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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Sistema Nervoso 1. Diencéfalo O diencéfalo e o telencéfalo formam o cérebro, que corresponde à parte mais desenvolvida do encéfalo e ocupa cerca de 80% da cavidade craniana. O diencéfalo é uma estrutura ímpar e mediana que só é vista na porção mais inferior de cérebro, sendo uma importante estrutura que promove a consciência e interação entre os dois hemisférios. O diencéfalo compreende as seguintes partes: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo, todas relacionadas com o III ventrículo. Em posição dorsal, o diencéfalo é circundado pelo corpo caloso, ventrículos laterais e hemisférios cerebrais. → Tálamo O tálamo ocupa aproximadamente 80% da região diencefálica. Ele margeia o terceiro ventrículo, em cada lado do cérebro, sendo um grande e ovóide complexo de neurônios. Este complexo não é um agrupamento uniforme de células, mas sim um conglomerado de numerosos núcleos distintos, cada um com sua função própria e suas conexões aferentes e eferentes específicas. A face medial do tálamo forma a maior parte das paredes laterais do III ventrículo. Em primeiro lugar, o tálamo é o maior ponto de coleta de impulsos sensoriais exteroceptivos e proprioceptivos. Além disso, é uma estação retransmissora para todos os impulsos que surgem nos receptores sensoriais da pele, bem como viscerais, para impulsos visuais e auditivos, e para impulsos no hipotálamo, cerebelo e formação reticular do tronco cerebral, todos os quais são processados no tálamo antes de serem transmitidos para outras estruturas (processa os impulsos sensitivos e envia para o córtex cerebral). O tálamo, no entanto, não é apenas uma estação retransmissora, mas um importante centro de integração e coordenação, em que impulsos aferentes de diferentes modalidades e diferentes regiões do corpo são integrados. Fenômenos elementares como dor, desprazer e bem-estar já está presente no tálamo antes de ser transmitido para o córtex. Sendo assim, ele é uma área relacionada, sobretudo, com a sensibilidade. → Hipotálamo O hipotálamo é uma área relativamente pequena do diencéfalo, situada abaixo do tálamo, acima da hipófise e no interior central dos dois hemisférios cerebrais. Ele tem importantes funções, relacionadas sobretudo com o controle da atividade visceral. É uma das áreas mais importantes do cérebro, regula o sistema nervoso autônomo e as glândulas endócrinas e é o principal responsável pela constância do meio interno (homeostase). É formado por células de matéria cinzenta e está conectado com outras estruturas do corpo humano como, por exemplo, sistema límbico, tálamo, hipófise e área pré-frontal. Apresenta como limite anterior o quiasma óptico e a lâmina lateral, e limite posterior os corpos mamilares. Anatomicamente e funcionalmente pode ser dividido em duas porções: anterior e posterior. Cada porção, por sua vez, apresenta uma série de áreas e núcleos que são responsáveis por funções fisiológicas. → Epitálamo O epitálamo limita posteriormente o III ventrículo, acima do sulco hipotalâmico, já na transição com o mesencéfalo. Seu elemento mais evidente é a glândula pineal, ou epífise, glândula endócrina ímpar e mediana de forma piriforme. A glândula pineal é considerada parte do sistema endócrino porque secreta o hormônio melatonina. A melatonina parece contribuir para o ajuste do relógio biológico do corpo. Considerando que a melatonina é liberada mais durante a noite do que durante o dia, esse hormônio é considerado um estimulador do sono. Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 → Subtálamo O subtálamo compreende a zona de transição entre o diencéfalo e o mesencéfalo. É de difícil visualização nas peças de rotina, pois não se relaciona com as paredes do III ventrículo, podendo mais facilmente ser observado em cortes frontais do cérebro. Verifica-se, então, que ele se localiza abaixo do tálamo, sendo limitado lateralmente pela cápsula interna e medialmente pelo hipotálamo. O subtálamo tem função motora. 2. Sistema Nervoso Autônomo Como se sabe, podemos dividir o sistema nervoso em somático e visceral. O sistema nervoso somático é aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente. A sua parte aferente conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando estes centros sobre o que se passa no meio ambiente. Por outro lado, a parte eferente do SN somático leva aos músculos esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando movimentos que levam ao maior relacionamento ou integração com omeio externo. O sistema nervoso visceral é responsável pela inervação das estruturas viscerais e é muito importante no sentido da manutenção da constância do meio interno (homeostase). Assim como no SN somático, distingue-se no sistema nervoso visceral uma parte aferente e outra eferente. O componente aferente conduz os impulsos nervosos originados em receptores das vísceras (visceroceptores) a áreas especificas do SNC. O componente eferente traz impulsos de alguns centros nervosos até as estruturas viscerais, terminando, em glândulas, mm lisos ou mm cardíaco, e é o chamado Sistema Nervoso Autônomo. O SNA é a porção do sistema nervoso central que controla a maioria das funções viscerais do organismo, considerado como parte do sistema motor. Entretanto, ao invés dos músculos esqueléticos, seus agentes efetores são os músculos lisos, o músculo cardíaco, as glândulas e parte do tecido adiposo. Também chamado de sistema nervoso visceral eferente, ele também participa das respostas coordenadas e apropriadas a estímulos externos (involuntárias). Esse sistema ajuda a controlar a pressão arterial, a motilidade gastrointestinal, a secreção gastrointestinal, o esvaziamento da bexiga, a sudorese, a temperatura corporal e muitas outras funções. Algumas delas são quase inteiramente controladas, enquanto outras, apenas parcialmente. Uma das características mais acentuadas do SNA é a rapidez e a intensidade com que ele pode alterar as funções viscerais. Ele é ativado principalmente por centros localizados na medula espinal, tronco encefálico e no hipotálamo. Os sinais autônomos são enviados aos diferentes órgãos por meio de 2 subdivisões: sistema nervoso simpático (noradrenalina) e sistema nervoso parassimpático (acetilcolina). Em ambos a inervação é feita por meio de uma via de dois neurônios em série: ✓ O 1º neurônio é o pré-ganglionar, sai do SNC e projeta-se para um gânglio autônomo fora do SNC; ✓ Em seguida ele faz sinapse com o 2º neurônio que é o pós-ganglionar, atingindo por fim o tecido-alvo. O sistema nervoso parassimpático toma o comando em situações de repouso; já em situações estressantes, quando há alguma ameaça, quem toma o controle da situação é o simpático, e seu processo de ativação é conhecido como uma resposta de “luta ou fuga”. → Diferenças Anatômicas entre o Sistema Nervoso simpático e parassimpático 1. Posição dos neurônios pré-ganglionares SNAS= localizam na medula torácica e lombar (entre T1 e L2). Diz-se, pois, que o sistema nervoso simpático é toracolombar. SNAP= localizam no tronco encefálico (dentro do crânio) e na medula sacral (S2, S3, S4). Diz-se, pois, que o sistema nervoso simpático é toracolombar. 2. Posição dos neurônios pós-ganglionares SNAS= localizam-se longe das vísceras e próximos da coluna vertebral. SNAP= localizam-se próximos ou dentro das vísceras. 3. Tamanho das fibras pré e pós-ganglionares SNAS= pré-ganglionar é curta e a pós-ganglionar é longa. SNAP= pré-ganglionar é longa e a pós-ganglionar é curta. 4. Ultraestrutura da fibra pós-ganglionar SNAS= presença de vesículas granulares pequenas, exclusivo das fibras pós-ganglionares simpáticas. SNAP= predominância de vesículas agranulares. → Diferenças Farmacológicas entre o Sistema Nervoso simpático e parassimpático As diferenças farmacológicas dizem respeito à ação de drogas. Estas drogas que imitam a ação do sistema nervoso simpático (como a noradrenalina) são denominadas simpaticomiméticas. Existem também drogas, como Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 acetilcolina, que imitam as ações do parassimpáticoe são chamadas parassimpaticomiméticas. A ação da fibra nervosa sobre o efetuador (músculo ou glândulas) se faz por liberação de um neurotransmissor, dos quais os mais importantes são a acetilcolina e a noradrenalina. As fibras nervosas que liberam a acetilcolina são chamadas colinérgicas e as que liberam noradrenalina são chamadas de adrenérgicas. As fibras pré-ganglionares, tanto simpáticas como parassimpáticas, e as fibras pós-ganglionares parassimpáticas são colinérgicas. Contudo, a grande maioria das fibras pós-ganglionares do sistema simpático é adrenérgica. OBS: A resposta simpática (dada pelo neurônio pós ganglionar envolvido com o tecido-alvo) não é mediada pela noradrenalina nas glândulas sudoríparas, e sim pela ACTH. → Diferenças Fisiológicas entre o Sistema Nervoso simpático e parassimpático O sistema simpático tem ação antagônica à do parassimpático em um determinado órgão. Esta afirmação, entretanto, não é válida em todos os casos. Apesar de, na maioria dos casos, terem ações antagônicas, colaboram e trabalham harmonicamente na coordenação da atividade visceral, adequando o funcionamento de cada órgão às diversas situações a que é submetido o organismo. A ação do simpático e do parassimpático em um certo órgão depende do modo de terminação das fibras pós- ganglionares de cada uma destas divisões do sistema nervoso autônomo, dentro do órgão. Entretanto, alguns órgãos têm inervação puramente simpática, como as glândulas sudoríparas, os músculos eretores do pelo e o corpo pineal. Uma das diferenças fisiológicas entre o simpático e o parassimpático é que o parassimpático tem ações sempre localizadas a um órgão ou setor do organismo, enquanto as ações do simpático, embora passem ser também localizadas, tendem a ser difusas, atingindo vários órgãos. 3. Sistema Límbico O sistema límbico, também conhecido como cérebro emocional, é um conjunto de estruturas localizado no cérebro, abaixo do córtex e responsável por todas as respostas emocionais. Dentre as diversas funções pelas quais o sistema límbico é responsável estão: as respostas emocionais, o comportamento e a memória. Desenvolver relações que permitam uma vida em comunidade dependem da atividade dos neurônios localizados nessas estruturas. Em 1937, James Papez descreveu um circuito para explicar as emoções chamado Circuito de Papez. Ele é formado pelas seguintes estruturas que seguem essa sequência no trajeto das informações: Hipocampo -> fórnix -> corpo mamilar -> trato mamilotalâmico -> núcleos anteriores do tálamo -> cápsula interna -> giro do cíngulo -> giro para- hipocampal -> retornando ao hipocampo, fechando o circuito. Em 1952, MacLean introduziu na literatura a expressão sistema límbico, que inclui o Circuito de Papez + amígdala + área septal. Hoje se sabe que, do ponto de vista funcional, pode-se distinguir o sistema límbico em dois subconjuntos de estruturas, ligadas às emoções e à memória: o Circuito de Papez relacionado com a memória e a Amígdala e a Área Septal (+ parte anterior do giro do cíngulo) relacionadas com as emoções. → Componentes do sistema límbico relacionados às emoções Córtex cingular anterior: processamento das emoções, especialmente tristeza. Lesão: domestica animais, tratamento de psicóticos agressivos. Em casos de depressão severa, o córtex cingular anterior é mais delgado, e os sintomas desaparecem com estimulação elétrica. Córtex insular anterior: relacionado a empatia, sensação de nojo, conhecimento da própria fisionomia, percepção subjetiva das emoções. Hipotálamo: regulação hormonal e funções vegetativas do corpo; manifestações periféricas das emoções, através de suas conexões com o sistema nervoso autônomo. Exerce, portanto, importante papel na coordenação e na integração dos processos emocionais. Núcleo accumbens: centro do prazer; é o mais importante componente do sistema mesolímbico, que é o sistema de recompensa ou do prazer do cérebro. Área septal: centro do prazer do cérebro e sua estimulação Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 provoca euforia; faz parte do sistema mesolímbico; responsável pela regulação de atividades viscerais, como PA e ritmo respiratório. Lesão: “Raiva septal” (estímulos que não causariam raiva normalmente levavam à hiperatividade emocional, ferocidade e raiva); reação anormal aos estímulos sexuais; Habênula: relacionada com a regulação dos níveis de dopamina nos neurônios do sistema mesolímbico os quais constituem a principal área do sistema de recompensa do cérebro (inibição do sist. mesolímbico); responsável pela frustração (assim, o SM é ativado pela recompensa e a habênula pela “não recompensa”). Lesão: melhora de sintomas depressivos. Alguns sintomas da depressão como tristeza e a incapacidade de buscar o prazer podem ser explicados pela queda da atividade dopaminérgica na via mesolímbica. Amígdala/corpo amigdaloide: formada por 12 núcleos agrupados em grupos corticomedial, basolateral e central. O grupo corticomedial recebe conexões olfatórias e parece estar envolvido com os comportamentos sexuais. O grupo basolateral recebe a maioria das conexões aferentes da amígdala e o central dá origem às conexões eferentes. É o componente mais importante do sistema límbico. Sua principal função é reações de medo e fuga, comportamentos sexuais, expressão facial relacionada a emoções e agressividade; Lesão: pacientes com lesões bilaterais da amígdala não sentem medo, mesmo em situações de perigo óbvio; hipersexualidade. → Sistema de Recompensa Sabe-se hoje que as áreas que com estimulações (de frequências elevadas) causam prazer ou satisfação compõem o sistema dopaminérgico mesolímbico ou sistema de recompensa. As zonas do cérebro identificadas como centros de recompensa foram o sistema límbico e o núcleo accumbens. O Sistema de Recompensa é um circuito formado por neurônios dopaminérgicos (possuem numerosos receptores para a dopamina, a "molécula do prazer") que, da área tegmentar ventral do rnesencéfalo, passando pelo feixe prosencefálico medial, terminam nos núcleos septais e no núcleo accumbens, os quais, por sua vez, projetam-se para o córtex pré-frontal orbitofrontal. Ele premia com a sensação de prazer os comportamentos importantes para a sobrevivência, mas é também ativado por situações cotidianas que causam alegria como quando rimos de uma piada, vencemos um desafio, temos uma vitória ou quando vemos as pessoas que amamos felizes. Sabe-se hoje que o prazer sentido após o uso de drogas como heroína e crack, deve-se à estimulação desse sistema em especial e do núcleo accumbens. A dependência ocorre pela estimulação exagerada dos neurônios deste sistema, o que resulta na diminuição gradual da sensibilidade dos receptores e com isso, doses cada vez maiores são necessárias para obter-se o mesmo prazer. 4. Transtorno de Ansiedade No transtorno de ansiedade, as manifestações oscilam ao longo do tempo, mas não ocorrem na forma de ataques, nem se relacionam com situações determinadas. Estão presentes na maioria dos dias e por longos períodos, de muitos meses ou anos. O sintoma principal é a expectativa apreensiva ou preocupação exagerada, mórbida. A pessoa está a maior parte do tempo preocupada em excesso. Além disso, sofre de sintomas como inquietude, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, insônia e sudorese. O início do transtorno de ansiedade generalizada é insidioso e precoce. Os pacientes informam que sempre foram “nervosos”, “tensos”. A evolução se dá no sentido da cronicidade. Ela é a expressão inapropriada do medo, que neste caso é duradouro e pode ser desencadeado por perigos pouco definidos ou pela recordação de eventos que supostamente podem ser perigosos. Dessa forma, o motivo pode não estar presente e, mesmo assim, levar à ativação da amígdala. A serotonina é uma substância importantíssima no estudo neuroquímico da ansiedade. Tanto o bloqueio de seus receptores, quanto o bloqueio da sua síntese, produzem efeitos ansiolíticos. Afinal, ela atua no cérebro aumentando a felicidade e melhorando o humor e, por isso, baixos níveisdesta molécula podem causar ansiedade e levar à depressão. Outro neurotransmissor envolvido nos processos de ansiedade é o GABA, o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Ele produz um efeito relaxante e calmante, o que pode ajudar a pegar no sono e auxiliar na diminuição da ansiedade, do estresse e do medo. Referências: MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2014. VERSIANI, M. Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento. Projeto Diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. 15 p. 2008. Disponível em: https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/transtornos-de- ansiedade-diagnostico-e-tratamento.pdf. Acesso em: 16 set. 2021. https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/transtornos-de-ansiedade-diagnostico-e-tratamento.pdf https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/transtornos-de-ansiedade-diagnostico-e-tratamento.pdf
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