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VARIABILIDADE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE AÇUDES

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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental V - 034 
19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2080 
VARIABILIDADE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DE AÇUDES 
NORDESTINOS 
 
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos (1) 
Doutora em Ciências - Microbiologia Ambiental (USP- Brasil). Mestre em 
Microbiologia (EPM - Brasil). Graduada em Bioquímica (UNT - 
Argentina). Prof. Adjunta IV da Área Recursos. Hídricos/ Eng. Sanitária e 
Ambiental (AESA) - DEC - CCT - UFPb. Chefe do Laboratório de 
Saneamento Ambiental. 
Annemarie König. 
Doutora em Botânica - Univ. de Liverpool - UK. Graduada em Ciências 
Biológicas (UFSCar). Prof. Adjunta IV Área Recursos Hídricos/ Eng. 
Sanitária e Ambiental. (AESA) - DEC - CCT - UFPb. Coordenadora da Área de Eng. 
Sanitária e Ambiental (AESA). 
Celia Regina Diniz. 
Mestre em Eng. Civil - Área Recursos Hídricos/Eng. Sanitária e Ambiental. Graduada em Eng. 
Civil (AESA - DEC - CCT -UFPb). Professora Visitante da Univ. Estadual da Paraíba (UEPB 
- CCBS). 
Takako Watanabe. 
Doutora em Hidrobiologia - Univ. Paul Sabatier de Toulouse - França. Mestre em Ecologia e 
Graduada em Zoologia (Dep. Ciências Biológicas - UFSCar). Prof. Adjunta IV . Dep. de 
Ciências Naturais - CCEN - UFPb - Campus I. 
Sakaé de Vasconcelos Mishina. 
Estudante de Medicina (CCBS - UFPb). Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC - UFPb). 
 
Endereço(1): Rua Artur Monteiro Viana, 48 - Campina Grande - PA - CEP: 58109-140 - Tel: 
(083) 333-301 - Fax: (083) 310-1011 - e-mail: juan@paqtc.rpp.br. 
 
 
RESUMO 
 
As variações da qualidade da água de açudes nordestinos foram monitoradas em épocas de 
estiagens e de chuvas em 13 reservatórios situados em 5 microregiões homogêneas do Estado 
da Paraíba. Foram avaliados 16 parâmetros (temperatura, condutividade elétrica, pH, DBO5 , 
nitrogênio e fósforo, sólidos suspensos, cloretos, clorofila “a”, coliformes e estreptococos 
fecais, etc.). A variabilidade intra e inter-açudes foi influenciada pela geologia do terreno, as 
atividades na bacia de drenagem e o clima (estiagem e chuvas). As maiores flutuações foram na 
condutividade elétrica e nas bactérias indicadoras de contaminação fecal. Com base na 
condutividade, os açudes foram divididos em dois grupos: (1) < 850 ? mho/cm e (2) > 1.300 
?mho/cm. Em 80% das amostras de 6 açudes de menor condutividade, os coliformes fecais 
foram ? 1.000 UFC/100mL, impedindo o uso dessas águas para consumo humano sem 
tratamento prévio, irrigação irrestrita, aqüicultura e mergulho. Nos açudes de maior 
condutividade elétrica predominaram valores ? 2 UFC/100 mL de coliformes fecais; os 
estreptococos variaram entre 102 - 6,8x103 UFC/100 mL, evidenciando contaminação fecal 
elevada e não detectada pelos coliformes, provavelmente pela alta salinidade que inibe seu 
 
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desenvolvimento, enquanto que os estreptococos fecais são mais resistentes a estas condições. 
Os resultados destacam a importância de estreptococos como indicadores auxiliares de 
coliformes. Nas secas, a evaporação concentrou os sais e aumentou as taxas metabólicas 
(maior fotossíntesse, maior OD, maior clorofila “a” e menor ortofosfato). Séries temporais de 
dados como os aqui apresentados são importantes na tomada de decisões sobre os recursos 
hídricos do semi-árido nordestino. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da Água, Açudes Nordestinos, Coliformes Fecais, 
Estreptococos Fecais. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A construção de reservatórios de acumulação foi e ainda é a principal solução encontrada no 
Nordeste brasileiro para resolver os problemas de escassez de água e perenizar os rios 
temporários, secos a maior parte do ano. 
 
A política de açudagem iniciou-se com as grandes secas de 1825 a 1830 (Molle e Cadier, 
1992) e a partir da seca de 1887 (com mais de 500.000 mortes) começaram os projetos de 
grandes barragens. Estes foram incentivados a partir de 1909, com a criação da Inspetoria de 
Obras Contra as Secas (IFOCS, atual DNOCS) com sede em Campina Grande, PB, até 1935 
(Esteves, 1988). 
 
A implantação de barragens de uso múltiplo procurava também promover o desenvolvimento 
regional, possibilitando investimentos com base na água acumulada. Uma solução mais recente 
(em torno de 40 anos atrás) e complementar da anterior é a transposição, reversão ou 
transferência das águas intra e interbacias, o qual permitiria a irrigação de áreas extensas. 
Entretanto, medidas que envolvem grandes volumes de água (e custos elevados) poderão não 
ser duradouras se não forem acompanhadas de estudos sobre a qualidade dessas águas antes e 
após do represamento ou reversão, transferência, etc. Posteriormente, deverão ser aplicadas 
tecnologias práticas de preservação da qualidade. Muitos açudes atualmente cumprem apenas 
função paisagística no semi-árido pois foram abandonados pela elevada salinização (Laraque, 
1991) e outros, por estarem cobertos de algas que afetam a estética da massa de água e lhe 
conferem sabor e odor. 
 
A exploração harmônica dos recursos do solo e da água pressupõe o planejamento das ações 
que geram impactos ambientais como a ferti-irrigação, a criação de rebanhos, o abastecimento 
doméstico e industrial, pois esses efeitos revertem na alteração da qualidade das próprias águas 
represadas, impedindo seu uso para as finalidades originais. 
 
Sob a ótica da gestão ambiental, no que se refere aos benefícios econômicos, ambientais, de 
saúde da população e da prevenção da poluição ou da “contaminação” das águas mais limpas, 
é preciso avaliar a qualidade das águas das diferentes bacias e identificar as principais causas de 
sua alteração. 
 
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19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2082 
Antes da execução de qualquer projeto de manejo dos recursos hídricos nordestinos, deve-se 
considerar qual o impacto a ser produzido na própria qualidade da água, começando pelo 
represamento (aspectos geológicos, morfométricos e hidráulicos do açude), seguindo pelas 
atividades antrópicas na sua área de drenagem, assim como considerar medidas mitigadoras e 
de proteção. 
 
Neste trabalho apresentam-se, de forma comparativa, os resultados de duas campanhas de 
monitoramento da qualidade físico-química e sanitária da água de açudes paraibanos, para 
avaliar numa escala reduzida de amostragem, semelhanças e diferenças que devem ser 
consideradas nas tomadas de decisões. 
 
 
OBJETIVOS 
 
O presente trabalho teve como objetivos (1) analisar, de forma comparativa, a qualidade das 
águas represadas em açudes do Estado da Paraíba; (2) avaliar a variação da qualidade de 
diferentes pontos de amostragem num mesmo açude; (3) estudar as alterações da qualidade da 
água ao longo do ciclo hidrológico. 
 
 
METODOLOGIA 
 
As campanhas de monitoramento foram realizadas em um total de 13 açudes situados em 5 
microregiões homogêneas (Agreste da Borborema, Brejo Paraibano, Cariris Velhos, Curimataú 
e Depressão do Alto Piranhas) (Governo do Estado da Paraíba, 1985). A Tabela 1 e a Figura 
1 apresentam a localização geográfica dos corpos aquáticos e sua capacidade máxima de 
acumulação. Embora haja diferenças locais entre as 5 regiões, o clima predominante é o semi-
árido caracterizado por um “verão” quente e seco e um “inverno” chuvoso. A temperatura 
média varia entre 25 e 30?C, com mínimas em torno de 18?C e máximas de 34?C. As 
principais diferenças climáticas residem na distribuição e quantidade da precipitação 
pluviométrica. Como exemplos extremos pode-se citar as médias climáticas de 380 mm/ano 
nos Cariris Velhos e de 900 mm/ano no Brejo Paraibano (Governo do Estado da Paraíba, 
1992; Silva et alii, 1987). 
 
A primeira campanha, de longa duração (novembro 1989 - julho 1990) abrangeu uma época 
de estiagem e uma de chuva e consistiu no monitoramento quinzenal de 4 açudes de pequeno e 
médio porte (? 103 - ?105 m3). Nesta campanha foi incluído um açude de grande porte, o 
Açude Epitácio Pessoa, de > 500.000 m3, no qual o levantamento de dados se extendeu por 
dois anos (Setembro 1989 -Julho 1991). As coletas foram feitas a 30 cm da superfície, num 
único ponto, próximo àquele usado para a captação de água. A segunda campanha, de curta 
duração, se extendeu durante uma única estiagem (outubro - dezembro de 1995) e envolveu 8 
açudes, na sua maioria de grande porte (? 106 m3). A freqüência de monitoramento foi mensal 
e foram amostrados 3 pontos em cada açude: um próximo à barragem, outro no extremo 
oposto a este e o terceiro no centro. 
 
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Foram avaliados 16 parâmetros de qualidade, embora não todos eles foram analisados nos 13 
açudes. A Tabela 2 mostra os parâmetros escolhidos e os métodos utilizados. 
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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
 
As Tabelas 3, 4 e 5 mostram os valores médios dos parâmetros físico-químicos e sanitários dos 
13 açudes para os respectivos períodos de estudo. Houve grande variabilidade da qualidade da 
água armazenada nos 13 açudes. As diferenças mais acentuadas foram de condutividade 
elétrica (valores mínimos médios de 222 ?mho/cm e máximos de 7.060 ? mho/cm), da 
concentração de cloretos (22 - 148 mg/l), de sólidos suspensos (18 -2.521 mg/L), da biomassa 
de algas (3 - 6.000 ?g/l), de ortofosfato solúvel (0 - 180 ?g/l), de coliformes fecais (? 2 - 
6x103 UFC/100 mL ) e de estreptococos fecais (? 2 - 1,3x103 UFC/ 100 mL ). 
 
As diferenças na qualidade da água se relacionaram com as características geológicas de cada 
microregião homogênea (predominância de rochas cristalinas do pré-câmbrico, com resíduos 
sedimentares e extrusões de complexos gnáisticos, migmático-granodiorito, quartzitos, granitos, 
entre outros), do relevo (desde 400 até 1.000 m do nível do mar), com a época do ano e 
portanto com o regime de secas e chuvas, dependendo da precipitação pluviométrica e da 
maior ou menor evaporação e das contribuições da bacia, que exerceram forte pressão nas 
concentrações de sais e de nutrientes na massa de água e em conseqüência, na biomassa 
fitoplanctônica. A contaminação fecal foi elevada e associada aos métodos de coleta de água, a 
entrada de animais, e ao escoamento superficial. Estes resultados alertaram para problemas de 
saúde do sertanejo, associados ao uso de águas poluídas, onde se destacam as diarréias 
recorrentes e parasitoses diversas (Ceballos, 1990). 
 
No conjunto de açudes de grande porte, monitorados apenas durante o período de seca 
(Tabelas 3 e 4), foi observado que um mesmo reservatório apresentava grande variação da 
qualidade entre os três pontos amostrados, sendo mais constantes os pontos centrais. O açude 
São Mamede chamou a atenção pelos valores extremos de condutividade elétrica: 415 e 2350 
?mho/cm em dois pontos diferentes, num mesmo dia de coleta. O açude de Soledade, pelo 
contrário, teve salinidade elevada com a condutividade elétrica mais alta de todas as observadas 
em todos os pontos e não apresentou flutuações entre os três locais (7.040 -7.060 ?mho/cm). 
Este açude, com uma capacidade máxima de 27.058.000 m3 é um exemplo de reservatório 
inutilizado pela salinização excessiva. O açude de Santa Luzia (11.960.000 m3) também 
apresentou condutividade elevada e pouco variável (1336 - 1367 ? mho). Este açude está 
situado numa região fisiográfica diferente à anterior mais ambas apresentam pluviosidade baixa 
(entre 380 e 500 mm) em relação aos outros corpos aquáticos monitorados. No semi-árido, a 
geologia do terreno contribui com abundantes sais nas águas superficiais, sendo predominantes 
entre os ânions, cloretos, HCO3 - SO4 =e CO3 = e entre os cátions: Na+ e Ca++. A evaporação 
excessiva, que às vezes supera a precipitação (balanço hídrico negativo), junto com longos 
períodos de detenção hidráulica favorecem a concentração de sais. Valores extremos de sais já 
foram observados por Wright (1981), nos seus estudos pioneiros em 1934. Vale a pena 
mencionar que a instalação de drenos no fundo dos açudes permitiriam a retirada periódica dos 
sais acumulados, retardando a salinização (Molle e Cadier, 1992); entretanto são raríssimos os 
reservatórios que tem este dispositivo. 
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Com base na condutividade, o grupo de açudes monitorados na segunda campanha foi 
separado em dois conjuntos: os que apresentaram valores superiores a 1.300 ?mho/cm (São 
Mamede, Santa Luzia e Soledade) e os que tiveram valores inferiores a 850 ? mho/cm 
(Condado, São Gonçalo, Malta, Jatobá e Pia); todos estes últimos localizados na microregião 
homogênea do Alto Piranhas. 
 
No conjunto de açudes estudados na segunda campanha (Tabela 5), monitorados ao longo de 
um ano (exceto o Açude Epitácio Pessoa) e portanto abrangendo uma época seca e uma outra 
chuvosa, foi verificado que os maiores valores de cloreto e condutividade elétrica ocorreram na 
época seca, evidenciando mais uma vez o efeito da evaporação na concentração dos sais. 
Também nesta época se verificaram os maiores valores de pH e de clorofila “a” e os menores 
de ortofosfato solúvel, sugerindo a absorção deste nutriente na biomassa das algas, devido a 
uma maior taxa metabólica e associada com a elevada temperatura. Os maiores teores de 
fósforo total, amônia e nitratos observados na época chuvosa se relacionam com os aportes 
exógenos da bacia de drenagem e com o menor tempo de detenção hidráulica dos reservatórios 
nessa época, que não favorecia sua assimilação pelo fitoplâncton, nem sua sedimentação 
(Ceballos, 1995). 
 
Devem-se ressaltar os resultados para coliformes e estreptococos fecais, parâmetros estes 
raramente pesquisados nos açudes nordestinos, apesar de sua importância sanitária. No geral, 
os estudos sobre a qualidade das águas do semi-árido se restringem a parâmetros de salinidade, 
descuidando-se dos aspectos de saúde pública. Todos os reservatórios apresentaram 
contaminação fecal elevada (expressa pelas concentrações de coliformes fecais e/ou 
estreptococos fecais), condenando seu uso para consumo humano sem tratamento prévio. 
 
Cinco destes açudes apresentaram valores de coliformes fecais >1.000 UFC/100 mL em mais 
de 50% das amostras analisadas. Deve-se observar que a maioria da população sertaneja tem 
no açude sua única fonte de água e as conseqüências das deficiências bacteriológicas são as 
diarréias endêmicas causadas por agentes patogênicos de veiculação hídrica (Bio, 1993). 
 
Aplicando a legislação brasileira (CONAMA 20/86), muitos desses açudes não apresentam 
águas apropriadas para irrigação irrestrita (? 200 UFC coliformes fecais/100 ml) nem para 
irrigação de plantas frutíferas e aqüicultura (? 1.000 UFC coliformes fecais/100 ml) e alguns 
nem para irrigação de plantas cerealíferas e dessedentação de animais (? 4.000 UFC 
coliformes fecais / 100 m). Mais de 80% não se apresentaram aptos para o mergulho (? 1.000 
UFC coliformes fecais /100 ml). Apesar que os valores limites de coliformes fecais impostos 
pela legislação podem ser discutidos (assim como os de estreptococos fecais da EPA: ? 33 
UFC/100 ml como padrão para balneabilidade), servem como uma referência da adequação de 
uma água para determinados fins. 
 
É também importante destacar que nos açudes São Mamede e Soledade os coliformes fecais 
estiveram ausentes, o qual poderia ser interpretado como ausência de contaminação fecal. 
 
Entretanto, os estreptococos fecais foram positivos em 100% das amostras. Para a 
interpretação destes resultados deve-se considerar, entre outros fatores, à elevada salinidade 
dessas águas, que podem ter provocado o decaimentodos coliformes e não dos estreptococos 
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(Dufour, 1977; Geldreich, 1990). Efetivamente, os estreptococos fecais (e em particular o 
subgrupo dos enterococos) são mais resistentes a concentrações salinas elevadas (Bartlez and 
Slanetz, 1960; Dutka, 1973; APHA, 1995). Portanto, em açudes com elevada condutividade 
elétrica é aconselhável pesquisar ambos grupos de bactérias indicadoras de contaminação fecal. 
 
O estudo no Açude Epitácio Pessoa durante dois anos permitiu comparar a variabilidade da 
qualidade da água entre duas épocas secas e duas de chuvas. As maiores diferenças foram 
obtidas para nitratos e bactérias indicadoras de contaminação fecal, ambas variáveis 
relacionadas com a maior ou menor atividade agrícola (fertilização orgânica) na bacia de 
drenagem. 
 
Conclui-se que as águas represadas apresentaram acentuadas diferenças de qualidade, tanto 
entre os açudes como num mesmo açude, segundo o ponto amostrado e o período do ciclo 
hidrológico (seco ou chuvoso). Séries temporais de dados como os aqui apresentados e 
integrando um maior número de reservatórios são de interesse na tomada de decisões sobre os 
recursos hídricos do semi-árido nordestino. 
 
 
 
 
 
Figura 1 
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Tabela 1- Localização dos Açudes nas Microregiões Homogêneas 
Açude Microregião Capacidade Máxima 
(m3) 
Judite e Ligeiro Agreste da Borborema 
(97) 
? 100.000 
Lagoa de Roça Brejo Paraibano 
(98) 
? 100.000 
Fazenda Corredor Curimataú 
(91) 
? 100.000 
Pia Depressão do Alto 
Piranhas 
? 100.000 
Epitácio Pessoa 
(Boqueirão) 
Cariris Velhos 
(96) 
535.680.000 (1) 
Engenho Arcoverde 
(Condado) 
Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
35.000.000 (3) 
São Gonçalo Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
44.600.000 (2) 
Jatobá Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
17.516.000 (5) 
São Mamede Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
15.791.280 (6) 
Santa Luzia Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
11.960.000 (7) 
Soledade Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
27.058.000 (4) 
Malta Depressão do Alto 
Piranhas (95) 
10.000.000 (8) 
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19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2088 
Tabela 2 - Parâmetros Analisados e Métodos Utilizados. 
Parâmetro Método Analítico Referência 
Temperatura 
(T°) 
termômetro de filamento de mercúrio APHA, 1992 
 
pH 
 
eletrométrico 
 
APHA, 1992 
 
Turbidez 
 
turbidímetro 
 
APHA, 1992 
 
Condutividade Elétrica (CE) 
 
eletrométrico 
 
APHA, 1992 
 
Oxigênio Dissolvido 
(OD) 
 
Winkler, modificação da azida 
 
APHA, 1992 
 
Demanda Bioquímica de 
Oxigênio 
(DBO5) 
 
Sólidos Totais 
(ST) 
 
frascos padrões de DBO 
 
 
 
gravimétrico 
 
APHA, 1992 
 
 
 
APHA, 1992 
 
Sólidos Suspensos 
(SS) 
 
gravimétrico 
 
APHA, 1992 
 
Cloreto 
 
argentométrico 
 
APHA, 1992 
 
Alcalinidade 
 
titulométrico 
 
APHA, 1992 
 
Dureza 
 
titulométrico 
(EDTA) 
 
APHA, 1992 
 
Nitrato 
 
espectrofotométrico 
(salicilato de sódio) 
 
RODIER, 1981 
 
Ortofosfato Solúvel 
 
 
espectrofotométrico 
(ácido ascórbico) 
 
APHA, 1992 
 
Fósforo Total 
(PT) 
 
espectrofotométrico 
(ácido ascórbico - pré-digerido) 
 
APHA, 1992 
 
Clorofila a 
 
 
espectrofotométrico 
(metanol 100%) 
 
Jones, 1979 
 
Coliformes fecais 
(CF) 
 
membrana filtrante 
(m-FC) 
 
APHA, 1995 
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Estreptococos fecais 
(EF) 
membrana filtrante 
(m-Enterorococcus Agar) 
APHA, 1995 
Tabela 3 - Características Físico-Químicas e Sanitárias de Açudes do Semi-Árido 
Paraibano Caracterizados Pela Condutividade Elétrica < 850 ? mho (Período de Seca: 
Outubro à Dezembro de 1995). 
Açudes/pontos Condado São Gonçalo Malta 
Parâmetro 
(unidade) 
P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3 
pH 8,13 8,04 8,04 7,90 7,61 7,55 8,45 8,32 8,35 
CE ( ?mhos/cm) 232 224 222 234 234 235 405 418 484 
OD (mg/L) - - - 9 9,7 8,0 - - - 
DBO5 (mg/L) 2 5 2 3 6 1 3 5 8 
ST (mg/L) - - - - - - - - - 
SS (mg/L) - - - 34 32 30 34 34 30 
Amônia (mg/L) 0,13 0,00 0,48 0,35 0,32 0,40 0,57 0,35 0,67 
Ortofosfato 
(mg/L) 
0,02 0,01 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 0,03 0,02 
PT (mg/L) 0,04 0,05 0,07 0,13 0,03 0,05 0,06 0,03 0,18 
Clorofila a (?g/L) - - - 1700 1250 3300 600 - 120 
CF 
(UFC/100mL) 
8,1 x 
103 
30 2,7 x 
103 
1,7 x 
103 
1,3 x 
103 
1,3 x 
103 
6 x 102 < 2 1,2 x102 
EF 
(UFC/100mL) 
2 x 102 < 2 1,6 x 
102 
< 2 1,3 x 
103 
3 x 102 10 < 2 70 
 
 Jatobá Pia 
Parâmetro 
(unidade) 
P1 P2 P3 P1 P2 P3 
pH 2,42 8,30 8,22 8,87 8,85 8,68 
CE (?mhos/cm) 250 257 255 839 843 844 
OD (mg/L) - - - - - - 
DBO5 (mg/L) 2 1 1 96 91 47 
SS (mg/L) 37 30 28 228 2521 830 
Amônia (mg/L) 041 022 031 5,19 8,18 9,46 
Ortofosfato 
(mg/L) 
0,03 0,04 0,00 0,04 0,02 0,02 
PT (mg/L) 1,34 0,04 0,04 0,35 4,51 0,14 
Clorofila a 
(? g/L) 
- 600 500 6000 5100 600 
CF 
(UFC/100mL) 
103 6x102 5x102 6x103 5,1x10
3 
6x102 
EF 
(UFC/100mL) 
20 <2 60 1x102 3x102 1x102 
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Tabela 4 - Características Físico-Químicas e Sanitárias de Açudes do Semi-Árido 
Paraibano Caracterizado pela Condutividade Elétrica ? 1300 ? mho (Período de Seca: 
Outubro à Dezembro de 1995). 
 São Mamede Santa Luzia Soledade 
Parâmetro P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3 
pH 8,35 8,58 8,18 8,00 8,80 8,10 8,40 8,45 8,43 
CE (? mhos/cm) 415 -
1531 
412 - 
2350 
484 - 
2240 
1336 1336 1367 7040 7050 7060 
OD (mg/L) 8,80 10,20 10,40 - - - - - - 
DBO5 (mg/L) 3 4 4 2 1 2 4 5 4 
SS (mg/L) 60 59 42 18 74 47 43 82 53 
Amônia (mg/L) 1,95 1,38 1,10 0,89 0,63 2,40 1,36 3,87 5,17 
Ortofosfato 
(mg/L) 
0,18 0,033 0,022 0,013 0,001 0,035 0,069 0,077 0,095 
PT (mg/L) 0,192 0,573 0,153 0,235 0,082 0,030 0,105 0,225 0,196 
Clorofila a (? g/L) - - - 500 - 130 - - - 
CF 
(UFC/100mL) 
< 2 < 2 < 2 5 x 102 - 1,2 x 
102 
< 2 < 2 < 2 
EF 
(UFC/100mL) 
6,8 x 
102 
1,3 x 102 3,2 x 102 20 < 2 90 2,3 x 
102 
1 x 102 < 2 
ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental V - 034 
19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2092 
Tabela 5 - Características Físico-Químicas de 5 Açudes do Semi-Árido Paraibano. 
Açude/Época Judite Ligeiro Lagoa de Roça 
Parâmetros Seca (1) Chuva 
(2) 
Seca (1) Chuva (2) Seca (1) Chuva 
(2) 
T (°C) 28 28 28 28 27 27 
pH 8,2 8,3 7,9 7,8 7,7 7,8 
Turbidez 3 3 76 31 16 21 
OD (mg/L) 7,9 8,4 7,6 7,6 7,8 7,6 
DBO5 (mg/L) 2 4 16 10 3 2 
Nitrato 0,33 0,12 0,57 0,56 1,18 0,28 
Ortofosfato (mg/L) 0,02 0,03 0,09 0,12 0,01 0,06 
Alcalinidade 43 26 49 26 18 13 
Cloreto 148 138 22 23 64 74 
Dureza 172 246 109 153 73 92 
Clorofila a (µg/L) 9 3 43 16 3 3 
CF (UFC/100mL) 2,5 x 102 29 1,5 x 103 65 1 x 102 54 
EF (UFC/100mL) 1,9 x 102 1,1 x 102 9,4 x102 3,7 x 102 3,5 x 102 1,7 x 102 
 
 
 Fazenda Corredor Epitácio Pessoa 
 Seca (1) Chuva (2) Seca (3) Chuva (4) Seca (5) Chuva (6) 
T 27 26 23,5 26,3 25,6 23,8 
pH 8,2 7,2 8,2 8,2 9 8,6 
Turbidez 37 77 - - 8,5 9 
OD 7,3 7,9 8,5 8,5 0,5 2,2 
DBO5 6 9 0,5 5 2 3 
Nitrato 3,24 0,75 0,56 0,21 0,3 0,06 
Ortofosfato 0,07 0,12 0 0,01 0 0 
Alcalinidade 56 24 - - 126 - 
Cloreto 63 52 - - 303.9 - 
Dureza 166 168 - - - - 
Clorofila a 34 28 1,9 2,9 25 7,3 
CF 1,4 x 102 4,x 102 611 5 15 40 
EF 9,3 x 102 7,1 x 102 39 10 103 226 
Onde: Seca(1) - Novembro/89 - Março/90 
Seca(3) - Setembro/89 - Janeiro/90 
Seca(5) - Setembro/90 - Fevereiro/91Chuva(2) - Abril/90 - Julho/90 
Chuva(4) - Fevereiro/90 - Julho/90 
Chuva(6) - Março/91 - Julho/91 
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19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2093 
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