Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Psicanálise Sigmund Freud (pai da Psicanálise) a Fundação da Psicanálise está intrinsecamente ligada à buscar pela origem da histeria, ou seja: pessoas acometidas por problemas nos nervos, que a medicina convencional não conseguia resolver. Inicialmente, acreditava-se que poderia encontrar uma parte no cérebro responsável pelos sintomas histéricos. A fisiologia se empenhou durante décadas para encontrar o que mais tarde seria nomeado por Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, de inconsciente. Entretanto, antes de chegar a Freud, precisamos entender Jean-Martin Charcot, o Hospital de Salpêtrière, o método indutivo e o longo caminho percorrido pela Psicanálise, até sua formação como conhecemos, atualmente. Charcot, La Salpêtrière e a Hipnose La Salpêtrière foi um hospital projetado em Paris, França, para alojar marginais, pobres, pessoas em situação de rua e qualquer um que pudesse atrapalhar a ordem da alta sociedade parisiense. Entretanto, pouco a pouco foi se tornando também o lar de qualquer um que padecesse de alguma doença mental, sendo aproximadamente três mil acometidos por esses transtornos e cinco mil o número total de internos. Construído no século XVII, atualmente é centro hospitalar universitário, que engloba a maioria das especialidades médicas. Histeria Inicialmente, acreditava-se que a histeria era uma condição exclusiva de mulheres, pois o termo hystérie, em francês, advém do grego ὑστέρα, útero. Entretanto, ao descobrir-se que a histeria vinha do cérebro e não do útero feminino, uma nova gama de contribuições médicas pôde ser dada ao tratamento dessa tão controversa doença dos nervos. Para os conceitos da época, o termo englobava uma série de doenças e transtornos, tais como: epilepsia, paralisia de membros, fobias, distúrbios de linguagem, amnésia e afins. Basicamente, tudo que fugisse à saúde normal do ser humano e que não tivesse explicação médica/fisiológica acabava entrando no espectro da histeria. Principalmente, se a pessoa fosse uma mulher, claro. Isso causava uma grande indagação sobre qual a etiologia de tais doenças, pois não se encontravam em lugar corpóreo nenhum. O termo tornou-se até pejorativo, pois passaram a acreditar que tudo não passava de atuação para àquelas pessoas receberem atenção. Após estudar inúmeros casos de histeria, Charcot concluiu que a histeria era proveniente de um trauma. Não necessariamente lembrado em detalhes pela pessoa, pois poderia ter passado por um extenso período de latência, às vezes, remontando à infância. O médico passou a usar o recurso da hipnose, para tentar fazer com que, nesse estado indutivo, a pessoa lembrasse o que a teria afligido a ponto de ocasionar um sintoma em seu corpo. Jean-Martin Charcot foi olhar humanamente para seus pacientes, em vez de só observar fisiologicamente e ignorar o sofrimento de todos aqueles internados de Salpêtrière. Sua técnica foi muito desacreditada por seus colegas de trabalho, pois para muitos aquilo não passava de encenação. Sigmund Freud, médico formado na Universidade de Viena em 1881, especializou-se em Psiquiatria e conseguiu uma bolsa de estudos em Paris, onde trabalhou e aprendeu com Charcot. A temperada em Paris foi fundamental para consolidar sua carreira no tratamento dos transtornos mentais. Em 1886, ao retornar a Viena, começou a clinicar em sua cidade natal e seu principal método até então era a sugestão hipnótica. Grande parte do advento da Psicanálise é devida à trajetória pessoal de Freud. Sua história de vida está indubitavelmente mesclada com os conceitos psicanalíticos. Se não fossem suas experiências, muito provavelmente sua reflexão teórica não seria tão precisa. E era necessário um olhar aguçado e crítico para enxergar as comprovações de suas teses até mesmo nas expressões humanas mais sutis. Josef Breuer Em Viena, Freud fez a parceria que mudaria para sempre a história dos transtornos mentais e, sobretudo, da histeria. Josef Breuer, médico e cientista, aliou-se a Freud e suas investigações, ainda sobre a etiologia da histeria. No tratamento da paciente Anna O., que era atendida por Breuer, ambos descobriram que os sintomas histéricos de sua doença tratavam de questões mal resolvidas e de repressões sofridas ao longo de sua vida. Jean-Martin Charcot (1825-1893) Foi um médico psiquiatra e neurologista francês, que realizou grandes pesquisas e pode ser considerado o fundador da moderna neurologia. Mais conhecido como Charcot (ou Dr. Charcot), esse médico realizou diversas investigações sobre a histeria e sobre o tratamento dos sintomas por meio do método hipnótico. javascript:void(0) O caso de Anna O. Em tal caso, especificamente, a paciente possuía um conjunto de sintomas: • Paralisia com contrações musculares • Inibições • Dificuldade de pensamento Entretanto, em seu estado de vigília, a paciente não conseguia se lembrar da origem desses sintomas. Já no estado hipnótico, porém, ela relatava a origem deles e o conteúdo reprimido era expressado; tudo começara com a doença e morte de seu pai. Durante o período da enfermidade dele, no qual ela era responsável por todos os cuidados, às vezes, pensamentos para que ele morresse vinham em sua mente, pois os cuidados eram um fardo difícil de sustentar. Esses pensamentos foram reprimidos e transformados em sintoma. Entretanto, em seu estado de vigília, a paciente não conseguia se lembrar da origem desses sintomas. Já no estado hipnótico, porém, ela relatava a origem deles e o conteúdo reprimido era expressado; tudo começara com a doença e morte de seu pai. Durante o período da enfermidade dele, no qual ela era responsável por todos os cuidados, às vezes, pensamentos para que ele morresse vinham em sua mente, pois os cuidados eram um fardo difícil de sustentar. Esses pensamentos foram reprimidos e transformados em sintoma. O caso Emmy Von N. e a associação livre O caso Emmy é um interessante episódio na história da Psicanálise. A paciente se recusava a comer e beber nem que fosse água mineral, evocando dores gástricas. Sendo forçada a se alimentar, ela acabava rejeitando a hipnose. Sendo forçada a se alimentar, ela acabava rejeitando a hipnose. Tendo desistindo de hipnotiza-la, Freud anunciou que daria 24 horas para que ela se convencesse de que suas dores decorriam apenas dos seus temores. Emmy diz sim à interpretação freudiana, confirmando o seu valor de verdade (no sentido quase lógico), mas no seu assentimento é como se ela se colocasse à margem de si mesma. Em um segundo momento (ASSOUN, 1993), tendo Freud perguntado de quando datavam os sintomas gástricos, Emmy respondeu que não sabia. Freud tentou novamente a estratégia da intimidação e deu até o dia seguinte para ela responder. Foi nesse momento que Emmy, em um tom ríspido, respondeu que ele não deveria ficar perguntando de onde provinha isso ou aquilo, mas sim que a deixasse falar ou contar o que tinha a dizer. Essa réplica de Emmy permitiu que Freud elaborasse a regra de ouro da psicanálise, ou seja: a associação livre. O analista, consequentemente, deve servir de quadro em branco para que o analisando possa pintar o setting como bem entender, falando sobre o que lhe vem à mente e sem o risco das repressões que ocorrem na vida em sociedade. As fases do desenvolvimento e a evolução da libido Outra concepção importante posta à tona por Freud foi a descrição dos estágios da evolução da libido. A formação clássica das fases do desenvolvimento psicossexual (oral, anal, fálica, latência e genital) causou revolta na comunidade científica, que se mostrou inflexível e incapaz de associar que as pulsões humanas existem desde a mais tenra infância.Freud usava uma analogia do mito de Édipo-Rei, para explicar a relação forçada de renúncia da criança ao seu objeto de desejo, os pais. Com essa ocorrência, a criança passa a deixar tal lado pulsional em segundo plano e a pertencer aos parâmetros da ordem social. A publicação, em 1913, de Totem e Tabu mostrou que o conceito de horror ao incesto influencia o inconsciente do indivíduo por toda sua vida. Podemos considerar, assim, a adequação ao parâmetro social como um forte exemplo de repressão que acaba por marcar o psíquico do indivíduo até mesmo décadas depois, quando este já é adulto. A Antropologia também trata de seus estudos em relação à moral sexual, o tabu e o desejo pelo amor dos progenitores. Freud analisa diversas sociedades e como a lei moral do horror ao incesto está presente em todas as civilizações, mesmo que a barreira nem sempre inclua o triângulo sujeito-mãe-pai, podendo ser transferida para sujeito-primo e afins. Em sequência, Freud diz que até mesmo algumas sociedades mais instintivas, que nunca conheceram os valores morais do Ocidente, fazem jus à sua teoria – como alguns povos da Oceania e da África, por exemplo. Podemos concluir que a entrada do indivíduo em uma cultura pressupõe renúncias impactantes; porém, é o que permite a vida em sociedade e a própria existência de uma sociedade humana. Estádio Idade Zona Erógena Conflito Oral 0 -18 meses Boca Desmame Anal 18 meses – 3 anos Ânus Controle da defecção Fálico 3 anos – 6 anos Órgãos genitais Complexo de Édipo Letência 6 anos – 11anos Centra-se no mundo físico e social e não no corpo A interação com o mundo que o cerca e aprendizado com as frustações Genital Após a puberdade Órgãos genitais Preocupação com o bem-estar sexual As duas Tópicas Freudianas Tópica é um termo derivado do grego topos (lugar). Freud utilizou o termo para definir o aparelho psíquico em duas etapas essenciais de sua elaboração teórica. Confira abaixo: Primeira Tópica Na primeira concepção tópica, chamada de primeira tópica freudiana (1900- 1920), Freud distingui o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Inconsciente Para Freud, o inconsciente é constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso aos sistemas pré-consciente e consciente. É indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos conteúdos só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências. O que Freud percebeu (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983) é que a vida psíquica estava cheia de pensamentos eficientes, embora inconscientes, e que era destes que emanavam os sintomas. Pré-Consciente Em A Interpretação dos Sonhos (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983), Freud nomeia de pré-consciente o sistema que está entre o inconsciente e a consciência, separado pela censura que procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o pré-consciente. Há uma segunda censura que deforma menos do que seleciona os conteúdos que chegam à consciência. A função do pré-consciente é evitar que preocupações perturbadoras cheguem à consciência. Consciente Para Freud, a consciência é um dado da experiência individual que se oferece à intuição imediata. A consciência fornece para a psicanálise não mais do que uma versão lacunar dos nossos processos psíquicos, pois são na maioria inconscientes. Segunda Tópica Já na segunda tópica (1920-1939), Freud fez intervir três instâncias ou três lugares: id (isso), ego (eu) e superego (supereu). ID (Isso) A expressão Es (id) Freud foi buscar em Nietzsche e Groddeck, e passou a ocupar um lugar equivalente ao sistema inconsciente na primeira tópica. A principal diferença é que na segunda tópica, o ego e suas operações defensivas são inconscientes, sendo o id o que abrange os conteúdos precedentes abrangidos pelo inconsciente, mas não o conjunto do psiquismo inconsciente. Superego (Supereu) O termo Über-Ich (superego) põe em evidência uma instância que se separou do ego e parece dominá-lo. É uma parte do ego que se opõe a ele e o julga de maneira crítica. Essa noção (LAPLANCHE; PONTALIS, 1983) aparece na segunda tópica como uma instância que encarna uma lei e proíbe a sua transgressão. Ego (Eu) O ego representa o polo defensivo da personalidade no conflito neurótico; ele expõe mecanismos de defesa motivados pela percepção de afetos desagradáveis (sinais de angústia). Do ponto de vista da economia da libido, o ego surge como um fator de ligação dos processos psíquicos. Para a teoria psicanalítica, o ego aparece de duas maneiras diferentes: como aparelho que surge do contato do id com a realidade externa e como produto de identificações na formação, no âmago da pessoa, como objeto de amor investido pelo id. É o que percebemos no quadro a seguir: Id Ego Superego Pulsional Formado a partir do Id Herdeiro do complexo de Édipo Regido pelo principio do prazer Regido pelo princípio da realidade Regido pelo princípio do dever Amaral Moral, pragmático Hipermoral javascript:void(0) Em 1907, Jung visitou Sigmund Freud em Viena e a aliança entre os dois começou incluindo uma viagem aos Estados Unidos em 1909 para levar a Psicanálise às Américas e para fundar a Associação Psicanalítica Internacional, da qual Jung foi presidente. Entretanto, após diversos anos de parceria, a colaboração de ambos começou a romper por divergências extremas quanto ao caráter da libido: Freud ligava a libido à sexualidade humana Jung enxergava na libido a energia corpóreo como um todo A ruptura definitiva entre os dois ocorreu em 1912, quando Jung publicou seus livros Psicologia do Inconsciente e Transformações e Símbolos da Libido. Com essa dissidência, Jung criou sua própria abordagem: a Psicologia Analítica. Vamos conhecer alguns dos principais conceitos dessa teoria. Para Jung, uma concepção plena da personalidade humana fornece respostas para três séries de questões: Questões estrutural: Quais os constituintes que compõem a estrutura da personalidade e de que modos esses componentes interagem uns com os outros? Questões dinâmica: Quais as fontes de energia que ativam a personalidade e de que modo essa energia se distribui pelos diversos componentes? Questões desenvolvimentista: Como se origina a personalidade e que mudança nela ocorrem ao longo da existência do indivíduo? Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra e terapeuta suíço, inicialmente conhecido como o mais promissor discípulo de Freud e a quem o Pai da Psicanálise desejava deixar seu legado em mãos. Personalidade e sua estrutura na Psicologia Analítica A psique De acordo com Jung, a Psicologia não é Biologia nem Fisiologia, mas um conhecimento da psique. A psique é a personalidade como um todo; e, como um todo, é composta de sistemas e níveis interatuantes. São eles: a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Veja abaixo cada um deles: A consciência aparece cedo na vida e cresce diariamente por força da aplicação das quatro funções mentais: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Fora essas quatro funções, existem as atitudes que orientam a mente consciente em relação ao mundo externo ou interno: atitude extrovertida e atitude introvertida. Existe também o processo por meio do qual o indivíduo busca conhecer tão completamente quanto possível a si mesmo. Jung denomina esse processo de individuação. Quando falamos em individualização, é importante destacar o ego. Veja abaixo: É denominado de ego a organização da mente consciente composta de percepções conscientes, recordações, pensamentos e sentimentos. O ego é seletivo e filtra as experiências que temos: a maioria não setorna consciente. O ego fornece identidade de continuidade em vista de seleção e de eliminação do material psíquico. Nesse sentido, a individuação e o ego estão intimamente interligados. Fora isso, pelo caráter seletivo do ego, lembranças e percepções que provoquem angústia estão sujeitas a não se tornar conscientes. Inconsciente pessoal Nada do que foi experimentado desaparece da psique; fica armazenado no que Jung denominou de inconsciente pessoal. Um nível da psique contíguo ao ego. Nesse receptáculo, ficam todas as atividades ou conteúdos que não se harmonizam com a individuação ou função consciente. Os conteúdos do inconsciente pessoal têm fácil acesso à consciência, quando surge tal necessidade. Sobre inconsciente pessoal, é importante entender sobre complexos. Confira: Jung denominou de complexos a reunião dos conteúdos para formar um aglomerado ou constelação. Ele chegou à primeira comprovação da existência dos complexos com o teste de associação das palavras. Eles formam quase uma personalidade separadana personalidade total; são autônomos e possuem uma força propulsora própria. Certos complexos podem ser compreendidos em um jargão atual como manias. A maioria dos complexos tem a ver de modo acentuado com a condição neurótica do paciente. Influenciado por Freud, Jung considerava que os complexos têm origem nas experiências traumáticas da primeira infância. Inconsciente coletivo O conceito de inconsciente coletivo foi a parte da pesquisa de Jung que mais o projetou no mundo científico. Desde 1860, a Psicologia científica havia surgido como disciplina independente da Filosofia e da Fisiologia e os estudos sobre o inconsciente, em Psicologia, já haviam sido iniciados por Freud na década de 1890. A consciência e o inconsciente eram tidos como originados da experiência. Por outro lado, Jung, rompendo com os determinismos relativos à mente demostrou que a evolução e a hereditariedade dão linhas de ação para a psique. Nesse sentido, a descoberta do inconsciente coletivo foi um marco decisivo para a história da Psicologia. Para Jung, a psique deve ser pensada dentro do processo evolutivo: a mente do homem é prefigurada pela evolução da espécie. Por isso, nos últimos 40 anos, Jung se dedicou ao estudo dos arquétipos, escrevendo sobre eles. Veja: Arquétipos Existem tantos arquétipos quanto situações típicas na vida. Uma repetição infinita gravou essas experiências em nossa constituição psíquica, não sob a forma de imagens saturadas de conteúdos, mas somente como formas sem conteúdo. Alguns arquétipos têm enorme importância na formação de nossa personalidade e de nosso comportamento, são eles: persona, sombra anima e animus, e o self. Os arquétipos são universais; todos herdamos as imagens arquetípicas básicas. Persona Refere-se ao que é esperado socialmente do indivíduo e como este deseja ser visto pelo outro. É a máscara social utilizada em público para impor uma imagem agradável de nós mesmos. Ainda que o sujeito diga que não possui nenhuma máscara ou persona, somos obrigados a adotá-las nas diferentes esferas da vida, seja na vida profissional ou até mesmo familiar, representando diferentes papéis. O resultado de uma persona inflada é a sobreposição de uma vida pautada no parecer em vez de ser. Sombra É o arquétipo que se desenvolve em oposição à persona, nós o escondemos em relação aos outros, mas também a nós mesmo. É também tudo que se encontra no inconsciente, manifestando-se, muitas vezes, de forma instintiva e emocional, no qual atribuímos ao outro nossos defeitos como mecanismo de defesa para, assim, não encarar as falhas que residem em nossa sombra. Anima/Animus Para Jung, temos uma minoria de características do sexo oposto que habita nosso psiquismo, mesmo que seja na forma de um ideal ao qual desejamos. Ou seja: em toda mulher há a imagem de um homem ideal e em todo homem há a imagem de uma mulher ideal. Tais arquétipos vão se reproduzindo ao longo da vida em diferentes objetos e mutas vezes podem ser fonte de decepção, tendo em vista que são meras projeções e não necessariamente a realidade concreta. Self É o principal arquétipo descrito pelo teórico; é o símbolo da ordem. Segundo Jung, o self é a soma de tudo que somos agora, de tudo que já fomos e de tudo que poderemos ser. É o ponto de nossa personalidade da direção da autorrealização e da totalidade. Ao sermos honestos conosco e ao propor a mudar nossas realidades, o ego pode encontra a força interior necessária para se unir ao self e consequentemente atingir a consciência plena de tudo aquilo que estava nas sombras. Dinâmica da personalidade Na abordagem analítica, a personalidade (tratado por Jung como psique) é como um sistema unitário em si mesmo, relativamente fechado, com uma energia mais ou menos autocomandada, distinta de qualquer outro sistema de energia. Consiste em vários sistemas isolados, mas que atuam uns sobre os outros de forma dinâmica. Enquanto afetado por energias externas e internas, o sistema psíquico se mantém em estado de mudança contínua e nunca pode atingir um estado perfeito de equilíbrio; apenas lhe é dado uma estabilidade relativa. Quanto aos estímulos recebidos, o que importa são os resultados que podem provocar. Energia psíquica A energia graças a qual se efetiva o trabalho da personalidade é chamada de energia psíquica. Jung também a denominou de libido, mas não reduz a libido à energia sexual. São as experiências consumidas pelo indivíduo que se transformam em energia psíquica. A psique abrange todos os pensamentos, sentimento e comportamentos, tanto os conscientes como os inconscientes, o que possibilita a adaptação do sujeito ao ambiente social e físico. Jung considerava impossível estabelecer uma equivalência precisa entre energia física e energia psíquica, mas acreditava em uma espécie de ação recíproca entre esses dois sistemas. “A expressão energia psíquica vem sendo usada já desde muito tempo. A diferenciação entre energia e força é conceitualmente necessária, pois a energia é, propriamente falando, um conceito que não existe objetivamente no fenômeno como tal, mas se acha presente no fundamento da experiência específica. Em outras palavras: na experiência, a energia é sempre específica, manifestada no momento como movimento e força; virtualmente é situação, é condição. Quando em ato, a energia psíquica se manifesta nos fenômenos dinâmicos da alma, tais como as tendências, os desvios, o querer, os afetos, a atuação, a produção de trabalho etc. (que são justamente forças psíquicas).” Jung Valores psíquicos O valor é uma medida da quantidade de energia consagrada a um elemento psíquico particular, ou seja, são avaliações de quantidade energética (energia psíquica). Como exemplo, podemos citar a beleza e o poder, enquanto elementos psíquicos. Determinada pessoa pode atribuir alto (ou baixo) valor em relação a esses elementos, sendo possível comparar nossos valores psíquicos com os outros. Importante destacar que, como elemento na dinâmica da personalidade, envolve tanto aspectos conscientes quanto inconscientes. A psicodinâmica diz respeito ao estudo da distribuição da energia pelas estruturas da psique e à transferência da energia de uma estrutura para outra. Em termos junguianos, a psicodinâmica vale-se de dois princípios extraídos da Física: o princípio de equivalência e o princípio de entropia. Princípio de equivalência De acordo com o princípio de equivalência, não há perda de energia na psique. Segundo a primeira lei da termodinâmica, ou lei da conservação de energia, Jung afirma que se uma quantidade de energia desaparecer de um determinado elemento psíquico, igual quantidade de energia aparecerá em outro elemento psíquico. Princípio de entropia De acordo com Jung, o princípio deequivalência descreve o intercâmbio de energia no interior de um sistema, mas não explica a direção em que a energia flui. Na Física, a direção para qual a energia flui é explicada pela segunda lei da termodinâmica, ou princípio de entropia. Em termos da psique, a distribuição da energia visa a obtenção de equilíbrio em todas as estruturas. Desenvolvimento da personalidade Tendo como alicerce a sua vasta experiência clínica, Jung apresentou conceitos básicos referentes ao desenvolvimento da personalidade. Vejamos um pouco sobre isso: Individuação No início da vida, o indivíduo começa em um estado de totalidade indiferenciada. O desenvolvimento conduz a uma personalidade diferenciada, unificada e equilibrada, embora essas metas raramente sejam atingidas por completo. De qualquer modo, a meta é sempre atingir maior individuação que se diferencie dos outros e se diferencie dentro de si mesmo, indo de uma estrutura mais simples em direção a uma estrutura cada vez mais complexa. Plenamente individualizado, o ego passa a captar de modo mais tênue e mais profundo o significado dos fenômenos objetivos. Transcendência e integração A integração da personalidade é um dos temas dominantes na Psicologia Junguiana. A integração é a individuação de todos os aspectos da personalidade. Porém, não pode ser pensada sem levarmos em consideração a função transcendente. Esta é dotada da capacidade de unir todas as tendências contrárias da personalidade e de trabalhar para que se atinja a meta da totalidade. Sendo assim, a função transcendente é um instrumento da realização da unidade ou arquétipo do self. Ela é a produção e desdobramento da totalidade potencial original. Karen Horney Karen Horney (1885-1952) foi uma psicanalista prussiana que questionou diversas das perspectivas tradicionais freudianas. Inicialmente, Horney e suas ideias se alinhavam à perspectiva psicanalista ortodoxa; entretanto, a teórica levava em consideração os fatores sociais, que considerava tão importantes quanto as experiências infantis. Segundo Karen, a Psicanálise deveria ir além das fases do desenvolvimento e considerar as influências culturais na formação da personalidade. Em sua teoria, o ser humano não é orientado apenas pelo princípio do prazer, mas também por dois outros princípios: a segurança e a satisfação. Para ela, as neuroses resultam das tentativas de nos encontrar em meio à sociedade. E a soma de todas as primeiras experiências do ser humano faz emergir sua personalidade. No início da vida, portanto, todos temos potenciais, mas precisamos de um ambiente adequado para desenvolvê-los. A base primária do desenvolvimento pode ser saudável ou neurótica, depende da influência cultural e ambiental. “Uma mudança de ênfase teve lugar no conceito psicanalítico de neurose. Originalmente, o interesse centralizava-se no quadro sintomático dramático, atualmente dá-se conta cada vez mais de que a real fonte dessas desordens psíquicas repousa em distúrbios do caráter [...]. Às mentes abertas à importância de implicações culturais, elas apontam para a questão sobre “se” e “em que medida” as neuroses são moldadas por processos culturais, essencialmente da mesma maneira que a formação do caráter “normal” é determinada por essas influências. E, caso isso seja verdadeiro, o quanto tal conceito necessitaria de certas modificações na visão freudiana sobre a relação entre cultura e neurose.” Horney Sendo assim, caso não se tenha tal ambiente de potencialidades, as influências adversas e externas podem admitir neuroses. Duas das mais primitivas dessas influências são a inabilidade e a má vontade dos pais de oferecer amor às crianças, por causa de suas próprias neuroses. Um ambiente com pais autoritários, negligentes, superprotetores e afins, faz com que os filhos desenvolvam um sentimento de hostilidade básica. Entretanto, tal hostilidade não é expressa pela raiva, mas sim pela repressão de seus sentimentos, levando em consideração uma insegurança que se manifesta ao longo da vida. Uma psicanálise feminista Outro aspecto importante de sua carreira, é que por vezes ela é incluída como parte de um movimento neopsicanalítico, que questiona a importância que Freud atribui ao pênis e discorda sobre as diferenças entre o sexo biológico da forma como Sigmund propôs. A partir de uma perspectiva da Psicologia feminista, a autora enfatiza que as diferenças entre homens e mulheres são culturais e não meramente biológicas. Na contramão do enaltecimento fálico, Horney afirma que os homens, com a incapacidade de engravidar e dar à luz, tentam, como forma de compensação, se voltar para avanços em trabalhos externos. Na obra Gender and Envy (Gênero e Inveja), da autora Nancy Burke, Horney fala sobre a obviedade do enaltecimento fálico que ocorre no meio psicanalítico, dizendo que isso se deve à sua criação ter sido feita por um homem. Pois, mesmo que Sigmund Freud fosse um gênio, ele ainda assim continuava sendo homem; e seu trabalho foi perpetuado, na época, majoritariamente por outros homens, detentores da erudição. Alfred Adler Adler, psicanalista austríaco, fez parte do primeiro círculo psicanalítico da história, tendo sido convidado pelo próprio Freud para fazer parte, mesmo sendo 14 anos mais jovem do que o Pai da Psicanálise. Tais reuniões começaram em 1902 e serviram posteriormente para delinear todas as diversas sociedades psicanalíticas que surgiriam ao redor do mundo. No entanto, em 1911, o teórico deixou a Sociedade Psicanalítica Vienense por divergências sobre concepções teóricas; Adler não aceitava a importância do papel do recalque e da libido no funcionamento psíquico. Sua ruptura com Freud não ocorreu de maneira amigável, sobretudo, por Adler acrescentar novas ideias ao meio psicanalítico e criar sua própria teoria, chamada Psicologia Individual. Tal separação foi a primeira cisão importante do movimento psicanalítico; fundou um grupo chamado Sociedade para a Pesquisa Psicanalítica Livre. Sua teoria conciliava a influência do ambiente social com o consciente. Um dos pilares de sua pesquisa era sobre autoestima e como está se desenvolve perante o mundo. Segundo o autor, crianças sempre se sentem inferiores por estarem rodeadas de pessoas mais fortes e que obtêm poder sobre elas. Esse sentimento pode acompanhar o sujeito pelo resto da vida. Como estudo de caso, Adler utilizou a história de Theodore Roosevelt, que era um jovem acanhado e doente até a adolescência e que, depois, passando por intensas transformações, chegou a ser o presidente mais jovem dos Estados Unidos, em 1901. O self criativo e a psicoterapia Adler desenvolve o conceito de poder criativo do self. O teórico austríaco propôs que, apesar da hereditariedade e da experiência, o ser humano faz sua própria personalidade lapidando o material bruto que lhe foi dado biologicamente e ambientalmente, em um processo de criação de si. Por fim, um aspecto revolucionário do método de Adler é que a relação entre terapeuta e paciente passou a ser igualitária, face a face e empática. Esse fator influenciou uma série de teóricos, como por exemplo Karen Horney, Abraham Maslow, Carl Rogers e muitos outros. Para ele, sentir-se inferior é uma experiência humana universal, pois relaciona-se com a infância. Tal criação ocorre dentro e fora do setting terapêutico, onde o terapeuta, deve conduzir o paciente a perceber seu estilo de vida e a orientá-lo e reeduca-lo para uma melhor situação na vida real, sem conflitar dolorosamente qualquer aspecto inconsciente. Gestalt IMAGENS GESTÁLTICAS Você já deve ter se deparado com imagens que desafiam nossapercepção. Neste módulo, vamos compreender as diferentes percepções com as quais a nossa mente é capaz de lidar. Para entender melhor, confira as imagens abaixo. Vaso de Rubin é um dos mais conhecidos exemplos de Gestalt. Nele, pode-se ver tanto uma taça quanto dois rostos de perfil se encarando. Cubo de Necker demonstra as diferentes formas com as quais tais linhas formam um cubo, tanto com proeminência para o lado esquerdo e abaixo quanto para o direito e acima. Elefante da Gestalt nesta ilustração, é possível ver o elefante formando por cabeças humanas. Gestaltismo O conceito de Gestalt surgiu como uma reação Associacionismo. Para compreender melhor, entretanto, é importante que antes saibamos o significado do termo. A famosa frase que define os gestálticos é: O todo é mais que a soma das partes Gestalt é um termo alemão que não tem uma exata tradução em português. O correspondente mais próximo em nossa língua seria forma ou configuração. Essa teoria defende que as experiências devem ser consideradas mais em sua totalidade do que em acontecimentos separados. A Gestalt-Terapia, entretanto, é diferente da Gestalt. Veja: Surgida na sociedade alemã e tendo Fritz Perls como principal teórico, a Gestalt-terapia tem como foco o aqui e agora, sobrepondo-se a abordagens que focavam no passado e destacando a responsabilidade de si mesmo na atual experiência individual. É um modo de psicoterapia que não se concentra na doença, mas em gerar mais saúde mental a partir das potencialidades que todo indivíduo possui. Tem grande diálogo com teorias humanistas, que exploram as potências individuais como o meio de atingir a autorrealização. Além disso, a abordagem foca no conceito de percepção como chave para a compreensão da atual experiência individual. Outro dos principais conceitos dessa abordagem é o de insight, ou seja: o indivíduo obtém uma reestruturação súbita em seu campo perceptual e, a partir disso, pode se compreender melhor e, consequentemente, mudar o que não se encontra em ressonância com o resto de sua vida. É a apreensão verdadeira de uma coisa, livre dos conteúdos que podem deturpar as percepções do ser sobre as coisas em sua volta e sobre si mesmo. A percepção e a boa forma Os gestaltistas estavam preocupados em compreender quais eram os processos psicológicos envolvidos na percepção. Ou, como cada sujeito tem uma forma diferente de perceber a realidade. “Nem o paciente nem o terapeuta estão limitados pelo que o paciente diz e pensa: ambos podem agora levar em consideração o que ele faz. O que ele faz fornece indícios para o que pensa, assim como o que ele pensa fornece indícios para o que faz ou gostaria de fazer. Ele próprio saberá o que significa seus atos, suas fantasias, suas representações, se nos limitarmos a chamar sua atenção. Ele mesmo fornecerá suas próprias interpretações.” Perls Gestalt Terapia Utiliza as artes como recurso terapêutico. Gestalt Utilizado em diversas áreas como as artes visuais. A percepção, portanto, é o ponto da partida e um dos temas centrais dessa teoria. Isso fez com que houvesse um embate com o movimento comportamentalista, pois para a Gestalt existe um processo entre o estímulo e a resposta do indivíduo. Esse processo é a própria percepção, que se mostra única para cada ser humano. javascript:void(0) Outro fator importante do movimento gestáltico é a concepção de pregnância das formas (ou lei da boa forma). Tal aspecto diz que sempre enxergamos a composição visual geral das coisas antes de nos aprofundarmos nos detalhes. O ser humano, em sua busca por autorrealização, está sempre procurando encontrar a boa forma em seu psiquismo e trajetória pessoal; esse é um dos motivos que nos mantém em uma incessante busca por nós mesmos. Usando como analogia um exemplo de obras de arte, quando observamos inicialmente um quadro, não vemos linhas, pontos ou pinceladas isoladas, mas um conjunto completo. E é disso que se trata a experiência gestáltica. Para entender melhor esse método terapêutico ao qual chamamos de Gestalt-Terapia, é necessário conhecer suas origens filosóficas. Discorreremos a seguir sobre todo o contexto que mesclou a Filosofia gestáltica com a Psicologia. As origens filosóficas Tendo uma origem que remete de forma contrária aos estudos de Hume, no século XVIII, o Associacionismo pretendia encontrar “elementos constituintes”. Uma conduta, por exemplo, pode ser considerada como composta por elementos existentes em si mesmos que se associam, formando os conjuntos aditivos que caracterizam a experiência. O confronto com esse modo de pensar teve início com o filósofo Locke, mas em 1890, com Ehrenfels, com um trabalho sobre a qualidade das formas (Gestaltqualitäten), ganhou uma nova configuração. Com esse trabalho, Ehrenfels pretendia mostrar que existem características da experiência que não podem ser explicadas pelas propriedades das sensações consideradas como elementos constituintes. O que Ehrenfels procura mostrar (GARCIA-ROZA, 1974) é que tanto o ponto de vista fisiológico quanto o ponto de vista psicológico não podem ser explicados pela associação dos elementos constituintes. Exemplo: Uma melodia pode ser transposta para outro tom e tocada por outro instrumento e contínua sendo a mesma melodia. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A conclusão a partir de Ehrenfels é que as melodias são formas. Isso serviu de base para os estudos de Wertheimer, Köhler e Koffka. Estava nascendo a Psicologia da forma, ou Gestalt. A questão de Köhler e Koffka, em termos de estrutura, é que existem no mundo físico “todos” cujas propriedades não ocorrem por adição, por soma de suas partes. Para eles, existem diferentes formas de subordinação parte/todo. Entretanto, é importante mencionar que o gestaltismo não pretende de modo algum que toda realidade seja gestáltica. Uma possível resposta (GARCIA-ROZA, 1974) considera a estrutura ou a forma não como parte da realidade empírica, mas como modelo construído em relação a ela. No caso do gestaltismo, a estrutura é uma característica da própria realidade. Uma outra possiblidade de estruturalismo afirma que para o estruturalismo a estrutura é um modelo como um sistema de diferenças que pode ser transposto de fenômeno para fenômeno. Os exemplos da Gestalt como estrutura são retirados da realidade física: Na perspectiva de Köhler, se o mundo físico apresenta características gestálticas, não há por que não as encontrar nos fenômenos fisiológicos. O autor, ao recusar o método introspectivo em Psicologia, mantém um contato com o comportamentismo, mas a sua Gestalttheorie (Teoria da Forma) apresenta aspectos muito específicos. Para ele (BONOMI, 1974), a constituição do objeto parte da modalidade perceptiva “construída”. Em outras palavras, a Psicologia da Gestalt abandona a ideia do dado sensorial elementar, comum ao Associacionismo, e procura dar conta da “estrutura do campo”. A organização do conjunto perceptivo é o dado primário para Köhler. A essa interpendência funcional das sensações, ele nomeará de Togetherness (união) dos estímulos. Nessas configurações globais, o problema central será o sentido (Sinn) inerente à experiência perceptiva. O que caracteriza a Gestalt (BONOMI, 1974) é a “consideração imanente” do campo perceptivo como a determinação de uma estrutura que atua na percepção. Para a Gestalt, o campo sensorial não é um mosaico de estímulos, mas organizado desde o início, originalmente estruturado. O que Köhler considera como imanente são asformações perceptivas, tais como ocorrem na experiência concreta, por isso, não importa a decomposição analítica em “dados”. Mas qual a diferença a Gestalt, enquanto estrutura, e a ideia de estrutura para o pensamento estruturalista? Em um condutor de carga elétrica homogêneo, se exercemos uma modificação em uma das partes haverá uma alteração na totalidade dos pontos de distribuição. Assim é a base da terapia da Gestalt: se modificarmos um ponto específico, podemos, a partir deste, mudar o todo. javascript:void(0) Quanto à constituição do objeto, a Gestalt, por sua irredutibilidade à localização, tratará de conjuntos e subconjuntos a partir da ideia de figura e fundo. Apoiado na fenomenologia e se distanciando dela, Köhler propõe uma homologia entre as organizações do mundo perceptivo e os processos nervosos que o subentendem. Ao pensar os aspectos fisiológicos, Köhler abandona o mecanicismo, e procura pensar a autorregulação dinâmica própria de um “fisicalismo autêntico”. Logo, a proposta da Gestalt obedece a suposição de um paralelismo psicofísico. Para Köhler, o caminho da Psicologia tem como rumo esses aspectos: o abandono do modelo máquina – ou mecânico – e o direcionamento para uma física desapegada de todas as instâncias mecanicistas. Mas existem críticas a Köhler, pelo fato de se referir sempre a articulações extremamente simples do campo perceptivo. Kurt Lewin Lewin (1890-1947), psicólogo e professor alemão, trabalhou durante dez anos com Kohler e Koffka na Universidade de Berlim. Dessa colaboração, o teórico alemão originou sua Teoria de Campo, talvez o método mais importante de seu legado. Nas palavras do próprio Lewin: o campo deve ser representado tal como ele existe para o indivíduo em questão, em determinado momento, e não como ele é em si. Para a constituição desse campo, as amizades, os objetivos conscientes e inconscientes, os sonhos e os medos são tão essenciais como qualquer ambiente físico (GARCIA-ROZA, 1974, p.136). Ou seja, o campo é uma realidade fenomênica, não necessariamente física. Transpondo para a fórmula gestáltica, a realidade fenomênica é a maneira particular como se interpreta determinada situação e, também, componentes emocionais ligados às próprias situações já vividas. O campo psicológico é representado pelas linhas de força, o que atrai a percepção e lhe dá significado. As situações, muitas vezes, tendem a ser interpretadas pelos seus aspectos fenomenológicos e não pelo o que ocorre de fato. As experiências, a todo o momento, podem ganhar novos significados se sobrepostas e fatos anteriores. E o comportamento, para sua real compreensão, deve ser visto em sua totalidade, não por fragmentos incompletos. A Psicologia Humanista A Psicologia humanista tem seus primórdios datados no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Entretanto, desde a década de 1940 já se pensavam novas formas de clinicar. Tal perspectiva filosófico-psicológica surge como uma resposta ao domínio que se tinha na Psicologia entre o Comportamentalismo e a Psicanálise, consideradas teorias rivais e que repercutiam a lógica estadunidense e a europeia, respectivamente. Neste módulo falaremos, além dos aspectos que permeiam essa abordagem, sobre dois de seus principais representantes: Carl Rogers e Abraham Maslow. Carl Rogers Foi em 11 de dezembro de 1940 que Carl Rogers (1902-1987) deu sua famosa conferência e expôs pontos que trilham um caminho para além da lógica psicólogo (senhor do suposto saber) e paciente. Sua proposta terapêutica dava mais ênfase na situação atual do indivíduo e defendia a tendência à autorrealização que toda vida humana tem. A terapia deixava de ser um lugar de tratar doenças e tornava-se um lugar de autocompreensão para os indivíduos perceberem os vastos recursos que possuem dentro de si para modificação de seus comportamentos e atitudes. Para tal mudança, entretanto, era necessário haver um clima facilitador de crescimento para o ser. Sua forma de terapia foi se desenvolvendo cada vez mais ao longo das décadas, até ser nomeada como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Nessa psicoterapia, por exemplo, o indivíduo que frequenta não é chamado de “paciente” (assim como em outras) mas sim de “cliente”, pois, entende-se que ele está passando por um aconselhamento não diretivo para explorar suas potencialidades. Para que a modificação dos autoconceitos ocorra (ROGERS, 1983), deve haver três condições para que se crie um clima facilitador de crescimento pessoal: O primeiro elemento “Pode ser chamado de autenticidade, sinceridade ou congruência. Quanto mais o terapeuta for ele mesmo na relação com o outro e puder remover as barreiras da lógica profissional, mais isso significa que ele está vivendo a essência daquele momento. O terapeuta se faz transparente para o cliente. E, do mesmo modo, o que cliente vive pode se tornar consciente e ser vivido na ralação terapeuta-cliente, e assim comunicado se for de seu desejo. Tudo isso demonstra uma correspondência que se dá em um nível profundo, influenciando a consciência do cliente.” Roges, 1983, p.39). Aceitação incondicional “Isto ocorre quando o terapeuta tem uma atitude ‘positiva e aceitadora’ em relação ao que quer que o cliente seja naquele momento. Quando a postura terapêutica se demonstra dessa forma, a possibilidade de ocorrer uma mudança positiva é maior. Nesse aspecto, é importante que o cliente expresse qualquer sentimento que esteja sentido: ressentimento, raiva, medo, orgulho, amor etc. O terapeuta deve ter uma consideração integral e não condicional pelo cliente” (Rogers, 1983, p.39). Compreensão empática “Para que isto ocorra e necessário que o terapeuta tenha uma escuta sensível e ativa ao que chega até a ele. Quando está em sua melhor forma, o terapeuta pode entrar tão profundamente no mundo interno do paciente que se torna capaz de esclarece não só o significado daquilo que o cliente está consciente como também do que se encontra abaixo do nível de consciência” (Rogers, 1983, p.39). Uma das questões mais interessantes na proposta de Rogers é que ela parece poder ser aplicada a relações humanas cotidianas – e não necessariamente terapêuticas – desde a relação entre as pessoas que convivem muito tempo em um mesmo espaço, como uma família, por exemplo; até estruturas mais tecnicamente elaboradas, como o Ensino Institucional. Abraham Maslow Abraham Maslow (1908-1970), também conhecido como o Pai da Psicologia Humanista foi, sobretudo, um estudioso e observador aficionado pelo comportamento humano. Filho de pais imigrantes judeus, Maslow nasceuno Brooklyn e sofreu discriminação durante diversos momentos de sua vida. Isso o fez, talvez como uma força motriz, tentar entender o ser humano e devotar-se aos livros e às bibliotecas. Inicialmente, estudava Direito, mas posteriormente assumiu sua paixão pela Psicologia, até obter seu Ph.D em 1934 e começar a lecionar em 1937. Mesmo Maslow sendo um pesquisador exímio e docente notável, a pouca afinidade com tais teorias vigentes tendiam a levá-lo a um isolamento profissional e intelectual. Seus artigos, por consequência, não encontravam ressonância para publicação na maior parte das revistas técnicas de Psicologia. Entretanto, foi no final da década de 1950 que Maslow decidiu fundar sua própria revista de Psicologia humanista. Afinal, o que seria o Humanismo? Indo na contramão dos saberes psicanalíticos (que coloca a satisfação das pulsões como aspecto central da teoria) e dos comportamentalistas (que procuram satisfazer as necessidades fisiológicas do ser humano), o Humanismo trata de descobrir os propósitos do indivíduo na busca de sua autorrealização. Em suma, a filosofia humanista se expressa através da fidelidade consigo mesmo, para descobrir quem realmentesomos e para, a partir disso, trabalhar nossa psique. Para melhor compreensão de como seria a autorrealização humana por essa perspectiva, é necessário observar a esquematização criada por Maslow, de uma pirâmide de necessidades humanas, também conhecida como Pirâmide de Maslow ou Hierarquia de necessidades de Maslow: “O homem criativo não é o homem comum ao qual se acrescentou algo; o homem criativo é o homem comum do qual nada se tirou”. Maslow O Existencialismo é um Humanismo Um dos aspectos mais importantes do Humanismo é a aliança dessa teoria à Filosofia Existencialista. Terapeuticamente, fez-se a junção das duas linhas teóricas e criou-se a Terapia Existencial-Humanista. Tal fato pode ser ilustrado pelo célebre livro do autor Jean-Paul Sartre, que, em 1946, publicou a obra O Existencialismo é um Humanismo. Taís teorias se complementam em viés psicoterápico devido à forma como enxergam a ser humano, sempre digno de se autorrealizar por meio de suas possibilidades de liberdade. A clássica frase de Sartre: “O ser humano está condenado a ser livre”, dimensiona os aspectos que tal liberdade (sempre atrelada a uma responsabilidade de si) trazem ao indivíduo, que se depara com a angústia de ser livre perante as possibilidades que o permeiam. javascript:void(0) Para Sartre (FERREIRA, 2010, p.79), o homem é o que se faz por si próprio, ou seja: o homem nada mais é do que seus atos. O homem primeiro existe e se projeta conscientemente no futuro. Consequentemente, outro conceito chave para tal abordagem é que “a existência precede a essência”, portanto, quem molda a essência de nossas vidas somos nós, fato que se atrela ao conceito de caminhar sempre para a autorrealização defendida pelo Humanismo. Somos passíveis de encontrar a nós mesmos e só posteriormente de nos definir, pois somos e sempre seremos aquilo que fizermos de nós mesmos. É necessário ir um pouco mais fundo nessa afirmação de Sartre e perceber seu impacto frente ao pensamento comumente aceito acerca da existência humana. “O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente [que a visão teísta de mundo]. Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito: este ser é o homem, ou, como diz Heidegger, a realidade humana. O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência? Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la. O homem é tão somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo.” (SARTRE, 1970, p. 10) Assim, para o existencial-humanismo, ao afirmar que existência precede a essência, temos uma responsabilidade por nós mesmos e pelo outro, tendo em vista que o outro também se afeta de acordo com o que fazemos de nós. Sartre diz que sua doutrina não é desesperadora ou pessimista, mas pelo contrário; devemos enxergar o destino em nossas próprias mãos como possibilidades e projetos. Além de que, isso nos traz uma exaltação do ser humano tal como no Humanismo, em que somos livres para criar um projeto de ser-no-mundo e nos reinventar todos os dias. Responsabilidade, escolha e angústia No existencial-humanismo, há também três noções fundamentais: as de responsabilidade, escolha e angústia. Esses aspectos se relacionam entre si e são indissociáveis. “ Escolher algo é, ao mesmo tempo, escolher o valor daquilo que foi escolhido. Por isso, a responsabilidade abrange toda a humanidade. Dessa forma, o existencialismo humanista afirma que o homem está condicionado a uma persistente angústia. Fereira Consequentemente, qualquer ato, por menor que seja, é uma renúncia. A responsabilidade mediante as ações humanas – ao fazer jus à lógica sartreana –, independe de um Deus ou de uma força superior. E, a respeito de tais escolhas, temos a inclusão de um valor moral particular de cada um. Por fim, as ações de um ser humano repercutem em todos e não só a ele isoladamente. Como seres sociais, tudo que fazemos é norteado por uma conduta que mescla as escolhas, as angústias e as responsabilidades da humanidade. O ser humano se compromete com o que quer ser e também com o que quer que seja o seu meio.
Compartilhar