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Direito Penal 1 Resumido

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Direito Penal I 
- Direito Penal (países ocidentais) x Direito Criminal (países anglo-saxões). Alguns autores afirmam que o primeiro tem foco punitivo, e o segundo, criminal.
- No Brasil, já tivemos um Código Criminal do Império, em 1830, mas atualmente nossa legislação adota Direito Penal conforme o decreto lei n° 2.848/40.
Conceito de direito penal: ramo do direito público que se ocupa em estudar os valores fundamentais sobre os quais se assentam as bases da convivência e da paz social, os fatos que violam e o conjunto de normas jurídicas destinadas a proteger tais valores, mediante imposição de penas e medidas de segurança. 
Direito Penal comum- Código Penal e diversas leis.
Direito Penal especial- Código Militar, são crimes específicos daquela categoria.
Crime x Contravenção Penal 
Ambos são espécies do gênero de infrações penais, não existindo uma diferença ontológica (substancial) entre eles, apenas axiológica (grau, valor e importância). Ex.: porte de armas de fogo era considerado apenas contravenção, atualmente, é considerado crime, sendo assim tem-se maior grau, valor e importância a isso. 
Algumas diferenças entre eles:
Extraterritorialidade: possibilidade excepcional de a lei brasileira ser aplicada em crimes praticados fora do Brasil (se esses estiverem seguindo os requisitos do art. 7° da CF). Os crimes admitem isso, já as contravenções são aplicadas somente aqui (devido ao art. 2° da Lei de Contravenções Penais) 
Ação Penal: crimes podem ser punidos por ação penal pública (condicionada ou incondicionada) ou privada, já a contravenção somente por ação penal pública (incondicionada), devido ao art. 17 da Lei de Contravenções Penais.
Não se pune a tentativa de contravenção penal, de acordo com o art. 4° de sua lei. Destarte, elas sempre serão julgadas pelos membros estaduais. Já os crimes são julgados por órgãos estaduais ou federais e são punidos por tentativa.
Uma diferença muito importante reside no fato de que os crimes recebem limites de pena privativa de liberdade de até 40 anos, já as contravenções não podem ceder 5 anos. Além disso, reclusão e detenção são aplicados a crimes e, prisão simples às contravenções penais.
Ademais, de acordo com o art. 6° da Lei de Contravenções Penais, o cumprimento da prisão simples não deve ser feito em nível penitenciário e sim, em seção especial de prisão comum.
Direito Penal objetivo x Direito Penal subjetivo
O objetivo é um caso abstrato em que a lei está codificada, positivada, escrita, sendo assim, vale para todos e devem segui-la. Mas a partir do momento que alguém cometeu um crime que estava previsto na legislação, deixa de ser um caso abstrato e passa a ser um caso concreto. E esse último constitui o direito penal subjetivo, isto é, a faculdade da pessoa de agir de determinada maneira, seja seguindo ou não as normas jurídicas. Em caso de desobediência, entra o “poder/dever de punir do Estado” conhecido como “Jus Puniendi”. Sendo assim, a sociedade não deve fazer justiça privada/ com as próprias mãos e sim, é função do Poder Público.
· O direito de punir em abstrato retira seu fundamento no preceito primário da norma (conduta), e o concreto de seu preceito secundário (pena).
Direito Penal Internacional- a aplicação se dá a fatos ocorridos fora do Brasil. Os nativos que cometem crime em outro território (extraterritorialidade) devem voltar para o Brasil e cumprir pena aqui, respeitando o Princípio de Soberania Nacional (um país não pode aplicar a lei de outro em seu território).
Direito Internacional Penal- tratados e convenções, vários países se juntam e firmam um regramento, desde que não fira a Constituição Federal. 
Direito Penal do autor x Direito Penal do fato 
O primeiro evidencia a pessoa que cometeu o crime, não é muito usado em nosso país mas existem casos em que o foro de prerrogativa de função admite essa análise. Ex.: se um prefeito cometer um crime, será julgado pela autoria e não somente pelo fato, devido ao cargo/status que possui. Já o segundo caso é o mais aplicado no Brasil, ou seja, pune a pessoa pelo fato visando proteger o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Dessa forma, o julgamento será feito com imparcialidade e o indivíduo será cominado pela conduta/ fato acontecido. 
· Atenção!!! A Constituição Federal foi criada com base no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, por isso é chamada de “Constituição Cidadã”. Esse princípio prevê o direito para todos e envolve comida, moradia, trabalho e tudo aquilo que é necessário para a sobrevivência digna da pessoa humana. 
· No Direito Penal, isso não é diferente, pois não devemos marginalizar os criminosos, visto que tal atitude gera reincidência e forma um círculo vicioso de retorno ao crime. Atualmente, há uma súmula vinculante prevendo que em casos de superlotação de regimes fechados, o delinquente deverá ser colocado em um regime mais brando, objetivando cumprir o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 
Relação do direito penal com outros ramos do direito: 
a) Constitucional- afinal, a Constituição rege todo o ordenamento jurídico.
b) Estatuto de Roma- crimes contra a humanidade; o Brasil é signatário desse tratado.
c) Direito Processual Penal- é uma fonte formal, enquanto o direito penal é uma fonte material, visto que o processo penal concede aplicação e forma ao penal. Os 2 preceitos (primário e secundário) são colocados em prática com a união desses dois ramos do direito. Portanto, depois da conduta (preceito primário), precisa-se de um processo para determinar a pena (preceito secundário). 
d) Direito Civil- tem-se o ilícito civil e o ilícito penal
e) Direito administrativo- peculato, corrupção ativa e passiva, ...
f) Direito tributário- sonegação fiscal, crimes tributários, ...
· Mas, cuidado, se algum desses ramos do Direito dispor de leis específicas, são elas que vigoram e não o penal, afinal, “entre a generalidade e a especialidade, vigora a especialidade”.
O crime se engloba em conduta e pena! Sendo assim, diz-se que as ações incriminadoras são constituídas por 2 preceitos: o preceito primário (conduta) e o preceito secundário (pena).
A seguir, tem-se 3 institutos principais que dão base ao Direito Penal:
Dogmática Penal: é o estudo de dogmas, ou seja, conjunto de opiniões, doutrinas e teorias. Tal disciplina se ocupa em interpretar a sistematização e desenvolvimento dos dispositivos legais e opiniões científicas. Sendo assim, estuda o crime como NORMA. Conceitua-se como um saber da ciência penal, um método investigativo.
A Dogmática, como ciência sistemática, dá fundamento para uma administração justa e equânime da justiça, já que somente a compreensão da estrutura interior do direito eleva a sua aplicação para além da casualidade a arbitrariedade.
Política Criminal: consiste na sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da criminalidade (penais e não penais) tendo, portanto, penetração no Direito Penal (principalmente no que se refere à elaboração das normas) mas não se restringindo a ele.
São critérios de decisão a respeito dos sistemas para aplicação do Direito Penal. Estuda o crime como VALOR. 
Criminologia: é uma ciência empírica que estuda o crime, a pessoa do criminoso, da vítima e o comportamento da sociedade. Visa o conhecimento do crime como fenômeno, estuda o autor. Estuda o crime como FATO. 
Ela busca apreender a gênese e as principais variáveis da dinâmica do crime e dos mecanismos de prevenção e controle da conduta social desviada. Investiga também os mecanismos de controle policial e da justiça e questiona porque determinadas condutas são definidas como crimes e outras não (processos de criminalização).
Fontes do Direito
1) Quanto ao sujeito: de onde emanam as normas jurídicas. Fonte material (também chamada de substancial ou de produção): aquilo que materializa/cria o direito -> Constituição Federal de 1988- art. 22, I diz que é uma competência privativa da União (Princípio da Reserva Legal). 
2) Quanto ao modo ou meio: como se cristaliza o direito objetivo; forma assumida por ele; o local onde podeser encontrado; como é aplicado-> fonte formal (também chamada de cognição ou conhecimento): a lei é a única fonte de conhecimento do Direito Penal (art. 5° XXXIX CF).
Classificação das fontes formais
- Imediata (primária): lei, Constituição, tratados internacionais.
- Mediata (secundária): costumes, princípios gerais do direito, analogias e jurisprudências. 
Os costumes são um conjunto de práticas reiteradas em determinada sociedade e momento histórico que vão causando uma convicção de obrigatoriedade. No entanto, ele não cria e nem revoga leis, mas é de suma importância na aplicação e interpretação da lei penal. Ex.: o art. 155 do CP descreve o furto “Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel”, em repouso noturno a pena é aumentada, entretanto, não se tem o horário desse tempo de repouso noturno, nesse caso, através dos costumes e hábitos diferenciamos esse período noturno entre um morador da zona rural e da zona urbana. 
Os princípios gerais do direito são normas genéricas que ajudam na aplicação e entendimento do ordenamento jurídico como um todo. Ex.: é vedado o enriquecimento ilícito, ninguém pode causar mal a outrem, princípio da proporcionalidade, entre outros.
Analogia é usada quando há lacuna, falha, brecha na lei, portanto, funciona como auto integração da mesma. Está previsto o seu uso no art.4° da LINDB. Deve-se observar que não existe analogia de norma penal incriminadora – in malam partem. Utiliza-se analogia apenas para beneficiar o acusado – in bonam partem. Mas o que é analogia? É a análise por semelhança. É aplicar a alguma hipótese não prevista em lei, lei relativa ao caso semelhante. Ex: você sabe que o art. 128 do CP prevê as hipóteses legais de abortamento. A hipótese mais clássica é aquela em que a mulher é vítima de estupro e fica grávida. A lei, nesse caso, admite a manobra abortiva. Mas o legislador impôs requisitos, quais sejam: que haja consentimento da gestante e seja realizado por médico. Isto é, se o abortamento não for realizado por médico, o agente que o praticou responderá pelo crime de aborto, ok? Mas imaginemos que Eva tenha ficado grávida em decorrência do estupro. E Eva mora em cidade longínqua que não há médico na região; há, apenas, uma parteira. Eva procura a parteira e essa realiza a manobra abortiva. Ocorre que a parteira responderá pelo crime de aborto, porque o legislador disse que tem de ser praticado apenas por médico. Para que não ocorra injustiça, teremos de fazer o uso da analogia, in bonam partem, para beneficiar a parteira. 
Jurisprudência são julgados que podem ser aplicados em casos semelhantes. Já os julgados reinterantes viram súmulas vinculantes (art. 103 da CF). O que diferencia costumes de jurisprudências é o fato de que o primeiro nasce espontaneamente e depende de cada sociedade e contexto histórico, enquanto o segundo são decisões judiciais, então surge de forma jurídica. 
ATENÇÃO!!! A subsunção é a adequação do fato com a norma, e, então, será aplicado o Direito Penal. Sendo assim, deve haver o encaixe perfeito entre o fato acontecido e a norma positivada, caso tenha dúvida ou interpretação diferente, o réu deverá ser absolvido e partirá para outro ramo do direito. Tal fato acontece porque o Penal é o único direito, com exceção da pensão alimentícia, que priva a liberdade do indivíduo. Diante de tal perspectiva, somente pode ser aplicado em última ratio, última alternativa, última instância. 
Lei Penal
A lei penal que está dentro do Código se divide em duas partes: geral e especial. Além disso, tem-se as leis penais incriminadoras e as não incriminadoras.
1) Características da lei penal: exclusividade; imperatividade; generalidade; impessoalidade.
2) Classificação da lei penal:
2.1) Lei Penal Incriminadora: definem as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça de pena. Ela é formada por 2 preceitos: primário e secundário. O preceito primário é o encarregado de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir ou impor; ao segundo, chamado preceito secundário, cabe a tarefa de individualizar a pena, cominando- a em abstrato. 
2.2) Lei Penal Não Incriminadora: essas possuem as seguintes funções: tornar lícitas determinadas condutas; afastar a culpabilidade do agente, erigindo causas de isenção de pena; esclarecer determinados conceitos; fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal. 
Elas podem ser: 
a) Permissivas: as justificantes, têm por finalidade afastar a ilicitude (antijuricidade) da conduta do agente, como dos arts. 23 ao 25 do CP. Ou podem ser exculpantes, quando se destinam a eliminar a culpabilidade, isentando o agente da pena, arts. 26, caput, e 28, §1°, do CP. 
b) Explicativas: visam esclarecer ou explicitar conceitos, ex.: arts. 327 e 150, §4°, do CP. 
c) Integrativas (ou complementares): fornecem princípios gerais para a aplicação da lei penal, além de serem ‘normas auxiliares’ para integrarem a ‘norma principal’. Ex.: art. 14, II, e art. 29 do CP. 
Norma Penal em Branco (primariamente remetidas)
São aquelas em que há necessidade de complementação para que se possa compreender o âmbito da aplicação de seu preceito primário, visto que, o crime deve estar totalmente expresso e descrito em lei atendendo ao Princípio da Taxatividade. Isso significa que, embora haja uma descrição da conduta proibida, essa descrição requer, obrigatoriamente, um complemento extraído de um outro diploma para que possam, efetivamente, ser entendidos os limites da imposição ou proibição feitos pela lei penal; sem esse documento, torna-se impossível sua aplicação. Elas se dividem em:
a) Homogêneas: quando as leis do CP são completadas por leis do mesmo nível hierárquico. Ex.: art. 237 do CP proíbe a contração de casamento quando a pessoa já conhece os impedimentos que lhe causem a nulidade absoluta. No entanto, essa lei penal não esclarece quais são os impedimentos que causam a nulidade do casamento, para isso recorremos ao art. 1.521 do CC para que a referida norma penal seja complementada. 
Pode ser homogênea homovitelina, quando uma lei penal complementa outra, ou homogênea heterovitelina, quando uma lei penal é complementada por uma lei de outro código. 
b) Heterogêneas: quando a lei penal é complementada por normas de outro nível hierárquico, como resolução, portaria, etc. Por ex.: o art. 28 do CP prevê que a pessoa portadora de drogas sem autorização legal será cominada, mas tal norma não explicita quais são essas drogas. Nós sabemos que cigarro e álcool também causam dependência, porém será que se uma pessoa for encontrada bebendo ou fumando sofrerá as sanções do art. 28? A resposta é não, e só saberemos quais são as drogas enquadradas em tal artigo se recorrermos até a portaria expedida pela ANVISA, autarquia vinculada ao Ministério da Saúde. Portanto, como são normas emitidas por órgãos diferentes e, estão em níveis diferentes, diz-se que são heterogêneas. 
· Obs.: alguns doutrinadores defendem que as normas penais em branco heterogêneas ofendem o princípio da legalidade, pois para que a norma penal possa ser aplicada fica sendo submetida a uma de nível inferior, ou seja, essas últimas não passam por todo o processo daquelas elaboradas pelo Congresso Nacional, de aprovação popular, etc. Além disso, desrespeitam o art. 22, I, da CF, o qual prevê competência privativa da União legislar sobre essa esfera. De forma diametralmente oposta, outros doutrinadores afirmam que ela não ofende tal princípio, visto que além de os complementos virem de órgãos especializados em cada assunto, seria impossível na sociedade atual complexa, manter o grau de exigência legal vigente nos séculos passados, visto que são muitas normas a serem comtempladas por um só órgão competente. 
Interpretação da Lei Penal: interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da norma; é procurar descobrir aquilo que ela tem a nos dizer com a maior precisão possível. Ela pode ser distinta quanto ao órgão (sujeito) de que emana, quanto aos meios (modo) que são utilizados para alcançá-la e quanto aos resultadosobtidos. 
1) Quanto ao sujeito: 
a) Autêntica: quando o próprio texto legal traz seu entendimento, ou seja, para acabar com quaisquer dúvidas, a lei resolve, ela mesma, no seu corpo, fazer a sua interpretação. Pode ser contextual (analisando o contexto do crime, ex: excludentes de ilicitude- matar é crime previsto no art. 121 do CP, no entanto, alguém que matou outrem por legítima defesa não é acusado, sendo assim, faz-se necessária essa outra interpretação (feita por uma lei penal não incriminadora permissiva justificante). Outro exemplo é a lei penal não incriminadora explicativa do art. 327, a qual explica o que vem a ser considerado funcionário público para interpretar os crimes contra essa categoria. Pode ser também posterior, isto é, uma lei posterior é feita para explicar a aplicação de uma lei base/anterior. 
b) Doutrinária: é aquela realizada pelos estudiosos do Direito, se nas duas anteriores (contextual e posterior) o indivíduo entendia a lei por si próprio, baseando-se só no diploma legal, na interpretação doutrinária, o leitor interpreta de acordo com a opinião e entendimento do autor. No entanto, isso não é de obediência obrigatória. 
c) Jurisprudencial: é a realizada pelos aplicadores do Direito (juízes de 1° grau e magistrados que compõem o tribunal), visto que eles tornam a lei viva, aplicando-a na solução dos casos concretos que lhes são apresentados. Porém, somente a interpretação de uma lei, feita nos autos de um processo, é considerada jurisprudencial (intra-autos), caso contrário, mesmo que ministros do STF ou STJ tenham interpretado em palestras ou congressos será considerada doutrinária (extra-autos). 
Nesse caso, também podem ser incluídas as súmulas, as quais traduzem decisões reiteradas de um tribunal sobre determinado assunto; essas não tiram a liberdade do juiz, serve somente para norteá-lo. Somente o STF, pode elaborar as súmulas vinculantes, tendo caráter obrigatório em todos os estados do país. 
2) Quanto ao modo:
a) Literal (gramatical): entender o sentido técnico/jurídico das palavras empregadas na lei. Ex.: o significado de queixa e denúncia é diferente entre os âmbitos popular e jurídico.
b) Teleológica: o intérprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina a regular. Ex.: entender a finalidade da lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a qual previne tipos penais incriminadores mas com o objetivo de proteger esse grupo. Observando também o art. 59 do CP, tem-se que as penas devem ser necessárias e suficientes para a reprovação do crime. 
c) Histórica: busca entender os motivos da criação de tal lei, o momento que a sociedade atravessava e quais eram suas necessidades. Ex.: lei antidrogas e lei da violência contra a mulher.
d) Sistemática: analisa-se o dispositivo legal dentro de um sistema e não, de forma isolada, até mesmo porque a lei penal relaciona-se com outras leis. Portanto, o Código Penal relaciona-se com o Código de Processo Penal e assim por diante. 
e) Progressiva: também chamada de evolutiva, busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência. Ex.: muitos entendem que a Lei Maria da Penha deve amparar os transexuais (homem que passou pelo procedimento clínico de mudança de sexo); inclusão do roubo qualificado com explosão de caixa eletrônico, até então não existia mas com o progresso do tempo, teve de ser incluso; inclusão do feminicídio dentro do crime de homicídio (há um agravante, um acréscimo de inciso, de forma progressiva, no decorrer do tempo).
f) Lógica-razão: busca entender a vontade da lei, é uma das mais confiáveis e técnicas, é analisada toda a conjunção por trás da edição de tal dispositivo.
3) Quanto ao resultado: 
a) Declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance, mas apenas declara a vontade da lei. Ex.: no art. 141 do CP, diz que a pena aplicada para calúnia, difamação e injúria será aumentada de um terço, se o crime for praticado na presença de várias pessoas. Interpreta-se ‘várias pessoas’, pelo menos, três, sendo assim não aumenta e nem diminui a quantidade, apenas o conteúdo real. 
b) Restritiva: quer dizer que a norma diz mais (tem sentido muito amplo) e o intérprete deve restringir seu resultado. Ex.: o art. 28 quando prevê seu crime enquadra como criminosos os embriagados tanto por bebida alcoólica quanto por substâncias análogas. Nesse último caso, deve-se restringir o resultado dessa lei quando se tiver uma situação em que a pessoa ingeriu um remédio sem saber de seu efeito alucinógeno. A lei traz uma generalidade que deve ser restrita para cumprir o garantismo penal. 
c) Extensiva: quando a lei diz menos do que realmente pretendia, o intérprete deve alargar seu alcance. Ex.: o art. 260 do CP criminaliza o impedimento ou perturbação dos serviços em estrada de ferro, no entanto, apesar de a lei trazer somente esse tipo de meio de transporte, muitos indivíduos estendem seu resultado para outros. 
4) Interpretação analógica: analogia é diferente de interpretação analógica, visto que, no último caso, a própria lei traz a possibilidade de usá-la, pois o legislador não consegue prever todas as situações ocorridas na vida em sociedade. Então, essa forma de interpretação assemelha-se com a interpretação extensiva, já que amplia o resultado alcançado pelo dispositivo legal. Ex.: no art 121, §2°, III, o legislador usa a expressão “ou por outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”, dessa maneira, ele abre espaço para que os aplicadores do Direito estendam a qualificação do crime de homicídio de acordo com a interpretação analógica. Partindo-se dessa premissa, ela pode ser usada para prejudicar o réu, diferente da analogia (somente in bonam partem). 
Princípios do Direito Penal
- É uma das partes mais importantes quanto ao estudo da lei penal, pois caso não sejam obedecidos tais princípios, torna-se um Direito Penal simbólico e exclusivamente punitivo, como vigorava antigamente.
- Alguns princípios encontram-se implícitos na ordem constitucional, como exemplo tem-se o princípio da intervenção mínima.
1) Princípios relacionados à missão do Direito Penal:
Proteção dos bens jurídicos mais importantes: esses bens são específicos e escolhidos pelo legislador, sendo que o Direito Penal somente pode interferir na liberdade dos indivíduos para tutelar tais bens, como: vida, integridade física, patrimônio, dignidade sexual etc. Esse princípio serve como uma barreira/limite ao jus puniendi, indicando até onde essa esfera do direito é permitida atuar. 
Princípio da Intervenção Mínima: afirma que o Direito Penal é a última ratio, ou seja, somente deve ser solicitado quando os demais ramos do direito, comprovadamente, não forem capazes de proteger aqueles bens de maior importância. Também é importante para que o legislador realize certas descriminalizações, ou seja, com as mudanças sociais, certos atos deixam de ter valor e não são mais considerados como crime (abolitio criminis). 
Princípio da Fragmentariedade: o Direito Penal é apenas um fragmento/uma parcela do ordenamento jurídico, ou seja, nem tudo lhe interessa, mas somente uma parte, sendo essa parte aquela dos bens mais importantes.
2) Princípios relacionados ao fato do agente (conduta criminosa):
Princípio da Ofensividade (ou Lesividade): não se podem punir pensamentos ou sentimentos pessoais se os atos não forem exteriorizados; lesões que não tenham atingido terceiros (suicídio ou autolesão), sendo assim, para a pessoa ser julgada, deve realmente ofender/lesar o bem jurídico da vítima.
Princípio da Insignificância (ou Bagatela): tem a finalidade de afastar ou eliminar a tipicidade penal, isso significa que o ato não é considerado crime e, portanto, culmina na absolvição do réu.
Primeiramente, vamos entender que o crime é composto pelo fato típico, pela ilicitude e pela culpabilidade. Para se falar em fato típico é preciso analisar 4 itens: conduta (doloso ou culposa- comissiva ou omissiva); resultado; nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado); tipicidade (formal econglobante).
A tipicidade formal é a adequação perfeita da conduta praticada com a norma penal positivada. Já a tipicidade conglobante analisa se a conduta é antinormativa (contrária ao que está previsto) e, além disso, observa se há presença de tipicidade material (sendo que o princípio da insignificância se encontra justamente aqui), corresponde ao agravo social e real do ato, ou seja, deve ter realmente lesionado o bem jurídico tutelado ou exposto terceiros a risco. Se for concluído que não houve tipicidade material, significa que não houve tipicidade conglobante. Consequentemente, o fato deixa de ser típico e deixa de ser crime. 
Requisitos: mínima ofensividade da conduta; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica.
Princípio da Reserva Legal: difere do princípio da legalidade, pois esse é a conjugação da regra da reserva legal com a regra da anterioridade, conforme visto no art. 5°, XXXIX, CF e art. 1° do CP. Os dois dispositivos somente permitem considerar uma conduta como criminosa quando esta estiver tipificada (criminalizada) por lei (reserva legal) que seja anterior ao fato a ser analisado (anterioridade). Do mesmo modo ocorre com a pena, que só é legítima quando houver prévia (anterioridade) cominação legal (reserva legal). 
Já o princípio da reserva legal determina que somente lei em sentido estrito (lei ordinária ou complementar) pode criar regras de direito penal, sendo estas, por isso, sempre emanadas do órgão estatal que detém a parcela de soberania competente para inovar na ordem jurídica, legitimada pela vontade do povo. É o momento de criação da lei penal (fonte material), liga-se com o art. 22, I, CF/88, compete privativamente a União legislar sobre o direito penal. 
Princípio da Taxatividade: a lei penal deve trazer uma descrição pormenorizada do crime, sendo assim, deve ser taxado, claro, objetivo, expresso. Em caso de dúvida, ambiguidade, imprecisão ou ideias vagas, o réu deverá ser absolvido.
3) Princípios relacionados à pena:
No artigo 5°, LVII, da Constituição Federal de 1988, tem-se o Princípio da Presunção de Inocência, o qual afirma que a pessoa é presumidamente inocente até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Desse modo, quem acusa deve provar, caso contrário, o réu não será culpado. 
Já no artigo 1°, III, CF/88 tem-se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, sendo o principal constituinte dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, inerente à República Federativa do Brasil. Sua finalidade é assegurar ao homem um mínimo de direitos que devem ser respeitados pela sociedade e pelo poder público, de forma a preservar a valorização do ser humano. Protege os indivíduos contra todo e qualquer ato degradante e desumano e não há como ser mitigado ou relativizado, sob pena de gerar a instabilidade do regime democrático.
O artigo 5°, XLVI, CF/88, prevê o Princípio da Individualização da Pena, pois cada criminoso deve ser julgado de acordo com o fato praticado e, levando em consideração, as características de sua conduta. O legislador comina em abstrato, o juiz julga em caso concreto e a execução também deve ser específica, porque criminosos de maior e menor periculosidade não podem ficar juntos e a depender do comportamento do preso, sua pena pode diminuir. Portanto é dividida em 3 tipos: individualização da pena legal, judicial e executória.
O Princípio da Proporcionalidade encontra-se implicitamente previsto na CF/88, mas está expressamente posto no art. 2º da Lei nº 9.784/1999, a qual, preceitua que a Administração Pública obedecerá, dentre outros, ao princípio da razoabilidade e da proporcionalidade. Sendo assim, à medida que aumenta a lesão ao bem jurídico protegido, aumenta a pena.
O Princípio da Pessoalidade está previsto no artigo 5°, XLV, da CF/88 e afirma que somente o criminoso paga pelo crime, ou seja, a sanção penal não transcende a pessoa que cometeu a conduta criminosa.
O Princípio da Vedação do “bis in idem” é um princípio materialmente constitucional que não está inserto no texto constitucional de 1988, no entanto, está inserido no Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário. Ele prevê que uma pessoa não pode ser julgada duas vezes pelo mesmo crime (veda a dupla incriminação). Dessa forma, conclui-se que, ocupa precipuamente do fato delituoso, ao invés de concentrar-se na obstinada perseguição, rotulação e segregação do indivíduo ao qual se pôs o rótulo de criminoso.
O Princípio da Limitação das Penas está no artigo 5°, XLVII, da CF/88, traz as penas que não podem ser impostas, como exemplo: penas de morte (salvo em caso de guerra declarada), caráter perpétuo, trabalhos forçados, banimento ou cruéis. Isso visa ao fundamento da dignidade da pessoa humana. É também chamado de “humanidade da pena” e relaciona-se com a função social da pena (teoria eclética).
 4) Princípios relacionados com o agente do fato:
Princípio da Culpabilidade: a culpa compõe o 3° elemento do tripé da Teoria do Crime, o qual o considera como sendo fato típico, ilícito e culpável. O agente responderá por crime quando agir por dolo (intenção de cometer a infração) ou culpa (poderá ser na modalidade de negligência, imperícia ou imprudência). Existem 3 elementos da culpabilidade: imputabilidade (refere-se às condições psíquicas do infrator, o qual deve possuir saúde mental para entender a conduta por ele perpretada; o art. 26 do CP traz as pessoas consideradas inimputáveis por direito). Além de ter condições mentais, o agente deve ter potencial consciência da ilicitude (entender que tal conduta não é admitida, portanto, no julgamento serão analisados erro de tipo, desconhecimento da lei, entre outros, para ver se ele realmente tinha noção ou não do que estava fazendo). E por fim, tem-se a inexigibilidade de conduta diversa (como a coação moral irresistível, ou seja, a pessoa não tinha como agir de outra forma). Esse princípio está ligado ao sujeito que praticou o crime, visa entendê-lo, seus motivos e seu contexto. E ajuda o juiz no cálculo da dosimetria penal.
Princípio da Adequação Social: significa que apesar de uma conduta se subsumir (haver subsunção) ao modelo legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. Exemplo: tatuagem e MMA são crimes contra a lesão corporal, no entanto, a sociedade aceita.
Lei Penal no Tempo e no Espaço
Extra-atividade é a possibilidade de a lei penal, depois de revogada, continuar a regular fatos ocorridos durante a vigência (ultra-atividade) ou retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor (retroatividade in mellius). No entanto, de acordo com o art. 5°, XL, CF, “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (veda a retroatividade in pejus).
Só poderemos falar em extra-atividade quando há sucessão de leis no tempo, ou seja, uma confronta com a outra quanto ao tratamento de determinado caso.
Tempo do Crime: para isso tem-se 3 teorias: Teoria da Atividade (considera o momento da ação ou omissão); Teoria do Resultado (considera o momento em que se obteve o resultado esperado; consumação do ato); Teoria Mista ou da Ubiquidade: é a junção das duas anteriores, considera-se o momento da ação e aquele em que se teve o resultado.
O art. 4° do Código Penal adota como critério de definição para tempo do crime a teoria da atividade, ou seja, o momento da ação ou omissão será usado como marco inicial para o raciocínio de aplicação da lei penal.
Novatio legis in mellius e Novatio legis in pejus: a primeira traz situações que beneficiam o réu e, portanto, deve retroagir mesmo em sentenças condenatórias transitadas em julgado. Tais benefícios são: diminuição de pena, redução de prazos prescricionais, condicionar as ações penais à representação do ofendido. Já o segundo caso acontece quando a nova edição legal prejudica o réu, não podendo ser aplicada a casos anteriores. Prejudica quando:amplia o rol de circunstâncias agravantes, cria causas de aumento de pena, aumenta prazo de prescrição ou traz novas causas interruptivas ou prescritivas. 
Crime permanente x Crime continuado: o permanente é quando a execução dura no tempo enquanto quiser o sujeito, ou seja, a ofensa ao bem jurídico se dá de forma constante e cessa de acordo com a vontade do agente, ex: crime de sequestro (art. 148 CP), pois o delito continua acontecendo enquanto a vítima estiver com o criminoso. Já o continuado são dois ou mais crimes ligados entre si, ex: em um roubo, o ladrão ainda lesiona a vítima e mata outra. Nesses casos, de acordo com a súmula n° 711 tanto no crime permanente quanto no crime continuado será aplicada a lei mais grave, desde que não cessadas a permanência ou continuidade quando da entrada em vigência dessa lei. 
Abolitio Criminis: o legislador, atento às mutações da sociedade, decreta que uma conduta deixa de ser crime. De acordo com o art. 2° do CP ninguém pode ser punido por algo que deixou de ser crime. Portanto, se o juiz receber uma denúncia de uma ação descriminalizada, ele deverá, de acordo com o art. 61 do CPP, reconhecer extinta sua punibilidade. No entanto, os efeitos civis permanecem (a pessoa ainda tem a obrigação de reparar o dano).
Sucessão de Leis no Tempo: se a lei nova for mais benéfica será retro-ativa; se a lei anterior for mais benéfica será ultra-ativa.
Lei Intermediária (ou Intermédia): é a lei que aparece durante o processo de julgamento, isto é, não existia nem no momento da infração e nem no momento em que foi dada a sentença, mas tal lei pode ser aplicada se for a mais benéfica.
Lei Temporária ou Excepcional: as leis temporárias trazem, em seu texto, a data de início e de término, como exemplo tem-se as leis da Copa. Já as excepcionais são aquelas editadas em virtude de situações anormais, cuja vigência é definida pela duração do aludido cenário que levou à sua criação, como exemplo: casos de guerra, calamidade pública, surto de doença epidêmica/pandêmica e catástrofe natural.
Encerrando o período de sua vigência, ou cessadas as circunstâncias anormais que a determinaram, tem-se por revogadas as leis temporária e excepcional. Sendo que a lex mitior (novatio legis in mellius) que for promulgada depois da revogação de tais leis não poderá retroagir, porque as situações tipificadas são diferentes.
Princípio da Territorialidade
Lugar do Crime: existem 3 teorias que buscam defini-lo: teoria da atividade (é o lugar da ação ou omissão, ainda que o resultado ocorresse em outro lugar); teoria do resultado (será somente o lugar da consumação do resultado); teoria mista ou da ubiquidade (adota as duas anteriores: é o lugar da ação ou omissão, bem como onde se produz o resultado).
- O art. 6° do CP adota a teoria da ubiquidade, a qual não resolve problemas somente no âmbito interno, como também questões de Direito Penal internacional.
Territorialidade: o art. 5°, caput, do CP determina a aplicação de lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados ou regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. No entanto, o Brasil não adotou uma teoria absoluta, e sim temperada, pois em alguns casos, pode abrir mão da aplicação de sua legislação.
- O §1° do art. 5° do CP considerou como extensão do território nacional, as embarcações ou aeronaves brasileiras, sejam elas públicas ou privadas.
- O §2° do art. 5° do CP determinou a aplicação de legislação brasileira também em embarcações ou aeronaves estrangeiras privadas que estiverem em nosso território. Já aquelas de natureza pública ou a serviço do governo estrangeiro serão consideradas parte do território correspondente à sua bandeira, sendo vedada aplicação da lei brasileira (Princípio do Pavilhão ou da Bandeira).
Princípio da Extraterritorialidade
- Aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos além de suas fronteiras. Pode ser incondicionada ou condicionada.
- Extraterritorialidade Incondicionada é a aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no estrangeiro sem que seja necessário o concurso de qualquer condição. Tais crimes estão previstos no art. 7°, I, CP: contra a vida ou liberdade do Presidente da República (Princípio da Defesa, Real ou de Proteção); contra patrimônios ligados ao Estado brasileiro; contra a administração pública ou genocídio. Serão punidos seguindo a lei do Brasil, mesmo que sejam impunes na lei do outro.
Obs.: se no estrangeiro tal conduta também for crime, tem-se aplicação do art. 8° do CP, o qual evita o bis in idem, ou seja, veda a punição do agente duas vezes pelo mesmo crime. Sendo assim, a pena cumprida internacionalmente atenua aquela a ser cumprida aqui.
- Extraterritorialidade Condicionada: prevista no art. 7°, II, CP, afirma que serão julgados por lei brasileira os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou a reprimir (Princípio da Universalidade/Justiça Universal/Cosmopolita); praticados por brasileiros (Princípio da Personalidade Ativa); praticados por aeronaves ou embarcações privadas, quando não forem julgados no território estrangeiro (Princípio da Representação).
Teoria do Crime
- Para ser considerado crime deve ser típico, ilícito (antijurídico) e culpável. O fato típico inclui conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade (formal e conglobante). Já a ilicitude pode incluir características como excludentes de ilicitude: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de um dever legal e exercício regular de um direito. Por último, a culpabilidade inclui os conceitos de imputabilidade (responsabilidade), exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude.
· A ilicitude representa uma relação de antagonismo entre a conduta praticada e o ordenamento jurídico, portanto, é a prática de um crime. Sendo que a licitude ou juricidade da conduta é encontrada por exclusão previstas no art. 23 do CP.
· A culpabilidade é a responsabilidade que pode ser atribuída a uma pessoa pela prática de um ato ilícito, pois não existe um crime sem culpa. Para ser culpada a pessoa precisa ser imputável (ter 18 anos completos ou mais; não ser portador de doença mental ou cognitiva; não estar embriagado por força maior, caso contrário, será considerado inimputável); exigibilidade de conduta diversa (a pessoa será culpada se tivesse possibilidade de ter outra atitude, no entanto, se estiver sob coação moral irresistível será provada a inexigibilidade de conduta diversa, portanto, a pessoa não será considerada culpada), por último, a potencial consciência de ilicitude significa que o indivíduo tinha noção de que o ato praticado era ilícito, sendo culpado.
a) conceito formal: toda conduta que atente contra a lei penal editada pelo Estado.
b) conceito material: conduta que viola bens jurídicos mais importantes.
c) conceito analítico: ação típica, ilícita e culpável.
Ilícito penal e Ilícito civil: o primeiro tem ordem cogente, portanto, o Estado interfere em tais resoluções independentemente da vontade da vítima. Além disso, sofre sanções penais e pode haver um ressarcimento/reparação através da “ação civil ex delicto”, devendo pedir no cível esse valor. Já o ilícito civil tem ordem dispositiva, portanto, depende da vontade das partes, pode ser resolvido através de uma composição amigável, e somente a pensão alimentícia pode privar a liberdade do indivíduo.
Tipos de Crimes:
Crimes comissivos: a pessoa pratica uma ação criminosa;
Crimes omissivos próprios: a pessoa deixa de fazer uma ação que deveria, portanto, é a omissão da conduta que a caracteriza como crime, exemplo: deixar de prestar socorro à vítima (CP, art. 135); 
Crimes omissivos impróprios: a pessoa tem a obrigação de evitar uma conduta e não o faz. Exemplo: o guia de um cego não o ajuda a atravessar a rua e, por isso, ele é atropelado e morre. Ou a babá não cuida da criança e, esta sofre um acidente em casa.
Elementos do fato típico
· Conduta:
- É o primeiro elemento do fato típico; compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendoainda ser dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).
- Dolo e Culpa: trataremos adiante no art. 18.
- Teorias sobre a conduta:
Teoria causalista: é um comportamento humano voluntário no mundo exterior que consiste em fazer ou não fazer; processo mecânico, muscular e voluntário. É extremamente naturalística, analisará se houve modificação no mundo exterior, sem se atentar a outras questões como ilicitude, culpabilidade etc. 
Teoria finalista: é um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer, que pode ser ilícita (quando atua com dolo, por ex., querendo praticar a conduta proibida) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas que, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo, previsto pela lei penal).
Teoria social da ação: é um comportamento dominado ou dominável pela vontade humana, sendo uma ação ou omissão social e juridicamente relevante. 
- A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida a ação de um fim (há o acatamento da teoria finalista, mas sem excluir a importância das outras duas teorias).
- Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há fato típico, e, dessa forma, não se pode falar em crime. Isso acontece nos casos de:
a) força irresistível: pode ser por ação física de terceiros ou da natureza, por ex.: um vento muito forte te arrasta, e faz você lesionar outra pessoa, não será uma conduta dolosa e nem culposa. Por terceiros pode ser uma coação física ou quando alguém nos empurra e caímos em cima de alguém, nesse caso, o dolo/culpa é da outra pessoa, você foi apenas um instrumento.
b) movimentos reflexos: os impulsos decorrentes do nosso organismo diante de situações inesperadas podem atingir terceiros, como é o caso de levar um choque elétrico. Com exceção dos casos em que se sabe de possíveis movimentos reflexos e, mesmo assim, age sabendo que pode acontecer, nessas situações haverá dolo ou culpa. 
c) estados de inconsciência: sonambulismo, ataques epilépticos, hipnose,..
Fases da realização da ação: dividida em interna e externa; a fase interna é composta por 3 passos: pensa acerca do resultado que quer alcançar; escolhe os meios a serem utilizados e considera a consequência da escolha de tais meios. Depois disso, na fase externa o indivíduo coloca em prática seu plano. (Ler resumo do Iter Criminis)
Para ser área do interesse do Direito Penal, a pessoa deve exteriorizar seus pensamentos, pois se ficar somente no âmbito interno, não diz respeito ao penal, com exceção do art. 288 do CP (associação criminosa).
· Resultado
- É a lesão ou perigo de lesão a bem jurídico tutelado, podendo ser físico (dano), fisiológico (lesão, morte), psicológico (temor na ameaça, sentimento do ofendido na injúria) - art. 13 do CP.
· Relação de Causalidade
- É o terceiro elemento do fato típico e busca analisar nexo/relação entre a conduta e o resultado; é a conexão/ligação que existe numa sucessão de acontecimentos que pode ser entendida pelo homem.
- art. 13, CP
- Após a leitura desse artigo não devemos limitar a tutela do Direito Penal apenas a resultados naturalísticos, ou seja, aqueles que caracterizam o crime material por causar uma modificação no mundo exterior. Deve-se entender que além dos crimes materiais, existem os crimes formais ou de mera conduta, os quais muitas vezes não provocam um resultado natural (percebido pelos sentidos humanos), mas que mesmo assim atentaram contra a lei penal editada pelo Estado, sendo, portanto, crimes. Assim, o resultado do art. 13 é jurídico (abarca tanto os naturalísticos quanto os de mera conduta).
- Teorias sobre as relações de causalidade:
Teoria da causalidade adequada: causa é a condição necessária e adequada a determinar a produção do evento, exclui acontecimentos extraordinários, fortuitos, excepcionais, anormais. Também não são levadas em conta as circunstâncias necessárias (ex.: venda de armas de fogo futuramente usadas para matar alguém não é considerado causa), mas somente aquelas indispensáveis à consumação do resultado. Recebe crítica pois para usar essa teoria, os juízes deveriam dar um valor maior a determinada conduta, agindo muitas vezes subjetivamente.
Teoria da equivalência dos antecedentes causais: todos os fatos sem os quais o resultado não teria ocorrido são considerados causas (até mesmo a venda lícita de arma de fogo, a indústria que fabricou o instrumento, quem forneceu a matéria prima). Recebe crítica por gerar uma regressão infinita ao nexo causal havendo uma hiper-responsabilização de pessoas que não saberiam do ato delituoso que viria a ser causado no futuro.
Teoria da imputação objetiva: vem para limitar a teoria da equivalência dos antecedentes, pois essa considera objetivamente o resultado previsto no tipo penal para ver se ele pode ser ligado às condutas/causas anteriores. Para alguém ser responsabilizado deve criar perigo juridicamente intolerável. Voltando-se ao exemplo da venda de arma ao cliente, não se pode considerar que tal mercancia seja a criação de um perigo juridicamente intolerável a ponto de afrontar o bem jurídico, visto que era um comércio lícito e o vendedor não sabia que o comprador mataria um terceiro.
Teoria da relevância: entende como causa a condição relevante para o resultado; tudo que concorre para o evento previsto no tipo penal.
Concausa: é outra causa, a qual ligada à primeira, concorre para o resultado. Podem ser causas absolutamente independentes (quando a causa efetiva não se origina da causa concorrente) ou causas relativamente independentes (quando a causa efetiva se origina, direta ou indiretamente, da concorrente).
Atenção!! Todas as causas absolutamente independentes, a pessoa praticou uma conduta criminosa, mas não teve relação com o resultado que aconteceu antes (preexistente), ao mesmo tempo (concomitante) ou depois (superveniente), o qual efetivamente levou ao resultado que era pretendido pelo agente. Sendo assim, esse agente que produziu causa concorrente responderá por tentativa. Já nas causas relativamente independentes, o agente que praticou a causa concorrente vai responder por crime consumado, pois foi a sua atitude que levou à causa efetiva, elas possuem ligação. Com exceção da superveniência de causa relativamente independente que por si só produz o resultado, nesse caso, o agente vai responder só até onde praticou a ação delituosa.
· Tipicidade
- Tipo Penal é a descrição abstrata da conduta que o Estado visa impedir, e quando esse acontece na vida real, há tipicidade.
- Tipicidade penal= tipicidade formal + tipicidade conglobante.
- A tipicidade formal se dá quando há subsunção do fato praticado com a norma positivada, ou seja, adequação perfeita entre eles.
- Já a tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, que a conduta praticada pelo agente é antinormativa (ilícita), ou seja, exige que a conduta seja anormal perante o ordenamento jurídico como um todo. Além disso, deve haver tipicidade material (se tal conduta ofende bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal, por isso, nesse caso, entra o Princípio da Insignificância e o Princípio da Lesividade, isto é, se uma pessoa furta uma bucha de supermercado, cujo valor é de 2 reais, não há que se considerar como um crime previsto pelo art. 155, porque tal bem é insignificante e não apresenta grande lesividade). Pelo critério da tipicidade material é que se afere a importância do bem no caso concreto.
Prazo Penal: quando forem prazos referentes à pena do réu, como progressão de regime ou prescrição, é utilizado o art. 10 do CP, porque de acordo com essa previsão o dia do começo inclui-se no cômputo dos prazos e, então, diminui 1 dia da sanção do réu (age em benefício dele). Já em questões meramente processuais/burocráticas, utiliza-se o art. 798 do CPP, o qual não se computa no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. 
Art. 14: diferencia crime consumado e tentado. Sendo que,no consumado há a realização de todo o Iter Criminis, já no tentado, o agente teve de parar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade. No parágrafo único desse artigo prevê que, quando houver tentativa, o juiz vai analisar como se fosse consumado, faz a dosimetria penal e, no momento em que chegar na pena final, abate de um a dois terços.
Art. 15: Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz: em ambos os casos, quando comprovados sua existência, o agente pagará só pelos crimes já praticados/consumados e não, pelo previsto inicialmente. Na desistência voluntária, o agente inicia a execução, pode prosseguir, mas não quer (diferente de tentativa, em que ele quer continuar, porém não pode). Já no arrependimento eficaz, a pessoa iniciou e concluiu a execução, no entanto, antes que o resultado pudesse ser alcançado, isto é, antes da consumação do crime, ela se arrepende e faz de tudo para reverter, conseguindo ao final, por isso se diz eficaz.
Art. 16: Arrependimento Posterior: só pode ser aplicado em crimes que não envolvam violência ou grave ameaça à pessoa. Ademais, o dano deve ser reparado e a coisa restituída antes do recebimento da denúncia ou queixa. A pena é medida assim como na tentativa, ou seja, abate de um a dois terços da sanção do crime consumado.
Art. 17: Crime Impossível: o agente inicia a execução do crime, todavia não há como ser consumado devido a ineficácia absoluta do meio de execução ou impropriedade do objeto do crime. Nesse caso, o agente é isento de pena, porque o fato é considerado atípico, já que não teria como produzir lesão ou risco de lesão ao bem jurídico pela lei penal.
Art. 18: crime doloso e culposo. Para a nossa lei penal, age dolosamente aquele que, diretamente, quer a produção do resultado (dolo direto), bem como aquele que, mesmo não o desejando de forma direta, assume o risco de produzi-lo (dolo indireto eventual ou alternativo), ou seja, deve aceitar o resultado, não se importando com sua ocorrência.
· Dolo Direto: prevê e quer o resultado.
· Dolo Indireto: pode ser alternativo ou eventual. O primeiro trata-se quando o aspecto volitivo da pessoa (vontade) se encontra direcionado de forma alternativa, seja em relação ao resultado (alternatividade objetiva) ou à pessoa (alternatividade subjetiva). Ex.: alguém joga uma bomba no carro de outrem e, para ele, tanto faz se vai matá-la ou feri-la (alternatividade objetiva). Ex.2: alguém efetua disparos com sua arma de fogo contra duas pessoas, querendo matar uma ou outra (alternatividade subjetiva). Já no dolo eventual, o indivíduo não quer diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que ele já havia aceito e previsto. Sendo assim, o autor prevê o resultado, não quer que aconteça, mas assume o risco, portanto, conforma-se com a possibilidade da realização do crime. 
- A conduta culposa é o ato humano voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter o devido observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal (sendo assim, o próprio CP traz se o crime pode ser culposo, se não traz, quer dizer não haver possibilidade de realizar aquele crime com culpa, somente com dolo, exemplo: os crimes de importunação sexual só aceitam dolo, em contraposição, o CP prevê homicídio culposo, lesão corporal culposa etc.)
· Culpa Consciente: prevê o resultado, não quer, não assume o risco e pensa poder evitar. Ex.: um motorista dirige em alta velocidade, vê um pedestre, mas pensa que o transeunte conseguirá atravessar a tempo. Portanto, ele previu o resultado, mas não o deixou de praticar acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer.
· Culpa Inconsciente: não prevê o resultado (que era previsível), não quer e não aceita. Ex.: o agente está dirigindo em alta velocidade perto de uma escola (em que não há placas de sinalização), por não prever que alguém fosse passar naquele momento, não diminui a velocidade e atropela uma criança.
- Para que seja culpa, o agente deve ter agido em um desses 3 casos: Imprudência: há um fazer sem cautelas, como balançar uma barra de ferro no meio da multidão/ Negligência: há um não fazer sem cautelas, como alguém que não troca o óleo do carro e vem a acontecer um acidente/ Imperícia: é a ação negligente ou imprudente de um perito, ou seja, a pessoa deve ter capacidade técnica/profissional para aquilo, como um piloto de fórmula 1 que não ultrapassa no momento certo, mas não o faz ou faz sem cautela.
Antijuricidade
- O doutrinador Heleno Fragoso classifica as causas de exclusão da ilicitude em três grandes grupos:
1- Causas que defluem de situação de necessidade (legítima defesa e estado de necessidade);
2- Causas que defluem da atuação do direito (exercício regular de um direito e estrito cumprimento de um dever legal);
3- Causa que deflui de situação de ausência de interesse (consentimento do ofendido). Possui natureza supralegal. Porém, para que possa excluir a ilicitude é necessário que: o ofendido tenha capacidade de consentir; o bem sobre o qual recai a conduta seja disponível; o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou pelo menos numa relação de simultaneidade à conduta do agente.
- No estado de necessidade (art. 24) tem-se a colisão de bens juridicamente protegidos, ao contrário da legítima defesa (art. 25), em que um dos agentes atua de forma ilícita, sendo autor de uma agressão injusta, enquanto o outro atua amparado por uma causa de exclusão de ilicitude, pois, permitida a sua conduta.
- A teoria unitária, adotada pelo CP no art. 24, diz que todo estado de necessidade é justificante (afasta a ilicitude), não importando se o bem protegido pelo agente é de valor superior ou igual àquele que está sofrendo a ofensa. Já a teoria diferenciadora (adotada pelo CPM nos arts. 39 e 43) faz uma diferenciação entre estado de necessidade justificante e exculpante (elimina a culpabilidade). No primeiro, o bem afetado é de valor inferior àquele que se defende (para defender a vida, destrói o patrimônio de outrem). Já no segundo, o bem afetado tem valor superior ou igual àquele que se defende. 
- No estado de necessidade, há conflito entre vários bens jurídicos diante de uma mesma situação de perigo inevitável e que não foi causado/provocado. Além disso deve ser um perigo atual e sem destinatário certo (não é proposital). Os interesses em conflito são legítimos e pode haver reciprocidade nas condutas de estados de necessidade (ambos se defendem). Aqui, tem-se apenas proteção a direito próprio ou de terceiros.
- Na legítima defesa, tem-se uma ameaça ou lesão a um bem jurídico, portanto, uma pessoa age ilicitamente e a outra reage licitamente, defendendo-se. Pressupõe uma agressão humana, atual ou iminente, injusta e dirigida (tem destinatário certo). Nesse contexto, os interesses do agressor são ilegítimos. Não sendo possível legítima defesa recíproca, só uma parte atua com legitimidade. Aqui, tem-se proteção a direito próprio ou de terceiros. 
- O ECDL tem natureza compulsória, pois a pessoa tem o dever legal de agir (tendo origem na lei direta ou indiretamente). O agente, portanto, pratica um fato típico, mas não pode ser considerado crime por exclusão da ilicitude. Já o ERD tem natureza facultativa, ou seja, o ordenamento autoriza alguns casos, mas a pessoa não é obrigada a fazer, é algo facultativo. Ex.: um pai muito severo que prende seus filhos em casa por questões morais e de valores não estaria cometendo um crime de cárcere privado, pois a lei assegura como um ERD. Porém, será punível se existirem maus tratos ou lesão. Caso não tenha, é permitido. 
Culpabilidade
- É o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita do agente. 
- Livre-arbítrio (homem é moralmente livre para fazer suas escolhas) e determinismo (o meio social pode exercer influência ou mesmo determinar a prática de uma infração penal). Sendo assim, em temade culpabilidade, todos os fatos, internos e externos, devem ser considerados a fim de se apurar se o agente, nas condições em que se encontrava, podia agir de outro modo.
- Nos moldes da concepção trazida pelo finalismo de Welzel, a culpabilidade é composta pelos seguintes elementos normativos: imputabilidade; potencial consciência sobre a ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa.
- Imputabilidade: resumida em trabalho feito em folha a parte. 
- Potencial consciência sobre a ilicitude do fato: composto pelo erro de tipo e erro de proibição. O primeiro incidirá sobre os elementos, circunstâncias ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica. Em suma, erro de tipo é analisado no tipo. Ex.: a pessoa, numa caçada, crê que mata um animal, mas acaba por atingir um ser humano agachado na mata.
Note-se que o erro incide sobre a elementar do artigo 121 do CP, pois o sujeito não tinha conhecimento que matava “alguém” já que queria atingir um animal qualquer. Com efeito, ao desconhecer que matava um ser humano, o agente não tinha como obrar com o dolo de matar um ser humano. Nesse caso, o agente será punido se existir a previsão do crime cometido na modalidade culposa (caso não tenha é impunível), mas não só isso, é mister que a situação apresentada seja decorrente de uma verdadeira imprudência do sujeito, pois, estando comprovado que, mesmo com a observância do dever de cuidado, o resultado ocorreria, estaremos diante de um erro de tipo “invencível” e, portanto, de uma conduta atípica para todos os fins.
Já com o erro de proibição procura-se verificar se, nas condições em que se encontrava o agente, tinha ele condições de compreender que o fato praticado era ilícito. Vide art. 21.
- Lembre-se que a alegação de desconhecimento da lei não exime o agente (art. 3º da LINDB e art. 21 do CP). Isso, no máximo, importará aplicação da atenuante genérica disposta no art. 65, inciso II do CP, e caso de perdão judicial nas contravenções penais (art. 8 LCP).
- Para se obter a benesse da falta de consciência de ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha e nem poderia ter consciência profana de que fazia algo errado (ou seja, o agente, com as condições pessoais que tinha, não tinha condição de saber que fazia algo contrário ao direito). Se tal ocorrer estaremos diante do Erro de Proibição invencível, escusável, inevitável, que exclui a culpabilidade pela inexistência da potencial consciência de ilicitude (art. 21 do CP). Todavia, se o agente não tinha, mas podia ter essa consciência (as suas condições pessoais permitiam que atingisse essa consciência), estaremos diante de Erro de Proibição vencível, inevitável, portanto inescusável, que apenas diminui a pena (segundo o art. 21 do CP, de 1/6 a 1/3).
Espécies de erro sobre a ilicitude- ou erro de proibição:
a) Erro de proibição direto: o agente, efetivamente, não conhece a ilicitude de uma conduta proibida, como é o caso, por exemplo, da holandesa que vem ao Brasil e realiza um aborto, crendo que aqui, como em seu país, o mesmo não seja proibido; ou no caso de um islâmico casado que, no Brasil, contrai novas núpcias, acreditando que aqui também é permitida a poligamia.
Nesses casos, é preciso que se faça uma análise do grau de instrução do agente e do seu grau de conhecimento da ilicitude para se afirmar se o erro é inevitável (ou “invencível”), o que exclui a culpabilidade e, logicamente, o crime; ou se a situação exigia que o sujeito apurasse melhor a existência da proibição, o que culminaria numa redução de pena – mas manteria o delito doloso.
b) Erro de proibição indireto (art. 20 §1°): o agente dolosamente pratica um fato típico, mas acreditando que estava amparado numa situação permitida pelo direito – caso de uma causa justificante (legítima defesa, estado de necessidade, cumprimento do dever). É chamado também de erro na descriminante. Ex.: um homem que, ao perceber que um sujeito pulou seu muro no período da noite, empunha sua pistola e dispara na direção do rapaz, mas, após atingi-lo fatalmente, percebe que matou seu próprio filho, que estava sem a chave do portão de casa. Se o homem alvejado efetivamente fosse um ladrão, a ação do primeiro sujeito seria legítima, logo não seria crime. O dolo não era direcionado a atingir o seu próprio filho. Se seguíssemos o raciocínio do erro de proibição direto, não poderíamos pensar na exclusão da punição por ausência de elemento subjetivo (pois ele sabia que aquilo era errado, mas pensava estar protegido pela legítima defesa). Mas, de acordo com o art. 20 §1°, permite, a exclusão de pena ou a punição pelo tipo culposo se houver.
c) Erro de proibição mandamental: é aquele que incide sobre o mandamento contido nos crimes omissivos, sejam eles próprios ou impróprios, ainda segundo Cezar Bitencourt, é o “erro que recai sobre uma norma mandamental, sobre uma norma impositiva, sobre uma norma que manda fazer, que está implícita, evidentemente, nos tipos omissivos”. Ex.: o banhista que deixa de prestar socorro a uma criança que estava se afogando numa lagoa porque acreditava que, pelo fato de não saber nadar adequadamente, correria risco pessoal, quando, na verdade, a profundidade da lagoa permitia o socorro por causa de sua estatura, incorre em erro de tipo; já aquele que, podendo prestar socorro à vítima que se afogava, não o faz porque, em virtude da ausência de qualquer vínculo pessoal com ela, acreditava não estar obrigado a isto, incorre em erro de proibição.
	Erro de tipo
	Erro de proibição
	Causa: O agente desconhece a situação fática que lhe impede o conhecimento de um ou mais elementos do crime. Não sabe o que faz.
	Causa: O agente conhece a realidade fática, mas não compreende o caráter ilícito de sua conduta, sabe o que faz, mas não sabe que viola a lei.
	Efeitos: 
Escusável: exclui o dolo e a culpa.
Inescusável: exclui dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
	Efeitos:
Escusável: exclui a culpabilidade.
Inescusável: não afasta a culpabilidade, mas permite a diminuição da pena 1/6 a 1/3. 
- Se duas amigas tem o mesmo copo, e A de forma equivocada pega o copo de B por achar que era o seu, não comete o crime de furto, pois recai no erro de tipo. Mas, se uma pessoa vê um copo em cima da mesa, não tem ninguém por perto, e pega para si por pensar que não era algo errado, pois “achado não é roubado”, recai no erro de proibição, não sabendo que é proibido pelo art. 169 II CP. Em ambos os casos, deve-se verificar se isso é escusável (invencível) ou inescusável (vencível).
- Exigibilidade de conduta diversa (art. 22 CP):
- Natureza jurídica: trata-se de causa de exclusão da culpabilidade, fundada no princípio de que só podem ser punidas as condutas que poderiam ser evitadas. 
- O Código Penal brasileiro, prevê causas legais que excluem a culpabilidade: coação moral irresistível, obediência hierárquica e a possibilidade de aborto quando a gravidez é resultante de estupro.
- A coação irresistível e a obediência hierárquica foram descritas no art. 22 do CP: “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. ”
- Nos casos de coação resistível, seja física ou moral, não isenta o agente de pena, mas ocorre à atenuação da pena, conforme artigo 65, III, alínea c, do Código Penal.
Classificação dos crimes:
1. Crimes comuns e crimes próprios
· Comuns: cometidos por qualquer pessoa
· Próprios: exigem que o sujeito ativo seja especial ou qualificado, ex.: infanticídio.
0. Crimes instantâneos e permanentes
· Instantâneos: cuja consumação se dá com a única conduta e não produz resultado prolongado no tempo- ex.: furto, roubo 
· Permanentes: consumam com uma única conduta, embora a situação antijurídica gerada se prolongue no tempo até quando queira o agente – ex.: extorsão mediante sequestro, porte ilegal de arma, drogas
· Instantâneos de efeitos permanentes: consumada a infração em dado momento, os efeitos permanecem, independente da vontade do sujeito ativo– bigamia. Sendo assim, o resultado da conduta praticada pelo agente é irreversível (exemplo: o resultado morte do crime previsto pelo art. 121 é permanente, mas praticado de forma instantânea).
0. Crimes comissivos e crimes omissivos
· Comissivos – ação, atividade positiva do agente, um fazer
· Omissivos – abstenção; conduta negativa (omissivo por comissão – cometidos, normalmente através de uma abstenção, mas que podem ser excepcionalmente praticados pela ação de alguém – ex.: impedir alguém pela força física de socorrer pessoa ferida)  
· Omissivos impróprios ou comissivo por omissão – delitos de ação, restrita aos casos de quem tem o dever de impedir o resultado – art. 13 §2° CP- ex.: mãe que deixa de amamentar o filho causando-lhe a morte
0. Crimes de atividade e de resultado
· Atividade: ação humana esgotando a descrição típica, havendo ou não o resultado naturalístico, chamados de formais ou de mera conduta- ex.: art. 319- prevaricação; art. 150- invasão de domicílio
· Resultado: chamados de materiais – necessitam de resultado naturalístico – ou seja, furto, roubo, e se não se consuma pune-se pela tentativa. 
0. Crimes materiais, formais e de mera conduta (quanto ao resultado) 
· Materiais: resultado externo – ex.: morte, subtração, destruição etc.
· Crime formal: não há necessidade de realização daquilo que é pretendido pelo agente e o resultado jurídico previsto ocorre ao mesmo tempo em que se desenrola a conduta – ameaça, injuria – chamados de consumação antecipada. 
· Mera conduta – a lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando com a ação ou omissão do agente – ex.: violação do domicílio, omissão de notificação de doença. 
0. Crime de dano e crime de perigo
· Dano: são os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado.  
· Perigo: são os que se contentam para a sua consumação, com a mera probabilidade de haver dano. 
a. perigo individual: abrange apenas uma pessoa – perigo de contagio venéreo, abando de incapaz, abandono de recém nascido 
b. perigo coletivo: envolve número indeterminado de pessoas, como: usuário de drogas- saúde pública , incêndio, inundação etc.
c. perigo concreto: a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada, como: expor a vida ou a saúde de alguém a perigo.
0. Crimes unissubjetivos e crimes plurissubjetivos
· Unissubjetivos: praticados por uma só pessoa, como aborto, epidemia, homicídio, etc.
· Plurissubjetivos: somente podem ser praticados por mais de uma pessoa, como rixa, associação criminosa, bigamia, etc. 
0. Crime unissubsistentes e plurissubsistentes 
· Unissubsistentes: único ato para a pratica do crime, como injuria verbal, uso de documento falso. Não é admitido a tentativa. 
· Plurissubsistentes: admitem vários atos, os atos podem ser fracionados, como homicídio. 
0. Crimes progressivos e crimes complexos
· Crimes progressivos: um tipo abstratamente considerado contém implicitamente outro que deve ser necessariamente ser realizado para se alcançar o resultado. O anterior é simples passagem para o posterior e fica absorvido por este.
· Crimes complexos: um tipo penal é formado pela junção de dois ou mais tipos, como o roubo e o furto.
0. Progressão criminosa
· Evolução da vontade o agente- quer o agente lesionar a vítima, depois decide matar. Responde pelo mais grave. 
0. Crime /habitual
· Constituído de uma reiteração de atos, penalmente indiferente que constitui um todo, um delito apenas, traduzindo um modo ou estilo de vida. Como o exercício irregular da medicina, manter casa de prostituição. 
0. Crimes vagos 
· São aqueles em que o sujeito é uma coletividade destituída de personalidade jurídica, como família, amigos, grupos- violação de sepultura, aborto com o consentimento da gestante. 
0. Simples, qualificados e privilegiados
· Simples: contêm os elementos mínimos e determina seu conteúdo subjetivo sem qualquer circunstância que aumente ou diminua sua gravidade. 
· Qualificado: o tipo básico a lei acrescenta circunstancias que agravam a sua natureza, elevando os limites das penas.
· Privilegiado: quando a lei acrescenta ao tipo básico circunstâncias que o torna menos grave, diminuindo em consequências suas sanções, como o homicídio privilegiado. 
0. Crimes hediondos
· Crimes repugnantes, causando clamor público e intensa repulsa, são relacionados no artigo 1ª da lei 8072/90. 
0. Crime organizado 
· Organização criminosa é aquela que se demonstre a existência de estrutura criminal, operando de forma sistematizada, com planejamento empresarial, divisão de trabalho, pautas de condutas em códigos procedimentais rígidos. Lei 12. 694/12. 
0. Infrações de menor potencial ofensivo.
· As contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a dois anos – lei 9.099/95.

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