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Apostila-Formacao-de-Psicanalise-Clinica

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RÔMULO VIEIRA TELLES 
 CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA (Teoria, Técnica e Prática) 
2009 
 SUMÁRIO 
 
Apresentação ................................................................................... 07 
Introdução ....................................................................................... 08 
Prefácio ........................................................................................... 14 
 
Capítulo 1 - PRINCÍPIOS GERAIS DA PSICANÁLISE ............................... 15 
 
Capítulo 2 – TIPOS PSICANALÍTICOS DE PERSONALIDADE ..................... 17 
Estrutura da Personalidade ................................................................ 18 
Tipologia Traçada por Freud ............................................................... 19 
A Teoria da Técnica Psicanalítica ......................................................... 19 
 
Capítulo 3 – OS MÈTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE ............. 21 
 
Capítulo 4 – REAÇÕES TRANSFERENCIAIS ........................................... 23 
Contra-Transferência ........................................................................ 24 
Aliança Terapêutica .......................................................................... 24 
 
Capítulo 5 – AS RESISTÊNCIAS ................................................. 26 
O Paciente Está Silencioso ................................................................ 27 
O Paciente „Não Está com Vontade de Falar‟ ......................................... 27 
Afetos Indicando a Resistência ........................................................... 27 
 
Capítulo 6 – PROCEDIMENTO ANALÍTICO ..................................... 29 
a) Confrontação ............................................................................... 29 
b) Esclarecimento ............................................................................. 29 
c) Interpretação ............................................................................... 29 
d) Elaboração ................................................................................... 30 
 
Capítulo 7 – OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE ............. 31 
1) O Método Associativo .................................................................... 31 
2) Sentido ....................................................................................... 39 
3) O Método Simbólico ...................................................................... 65 
 
Capítulo 8 – SEXOPATOLOGIAS (Perversões Sexuais) E NEUROSES ......... 72 
Perversões Sexuais ........................................................................... 72 
As Neuroses .................................................................................... 74 
 
Capítulo 9 – A TÉCNICA E A PRÁTICA DA PSICANÁLISE CLÍNICA 77 
(Primeiros Passos à Técnica Psicanalítica) ............................................ 
Primeiro Procedimento – Confrontação ................................................ 77 
Segundo Procedimento – Esclarecimento ............................................. 78 
Terceiro Procedimento – Interpretação ................................................ 78 
Quarto Procedimento – Elaboração ..................................................... 79 
 
Capítulo 10 – ALIANÇA DE TRABALHO ................................................. 80 
 
Capítulo 11 – ABRANGÊNCIA DA PSICANÁLISE ..................................... 82 
Análise de Experiência ....................................................................... 83 
 
Capítulo 12 – RESISTÊNCIA ............................................................... 85 
O Reconhecimento das Transferências ................................................. 86 
O Paciente Está Silencioso... .............................................................. 86 
Resistências ..................................................................................... 87 
O Paciente Está Entediado ................................................................. 89 
Atuação .......................................................................................... 89 
O Paciente Tem um Segredo .............................................................. 89 
Fatores Destacados por Freud ............................................................ 89 
 
Capítulo 13 – A TEORIA DA RESISTÊNCIA ............................................ 90 
As Resistências ................................................................................ 91 
 
Capítulo 14 – O PERIGO E A EVOLUÇÃO PSICOTRAUMATOSUGESTIVA 
..... 
92 
Medo do Abandono ........................................................................... 92 
Medo da Aniquilação Física ................................................................. 92 
Medo de Não Se Sentir Amado ........................................................... 92 
Medo da Castração ........................................................................... 93 
Medo da Perda da Auto-estima ........................................................... 93 
Repetição ........................................................................................ 94 
Resistência e Regressão .................................................................... 94 
Classificação das Resistências ............................................................ 95 
Elementos da Fase Anal ..................................................................... 95 
Depressão e Resistências Orais .......................................................... 95 
Repressão e Isolamento no Processo Analítico ...................................... 96 
Atuação e Resistências de Caráter ...................................................... 96 
Resistência Transferencial .................................................................. 97 
A Categoria dos Diagnósticos ............................................................. 97 
 
Capítulo 15 – NEUROSES TRANSFERENCIAIS PREDOMINANTES .............. 98 
As Histerias ..................................................................................... 98 
Neuroses Obsessivas ......................................................................... 98 
Depressões Neuróticas ...................................................................... 98 
Neuroses de Caráter ......................................................................... 98 
Dicotomia entre Resistências Egodistônicas e Egossintônicas .................. 99 
 
Capítulo 16 – ALGUMAS DOENÇAS REVERSÍVEIS PELA CLÍNICA 102 
PSICANALÍTICA ................................................................................ 
Técnica para Análises Resistenciais ..................................................... 102 
Dinâmica da Situação de Tratamento .................................................. 103 
Forças que são Favoráveis ao Psicanalista, aos Processos e aos 
Procedimentos Psicanalíticos .............................................................. 
103 
 
Capítulo 17 – COMO O PSICANALISTA ESCUTA? ................................... 105 
O Esclarecimento da Resistência ......................................................... 106 
Procedimentos Gerais na Análise das Resistências ................................. 107 
O Paciente Determina o Assunto da Sessão .......................................... 108 
Resistências Secundárias ................................................................... 108 
Perda das Funções do Ego ................................................................. 108 
Transferência ................................................................................... 109 
Definição Prática .............................................................................. 109 
Quadro Clínico: Características Gerais ................................................. 109 
Elementos de Transferência ...............................................................110 
Aliança de Trabalho .......................................................................... 115 
 
Capítulo 18 – VISÃO DA LITERATURA EM RELAÇÃO À ALIANÇA ............... 116 
O Relacionamento Real Entre Paciente e Analista .................................. 116 
Problemas na Visão do Psicanalista ..................................................... 116 
Os Problemas São Inversamente Proporcionais à Capacidade de Quem os 
Administra ....................................................................................... 
117 
 
Capítulo 19 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS REAÇÕES E 
TRANSFERÊNCIAS 
119 
Tipos de Reações Transferenciais ........................................................ 119 
A Técnica de Analisar a Transferência .................................................. 124 
O Que a Técnica Psicanalítica Deve Abranger ........................................ 124 
Análise de Transferência .................................................................... 125 
Os Níveis de Intensidade ................................................................... 126 
Algumas Modificações e Elaborações ................................................... 126 
Novas Compreensões Internas ........................................................... 127 
Afetos Internos ................................................................................ 127 
Repetições ....................................................................................... 128 
Semelhanças ................................................................................... 128 
Simbolismo ...................................................................................... 128 
Associações-chave ............................................................................ 129 
Medidas Técnicas ao Analisar a Transferência ....................................... 129 
Silêncio e Paciência ........................................................................... 129 
O Uso da Evidência ........................................................................... 130 
Esclarecimento da Transferência ......................................................... 130 
Procurando o Desencadeador da Transferência ..................................... 131 
A Interpretação da Transferência ........................................................ 131 
Busca da Origem dos Antecedentes da Figura ....................................... 131 
Investigação das Fantasias Transferenciais .......................................... 132 
Elaboração das Interpretações Transferenciais ...................................... 132 
Considerações Teóricas ..................................................................... 132 
Procedimentos Técnicos: a Busca e a Reconstrução ............................... 132 
Problemas Especiais ao Analisar as Reações Transferenciais ................... 133 
 
Capítulo 20 – O QUE A PSICANÁLISE EXIGE DOS PSICANALISTAS .......... 135 
Compreensão do Inconsciente ............................................................ 135 
A Comunicação com o Paciente .......................................................... 136 
 
Capítulo 21 – O PSICANALISTA .......................................................... 141 
Componentes Básicos da Psicanálise ................................................... 142 
 
Capítulo 22 – A HOMOSSEXUALIDADE E AS PSICOTERAPIAS .................. 144 
As Psicoterapias da Homossexualidade ................................................ 153 
A Noutética ...................................................................................... 155 
 
CONCLUSÃO .................................................................................... 157 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 159 
 
ANEXOS .......................................................................................... 161 
Anexo 1 – Posturas Terapêuticas na Prática Clínica, por Nahman Armony . 161 
Anexo 2 – Uma nota sobre o Inconsciente na Psicanálise (1912) ............. 183 
Anexo 3 – Construções em Análise (1937) ........................................... 186 
Anexo 4 – Legislação Pertinente - Psicólogos e Psicanalistas – 
CBO 2515-50 (Classificação Brasileira de Ocupações) do Ministério do 
Trabalho e Emprego .......................................................................... 
192 
Anexo 5 – Certificado e Histórico Escolar (Modelo) ................................ 201 
 APRESENTAÇÃO 
 
Sinto-me honrado em apresentar o livro Curso de Formação em Psicanálise 
Clinica – Teoria, Técnica e Prática. Ele é destinado ao público em geral, mas em 
especial os amantes da Psicanálise. A Teoria Clínica Psicanalítica visa a abrir a visão 
de aplicabilidade dos conceitos psicanalíticos, especialmente do funcionamento e 
importância do inconsciente em outras áreas de ação que não o tratamento analítico 
propriamente dito. 
O autor deste livro, Dr. Rômulo Vieira Telles, tem experiência na aplicação 
prática da Psicanálise, tanto na orientação psicanalítica daqueles que o procuram, 
como na formação de centenas de psicanalistas pelo Brasil. 
Como resultado, o leitor sairá da leitura deste livro muito bem informado. 
Contudo, adverte o autor, é pouco provável que essa leitura lhe traga uma revelação 
psicanalítica entendida essa expressão não como alguma experiência do caráter 
místico, mas sim como um desses momentos privilegiados em que o encontro com o 
inconsciente faz ruir de surpresa o edifício de nossas certezas e de nossos hábitos, 
pois a teoria psicanalítica não pode ser o meio para tal encontro. 
Como toda teoria, ela protege tanto melhor de toda surpresa e de todo o risco, 
quanto mais a conhece a fundo, até os seus últimos recônditos. Compete ao leitor 
desfrutar do privilégio de ter em suas mãos este precioso livro tão bem escrito pelo Dr. 
Rômulo. 
O Dr. Rômulo coloca agora à disposição dos leitores esta preciosidade fruto, 
de anos de dedicação ao ensino na formação de muitos psicanalistas que estão 
atuando no Brasil. 
Nós, os psicanalistas, agradecemos ao Dr.Rômulo por sua prontidão em 
escrever este livro. Certamente foi muito bem avaliado pelo autor, pelo seu 
conhecimento clínico e científico da matéria em causa. Fica agora por conta do leitor 
aproveitar o máximo desta obra que todos nós esperamos. 
Sinto-me privilegiado em apresentar esta obra ao leitor e amante da 
Psicanálise. 
 
 
Dr. Ilson Caetano Ferreira 
Psicanalista Clínico. 
 INTRODUÇÃO 
 
Poderíamos iniciar esta introdução com uma pergunta: por que Freud? Antes, 
porém, de justificar nossa preferência, gostaríamos de, em mínimas considerações, 
dizer alguma coisa sobre alguns dos principais teóricos da psicanálise. 
O Prof. Jader dos Reis Sampaio, da Universidade Federal de Minas Gerais, 
escreveu um belo trabalho e publicado no site da Universidade de São Paulo - USP 
sobre a vida, obra e a importância do psiquiatra e psicanalista inglês Wilfred R. Bion, 
mais conhecido como Bion. 
“Bion desenvolveu pesquisas sobre a formação de fenômenos de grupo, entre 
outros assuntos. Iniciou seus trabalhos no exército inglês e deu prosseguimento aos 
mesmos em grupos do Instituto Tavistock, constituídos de pessoas com formações 
diversas. Muitos dos conceitos desenvolvidos em sua pesquisa se tornaram relevantes 
para a compreensão de grupos de trabalho e dos fenômenos emocionais subjacentes 
a eles, influenciando gerações futuras de pesquisadores em diferentes áreas do 
conhecimento, como já havia sido mostrado por Maria Tereza Leme Fleury e 
pesquisadores associados”. 
“Do ponto de vista teórico, suas principais influências são a psicanálise 
freudiana com destaque para os trabalhos de Freud e seus interlocutores sobre a 
psicologia das massas: a teoria das três pulsões do Dr. Hadfield (da clínica Tavistock), 
e as contribuições kleinianas. Do ponto de vistaempírico, suas principais fontes são os 
grupos terapêuticos que desenvolveu em diversas instituições”. 
Uma extraordinária dama, mais conhecida como Madame Klein, Melanie Klein, 
nasceu em l882 e faleceu em l960. Estudo, Pesquisa e Transmissão da Psicanálise 
Kleiniana, editado por um psicanalista sempre em formação, nos faz conhecer 
Madame Klein, que não era psicanalista, mas, graças à sua capacidade de 
observação, pesquisa e organização do pensamento, criou a psicanálise denominada 
psicanálise kleiniana (kleinismo), que não é uma simples corrente psicanalítica. É 
muito mais do que isto, pois é reconhecidamente uma das mais importantes escolas, 
comparável ao lacanismo. Assim como os lacanianos, os kleinianos também são 
freudianos. A característica é que todos se reconhecem na psicanálise enquanto o que 
se afasta de Freud não é mais psicanálise. Os que praticam a psicanálise tem, em 
comum, conceitos como o inconsciente, a transferência, um certo tipo de tratamento. 
Se não se trata mais de psicanálise, então se trata de psicologia, psicoterapia etc. 
“Esta mulher, que reconheceu inteiramente a contribuição de Freud, inclusive a 
pulsão de morte, esteve na origem tanto do fundamento analítico da prática dos 
tratamentos com crianças quanto de uma corrente da psicanálise, em que a clínica do 
narcisismo chegou ao seu auge”. Klein modificou inteiramente a doutrina e a clínica 
freudianas, cunhando novos conceitos e instaurando uma prática original da análise, 
da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da do freudismo clássico. 
Outra importante escola psicanalítica é a de Sandor Ferenczi (1873-1933), 
médico psiquiatra, psicanalista húngaro, originário de uma família de judeus poloneses 
imigrantes, e o clínico mais talentoso da história do freudismo. Estava ligado a Freud, 
desde 1906, sendo o discípulo favorito e um dos seus raros amigos. Com E. Jones e 
K. Abraham, é um dos maiores colaboradores para o desenvolvimento da psicanálise 
na Áustria. 
O sucesso das idéias freudianas na Hungria permitiu que Ferenczi abrisse uma 
clínica e, até mesmo, durante a curta duração do governo Bela Kun, possibilitou que 
ensinasse psicanálise na Universidadede de Budapest. Porém, a partir de 1923, 
começam a surgir divergências entre Freud e Ferenczi, alimentadas pela 
complexidade dos vínculos afetivos existentes entre eles. 
Foi no plano técnico que Ferenczi desenvolveu suas contribuições mais 
originais. A fim de evitar que uma parte demasiado grande da energia psíquica 
encontrasse satisfações substitutivas, o que iria entravar o tratamento, ele propôs uma 
“técnica ativa” que proibiria tais satisfações, mas que também poderia incitar a 
enfrentar as situações patológicas. Diante das dificuldades ligadas a essa técnica, 
que, amiúde, reforçava as resistências, ele modificou por completo sua técnica, que irá 
se assemelhar a uma forma de relaxação. Finalmente, chega a conceber uma espécie 
de análise mútua, destinada a impedir que os desejos inconscientes do analista 
interfiram no tratamento. Hoje, suas soluções quase não são retomadas, mas suas 
perguntas constituem a prova de uma consciência aguda de sua responsabilidade 
como terapeuta. 
No plano teórico, as pesquisas de Ferenczi objetivam a constituição de uma 
nova ciência, a bioanálise, que é uma extensão da teoria psicanalítica à área da 
biologia, ou à psicanálise das origens, segundo a qual a existência intra-uterina seria a 
repetição de formas anteriores de vida, cuja origem é marinha. O nascimento é a 
perda do estado originário, ao qual todos os seres vivos aspiram retornar. 
Assim como os lacanianos os annafreudianos também são freudianos. Anna 
Freud (1895-1982), psicanalista britânica, de origem austríaca, foi a caçula dos seis 
filhos de Sigmund e Martha Freud. Presidente do Instituto de Formação Psicanalítica 
de Viena refugiou-se com o pai em Londres, em 1938, onde fundou, em 1951, a 
Clínica Hampstead, centro de tratamento, formação e pesquisas em psicoterapia 
infantil. Suas concepções irão se opor às de M. Klein, em particular do lado da 
exploração do complexo de Édipo. Anna Freud temia a deterioração das relações da 
criança com seus pais, se fossem analisados seus sentimentos negativos a respeito 
deles. 
A divisão entre o kleinismo e o annafreudismo, que se superpõe à divisão entre 
psicose e neurose, passa pela questão da psicanálise de crianças. Foi a corrente 
kleiniana e pós-kleiniana, com efeito, que estendeu o tratamento psicanalítico, 
centrado na neurose e no complexo de Édipo, a crianças pequenas, aos “borderlines” 
e à relação arcaica com a mãe, enquanto os annafreudianos concebiam o tratamento 
das psicoses a partes das neuroses, introduzindo nele uma dimensão social e 
profilática que está ausente da doutrina kleiniana, a qual só leva em conta a realidade 
psíquica ou o imaginário do sujeito. 
Jacques Lacan nasceu em l901. Seriam precisos apenas 25 anos para que 
começassem a despontar no palco do mundo os efeitos do seu nascimento. Após 
1920, Freud introduziu o que irá chamar de segunda tópica: uma tese que torna o “eu” 
(ego), uma instância reguladora entre “isso” (id – fontes das pulsões), o supereu 
(superego – agente das exigências morais) e a realidade (lugar onde se exerce a 
atividade). Pode surgir, no neurótico, um reforço do eu, para “harmonizar” essas 
correntes, como uma finalidade de tratamento. Ora, Lacan faz sua entrada no meio 
psicanalítico com uma tese completamente diferente: o eu, escreveu ele, constrói-se à 
imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho 
– este sou eu. 
O investimento libidinal desta forma primordial “boa”, porque supre a carência 
de meu ser, será a matriz das futuras identificações. Assim, instala-se o 
desconhecimento em minha intimidade e, ao querer forçá-la, o que irei encontrar será 
um outro; uma tensão ciumenta com esse intruso que, por seu desejo, constitui meus 
objetos, ao mesmo tempo em que os esconde de mim, pelo próprio movimento pelo 
qual ele me esconde de mim mesmo. É como outro que sou levado a conhecer o 
mundo: sendo, desta forma, normalmente constituinte da organização do “jê” (eu 
inconsciente, Isso, Id), uma dimensão paranóica. O olhar do outro devolve a imagem 
do que eu sou. O bebê olha pra a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. 
O artigo “O Estádio do espelho como formadora da função do „jê‟” (eu) foi 
apresentado, em l936, ao Congresso Internacional de Psicanálise, sem encontrar 
outro eco senão o toque de campainha de E. Jones, interrompendo uma comunicação 
demasiado longa. Sua reapresentação em Paris, em 1947, não suscitou maior 
entusiasmo. 
O termo “Estádio do espelho” teria sido inventado por Henry Wallon. Lacan, 
entretanto, o apresentou com uma outra forma. Ele inicia com um mito e apóia-se na 
idéia de que o ser humano é um ser prematuro no nascimento com uma 
incoordenação motora constitutiva. A idéia é que o bebê só conseguirá encontrar uma 
solução para tal estado de desamparo por intermédio de uma “precipitação” pela qual 
ele “antecipará” o amadurecimento de seu próprio corpo, graças ao fato de que ele se 
projeta na imagem do outro (figura materna) que se encontra como que por milagre 
diante dele. Essa precipitação na imagem do outro é que leva o bebê a sair da sua 
prematuração neonatal. O movimento de precipitação, neste outro, leva o bebê a uma 
alienação. O bebê tem (é obrigado) que se “alienar” para que se constitua um sujeito. 
O “falo” (falus, falta) da mãe é completado com o nascimento do filho. A mãe 
deseja ter um filho (dá-lhe um nome), engravida. Reconhece que seu filho é um ser 
humano e este chora porque está com fome e lhe dá o “objeto seio” para a satisfação 
da oralidade (leite/alimento e a catexia da libido oral), passando o bebê da natureza 
(instinto-animal) para a cultura (pulsão-homem). Estabelece uma “linguagem” com o 
“simbólico” mãe. Este passapor um processo de “alienação” para se construir como 
sujeito com o fim da fase oral (canibalesca, de 0 a 1,5 anos). O bebê antes do “Estádio 
Espelho” ( 6 a 18 meses) não se vê como um corpo unificado, sente-se como um 
corpo fragmentado. Sua mãe/seio faz parte dele e ela (mãe, “boca de jacaré”) sente 
como se ele (filho/falo) fosse parte dela. 
Com o princípio prazer/desprazer verificamos que a energia é maior no 
desprazer: o bebê busca o prazer através do seio materno (leite e libido oral). Porém 
só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua 
mãe não faz parte do seu corpo e não é completa (completude). 
Melanie Klein fala ainda sobre alienação que tem o sentido de que o bebê não 
tem uma unificação, e ele se constitui como sujeito devido ao resultado do efeito que 
esse outro (mãe) tem no bebê. Nessas condições o bebê (eu, sujeito), é senão a 
imagem do outro. É no outro e pelo outro que aquilo que quero me é revelado. Meu 
desejo é o desejo do outro. Não sei nada de meu desejo, a não ser o que o outro me 
revela. De modo que o objeto de meu desejo é o objeto do desejo do outro. O desejo 
é, acima de tudo, uma seqüela dessa constituição do eu no outro. O “sujeito”, que 
define a alienação constitutiva do ser, no encontro com o espelho, verifica o “rapto” 
que esse outro opera nele. É no espelho que a criança vê seu corpo unificado, 
deixando de ser fragmentado. No espelho a criança vê que ele existe e não é o outro 
(mãe), existindo duas pessoas distintas. Neste momento identifica a “falta”, a 
separação da mãe e não é a constituição do “sujeito falante”. 
Sigmund Freud (1856-1939) foi médico neurologista judeu-austríaco, criador da 
psicanálise. Nasceu em Freiberg, Morávia (hoje Pribor), quando pertencia ao Império 
Austríaco. Interessou-se pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou 
pessoas que apresentavam esse quadro clínico. Mais tarde, com interesse pelo 
inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, 
abandonando a hipnose em favor da associação livre e da interpretação dos sonhos. 
Estes elementos tornaram-se as bases da psicanálise. Freud, além de ter sido um 
grande cientista e escritor (Prêmio Goethe, 1930), possui o mérito, assim como Darwin 
e Copérnico, de ter realizado uma revolução no âmbito humano: a idéia de que somos 
movidos pelo inconsciente. 
Freud, suas teorias e sua forma de tratamento com seus pacientes foram 
controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas 
idéias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura 
geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico. 
Freud inovou em dois campos. Desenvolveu, simultaneamente, uma teoria da 
mente e da conduta humana, e uma técnica terapêutica para ajudar pessoas 
comprometidas psiquicamente. Alguns de seus seguidores afirmam estar influenciados 
por um, mas não pelo outro campo. Provavelmente a contribuição mais significativa 
que Freud teve para o pensamento moderno é a de tentar dar ao conceito de 
inconsciente um status científico (não compartilhado por várias áreas da ciência e da 
psicologia). Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão foram 
revolucionários: propõem u‟a mente dividida em camadas ou níveis, dominada, em 
certa medida, por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que 
se manifestam nos lapsos e nos sonhos. 
Como parte de sua teoria, Freud postula também a existência de um pré-
consciente e o inconsciente (o termo subconsciente é utilizado popularmente, mas não 
é parte da terminologia psicanalítica). A repressão em si tem grande importância no 
conhecimento do inconsciente. De acordo com Freud, as pessoas experimentam 
repetidamente pensamentos e sentimentos dolorosos que não podem suportar. 
Freud criou uma vasta terminologia: associação livre, auto-erotismo complexo, 
complexo de castração, de Édipo e de Electra, contratransferência da condensação, 
fixação, histeria, id, ego, superego, inconsciente, narcisismo, neurose, pré-consciente, 
princípio do prazer, psicologia analítica, psicossomatismo, repressão e trauma. 
Freud procurou uma explicação para a forma de operar do inconsciente, 
propondo uma estrutura particular. No primeiro tópico de sua teoria ele estava 
preocupado em estudar o que levava à formação dos sintomas psicossomáticos 
(principalmente a histeria e, para isso, apenas os conceitos de inconsciente, pré-
consciente e consciente eram suficientes). Quando sua preocupação se virou para a 
forma como se dava o processo da repressão, passou a adotar os conceitos de id, 
ego, e superego. 
O id representa os processos primitivos do pensamento e constitui, segundo 
Freud, o reservatório das pulsões. Dessa forma toda energia envolvida na atividade 
humana seria advinda do id. Inicialmente, considerou que todas as pulsões seriam ou 
de origem sexual, ou que atuariam no sentido de auto-preservação. Posteriormente, 
introduziu o conceito das pulsões de morte que atuariam no sentido contrário ao das 
pulsões de agregação e preservação da vida. O id é responsável pelas demandas 
mais primitivas e perversas. 
O ego permanece entre ambos, alternando necessidades primitivas e nossas 
crenças éticas e morais. É a instância na qual se inclui a consciência. Um eu saudável 
proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior 
de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego. 
O superego é a parte que contra-age ao id, e representa os pensamentos 
morais e éticos internalizados. 
Finalmente, Freud também acreditava que a libido amadurecia nos indivíduos 
por meio da troca de seu objeto (ou objetivo). Argumentava que os humanos nascem 
“polimorficamente perversos”, no sentido de que uma grande variedade de objetos 
pode ser uma fonte de prazer, sem ter a pretensão de se chegar à finalidade última. 
De acordo com a área na qual a libido está mais concentrada: a etapa oral 
(exemplificada pelo prazer dos bebês ao chamar a chupeta, que não tem nenhuma 
função vital, mas apenas de proporcionar prazer); a etapa anal (exemplificada pelo 
prazer das crianças ao controlar sua defecação); e logo a etapa fálica (que é 
demonstrada pela manipulação dos órgãos genitais). 
Até então percebe-se que a libido é voltada para o próprio ego, ou seja, a 
criança sente prazer consigo mesma. O primeiro investimento objetal da libido, 
segundo Freud, ocorre no progenitor do sexo oposto. Esta fase caracterizada pelo 
investimento libidinal em um dos progenitores chama-se complexo de Édipo. A criança 
passa então a amar a mãe e a experienciar um sentimento antagônico de amor e ódio 
com relação ao pai. Ela percebe que tanto o amor vivido com a mãe como o ódio 
vivido com o pai são proibidos. O complexo de Édipo é então finalizado com o 
surgimento do superego, com a desistência da criança com relação à mãe e com a 
identificação do menino com o pai. 
Por que Freud? Porque de todos os pensadores que nos últimos duzentos 
anos modelaram a nossa compressão da natureza humana, sem dúvida Freud se 
encontra ao lado de Platão, Newton, Darwin e Karl Marx. 
Mas o que dá a Freud tal importância? Simplesmente pelo fato de ele ter 
dissociado a psicologia humana do senso religioso comum, que era a teologia cristã, 
tendo-a trazido para o ponto de convergência da natureza humana. É lógico que Freud 
sofreu a influência do movimento empírico da sua época em que se buscava a razão 
do processo do conhecimento, afastando, assim, o estigma religioso. 
No entanto, ainda encontramos hoje publicações psicológicas e até 
psicanalíticas abrangendo o ponto religioso, obras como Psicanálise e Judaísmo, 
Psicanálise e Espiritismo, dentre outras do gênero. 
A importância de Freud é que modificou a perspectiva religiosa que existia 
desde então. O todo da vida humana torna-se maisimportante do que o sentido da 
alma. A psicanálise deixa o “homem nu” perante si mesmo. 
Concluindo, agradeço a todos que me inspiraram nesse trabalho e que é fruto 
de muita leitura, seminários, conferências, anotações de aulas, pesquisas, 
congressos, etc., e sem dúvida alguma, o resultado de uma exaustiva compilação do 
que há de melhor dos ícones transmissores do conhecimento e da escuta 
psicanalítica. Destaco, entre muitos o Dr. Ralph R. Greenson, muitíssimo citado nesse 
trabalho, devido ao seu grande conhecimento desta ciência, de sua técnica e a prática 
da psicanálise. 
 PREFÁCIO 
 
Este trabalho vem sendo desenvolvido ao longo de muitos anos, exatamente quando 
iniciamos nossa formação em psicanálise clínica, em 1978, no CADEP – Centro Acadêmico 
de Estudos e Debates em Psicanálise Clínica , passando pela Academia Brasileira de 
Psicanálise Clínica e iniciando especialização em Teoria e Clínica Psicanalítica na 
Universidade Gama Filho, além de participação em dezenas de congressos, seminários e 
conferências no Brasil e no exterior. Portanto, o mérito não é nosso, mas os créditos 
pertencem àqueles que de forma direta ou indiretamente contribuíram para transmitir-nos 
saber psicanalítico. 
Elegemos este trabalho como o “livro texto” do nosso Curso de Formação em 
Psicanálise Clínica , obedecendo rigorosamente à legislação pertinente que está inserida 
neste trabalho para conhecimento dos psicanalistas clínicos em formação. Assim , estes 
poderão conhecer um grande e variado leque de oportunidades que a legislação garante ao 
psicanalista. 
Quem adquirir este Curso e desejar realmente fazer sua formação em Psicanálise, 
deverá formalizar entrar em contanto conosco para saber das condições exigidas, o longo 
caminho a ser percorrido e receber em seu computador as disciplinas específicas 
complementares e necessárias à formação, além de vários textos de Freud para serem 
interpretados. Ao término deverá apresentar uma monografia, em conformidade com as 
exigências da ABNT e suas congêneres internacionais. 
Não se preocupe o leitor quando, ao manusear este livro, deparar-se com repetições 
de determinados assuntos e temas. São repetições propositais, com abordagens 
diferenciadas, que visam a melhorar o aprendizado de assuntos importantíssimos que os 
futuros psicanalistas jamais poderão esquecer no exercício de sua prática clínica. 
Por fim faz-se necessário advertir que este material deve ser utilizado apenas como 
parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus 
respectivos autores. 
 Rio de Janeiro, setembro de 2009. 
 
Rômulo Vieira Telles 
Psicanalista Clínico. 
 
Mestre pela Academia Brasileira de Psicanálise Clinica, Pós-Graduado em 
Docência do Ensino Superior, Doutor em Psicologia Pastoral , Doutor Honoris 
Causa pela Universidad de Los Pueblos de Europa, PhD of Theology pelo The 
International Theological Seminary of London, United Kingdom e Diretor da 
Escola de Psicanálise Clínica do Rio de Janeiro. 
 
Capítulo 1 
PRINCÍOS GERAIS DA PSICANÁLISE 
 
A palavra “Psicanálise” é usada para designar três coisas e poderemos muito 
naturalmente perguntar como será isso possível, uma vez que as três coisas são de 
natureza bem diferente. “Psicanálise” significa um método especial de tratamento 
concebido por Sigmund Freud, de Viena, para a cura de certa classe de desarranjos 
nervosos. Este sentido restrito foi aquele em que, pela primeira vez, foi usada a 
expressão. Significa também uma técnica especial de investigação das camadas 
profundas da mente. Finalmente, esta palavra é empregada para descrever a 
extensão de conhecimento que se adquiriu pelo exercício deste método e, neste 
sentido, é praticamente sinônimo de “ciência do inconsciente” (Ernest Jones). 
A atividade psicanalítica não se subordina ao Conselho Federal de Medicina, 
nem ao Conselho Federal de Psicologia, mas atua de forma interdisciplinar com a 
Medicina e a Psicologia na promoção do bem estar da saúde humana. O Conselho 
Federal de Medicina estabelece procedimentos para a classe médica, e o Conselho 
Federal de Psicologia, para psicólogos. 
Poderíamos dizer ainda que “a Psicanálise é um processo de investigação 
sobre o funcionamento do inconsciente cujos resultados são terapêuticos”. A 
Psicanálise baseia-se na suposição de que os significados das experiências vividas 
pelos seres humanos permanecem, em grande parte, desconhecidas por eles 
próprios. 
Estes significados inconscientes exercem um papel muito importante sobre os 
sentimentos e sobre o comportamento humano, gerando sofrimentos ou distúrbios que 
variam de um simples desajustamento ocasional até graves distúrbios da 
personalidade e do contato com a realidade, inibição de diversas funções psíquicas ou 
dificuldades diversas no relacionamento pessoal e emocional. 
O tratamento psicanalítico, na medida em que traz estes significados 
inconscientes à tona, permitindo que eles sejam analisados pelo paciente junto com o 
analista, abre um campo novo de perspectivas para o indivíduo ajudando-o a lidar 
melhor consigo próprio e com as realidades da vida. 
A análise implica em um relacionamento íntimo durante o qual o paciente 
revive com o analista seus conflitos inconscientes na experiência do dia-a-dia, nas 
fantasias e nos sonhos. Por esse motivo, a análise demanda tempo, continuidade e 
precisa se dar em um ambiente de acolhimento, isenção, respeito confiabilidade, 
ambiente cujas regras e limites o analista aprende durante o longo período de sua 
formação analítica. 
Mas a análise não é apenas um método de conhecer a mente. Ela é, também, 
uma teoria geral sobre o comportamento humano que influenciou, como nenhuma 
outra disciplina do século XX, as ciências humanas em geral. A Medicina , a 
Psicologia, a Pedagogia, a Antropologia, a Sociologia, a História, a Filosofia, a 
Lingüística, as artes e a cultura, de um modo geral, foram ficaram profundamente 
marcadas pelos seus postulados. 
A teoria psicanalítica interessa-se tanto pelo funcionamento mental normal 
como pelo psicológico. Mesmo sendo os pacientes da Psicanálise mentalmente 
enfermos, as teorias se referem tanto ao normal quanto ao anormal. 
A Psicanálise nos apresenta o determinismo psíquico e o fenômeno psíquico. 
Determinismo psíquico é o princípio que na mente humana afirma que nada acontece 
por acaso ou de modo aleatório. Cada evento psíquico é determinado por outros que 
os precederam. Sempre existe uma razão para todos. Os fenômenos psíquicos e os 
fenômenos mentais necessitam de um elo entre eles. Nenhum deles é acidental. 
Sempre existirá também uma razão que justifique sua existência. 
Na Psicanálise não existem “casualidades”. Cada evento pode parecer 
independente, mas o é apenas na aparência. Por ter sentido em especial, ele 
acontece porque foi causado por um desejo ou uma intenção da pessoa envolvida. 
Como há um elo entre um evento e outro, não existem casualidades na vida mental. 
Tudo tem uma explicação. 
Damos nomes às manifestações comuns do sono. Dá-se o nome de sonhos 
quando a imagem, em cada sonho, mantém uma relação coerente e significativa com 
o restante da vida psíquica daquele que sonha, sendo conseqüências de outros 
eventos psíquicos. Freud descobriu que o sonho segue o mesmo princípio do 
determinismo psíquico. Descobriu também que cada sonho com sua imagem distinta 
mantém íntima ligação com a vida mental da pessoa. 
Durante vários anos Freud desenvolveu uma técnica chamada Psicanálise, 
pela simples razão de ter sido capaz, com a sua ajuda, de entender e descobrir os 
processos psíquicos de uma pessoa quer sã ou enferma. E isto foi de extrema 
importância. 
O sonho oferece importante material para análise. Freud descobriu através da 
técnica psicanalítica que por detrás de todo sonho existem pensamentos e desejos 
inconscientes ativos. Pode, assim, demonstrar que quando se produzemsonhos, 
estes são provocados por atividades mentais inconscientes para a pessoa que sonha 
e assim permaneceriam a não ser que seja utilizada a técnica psicanalítica. 
Acrescentou ainda que o instinto, quando em ação, produz um estado de 
tensão ou excitação psíquica. Esta tensão leva o individuo para a ação ou atividade. 
Esta atividade no individuo é, de um modo geral, geneticamente determinada, mas 
pode ser consideravelmente alterada pela experiência individual, e levará à cessação 
da excitação ou tensão ou, ainda, à gratificação. 
Indicando uma característica da ação do impulso, diríamos que há uma 
seqüência que é característica da ação do impulso, por exemplo: necessidade, 
atividade motora, gratificação. Essa seqüência trabalha diretamente com elementos de 
experiência subjetiva. Sobre os impulsos, há dois exemplos: a) impulso sexual – 
refere-se ao que, grosso modo, falamos relativo ao sexo. Este impulso dá origem ao 
componente erótico das atividades mentais; b) mpulso agressivo – refere-se à 
agressividade. Este impulso dá origem ao componente destrutivo. Freud definiu o 
impulso como um estímulo da mente, proveniente do corpo. 
 Capítulo 2 
TIPOS PSICANALÍTICOS DE PERSONALIDADE 
 As fases do desenvolvimento psicossexual da criança são três: 
Fase Oral – os órgãos sexuais principais são a boca, os lábios e a língua. Esta 
fase ocorre no primeiro ano e meio de vida, aproximadamente. 
Fase Anal – no ano e meio seguinte as sensações de prazer/desprazer se 
associam com a retenção e expulsão das fezes. O ânus se constitui no lugar mais 
importante de tensões e gratificações sexuais da criança. 
Fase Fálica – os órgãos genitais passam a ser o objeto de interesse principal 
da criança, tanto para a menina como para o menino. Para as meninas o órgão de 
satisfação sexual é o clitóris e, para os meninos, o pênis. Isto acontece no final do 
terceiro ano de vida. Esta fase entra na puberdade. 
Vamos nos referir mais objetivamente a esses tipos psicanalíticos de 
personalidade: 
Personalidade Oral – esta reflete as experiências infantis durante o estágio 
oral da libido. As tendências caracterológicas para a prepotência, domínio sobre os 
outros, voracidade, cobiça e inveja estão radicadas no impulso primitivo da criança 
para incorporar oralmente a mãe (objeto total) ou o seio materno (objeto parcial). O 
otimismo é considerado um produto psicogênico de uma amamentação abundante e 
sem restrições. 
Personalidade Anal – reflete as experiências infantis durante a aprendizagem 
do controle da defecação. As tendências caracterológicas para a vaidade, 
desconfiança, ambição e generosidade sem amor estão associados ao prazer da 
evacuação. As tendências para a meticulosidade, parcimônia, amor à ordem e ao 
método, obstinação e avareza estão radicadas na retenção das fezes. Sendo um 
prazer ambivalente (evacuar pode significar, para a criança, expelir um mau objeto 
interno ou oferecer à mãe um mau objeto interno que pode envenená-la ou destruí-la). 
Tais tendências caracterológicas podem combinar-se no tipo de personalidade anal. 
Quando excessivamente acentuada, a personalidade anal pode resultar em uma 
fixação infantil, em virtude de a criança não ter sido capaz de conciliar os prazeres 
anais com as exigências sociais (por exemplo, o treino de toillete, a disciplina da 
higiene pessoal). 
Personalidade Fálica – reflete as experiências marcadas pelo interesse e 
sentimentos associados ao pênis (para a mulher, o símbolo equivalente). As 
tendências caracterológicas para a ostentação generosa ou benemerente, o 
narcisismo, a camaradagem, a afiliação e atividades lúdicas (jogos, competições 
esportivas etc.) estão associadas à primazia fálica. 
São estes os três padrões básicos de personalidades originados nos estágios 
pré-genitais do desenvolvimento psicossexual. A fase culminante do desenvolvimento 
sexual em que a pessoa estabelece relações verdadeiramente afetivas com o parceiro 
sexual corresponde, na caracterologia adulta, à personalidade genital, à síntese dos 
impulsos psicossexuais medidos não só pela potência fisiológica, mas também pela 
capacidade de amor em termos adultos. É o padrão equilibrado e maturo da 
personalidade adulta. 
 
Estrutura da Personalidade 
 Id 
 Ego 
 Superego 
Id – Segundo o conceito freudiano de estrutura da personalidade, o id é o 
componente arcaico e inconsciente de energias mentais (psiqué) que dinamiza o 
comportamento humano. Do id promanam os impulsos cegos e impessoais devotados 
à gratificação do instinto sexual (libido), estreitamente vinculado às necessidades 
primárias das pessoas (comer e não ter fome). Temos, pois, que o id é o verdadeiro 
inconsciente ou a parte mais profunda da psiqué. Ignora o mundo exterior, com quem 
não está em contato, e o objeto único de seus interesses é o corpo, sendo suas 
relações com ele dominadas unicamente pelo princípio do prazer. 
Freud descreveu, ainda, a hegemonia total dos instintos do prazer nas fases 
primitivas do desenvolvimento mental, como decorrência direta do fato de as duas 
atividades básicas da criança pequena – mamar e defecar – terem provocado a 
sexualização (libidinização) da boca e do ânus, zonas erógenas. Ulteriormente, Freud 
ampliaria, com algumas modificações, esta sua primeira teoria (Para além do Princípio 
do Prazer) e a libido deixaria de identificar-se exclusivamente com o instinto sexual e o 
princípio do prazer, para ser eros – o instinto da vida e da auto-preservação, no qual o 
componente sexual estava logicamente incluído. 
Ego – Segundo o conceito psicanalítico da estrutura da personalidade, 
enunciado por Sigmund Freud, o ego constitui o componente intermediário das 
energias mentais (entre o id – inconsciente – e o superego – ego ideal ou 
consciência). O ego exerce o controle das experiências conscientes e regula entre a 
pessoa e o meio ocupando, portanto, a posição de um centro de referência para todas 
as atividades psicológicas e qualidades egocêntricas. É através do ego que 
aprendemos tudo sobre a realidade externa e orientamos nosso comportamento no 
sentido de evitar os estados dolorosos, as ansiedades e as punições. 
Superego – Na estrutura teórica da personalidade descrita por Freud, o 
superego é a mais recente formação ou componente do sistema de energias mentais 
e foi correlacionado com o declínio e dissolução do Complexo de Édipo. A noção do 
superego foi inspirada nos estudos de introjeção de Sandor Ferenczi (a progressiva 
introjeção pela criança dos eventos em seu meio vital) e suas relações com o 
desenvolvimento de uma instituição moral a partir do ego. 
O superego é o representante de uma natureza superior que no eu (Freud) 
atua no sentido de evitar punições por transgressões morais ou fomentar ideais 
moralmente aceitos. Ele pode reprimir e criticar as idéias, impulsos e sentimentos 
inconscientes que afetam o comportamento moral e judicativo da personalidade 
(atividade a que se dá, usualmente, o nome de consciência, que pode apoiar a 
realização de uma natureza superior ou ideal). Assim, os três componentes básicos do 
sistema encontram-se permanentemente empenhados numa interação que é uma 
batalha constante: o id em busca de sua satisfação irracional, o ego procurando 
ajustar as exigências e impulsos do id ao mundo da realidade, e o superego tentando 
reprimir ou apoiar o impulso que for moral e socialmente reprovável ou louvável. 
Escreveu Freud: “O superego não é apenas o depositário das anteriores 
opções objetais; representa também uma enérgica formação de reação contra essas 
opções. Sua relação abrange a proibição: você não deve ser como tal (consciência)”. 
São duas as características inconscientes da atividade do superego: 
a) Lei de Talião – é a punição por uma maldade ou um crime aplicado ao 
malfeitor, fazendo-o sofrer o mesmo dano a quem ele o infringiu. É o célebre “olho por 
olho” e “dente por dente”. Em sentidopsicanalítico, são as punições inconscientes que 
o superego impõe ao individuo, por suas ações que foram reprovadas pelo superego, 
mas que foram praticadas, produzindo um conceito de justiça, comum na criança 
pequena. 
b) Falta de Discriminação entre Desejo e Ação – na investigação 
psicanalítica é lugar comum que o superego ameaça castigar tão severamente tanto o 
desejo ou impulso como a ação praticada. 
 Tipologia Traçada por Freud 
 Freud traçou uma tipologia como causa da carreira criminosa. É a psicopatologia da 
vida cotidiana: são fenômenos da vida mental como os enganos, erros, omissões e 
lapsos da escrita e de linguagem. Estes fenômenos são comumente conhecidos por 
acidentes. 
Antes de Freud os descobrir eram conhecidos como ocorrências intencionais 
que seriam conscientes por parte do individuo. Freud descobriu tratar-se de ações 
propositais e intencionais do individuo cuja intenção era inconsciente. 
É necessário esclarecer a interpretação do significado inconsciente do lapso. O 
lapso esconde um desejo que o superego reprovou. O ego, portanto, reprimiu por 
longo tempo este comportamento ou desejo para o psicanalista por meio de 
associações que são feitas com a vida do indivíduo. 
 A Teoria da Técnica Psicanalítica 
 A terapia psicanalítica é uma terapia causal; ela procura desfazer as causas da 
neurose. É seu objetivo solucionar os conflitos neuróticos do paciente, incluindo a 
neurose infantil que serve de núcleo à adulta. Solucionar os conflitos neuróticos 
significa juntar ao ego consciente aquelas parcelas do id, superego e ego inconsciente 
que ficaram excluídas dos processos de amadurecimento da parte restante saudável 
da personalidade total. 
Segundo Freud, o psicanalista aborda os elementos inconscientes através de 
seus derivativos. Todos os componentes reprimidos do id e do ego produzem 
derivativos – “meio-irmãos”. Não estão conscientes e, mesmo assim, estão muito bem 
organizados de acordo com o processo secundário e acessíveis ao ego consciente. 
O principal procedimento que o psicanalista exige do paciente é a associação 
livre. Charles Ricroft inicia afirmando que “a tradução equivocada de Brill da “Freier 
Einfall”, de Freud, versão que, no entanto, se tornou termo aceito em inglês. Einfall 
significa “irrupção”, idéia repentina, e não “associação”; o conceito refere-se a idéias 
que nos ocorrem espontaneamente, sem esforço. Quando utilizada como termo 
técnico, associação livre descreve o modo de pensar incentivado no paciente pela 
recomendação do analista de que deve obedecer à “regra básica”, isto é, comunicar 
seus pensamentos sem reserva e não tentar concentrar-se enquanto assim procede. A 
técnica da associação livre apóia-se em três suposições: 
a) que todas as conseqüências de pensamento tendem a conduzir ao que é 
significante; 
b) que as necessidades terapêuticas do paciente e o conhecimento de que está 
em tratamento conduzirão seus associados no sentido do que é significante, exceto na 
medida em que a resistência operar; 
c) que a resistência é minimizada pelo relaxamento e maximizada pela 
concentração. Foi a adoção, por Freud, da técnica da associação livre que lhe permitiu 
abandonar a hipnose. 
A resistência manifesta-se durante as sessões por falhas na capacidade de o 
paciente associar livremente. Algumas descrições da técnica analítica fazem-na 
depender inteiramente da associação livre e do resultante do surgimento do “material” 
patogênico pertinente; isso, porém, constitui um exagero de simplificação, uma vez 
que: 
a) o analista faz interpretações e as elocuções seguintes do paciente são 
associações à intervenção daquele, e não livres; 
b) as intervenções do analista obrigam o paciente a examinar atentamente 
suas associações livres em identificação com o analista, isto é, o paciente faz duas 
coisas simultaneamente, ou em rápida oscilação: associação livre e reflexão. Uma 
formulação alternativa é que o paciente oscila entre ser o sujeito e o objeto de sua 
experiência, em determinado momento, deixando os pensamentos fluírem e, no 
seguinte, examinando-os. 
Capítulo 3 
OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE 
 
São dois os métodos de exploração do inconsciente: o associativo e o 
simbólico. O associativo visa a um duplo resultado: o desrecalcamento e a 
interpretação. 
Solicita-se ao paciente que use o máximo de sua capacidade, que tente deixar 
as coisas surgirem em sua mente e verbalizá-las sem se importar com a lógica e a 
ordem. Mesmo que lhe pareça não terem importância ou até mesmo serem 
aparentemente vergonhosas ou indelicadas a serviço do ego e os derivados, do ego 
inconsciente, do id e do superego tendem a vir à superfície. 
Sabemos que o paciente deseja recuperar-se porque está sofrendo de uma 
neurose, mas, existem forças dentro dele que são opostas à mudança 
pretendida, forças que defendem a mudança e o statu quo. Estas forças que se 
opõem ao processo de tratamento são conhecidas por resistências, termo que 
quando utilizado como termo técnico, é a oposição que se verifica existir durante 
o tratamento psicanalítico, contra o processo de tornar conscientes os processos 
inconscientes. Diz-se que os pacientes se encontram em estado de resistência 
caso se oponham às interpretações do analista, e que têm resistências fracas ou 
fortes conforme achem fácil ou difícil permitir que seus analistas os 
compreendam. A resistência é uma manifestação de defesa; uma possível 
exceção é a „resistência do inconsciente‟ à compulsão e à repetição (Charles 
Ricroft. Dicionário Crítico de Psicanálise). 
 Portanto, uma das características da Psicanálise é que se pede ao paciente 
que inclua suas associações quando narra seus sonhos ou outras experiências. A livre 
associação tem prioridade sobre todos os outros meios de produção de material na 
situação analítica. É preciso estar atento para que a associação livre não seja usada 
erradamente para ajudar a resistência. O analista tem por tarefa analisar tais 
resistências para restabelecer o uso adequado da associação livre. 
 A associação livre é o método mais importante para a produção do material na 
Psicanálise. É utilizada em momentos pré-estabelecidos naqueles tipos de 
psicoterapia que buscam certa dose de volta do reprimido, as assim chamadas 
„psicoterapias orientadas psicanaliticamente‟. Não é empregada nas terapias anti-
analíticas, de apoio ou de encobrimento do reprimido. 
O que acabamos de dizer sobre o método associativo, nos permitirá examinar 
brevemente o método simbólico. Voltaremos à esse mesmo tema, posteriormente. 
Nunca se deve perder de vista: Freud muitas vezes repetiu que o método 
simbólico desempenha em Psicanálise um papel absolutamente secundário. É de 
admirar que apesar dos protestos reiterados do mestre de Viena, o público, mesmo 
científico, vê na Psicanálise muitas vezes apenas uma chaves dos sonhos. 
Relembremos que a simbolização, no sentido estrito freudiano, não deve ser 
confundida com a dramatização. Na dramatização, há passagem de uma idéia 
abstrata para uma imagem. Na simbolização, há passagem de uma imagem para 
outra imagem, além disso, o símbolo tem um valor coletivo. 
O exame da validez do método simbólico comporta duas fases. É preciso, em 
primeiro lugar, procurar saber como se estabelece uma lista de símbolos. Em segundo 
lugar, é preciso fixar quais são os critérios que justificam a interpretação simbólica 
num determinado caso. 
Objetar-se-á talvez que invertemos a lógica dos problemas. É preciso, primeiro 
estabelecer a validez da interpretação simbólica num certo número de casos concretos 
e só em seguida se poderá generalizar. 
Esta objeção repousa numa grave confusão, que importa dissipar. Uma 
relação de causalidade pode ser conseguida de duas maneiras muito diferentes. No 
primeiro caso, a reação de causalidade tem um valor inteligível e impõe-se 
diretamente à razão. Basta comparar a marca deixadapor um pé humano nu sobre a 
areia úmida e a forma desse pé para apreender intuitivamente a relação de 
causalidade, mesmo se se dispõe apenas de um único espécime de marca. Vimos 
que, em condições favoráveis, o método associativo conduz a uma certeza desse 
gênero. 
Num segundo caso, a relação de causalidade não é compreensível 
diretamente, sua existência só pode ser demonstrada estatisticamente. Assim é que 
os médicos gregos reconheceram que a orquite podia ser uma complicação da 
cachumba. Ela não acompanha sempre a cachumba, nem apenas a cachumba, mas 
sua freqüência nos homens em geral. O redator do Primeiro Livro das Epidemias, da 
coleção hipocrática, não fala explicitamente no princípio lógico da comparação das 
freqüências, não deixando esse princípio porém de ser o fundamento de sua asserção. 
Aqui a causalidade é apreendida graças à lei dos grandes números, mas poder-se-ia 
percebe-la com certeza com um único exemplo. 
Capítulo 4 
REAÇÕES TRANSFERENCIAIS 
 
 A transferência é a vivência de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias e 
defesas dirigidas a uma pessoa no presente, sendo que essa vivência não se coaduna 
com a pessoa e constitui uma repetição, um deslocamento de reações surgidas em 
relação a pessoas importantes na infância primitiva. 
A transferência pode ser positiva ou negativa. 
Transferência positiva – A transferência positiva implica as diferentes formas 
de anseios sexuais, tais como o gostar, o amar e o respeitar o analista. 
Transferência Negativa – A transferência negativa implica algumas variações 
da agressividade sob a forma de raiva, aversão, ódio ou desprezo pelo analista. Deve 
ter-se sempre em consideração que todas as reações transferenciais são 
essencialmente ambivalentes. Clinicamente, o que aparece é apenas a superfície.[1] 
As pessoas que se recusam a regredir da realidade são riscos indesejados 
para a Psicanálise. Freud dividiu as neuroses em dois grupos, baseado no fato de o 
paciente conseguir ou não desenvolver e manter um conjunto relativamente coerente 
de reações transferenciais e, mesmo assim, agir na análise e no mundo externo. Os 
pacientes com uma “neurose de transferência” conseguiam fazê-lo, ao passo que os 
pacientes sujeitos a uma “neurose narcísica” não o conseguiam. 
A teoria da transferência é uma das mais importantes contribuições de Freud à 
ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. Ela precisa ser entendida como um 
falso enlace, que tem, em princípio, dois objetivos, ambos inconscientes: 
a) satisfazer as necessidades propriamente inconscientes, confundindo a 
pessoa do psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do paciente; 
b) evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando, desse 
modo, como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as energias 
mentais para um lado que abarque a manifestação do universo inconsciente. 
http://br.mg4.mail.yahoo.com/dc/blank.html?bn=157.18&.intl=br&.lang=pt-BR#_ftn1
Não importando o caso, a transferência poderá ser encarada como uma 
fraqueza de caráter, como “safadeza” do paciente, porém algo inevitável às pessoas 
mais sérias. É sempre um problema da personalidade no que diz respeito às 
neuroses, carências etc. As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais 
conseguem plasmar mais uma carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico. 
Contra-transferência 
 Podemos definir contra-transferência, como as atitudes, sentimentos e fantasias que o 
psicanalista experimenta, muitas das quais provêm, aparentemente de modo 
irracional, de suas próprias necessidades e conflitos psíquicos e não de circunstâncias 
reais de suas relações com o paciente. 
A contra-transferência pode ser, como deduzimos da definição, conseqüência 
de carência do psicanalista em si. Nesse caso é “uma resposta emocional do 
psicanalista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do 
analisado sobre os sentimentos do profissional” (Etcheroyen). 
Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual 
maneira precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre dispostos a auto-
interpretação, sob pena de ficarmos vendidos no relacionamento e impedidos de 
trabalhar em benefício do paciente. 
Como abordaremos no item relativo à aliança terapêutica que deve ser uma 
evolução da transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos 
o mesmo para a contra-transferência. Neste caso, quando interpretamos, quando 
identificamos os motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento 
intenso no correspondente a aliança terapêutica que chamamos descendente. A 
aliança terapêutica descendente, que vem do psicanalista, é igualmente um importante 
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência 
em nível de sentimento. 
Aliança Terapêutica 
 Este delicado assunto, por muitos é confundido com transferência. A transferência 
ocupa uma parte definida do universo psicanalítico. Nem tudo o que ocorre na 
situação analítica é transferência. Devemos, contudo, reconhecer que a linha divisória 
entre aliança terapêutica e transferência é muito tênue. 
Como defini-la? Segundo Zetzel, aliança terapêutica é uma espécie de 
transferência racional. A transferência racional se caracteriza sobretudo por não ter o 
aspecto de neurose que é a neurose de transferência. A diferença está na intensidade, 
racionalidade, consciência de que os afetos que surgem não são frutos de paixão, 
mas, sim, do relacionamento. Por outro lado, a transferência se reveste de 
irracionalidade, envolvimento afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis 
de sentimento. 
Podemos situar melhor a aliança terapêutica em relação à transferência, do 
seguinte modo: a aliança terapêutica é favorável, colaboradora do processo, enquanto 
a transferência, embora fundamental para a cura – em princípio opera negativamente 
– tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve ser interpretado e, se 
persistir, o tratamento será inviabilizado. 
A experiência nos tem ensinado que a aliança terapêutica não necessita de 
interpretação, nem teríamos de fazê-lo. Precisamos confessar, entretanto, que a 
diferença entre a neurose de transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma 
diferença de compreensão do paciente do que de sentimentos. Em suma, o que o 
paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a posição pessoal do 
paciente difere. 
Uma outra situação importante é que, na transferência, a luta do psicanalista é 
para interpretá-la, afastá-la, dando lugar à possibilidade da instalação da dinâmica 
interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre exatamente o contrário: o psicanalista a 
reforça. Ele precisa da manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade. 
Finalizando, diremos que o ideal da transferência é que se transforme ou evolua para 
aliança terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao mesmo tempo em um paciente. 
Outra coisa se discute: pode existir aliança terapêutica sem o processo inicial da 
transferência? 
 Capítulo 5 
AS RESISTÊNCIAS 
 Álvaro Cabral define resistência em Psicanálise como a oposição a qualquer tentativa 
de revelação de um conteúdo inconsciente. A maior ou menor intensidade da luta 
travada pelo paciente contra o analista que o ameaça pôr a descoberto esse conteúdo 
oculto constitui sempre uma medida de força repressora, isto, é da resistência. Álvaro 
Cabral fala, ainda, sobre resistência inconsciente: 
em psicoterapia, é a retenção intencional de informações por parte de um 
paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder a 
consideração do analista, etc. Aceita-se que, subentendida na resistência 
consciente, haja sempre motivos inconscientes. 
A terapia psicanalítica se caracteriza pela análise sistemática e completa de 
resistências. É trabalho do analista descobrir como o paciente resiste, a queestá ele 
resistindo e por que ele age assim. A causa imediata de uma resistência é sempre 
evitar algum afeto doloroso como a ansiedade, culpa ou vergonha. Por trás deste 
motivo encontraremos um impulso instintual que disparou o afeto doloroso. No final 
das contas, descobrir-se-á que é o medo de um estado traumático que a resistência 
está tentando evitar. 
 Ralph R. Greenson em seu livro A Técnica e a Prática da Psicanálise, de uma 
forma empírica e prática, define resistência como oposição. Mais explicitamente, 
“resistência são todas aquelas forças” dentro do paciente que se opõem aos 
procedimentos e processos da análise, que impedem a associação livre, que 
bloqueiam as tentativas para recordar, obter e assimilar a compreensão interna 
(insight), que agem contra o ego racional do paciente e contra seu desejo de mudar; 
todas as forças devem ser consideradas resistências (Freud, 1900, p. 517). 
A resistência pode ser: 
a) consciente; 
b) pré-consciente; 
c) inconsciente. 
 Elas podem ser expressas por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos, 
pensamentos, fantasias ou ações. A resistência, em essência, é uma força opositora 
no paciente, agindo contra os procedimentos e processos analíticos. 
 Já em 1912 Freud havia reconhecido a importância da resistência ao afirmar: 
A resistência acompanha o tratamento em todos os seus passos. Toda e 
qualquer associação, todo o ato da pessoa em tratamento deve contar com a 
resistência e ela representa um compromisso entre as forças que estão lutando 
pela recuperação e as forças opositoras (Freud, 1912a, p. 103). 
 Em relação à neurose do paciente, as resistências favorecem uma função 
defensiva. As resistências defendem a neurose e se opõem ao ego racional do 
paciente e à situação analítica. Visto que todos os aspectos da vida mental podem 
auxiliar uma função defensiva, todos eles podem ajudar os objetivos da resistência. 
 Para analisar uma resistência temos de conhecê-la. Ela aparece de formas 
variadas, complexas e sutis, em combinações ou em formas misturadas, e os 
exemplos individuais e isoladas não constituem a regra. 
 O Paciente Está Silencioso 
 É a forma mais comum de comportamento que encontramos na prática psicanalítica. 
Significa que o paciente não está disposto, consciente ou inconscientemente, a 
transmitir seus pensamentos ou emoções ao analista. Ele pode estar cônscio de sua 
má vontade ou pode perceber apenas que não há nada em sua mente. Apesar do 
silêncio, algumas vezes o paciente pode revelar, involuntariamente, o motivo do seu 
silêncio, pela postura, movimentos ou expressão facial. Virando a cabeça para não ser 
visto, cobrindo os olhos com as mãos, contorcendo-se no divã, enrubescendo – tudo 
isso pode indicar embaraço. 
O silêncio, contudo, pode também indicar outros significados, como uma 
repetição de um fato passado no qual o silêncio desempenhou um papel importante. 
Pode descrever a sua reação à cena primária. Nessa situação o silêncio não é apenas 
uma resistência, mas também o conteúdo de parte de uma recordação. Existem 
muitos problemas complexos ao redor do tema silêncio. De modo geral e por objetivos 
bem práticos, o silêncio é uma resistência à análise e tem que ser manejado como tal. 
O Paciente ‘Não Está com Vontade de Falar’ 
 Esta é uma variação da situação anterior. Ele não está totalmente silencioso, mas 
está cônscio de que não está com vontade de falar. O estado de „não sentir vontade 
de falar‟ tem uma ou mais causas. O trabalho do analista consiste em fazer o paciente 
trabalhar a respeito destas causas. É, basicamente, tarefa semelhante à investigação 
de “alguma coisa” inconsciente que provoca o “nada” inconsciente na mente do 
paciente silencioso. 
Afetos Indicando a Resistência 
 Do ponto do ponto de vista das emoções do paciente, a indicação mais típica de 
resistência será notada quando o paciente se comunica verbalmente, mas existe uma 
ausência de afeto. Suas observações são secas, insípidas, monótonas e apáticas. 
Tem-se a impressão de que o paciente está alheio e desligado do que está relatando. 
Isto é particularmente importante quando a ausência de afeto diz respeito a fatos que 
deveriam estar cheios de profunda emoção do que ele está relatando. 
Em geral a inexistência da emoção é um sinal bem impressionante de 
resistência. Há uma qualidade bizarra no que o paciente diz quando a ideação e a 
emoção estão de acordo. 
Capítulo 6 
PROCEDIMENTO ANALÍTICO 
O procedimento analítico mais importante é a interpretação. Todos os outros 
procedimentos estão a ela subordinados, na teoria e na prática. 
Todos os procedimentos analíticos ou são medidas que levam a uma 
interpretação ou medidas que tornam eficiente uma interpretação (E. Kibring, 1954; 
Gill, 1954; Meninger, 1958). 
O termo “analisar” é uma expressão compacta que abrange as técnicas que 
aumentam a compreensão interna (insight). Em geral, inclui quatro procedimentos 
diferentes: 
a) Confrontação; 
b) Esclarecimento; 
c) Interpretação; 
d) Elaboração. 
 
a) Confrontação 
É o primeiro passo a ser dado para a análise de um fenômeno psíquico. O 
fenômeno em questão tem que se ter tornado evidente, tem que ter ficado explícito ao 
ego consciente do paciente, e resume-se em interpretar o motivo que possa ter um 
paciente para evitar um determinado assunto. O analista deve, primeiro, fazer com que 
o paciente enfrente o fato de estar evitando alguma coisa. 
 
b) Esclarecimento 
Somos levados ao esclarecimento, que é o próximo passo, pela confrontação 
que é o primeiro passo. Estes dois procedimentos se confundem, mas é importante 
separá-los porque há circunstâncias em que cada um deles pode causar problemas 
díspares. Os detalhes importantes precisam ser desenterrados para esclarecer todos 
os fenômenos psíquicos. 
 
c) Interpretação 
É o terceiro passo da análise. É este processo que distingue a Psicanálise de 
todas as outras psicoterapias porque, em Psicanálise, a interpretação é o instrumento 
decisivo e fundamental. Todos os demais preparam para a interpretação e, interpretar 
significa tornar consciente um fenômeno inconsciente. 
Mais objetivamente, significa tornar conscientes o significado, a fonte, a 
história, o modo ou a causa inconsciente de um determinado fato psíquico. É muito 
comum um esclarecimento levar à interpretação que conduz novamente a um 
esclarecimento posterior (Kris, 1951). 
d) Elaboração (working through) 
É o quarto procedimento na análise. Abrange um conjunto complexo de 
procedimentos e processos que ocorrem depois que há uma compreensão interna 
(insight). O trabalho analítico que possibilita que uma compreensão interna provoque 
uma mudança é o trabalho da elaboração (Greenson, 1965b). 
Além de ampliar e aprofundar a análise das resistências, as reconstruções 
também têm uma importância especial. A elaboração põe em movimento uma 
variedade de processos circulares nos quais a compreensão interna (insight), a 
memória e a mudança de comportamento se influenciam reciprocamente (Kris, 1956a, 
1956b). 
 Capítulo 7 
OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE 
 
Roland Dalbiez apresenta dois métodos de exploração do inconsciente: 
 
1) O Método Associativo 
O método associativo visa a um duplo resultado: 
a) o desrecalcamento; 
b) a interpretação. 
Quando comparamos a exposição que dele fazem os diversos psicanalistas, 
verificamos que alguns insistem exclusivamente no desrecalcamento e outros na 
interpretação. Nenhum desses dois aspectos do método deve ser desprezado 
em detrimento do outro. A interpretação só não basta. Isto é claro quando há 
inconsciência das causas. Embora seja um sintoma dependente de uma 
lembrança esquecida da infância a reconstrução do conteúdo dessa lembrança 
por meio da inferência causal é um processo absolutamente original. Assim 
como a sensação é caracterizada pela referência intuitiva à existência atualdo 
seu objeto, a lembrança implica no que se poderia chamar a referência intuitiva à 
existência passada de seu objeto. Pode parecer paradoxal falar de intuição do 
passado, mas se reflete acerca do problema das certezas existenciais. Quer se 
refiram ao presente ou ao passado, ter-se-á a noção de que elas formam um 
mundo à parte. As existências presentes se verificam e não se demonstram ou, 
se se demonstram, é somente na condição de apoiar-se numa premissa 
essencial, a qual foi por sua vez é verificada e não demonstrada. Este caráter de 
verificação do presente no próprio fato de sua existência é transmitido pela 
sensação à lembrança. Por isso um abismo separa o rememorado reconstruído. 
A lembrança que tenho de um eclipse que vi, e o conhecimento que me fornece 
o cálculo astronômico de um eclipse que se realizou dois mil antes de meu 
nascimento são impossíveis de mensuração. É de admirar que se desconheça 
tal evidência. Ninguém a teria retido, se não estivesse ligada à discussão entre o 
realismo e o idealismo. A noção de tempo sempre foi uma pedra de toque para 
os sistemas idealistas. Lembremos especialmente que a aceitação da 
irredutibilidade da lembrança conduz a uma concepção realista da memória e do 
inconsciente. É precisamente esse realismo que alguns filósofos criticam na 
Psicanálise. Queremos simplesmente relembrar o fundamento filosófico das 
asserções repetidas por Freud sobre a insuficiência da interpretação e a 
necessidade do desrecalcamento. “O que nós sabemos do inconsciente” – 
escreve o psiquiatra vienense – absolutamente não coincide com o que dele 
sabe o doente; quando lhe comunicamos o que sabemos, ele não substitui seu 
inconsciente pelo conhecimento assim adquirido, mas coloca-o ao lado do que 
permanece mais ou menos inalterado (Roland Dalbiez). 
A primeira condição de exploração do inconsciente é, pois, a realização do 
desrecalcamento ou, se preferirmos, da libertação funcional. As funções psíquicas 
superiores controlam normalmente as funções inferiores. Trata-se de fazer cessar 
momentaneamente esse controle, de modo a obter a emersão no campo da 
consciência do psiquismo inferior. 
O vocabulário de Pavlov permite definir essa operação com uma precisão 
perfeita. A provocação artificial da inibição interna do psiquismo superior acarreta 
necessariamente a desinibição externa do psiquismo inferior. 
Para obter a inibição interna do psiquismo superior podem empregar-se três 
processos: 
a) Agentes farmacodinâmicos (somente médicos habilitados na forma da 
lei poderão utilizá-los); 
b) A hipnose; 
c) Suspensão temporária da inibição interna do psiquismo superior que 
consiste em suspender voluntariamente o exercício da autocrítica e da 
autocondução. 
O primeiro processo realiza-se através de agentes farmacodinâmicos e 
somente o médico poderá aplicá-lo. Um psicanalista, sem a devida formação médica, 
não poderá fazê-lo. 
O segundo processo, a hipnose, permite desencadear a inibição interna 
através das funções psíquicas superiores. É provocada pela repetição monótona de 
excitações fracas. A doutrina de Pavlov nos é de grande ajuda para compreender os 
fatos. Mesmo que a inibição interna seja desencadeada por um tóxico ou por uma 
estimulação repetida ótica, acústica ou táctil, o fenômeno fundamentalmente 
permanece o mesmo e varia só o agente externo que o suscita. 
Cabe a Pierre Janet o mérito imperecível de ter sido o primeiro a mostrar ao 
mundo científico o valor da hipnose para a exploração do psiquismo inconsciente. Esta 
parte da obra do grande psicólogo francês parecia comprometida em conseqüência da 
crítica de Babinski e das negações radicais de Dupré. 
Durante alguns anos a hipnose foi considerada – na França pelo menos – 
como fenômeno inautêntico. Pierre Janet escrevia: 
Há vinte anos, expunha-me ao desprezo ao dizer que a sugestão hipnótica não 
era tudo e hoje vou tornar-me risível dizendo que ela é alguma coisa. Pouco 
importa. Esta posição modesta parece-me mais interessante, para chegar à 
descoberta de algumas verdades e, se meu estudo não é lido hoje, o será um 
dia, quando a moda tiver mudado e trouxer os tratamentos pela sugestão 
hipnótica, como trouxe à popularidade os chapéus de nossas mães. 
A predição de Janet começa a realizar-se. Psiquiatras como D. Hollander, na 
Bélgica, e Nathan, na França, admitem, em certos casos, o recurso à hipnose. Eis 
uma antiga observação de Janet que mostra bem qual é o papel que pode exercer o 
hipnotismo na exploração do inconsciente. 
Entre outros sintomas histéricos, Maria apresentava uma cegueira absoluta e 
contínua do olho esquerdo. No estado de vigília, pretendia que isto era assim 
desde o nascimento. Janet a hipnotizou e soube que na idade de seis anos 
Maria havia sido forçada, apesar de seus gritos e protestos, a deitar com uma 
criança de sua idade que tinha um eczema em todo o lado da face esquerda. 
(Janet, A. P., p. 439-440) 
O terceiro processo para realizar a inibição interna do psiquismo superior 
consiste em suspender voluntariamente o exercício da autocrítica e da auto-condução. 
É característico da Psicanálise. Vê-se imediatamente em que a técnica de Freud difere 
das técnicas farmacodinâmicas e hipnóticas, sendo, no entanto, estreitamente 
aparentada com elas. 
A inibição do psiquismo superior realizada voluntariamente é, em geral, mais 
fraca que a exploração psicanalítica que se realiza no estado de vigília. Esta asserção 
é inexata. O estado mental do paciente analisado varia de uma a outra sessão e 
mesmo no curso de uma mesma sessão ele oscila do nível do pensamento lógico a 
um nível muito vizinho do da hipnose ou do sonho. Kretschmer descreveu muito bem o 
estado de inibição psíquica realizado pela suspensão voluntária da autocrítica e da 
auto-condução. 
Tanto mais complexo é o relaxamento psíquico, quanto mais a associação livre, 
no estado de repouso passivo, se aproxima do modo de pensar, que caracteriza 
o sonho e a hipnose. A ligação mercê de proposições começa a desagregar-se, 
a expressão verbal das idéias cede visivelmente às imagens reais, à 
contemplação direta e intuitiva das cenas e figuras vivas que surgem 
interiormente. Ao mesmo tempo em que não percebe o caráter absolutamente 
passivo de suas experiências internas, o paciente perde noção do tempo: sente 
como atuais lembranças relacionadas com o passado e desejos relativos ao 
futuro. Pode-se dizer, uma vez esse grau alcançado, que o paciente se encontra 
no limite extremo do pensamento desperto. À medida que o desafogo, que o 
relaxamento psíquico se acentua, a consciência se torna mais perturbada e mais 
crepuscular; o paciente, que já perdeu a noção do tempo, perde também a 
noção de espaço; deixa-se insinuar entre grupos de imagens cenicamente 
ordenadas, de elementos fantásticos cada vez mais numerosos” (Kretschmer, 
M.P.M., pp. 202-203). 
Reproduzir essa descrição tão viva é importante pois muitos autores 
desconhecem completamente o papel capital da inibição interna voluntária do 
psiquismo superior, no curso da exploração analítica. Von Monakow Mourgue e 
Mourgue dizem, por exemplo, que Freud se apóia sobre “conversas com uma certa 
categoria de doentes”. 
Algumas páginas adiante, tornam a dizer ainda que as emoções 
desencadeadas pelos símbolos de acontecimentos penosos passados podem ser 
postos em evidencia “como Freud mostrou no curso da conversa”. A expressão 
“conversa” para designar a exploração analítica é muito mal selecionada, tende a 
transviar completamente todos os que na sua experiência pessoal não permitem 
verificar a diferença manifesta que separa o pensamento da vigília do que resulta da 
suspensão voluntária da autocrítica e da auto-condução A aproximação entre a 
inibição psicanalítica permite ter-se uma idéia exata da natureza desta última. 
A emersão do psiquismo inconsciente é ainda favorecida de uma outra maneira 
no curso da análise

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