que vigia no ordenamento anterior. “Antigamente, as penas poderiam atingir não apenas o criminoso, mas toda a sua família, inclusive as gerações subseqüentes. A título de ilustração, cita-se o caso da sentença de Tiradentes, que contém, em seu corpo, a seguinte passagem: “declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelo bens confiscados, e no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se conserve em memória a infância dêste abominável réu”.14 XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: Graças à Constituição Federal, a individualização da pena é um expresso direito fundamental do condenado, obrigando o legislador e o aplicador da lei a lhe dar a máximaeficácia possível, sob pena de incidir em inconstitucionalidade por omissão. 13 Ver Lei nº 8930/94 – Dispõe sobre crimes hediondos. 14 LIMA, George Marmelstein, Juiz Federal. In Palestra proferida durante o Curso de Formação de Magistrados na Escola Superior de Magistratura Federal da 5a Região. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 12 Alexandre de Moraes ressalta que “O princípio da individualização da pena exige estreita correspondência entre a responsabilização da conduta do agente e a sanção a ser aplicada, de maneira que a pena atinja suas finalidades de prevenção e repressão”.15 a) privação ou restrição da liberdade; A privação de liberdade se dá através de reclusão, ou seja, necessariamente em regime fechado (que depois, poderá sofrer relaxamento) ou detenção. b) perda de bens; O perdimento dos bens, se dá quando o Estado toma os bens (e frutos) decorrente da prática do ato delituoso. c) multa; A administração impõe uma punição de caráter pecuniário, por falta cometida. Ex: pagamento de tributo em atraso. d) prestação social alternativa; O princípio da ultima ratio segue uma tendência mundial, consagrada nas Regras de Tóquio, e que visa a criação e ampliação de leis penais mais humanitárias, como as Medidas Alternativas. Ao lado do princípio da lesividade e adequação social, justificam o princípio da insignificância (princípio da bagatela). e) suspensão ou interdição de direitos; A suspensão (temporária) ou perda (permanente) são punições que podem ser aplicadas pelo Estado, em casos específicos. Ex: O cidadão que ultrapassa o número de pontos na carteira de motorista, tem a habilitação suspensa; assim como o político que tem as contas reprovadas pelo TCE, torna-se inelegível. XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; O legislador constituinte optou por abolir penas de excessivo rigor, como pena de morte, trabalhos forçados, prisão perpétua, banimento ou qualquer espécie de pena considerada cruel. É decorrência do princípio da ultima ratio, pois a característica do Direito Penal moderno é a da intervenção mínima. A pena de morte, contudo, pode ser aplicada em caso de guerra. No caso dos trabalhos, no Brasil, o preso deverá ser sempre remunerado, pois, de forma geral, a Carta não admite trabalho não-remunerado considerando-o, escravo. XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; A idéia cristaliza a preocupação em separar presos de baixo potencial lesivo com criminosos perigosos. Além do mais, jovens devem ser separados de adultos e mulheres, dos homens. XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 15 Moraes, Alexandre de – Constituição do Brasil Interpretada – Ed. Atlas, p. 326. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 13 O Brasil optou pela Responsabilidade Civil Objetiva, de modo que o Estado, na qualidade de tutor do preso, tem o dever de garantir a sua integridade, respondendo pelos danos que esse vier a sofrer, salvo se o preso concorrer para a culpa. L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; A proteção da criança não deixa de existir, nem na hipótese da mãe presidiária, que poderá permanecer com o filho durante todo o período de lactação. Não houvesse tal proteção, a punição se estenderia aos filhos, contrario sensu do disposto no inciso XLV deste artigo. LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; A extradição vem a ser a transferência impositiva de uma pessoa para outro país em decorrência de delito que lá tenha praticado. O Brasil não admite a extradição de brasileiros em hipótese alguma, e de naturalizados, desde que crime comum tenha ocorrido antes da naturalização ou em caso de envolvimento com o tráfico de entorpecentes. LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; A extradição, aqui, sofre outra limitação, específica para estrangeiros, de forma a vedar a transferência forçada em razão de crimes políticos ou de opinião. Assim, o asilado político também possui garantias constitucionais, mas a conceituação de crime político é suscetível de controvérsias. LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; O Juiz natural é somente aquele integrado no Poder Judiciário, com todas as garantias institucionais e pessoais previstas na Constituição16. Ou sejam juiz natural é somente aquele, a quem a Carta Magna atribuiu o poder de julgar. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; Criação do Direito Norte Americano, o “Due Process of Law”, não trata como muitos pretendem, apenas do conteúdo processual (formal), como também, e principalmente, do princípio da Razoabilidade (substancial). O emérito prof. Luís Roberto Barroso, com muita propriedade lembra que o Divido Processo Legal “Tratava-se, inicialmente, de uma garantia voltada para a regularidade do processo penal, depois estendida ao processo civil e ao processo administrativo. Seu campo de incidência recaía notadamente no direito ao contraditório e à ampla defesa, incluindo questões como o direito a advogado e ao acesso à justiça para os que não tinham recursos”.17 16 MORAES, Alexandre de – Direito Constitucional – Ed. Atlas, 21 – p. 109. 17 Barroso, Luís Roberto – Artigo “Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade” -www.jurisnet- rn.com.br CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 14 O Devido Processo Legal confere proteção dúplice ao indivíduo. Alexandre de Moraes assevera com propriedade que o “Devido Processo Legal atuando tanto no campo material de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, è revisão criminal).”18 Logo, o Devido Processo Legal enquanto fomentador da ampla defesa e do contraditório, aplica-se na esfera judicial, administrativa e acusados em geral, aí incluídos os atos infracionais cometidos por menor infrator (criança ou adolescente). LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Os Princípios de que estamos a cuidar (contraditórioe ampla defesa) se encontram estampados no art. 5º, LV, da Constituição Federal em vigor, assim redigido: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Podemos afirmar, por isso, que o contraditório é uma cláusula constitucional típica dos Estados-de-Direito e segundo a qual todos os atos processuais devem ser realizados não apenas com transparência, mas com o indispensável conhecimento daquele a quem tais atos possam afetar. Por esse princípio se garante, ainda, a participação ampla dos litigantes em todo o processo e não apenas na fase de produção de provas, porquanto, como dissemos há pouco, a instrução não está limitada à coleta de provas (conquanto seja nessa fase que ela se apresente de modo mais perceptível), compreendendo, também, a preparação que enfeixa um complexo de atos diversificados, dentre os quais se incluem, p.ex., as razões finais. Assim sendo, ambas as partes têm direito de aduzir essas razões (e em igual prazo), direito que promana, a um só tempo, dos princípios do contraditório e da igualdade, que se inter-relacionam. Esses dois princípios atuam, inclusive, nos procedimentos administrativos, como deixa patente a norma constitucional comentada, que o contraditório e ampla defesa são aplicáveis, indiferentemente, ao processo civil (litigantes) e ao processo penal (acusados). Na esfera administrativa, é importante lembrar, ainda, que o princípio da ampla defesa pôs termo aos ritos sumários da verdade sabida e do termo administrativo. LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; “A árvore podre não gera bons frutos”. Tal metáfora consagra a tese de que os meios ilícitos não podem ser considerados válidos para efeito de prova, em razão do vício em sua consecução. Assim excessos, tais como: confissão mediante tortura, escuta clandestina, violação de correspondência (inclusive eletrônica), dentre outras são ilegais. LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Aqui consagra-se o Princípio da Presunção da Inocência. Ninguém pode ser condenado até que o Estado prove a sua culpa. Cabe ao Estado e não ao acusado o ônus da prova. 18 MORAES, Alexandre de – Direito Constitucional – Ed. Atlas, 24 – p. 124. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 15 Em relação à terminologia, o correto deveria ser Princípio da Presunção da Não- Culpabilidade, pois ninguém pode ser presumidamente inocente nem culpado. LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; A datiloscopia é uma forma de identificação judiciária que vem resistindo ao tempo, em face da segurança e certeza que apresenta. Com o advento da Carta de 88, a pessoa identificada civilmente não está mais obrigada a submeter-se à identificação criminal, salvo em casos especiais a serem determinados em lei, p. ex., quando não apresenta o documento solicitado ou se este contém rasuras suspeitas ou indícios de falsificação. Ocorre que, como bem observa Damásio de Jesus, tais hipóteses previstas em lei ainda não existem, já que não houve regulamentação específica deste dispositivo. Desse modo, o inciso deve ser interpretado restritivamente, de modo que não cabe, p. ex. a aplicação do art. 6º, VIII, do CPP. LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; Vale salientar que é o MP que detém a iniciativa de propor ACP. Assim, o particular lesado em caso de perda de prazo por parte do promotor, pode propor subsidiariamente. A lei sempre definirá os casos em que o crime é de ação penal privada (crimes contra a honra, p.ex), já que, via de regra, os crimes, de modo geral, são de ação penal pública. LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; Outra variação do princípio da publicidade, em forma de exceção. A supressão da publicidade só se justifica em casos excepcionais, como é o caso de segurança nacional, ou, mais comumente, nas ações de família que correm em segredo de justiça para natural preservação das partes. LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Qualquer cidadão pode dar voz de prisão, independentemente de mandado, em casos de flagrante delito. Nos demais casos, a prisão somente pode ser decretada pelo Juiz. A exceção real se dá nos casos de justiça militar previstos em lei. Aqui, da mesma forma, que a Constituição pulverizou a “verdade sabida” na esfera administrativa, proibiu-se a prisão administrativa de cidadão para averiguação, prevista no CP. LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; Tão logo haja prisão, deve o juiz ser comunicado para aferir sobre a sua legalidade. Igualmente fundamental é a comunicação à família, primeiro, para que saiba do paradeiro do preso e, num segundo momento, providenciar os meios legais de defesa. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 16 LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; O Direito ao silêncio está assegurado pela vigente Constituição. É um direito fundamental que, por isto mesmo, nem por emenda constitucional pode ser abolido. A garantia do devido processo legal, cifrado na ampla defesa, expressa-se igualmente no direito de calar. Ademais, interpretar o silêncio em prejuízo do réu significa negar o princípio da presunção de inocência, mentir o contraditório, o direito e a garantia à ampla defesa. A autoridade competente tem o dever de informar ao preso seus direitos, inclusive o de permanecer calado (o réu pode até mentir), para não produzir prova contra si. Deverá, ainda, contar com assistência da família e de um advogado, sendo que, não tendo condições financeiras para contratar um, o Estado arcará com a sua defesa. Uma interpretação literal do dispositivo da Constituição que garante o direito ao silêncio nos levaria a afirmar que somente o preso tem esse direito. Tão absurdo entendimento, porém, já está fora de cogitação. Admite-se pacificamente que os acusados em geral têm direito ao silêncio. Subsiste, porém, a questão de saber se esse direito pode ser invocado por quem é chamado a depor como testemunha. Nas CPIs em geral prevalece o entendimento de que as testemunhas não podem invocar o direito ao silêncio, ao passo que o STF vem decidindo reiteradamente o contrário. Conforme ocorreu no caso do ex-prefeito Celso Pitta. LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; O preso tem o direito, ainda, de saber quem são os seus captores (ou mesmo denunciantes), para, em caso de abuso (no ato da prisão ou interrogatório) possa exigir a apuração da responsabilidade. Na verdade, tal instrumento vem se transformandoem transtorno, pois não apenas a autoridade fica vulnerável à vingança, como também eventual cidadão denunciante. LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; Uma vez constatada a ilegalidade da prisão, o juiz tem o dever de relaxá-la imediatamente, mesmo ex officio, ou seja, independentemente de provocação pela via do habeas corpus.19 LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; A autoridade competente tem o dever de informar ao preso seus direitos, inclusive o de permanecer calado (o réu pode até mentir), para não produzir prova contra si. Deverá, ainda, contar com assistência da família e de um advogado, sendo que, não tendo condições financeiras para contratar um, o Estado arcará com a sua defesa. LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; São duas, portanto, as hipóteses de prisão civil: 19 Ver inciso LXI. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 17 O inadimplemento de pensão alimentícia decorrente de pensão judicial, quando o agente tenha condições de fazê-lo e se nega. O depositário infiel, a quem se incumbiu a guarda de patrimônio de terceiros e não o devolveu quando solicitado, ou ainda que tenha negligenciado o bem durante a sua guarda. Nenhuma outra dívida é capaz de gerar prisão civil, a despeito de seu montante ou de quem seja o credor, inclusive o Estado. Remédios Constitucionais Aqui, temos os chamados Remédios Constitucionais, ou seja ações previstas na Constituição para a garantia dos direitos nela previstos (incisos LXVIII a LXXIII). LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Art. 5º, LXVIII e art. 142, § 2º, CR; e artigos 646 a 667 do CPC. Definição: Remédio constitucional sob procedimento especial dirigido à tutela da liberdade de locomoção, ameaçada ou lesada de violência, coação, eivada de ilegalidade ou abuso de poder. Trata-se de uma garantia individual ao direito de locomoção. LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; O MS é garantido aos cidadãos para que se defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder (abuso e desvio), ou seja a proteção (individual ou coletiva) de direito líquido e certo lesado (repressivo) ou ameaçado de lesão (preventivo) e que não seja amparado por habeas corpus. Qualquer pessoa natural ou jurídica, brasileira ou não, além das universalidades legais (massa falida, espólio, etc...) e órgãos despersonalizados, mas dotados de capacidade processual (parlamentos, MP, etc...) O STF considerou constitucional o prazo de 120 dias para interposição de MS, entendendo recepcionado pela nova Carta. LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; O MS coletivo, visa evitar a multiplicidade de demandas idênticas e o conseqüente inchaço do judiciário, que ocasionará demora na prestação jurisdicional. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 18 LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Oriundo de direito americano, especificamente, do writ of injunction, o Mandado de Injunção tem semelhança com a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. Busca a regulamentação de norma constitucional de eficácia contida, ou seja, suprir a omissão do legislador que deve, por exemplo, aprovar lei complementar para operacionalizar um direito previsto na Constituição, mas não regulamentado. A omissão deve ser em relação a direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania.20 LXXII - conceder-se-á "habeas-data": a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; É o direito que assiste ao cidadão de requerer judicialmente a exibição de registros públicos ou privados, onde se encontrem seus dados pessoais, para tomar conhecimento e, quando necessário, retificá-los. O habeas data poderá ser ajuizado por pessoa natural, brasileira ou não, e também por pessoa jurídica. No entanto a informação pleiteada deve ser de interesse próprio do impetrante, jamais de terceiros. É direito personalíssimo. No pólo passivo, podem constar autoridades governamentais da administração pública direita ou indireta, além de entidades que prestem serviço para o público ou serviço público. LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; A Ação Popular visa anular ato lesivo ao patrimônio público de entidade de que o Estado faça parte, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.21 No que concerne à moralidade administrativa, trata-se da moral objetivada de Hariou e não os conceitos morais individuais, por serem autônomos e instáveis. Na moralidade administrativa não há espaço para “achismos”. Requisitos: 1) subjetivo: somente o cidadão possui legitimidade para ajuizar ação popular. 2) objetivo: Refere-se à natureza da ação ou omissão do Poder Público, que deve se demonstrar lesiva. LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; 20 MORAES, Alexandre de – Direito Constitucional – Ed. Atlas, 24 – p. 182/3. 21 MORAES, Alexandre de – Direito Constitucional – Ed. Atlas, 24 – p. 192. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 19 Aqui se estabelece a chamada Tutela Jurisdicional aos Hipossuficientes, onde o Estado deve prever meios para que pessoas carentes possam ter acesso ao judiciário. Ou seja, não é necessário comprovar a miserabilidade, mas a impossibilidade de arcar comas custas judiciais.22 LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; Novamente, resta consagrada a responsabilidade objetiva do Estado. Uma vez caracterizada a hipótese de erro judiciário, cabe o pedido de indenização por parte do lesado. LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; O legislador constituinte buscou assegurar mais uma proteção aos hipossuficientes, garantindo-lhes a gratuidade na obtenção de registros de nascimento e óbito. LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Além da gratuidade dos remédios constitucionais mencionados (onde não cabe pagamento de custas e emolumentos), a Charta tratou de proteger também gratuidade, os chamados atos necessários ao exercício da cidadania, tais como: emissão de cédula de identidade, título de eleitor, carteira de trabalho e afins. LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Uma inovação da recém aprovada Emenda 45, que implementou a Reforma do Judiciário e introduziu a aberração denominada “Súmula Vinculante” em nosso Direito Positivo calcado no Direito Romano-Germânico (Civil Law); Dessa forma, criou-se uma premissa em que garante ao cidadão a razoável duração do processo administrativo ou judicial. Na prática, nada acontecerá, salvo uma revisão drástica no Direito Processual Brasileiro que, por muito elástico, por si só, impede o cumprimento desse preceito constitucional. Não se olvide que os §§ 1º e 2º tratam da inclusão imediata de todos os direitos do Art. 5º no Direito Positivo. Mas, na medida em que muitos carecem de complementação em lei (complementar ou ordinária) têm eficácia contida e, caso o legislador não as produza, pode o cidadão ingressar com Mandado de Injunção ou buscar pelos meios legais a Ação de Inconstitucionalidade por Omissão. 22 Ver art. 134 – Defensoria Pública. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 20 Da Nacionalidade (arts. 12 e 13). A questão da nacionalidade transcende o âmbito do Direito Constitucional para desaguar, sobretudo, no campo do Direito Internacional Privado. O art. 12 do diploma constitucional trabalha com duas hipóteses de aquisição da nacionalidade: Primária e Secundária. No primeiro caso, trata-se dos brasileiros natos, ou seja, aqueles destacados no inciso I do art. 12. A aquisição secundária dá-se mediante ato de vontade, ou seja, a naturalização. Outro ponto relevante em relação à aquisição originária, é o de que o Brasil adota concomitantemente o jus soli e o jus sanguini, de forma que serão brasileiros natos tanto aqueles nascidos no solo do País, quanto filhos de brasileiros nascidos no estrangeiro, nas condições especificadas nas alíneas “b” e “c” do inciso I, do mencionado art. 12. Da adoção do critério misto, cria-se a possibilidade da existência de polipátridas, ou seja, cidadãos que possuem, por exemplo, dupla nacionalidade. De outro pólo, é mister ressaltar que o Direito Internacional Privado convive com a figura dos apátridas, isto é, pessoas que, por uma contingência não possuem pátria, caso típico dos palestinos que não são vinculados a nenhum País; iugoslavos que não requereram cidadania croata, bósnia, ou servo-montenegrina; ou mesmo filhos de uruguaios (jus soli) nascidos na Inglaterra (jus sanguini). Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) Aqui trabalhamos com a aquisição primária em toda a sua amplitude. São brasileiros natos aqueles nascidos em solo nacional (jus soli), salvo os filhos estrangeiros que estejam a serviço de seu País; ou, filhos de brasileiros nascidos no exterior, sendo que, se os pais estiverem a serviço do País, a nacionalização é automática. No caso dos nascidos no estrangeiro (de pai ou mão brasileiros), não estando os pais a serviço do País, desde que venham a residir no Brasil, poderão requerer a nacionalidade brasileira. II - naturalizados: CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 21 a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de trinta anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) A naturalização se dá pela chamada aquisição secundária e traz privilégios aos estrangeiros oriundos de países de língua portuguesa. Note-se que a CR traz a norma geral, cabendo à legislação ordinária dispor sobre os demais requisitos legais. No caso da alínea “b”, com a nova redação inserida pela EC 03/94 permite a naturalização de estrangeiros que não tenham cometido crime e que residam no País há, pelo menos, quinze anos. § 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato, salvo os casos previstos nesta Constituição. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) No caso dos portugueses, a Charta estabeleceu exceção, de modo que não existe necessidade de naturalização, para que tenham os mesmos direitos que os brasileiros, salvo as vedações estabelecidas pelaprópria Constituição, como é o caso do § 3º, deste artigo. § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Conforme ocorre com os portugueses, salvo nos casos expressos na própria Constituição, a lei não poderá estabelecer distinções entre brasileiros natos e naturalizados. § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) No caso presente, prevalece a questão da segurança nacional. O Legislador CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 22 Constituinte entendeu por bem, reservar cargos de alta relevância, única e exclusivamente para brasileiros natos, em especial, aqueles diretamente ligados à soberania nacional. Ressalte-se que a Constituição não proibiu o acesso a outros cargos político, incluindo eletivos, tais como: Prefeitos, Governadores e mesmo Senadores, dentre outros. A guisa de exemplo, vale lembrar a presença recente do deputado baiano José Lourenço, originalmente nascido em Portugal, que pertencente ao chamado “alto clero” chegou a ser líder de governo. § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade por naturalização voluntária. II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) Como se pode depreender do texto constitucional, perde a nacionalidade brasileira aquele que espontaneamente adquirir outra nacionalidade. Nesse caso, a Decretação dar-se-á diretamente pelo presidente da República. O arrependimento, contudo, pode ou não ser aceito, ficando a exclusivo critério do presidente conceder o direito de retorno à nacionalidade, igualmente mediante decreto. No caso de outro País reconhecer a dupla nacionalidade ou em caso de imposição de naturalização como condição de permanência em determinado País, o cidadão brasileiro não perderá a nacionalidade. Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios. A exemplo de países continentais como Estados Unidos e Austrália, o Brasil adota uma única língua como idioma oficial. A adoção de um único idioma não é condição essencial de soberania. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 23 DOS DIREITOS POLÍTICOS A Constituição de 88, ao tratar dos Direitos Políticos, dispõe basicamente da questão do sufrágio, voto e processo eleitoral. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. O art. 14, entre caput e incisos I a III, trata de 05 formas de manifestação popular, sendo que o sufrágio e o voto, constam do caput (regra geral), enquanto as demais formas, nos incisos (exceções). a) Sufrágio universal; Ao contrário do que se pensa, o sufrágio não se confunde com o voto, já que, na verdade o antecede. O sufrágio vem a ser o direito subjetivo público do cidadão de votar e ser votado. A expressão sufrágio universal denota a impossibilidade de discriminação, salvo nos casos que a própria Constituição estabelecer, como é o caso dos analfabetos e conscritos. b) Voto direto e secreto; O voto, por sua vez, é o exercício desse direito subjetivo. É ato político exercido diretamente pelo cidadão, com a devida privacidade, a fim de que não sofra pressão ou coação. O direito de ser votado decorrente da idéia de sufrágio, sendo que no Brasil, o mandato político é sempre periódico. c) Plebiscito; A primeira das exceções trata do plebiscito, qual seja a consulta popular para decidir antecipadamente sobre determinada proposta legislativa. Na prática, o plebiscito tem sido utilizado para consultas populares sobre emancipações municipais. d) Referendo; O referendo, porquanto seja igualmente uma consulta popular, visa a ratificação de proposta legislativa já aprovada pelo parlamento. Em suma, enquanto o plebiscito é consulta prévia, o referente busca confirmação popular. e) Iniciativa popular. A CR permite aos cidadãos o direito de iniciativa legislativa, desde que presentes simultaneamente, 03 requisitos: 1) 1% do eleitorado nacional; 2) eleitores de, no mínimo 05 Estados-Membros; e, 0,3% do eleitorado de cada Estado. § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. O § 1º trata do alistamento eleitoral, que consiste no registro do cidadão em cadastro CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 24 próprio da Justiça eleitoral, que ensejará a emissão do correspondente título de eleitor, documento hábil para o exercício do voto. O voto, portanto, é obrigatório para todo cidadão maior de dezoito anos e facultativo para os maiores de 16 anos, analfabetos e maiores de 70 anos. É importante frisar que o direito do voto (capacidade eleitoral ativa) não se confunde com o direito de ser votado (capacidade eleitoral passiva), pois, existem restrições para a candidatura referentes a capacidade (formal e material). § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Como se pode depreender da leitura, o § 2º trata da proibição de estrangeiros como eleitores, bem como, dos conscritos, ou seja, homens alistados no serviço militar obrigatório. Por via de conseqüência, por não serem eleitores, não podem ser eleitos para cargos políticos. § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiaçãopartidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. O § 3º, por sua vez, estabelece as condições para se eleger, com ênfase necessária à necessidade de ingresso em partido político e o critério de idade mínima, proporcional à responsabilidade do cargo. § 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5º - São inelegíveis para os mesmos cargos, no período subseqüente, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito. Os inalistáveis, por óbvio, não podem ser votados, sendo que a proibição também atinge os analfabetos que, embora possam votar, não podem ser votados. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 25 § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997) Com o advento da EC 19/97 restabeleceu-se no Brasil o direito de reeleição do Chefe do Poder Executivo. § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Os parágrafos 6º e 7º, denotam evidente preocupação do legislador com a possibilidade do uso indevido da máquina pública no processo eleitoral e o conseqüente favorecimento de candidaturas de interesse da administração ou mesmo da própria candidatura, em caso de reeleição. Note-se que dentro dessa preocupação, a proibição da candidatura do cônjuge e parentes consangüíneos até 2º grau de parentesco (pais e filhos, avós e netos, irmãos e cunhados, sogros e sogras, padrasto e madrasta). Não se confunde com o parentesco popular onde do 2º grau em diante, se abrange primos e afins. Contudo, se os parentes já detiverem cargo eletivo, poderão se candidatar à reeleição. § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. Excetuando os conscritos, conforme citado, todo e qualquer militar da ativa é alistável e elegível. Separou-se, contudo, as hipóteses em que o militar deve ir imediatamente para a reserva em caso de candidatura, ou no caso de se eleger. § 9º - Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994) A CR não esgotou todas as hipóteses de inegibilidade, porém reservou à Lei Complementar novos casos de restrição política. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 26 § 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. § 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. A impugnação do mandato eletivo poderá ser impetrada junto à Justiça Eleitoral, desde que, tempestivamente e com a devida instrução de provas. O prazo de 15 dias se dá a contar da diplomação (investidura) e não da posse do cargo, sob pena de prescrição. Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Em repúdio ao ordenamento constitucional da Ditadura Militar, onde o Presidente da República podia decretar a cassação dos direitos políticos, somente o Poder Judiciário pode determinar a suspensão ou perda, conforme o caso. Os incisos I e IV ensejam em perda de direitos, enquanto que os demais em suspensão. Aqui, nota-se o rigor no cumprimento do princípio da reserva legal, já que o rol de vedações é taxativo, não se admitindo-se qualquer outra hipótese, que ali não esteja prevista. Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua promulgação. Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993) O Princípio da Anterioridade visa a segurança do processo legislativo, de forma a evitar casuísmos. Não obstante, nas últimas eleições, emenda constitucional instituiu nova regra eleitoral diminuindo o número de vereadores em quase todo o Brasil, com a anuência do STF e TSE. CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CONCURSO T.R.E./2005 Universidade Estácio de Sá Marcelo Carneiro Campus Resende - Direito Professor 27 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Princípio da Legalidade Como regra geral, tem por primado a subsunção do Estado aos ditames da lei, concedendo ao administrado a oportunidade de não ser obrigado a fazer algo senão em virtude da lei,
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