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MÓDULO DE: 
 
PSICOPATOLOGIA E EXAMES PSICOLÓGICOS 
 
 
 
 
 
AUTORIA: 
 
LUCIANA GENELHÚ ZONTA 
 
 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
2
Módulo de: Psicopatologia e Exames Psicológicos 
 
Autoria: Luciana Genelhú Zonta 
 
Primeira edição: 2009 
 
 
CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS 
 
Várias Marcas Registradas São Citadas No Conteúdo Deste Módulo. Mais Do Que 
Simplesmente Listar Esses Nomes E Informar Quem Possui Seus Direitos De Exploração Ou 
Ainda Imprimir Logotipos, O Autor Declara Estar Utilizando Tais Nomes Apenas Para Fins 
Editoriais Acadêmicos. 
Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, 
beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas 
de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. 
E Por Fim, Declara Estar Utilizando Parte De Alguns Circuitos Eletrônicos, Os Quais Foram 
Analisados Em Pesquisas De Laboratório E De Literaturas Já Editadas, Que Se Encontram 
Expostas Ao Comércio Livre Editorial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
3
Apresentação 
A relevância da Psicopatologia concentra-se na contribuição que a mesma presta a todo o 
grupo das ciências humanas, colabora com psiquiatras, psicólogos e sociólogos. Até mesmo 
o historiador tem necessidade de conhecer os princípios fundamentais da Psicopatologia, 
pois somente assim poderá descrever e compreender determinados comportamentos de 
líderes políticos que tentaram mudar os destinos da humanidade. 
Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque 
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos 
anormais de graves consequências para o país (PAIM, 1993). 
 
 
Objetivo 
Compreender os principais sintomas das doenças psicológicas e relacionà-los aos exames 
psicológicos. 
 
Ementa 
História da Psicopatologia. Desenvolvimento da Personalidade. Psicopatologia e psicologia 
do normal. Escolas principais da psicopatologia. Funções Psíquicas Elementares e suas 
alterações. Psicopatologia e doença mental. Transtornos por uso de substâncias. 
Transtornos psicóticos. Transtornos da personalidade. Testes psicológicos e suas práticas. 
 
 
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4
Sobre o Autor 
Possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Espírito 
Santo (2002). É especialista pela PUC/SP em Economia e Gestão das Relações de Trabalho 
(2004). Mestranda em Administração, pela FUCAPE Business School (2009). 
 
 
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5
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 .............................................................................................................................. 8 
Contextualização Histórica .................................................................................................... 8 
UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 12 
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 12 
UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 20 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ................................................................... 20 
UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 37 
Psicopatologia e psicologia do normal ................................................................................ 37 
UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 47 
Funções Psíquicas e suas alterações ................................................................................. 47 
UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 54 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais, 
senso-percepção e representações, memória) ................................................................... 54 
UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 57 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor) ......................... 57 
UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 61 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO)................................ 61 
UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 68 
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução ........................................................ 68 
UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 73 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE ...................................................... 73 
UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 93 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE ....................................................... 93 
UNIDADE 12 ........................................................................................................................ 115 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA ......................................... 115 
UNIDADE 13 ........................................................................................................................ 126 
EXEMPLOS CLÍNICOS ..................................................................................................... 126 
UNIDADE 14 ........................................................................................................................ 133 
 
 
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6
Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO ..................................................... 133 
UNIDADE 15 ........................................................................................................................ 145 
Classificação das doenças psicológicas ........................................................................... 145 
UNIDADE 16 ........................................................................................................................ 148 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO ............................................... 148 
UNIDADE 17 ........................................................................................................................ 164 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA ....................................... 164 
UNIDADE 18 ........................................................................................................................ 165 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS .................. 165 
UNIDADE 19 ........................................................................................................................ 179 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT ......................... 179 
UNIDADE 20 ........................................................................................................................ 181 
Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR............................. 181 
UNIDADE 21 ........................................................................................................................184 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN .................. 184 
UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 188 
Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS ............................. 188 
UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 189 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
BORDERLINE ................................................................................................................... 189 
UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 191 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA ................................................ 191 
UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 192 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO ............. 192 
UNIDADE 26 ........................................................................................................................ 194 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
 .......................................................................................................................................... 194 
UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 197 
OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ......................................................... 197 
UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 204 
TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ............................................................... 204 
UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 209 
 
 
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Instrumentos psicológicos utilizados em seleção profissional ........................................... 209 
UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 214 
VISÃO GERAL DE TESTES PSICOLÓGICOS ................................................................. 214 
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 226 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 227 
 
 
 
 
 
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8
UNIDADE 1 
Objetivo: Oferecer instrumentos teóricos para o estudo e a reflexão da psicopatologia, 
visando à compreensão crítica do conteúdo 
Contextualização Histórica 
A análise etimológica da palavra "Psicopatologia" é composta de três termos gregos: 
psychê, que produziu psique, psiquismo, psíquico, alma; pathos, que resultou em paixão, 
excesso, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento, patológico e logos, que 
resultou em lógica, discurso, narrativa, conhecimento. 
Psicopatologia seria, então, um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer 
psíquico. 
O atual cenário psicopatológico representa a evolução de um contexto histórico-político 
marcado por várias fases, cada uma com referências próprias e diferentes perspectivas 
teórico-clínicas. 
Na Grécia pré-socrática, o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a 
hybris dos homens (Pessotti, 1995). 
Platão dá uma visão completamente nova da psychê ao considerá-la como composta por 
três almas: uma racional, o logos, uma afetivo-espiritual e uma terceira que seria apetitiva. 
Para Platão, a loucura atestaria o desarranjo no equilíbrio das três componentes da psychê, 
fazendo com que a parte racional, o logos, perdesse o controle. 
A visão medieval da loucura está intimamente associada, ou mesmo identificada, à 
possessão demoníaca. Esta perspectiva ganha espaço à medida que a hegemonia do 
cristianismo se impõe. 
Enquanto no século XVII às categorias platônicas são acrescentadas às teorias da loucura, o 
século XVIII é marcado por uma psicopatologia desordenada. As classificações são ora 
 
 
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extremamente abrangentes, o que as torna pouco úteis, ora drasticamente limitadas, 
tornando-as de difícil confirmação. No início do século XVIII o pensamento médico em 
relação às "doenças do espírito" e a prática do internamento permaneceram estranhos um ao 
outro; no final desse século as duas correntes - pensamento e prática - sofrem uma primeira 
convergência, embora não se tratasse ainda de uma conscientização de que os internos 
eram doentes (Foucault apud Ceccarelli, 2005). 
Desse modo, a psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são 
considerados dois grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram 
mais à atitude da sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos 
dessa ciência. O primeiro com a postura de Philippe Pinel1 estudioso que abordou as 
doenças mentais como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social, 
em oposição às opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. Já no final do 
século XX ocorreu o segundo, quando tendências agrupadas sob a denominação genérica 
de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social) passaram a recomendar o fim dos 
manicômios e a integração do psicopata à sociedade, mediante técnicas específicas. 
A partir do século XIX, adotou-se uma perspectiva essencialmente anátomo-clínica, ou seja, 
voltada para a descrição clínica e a busca de lesões orgânicas causadoras do quadro 
mórbido. Fase diversa se inicia com o advento da psicanálise, na qual se consagra uma 
posição, adotada por Freud2, que descarta os fundamentos somáticos das perturbações 
mentais e afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos, obtendo acesso à 
consciência, por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que a sistemática do 
nosso cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica, isto é, a mente 
desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseados em imagens, as 
quais são meras representações de significados latentes. 
 
1 Médico, pioneiro no tratamento dos doentes mentais, considerou as doenças mentais como resultados de 
tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos, 
desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão 
demoníaca 
2 Médico, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, 
abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise 
 
 
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No início do séc. XX surge outro tipo de abordagem, o behaviorismo de John B. Watson3 
para quem grande parte dos quadros mórbidos ou patológicos admite interpretação em 
termos de aprendizagem. Daí deriva a prática de implantar controles que visam à inibição da 
conduta desajustada. A corrente fenomenológica se caracteriza metodologicamente pela 
intenção de captar o significado da relação assumida entre o paciente e o mundo. Nessa 
abordagem, omite-se a referência aos processos neurofisiológicos e se considera básica a 
noção de referência intencional, numa dimensão existencial. 
Assim, a psicopatologia chega à contemporaneidade, tema da Unidade 2. 
Complemente sua leitura com os textos abaixo listados. 
 
 
 LEITURA COMPLEMENTAR 
CARRARA, K.Behaviorismo Radical: crítica e metacrítica. São Paulo: FAPESP, 1998. 
Disponível em: 
http://www.cemp.com.br/novo/dados/upload/Origens%20do%20Behaviorismo.pdf 
FACCHINETTI, C. Philippe Pinel e os primórdios da Medicina Mental. Rev. latinoam. 
psicopatol. fundam. [online]. 2008, vol.11, n.3, pp. 502-505. ISSN 1415-4714. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1415-
47142008000300014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt 
THA, F. Representação e pensamento na obra freudiana: preliminares para uma 
abordagem cognitiva. Ágora (Rio J.) [online]. 2004, vol.7, n.1, pp. 109-128. ISSN 1516-1498. 
 
 
3 Ficou muito conhecido pela publicação do chamado "manifesto behaviorista": um conjunto de palestras 
publicadas em forma de artigo em 1913 no qual defendeu o abandono da introspecção e a adoção da 
observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. O manifesto 
behaviorista coordenou muitas das manifestações esparsas que já vinham criticando o método introspectivo e 
se tornou um marco histórico na psicologia 
 
 
 
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doi: 10.1590/S1516-14982004000100007. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151614982004000100007&script=sci_abstract 
 
STRAPASSON, B. A. John B. Watson, o cuidado psicológico do infante e da criança: 
possíveis conseqüências para o movimento behaviorista. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 
2008, vol.20, n.2, pp. 629-636. ISSN 1984-0292. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S198402922008000200023&lng=en&nrm
=iso&tlng=pt 
Links Relacionados 
Laboratório de Psicopatologia Fundamental – PUC/SP 
http://www.psicopatologiafundamental.org/ 
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1415-4714 
 
 
 
 
 
 
 
 
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12
UNIDADE 2 
Objetivo: Contextualizar a psicopatologia no cenário atual. 
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE 
Tânia Maria José Aiello Vaisberg 
 
Como sabemos, a Psicopatologia é uma disciplina teórica que fundamenta ações 
psiquiátricas, psicoterapêuticas, psicodiagnósticas e psicoprofiláticas. Os 
autores concordam em atribuir à obra de Jaspers (1913), Psicopatologia Geral, o papel de 
marco inaugural, o que nos permite considerar que se trata de uma ciência relativamente 
nova, com cerca de um século de existência. 
Etimologicamente, o termo significa estudo do sofrimento psíquico. Trata-se, portanto, de um 
modo moderno de focalizar uma questão absolutamente antiga e essencial, a do sofrimento 
que parece inerente à condição humana (Ferry, 2007). Entretanto, sendo, de fato uma 
ciência humana, a Psicopatologia não é um campo unificado de saber, mas abrange, antes, 
uma grande diversidade de hipóteses, explicações e teorias, que se vinculam a diferentes 
referenciais teóricos. Cada referencial, por sua vez, não se limita às suas afirmações 
manifestas, mas assenta-se sobre determinadas visões do que é o homem, do que é o 
mundo, do que é o processo de produção de conhecimento. Em outros termos, partem de 
ontologias, antropologias e epistemologias distintas. Deste modo, não nos deve surpreender 
o fato de terem sido identificados nada menos do que catorze enfoques teóricos da 
psicopatologia (Ionescu,1994). 
Entretanto, um grande número de estudiosos reconhece que o campo pode ser bem 
organizado, em seu estado atual, a partir da distinção de três grandes correntes: a 
neurobiológica, a psicanalítica e a sociológica. Enquanto a primeira privilegiaria a importância 
 
 
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causal da dimensão orgânica e a terceira apostaria na produção social do sofrimento 
psíquico, a psicanálise tanto ignoraria os determinantes somáticos como os sociais, para 
destacar o papel do aparelho psíquico. Estas três correntes são, muitas vezes, consideradas 
à luz das afinidades que mantém com ideologias políticas, de modo que os organicistas são 
considerados de direita, os sociólogos de esquerda e os psicanalistas como esquerdistas 
que tem deslizado, ao longo dos anos, para o centro (Zefaradian,1988). 
Ainda que bastante popular esta divisão em três correntes não deixa de ser simplista e até 
certo ponto ingênua, uma vez que tributária de uma visão positivista segundo a qual cada 
ciência tem direitos de exclusividade sobre determinados objetos. Além disso, está 
basicamente não atualizada, uma vez que não é correto identificar a Psicanálise à 
metapsicologia clássica. Assim, o ramo que detém o domínio do corpo biológico clamaria 
pela “posse” do fenômeno do sofrimento psíquico numa luta contra sociólogos e psicanalistas 
que, estudando a sociedade ou a mente inconsciente, fariam idêntica reivindicação. 
No entanto, se considerarmos que o fenômeno humano é uma complexidade não passível de 
ser reduzida a elementos mais simples, mas um todo, que deve ser abordado como tal, 
chegará à conclusão de que as diferentes ciências humanas, entre as quais se deveriam 
incluir a biologia humana, lidam com um mesmo e único fenômeno (Bleger, 1963). Nesta 
perspectiva, cessam as disputas em favor do reconhecimento de que tanto há espaço para 
uma biologia, como para uma psicanálise ou uma sociologia voltadas, todas elas, ao estudo 
do sofrimento psíquico-emocional. 
Sendo assim, nenhuma descoberta em qualquer desses campos de conhecimento, anularia 
os outros dois, tornando-os inúteis ou supérfluos. Por outro lado, o uso ideológico de um ou 
outro modelo, seja para negar a concorrência das dimensões sociais, seja para negar o valor 
da subjetividade individual, seja para negar a importância do corpo, será mais facilmente 
neutralizado, se prevalecer uma lucidez epistemológica. 
A constituição da Psicopatologia, como ciência moderna, ligou-se, fundamentalmente, à 
crença, já existente, de que o sofrimento psíquico teria, forçosamente, uma base material. 
Mais do que uma hipótese, esta era e é, para muitos, uma convicção que, entretanto, não 
 
 
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garantiu a descoberta imediata da etiologia da maior parte das chamadas doenças mentais, 
cuja causalidade continua, em sua maior parte, obscura. 
Passaram-se algumas décadas antes que se tornasse aceita a idéia de que a sociedade 
desempenhava importante papel na produção do sofrimento psíquico (Miles,1981). Hoje é 
claro para a maioria dos estudiosos que o fato de existirem determinantes orgânicos não 
anula a importância das condições concretas da vida social no surgimento de manifestações 
psicopatológicas. 
Deste modo, não surpreende que as relações existentes entre Psicopatologia e 
contemporaneidade possam interessar tanto a clínicos como a pesquisadores. 
Um fenômeno chama, desde o inicio, nossa atenção. Trata-se do fato de ocorrer uma relativa 
diminuição dos quadros mais conhecidos e melhor definidos, vale dizer, da neurose e da 
psicose, em favor de um aumento expressivo dos chamados quadros limites ou borderlines. 
O tema já foi bastante explorado por autores da estatura de um Bergeret (1974), que 
sistematizou uma Psicopatologia Psicanalítica tripartite, seguindo indicações freudianas, no 
interior da qual distinguia as estruturas neurótica e psicótica, ligadas fundamentalmente a 
angústias de fragmentação e castração, ao lado do que denominava organizações limites, 
que, possuindo caráter antidepressivo, exteriorizar-se-iam em termos clínicos como 
agressividade, adição, distúrbios alimentares, depressões, psicossomatoses e normopatias. 
Encontramos uma organização similar, igualmente tripartite, no contexto do pensamento 
winnicottiano, o que, a nosso ver, pode ser considerado como uma Psicopatologia explícita. 
Aceita, assim, a existência de neuróticos, psicóticos e borderlines, mas afirma, curiosamente,que os neuróticos teriam simplesmente desaparecido na Inglaterra, pois já teriam feito um 
trabalho de desenvolvimento pessoal por meio do acesso a grandes obras, literárias e 
musicais, da cultura ocidental (Winnicott, 1963). Entretanto, pode-se captar ao longo de sua 
brilhante obra, a vigência do que temos designado uma Psicopatologia implícita, no interior 
da qual os quadros conhecidos corresponderiam a arranjos de caráter meramente defensivo 
contra a impossibilidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea. 
 
 
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transformadora de si e do mundo. Surge aqui uma contribuição inestimável à Psicopatologia 
Psicanalítica, que permite uma compreensão das demandas que nos chegam, atualmente, 
na clínica psicológica, em variados contextos institucionais, que ultrapassa a mera 
consideração do registro defensivo, neurótico, psicótico ou borderline. 
Esta possibilidade de sentir-se vivo e real como condição de sanidade verdadeira surgiu, é 
importante lembrar, num contexto de teorização que retoma uma valorização do ambiente 
que a Psicanálise abandonara desde o tempo em que Freud substituiu a teoria da sedução 
para privilegiar as fantasias desejantes como elementos determinantes das neuroses 
(Laplanche e Pontalis,1967). 
Ora, como teoriza mantendo uma grande proximidade em relação ao acontecer clínico, 
Winnicott não pensa o individuo de modo abstraído das condições concretas nas quais sua 
vida tem lugar, evitando naturalmente abstrações metapsicológicas e enfatizando a 
importância do ambiente. Como sabemos, Winnicott inspira-se no bebê para pensar o 
humano porque, em sua obra, o bebê é um dos modos de ser pelos quais a natureza 
humana se manifesta. 
Assim, não tem sentido, a nosso ver, pensar, como fazem alguns que o ambiente só tem 
importância na vida do bebê e não na vida do adulto, como se tornar-se adulto pudesse 
significar transcender a dimensão de coexistência que caracteriza a condição humana. 
Entendemos que a contribuição winnicottiana sustenta que o ambiente é absolutamente 
fundamental ao longo de toda a vida individual. 
Valorizar o ambiente significa, então, reconhecer que as condições concretas de vida, 
prevalentes na sociedade contemporânea globalizada, desempenham importante papel na 
geração do sofrimento psíquico emocional. Claro está que não queremos dizer que a vida 
tem sido fácil, no planeta, ao longo da História e que só hoje enfrentamos dificuldades. A 
leitura de um livro bastante atraente, na medida em que muito claro e simultaneamente 
rigoroso, o Aprenda a Viver: Filosofia para Novos Tempos (Ferry, 2007) convence no sentido 
de lembrar como a condição humana, ao conjugar finitude e autoconsciência, é 
inerentemente geradora de sofrimento, o que, segundo este autor, motiva o nascedouro de 
 
 
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duas importantes realizações humanas: a filosofia e a religião. Entretanto, muitos pensam 
que a vida atual, na qual os ideais estão ausentes e parecem substituídos por frenesis 
fundamentalistas de consumo (Santos, 2001), traz consigo um quadro novo, desconhecido 
em épocas históricas anteriores. A vida perde sentido e torna-se, deste modo, 
verdadeiramente absurda, o que gera sofrimento emocional importante. Não se trata, assim, 
de negar a importância de dimensões orgânicas, de amadurecimento emocional ou mesmo 
de exercício ético de escolha de posições existenciais mais construtivas e solidárias – que 
podemos presenciar mesmo em pessoas que se mantém a expensas de um falso self 
cuidador, mas de reconhecer que o mundo em que vivemos pode dificultar enormemente a 
constelação do sentir-se vivo e real numa vida que valha a pena. 
Num primeiro momento, podemos pensar que o sentir-se vivo e real seja o que se pode 
chamar de “problema de foro íntimo”. Esta dissociação seria, assim, o mero descompasso 
entre o intelecto e a existir psicossomático, decorrente do fato de ter sido vitima de invasões 
ambientais que teriam interrompido a continuidade do ser do bebê. Entretanto, se levarmos 
em conta que a vida transcorre no ambiente humano e interrogarmos mais detidamente o 
fenômeno da invasão ambiental que, em última instância, visa criar submissão, veremos que 
sentir-se vivo e real é algo que depende das condições concretas do viver, que depende da 
qualidade das relações humanas. 
Será, pois, fundamental, articular a possibilidade de sentir-se vivo e real com o ambiente 
familiar, lembrando que este último dependerá sempre das condições concretas da vida 
social. 
Sabemos que desde o Renascimento, quando progressos científicos até então inimagináveis 
tiraram a sociedade de um cosmo fechado para um universo infinito, para adotar a expressão 
de Koyré (1973), os homens deixaram de encontrar sentidos na religião ou numa visão 
filosófica do mundo como todo harmonioso. Surgiram, assim, o humanismo e a filosofia 
moderna, inaugurando-se uma mudança profunda, a partir da qual os homens passaram a 
produzir os sentidos do viver, fundamentando-se não mais no cosmo ou em Deus, mas em si 
mesmos. 
 
 
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17
O projeto científico, como manifestação do humanismo, baseou-se em dois pressupostos. O 
primeiro deles diz respeito à crença de que a ciência emanciparia a humanidade de várias 
formas de superstição, obscurantismo e autoritarismos. O segundo é a convicção de que um 
aumento do domínio do mundo natural transformaria a vida humana, trazendo-lhe maior 
conforto, segurança e qualidade. Até aqui, navegava a cultura ocidental em mares nos quais 
se articulavam ideais de progresso das ciências com os de desenvolvimento da civilização. 
Entretanto, parece que a própria noção de progresso sofreu uma modificação drástica, que 
se liga, evidentemente, a vicissitudes do sistema capitalista, frequentemente designada como 
passagem da ciência à técnica, que consiste no desaparecimento dos fins em proveito dos 
meios. Evidentemente, trata-se de fenômeno dotado de alta complexidade, que merece ser 
estudado desde pontos de vista históricos, sociais, econômicos e filosóficos. Entretanto, 
tendo em vista nossos propósitos, que focalizam os efeitos destas transformações sobre as 
experiências emocionais de vida, basta levar em conta as linhas gerais deste movimento: 
“Daí o formidável e incessante desenvolvimento da técnica preso ao crescimento econômico 
e largamente financiado por ele. Daí também o fato de que o aumento do poder dos homens 
sobre o mundo tornou-se um processo absolutamente automático, incontrolável e até mesmo 
cego, já que ultrapassa asa vontades individuais conscientes. É simplesmente o resultado 
inevitável da competição. Neste ponto, contrariamente às Luzes e à filosofia do século XVIII 
que, como vimos, visavam à emancipação e à felicidade dos homens, a técnica é realmente 
um processo sem propósito, desprovido de qualquer espécie de objetivo definido: na pior das 
hipóteses, ninguém mais sabe para onde o mundo nos leva, pois ele é mecanicamente 
produzido pela competição e não é de modo algum dirigido pela consciência dos homens 
agrupados coletivamente em torno de um projeto , no seio de uma sociedade que, ainda no 
século passado, podia se chamar res publica, república, etimologicamente negócio ou causa 
comum” (Ferry, 2007, p.247). 
O efeito da perda de ideais, sobre a experiência emocional individual, é, a nosso ver, 
devastador, porque torna a vida absurda, afetando o sentimento de que a vida valha a pena. 
Em ultima análise,como bem coloca Camus (1942), é o suicídio que se desenha no horizonte 
quando o absurdo ganha a cena, suicídio que tanto pode ocorrer de modo concreto como 
sutilizado sob diferentes roupagens sintomatológicas. 
 
 
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Tenho realizado, majoritariamente, dois tipos de investigação.O primeiro deles diz respeito à 
proposição de enquadres clínicos diferenciados, mediante os quais se possa estender os 
benefícios oriundos do conhecimento psicanalítico a populações tradicionalmente dele 
excluídas. Estes enquadres são, então, investigados em termos da detecção de sua eficácia 
clínica ou potencialidade mutativa. 
É claro que este tipo de pesquisa nos ensina sobre pessoas que buscam alguma forma de 
atendimento, mas não nos dizem muito sobre quem não se abre para este tipo de 
experiência. Nossa experiência tem comprovado a idéia de que predomina, no mundo atual, 
um sofrimento derivado da falta de ideais, esperanças e perspectivas, que afeta a 
capacidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea e transformadora de 
si mesmo e do mundo. 
O segundo tipo de trabalho é conhecido como pesquisa psicanalítica de imaginários 
coletivos, iniciativa que abraçamos a partir da preocupação com os preconceitos existentes 
contra pessoas que necessitam de tratamento psiquiátrico. Assim, pesquisamos as 
concepções, crenças, idéias, sentimentos, fantasias de vários grupos da população, mais ou 
menos diretamente envolvidos com a problemática psiquiátrica, para detectar tanto como, e 
em resposta a que tipo de angústia, organizava-se seu imaginário. Pudemos entender que 
existe um grande medo sob a hostilidade, discriminação e preconceito contra o doente 
mental. Demo-nos, conta, então, de que havíamos desenvolvido uma metodologia de 
pesquisa que servia não apenas para a investigação do imaginário relativo ao doente mental, 
mas também a toda e qualquer figura humana, abrangendo todos os chamados excluídos 
sociais. Assim, passamos a investigar o imaginário de coletivos humanos sobre usuários de 
drogas, crianças com dificuldades escolares, crianças adotadas, obesos, deficientes, 
presidiários e muitos outros. Entretanto, ao realizar tais trabalhos, fomos nos dando conta de 
um fenômeno bastante interessante que consiste no fato dos grupos pesquisados trazerem 
sempre visões de vida fundamentalmente desanimadas, desesperançadas e carentes de 
perspectivas de futuro. A julgar pelo que temos encontrado nestas pesquisas, poderíamos 
afirmar que uma das formas mais comuns de sofrimento no mundo de hoje é a carência de 
sentido que impede o indivíduo de sentir-se vivo, real e capaz de gestualidade espontânea. 
 
 
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O quadro geral indica, a meu ver, que são inegáveis as relações entre o sofrimento humano 
e as condições concretas da vida contemporânea, de modo que se torna indispensável a 
constituição de projetos coletivos de produção de sentido e, em última análise, de esperança. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 
Objetivo: Apreensão da teoria psicanalítica de Freud, bem como outras teorias enquanto um 
conjunto de premissas referentes a uma concepção de homem e de mundo. 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 
Podemos definir personalidade como sendo um ser humano com individualidade, nitidamente 
expressa, a qual, nem a moda do dia a dia, nem as adversidades conseguirão desviar da 
rota fixada. A noção científica de personalidade se empregará, pois, para discernir as marcas 
particulares inerentes aos indivíduos, isto é, as diferenças inter-individuais; visará igualmente 
determinar as variedades do comportamento de um só e único indivíduo, segundo as 
situações e as épocas de sua existência (Schaaml, 1976). 
A maturidade emocional é um termo relativo, pois não se limita a um único padrão 
comportamental nem a uma determinada cultura. A singularidade é uma característica 
essencial da natureza humana. É preciso supor, pois, uma grande variação no quadro do 
ajustamento emocional. 
Os estudiosos da personalidade estão basicamente interessados em explicar o porquê das 
diferenças existentes entre as pessoas. Por que algumas são bem-sucedidas e outras não 
Por que algumas desenvolvem uma capacidade de ver o mundo com toda a sua riqueza, 
variedade e encanto, enquanto outras apresentam comportamento explosivo, inquietação 
geral, preocupação excessiva com a opinião dos outros, recusando-se a participar de 
situações sociais. Por que algumas são tão talentosas e outras não conseguem desenvolver 
suas potencialidades, impondo-se limitações que as levam ao conformismo e à passividade. 
Os teóricos tentam responder a essas questões buscando descobrir qual a interação 
existente entre os diferentes aspectos responsáveis pela formação da personalidade, tais 
como: aprendizagem, percepção e motivação. 
 
 
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As várias teorias da personalidade se distinguem pela descrição do modo pelo qual essa 
interação ocorre e pelo peso dado a cada um dos fatores (aprendizagem, percepção e 
motivação) na determinação da personalidade. 
A Teoria Psicanalítica de Freud 
A psicanálise nasceu com objetivos bastante limitados. Originalmente, seu único fim era 
compreender algo da natureza de enfermidades nervosas chamadas funcionais, para vencer 
a impotência médica da época quanto ao seu tratamento. Entre os neurologistas de então, 
havia uma crença generalizada a respeito da existência de uma ligação íntima, e talvez 
exclusiva, entre determinadas partes do cérebro e certas funções. Como não sabiam o que 
fazer com o fator psíquico, nem como apreendê-lo, deixavam essas especulações para os 
filósofos, para os místicos e para os curandeiros. Assim, não se abria nenhum acesso às 
causas das neuroses, principalmente da enigmática histeria, que delas consistia em medidas 
de caráter geral, tais como prescrições de medicamentos, choques elétricos e tentativas, na 
maioria das vezes inadequada, de exercer influência psicológica sob forma de conselhos, 
repreensões, ameaças etc. 
Dadas as características da formação médica da época, inicialmente a psicanálise sofreu 
uma violenta rejeição. No entanto, com o passar do tempo ela foi sendo aceita, tornando-se 
posteriormente a terapia mais difundida no tratamento de problemas psíquicos. 
Atualmente, a psicanálise é um termo geral que abrange três coisas: um método de 
investigação de processos psíquicos, um método de terapia e uma teoria da personalidade. 
Como teoria da personalidade, a psicanálise está fundamentada em relatos verbais de 
idéias, sentimentos e auto-descrições feitas pelos pacientes. Freud estabeleceu um paralelo 
entre o funcionamento patológico dos processos psíquicos e os normais. Ele fazia uma 
análise cuidadosa do comportamento verbal (relatos) de pacientes neuróticos e psicóticos 
para esclarecer a causa de tais doenças e supunha que cada aspecto do funcionamento 
patológico fosse um exagero da atividade normal. Dessa forma, a prova que Freud 
freqüentemente apresentava para confirmar uma hipótese a respeito de um componente da 
personalidade eram os dados obtidos com pacientes submetidos à psicanálise. 
 
 
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Outras características da psicanálise como teoria da personalidade é o fato de basear-se 
mais nos pensamentos e sentimentos do que no comportamento. Freud supunha e os 
psicólogos que seguem sua orientação concordam que o comportamento explícito de uma 
pessoa só pode ser interpretado corretamente quando há conhecimento de seus motivos, 
temores, sentimentos etc. Ele considerava o comportamento humano como: 1) um resultado 
de lutas e acordos entre motivos, impulsos e necessidades; 2) ocorrendo em diferentes 
níveis de organização, de tal forma que comportamentos semelhantes podem expressar 
diferentes forças e a mesma força pode ser representada em diferentes comportamentos; 3) 
ocorrendo em vários níveis de consciência. 
As qualidades da vida psíquica 
Freud opôs-se à tendência dominante em sua época de explicar os fenômenos psíquicos 
apenas pelos fatos que o indivíduo temna consciência em um determinado momento. Ele 
não via nos processos consciente a essência da vida psíquica. Ao contrário, na determinação 
do psiquismo, os processos conscientes se somariam aos pré-conscientes e aos 
inconscientes. 
Os processos conscientes são aqueles baseados nas percepções imediatas do mundo 
exterior ou nas sensações do mundo interior, aqueles que estão clara e intensamente 
definidos em nossa mente. Os processos latentes, isto é, que podem vir à consciência a 
qualquer momento, na forma de recordações ou lembranças, são denominados pré-
conscientes. Os processos e conteúdos psíquicos que não têm fácil acesso à consciência 
são os inconscientes. 
Os processos inconscientes são alógicos e têm grande fluidez e plasticidade, de tal forma 
que coisas que ocorreram em momentos e espaços diferentes podem estar unidas como 
elementos de um mesmo conjunto. Tais processos nunca são observados diretamente, e 
quando se manifestam à consciência vêm camuflados com um simbolismo próprio. 
Essas três qualidades dos processos psíquicos (consciente, pré-consciente e inconsciente) 
são dinâmica e não descritivas da personalidade, pois não são absolutas nem permanentes. 
O conteúdo da consciência em um determinado momento pode deixar de sê-lo no momento 
 
 
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seguinte. Além disso, muitas das coisas que pensamos ser verdadeiras em determinado 
momento se tornam contraditórias no momento seguinte, pois outros eventos mostraram que 
a nossa percepção não era correta. Na consciência, pois, existem processos intelectivos que 
podem persistir, ser substituídos ou extinguir-se. 
Os processos pré-conscientes podem irromper na consciência a qualquer momento e os 
inconscientes, por sua vez, por mais resistência que ofereçam, podem ser captados pela 
consciência por meio de técnicas especiais. 
A estrutura da personalidade 
Segundo Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e superego. 
O núcleo da personalidade é formado pelo id, que não tem comunicação direta com o mundo 
exterior. O id é a fonte de toda energia psíquica da personalidade. Dentro dele operam duas 
forças distintas, uma derivada do instinto de vida e a outra do instinto de destruição. Cada 
uma dessas classes de instintos está subordinada a um processo fisiológico especial 
(criação e destruição) e ambas se conduzem de forma conservadora, buscando a 
reconstituição do equilíbrio perturbado pela gênese da vida. Essa gênese seria a causa tanto 
da continuação da vida como da tendência à morte. Por sua vez, a vida seria um combate e 
uma transição entre ambas as tendências. 
O id opera dentro do princípio do prazer, que se define pelo alívio da tensão, pela liberação 
da energia e pela esquiva à dor. O objetivo do id, portanto, é a satisfação imediata e irrestrita 
dos instintos. Para realizar isso, ele dispõe de dois processos: ação reflexa e processo 
primário. 
As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma imediata redução da 
tensão. O organismo humano está equipado com um certo número de reflexos que estão 
relacionados com formas relativamente simples de excitação. 
O processo primário envolve uma reação psicológica mais complicada. A descarga da tensão 
é feita por meio de uma imagem mental. Um processo primário, por exemplo, fornece a uma 
pessoa faminta a imagem do alimento. Essa experiência oferece uma forma alucinatória de 
 
 
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satisfação do impulso. Tal alucinação não ocorre automaticamente. Primeiro a pessoa deve 
ter experienciado a satisfação concreta do desejo para depois representar mentalmente o 
objeto associado a essa satisfação. 
Para Freud, o aparato psíquico de um indivíduo é dominado por um id desconhecido e 
inconsciente, em cuja superfície aparece o ego. 
O ego é a parte modificada do id por influência do mundo exterior. Ele representa a parte 
racional da personalidade. 
Considerado sob o aspecto dinâmico, o ego é fraco. Todas as suas energias são 
emprestadas do id. Sua função psicológica consiste em trazer ao nível do pré-consciente e 
do consciente as exigências dinâmicas do id. Por isso ele é considerado o executivo da 
personalidade. Ele deve controlar quais aspectos instintivos serão satisfeitos e buscar meios 
para satisfazê-los, bem como prever as conseqüências dos atos destinados à satisfação das 
necessidades em questão. É preciso considerar, no entanto, que, como uma parte 
organizada do id, o ego existe para satisfazê-lo, e não para frustrá-lo. 
Durante o longo período da infância, no qual o ser humano em desenvolvimento vive na 
dependência de seus pais, forma-se no ego uma instância especial que perpetua essa 
influência parental. A este sistema Freud deu o nome de superego. À medida que se 
diferencia do ego, o superego se opõe a este e passa a constituir a terceira força que o ego 
tem que levar em conta. Uma ação do ego será correta, portanto, se satisfizer, ao mesmo 
tempo, às exigências do id, do superego e da realidade. 
As relações entre o ego e o superego ficam claras se as compararmos às relações entre uma 
criança e seus pais. 
O superego é o representante interno dos valores sociais que são transmitidos inicialmente à 
criança pelos pais, por meio de um sistema de recompensa e punições. Posteriormente, o 
superego incorpora valores que são transmitidos por substitutos ulteriores dos pais, tais 
como educadores e pessoas consideradas modelos sociais. 
 
 
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Apesar das diferenças fundamentais entre o id e o superego, eles têm uma coisa em comum: 
ambos representam a influência do passado o id, as influências herdadas, e o superego, as 
recebidas socialmente. Por outro lado, o ego é determinado pelas vivências próprias do 
indivíduo, pelo atual e acidental. 
Em resumo, a força do id expressa o verdadeiro propósito vital de um organismo: satisfazer 
às suas necessidades inatas. A missão do ego é buscar formas de satisfação que sejam 
mais favoráveis e menos perigosas no que se refere ao mundo exterior. O superego, por sua 
vez, coloca novas necessidades ao ego, visto que sua função principal é restringir a 
satisfação das necessidades inatas. 
O superego aplica um rigoroso critério moral ao ego, que está à sua mercê. O superego é, 
assim, o representante da moralidade que nos faz sentir culpa cada vez que o ego tenta se 
libertar de seu domínio, e auto-satisfação quando o ego se comporta de acordo com os 
ideais sociais. O superego é constituído, pois, por dois sistemas: o ego ideal, que representa 
a introjeção dos valores familiares, grupais, religiosos, raciais etc. (ou seja, a personalidade 
social), e a consciência moral, que representa a introjeção da censura dos agentes sociais 
controladores. 
A dinâmica da personalidade 
A dinâmica da personalidade diz respeito às formas pelas quais a energia do id é liberada ou 
bloqueada. 
Freud denominou de instintos as forças que atuam nas tensões causadas pelas 
necessidades do id. Essas forças representam as exigências somáticas que atuam na vida 
psíquica. 
As cargas de energia que emanam do id não têm qualquer organização. Não se originam de 
uma vontade única e só aspiram à satisfação das necessidades instintivas de acordo com o 
princípio do prazer. 
 
 
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Para os processos desenvolvidos no id não são válidos os princípios lógicos do pensamento, 
nem mesmo o princípio da contradição. Impulsos contrários podem coexistir sem anular-se 
mutuamente ou um submeter-se ao outro. 
No id não há nada equivalente à negação e nada que corresponda à representação do 
tempo. Eventos que ocorreram em momentos diferentes podem estar juntos numa mesma 
manifestação. Da mesma forma, o id não conhece o bem e o mal nem qualquermoral. 
É possível distinguir um número indeterminado de instintos, embora, como já dissemos, para 
Freud todos derivem de dois instintos fundamentais: o instinto de autoconservação e 
conservação da espécie e o instinto de destruição. 
O primeiro tem como fim básico estabelecer e conservar unidades cada vez maiores, isto é, 
tende à união (por exemplo, o amor). O segundo, ao contrário, busca a dissolução das 
conexões, reduzindo a substância viva a um estado inorgânico. Este segundo foi 
denominado por Freud de instinto de morte. 
Esses dois instintos básicos podem antagonizar-se ou combinar-se. Assim, por exemplo, o 
ato de comer equivale à destruição de um objeto com a finalidade de incorporá-lo ao 
organismo. Da mesma forma, o ato sexual equivale a uma agressão com o propósito da mais 
íntima união. Modificações na proporção de um dos dois instintos no momento da 
combinação levam a diferentes conseqüências, podendo predominar o amor ou a agressão. 
A energia liberada pelo instinto de conservação foi denominada por Freud de libido. 
Os instintos não têm qualidades perceptivas, por isso não podem atingir diretamente a 
consciência. A expressão das forças instintivas é uma das funções do ego, que estabelece 
uma ordem temporal para a satisfação dos instintos e os submete ao teste da realidade. Pela 
interpolação de processos mentais, o ego escolhe a forma e o objeto para liberação da 
tensão, conseguindo, assim, um estado precário de equilíbrio com a redução da excitação. 
Contudo, essa redução é mais formal do que efetiva, pois o ego utiliza apenas as ações que 
no passado foram bem-sucedidas, ma que nem sempre são adequadas ao presente. 
 
 
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O ego se assemelha a um monarca que, não podendo legislar sobre as sanções (superego), 
pensa muito antes de vetar uma proposta do parlamento (id). 
O conteúdo do id pode passar pelo ego por dois caminhos distintos. Um é o direto e o outro 
por meio do ego ideal. As atividades psíquicas são resultantes da eleição de um desses 
caminhos que levam à liberação ou à coerção dos instintos. A coerção é realizada pelo ego 
ideal, que é em parte uma formação reativa contra os instintos do id. 
A esse processo de liberação e inibição da energia do id, Freud deu o nome de catexe e 
anticatexe (ou catexe contrária). 
Submetido a três forças distintas o mundo exterior, a energia do id e o superego ?, o ego se 
sente ameaçado. Com a ameaça surge a ansiedade. A ansiedade é uma reação emocional 
frente à impotência motora ou psicológica ou frente a uma situação traumática. Essa reação 
coloca o ego em alerta, pois representa um perigo para sua integridade. 
Há três espécies de ansiedade: real, neurótica e complexo de culpa. 
A ansiedade real ocorre quando o ego se sente impotente frente a um objeto ou a uma 
situação do mundo exterior, que pode colocar em risco a sua sobrevivência ou a sua 
integridade psicológica. O homem não tem condições de detectar todos os perigos que 
existem no mundo exterior, por isso às vezes se sente impotente frente à realidade. A 
situação traumática contra a qual somos impotentes causa ansiedade, visto que, nessas 
condições, a satisfação de nossas necessidades significa perigo. As crianças pequenas, que 
não têm ainda a noção de perigo, fazem a todo o momento coisas que põem em risco a sua 
vida. 
Na ansiedade neurótica, o ego experiência uma sensação dolorosa que não passa, pois 
coincide com o bloqueio total de uma necessidade do id. Essa impotência psicológica é 
semelhante à impotência motora, pois a satisfação da necessidade poderia por em risco a 
integridade do aparato psicológico. 
 
 
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O complexo de culpa é a ansiedade produzida pela consciência moral. A pessoa portadora 
de um superego muito rígido tende a ter sentimentos de culpa quando faz ou pensa em fazer 
algo que contraria o código moral no qual foi educada. 
A ansiedade é um estado doloroso que o indivíduo não é capaz de tolerar por muito tempo. 
Para fugir dela, o ego desenvolve mecanismos de defesa. 
Os principais mecanismos de defesa são: a projeção, a repressão, a formação reativa, o 
isolamento e a sublimação. Todos esses mecanismos possuem duas características comuns: 
distorcem ou negam a realidade e operam inconscientemente, de modo que a pessoa não 
sabe as verdadeiras causas de seu comportamento. 
Projeção. O aspecto essencial desse mecanismo é a atribuição a outra pessoa de uma 
característica indesejável ou de um impulso perigoso. Um dos exemplos clássicos é a crença 
de uma pessoa pudica de que as outras pessoas estejam excessivamente interessadas em 
sexo ou sejam sexualmente incontroláveis. Subjacente a essa crença, existe o impulso 
libidinoso que aparece na preocupação com o comportamento sexual dos outros. Como a 
sexualidade é atribuída a outra pessoa e é acompanhada de reprovação, ela acaba tendo 
acesso à consciência, embora na forma de um sentimento hostil. Nesse caso, portanto, 
grande parte das ações do ego estão a serviço da libido. 
Na repressão os pensamentos, idéias ou desejos que causam ansiedade são colocados fora 
da consciência. A pessoa oferece uma enérgica resistência quando alguém tenta falar sobre 
o assunto. Comumente a repressão atinge todas as idéias que tenham qualquer elo 
associativo com o impulso reprimido. A repressão está presente em todos os mecanismos de 
defesa. 
Na formação reativa o indivíduo reconhece a existência de um impulso indesejável, mas 
impede sua expressão liberando energia do impulso diametralmente oposto ao primeiro. 
Essa estratégia defensiva geralmente está presente em comportamentos sociais que, 
embora desejáveis, são exagerados e rígidos. A pessoa que utiliza esse mecanismo procura 
não admitir outro sentimento a não ser aquele exageradamente manifestado. Esse é o caso 
de mães supeprotetoras, que não podem permitir que venham à consciência sentimentos de 
 
 
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hostilidade contra seus filhos. A formação reativa fica mais evidente quando as defesas se 
rompem, como quando uma pessoa que aparentemente era incapaz de fazer mal a uma 
mosca comete um assassinato violento. 
Algumas vezes a bondade pode ser uma formação reativa contra a maldade. Uma pessoa 
que faz atos filantrópicos com exagero pode estar querendo impedir que venha à tona o 
prazer que sente frente à vulnerabilidade dos outros. A hostilidade aparece quando ela passa 
a falar mal ou a ignorar os seus beneficiários com a justificativa de que eles foram ingratos e 
não souberam dar valor a quem tanto os ajudou. 
Outra forma de lidar com a ansiedade é o isolamento. No isolamento o conteúdo do impulso 
vem à consciência, mas o sentimento associado a ele é reprimido. 
Algumas pessoas parecem impermeáveis quando são insultadas. Elas agem como se não 
estivessem percebendo o que está acontecendo. Na verdade estão conscientes da intenção 
da outra pessoa, contudo não se sentem encolerizadas, ou, melhor dizendo, não deixam vir à 
tona seus sentimentos de cólera. Tais pessoas agem friamente, dando a impressão de que 
não há sentimentos a serem controlados. 
O isolamento pode estar presente nas atitudes de uma pessoa que faz uma rígida separação 
entre religião e ciência. Isso permite que ela interprete misticamente os fenômenos, para os 
quais aceita também uma explicação científica. Essa separação faz com que ela concilie sem 
dificuldades duas interpretações de alguns fenômenos naturais. 
Na sublimação o objeto original de gratificação do instinto é substituído por um cultural. 
Posteriormente, o instinto primário é totalmente afastado da consciência, ficando apenas a 
expressão cultural substituta. Conseqüentemente, o ego não precisa manter um constante 
controle sobre a expressão do instinto, pois a energia é completamente liberada.Freud 
interpretou a Madona de Leonardo da Vinci como uma sublimação dos desejos libidinosos 
que o artista sentia por sua mãe. 
O desenvolvimento da personalidade 
 
 
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Na teoria psicanalítica, a personalidade é resultante do desenvolvimento das estruturas (ego 
e superego), dos processos de pensamento e da sexualidade. 
Como já dissemos anteriormente, a vida psíquica é função de um aparato extenso e 
composto de várias partes. A mais primitiva delas é o id, que tem por conteúdo tudo o que é 
herdado, inato e constitucionalmente estabelecido. Os instintos originados na organização 
somática alcançam no id sua primeira expressão psíquica, da qual muitas formas ainda são 
desconhecidas. Esta parte primitiva do aparato psíquico continuará sendo a mais importante 
durante toda a vida. 
Sob a influência do mundo exterior, uma parte do id passa por uma transformação especial e 
adquire função mediadora entre o id e o mundo exterior. Este setor de nossa vida psíquica é 
o ego. 
A tarefa do ego consiste na autoconservação, que ele realiza de duas formas. Em primeiro 
lugar, por meio de um processo de aprendizagem, ele se adapta ao mundo exterior, 
gravando na memória as conseqüências dos estímulos, de forma que consegue fugir da 
estimulação desagradável e aproximar-se das situações agradáveis. Em segundo lugar, 
como resultado dessa experiência, o ego vai se caracterizando e adquire certo domínio sobre 
a estimulação interior (instintos do id). Graças a esse domínio ele pode selecionar os 
instintos que serão satisfeitos, bem como as condições mais favoráveis para isso. Essa 
atividade do ego é governada tanto pelas tensões provocadas pelos impulsos do id como por 
aquelas que vão se formando no seu contato com o meio social. O aumento da tensão faz 
com que o indivíduo experiencie um estado de desprazer, e a diminuição da tensão, um 
estado de prazer. Esses estados não têm uma magnitude absoluta. Representam apenas 
graus diferentes no ritmo geral das modificações. 
Na busca do prazer o ego responde com ansiedade a toda situação esperada ou prevista de 
desprezar. A ansiedade, portanto, só aparece na medida em que o ego acumulou um 
conjunto de experiências. 
A criança pequena é praticamente dominada pelo princípio do prazer, buscando a satisfação 
imediata de suas tensões. Quando essa satisfação é cerceada, a criança reage 
 
 
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emocionalmente, chorando ou dirigindo sua cólera para o obstáculo que a impede de obter o 
que deseja. Às vezes ela utiliza processos primários para diminuir a tensão (imagens 
mentais, sonhos, devaneios etc). 
Paulatinamente, os processos primários vão sendo substituídos pela satisfação real da 
tensão. Essa satisfação é realizada pelo ego que vai substituindo o princípio do prazer pelo 
princípio da realidade e os processos primários pelos secundários. Os processos 
secundários envolvem uma análise da realidade e a escolha do objeto para a descarga da 
tensão. Nesses processos predominam a aprendizagem, a consciência, a memória e a 
lógica. 
Ocasionalmente, o ego abandona sua conexão com o mundo exterior. Nesses momentos há 
uma modificação na organização do aparato psíquico: os processos primários voltam a ter 
predomínio. Isso ocorre nos estados de sono, nos devaneios, nos atos falhos etc. As 
manifestações que ocorrem nesses estados são muito importantes para o conhecimento do 
aparato psíquico, porque nesses momentos vem à tona parte do que estava sendo reprimido 
pelo ego. 
A transformação da relação parental em superego se faz por um processo de identificação. A 
identificação é uma forma de vinculação com outra pessoa; é a equiparação do ego de uma 
com o ego da outra. Inicialmente, a criança começa a se comportar como os pais por um 
processo de imitação, depois acolhe os seus valores, incorporando-os à sua personalidade. 
A partir do momento em que o controle parental torna-se interno é que se pode falar em 
superego. 
O comportamento de um menino de 3 a 5 anos de idade é marcado pelo complexo de Édipo. 
Como o menino se identifica com o pai, ele não somente quer ser igual a ele mas também 
escolhe o mesmo objeto para as suas catexes libidinosas. 
A ligação amorosa da criança com a mãe foi denominada por Freud de complexo de Édipo. 
Embora essa ligação se modifique e sofra repressão após os 5 anos de idade, as catexes 
originárias do complexo de Édipo permanecem como uma força vital da personalidade 
durante toda a vida. As atitudes para com as pessoas do sexo oposto, bem como para com 
 
 
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aquelas que representam a autoridade, são, em grande parte, determinadas pela forma 
como a criança resolveu o complexo de Édipo. 
O superego emerge do ego como um herdeiro do complexo de Édipo. O menino se sente 
ameaçado por temer as conseqüências de seu apego amoroso à mãe. O medo da castração 
leva-o a reprimir o desejo sexual pela mãe, bem como a hostilidade pelo pai. Essa situação 
resulta numa identificação com o pai, denominada de identificação com o agressor. Esse 
processo envolve uma relação ambivalente da criança com o pai. Os sentimentos hostis que 
o menino experimenta na situação edipiana geram ansiedade. Para se defender dessa 
ansiedade, ele reprime seus desejos agressivos em relação ao pai e passa a admirá-lo, 
introjetando seus valores. Torna-se, portanto, o mais semelhante possível a ele. É como se a 
criança seguisse o seguinte raciocínio: Se sou igual a ele e me comporto como ele, não 
posso ser punido. 
O medo da castração não é único motivo da repressão no complexo de Édipo, pois o mesmo 
sentimento ocorre nas mulheres, que não poderiam ter medo da castração. Outro 
componente na formação do superego é, pois, o temor de perder o amor dos pais. Quando a 
mãe está ausente ou retira seu carinho, a criança fica exposta às mais penosas situações de 
tensão, que vão desde a não-satisfação de suas necessidades básicas até a sensação de 
estar sozinha num mundo perigoso. O perigo da perda do amor dos pais faz com que a 
criança interiorize todos os valores dos mesmos. Esse processo se faz pela identificação que 
Freud denominou de anaclítica. 
A menina desenvolve inicialmente uma relação de amor e dependência para com as pessoas 
que cuida dela, ou seja, a mãe. Essa relação leva-a a escolher o pai como objeto de seu 
amor, por ter sido o objeto escolhido pela mãe. Quando a menina faz essa escolha, a mãe 
torna-se sua rival, gerando hostilidade na criança. Essa hostilidade também é superada pela 
identificação com a mãe. 
O medo da perda do amor não desaparece totalmente com o desenvolvimento do superego. 
Esse componente aparece nas situações em que uma pessoa experiencia sentimentos de 
culpa, envolvendo a ansiedade pelo medo de perder o amor ou a aceitação dos outros. 
 
 
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Alguns adultos que não resolveram adequadamente a identificação anaclítica no momento 
da formação do superego se tornam extremamente dependentes dos outros, manifestando 
uma conduta infantil. 
No adulto, um superego sadio reflete-se em um conjunto integrado de valores, na 
capacidade de aceitar abalos à auto-estima e aceitar limitações sem recorrer à fantasia. 
As formas de controle disciplinar exercidas pela família são muito importantes na 
determinação de um superego sadio. 
Grande parte da teoria psicanalítica do desenvolvimento refere-se à forma de expressão da 
libido. Freud acreditava que durante a infância os impulsos originários da libido se 
concentram em determinadas regiões do corpo, denominadas zonas erógenas. 
O desenvolvimento é biologicamente determinado e tem como ponto de referência as zonas 
erógenas. Durante os cinco primeiros anos de vida, a criança passa por três fases de 
desenvolvimentoque Freud denominou de pré-genitais. Ele acreditava que as atividades 
características de cada fase são de natureza sexual e exercem uma influência marcante na 
personalidade do adulto. 
A primeira região que surge como erógena é a boca, a segunda é o ânus e a terceira, os 
órgãos genitais. O desenvolvimento emocional da criança depende das interações sociais, 
das ansiedades e das gratificações que ocorrem para as atividades ligadas a essas partes do 
corpo. 
Desde o nascimento, a maioria das atividades da criança está concentrada na boa. Essas 
atividades têm a função de proporcionar a satisfação das necessidades de autoconservação 
e dos impulsos libidinosos. 
Para Freud, a sucção do polegar, a tendência da criança de colocar tudo na boca e o sugar 
no vazio mostram que existe uma necessidade a ser satisfeita que não está ligada somente à 
autoconservação. 
 
 
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Durante essa fase, com o aparecimento dos dentes, começam a se manifestar também os 
impulsos sádicos (ligados ao instinto agressivo), embora sua expressão seja esporádica. 
A agressividade manifesta-se com maior extensão durante a segunda fase. Essa fase foi 
denominada por Freud de sádico-anal, porque a satisfação se realiza na agressão e na 
função excretora. Ele justifica a inclusão dos impulsos agressivos na libido argumentando 
que o sadismo é a fusão dos impulsos libidinosos com os destrutivos. Essa fusão, que se 
inicia nessa etapa, permanecerá durante toda a vida. 
A terceira fase, fase fálica é a predecessora da forma final da vida sexual. Desse momento 
em diante os sexos se diferenciam. Os meninos entram na fase edipiana e as meninas 
sofrem sua primeira desilusão quando tomam consciência das diferenças existentes entre o 
homem e a mulher. 
Como já dissemos, o complexo de Édipo termina, no menino, por causa da ansiedade de 
castração. Nas meninas, a problemática edipiana não é tão intensa quanto nos meninos, por 
isso as mulheres desenvolvem um superego mais fraco e menos severo. Isso explica o fato 
de elas serem mais bondosas e mais compreensivas do que os homens. 
Os componentes de uma fase não são substituídos com o advento de outra. Eles podem se 
sobrepor ou ocorrer simultaneamente. Nas duas primeiras fases, os diferentes componentes 
instintivos começam a buscar o prazer independentemente um do outro. Na fase fálica, 
inicia-se uma organização que subordina a satisfação dos outros impulsos aos genitais. Essa 
organização só se completará na puberdade, ou seja, na quinta fase, fase genital, na qual há 
a conservação de algumas catexes primitivas que se incorporam à função sexual como 
atividades preparatórias. Outros impulsos, no entanto, são excluídos da organização. A 
energia gerada por esses impulsos ou é totalmente suprimida por um processo de repressão 
ou é expressa de outras maneiras, constituindo-se em característica da personalidade, ou 
ainda é sublimada com o deslocamento de seus fins. 
O processo de organização da vida sexual não se realiza sem dificuldades. Podem ocorrer 
inibições no seu desenvolvimento. Quando isso acontece, encontramos nas fixações da 
manifestação da libido características de qualquer uma das três fases iniciais. Nesses casos, 
 
 
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os impulsos da libido tornam-se independentes de seus objetivos sexuais normais e se 
transformam em perversões. 
Freud deu extrema importância às catexes dos cinco primeiros anos de vida na determinação 
da personalidade. Segundo ele, a personalidade é resultante, em grande parte, dos impulsos 
fixados nesse período. A isso se acrescentam os impulsos adquiridos por meio da 
sublimação e os mecanismos de defesa do ego, destinados a substituir os impulsos 
libidinosos e agressivos por outros socialmente aceitos. 
Entre a terceira e a quinta fases do desenvolvimento, há um período em que os impulsos 
sexuais apresentam certa calmaria, não ocorrendo nenhum progresso. Essa fase foi 
denominada de latência e não mereceu nenhum interesse por parte de Freud. Nesse período 
há o desenvolvimento dos processos cognitivos e a maior parte da energia psíquica é gasta 
no conhecimento do mundo. 
As proposições freudianas exerceram profunda influência na maioria dos estudiosos da 
personalidade. Alguns deles seguiram a linha psicanalítica, embora tenham rejeitado alguns 
conceitos e ampliado outros. Outros teóricos, no entanto, se dedicaram à comprovação 
experimental dos conceitos essenciais da teoria psicanalítica. Depois de algum tempo de 
pesquisa, rejeitaram toda a proposta dessa teoria quanto ao desenvolvimento da 
personalidade. 
Os atos delituosos dos neuróticos consistem, de modo geral, em furtos, mentiras, calúnias, 
fraudes, denúncias falsas, cartas anônimas, emissão de cheques sem fundo. Raramente 
esses enfermos praticam ações criminais violentas. Portanto, com referência ao problema da 
responsabilidade penal dos neuróticos não há dificuldades periciais: fora das crises eventuais 
que possam apresentar, não se deve negar a esses enfermos a capacidade de imputação, 
pois agem como pessoas normais (Bleuler). Os atos delituosos desses enfermos são 
imputáveis e os mesmos estão sujeitos às sanções penais correspondentes. 
 
 
 
 
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UNIDADE 4 
Objetivo: Compreender os fundamentos da psicopatologia, conjunto de conhecimentos 
referentes ao adoecimento mental e seus limites e aportes ao entendimento do ser humano 
Psicopatologia e psicologia do normal 
 
Normal ou Patológico em Psicopatologia Clínica 
Adalberto Tripicchio4 
Resumo 
Analisando os conceitos de normal e patológico segundo as principais correntes do 
pensamento psiquiátrico (a fenomenologia, a psicanálise e a anti-psiquiatria), o autor propõe 
repensá-los a partir do discurso próprio "louco" e da desidealização desses conceitos que 
enfatizam três dimensões: a real, a social e a humana. 
 
A colocação do problema 
Logo nas páginas iniciais de seu livro, Devereux (7) coloca em xeque a teoria psiquiátrica. 
Pois se esta se fundamenta sobre o conceito de normal e seu oposto, anormal (lido como 
patológico), a verdade é que o problema de conceituação desses termos não foi resolvido, 
nem ao menos ficou delineada a fronteira que os delimita e, por condição, define. A partir daí 
- isto é, de conceitos indefinidos - ergue-se uma semiologia bastante sofisticada que 
estabelece diagnósticos, que classifica, que coloca os indivíduos em locais precisos: os sãos 
e os loucos. E continua, numa subdivisão minuciosa, propondo-se a descrever a loucura de 
 
4 PhD em Medicina pela University of London Institute 
 Neurologista e Psiquiatra pela Univ. Paris VII - Dennis Diderot - Sorbonne 
 
 
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cada um, mas não a sanidade, vista como um todo unitário. Mesmo a "revolução 
psicanalítica" não trouxe mudanças substanciais à taxonomia psiquiátrica, porquanto as 
categorias ficaram (com maior ou menor sofisticação de detalhes). Foi preciso haver uma 
"invasão alienígena" para que a psiquiatria começasse a questionar esse arcabouço. 
Estudando grupos, e não indivíduos, sociólogos e antropólogos introduziram uma nova 
dimensão na análise da pessoa (dimensão que Freud apreendera, embora lendo do ângulo 
do indivíduo): a cultura. E perceberam também que esta apresentava tantas variáveis, de tal 
modo presentes na organização daquela pessoa, que Marx, anos antes, questionava o 
próprio conceito de "ser humano", enquanto um conceito abstrato. Assim, o problema 
conceitual torna-se mais complexo. Ao nível do orgânico, quando o que define é a 
possibilidade ou não de sobrevivência, ou a qualidade dessa sobrevivência, poderia sermais 
simples estabelecer a fronteira. Mas, ao lidarmos com comportamento, com sentimento, 
como definir? A partir de uma estreita correlação com a "vida dos órgãos" ou a partir de "uma 
análise filosófica da vida compreendida como atividade de oposição à inércia e à indiferença" 
(5)? De qualquer modo, lidamos com valores, posicionamo-nos ideologicamente frente ao 
problema (e haveria outra possibilidade?). 
A angústia do questionamento 
No entanto, não se trata aqui de uma elucubração a respeito de um tema filosófico: a 
oposição entre vida e morte, corpo e alma, saúde e doença, idealismo e materialismo ou 
alguns desses pares antitéticos que preenchem o corpo teórico da filosofia. Muito mais do 
que isso. É em cima de uma definição indefinida que calcamos a nossa prática médica. E 
esta é a angústia do questionamento. Porque frente aos nossos pacientes impõem-se dois 
níveis de compreensão: o social e o individual; o sociológico e o médico. Em outras palavras: 
o observar e analisar e o fazer (a partir de premissas teóricas que fundamentam e justificam 
essa prática, mas que não necessariamente são por ela determinadas). Pois que aquelas 
pessoas "doentes", "alteradas", de comportamento "anormal", algumas até necessitando de 
exclusão, mesmo que temporária, do mundo dos normais, estão ali à nossa frente agindo, 
falando, e seu discurso é essencial para a nossa ação, embora o invalidemos com um 
diagnóstico. Mas mesmo assim lá estão elas, agindo e interagindo, como fazem quaisquer 
 
 
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pessoas em outras situações. São algumas das entrevistas colhidas junto a tais pacientes de 
que me utilizo aqui para colocar o problema (2). E se Marx diz que "suscitar uma questão é 
resolvê-Ia", parece-me que não consegui suscitá-Ia adequadamente. Em busca de clareza, 
tento organizar algumas idéias, como numa primeira abordagem. 
 
Normal e Patológico: Uma questão de leitura? 
 
I. A busca de parâmetros - Que parâmetros são usados para definir, na prática psicoclínica, 
normal e patológico? 
- "Não estou doente não" - diz L. - "estou é com raiva daquela mulher" (da mãe-de-santo que 
lhe prometera um favor e não cumprira). 
 -"Não é doença não, doutora, é esquecimento" - diz H., não se recordando do nome de uma 
antiga paciente. 
Que parâmetros estão usando esses pacientes para distinguir doença de não-doença? 
A corrente fenomenológica lança os parâmetros na Psicopatologia. E o que nos diz ela a 
esse respeito? De início, define Jaspers o objeto da psicopatologia como "a atividade 
psíquica real e consciente [...]. Mas não se trata aqui de toda a atividade psíquica: apenas da 
patológica [...] (a não delimitação clara entre a psicologia e a psicopatologia) resulta do fato 
do conceito de doença não ser uma entidade [...] não atribuímos qualquer valor ao conceito 
preciso de doença física; nós nos baseamos em nossa intuição pessoal e, sobretudo no uso 
tradicional da divisão do trabalho quanto à delimitação de nosso tema de estudo". (11) Numa 
edição posterior consideraria fenômenos anormais como aqueles que "excedem o habitual 
em medida, grau e duração [...] as associações que se tornam hábitos mecânicos [...] A cisão 
ou dissociação (da vida psíquica) que acabe sendo definitiva e insuperável [...] o mecanismo 
de comutação do estado de consciência [...]"(12) Devemos lembrar que o primeiro parâme-
tro aproxima-se da colocação de K. Schneider, um dos principais teóricos da prática clínica 
 
 
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psicopatológica. Distingue ele enfermidade, que "existe apenas na esfera somática" e 
anormalidade, entendida como "apenas uma variedade do normal" (15). 
A corrente psicanalítica não busca tanto descrever os processos quanto entendê-los. "A 
resposta da psicologia freudiana a esta dicotomia é que tanto os processos mentais normais 
quanto os patológicos têm seu lado fisiológico e são ainda funções cerebrais amplamente 
desconhecidas [...] Não há diferenças fundamentais entre psicologia e psicopatologia: ambas 
seguem os mesmos princípios básicos" (1). Princípios esses que serão buscados no conflito 
intra-individual entre as "pulsões instintivas e as demandas ambientais, entre as pulsões 
instintivas e os padrões superegóicos e entre instintos opostos [...]"; o distúrbio decorre 
assim, de uma estruturação desviada da norma ou da expectativa para uma determinada 
idade, de tal monta que o propósito de adaptação fica apenas parcialmente realizado e assim 
o funcionamento do indivíduo é prejudicado" (10). Até aí estamos frente ao Homem - 
entidade abstrata, fora de qualquer contexto. 
Uma terceira corrente - a da antipsiquiatria - procuraria superar esta abstração. Diz Cooper 
(6): "Esquizofrenia é uma situação crítica microssocial, onde os atos e experiências de uma 
certa pessoa são invalidados por outros a partir de certas razões inteligíveis culturais e 
microculturais (usualmente familiais), ao ponto em que esta é eleita e identificada como 
sendo mentalmente enferma de certo modo, e então confirmada (por um processo de 
rotulação específico, embora altamente arbitrário) na identidade de paciente esquizofrênico 
por agentes médicos ou quase-médicos". 
A pessoa eleita teria sofrido um processo de socialização que lhe condicionaria uma "perda 
global ou parcial de validação consensual de sua auto-percepção e de sua hétero-per-
cepção". Negando a doença como processo intra-individual exclusivo e estendendo-a ao 
grupo, a antipsiquiatria ampliaria o conceito de normal e patológico, mas, reproduzindo-o, 
não o questionaria. 
II. Os auto-retratos - E O que dizem os interessados? Isto é, as pessoas rotuladas como 
"doentes mentais"? Aquelas pessoas cujas biografias passam a ser marcadas por um rótulo 
 
 
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de origem polêmica (interno/externo; adquirido/inerente à sua constituição; aceito/imposto 
etc.)? Formariam elas uma "quarta corrente"? 
- "Maluco é quem agride, mas eu estou quase doida, pois me irrito à toa. Sou até capaz de 
bater quando irritada." (Z). 
- "Doida é a que quer pegar, quer avançar no homem [...] mulher-homem, isso é doido [...] 
café demais dá loucura, café com leite dá nervoso [...] (louco) é ficar bom com choque [...] 
quem bate na mãe é maluco [...] (sobre a paciente que saía de alta) esta é assim [...], assim 
[...], não faz nada, nem a cama fazia." (N). 
- "O que tenho é problema de nervos. Tomo remédio já estou boa." (M.) 
"Não gosto de estar em casa. Meu pai me chama de doido, eu não gosto." (Ne.). 
- "Eu só estava querendo acender velas p'ros mortos, mas N. e M. estão aqui e se me virem 
vão falar com o diretor; vão dizer a ele que estou maluca, que estou querendo botar fogo no 
hospital [...]. (Aquele hospital) é uma carnificina: se o sujeito ri vai para a triagem, se chora 
vai também, não é todo mundo que agüenta ver essas coisas." (L.). 
- "Qual é o caso de seus pacientes que a senhora não deixa trabalhar? Os que são 
agressores?" (In.). 
- "Estou tomando remédios e fiquei assim, sem vontade de trabalhar, sem vontade de 
conversar, com as idéias atrapalhadas. Isto foi do tombo que levei, não foi?" (E.) 
- "Ela não é doente não, é cachaça mesmo [...] aquela lá é que não quer comer; há dois dias 
não come p'ra fazer charme p'ro marido. (Vovó Marina) não comia de desgosto porque a 
família tirou o IPASE dela e a internou como indigente; quando ela veio para cá já era tarde, 
estava toda queimada por dentro; desgosto; ainda bem que eu estava de alta; se eu 
estivesse aqui teria ficado maluca." Sobre outra paciente, pergunto se está "fazendo 
charme": "não, esta é louca mesmo." (X.) "era uma doçura, muito boa. Um dia ela disse que 
viu o disco-voador e o marido a internou; quem sabe ela viu mesmo?" (o marido) fazia ela 
descer dez andares de barriga (grávida) para buscar Coca-Colapara ele. Ela pediu o 
 
 
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desquite e ele não quis, por isso a internou." "Ela não é doente, apenas bebe; não se devia 
internar prostitutas aqui." (H.). 
- (T.) aproxima-se furiosa; está no hospital há três dias e ninguém da família sabe; quer uma 
licença no fim-de-semana para avisar a família, pois eles devem estar preocupados, 
pensando que ela morreu. A médica a entrevistara durante duas horas; ficara de voltar 
naquele dia e não apareceu, assim ela não conseguiu licença para tirar a carteira de saúde, 
a fim de trabalhar. "Não estou maluca, estou é irritada." 
- "Eu quero conversar com a senhora... é sobre a minha doença. . . escreve tudo porque já 
levei muito choque e já esqueci." (R.). 
- (Es.) contando para mim sua sensação ao ver a autópsia da esposa, morta em acidente de 
trânsito no dia do aniversário do filho caçula: "Ah, doutora, quando vi ali minha companheira 
de fé, com as vergonhas p'ra fora, fiquei que nem doido. . . só vi quando o corpo de 
bombeiros me amarrava." 
- (Z.) reclamando do médico recusar-se a tirar uma radiografia do crânio: "A cabeça é minha, 
como ele é quem sabe se deve pedir a chapa? Tenho vontade de dar uma porrada nele para 
ver a cabeça dele doer; aí ele vai pedir chapa." 
O que podemos inferir desses relatos aparentemente desconexos? 
Em primeiro lugar, que existem esquemas implícitos permitindo distinguir doente de não-
doente, o que é aceito do não aceito, mesmo quando o comportamento é semelhante (como 
o fato das duas pacientes que não comiam: uma era "charme" e a outra, doença). Em outras 
palavras, existem parâmetros que definem o comportamento normal distinguindo-o do 
anormal, podendo este ter uma conotação de patológico ("mulher-homem, isto é doido"), ou 
não ("ela é cachaça mesmo"). 
Segundo, o conceito de patológico aproxima-se de algum modo do conceito psicanalítico, 
porquanto expressa uma exacerbação das pulsões: agressividade e sexualidade ("maluco é 
quem agride", "doida é quem quer pegar, quer avançar no homem"). 
 
 
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Terceiro, esses conceitos estão eivados de ideologia médica, absorvida espontânea ou 
compulsivamente ("Louco é ficar bom com choque"; "tomo remédio, já estou boa"; "foi do 
tombo, não foi"?). Aqui deve ser feita uma ressalva: a tendenciosidade da amostra, já que 
todos eram pacientes internados. Seria preciso ampliá-Ia, incorporando elementos que não 
tivessem entrado em contato direto com a instituição (o que não exclui o aprendizado, que se 
faz também de modo indireto). 
Quarto, traduzem, afinal, um conhecimento comum partilhado pelo grupo e absorvido pelo 
indivíduo. Em nenhum momento aquelas pessoas questionavam seu diagnóstico ou a própria 
situação de internação. Muito menos as atitudes do corpo clínico em relação a elas (na 
continuidade, Z. justificará a atitude do médico). E todas possuíam um diagnóstico preciso; 
havia um rótulo geral bem definido. Aquelas pessoas eram, sem dúvida, "anormais", segundo 
o discurso oficial, discurso esse por elas assumido e/ou por elas redigido? 
 
Conclusão: A validação do sistema 
Não resta dúvida que um tema assim abrangente não cabe nesse espaço. Mas o pretendido 
não foi esgotar um tema e sim arrumar idéias, a fim de colocar o problema. 
Assim, a primeira idéia que me ocorre é a da validação do discurso. Se ouvirmos a "quarta 
corrente" podemos perceber que, ou os pacientes absorvem de algum modo a psicopatologia 
aprendida formalmente pelo médico e a transmitem retraduzida e ampliada, ou essa 
psicopatologia faz parte da bagagem cultural deles, isto é, é partilhada pelo senso comum. 
Sendo assim, a validade desse conhecimento e de sua manipulação, sobretudo, deve ser 
questionada, já que sua proposta é tão-somente referendar o conhecimento comum e não 
discuti-Io. Abre-se aqui um caminho a ser analisado: a dicotomia normal/patológico ligar-se-ia 
a toda uma corrente maniqueísta do pensamento sobre a qual se funda a moral burguesa do 
bem e do mal. E aqui se introduz, suponho eu, a segunda pergunta: que o discurso é 
validado nos diz a oficialização de seu uso, mas por quem? 
 
 
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Canguilhem refere-se a uma "classe normativa" que teria conquistado "o poder de identificar 
a função das normas sociais com o uso que ela própria fazia das normas cujo conteúdo 
determinava", posição essa que chamaria de "um belo exemplo de ilusão ideológica" (S). 
Quem sabe nessa ilusão cai Devereux, ao propor um critério de normalidade independente 
da especificidade cultural, tendo por parâmetros a maturidade afetiva, o sentido do real, a 
racionalidade e a capacidade de sublimar (1)? Como definir tais parâmetros? Pois em que 
critérios nos baseamos para afirmar que morrer em resposta à perda do IPASE (retirado pela 
família) é imaturidade afetiva? Ou que ver o disco-voador é perder o sentido do real? Ou que 
"receber santo" tem algo de irracional? Em que elementos nos baseamos para dizer que 
determinadas situações fogem do real (são anormais) e quem as vive deve ser tratado, e que 
outras são normais, e os que internam, os que tratam ou levam para tratar são sadios, os 
paradigmas do normal? Haverá, como supõe Devereux, critérios independentes da cultura, 
do momento histórico, da posição de cada um na sociedade (sua posição de classe)? Esse 
questionamento torna-se crucial, pois o corpo teórico da psicopatologia clínica, que tende a 
padronizar comportamentos em termos de normalidade ou anormalidade, surge em um 
determinado momento histórico, em uma outra sociedade, dentro de uma determinada classe 
social e vem normatizar as diversas sociedades do mundo, para esse fim idealmente sem 
classes. 
E eis que, mesmo não tendo parâmetros para conceituar normal e anormal (com sentido 
geralmente de patológico), ou tendo parâmetros frágeis e contraditórios, altamente 
subjetivos, o clínicopsi trata. Trata o quê? O desviante da média; o comportamento bizarro; 
um conflito interior do indivíduo; o grupo social ao qual o médico pode não pertencer; os 
valores que não são os do médico; o disco-voador, talvez. 
Neste ponto, suponho ser possível recolocar o problema. Na verdade, a base conceitual da 
psicopatologia seria a divisão em categorias de normal e patológico? Há que introduzir, sem 
dúvida, alguns conceitos prévios e que os fundamentam. 
Qual é esta "atividade psíquica real e consciente?" De que real estamos falando? Pois o que 
nos parece é que real tem conotação de ideal. E um real inexistente, porquanto 
desvinculado, idealizado, ideológico. Volta-se aqui a dicotomia maniqueísta de um bem, e um 
 
 
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mal, transcendentes, como é transcendente o próprio real sem sociedade, sem classe social, 
sem contexto histórico. 
A seguir, ou antes, talvez, a realidade de quem. Pois o perigo mais imediato é que, sem uma 
conceituação do próprio objeto da ação clínica - o ser humano - toda discussão acerca desse 
objeto fica invalidada. E se o clínicopsi trabalha com um objeto não definido (embora 
suponha que o esteja) e um objeto abstrato, como irá evitar a tendenciosidade de sua 
prática? Quem é este ser tratado por ele? Um ser universal, um ente hegeliano ideal 
dominado pelo mundo das idéias, ou um ser inserido em um contexto determinado, produtor 
de seus meios de subsistência" e dessas idéias que supostamente dominam? Pois entre o 
liberalismo vienense de Freud e o anticapitalismo de Cooper estão duas visões do homem. 
Se lidarmos com um ente ideal, então o nosso discurso não deve ser questionado, pois os 
termos são indiferentes. Nem é mesmo necessário "a quarta corrente", pois que ela só nos 
dirá o que já sabemos. Mas se lidamos com um ser determinado, inserido em um grupo 
social determinado, em um dado momento histórico, então é importanteouvir - e respeitar - o 
discurso de "louco", pois é este o homem "que nos interessa como sujeito e objeto de nosso 
estudo e de nossa prática. E o seu discurso provavelmente não será um repetir ideologias 
impostas, já que está eivado de sua própria ideologia de grupo e reflete as condições que 
permitem a esse "louco", enquanto membro de seu grupo social, ser agente da história desse 
grupo, mesmo que um agente externamente invalidado. 
Finalmente, o terceiro conceito a ser pensado: o do social. Alienar o louco do seu grupo é, 
como já vimos, tirar dele uma parte vital de sua identidade e colocar seu discurso ao nível do 
incompreensível. Porque para Es., vindo do sertão nordestino, ao ver sua "companheira de 
fé" nua, em meio a tantos homens, cortada e manipulada com indiferença, não havia outra 
resposta senão a da agressão física, já que seu braço é a única arma, a força de trabalho, 
que aprendeu a usar. Mas para o clínico, formado em um centro urbano, a arma, o 
instrumento de trabalho que maneja, é o saber: "furor epilético", justificando uma internação 
psiquiátrica que anula a denúncia, abafa o afeto e invalida a resposta. Por outro lado, alienar 
o louco é tirar do grupo uma parte de sua identidade e podar-lhe um de seus meios de 
expressão. A leitura ficará assim duplamente incompreensível. 
 
 
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A ameaça que nos persegue - e é de algum modo explicitada no discurso dos pacientes - é a 
de sermos reduzidos a uma atitude de guardiões da moral vigente na sociedade determinada 
onde nos inserimos, como missionários da ideologia dominante. Reproduzir as relações 
sociais extra-muros. Reproduzir a ideologia que representa essas relações, poderíamos 
concluir a respeito do discurso psicopatológico, onde normal e patológico se inserem como, 
em outro campo, se inserem os privilegiados e os sem privilégios, os que formam alianças e 
os que são delas alijados, os que dominam e os que são dominados. 
Assim, se é possível extrairmos algumas conclusões realmente fidedignas desse artigo, a 
primeira é a de que, para abrirmos uma discussão que se proponha sincera sobre o 
problema da definição da loucura é preciso ouvir primeiro a parte mais diretamente atingida 
pela definição: os loucos. A segunda é a de que, ao "ouvirmos" o louco, e o modo como 
ouvimos, ao nos posicionarmos assim frente à própria definição de homem, estamos 
inserindo assumidamente o ideológico no discurso psicopatológico (e ele inexiste em algum 
discurso científico?). O que nos resta talvez, seguindo o exemplo de Howard Becker, é 
definirmos "de que lado nós estamos" (4). 
 
 
 
 
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UNIDADE 5 
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais. 
Funções Psíquicas e suas alterações 
 
Carlos Eduardo Sandrini De Castro5 
O presente trabalho tem como objetivo abordar as funções psíquicas, dentre elas 
especialmente a consciência, atenção e orientação. 
Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este 
fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta 
para diagnóstico sindrômico e nosológico é a fenomenologia: psicopatologia fenomenológica, 
que baseia-se na descrição dos fenômenos psíquicos, conforme sejam observados ou 
relatados. O importante na fenomenologia é descrever o que é vivido diretamente pelo 
indivíduo. 
Existem dois meios de adoecer, segundo a psicopatologia fenomenológica: o 
desenvolvimento - o adoecer é compreendido pela constituição, personalidade e história do 
paciente; e o processo - algo diferente e novo na constituição e história do paciente. 
Normalmente, examina-se de forma isolada cada função psíquica do paciente para depois 
formular o todo psíquico. A psicopatologia é, pois, uma abstração analítica da realidade e da 
totalidade do psiquismo humano, decompondo-o em conceitos operativos para formular, 
mais tarde, os quadros nosológicos. 
A psicopatologia importa-se fundamentalmente com a forma de cada função psíquica, os 
conteúdos têm uma importância secundária. Exemplificando, podemos dizer que a forma de 
 
5 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina 
 
 
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um livro é aquilo que faz com que reconheçamos que se trata de um livro, isto é, a essência 
deste objeto; e o conteúdo é aquilo que define tal livro, ou seja, sua mensagem. 
Através da caracterização das funções psíquicas, distinguimos os principais quadros clínicos 
das diversas síndromes mentais, valendo-nos desses parâmetros para a adoção da conduta 
terapêutica mais adequada. Resumiremos a seguir três funções psíquicas e suas 
anormalidades mais freqüentes nas diversas síndromes psiquiátricas. 
CONSCIÊNCIA 
É a capacidade neurológica de captar o ambiente e de se orientar de forma adequada, é 
estar lúcido. A consciência pode ser considerada do ponto de vista psiquiátrico, como um 
processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica. "É uma atividade integradora 
dos fenômenos psíquicos, é o todo momentâneo que possibilita que se tome conhecimento 
da realidade naquele instante." (Rosenfeld, 1929). É uma das funções psíquicas com a qual 
estabelecemos contato com a realidade, através do qual tomamos conhecimento direto e 
imediato dos fenômenos que nos cercam. 
Podemos ter alterações "fisiológicas" da consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e 
cansaço. 
 As anormalidades da consciência podem ser classificadas como quantitativas ou 
qualitativas. Nas alterações quantitativas, há variação do nível de consciência, ou seja, da 
claridade com que os fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo apresenta fala, 
pensamento e emoções que dificilmente podemos entender, confunde percepções, não 
consegue fixar sua atenção e geralmente está desorientado. As alterações qualitativas 
referem-se a variação de amplitude do campo de consciência. Uma alteração qualitativa, é o 
estado crepuscular, onde há um estreitamento do campo da consciência, o paciente parece 
ter perdido o elo com o mundo exterior, quase não fala e age como se estivesse 
psiquicamente ausente. O estado crepuscular pode estar presente em algumas doenças 
como a epilepsia e a histeria. 
 
 
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Se desenhássemos uma escala para as alterações quantitativas, ou seja, para a diminuição 
do nível de consciência, esta seria da seguinte forma: inicialmente teríamos o paciente em 
lucidez, daí passando para sonolência, da sonolência este poderia ficar em topor ou 
obnubilação, a diferença é que na obnubilação teríamos um conteúdo anormal na 
consciência, de qualquer um destes dois estágios o paciente passaria para o coma. 
Resumidamente, poderíamos considerar somente: 
Estreitamento: é a redução quantitativa e qualitativa da consciência, havendo um conteúdo 
menor e uma seleção sistemática dos temas, como ocorre nas manifestações histéricas (nas 
dissociações) e nos estados crepusculares (na epilepsia). 
Entorpecimento: diminuição ou perda da lucidez e da vigília, portanto a atenção dificilmente 
se forma ou se mantém. Ocorre em situações de febre, acidente vascular encefálico, 
traumatismo crânio encefálico, etc. 
Obnubilação: é a diminuição da lucidez (como no entorpecimento) associado à presença de 
um conteúdo anormal na consciência. Geralmente acompanhado de distúrbios 
sensoperceptivos e do pensamento, como ocorre por exemplo no delirium. 
No Exame Psíquico é importante: Observar modificações no nível de consciência, registrar 
possíveis flutuações no nível de consciência e observar se há estreitamento da amplitude do 
campo de consciência. Isso pode ser observado pela capacidade de responder ao ambiente, 
em especial a participação no exame.Duas outras funções auxiliam na avaliação da 
consciência, pois já estão alteradas em diminuições bem discretas do nível de consciência, 
quando o indivíduo nem aparenta estar sonolento ainda, que são: a atenção e a orientação. 
ATENÇÃO 
Considera-se a atenção como um processo psicológico mediante o qual concentramos a 
nossa atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação, 
percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, 
as representações, os conceitos e elaborar o pensamento. Resumidamente pode-se 
 
 
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considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa; é um 
processo intelectivo, afetivo e volitivo. 
É importante ressaltar que a atenção não é uma função psíquica autônoma, visto que ela 
encontra-se vinculada à consciência. Por exemplo, o indivíduo que está em obnubilação 
geralmente se encontra com alterações ao nível da atenção, apresentando-se hipervigil. 
Contudo, um paciente em torpor se encontra hipovigil. 
Sem a atenção a atividade psíquica se processaria como um sonho vago, difuso e contínuo. 
Segundo Alonso Fernández, ao concentrar a atenção escolhemos um tema no campo da 
consciência e elevamos este ao primeiro plano da mesma, mantendo este tema 
rigorosamente perfilado, sem deixar-se desviar pelas influências dos setores excêntricos do 
campo da consciência, podendo modificar o tema escolhido com plena liberdade. Este tema 
poderia ser um objeto, uma ação, um lugar, uma palavra, etc. 
Distinguem-se duas formas de atenção: a espontânea (vigilância) e a ativa (tenacidade). 
No primeiro caso ela resulta de uma tendência natural da atividade psíquica orientar-se para 
as solicitações sensoriais e sensitivas, sem que nisso intervenha um propósito consciente. A 
atenção voluntária é aquela que exige certo esforço, no sentido de orientar a atividade 
psíquica para determinado fim. Entretanto, o grau de concentração da atenção sobre 
determinado objeto não depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das 
condições gerais do psiquismo. 
O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a intensidade com que 
a efetuamos é o grau de concentração alcançado. 
As alterações da atenção desempenham um importante papel no processo de conhecimento. 
Em geral estas alterações são secundárias, decorrem de perturbações de outras funções das 
quais depende o funcionamento normal da atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos 
estados patológicos determinam uma incapacidade de concentrar a atenção. 
 
 
 
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Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento acentuado da atenção em 
todos os seus aspectos. É observada em estados infecciosos, embriaguez alcoólica, 
psicoses tóxicas, esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por: 
- falta de interesse (deprimidos e esquizofrênicos) 
- déficit intelectual (oligofrenia e demência) 
- alterações da consciência (delirium) 
Os estados depressivos geralmente se acompanham de diminuição da capacidade de 
concentrar a atenção como um todo. No entanto, têm aumento da concentração ativa para 
temas depressivos (hipertenacidade). 
Hipotenacidade: diminuição da atenção "ativa". 
Hipertenacidade: aumento da atenção "ativa" 
Hipovigilância: diminuição da atenção "passiva" 
Hipervigilância: "distratibilidade", ou aumento da atenção "passiva" 
Hipervigilância e Hipotenacidade: ocorrem nos casos de mania. 
Hipovigilância e Hipertenacidade em temas depressivos: ocorrem nos casos de 
depressão. 
No Exame Psíquico é importante: Referir se o paciente está disperso ou não, como se 
comporta em relação ao que acontece no ambiente. Descrever se responde às perguntas 
prontamente ou é necessário repeti-las. Pode-se pedir para que o paciente realize operações 
aritméticas ou enumere dias da semana ou meses, em ordem normal ou inversa o que 
exigiria mais atenção. 
ORIENTAÇÃO 
"Complexo de funções psíquicas em virtudes das quais temos consciência, em cada 
momento de nossa vida, da situação real em que nos encontramos", ou seja, é a capacidade 
 
 
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de situar-se em relação a si e ao mundo no tempo e no espaço. É bastante complexo e exige 
a inter-relação entre vários dados psíquicos. A orientação requer atividades mentais como 
tendências instintivas, percepção, memória, atenção e inteligência. Alterações nestas 
atividades mentais podem levar à graus variados de desorientação. 
Orientação autopsíquica: relativa ao próprio indivíduo, ou seja, à capacidade de fornecer 
dados de sua identificação, saber quem é, seu nome, idade, nacionalidade, profissão, estado 
civil, etc. 
Orientação alopsíquica: relacionada ao tempo e espaço, ou seja, à capacidade de 
estabelecer informações corretas acerca do lugar onde se encontra, tempo em que vive, dia 
da semana, do mês, etc. 
As desordens destes dois estados são chamadas de desorientação autopsíquica e 
alopsíquica, respectivamente. Essas alterações dependem estritamente do tipo de 
perturbações das funções psíquicas a que se acham subordinadas a orientação no tempo, 
no espaço e sobre si próprio. Em geral, a desorientação ocorre de modo gradual, 
inicialmente em relação ao tempo, depois ao espaço e a ultima a ser alterada é a 
autopsíquica. Os tipos de desorientação distinguem-se ainda em três outras formas: 
Desorientação apática: decorrente de alterações da vida instinto-afetiva. Paciente está 
lúcido e percebe com clareza e nitidez o que se passa no mundo exterior, porém há falta de 
interesse, inibição psíquica ou insuficiente energia psíquica para a elaboração das 
percepções e raciocínio. O enfermo percebe o ambiente porém não forma um juízo sobre a 
sua própria situação. Ocorre com frequência em esquizofrênicos crônicos e em quadros 
depressivos. 
Desorientação amnésica: relativa ao bloqueio dos processos mnêmicos. Incapacidade do 
doente em fixar acontecimentos (memória) e consequentemente, incapacidade de orientar-se 
no tempo, espaço em relações com outras pessoas. Pode ocorrer em pacientes com quadros 
demenciais. 
 
 
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Desorientação delirante: produzida por perturbações do juízo de realidade, devido à 
presença de falsos conteúdos (ou conteúdos anormais) no campo da consciência. Pode 
ocorrer em pacientes que estão psicóticos: na esquizofrenia, na mania e depressão psicótica. 
Os esquizofrênicos com desorientação delirante geralmente apresentam, também, dupla 
orientação. 
Dupla orientação: permanência simultânea da orientação verdadeira ao lado de uma falsa, 
ou seja, o mundo real sincrônico ao mundo psicótico, como ocorre em esquizofrênicos. Por 
exemplo, um paciente orientado em tempo e lugar que acredita estar no inferno ou em uma 
prisão. 
Desorientação com turvação da consciência: aqui a pessoa encontra-se desorientada 
pois está com comprometimento do nível de consciência. Ocorre no delirium, seja no 
causado devido ao álcool (tremens) ou por doenças físicas e/ou medicamentos. 
Desorientação oligofrênica: A pessoa está com alteração do nível de orientação pois este 
não possui inteligência para correlacionar ambientes, pessoas, dias, etc. Pode ocorrer no 
retardo mental. 
No Exame Psíquico é importante: Observar desorientação no tempo, pelo correto 
conhecimento do dia, mês, época do ano, dia da semana e ano. Observar se o paciente tem 
noção do tempo decorrido no hospital ou entre eventos recentes. Quanto ao espaço, 
perguntar sobre o lugar (nome do hospital, andar, cidade, endereço). Quanto à pessoa, 
perguntar sobre dados pessoais (nome, idade, data de nascimento), bem como sobre 
familiares. 
 
 
 
 
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UNIDADE 6 
Objetivo: Permitira compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais. 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais, 
senso-percepção e representações, memória) 
Texto de Aline Costa Gil6 
 
A consciência pode ser definida por pelo menos três aspectos diferentes. 
- Definição neuropsicológica: Trata-se especificamente do nível de consciência, no sentido 
de estado vigil, no estado de estar desperto, acordado, vigil, lúcido. 
 
- Definição psicológica: é a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em um 
determinado momento. 
 
Definição ético-filosófica: significa tomar ciência dos deveres éticos e assumir as 
responsabilidades, direitos e deveres. 
 
Verificado o fato de se ter na rotina hospitalar, o critério médico de avaliação de 
consciência procura-se diferenciar dois subtipos de consciência: “consciência clínica ou 
quantitativa” e “consciência do eu”. 
 
 
6 Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf 
 
 
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A Consciência Clínica é aquela avaliada dentro dos parâmetros quantitativos, de acordo com 
os critérios médicos de avaliação de consciência, em que, segundo Fongaro e Sebastiani, 
destacam-se oito níveis, sendo eles: normal, torpor, turvação, obnubilação, coma I, coma II, 
coma III e morte cerebral. 
Consciência do Eu é a consciência dita qualitativa, avaliada sob critérios psicológicos, cujo 
objetivo é verificar a consciência da “vida psíquica”, que se dá a partir de um sofisticado 
processo de interação da criança recém-nascida com o mundo, a capacidade de 
diferenciação dela e do mundo, que mais tarde irá complementar a estrutura do “eu físico”, 
compondo, então, o “eu self”. 
A atenção é a direção da consciência, processo psíquico que concentra a atividade mental 
sobre um determinado setor, envolvendo um determinado esforço mental. 
 
A Sensopercepção compreende a capacidade sensorial e perceptiva do sujeito, ou seja, 
como os órgãos do sentido, estão captando e interpretando as impressões que o meio 
externo ou interno emitem. Aqui é importante lembrar que esta função psíquica, quando está 
alterada, juntamente com alteração do pensamento, pode indicar um caso de estrutura 
psicótica. 
Memória caracteriza-se como a capacidade de registrar, manter e evocar os fatos já 
ocorridos. Segundo Paim, “[...] a memória propriamente dita é considerada por alguns 
psicólogos como um processo puramente fisiológico, enquanto a capacidade de fixação e a 
evocação das lembranças são tidas como atos psíquicos, pelo fato de serem vividos pelo 
indivíduo”. 
Vontade ou Volição define-se pela capacidade de cada sujeito determinar-se. A vontade 
expressa a relação entre intenção e ação na realização dos desejos, se existe coerência 
entre o desejo interno e a capacidade de operacionalizá-lo. Sobre esta função é importante 
avaliar se o sujeito hospitalizado deseja e operacionaliza, se ele deseja e não operacionaliza, 
ou se não deseja. 
 
 
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A linguagem é a atividade especificamente humana e é o principal instrumento de 
comunicação dos seres humanos. Define-se pela expressão de sentimentos e pensamentos 
verbalizados através da comunicação verbal direta, voluntária e de forma simbólica. Em uma 
avaliação dentro de uma instituição hospitalar observa-se os processo de comunicação 
verbal e não-verbal-faciais, posturais, gestuais - manifestos pelo paciente. Avalia-se, neste 
sentido o discurso do sujeito doente e não só o discurso sobre a doença. 
 
 
 
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UNIDADE 7 
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais. 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor) 
Texto de Aline Costa Gil7 
 
O estudo da afetividade abrange as emoções, os sentimentos em geral, o humor ou estado 
de ânimo, afetos, paixões e suas repercussões no psiquismo e no corpo. 
Segundo Dalgalarrondo, [...] a vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a 
todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se vazia, sem sabor. O 
termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de vivências afetivas como 
o humor, as emoções e os sentimentos. 
De acordo com Paim, sentimento “[...] é um estado afetivo acentuado, estável, duradouro e 
organizado com maior riqueza e complexidade do que os elementos representativos”. E 
segundo Schneider, os sentimentos são considerados com “estados do eu, não podem ser 
controlados pela vontade e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos 
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no interior do organismo”. Os 
sentimentos, muitas vezes podem ser confundidos com as sensações, devido os sentimentos 
sensórias encontrarem-se muito próximos a partes do corpo, como o “desânimo”. 
A emoção “[...] é um estado afetivo intenso e complexo, proveniente de uma reação ao 
mesmo tempo psíquica e orgânica, do indivíduo inteiro contra certas excitações internas e 
externas”. 
 
7 Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf 
 
 
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Segundo Störring, “[...] o estado afetivo fundamental de um indivíduo (alegria, bem-estar, 
júbilo, felicidade, angústia, tristeza, desespero) depende inteiramente das circunstâncias 
pessoais da vida, dos sujeitos, inclinações e especialmente do estado de sua vida física.” 56 
E que segundo Paim, “[...] influi consideravelmente na direção de nossa conduta e no curso 
do pensamento”. 
A importância em avaliar a função psíquica afetividade é verificar que sentido e qual a 
importância da afetividade na vida do paciente, pois de modo geral quando a afetividade está 
alterada todas as outras funções psíquicas também se alteram. Pode-se dizer que a função 
psíquica afetividade é aquela que, juntamente com o pensamento, conduz a vida psíquica 
dos seres humanos, sendo diferente para cada tipo de sociedade e particular para cada 
sujeito. 
Ao ser avaliada a afetividade, encontram-se algumas dificuldades técnicas, pois em 
psicologia vários termos são utilizados e, dependendo da abordagem, terão o mesmo sentido 
com nomes diferentes ou ainda com nomes semelhantes, com outro sentido. Pode-se citar, 
por exemplo, a psicanálise. Em psicanálise o termo que se utiliza é ‘afeto’, significa “[...] a 
expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações”. O afeto, em 
psicanálise, é um dos elementos representativos da pulsão. Pulsão é um conceito, [...] 
situado na fronteira entre o mental e o somático, como representante psíquico dos estímulos 
que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da exigência 
feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo. 
Assim, pode-se dizer que cada abordagem da psicologia vai ter uma qualificação diferente, já 
na visão médica podemos encontrar, o que é bastante comum, o termo humor. O humor, de 
acordo com Bleuler “[...] consiste na soma total dos sentimentos presentes na consciência 
em dado momento”. 
Mas, independentemente do termo que se utiliza e da a abordagem adotada, esta função 
psíquica pode ser considerada como um “termômetro” de como está o paciente. Por vezes, 
podese encontrar pacientes internados com alterações importantes no seu estado afetivo, e 
o que vai ser fundamental estar avaliando e verificando é o contexto em que se apresenta 
 
 
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esta alteração, pois, algumas destas alterações são perfeitamente compreensíveis e 
respondem de maneira adequada a situação apresentada.Desta forma, entre as alterações da afetividade, podemos encontrar: 
A hipertimia como sendo um estado de ânimo morbitamente elevado, a hipotimia que em 
geral apresenta-se através de uma diminuição do estado geral da afetividade, e a distimia, de 
acordo com Dalgalarrondo “[...] é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no 
sentido da inibição quanto no da exaltação”. 
Apatia: a apatia é caracterizada por uma diminuição afetiva, “[...] no sentido de que a 
afetividade esteja completamente abolida” 61. De acordo com Dalgalarrondo “[...] os 
pacientes queixam-se de não poderem sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada 
[...] Na apatia, o indivíduo, apesar de saber da importância afetiva que tal experiência deveria 
ter para ele, não consegue sentir nada.” O que se percebe é uma alteração qualitativa dos 
processos afetivos causando sentimentos inadequados. 
Humor Triste: segundo Dalgalarrondo, está relacionado com o humor depressivo, que 
geralmente está associado a desesperança e muito angústia. 
Ideação Suicida: está relacionada à “[...] idéias com a morte, em que o sujeito gostaria de 
morrer para acabar com o sofrimento; idéias suicidas, que o sujeito pensa em se matar; 
planos suicidas, aqui o sujeito planeja como iria fazer; os atos, em que o sujeito diz que 
comprou remédios, veneno, corda ou revólver e tentativas de suicídio”. 
Euforia: diferente da ‘hipertimia’, a euforia é o humor morbidamente exagerado, um estado 
de alegria intenso e desproporcional. 
Hipomodulação de afeto: “[...] é a incapacidade do paciente em modular a resposta afetiva de 
acordo com a situação existencial, indicando rigidez do indivíduo na sua relação com o 
mundo”. 
 
 
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Inadequação do afeto: enquanto na hipomodulação o paciente não consegue construir uma 
relação mais flexível com o mundo, na Inadequação do afeto o paciente mostra-se 
completamente 
“[...] incongruente a situação existencial ou a determinados conteúdos ideativos” . Por 
exemplo, alguém ter um ataque de riso frente a notícia de um ente muito querido. 
Embotamento afetivo: ocorre em sujeitos que apresentam um esvaziamento afetivo, por 
exemplo, não expressam afeto na hora de relatando algum fato. 
Anedonia: é a ausência ou diminuição da capacidade de sentir prazer total ou parcial com 
determinada atividade e experiência da vida, a perda do prazer com algo que antes em sua 
vida era muito prazeroso, isto dentro de um determinado contexto de vida, pois em 
momentos de luto isso é comum e não deve ser avaliado como alteração patológica. 
Labilidade Afetiva: é revelada por estados afetivos nos quais ocorrem mudanças súbitas, o 
sujeito oscila de forma abrupta, rápida e inesperada. De acordo com Dalgalarrondo, isto 
ocorre quando um paciente está contando algo e, por exemplo, começa a chorar 
compulsivamente, passando logo a seguir a sorrir tranquilamente. 
Ambivalência Afetiva: ocorre quando as reações do individuo frente a eventos e vínculos é 
dúbia. É um termo utilizado por Bleuler para descrever sentimentos opostos em relação ao 
mesmo estímulo. Segundo Paim “[...] o doente com freqüência não pode unir ambas as 
tendências; ama e odeia ao mesmo tempo, sem que ambos os sentimentos ajam entre si ou 
se debilitem”. 
Irritabilidade Patológica: de acordo com Bleuler é uma predisposição especial ao desgosto. 
Os enfermos manifestam inapetência, irritabilidade, apresentando uma atitude explosiva, 
diferente da tenacidade afetiva.70. 
Tenacidade Afetiva: esta alteração da afetividade, diz respeito a permanência anormal de 
alguns estados afetivos, uma fixação prolongada de alguns sentimentos desagradáveis, por 
exemplo o ‘rancor’. 
 
 
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UNIDADE 8 
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais. 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO) 
 
Texto de Aline Costa Gil 8 
O pensamento é uma das atividades mentais mais sofisticadas que o sujeito possui. Diz 
respeito à capacidade de elaborar conceitos, articular juízos, constituir raciocínio e ter a 
capacidade de síntese e propor uma solução adequada para um problema. 
De acordo com Dalgalarrando, “[...] o pensamento se constitui a partir de elementos 
sensoriais, que, embora não sejam propriamente intelectivos, podem fornecer substrato para 
o do pensar: são imagens perceptivas e representações”. 
Os elementos propriamente intelectivos do pensamento podem ser distinguidos por alguns 
elementos constitutivos, em que autores se utilizam, sendo eles: o conceito, o juízo e o 
raciocínio. 
Segundo Dalgalarrondo, o conceito forma-se a partir das representações, sendo 
propriamente cognitivo e intelectivo, exprimindo-se apenas as características mais gerais dos 
objetos e fenômenos. 
O juízo representa “[...] o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas 
entre os conceitos básicos” e que tem “[...] por função formular uma relação unívoca entre 
um sujeito e um predicado”. 
 
8 Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf 
 
 
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O raciocínio, segundo Paim, é usado em dois sentidos: lógico e psicológico. No sentido 
lógico, o raciocínio consiste em “[...] orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo 
alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional ante as 
necessidades do momento” e no sentido psicológico tem o mesmo sentido de pensar. 
O pensamento é uma das funções psíquicas mais importantes para avaliar em uma primeira 
entrevista, pois em casos graves como a psicose é a uma das funções que estará alterada e 
sua avaliação auxilia na hora de um diagnóstico diferencial. Mas é sempre importante 
lembrar que um componente do aparelho psíquico não funciona isoladamente, mas, para que 
haja adequação do pensamento, há a integração com a linguagem, a afetividade, a 
sensopercepção entre outras funções. 
De acordo com Sebastiani, quando um paciente internado encontra-se com o pensamento 
alterado, não importa o grau, geralmente é uma tentativa simbólica de negar o conflito real, 
pois em geral, tem um objetivo ligado a da satisfação de um desejo, como o de criar 
fantasias e crenças que são diferentes, ao contrário, da situação atual. 
Quando se faz uma avaliação do pensamento em um paciente internado, é importante estar 
atento à situação real do paciente, do momento atual que este sujeito está vivenciando, 
sempre verificar qual a doença e principalmente o tratamento, pois substâncias tóxicas 
introduzidas no organismo, bem como a febre alta, podem produzir alterações importantes. 
Caso verifique-se que há uma alteração do pensamento em um paciente, como por exemplo, 
o delírio, o profissional deve procurar verificar qual o sentido desta alteração, mesmo que ela 
apareça de forma “bizarrra”. Desta forma, após ser verificado, encontrado e reconhecido o 
sentido, poderá auxiliar no curso do tratamento desse paciente. Segundo Sebastiani, 
inúmeros pacientes portadores de patologias graves, após passarem por um período anterior 
de extremo sofrimento físico e emocional, entram em quadro de dissociação, com alterações 
importantes na afetividade, consciência e pensamento. Muitas vezes este paciente que se 
encontra em um momento de confusão psíquica passa a incomodar a equipe de saúde, 
principalmente no hospital geral, em que grande parte desses profissionais não tem preparo, 
ou não sabe o que fazer com estes pacientes. Isto de alguma forma acaba por afastar a 
 
 
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equipe de profissionais da saúde do contato com este paciente, e pode causar uma 
sensação dem desconforto e até mesmo de hostilidade. Por este motivo, considera-setão 
importante a avaliação psíquica e o diagnóstico, para que tente evitar um elemento a mais, 
que agrave a situação do sujeito internado, já que este se encontra afastado de todas as 
coisas que mantêm o seu bem-estar mental, como a ausência do seu lar, da sua cama, dos 
objetos pessoais e do convívio familiar. O pensamento pode ser analisado através do 
processo de pensar, em que, frequentemente, é utilizado em uma avaliação psicológica nos 
hospitais gerais, assim como esta pesquisa pretende analisar através do discurso dos 
pacientes. Desta forma, o pensamento pode-se dividir em três componentes Curso: identifica 
a velocidade em que o pensamento ocorre, se normal, acelerada ou lentificada. 
- Forma: verifica a estrutura do pensamento propriamente dita, ou seja, se o pensamento 
possui ordenação (começo, meio e fim). 
- Conteúdo: avalia a substância do pensamento, sua coerência e grau de concordância com 
a realidade. Aquilo que corresponde à temática do pensamento. 
De acordo com Dalgalarrondo, o pensamento de um sujeito que não possui nenhum tipo de 
doença mental, normalmente é apresentado de maneira lógica, mas muitos sujeitos tendem 
a utilizar estereótipos, em que muitas vezes decisões são tomadas sem evidências 
concretas, concluindo algo que aparentemente são ditas como certas. Com isso, o autor 
coloca que é “[...] difícil discriminar entre o pensamento normal e patológico, principalmente 
no que concerne aos tipos de pensamento e o estilo de pensar”. Mesmo assim, pode-se 
verificar uma série de alterações do pensamento, assim como: 
Pensamento mágico: esse tipo de pensamento normalmente se apresenta em crianças e não 
é considerado patológico. Em adultos verifica-se uma “relação puramente subjetiva de idéias” 
que são associadas a fatos objetivos. O pensamento mágico, segundo Dalgalarrondo, fere os 
princípios da lógica formal, não respeitando indicativos da realidade. Geralmente o 
pensamento mágico aparece como desejos, fantasias e temores do sujeito, consciente ou 
inconsciente, adequando-se a realidade ao pensamento. 
 
 
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Pensamento concreto: o pensamento apresenta-se de tal forma que o sujeito não consegue 
metaforizar, o pensamento está pautado no concreto. O seja, o sujeito não consegue “[...] 
fazer a distinção entre uma dimensão abstrata ou simbólica e uma dimensão concreta e 
imediata dos,fatos”. 
Pensamento derreísta: este tipo de pensamento assemelha-se com o pensamento mágico, a 
diferença é que, o pensamento, somente obedece à lógica e à realidade naquilo que 
interessa ao desejo do sujeito, distorcendo a realidade para que se adapte aos seus anseios. 
Pensamento demencial: o pensamento mostra-se empobrecido, há uma limitação dos 
conceitos, uma diminuição dos elementos representativos e uma dificuldade de encontrar as 
palavras adequadas. O paciente geralmente apresenta uma narrativa pobre, de forma lenta e 
com dificuldade para passar de um assunto a outro. 
Pensamento vago: de acordo com Dalgalarrondo, o pensamento vago apresenta-se quando 
o paciente expõe um pensamento muito ambíguo, mostrando-se obscuro. Há uma 
imprecisão de raciocínio, relativos às relações conceituais e a formação de juízo. 
Pensamento prolixo: quando o sujeito apresenta dificuldade de chegar a conclusões sobre 
um determinado tema, mostra uma dificuldade em construir um pensamento direto, claro e 
acabado, com uma incapacidade de síntese. 
Pensamento confusional: um pensamento incoerente, com dificuldades marcantes em fazer 
os vínculos entre os conceitos e juízos, devido à turvação da consciência. 
Pensamento desagregado: trata-se de um pensamento incoerente, em que o paciente ao 
falar não comunica nada ao “interlocutor”, uma “salada de palavras”. 
Pensamento obsessivo: são idéias ou representações que impõem-se à consciência do 
sujeito de modo persistente e incontrolável. De acordo com Paim, “[...] o pensamento 
obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode ‘cristalizar’ num estado de 
dúvida permanente. O estado afetivo permanente do enfermo é de apreensão e ansiedade”. 
 
 
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Desintegração dos conceitos: segundo Paim “[...] a palavra se desprende por completo de 
sua significação propriamente dita: simultaneamente podem corresponder-lhe as 
significações heterogêneas; até os próprios conceitos se modificam [...] ou acontece que os 
conceitos se desfazem e uma mesma palavra ter significados cada vez mais diversos”. 
Condensação dos conceitos: o pensamento mostra-se condensado quando o sujeito está 
relatando algo e duas ou mais idéias são condensadas ou se fundem em um pensamento. 
Bleuler exemplifica: “Deus é uma nave do deserto”, neste caso foram condensadas idéias 
relacionadas com a bíblia, com Deus, com deserto e com camelo; segundo o autor o camelo 
é vulgarmente de Taquipsiquismo: é quando curso do pensamento apresenta-se de forma 
muito acelerada, uma idéia se sucede à outra rapidamente, podendo perder a capacidade de 
articular linguagem e pensamento. 
Bradipsiquismo: ao contrário do taquipsiquismo, no bradipsiquismo o pensamento é lento, 
apresenta-se de forma dificultosa, o paciente não consegue articular ideias. 
Bloqueio ou interceptação do pensamento: “[...] verifica-se o bloqueio do pensamento quando 
um paciente, ao relatar algo, no meio de uma conversa, brusca e repentinamente interrompe 
seu pensamento, sem qualquer motivo aparente”. 
Fuga de idéias: de acordo com Paim, “[...] a fuga de idéias é uma perturbação da expressão 
do pensamento, caracterizada por uma variação incessante do tema e uma incapacidade 
absoluta de levar o raciocínio a uma conclusão”. 99 
Idéias Prevalentes: são idéias que, por terem uma importância afetiva grande para o sujeito, 
adquirem uma predominância maior sobre os demais pensamentos e se conservam 
obstinadamente na mente do sujeito. As idéias prevalentes diferenciam-se das obsessivas, 
por terem sentido para o paciente. É importante destacar que nem todas as idéias 
prevalentes podem ser consideradas patológicas. De acordo com Paim, “o paciente portador 
de idéias prevalentes se encontra impossibilitado para se subtrair a sua influência e revela 
uma tendência a associa-lás a novas vivências”. 
 
 
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Dissociação do pensamento: o pensamento não consegue seguir uma seqüência lógica e 
organizada. 
Afrouxamento das associações: neste caso há um afrouxamento das associações, parecem 
mais livres, estão expostas de maneira lógica, mas não muito bem articuladas. 
Descarrilhamento do pensamento: o descarrilhamento do pensamento acontece quando o 
sujeito está falando e de repente o pensamento é desviado de seu curso normal, começa a 
falar sobre outra coisa e de repente volta novamente. 
Desagregação do pensamento: “[...] profunda e radical perda dos enlaces associativos, total 
perda da coerência do pensamento. Sobram apenas ‘pedaços’ de pensamento, conceitos e 
idéias fragmentadas, muitas vezes irreconhecíveis [...]”. Uma alteração importante do 
pensamento e que deve ser observada é o delírio, definido como “[...] pensamentos 
afastados da realidade e formados por idéias incompreensíveis, inamovíveis, irredutíveis, 
incorrigíveis, impenetráveis e não-relacionados a fatores causais” mediante uma lógica 
apresentada pela realidade. No que diz respeito aos delírios existem inúmeras classificações, 
de acordo com Dalgalarrondo, os frequentemente encontrados são: 
- Delírio religioso: acontece quando o sujeito, por exemplo, passa a afirmar ser um novo 
Messias, ou quando acredita ter poderes místicos. 
- Delírio persecutório: o sujeito acredita que está sendo perseguido por alguém, 
geralmente pessoas desconhecidas e que querem prejudicá-lo. 
- Delírio de referência: apresenta-se quando um sujeito acredita que os outrosestão 
constantemente falando dele, que ele é alvo freqüente de referencias depreciativas e 
caluniosas. 
- Delírio de culpa: ocorre normalmente em casos graves de depressão, em que o sujeito 
afirma ser culpado de tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas. E 
também que devem ser punidos por seus pecados. 
 
 
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- Delírio hipocondríaco: o sujeito acredita que tem uma doença grave, incurável. Mesmo que 
este sujeito faça exames, que o médico constate que ele não apresenta nenhuma doença, 
não é possível remover este pensamento. 
Constam também, algumas manifestações psíquicas e comportamentais ligadas ao processo 
de hospitalização do sujeito, que estão relacionados com o pensamento, sendo eles: 
negação, aparecimento ou intensificação do sofrimento, fantasias, culpa e limitação das 
atividades. 
 
 
 
 
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UNIDADE 9 
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução 
Tratado sobre patologia e terapêutica das doenças mentais9 
Wilhelm Griesinger* 
Sobre o substrato das enfermidades mentais e o método que convém seguir em seu estudo 
1º A obra que hoje publicamos tem como finalidade estudar as enfermidades mentais, 
aprender a reconhecê-las e a curá-las. A loucura, estado anormal da inteligência e da 
vontade, é apenas um sintoma; somente estudando essas enfermidades mentais sob um 
ponto de vista sintomatológico poderemos chegar a dividi-las em um certo número de grupos 
principais, cuja existência não poderia justificar-se de nenhum outro modo. O primeiro passo 
para chegar a entender estes sintomas consiste em localizá-los. A que órgão pertencem os 
fenômenos da loucura? Qual deve ser o órgão repetida e principalmente enfermo nos casos 
de loucura? A resposta a estas perguntas constitui a condição primeira de toda a psiquiatria. 
Se os fatos psicológicos e patológicos nos indicam que este órgão não pode ser outro que o 
cérebro, deduz-se que, antes que nada, em toda enfermidade mental devemos ver sempre 
uma afecção do cérebro. 
 
2º A psicologia considera a vida psíquica uma forma vital particular do organismo; nos atos 
psíquicos, vê as funções de um órgão determinado, assim como tenta deduzi-las a partir da 
 
9 Traduzido pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, do Laboratório de Psicopatologia Fundamental / 
Unicamp, a partir de: Rev Psiquiatria Fac Med Barna, v. 28, n. 5, p. 308-10, 2001. GRIESINGER, W. Traité sur 
la pathologie et la thérapeutique des maladies mentales. Paris: A. Delahaye Libraire-Éditeur, 1873. 
 
 
 
 
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estrutura desse órgão. Na verdade, algumas experiências conhecidas demonstram que, se 
as faculdades psíquicas, no sentido mais amplo do termo, vão ligadas a todo o sistema 
nervoso, o centro da inteligência e das faculdades afetivas reside no cérebro, e mesmo 
apenas em algumas partes desse órgão. Certamente, os diferentes estados de todo o 
sistema nervoso, transmitidos imediatamente ao cérebro, aportam alguns elementos capazes 
de manter e excitar as faculdades mentais (todo o sistema nervoso periférico pode ser o 
ponto de partida de impressões que modificarão nossos instintos e nossos afetos, que nos 
dão concepções mais ou menos claras ou obscuras). Mas o cérebro é o único que capta e 
percebe estas impressões, nele é onde se traduz a influência que exercem estas impressões 
sobre toda uma série de movimentos determinados e coordenados (sobre os atos). 
Observamos que, na série animal, as faculdades psíquicas são muito mais numerosas e 
mais variadas, que alcançam um aperfeiçoamento mais completo, que o cérebro apresenta 
um volume mais considerável, uma organização mais complexa e que a substância própria 
dos hemisférios em particular é mais volumosa. Por outro lado, observamos que no ser 
humano um defeito considerável no desenvolvimento do cérebro vai ligado a uma debilitação 
dos atos psíquicos elevados, da inteligência e da vontade (como freqüentemente podemos 
observar nos casos de idiotismo). Além disso, a experiência nos ensina que, em todos os 
seres humanos, as faculdades mentais experimentam modificações essenciais segundo o 
desenvolvimento e os câmbios que sofre o cérebro nas diferentes idades da vida. Nessas 
modificações temporais, nesse desenvolvimento progressivo através do qual o cérebro 
alcança progressivamente seu apogeu, para em seguida sofrer um retrocesso, a atividade 
intelectual do cérebro segue o mesmo ritmo que todas as funções orgânicas e se revela 
submetido, tal como estas, à lei do desenvolvimento do organismo. 
 
3º Tal como os fatos fisiológicos, os fatos patológicos revelam que unicamente o cérebro 
pode ser o centro das faculdades mentais, sejam normais ou mórbidas, e que a integridade 
do funcionamento psíquico depende da integridade desse órgão, ambas podendo ver-se 
alteradas por um fato patológico que tenha seu substrato em algum órgão mais ou menos 
próximo ao cérebro. Os sintomas constantes e essenciais das enfermidades cerebrais, sejam 
 
 
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produzidas por causas internas ou por uma lesão externa, consistem igualmente, além das 
anomalias da sensibilidade e do movimento, quando a enfermidade é grave, em alterações 
intelectuais (exaltação ou perda da inteligência, perda da consciência, delírio etc.). Os casos 
menos freqüentes, nos que, na presença de uma desorganização grave do cérebro ou de 
uma perda de substância desse órgão, não se observa nenhuma alteração mental, não 
podem retirar valor aos resultados obtidos na observação diária. 
Sem dúvida, além do transtorno das faculdades intelectuais e afetivas, na maioria das 
enfermidades mentais ainda se observam anomalias importantes de outras funções, que 
evidentemente também são próprias ao cérebro. Em primeira linha encontram-se as 
alucinações, anomalias da função central dos sentidos, que em grande parte são percebidas 
como impressões periféricas, mas cuja produção deve ser obrigatoriamente transmitida ao 
cérebro, como assim o demonstram os fatos das alucinações persistentes da visão, em 
indivíduos que padecem de cegueira total com atrofia dos nervos ópticos (Esquirol). 
4º Apesar de os fatos nos levarem forçosamente a transmitir a inteligência e a vontade ao 
cérebro, não devemos prejulgar nada sobre a relação existente entre os atos psíquicos e o 
cérebro, entre a alma e a matéria. Desde um ponto de vista empírico, antes de tudo devemos 
ratificar o fato da unidade da alma e do corpo e deixar que os métodos concebidos a priori 
estudem uma alma imaterial, a alma independente do corpo, e contentar-se com 
considerações abstratas sobre sua imaterialidade e sua unidade em oposição à 
multiplicidade da matéria etc. Como pode ser que um fenômeno material, físico, que tem 
lugar nas fibras nervosas ou nas células ganglionares, possa converter-se em uma idéia, em 
um ato da consciência?, fato totalmente incompreensível. Eu ainda iria mais longe: nem 
sequer sabemos como colocar uma pergunta relativa à existência e à natureza dos 
intermediários que unem estas duas ordens de fatos. Nesse sentido, tudo permanece 
relegado ainda ao campo da possibilidade. 
Nem o materialismo, que pretende explicar todos os atos físicos através da matéria, nem o 
espiritualismo, que pretende explicar a matéria através da alma, nos dão uma idéia exata 
daquilo que ocorre na alma. Além disso, se chegarmos a saber tudo o que se produz no 
cérebro quando este entra em ação, a penetrar em todos os secretos da química, da 
 
 
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eletricidade etc., de que nos serviria tudo isto? Como podem esses fatos transformar-se em 
fatos espirituais? Este problema permanecerá insolúvel para o homem até o fim dos tempose pessoalmente creio que, a não ser que um anjo desça dos céus e nos resolva este 
mistério, nossa alma não será capaz de compreendê-lo por si própria 
5º De acordo com as premissas apresentadas até agora, a questão que tanto e durante tanto 
tempo tem tratado a antiga psiquiatria alemã, isto é, se a enfermidade afeta realmente e do 
mesmo modo a alma no caso da loucura e as anomalias da inteligência e da vontade, 
encontrará sua solução simples e afirmativa. Mas, certamente, não poderemos falar de 
enfermidades da alma em si mesmas; tal como o que ocorre com as patologias exatas, que 
podem nos falar das enfermidades dos fenômenos vitais e das funções, mas unicamente das 
enfermidades cerebrais que implicam uma alteração nos atos da inteligência e da vontade. 
6º Mas se todos os casos de loucura dependem de uma afecção cerebral, nem todas as 
enfermidades do cérebro devem ser englobadas nas enfermidades mentais por esta mesma 
razão. Qual é então o tipo de afecção cerebral à qual nos defrontamos no caso da loucura? 
Desde um ponto de vista anatômico, tratam-se das enfermidades mais diversas, cujos 
conjuntos de sintomas levam o nome de loucura. 
Em grande parte, a patologia cerebral se encontra, mesmo hoje em dia, no ponto onde caiu a 
patologia dos órgãos torácicos, antes de Laennec. Em lugar de tomar como ponto de partida 
em geral algumas alterações estruturais dos órgãos e poder deduzir de maneira precisa a 
produção de sintomas das alterações produzidas nos tecidos, a patologia cerebral vai em 
geral relacionada com os conjuntos de sintomas cujo centro conhece apenas 
aproximadamente e cujo mecanismo de produção lhe escapa por completo... 
7º Dado que a loucura não é mais que um complexo sintomático de diferentes estados 
anormais do cérebro, poderíamos perguntar se seria legítimo, de maneira geral, levar a cabo 
um estudo específico das enfermidades mentais separado das outras afecções do cérebro 
ou, antes, a psiquiatria não deveria entrar de nenhum modo, nem mesmo formalmente, na 
patologia cerebral. Ainda que isto não me pareça impossível em um futuro mais ou menos 
longínquo, qualquer tentativa que tenha como finalidade mesclar, no que se refere ao 
 
 
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presente, estas duas ordens de enfermidades seria, não obstante, prematura e 
absolutamente impraticável. 
8º Tendo em conta que a loucura é uma enfermidade e, ainda, uma enfermidade do cérebro, 
disso se deduz que esta não pode ser estudada adequadamente senão desde um ponto de 
vista médico. A anatomia, a fisiologia e a patologia do sistema nervoso e toda a patologia e a 
terapêutica específicas entendidas em conjunto representam os conhecimentos prévios que 
mais necessita o médico alienista. Todos os estudos extramédicos sobre a loucura, e em 
particular todos os que têm sido realizados por poetas e moralistas, têm muito pouco valor, 
desde o ponto de vista do conhecimento dessa afecção. 
WILHELM GRIESINGER (1817-1868) 
Psiquiatra alemão; catedrático da Universidade de Frankfurt; autor do Tratado sobre 
patologia e terapêutica das doenças mentais (1845); primeiro titular da clínica psiquiátrica do 
Hospital Burghölzli, em 1860 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 10 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE 
Em seu livro Tratado de Clínica Psiquiátrica, Isaias Paim, faz um profundo estudo sobre o 
tema. 
O termo neurose, segundo Pierre Janet, foi introduzido em linguagem médica em 1772, por 
William Cullen (1712-1792), para designar certas afecções protonaturais do sensório e do 
movimento, como parte da enfermidade primária, e aquelas que não dependem de uma 
afecção local dos órgãos, senão de uma afecção geral do sistema nervoso, e daqueles 
potenciais do sistema nervoso das quais depende, especialmente o sensório e o movimento. 
Com estas enfermidades estabelece-se um grupo com o título de 'neuroses' ou de 
'enfermidades nervosas'. 
Com Charcot (1825-1893) tem início um período fecundo no estudo das neuroses, embora 
tenha centralizado o seu interesse, especificamente, na investigação da histeria. Baseando-
se na observação clínica, estudou a histeria como uma enfermidade que se manifestava 
através de sintomas permanentes (estigmas histéricos) e transitórios (paralisias, contraturas 
e convulsões), que não se distinguem dos orgânicos por seus caracteres intrínsecos. Insistia 
na significação da herança neuropática nos histéricos e destacava o papel das emoções, 
considerando a enfermidade como o resultado de representações e idéias fixas e, na 
interpretação dos fatos clínicos, introduziu o conceito de sugestão. 
Na opinião de Iracy Doyle, a verificação mais importante de Charcot refere-se à possibilidade 
de reproduzir paralisias nos pacientes histéricos, à custa da sugestão hipnóica, o que o levou 
a admitir que as paralisias histéricas resultavam da idéia de paralisia, preparando assim o 
caminho para o estudo psicológico das neuroses. Entretanto, considerava que, sem a 
 
 
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degeneração hereditária, de que eram portadores os histéricos, não seria possível provocar 
paralisias por via da hipnose. 
Bernheim (1837-1919), discípulo de Charcot, chegou à conclusão de que as perturbações de 
que sofriam os histéricos podiam ser provocadas por via sugestiva. Dizia: a sugestão 
consiste na influência exercida por uma idéia que, apresentada ao indivíduo, é aceita por sua 
mente. Desse modo, a sugestão não representa um fenômeno propriamente histérico, mas, 
ao contrário, constitui uma disposição mental particular, que pertence ao acervo psicológico 
do homem, e que o coloca em condições de submissão às influências exteriores que, sobre o 
mesmo, possam ser exercidas. 
Joseph Babinski (1857-1932) empreendeu uma revisão geral do conceito de histeria da 
escola de Charcot, considerando que se deveria empregar o termo pitiático para designar o 
caráter de certas manifestações, abandonando-se de vez a palavra histeria, no sentido em 
que era empregada, para designar uma enfermidade especial, uma entidade mórbida 
inexistente. Assim, uma manifestação anormal seria denominada pitiática quando for 
reconhecida por seu caráter mórbido e tenha possibilidade de ser removida pela sugestão. 
Com base neste princípio, criou o axioma: Histórico é tudo aquilo que aparece pela sugestão 
e é removido pela persuasão. 
Pierre Janet (1859-1946) foi quem primeiro reconheceu a importância dos fatores 
psicológicos na produção de sintomas neuróticos. É o criador da expressão tensão psíquica, 
para designar a capacidade que tem todo o indivíduo de elevar-se, em suas ações, até 
determinado grau, dentro da hierarquia de suas tendências. Admitia a existência de condutas 
de baixa tensão, em que estão em atividade as tendências inferiores, e condutas de alta 
tensão, que reclamam a total atividade das tendências que ocupam um elevado posto no 
quadro hierárquico. Considerava, de modo geral, que o grau de tensão psíquica ou a 
elevação do nível mental de um indivíduo depende do grau hierárquico das tendências que 
se encontram em ação e do grau de atividade a quem podem chegar as mais elevadas. 
Concebida nestes termos, a tensão psíquica desempenha importante papel na interpretação 
das condutas normais e patológicas e na compreensão dos caracteres e das enfermidades 
mentais. 
 
 
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Para Pierre Janet, o conceito de tensão não deve ser confundido com a noção de força ou 
debilidade psíquica. A baixa da tensão psíquica, ocasionada por fadiga, sofrimentos ou 
choques, determina estreitamento do campo da consciência, dando margem ao 
aparecimento de sintomas neuróticos. Janet criou tambémo conceito de dissociação, que 
está em íntima relação com o anterior, para explicar como certos elementos, uma vez 
estreitado o campo da consciência, em decorrência de enfraquecimento da tensão psíquica, 
isola-se do restante dos conteúdos e tomam curso autônomo, manifestando-se como fugas, 
personalidades alternantes, paralisias, anestesias e outros sintomas histéricos. Foi ele o 
introdutor em psiquiatria do conceito de subconsciente, afirmando que certos elementos 
psíquicos, dos quais a pessoa não tem conhecimento, desempenham importante papel na 
produção de sintomas histéricos, admitindo que determinados processos mentais se tornam 
subconscientes, quando dissociados da corrente mental predominante no indivíduo. 
O aparecimento da obra de Freud (1856-1939) representa uma etapa decisiva no processo 
evolutivo do conhecimento das neuroses. Baseando-se na observação de Breuer, de que 
uma enferma histérica obtinha alívio dos sintomas quando relembrava, mediante hipnose, 
certa experiência traumática, esquecida, Freud admitiu a existência de uma relação entre 
manifestações neuróticas e experiências passadas, principalmente aquelas de conteúdo 
emocional e de intensa significação pessoal. Estabeleceu a fórmula: Os histéricos sofrem de 
reminiscências. Considerou ainda que os acontecimentos de natureza sexual eram os mais 
importantes na patogenia das neuroses, chegando à conclusão de que a angústia era 
expressão de frustração sexual. Desenvolveu em seguida a Teoria da Libido, considerada 
como uma das pedras angulares nas concepções da psicanálise. De acordo com essa teoria, 
o fator mais importante na determinação do desenvolvimento pessoal é a sexualidade. 
Para Freud, a neurose seria uma espécie de acordo estabelecido pelo ego entre os impulsos 
do id e a instância repressora do superego. Desse modo explicava que o neurótico reprime, 
como os demais, entretanto, o material reprimido retorna por outros caminhos sob a forma de 
sintomas. Os sintomas seriam o estabelecimento de compromisso, representando a 
satisfação substitutiva de tendências inconscientes, que continuariam a agir, embora 
disfarçadas e deformadas pela censura. 
 
 
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Posteriormente Kurt Schneider introduziu o conceito de reação vivencial anormal, como 
tentativa para substituir as concepções anteriores sobre a neurose. 
Kurt Schneider define a reação vivencial como a resposta sentimental, dotada de motivação 
plena de sentido, a uma vivência, isto é, a resposta oportuna, motivada e sentimentalmente 
adequada à referida vivência. Exemplifica: tristeza por algo, arrependimento por algo, medo 
diante de algo, colega por algo, constituem em si mesmo os elementos de que derivam, 
freqüentemente, a ação e o abster-se de agir. Este tender e este agir, este opor-se à 
tendência e o abster-se, pertence também à reação vivencial. 
No conceito de Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais diferem das reações normais 
em virtude de sua extraordinária intensidade, ao que se deve acrescentar o fato de não 
serem adequadas sem relação ao motivo, ou melhor, a anormalidade da duração. Os 
critérios para delimitar as reações vivenciais anormais foram estabelecidos por Jaspers, e 
podem ser assim resumidos: 
1) a situação reativa não teria surgido se não tivesse ocorrido a vivência que a originou; 
2) o conteúdo, o tema da situação se encontra em relação compreensível com a causa 
determinante; 
3) a situação, no que diz respeito ao curso temporal, depende da causa e, sobretudo, cessa 
quando desaparece a causa. 
A essência da reação vivencial anormal consiste no fato de ser originada por uma vivência. 
Nas reações vivenciais anormais, há uma relação compreensível entre o acontecimento e a 
reação desencadeada, reação essa que não ocorreria na falta do acontecimento, tudo mais 
que daí decorre depende do acontecimento original, isto é, as reações estão em relação 
temporal com os acontecimentos. A esse propósito, diz Jaspers: Resumimos ainda, para 
concluir, os traços comuns a todas as reações verdadeiras: o motivo ocasional, que está em 
relação temporal estreita com o estado reativo, é suficiente para nossa compreensão. Entre o 
conteúdo deste acontecimento e o conteúdo da reação anormal, há uma relação 
compreensível. Como se trata de uma reação a um acontecimento psíquico particular, a 
 
 
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anomalia se apaga no decurso do tempo. Sobretudo, com a cessação da causa, a reação 
anormal desaparece. Isto coloca a reação anormal em oposição a todos os fenômenos 
mórbidos que nascem espontaneamente. 
Como bem assinalou Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais, quando provocadas 
por motivos externos, são independentes do caráter individual: são humanas, próprias de 
todo homem. Isto é perfeitamente compreensível se levarmos em consideração a freqüência 
de reações vivenciais anormais em épocas de turbulência social. 
DEFINIÇÃO E CONCEITO 
Mira e Lopez (2009) define a neurose como um curso mórbido constituído pelo conjunto de 
alterações funcionais, psíquicas e somáticas, que ocasionam intenso mal-estar e sofrimento 
íntimo. Aparecem motivadas, fundamentalmente, por conflitos psíquicos, que propendem a 
cronificar-se e que não alteram de modo essencial à concepção do mundo, nem os meios de 
adaptação habitual às exigências da vida social, sendo essencialmente curáveis pela 
psicoterapia. 
Siebeck considera as neuroses como manifestações mórbidas, psíquicas e somáticas, de 
uma personalidade biologicamente predisposta, por cuja atitude típica o indivíduo fracassa 
em seu ajustamento ao ambiente, manifestações mórbidas que têm uma psicodinâmica 
especial e que são originadas com freqüência por impressões extraordinárias. 
Baseando-se em princípios psicanalíticos, Laplanche e Pontalis (2008) definem a neurose 
como afecção psicogênica em que os sintomas são a expressão de um conflito psíquico que 
tem suas raízes na história infantil do indivíduo e constitui compromissos entre o desejo e a 
defesa. 
Pode-se ainda conceituar as neuroses como estados de perturbação da personalidade que 
dão origem a dificuldades nas relações interpessoais, na adaptação à realidade e na 
realização existencial, e que se acompanham de manifestações psíquicas e somáticas, 
redutíveis, no plano psíquico, ao sofrimento que se expressa sob a forma de angústia. São 
 
 
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perturbações de natureza não qualitativa, o que serve como elemento para diferencia-las das 
psicoses. 
Apesar da diversidade observada na definição da neurose, pode-se verificar a existência de 
um amplo acordo quanto à delimitação clínica do conjunto de síndromes consideradas como 
neuróticas. 
ETIOPATOGENIA 
As teorias etiopatogênicas da neurose constituem motivos de controvérsia, entretanto, 
admite-se sem contestação que a gênese e o desenvolvimento de um quadro neurótico está 
na dependência de fatores internos e externos. Entre os fatores internos significação especial 
a predisposição originária, unificada no conceito de personalidade neurótica. 
Os fatores externos que podem contribuir para o aparecimento de distúrbios neuróticos 
consistem em situações próprias da existência humana: experiências traumáticas no curso 
do desenvolvimento infantil, frustrações, medos não reconhecidos, conflitos entre tendências 
fundamentais e restrições culturais, necessidade de defesa ou segurança, sentimentos de 
culpa. Desse modo, verifica-se que os sintomas neuróticos são maneiras individuais de 
reagir a tensões específicas: O papel que desempenham estará determinado pela natureza 
da necessidade psicológica que lhe deu origem. 
A neurose, diz Iracy Doyle, cria oportunidade para o enfermo escapar ao conflito, um alívio 
para sua ansiedade, freqüentemente de nível simbólico. Por estarazão, o sintoma neurótico 
pode representar uma indicação precisa da natureza do conflito. 
Binder admite que a neurose é o resultado de um transtorno da elaboração psíquica dos 
conflitos internos. As influências ambientais desfavoráveis que provocam tais conflitos 
intrapsíquicos consistem, com muita freqüência, numa atmosfera familiar ou profissional 
negativa, do que em simples acontecimentos isolados. De qualquer modo, costumam ser 
ações combinadas extraordinárias, não cotidianas, as que produzem a neurose. Por isso, em 
geral, trata-se de desenvolvimentos psicogênicos. 
QUADROS CLÍNICOS 
 
 
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 Apesar das dificuldades inerentes à classificação das neuroses, é evidente que a descrição 
de tipos clínicos se torna indispensável, mesmo que seja por necessidade de comunicação 
da experiência. O mais importante, porém, é considerar que se trata apenas de tipos clínicos. 
Em geral, são tipos mistos, pois o exame de um paciente neurótico revela certa 
complexidade na sintomatologia, elementos de outros tipos, porém existe uma gradação no 
aspecto sintomatológico, e o traço mais saliente serve como elemento para designar o 
quadro. É certo que, desse modo, realizamos simplesmente uma primeira aproximação com 
o problema, aproximação indispensável do ponto de vista empírico, pelo menos como meio 
de comunicação de conhecimentos. 
Adotando um critério empírico-fenomenológico, é possível descrever, com finalidade didática, 
alguns tipos fundamentais de neuroses, tais como: a histeria, a neurose de angústia, a 
neurose hipocondríaca, a neurose depressiva, a neurose fóbica e a neurose obsessiva. 
HISTERIA 
Binder emprega a expressão histérico não para caracterizar uma entidade patológica, e 
muito menos ainda para designar determinados sintomas estas duas formas de aplicação da 
palavra não chegaram a ficar estabelecidas senão que designa como histérica uma atitude 
psíquica especial e que pode apresentar-se através dos sintomas os mais diversos. A atitude 
histérica, diz Binder, consiste em que o indivíduo representa para as pessoas que o rodeiam 
um papel determinado o mais freqüente é o de enfermo com a intenção secreta de obter 
delas atenção, compaixão, amor, ajuda, o reconhecimento de direitos e vantagens materiais. 
O que pretende o enfermo é falso, porque emprega esse expediente como recurso para 
conseguir outro fim: obter algo do ambiente. 
Diz Iracy Doyle que nem toda fuga na enfermidade pode ser considerada como manifestação 
de histeria. O fenômeno histérico, ensina, aparece como um recurso psicológico 
desenvolvido de modo inconsciente, ou pelo menos em grande parte inconsciente, com a 
finalidade de permitir a adaptação do indivíduo a situações particularmente difíceis e 
penosas. Desse modo, a manifestação histérica é economicamente útil, pois oferece solução 
para o problema pessoal, reduzindo a ansiedade despertada pela situação perturbadora. 
 
 
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Nessas condições, faz parte de uma série de manifestações defensivas e adaptativas de 
gradações insensíveis, que começa com os planos conscientes do indivíduo normal, 
passando pelas atitudes simuladas, em que a pessoa adota certas pautas de conduta 
consciente e, fraudulentamente, com o intuito de resolver dificuldades interiores ou 
dificuldades exteriores, chega às manifestações histéricas, em que as necessidades 
interiores ou dificuldades exteriores ditam atitudes irracionais, total ou parcialmente 
inconscientes. 
Como foi dito anteriormente, nem toda fuga na enfermidade deve receber o diagnóstico de 
histeria. Para isso, é necessário a existência de uma solicitude secreta do ambiente, que 
representa a motivação da enfermidade. Nesses casos, as funções normais podem servir de 
material para a apresentação histérica da enfermidade. Assim, os motivos para dramatizar, 
do mesmo modo como a forma como isso se realiza, são reprimidos. Por esta razão, o 
histérico não tem consciência exata do papel que está representando. Somente nos casos 
em que a repressão é muito débil, superficial e fragmentária, o indivíduo adquire uma vaga 
noção de que está representando algo perante o ambiente. O sofrimento do histérico 
constitui o elemento que o distingue do simulador. 
Diz Binder que todas as reações vivenciais podem servir de material para as manifestações 
histéricas. Reações depressivas podem converter-se numa depressão teatral, com a 
finalidade de provocar a compaixão de outras pessoas e, ao agir dessa maneira, mesmo em 
meio aos seus lamentos tormentosos, é perfeitamente capaz de aprender as reações do 
observador e de modificar, de acordo com elas, a sua tonalidade. No entanto, os tipos de 
manifestações mais comuns nos histéricos são as reações primitivas e as de conversão: 
paralisias, convulsões, tiques, tremor, anestesias. Essa ocorrência se deve ao fato de que, 
semelhantes manifestações, em si mesmas, exercem profunda impressão no ambiente do 
enfermo e, por isso, são especialmente aptas para dramatizar a enfermidade. 
O grande ataque histérico, tal como foi descrito por Charcot, é, atualmente, uma raridade 
diagnóstica. Pode ser observado, ainda, em um número reduzido de pessoas pertencentes a 
comunidades sociais inferiores, de cultura limitada e mentalmente primitiva. O ataque se 
manifesta por uma agitação desordenada, tumultuosa, acompanhada de contorsões e 
 
 
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atitudes extravagantes. A crise se acompanha, na maioria das vezes, de agitação verbal, 
gritos, riso incontido, pranto, lamentações e invectivas. Não se verifica alteração da lucidez, 
ou acompanha-se apenas de leve obnubilação da consciência. 
As paralisias e contraturas são sintomas mais freqüentes do que o grande ataque histérico. 
Consistem, as primeiras, em monoplegia, paraplegia, hemiplegia, sem hipotonia muscular e 
sem alteração dos reflexos. A contratura psicógena se diferencia da contratura orgânica por 
sua exagerada intensidade, pela persistência dos reflexos cutâneos e pela coexistência de 
anestesias localizadas. 
As anestesias histéricas nunca acompanham a distribuição real do nervo: afetam em geral a 
mão, o pé ou a metade do corpo. Funções sensoriais, como a visão, podem manifestar 
inibições, das quais resultam: diminuição da acuidade visual, sensações de turvação da 
visão, escotomas e amaurose. Os demais órgãos dos sentidos costumam ser menos 
freqüentemente afetados. 
É compreensível que as formas de reações primitivas e as de conversão, por seus aspectos 
dramáticos, sejam colocadas a serviço das tendências histéricas, porque semelhantes 
acontecimentos, por si mesmos, costumam causar grande impressão no ambiente e, por 
isso, alcançam os objetivos a que se destinam. 
Os psiquiatras clínicos admitem a existência de uma relação estreita entre os sintomas 
histéricos e a estrutura correspondente da personalidade. 
Os traços da personalidade que se encontram associados com as manifestações histéricas 
são: imaturidade emocional, instabilidade afetiva e sugestibilidade exagerada. Jaspers fez 
uma descrição sucinta dessa personalidade: Encontramos sempre a mesma característica 
fundamental: em lugar de contentar-se com seus dotes e possibilidades pessoais, tal como 
são na realidade, o histérico tem necessidade de aparentar mais do que é e de experimentar 
mais do que é capaz de experimentar. Em lugar da experiência mental direta e genuína, com 
o seu modo natural de expressão, seus sentimentos são artificiais, representados, afetados. 
Mas, não se trata de uma simulação deliberada; graças aos seus dotes histriônicos 
característicos, vive inteiramente em sua representação teatral, é imediatamente absorvido 
 
 
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por ela e isto faz com que pareça genuína [...] A personalidadehistérica não tem núcleo, ao 
contrário, consiste unicamente em uma série de máscaras sempre cambiantes. [...] Para 
convencer a si próprio de sua importância, o histérico necessita representar um papel, 
fazendo-se sempre interessante, inclusive às custas de sua honra e do seu bom nome, e se 
sente realmente infeliz se não o levam a sério, mesmo que seja por alguns instantes, pois, de 
vez em quando, subitamente, se dá conta de sua própria vacuidade. 
No meio hospitalar, as manifestações histéricas mais chamativas são observadas em débeis 
mentais, primitivos e infantis: Compreende-se que essas pessoas, que não se bastam a si 
mesmas, apelem com insuficiente autocrítica e com egoísmo ingênuo, para a representação 
histérica de enfermidade. 
NEUROSE DE ANGÚSTIA 
Sob esta denominação, Freud descreveu um quadro neurótico cuja característica consiste na 
predominância da angústia: expectativa ansiosa, acessos de angústia ou manifestações 
corporais da ansiedade. 
A sintomatologia é extremamente variável e está centralizada na angústia, estado que se 
caracteriza pelo sentimento de um perigo ameaçador ou pela expectativa de uma catástrofe 
imaginária, que ocasiona sofrimento físico e psíquico. 
Os estados de angústia podem seguir com uma gradação desde o simples mal-estar 
indefinido, acompanhado de idéias pessimistas, estados de inquietação, de ansiedade e, 
finalmente, grandes manifestações de angústia aterrorizante. 
Os sintomas corolários do quadro da neurose de angústia consistem em: palpitações, falta 
de ar, inapetência, sensação de fome constante ou de plenitude gástrica permanente, 
obstipação, crises diarréicas, tremores, fraqueza muscular, câimbras, dormência localizada, 
cansaço fácil, fadiga visual, embaçamento da vista e zumbidos. 
Os sintomas psíquicos se manifestam como limitação do rendimento intelectual, dificuldade 
da concentração, inquietude aparente ou interior, às vezes depressão ou irritabilidade. 
 
 
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Sob esse fundo de alterações psíquicas e corporais surgem, periodicamente, crises agudas 
de ansiedade, acompanhadas de sofrimento indescritível e impressão de perigo iminente. Os 
acessos de angústia podem sobrevir sem nenhum motivo exterior desencadeante ou, o que 
é mais comum, por ocasião de um acontecimento eventual. As crises agudas se 
acompanham de taquicardia, palidez, sudorese, resfriamento das extremidades e lassidão. 
Após a crise o enfermo sente-se extremamente fatigado. O medo da repetição das crises de 
ansiedade constitui uma fonte permanente de sofrimento. 
Nos casos em que as manifestações corporais da crise de angústia se localizam na área 
cardíaca, observa-se, além das intensas palpitações, dispnéia e aceleração do pulso, dor na 
região cardíaca, simulando uma crise de angor pectoris. 
A personalidade dos indivíduos que apresentam neurose de angústia tem como traços 
fundamentais a instabilidade emocional, preocupações excessivas e mais ou menos 
infundadas, grande insegurança e tendência ao pessimismo. 
 
NEUROSE FÓBICA 
No quadro da neurose fóbica verifica-se que a angústia difusa, observada na neurose de 
angústia, se centraliza em torno de certas situações sumamente específicas, configurando 
verdadeiros estados de angústia condicionada: medo da escuridão, de espaços amplos, de 
espaços fechados ou de lugares elevados. Na opinião de Franz Alexander, nesses casos, o 
paciente retorna a certos medos da primeira infância, desde logo comuns e normais na 
criança, tais como medo às pessoas estranhas, à escuridão, às quedas, ao estar só em uma 
rua cheia de pessoas. 
Os psicanalistas, que dedicaram atenção especial à neurose fóbica, consideram que a fobia 
representa o substituto de um medo real aos problemas comuns da vida, aos quais o 
paciente não tem condições de enfrentar. Os mais comuns entre os problemas que o 
paciente trata de evitar são os vinculados com a maturidade sexual, as responsabilidades do 
casamento e da paternidade, e às tarefas ocupacionais que requerem decisões 
 
 
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independentes, competência, e todas as complexas relações interpessoais que integram a 
existência do adulto. 
Em alguns casos a angústia fóbica permanece centralizada desde o início em um só objeto, 
mas é possível observar casos em que ela se propaga de maneira progressiva, 
determinando maior restrição à liberdade do enfermo. Nos casos mais acentuados, é fácil 
verificar que a vida social do paciente, vai progressivamente, se tornando cada vez mais 
estreita, até que, finalmente, fica limitada a uma existência puramente vegetativa dentro de 
sua própria residência. Esta fase final revela de modo claro a tendência inconsciente para a 
dependência infantil, uma fuga de todos os perigos e esforços da existência do adulto. 
O problema etiológico, segundo Franz Alexander, consiste em estabelecer a causa da 
reativação regressiva dos medos infantis. 
 
NEUROSE HIPOCONDRÍACA 
 Apesar de alguns autores considerarem necessário abandonar o conceito de hipocondria, a 
prática médica revela casos em que as queixas hipocondríacas dominam inteiramente o 
quadro mórbido. Desse modo, a neurose hipocondríaca corresponde a uma realidade clínica, 
especialmente pela uniformidade do sintoma. 
A nota dominante no quadro da neurose hipocondríaca consiste nas preocupações 
excessivas e angustiosas do enfermo relativas a doenças de que se considera portador. As 
preocupações se referem a diferentes enfermidades, porém de preferência às mais temidas: 
câncer, tuberculose, enfarte, sífilis, lepra e loucura. Esses temores hipocondríacos não 
permanecem limitados apenas à idéia de padecer a enfermidade temida, mas se transfere de 
uma forma profundamente inquietante à observação do funcionamento de órgãos internos. A 
atenção do enfermo se concentra no funcionamento de seus órgãos em geral, ou em um 
deles, com prejuízo, nos casos graves, do que normalmente deveria interessar-lhe, e isto 
explica o seu ostensível egoísmo (H. Aubin). 
 
 
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Alguns autores admitem que na base da neurose hipocondríaca existe uma disposição 
constitucional especial, o que conduz o indivíduo à auto-observação e à interpretações 
patológicas. Outros, como Binder, consideram as reações hipocondríacas como a 
conseqüência de sentimentos de culpa por enfermidades venéreas adquiridas, por aborto 
provocado e, sobretudo, pelo onanismo excessivo, especialmente depois da leitura de artigos 
explicativos, que enumeram as enfermidades que o mesmo pode originar. 
As idéias hipocondríacas, pelo fato de expressarem um temor invencível e sem fundamento, 
estão muito próximas das fobias, marcando, assim, a transição entre a neurose fóbica e a 
neurose obsessiva, caracterizada pelo aparecimento de pensamentos que se impõem à 
consciência e dominam sem motivo. 
Franz Alexander considera que as preocupações angustiosas pelo próprio corpo e o temor 
de enfermidade constituem manifestações de uma profunda necessidade de sofrimento que 
dimana de sentimentos de culpa inconsciente. 
São predispostos à neurose hipocondríaca as pessoas muito impressionáveis, receiosas 
e/ou com debilidade mental. 
NEUROSE DEPRESSIVA 
 A expressão neurose depressiva é empregada para designar os quadros depressivos 
produzidos por conflitos psíquicos. Como é sabido, Kurt Schneider fala de reação vivencial 
anormal quando há desproporção entre a intensidade, duração e colorido dos sintomas e os 
motivos desencadeantes. Na maior parte dos casos, as manifestações depressivas surgem 
após um acontecimento de grande significação emocional. Servem de exemplo: o 
rompimento de noivado, o desquite, a perda de parente próximo, a falência ou o fracasso na 
vida social. A resposta sentimental mantém uma relação compreensível com o 
acontecimento.A anormalidade da reação se encontra, precisamente, na intensidade e 
duração dos sintomas depressivos. 
Os sintomas da neurose depressiva consistem em tristeza, angústia, desânimo, desinteresse 
pela vida, crises de choro e insônia. São freqüentes as idéias, as tentativas e mesmo a 
 
 
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consumação do suicídio. Na depressão neurótica não se observam sintomas corporais 
acentuados, tais como anorexia, emagrecimento, constipação, impotência sexual ou frigidez, 
bem assim as crises de excitação ansiosa. 
Laughlin (1956) destacou os traços característicos das personalidades predispostas a reagir 
depressivamente: 
a) trata-se de indivíduos circunspectos, taciturnos, submissos, sem senso de humor, 
estudiosos e dignos de confiança; 
b) revelam grande vulnerabilidade à rejeição, ao desapontamento e à frustração; 
c) esses traços indicam que o indivíduo nega, reprime e esconde de si mesmo todos os 
sentimentos de ódio e hostilidade. Por isso, revela tendência a concordar sempre, a ser 
conciliador, com superpolidez, subserviência e obsequiosidade. 
Em nossa época, verifica-se a diminuição progressiva das manifestações histéricas, 
enquanto aumentam assustadoramente os casos de neurose depressiva. 
 
NEUROSE OBSESSIVA 
 A neurose obsessiva corresponde, por sua sintomatologia, ao conceito primitivo de 
psicastenia, de Janet. O seu fundamento etiopatogênico é a personalidade neurótica do tipo 
compulsivo. Segundo Ernest Jones, estas personalidades têm os seguintes traços: as 
personalidades compulsivas possuem ou podem possuir, como qualidades positivas 
(favoráveis) o individualismo, a perseverança, o espírito de ordem e a capacidade de 
organização e sistematização, a minuciosidade e precisão na realização de seus trabalhos, o 
bom senso e uma especial habilidade manual. Mas em oposição a esses traços, revelam 
também, mais ou menos desenvolvido, um caráter extremamente difícil: são mal-humorados, 
suscetíveis, teimosos, com tendência a molestar aos demais e a martirizar-se a si próprios; 
são predispostos à hipocondria, à tirania, e se mostram muito irregulares em seu rendimento 
exterior. 
 
 
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Segundo Freud, as personalidades compulsivas têm por princípio deixarem tudo para o 
último momento e uma vez iniciado um trabalho qualquer, não o abandonam até a sua 
terminação, revelando desse modo uma energia, obstinação e perseverança em completa 
oposição com a suposta debilidade ou falta de tensão psíquica, que lhes era atribuída por 
Janet. 
O quadro clínico está caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos e atos 
compulsivos. 
Pensamentos obsessivos são aqueles que se impõem à consciência do enfermo e dos quais 
não se pode livrar pelo esforço da vontade. A impossibilidade de reprimir os pensamentos 
obsessivos não pode ser explicada pelos motivos ordinários. Störring admite que, nesse 
caso, há perda da liberdade espiritual, uma impossibilidade de afastar os pensamentos 
?próprios? indesejáveis, que se impõem de modo poderoso à consciência do paciente. 
As variedades clínicas da obsessão podem ser multiplicadas ao infinito, de acordo com os 
diferentes aspectos do sintoma, seu objeto ou tema, sua intensidade e duração, destacando-
se como os mais freqüentes: o de sacrilégio, o de crime, o de vergonha de si mesmo, o de 
vergonha do próprio corpo e o de enfermidade. 
O pensamento obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode cristalizar num 
estado de dúvida permanente. O estado afetivo permanente do paciente é de apreensão e 
ansiedade. 
A existência do pensamento obsessivo no campo da consciência, apesar do esforço 
desenvolvido pelo enfermo para afastá-lo, dá como resultado os chamados cerimoniais 
obsessivos. Esses cerimoniais consistem na execução de uma infinidade de atos, realizados 
de maneira compulsiva. Os atos podem ser simples ou complicados, mas obedecem sempre 
a uma necessidade de alívio momentâneo para o estado de angústia intensa ou flutuante 
experimentado pelo paciente. 
 
FREQUÊNCIA 
 
 
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Não se dispõe de dados estatísticos sobre a incidência das neuroses, no entanto, os 
especialistas consideram-nas como transtornos psiquiátricos mais freqüentes em nossa 
época. Os psiquiatras americanos admitem que 50% dos pacientes que procuram os 
consultórios de clínica médica são portadores de distúrbios neuróticos. Provavelmente, 
nessa cifra não se incluem os casos psicossomáticos, nem fazem referência ao grande 
número de ansiosos, depressivos, hipocondríacos, fóbicos e obsessivos. 
Em relação à freqüência relativa, embora não se disponha de dados seguros, tudo leva a 
admitir que a histeria, tão difundida em épocas anteriores, especialmente em suas 
manifestações espetaculares, esteja em franca decadência. Somente nas comunidades 
sociais inferiores é que se pode observar ainda casos de ataques histéricos à maneira como 
se verificava na época de Charcot. Os conflitos relacionados a desejos inconscientes 
manifestam-se, atualmente, através de quadros psicossomáticos. Na medida em que diminui 
a freqüência das reações histéricas, aumentam de maneira progressiva os casos de neurose 
depressiva. 
A investigação das neuroses em relação ao sexo revela que a histeria, as neuroses 
hipocondríaca e depressiva são mais comuns no sexo feminino, enquanto as neuroses fóbica 
e obsessiva têm maior incidência no sexo masculino. 
 
DIAGNÓSTICO 
 O diagnóstico de um caso de neurose deve basear-se numa impressão geral do quadro 
clínico, tornando-se como princípio para a diferenciação dos diversos tipos o sintoma 
psíquico dominante: O traço mais saliente serve como elemento para designar o quadro. 
O mais importante é saber distinguir certos estados neuróticos das manifestações 
aparentemente neuróticas que podem ser observadas no início de afecções orgânicas do 
sistema nervoso central ou no grupo das psicoses endógenas. É demasiadamente conhecido 
que a forma inicial da aterosclerose encefálica, assim como as manifestações prodômicas de 
paralisia geral, são quase sempre integradas por sintomas de tipo neurótico. No primeiro 
 
 
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caso, a idade do enfermo e alguns sinais de aterosclerose periférica podem contribuir para o 
esclarecimento do diagnóstico. Do mesmo modo, o exame neurológico e a positividade das 
reações do liquor decidem o diagnóstico de neurolues. 
Convém assinalar, ainda, a possibilidade do início reacional neurótico de verdadeiros 
processos esquizofrênicos. O critério prático para o diagnóstico diferencial deve ser, neste 
caso, o de investigar os sintomas de primeira ordem, entre os quais se destacam: a 
sonorização do pensamento, vozes dialogadas, vivência de influência corporal, roubo do 
pensamento, percepção delirante. Ali onde estas vivências se achem presentes e não se 
encontrem enfermidades corporais básicas, fala-se clinicamente de esquizofrenia. Além 
disso, nas neuroses os sintomas são compreensíveis, enquanto na esquizofrenia não 
existem fatores etiológicos provenientes do meio exterior. 
Os principais sintomas dos quadros neuróticos consistem em angústia, fobias, obsessões, 
idéias hipocondríacas e depressivas, conversão e certas inibições, como, por exemplo, a 
impotência psíquica. A angústia se caracteriza pela presença do sentimento da eminência de 
um perigo indeterminado. Esse sentimento se acompanha da elaboração de temas trágicos, 
que ampliam as representações de um modo desproporcionado. A angústia é tensa, 
expectante e tende a perturbar as funções orgânicas, expressando-se através de uma série 
de distúrbios neurovegetativos: constrição respiratória, dispnéia, opressão cardíaca 
acompanhada de taquicardia e palpitações, lentidão ou aceleração dopulso, palidez, 
relaxamento da musculatura facial, espasmos em órgãos diversos, transpiração nas mãos, 
nos pés e na face. 
A angústia é o elemento fundamental das neuroses: Os demais sintomas ou traços 
neuróticos devem ser considerados como transformação ou disfarces da angústia; por 
mecanismos inconscientes, o ego é defendido contra a irrupção ou permanência da angústia. 
As fobias são manifestações de medo patológico. Aparecem, especificamente, diante de 
certos objetos ou situações: animais, espaços amplos, recintos fechados, multidões, 
elevadores. As obsessões se caracterizam pela invasão da consciência por palavras, idéias 
e representações, independentemente da vontade, e que são consideradas como estranhas 
 
 
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e absurdas. São infinitas as variedades clínicas das obsessões, observando-se com mais 
freqüência as de sacrilégio, de crime, de vergonha de si mesmo, de vergonha do próprio 
corpo e de enfermidade. 
Os esforços despendidos pelo paciente, no sentido de afastar os pensamentos e as imagens 
obsessivas da consciência são improdutivos. Os meios empregados para se libertar desses 
pensamentos são ineficazes e, quando muito podem determinar um alívio superficial e 
passageiro. Os fenômenos causam desagrado, desprezar e dão origem ao sentimento de 
perda da liberdade espiritual. 
A conversão consiste na transformação de um conflito psíquico em sintoma somático. A 
amaurose histérica, por exemplo, desenvolve-se com integridade do meio ocular e da retina, 
e conservação do reflexo fotomotor. Admite-se que os sintomas conversivos consistem na 
expressão deformada de exigências instintivas reprimidas, sendo que o tipo de deformação é 
determinado pelos acontecimentos do passado que deram lugar à repressão. Por esse 
mecanismo podem originar-se paralisias, anestesias regionais, manifestações convulsivas, 
dores e espasmos viscerais. 
É precisamente a predominância de determinados sintomas que torna possível descrever, 
com relativa autonomia, os quadros clínicos das neuroses: a histeria, as neuroses de 
angústia, hipocondríaca, depressiva, fóbica e obsessiva, onde se observam processos de 
simbolização. A neurastenia, pelo fato de ser conceituada, atualmente, como uma 
perturbação adquirida, em virtude de suas causas serem de natureza corporal, vai aos 
poucos sendo afastada do grupo das neuroses. 
 
 
 
 
 
 
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Atividade 1 
“Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque 
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos 
anormais de graves consequências para o país”. 
Qual o seu ponto de vista a respeito da afirmação acima? Justifique sua resposta. 
 
 
 
Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua 
SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Fórum I 
A psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são considerados dois 
grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram mais à atitude da 
sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos dessa ciência. 
O primeiro com a postura de Philippe Pinel, estudioso que abordou as doenças mentais 
como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social, em oposição às 
opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. O segundo, quando tendências 
agrupadas sob a denominação genérica de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social) 
passaram a recomendar o fim dos manicômios e a integração do psicopata à sociedade, 
mediante técnicas específicas. 
No seu ponto de vista, o que significa “momentos que se relacionaram mais à atitude 
da sociedade em relação ao psicopata”. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 11 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE 
A expressão loucura moral foi introduzida na linguagem médica por Prichard, em 1835, para 
designar o comportamento de certos indivíduos que apresentavam desarmonia constitucional 
da afetividade e da vontade, com integridade da capacidade de julgamento, da crítica e do 
pensar. A expressão foi amplamente difundida e, até 1927, era reconhecida em caráter oficial 
pela jurisprudência inglesa. 
Em 1888, J. L. Koch empregou o termo inferioridade psicopática, para definir certas variantes 
do caráter, em sua maioria congênitas e, em uma pequena parte, como conseqüência de 
enfermidades cerebrais. Kraepelin, por sua vez, distinguiu personalidades psicopáticas e 
estados psicopáticos constitucionais, admitindo que os indivíduos pertencentes aos dois 
grupos eram portadores de uma anomalia psíquica geral, mas advertiu que não se trata de 
um processo crônico. Na última edição do "Tratado" descreve tipos de conduta psicopática, 
destacando alguns sintomas formais, como a impulsividade, a labilidade afetiva e a 
agressividade. 
 
CONCEITO DE PERSONALIDADE 
 
A personalidade pode ser definida como o conjunto de qualidades psíquicas e morais do 
indivíduo, isto é, a soma total de seus conhecimentos, capacidades, propensões, hábitos e 
reações afetivas, que se exteriorizam através da conduta no meio social. A personalidade do 
indivíduo deve ser compreendida em relação com as influências ambientais – condições 
 
 
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econômicas, meios físico e social, fatores culturais. A personalidade é o resultado de todas 
as influências ambientais sobre o indivíduo e a sua resposta conseqüente. 
Nela estão não somente as bases físicas, biológicas da individualidade, como as múltiplas 
influências econômicas, sociais e culturais. 
Kurt Schneider define a personalidade como o conjunto dos sentimentos e valorizações, das 
suas tendências e volições. Exclui deste conceito a inteligência com a suas faculdades de 
juízo, lógica e memória, e os sentimentos e tendências corporais ou vitais, mas, é claro, tem 
grande significação o jogo recíproco e íntimo destas partes da individualidade humana, pois 
a inteligência é a condição de desenvolvimento da personalidade. 
Jaspers define-a como "a maneira particular como um indivíduo manifesta as tendências e 
sentimentos e a forma como é impressionado, como reage às situações que se deparam". 
No estudo da personalidade devem ser considerados os três aspectos: constitucional 
(hereditário), temperamental (fisiológico) e caracterológico (psicossocial). A constituição é a 
base hereditária da personalidade. O temperamento é a fase fisiológica-endócrina e o caráter 
a face psicológica da personalidade. 
 
PERSONALIDADE ANORMAL - As personalidades anormais são, para Kurt Schneider, as 
variantes, os desvios do plano médio - para baixo ou para cima, para mais ou para menos - 
da personalidade humana. Schneider adverte que o termo "anormal" é empregado com dois 
significados diferentes, o estatístico e o ideal, e que somente no primeiro sentido é que a 
ciência pode aplicá-lo. Das personalidades anormais separa como personalidades 
psicopáticas aquelas que sofrem por sua anormalidade ou que por ela própria fazem sofrer a 
sociedade. Esta delimitação em dois grupos, os que sofrem e os que fazem sofrer, é em 
todos os sentidos arbitrária e os seus limites imprecisos entre si e com as personalidades 
anormais, mas baseia-se em razões práticas, pois é destas que terá de se ocupar o 
psiquiatra. 
 
 
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PERSONALIDADE PSICOPÁTICA - os termos psicopatia, psicopata e personalidade 
psicopática são empregados como sinônimos. Bleulerdefiniu a psicopatia como um conceito 
unitário, que compreende os desvios psíquicos da normalidade, não sendo possível, em sua 
opinião, delimita-los de outra maneira. Afirma que "é sempre incorreto dizer que os 
psicopatas têm esta ou aquela qualidade", pois, segundo a natureza de sua exteriorização 
sintomatológica, não pode esta ter nenhuma limitação determinada, nem pode haver sintoma 
comum a todos os estados. Apesar do caráter individual da sintomatologia, predominam 
traços essenciais, o que permite a descrição de tipos de personalidades psicopáticas, 
embora existam, entre os mesmos, variações, formas de transição e combinações. Apesar 
de ser impossível descrever quadros bem delimitados, não se duvida mais da existências de 
pessoas que manifestam anomalias do comportamento, sendo muitas vezes necessário 
afasta-las do convívio social. Esse traço característico permitiu a Verbeek afirmar que a 
alteração fundamental do psicopata consiste numa falha do ser-em-o-mundo, em 
conseqüência de defeituosa disposição hereditária para a comunicação interpessoal. 
G. E. Störring pretendeu dar uma definição psicológica das personalidades psicopáticas, 
considerando que se devia falar em disposições psicopáticas, "quando os desvios, de origem 
disposicional, da vida instintiva, dos sentimentos, dos afetos e da vontade se tornam tão 
intensos que dissolvem a estrutura própria do caráter e da personalidade, assim como sua 
ordem inferior, sua firmeza, sua unidade e sua totalidade". 
Já Kurt Schneider procurou dar uma definição mais de natureza sociológica, admitindo que 
as personalidades psicopáticas são aquelas que sofrem por sua anormalidade ou que por ela 
própria fazem sofrer a sociedade. 
As personalidades psicopáticas sempre despertaram grande interesse clínico e social, em 
virtude da freqüente incidência criminal dos seus portadores e das dificuldades que, muitas 
vezes, surgem para a solução dos problemas de natureza forense. As maiores dificuldades 
incidem, porém, em torno da sistemática, delimitação clínica e problemas etiopatogênicos. O 
seu conceito esteve, durante muitos anos, ligado à doutrina das "degenerações psíquicas". 
Os fatores hereditários desempenham importante papel em sua etiologia, bem assim o 
 
 
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alcoolismo paterno, a lues, doenças infecciosas da genitora no período da gestação, 
traumatismos obstétricos, encefalopatias infantis, disendocrinias, encefalite e até mesmo os 
traumatismos crânio-encefálicos. 
 
PROBLEMA DAS BASES CORPORAIS DAS PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS - Kurt 
Schneider, ao estudar o problema das bases corporais ou orgânicas das personalidades 
psicopáticas, considera que esta questão, em sua essência, é idêntica ao problema das 
bases corporais da personalidade em geral. Para esclarerimento desse problema, devem ser 
analisados três aspectos principais: 
 
a) Ponto de vista localizatório cerebral - Vários autores nacionais tentaram encontrar as 
bases corporais das personalidades psicopáticas ao estudar as alterações do 
comportamento de indivíduos jovens que haviam sofrido encefalite epidêmica. Esses estudos 
foram iniciados por Reichardt, na Alemanha, que procurou colocar o núcleo da personalidade 
no tronco cerebral. Os casos estudados aqui e no estrangeiro mostraram que a encefalite 
epidêmica determina graves alterações do caráter, do temperamento e da conduta no meio 
social, que seriam o resultado de lesões de estruturas subcorticais. Thiele, que estudou os 
"estados residuais consecutivos à encefalite epidêmica", assinalou que o mais comum é a 
"tendência à descarga sem finalidade e sem direção, amorfa, inteiramente primitiva, que é 
descrita, de acordo com a sua representação psíquica, como inquietação e tensão sobre o 
objeto, ou por sua interferência com atos intencionais e dirigidos, se transforma em ação de 
conteúdo determinado". O próprio Thiele procurou estabelecer diferenciação entre esses 
estados e aas psicopatias. Segundo Homburger, esses casos se diferenciam dos 
verdadeiros psicopatas porque neles se nota uma desinibição dos mecanismos motores 
subcorticais, em conseqüência de lesão dos gânglios subcorticais. Desse modo, verifica-se 
que a atividade motora dos pós-encefalíticos revela a regressão à motilidade impulsiva e 
primitiva da primeira infância. Os roubos, as agressões e as destruições correspondem ao 
fundo impulsivo motor. 
 
 
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Como conseqüência desses estudos, alguns autores americanos pretenderam encontrar, no 
aumento progressivo das personalidades psicopáticas, formas pós-encefalíticas mitigadas, 
que passaram despercebidas, significando esse ponto de vista uma explicação da psicopatia 
pela interferência de fatores patológicos exógenos. A experiência de muitos psiquiatras 
indica, não resta a menor dúvida, que existem alterações do caráter, estabelecidas de 
maneira definitiva, após a remissão de processos encefálicos. 
Dedicaram trabalhos ao assunto, em nosso meio psiquiátrico, Ribeiro de Souza (1928), 
Aluízio Câmara (1934), Cincinato Magalhães de Freitas (1934), Heitor Carrilho (1934), Aníbal 
Silveira (1938), André Teixeira Lima (1936-1942), Joy Arruda (1943) e José de Lima (1947). 
Em tese de docência, sobre a "Síndrome perversa pós-encefálica", apresentada à Faculdade 
de Medicina da Bahia, José de Lima, apoiado em quatro observações pessoais, estuda os 
seus aspectos psiquiátricos e considera que o quadro clínico da mesma se superpõe ao das 
personalidades psicopáticas perversas. 
Do ponto de vista descritivo, os perversos pós-encefalíticos se caracterizam pela "inversão 
da fórmula afetiva-ética". Isto determina uma gama extraordinária da inversão da fórmula 
aludida, desde a inversão total que se encontra nas formas graves, até as inversões 
discretas, apagadas, mas capazes de determinar alterações do comportamento no meio 
social. Os psicopatas pós-encefalíticos revelam tendências destruidoras: furtam, ocasionam 
desfalques, embriagam-se, entregam-se à vagabundagem e às maiores dissipações e, não 
raro, decaem aos últimos degraus das perversões sexuais. Falta-lhes a noção de 
solidariedade humana, mostrando-se insensíveis aos prêmios e castigos: "Nem a doçura 
nem a violência lhe modifica o caráter ingovernável, sempre prestes à revolta, e muitas vezes 
os familiares são obrigados a coloca-los em estabelecimento especial de repressão", medida 
que não exerce sobre os mesmos quaisquer modificação em sentido favorável. 
Nos casos estudados por José de Lima não existiam distúrbios na esfera intelectual: 
raciocínio lógico, memória íntegra, boa capacidade de compreensão e até de invenção e de 
crítica. Na maior parte dos casos a síndrome é de tal modo manifesta que os diagnóstico se 
 
 
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impõe desde os primeiros contatos, pois a sintomatologia surge, de quando em quando, nas 
atividades verbais e práxicas dos pacientes. 
Refere José de Lima que a síndrome perversa, tal como é descrita pelos autores, se 
encontra nos estados mórbidos pós-encefalíticos, constituindo a síndrome perversa 
adquirida, como ainda nas personalidades psicopáticas perversas, representando a síndrome 
perversa diagnóstico constitucional. Nos dois casos, a superposição dos quadros clínicos é 
absoluta. A distinção dos perversos pós-encefalíticos com os psicopatas frios de ânimo, de 
Kurt Schneider, só é possível através da anamnese. Nos primeiros, verifica-se a ausência de 
fatores genético-constitucionais que possam ser responsabilizados; nasceram sãos e se 
desenvolveram normalmente, sem apresentarem desajustamento familiar e social, própria 
das personalidades psicopáticas desde os primeiros anos de vida. 
 
b) Ponto de vista constitucional e hereditário - O conceito de constituição psicopática com 
que Ziehen qualificava essasperturbações implicava num sentido de herança, de algo que 
era inato no indivíduo. Posteriormente se foi compreendendo que, se o fator hereditário tem 
um papel importante na gênese das personalidades psicopáticas, nem tudo depende deste 
fator, que representa somente o fundo sobre o qual se projeta a personalidade global. O fator 
hereditário só pode ser admitido como herança de predisposição, compreendendo esta como 
determinadas particularidades anatomofisiológicas. As predisposições são sempre variáveis, 
isto é, dadas as mesmas predisposições, porém em diferentes meios sociais, com diferentes 
meios de educação e de instrução, o resultado do desenvolvimento da personalidade será 
completamente distinto. A personalidade se forma no curso dos anos, deforma-se, sofre 
influências do ambiente; cada acontecimento, cada emoção, cada choque com o exterior 
deixa no indivíduo sua marca e influi em seu futuro comportamento. O psicopata vai, 
portanto, criando-se a si mesmo; parte de suas anomalias são devidas à predisposição 
constitucional, no entanto, grande parte é o resultado das condições econômicas, do meio 
social, da educação, do gênero de vida. Pelo processo da educação e da instrução, 
conscientemente dirigido e submetido a determinados fins, exigidos pela sociedade, 
desenvolve-se a atividade do indivíduo, realiza-se o desenvolvimento de sua psique e a 
 
 
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formação de sua personalidade. Pode-se desse modo admitir que a educação bem dirigida é 
capaz de modificar a predisposição psicopática. A influência do meio se evidencia ao 
observar como difere a freqüência dos diversos tipos de personalidades psicopáticas nas 
diferentes classes sociais. 
 
c) Ponto de vista psicológico - A escola psicodinâmica americana e a psicologia genética de 
Wallon pretendem explicar as alterações da personalidade pelo exame retrospectivo dos 
primeiros períodos da vida e pela ação das vivências ou experiências dos primeiros anos de 
existência, mas parece bastante unilateral este ponto de vista e talvez por isso não é aceito 
pelos psiquiatras. Para a psicanálise o transtorno básico na personalidade psicopática 
consiste no desvio da linha normal do desenvolvimento psíquico, desvio que teve lugar na 
mais tenra infância. Esse desvio é concebido em termos de fixação da libido na fase oral ou 
na fase anal, precoce ou tardia. Na realidade, o próprio Freud, na formulação de sua teoria, 
previu as possibilidades dos efeitos de uma constituição hereditária, capazes de modificar os 
fatos subseqüentes, no entanto, ele próprio e os seus seguidores não foram conseqüentes 
nessa direção, passando a admitir que a perturbação inicial do desenvolvimento como o 
estado posterior psicopático consistem numa resposta a fatores psicológicos ambientais. As 
provas apresentadas em apoio dessa teoria são retiradas das entrevistas analíticas e, por 
isso mesmo, sem nenhum valor para o conhecimento real da perturbação. 
 
CLASSIFICAÇÃO - As classificações propostas e o número de tipos isolados varia entre as 
diversas escolas psiquiátricas, o que denota insegurança no estudo do problema das 
personalidades psicopáticas. De modo geral, cada autor, ao estudar o assunto, descreve um 
número limitado de formas de psicopatias, que deveriam constituir individualidades clínicas 
bem definidas. Kraepelin, por exemplo, na impossibilidade de classificar as personalidades 
psicopáticas, descreveu os tipos instáveis, irritáveis, impulsivos, excêntricos, mentirosos, 
disputadores e anti-sociais. Bleuler engloba sob a denominação genética de psicopatias os 
instáveis, os portadores de excitabilidade patológica, de impulsos especiais, os 
extravagantes, embusteiros e tartufos, pseudo-litigantes, os desvios éticos constitucionais, o 
 
 
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desvio do instinto sexual e o nervosismo. Grühle enumera os psicopatas tórpido, erético, 
epileptóide, paranóide, histeróide e inclui, também, um vagabundo nato e uma prostituta 
congênita. Kurt Schneider faz uma classificação não sistemática das personalidades 
psicopáticas, evitando as denominações que pertençam à sociologia, à criminologia e à ética. 
Por isso, não fala de "inconsistentes", de "mentirosos e estafadores", empregando apenas 
denominações psicológicas e evitando qualquer sentido de valorização. 
O que é necessário admitir é que essas classificações diferem entre si apenas em seus 
aspectos formais, não existindo entre as mesmas diferenças de natureza conceptual. 
Indiscutivelmente, nenhuma classificação pode ser completa, no sentido de abranger todos 
os tipos presumíveis de personalidades psicopáticas, consistindo a descrição do quadro 
sintomatológico verdadeiros cortes transversais no curso da vida tergiversante de 
determinado psicopata. 
 
7.1 - Tipos de Personalidades Psicopáticas 
 
1º) PSICOPATAS HIPERTÍMICOS - Recebem esta designação, segundo Kurt Schneider, os 
psicopatas que se caracterizam por humor alegre, temperamento vivo e certa atividade. Não 
raramente são bondosos, dispostos a ajudar; muitas vezes são eficientes, capazes de 
rendimento, porém não mostram firmeza nem profundidade, não inspiram confiança, sem 
autocrítica, descuidados, facilmente influenciáveis. Revelam um ingênuo sentimento de 
suficiência e se mostram otimistas, orientados para o imediato e o real. A conduta é com 
freqüência informal, sem sentido das distâncias e demasiadamente livre. Especialmente os 
hipertímicos jovens, em virtude de sua inquietação e vivacidade, esquecem as 
conveniências, não levam em conta o ambiente que os rodeia nem a posição que ocupam e 
praticam assim, perante a sociedade, muitas falhas e deslises. Mudam com freqüência de 
ambiente e de emprego, destacando-se pelos seus traços sociais de instabilidade e vez por 
outra praticam atos delituosos. Entre os jovens instáveis em situação de abandono social se 
encontram muitos psicopatas hipertímicos. A combinação com o alcoolismo e com distúrbios 
na esfera sexual é de observação freqüente. 
 
 
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Exemplo: Antenor, com 30 anos de idade, de cor branca, solteiro, mecânico, residente no 
Distrito Federal. Foi internado na Clínica de Repouso do Planalto no dia 26-12-73. 
Posteriormente, o Diretor da Clínica recebeu, do Coordenador Regional Policial, um ofício 
datado de 28-12-73, comunicando que o referido paciente somente poderia sair do Hospital 
com ordem expressa do Juiz de Direito da 1ª Vara de Itiuiutaba, em virtude de tratar-se de 
preso com prisão preventiva decretada pela referida autoridade. Convocada a família para 
prestar informações a genitora esclareceu ao médico que começou a notar alterações no 
comportamento do filho desde a idade de 14 anos. Na época chegou em casa com uma 
"Jardineira" (Camionete), que havia comprado sem ordem paterna. Admitiu a informante que, 
já naquela época, propalava-se entre as pessoas conhecidas, que Antenor era um menino 
perturbado, mas ela e o esposo relutavam em aceitar a realidade dos fatos. No entanto, ela 
própria reconhece, que, desde criança, ele sempre foi muito inquieto, brigando pelas coisas 
insignificantes e, algumas vezes, era capaz de passar horas seguidas chorando de maneira 
espalhafatosa. 
A partir do fato relatado acima, a compra da "Jardineira", os pais começaram a observar que 
ele fazia "trapalhadas" com extraordinária freqüência: comprava objetos caros sem dispor de 
recursos para o pagamento; passava cheques sem fundo, utilizando o talão de cheques do 
genitor; praticava agressões sexuais a moças; ficava noivo de várias moças ao mesmo 
tempo e em seguida as abandonava sem explicações; brigava sem motivo; praticava 
pequenos furtos, mentia de maneira excessiva. Quando ingeria pequena dose de álcool, 
perdia por completo o controle sobre si mesmo, tornando-se altamenteagressivo e violento, 
nesse estado, tentou algumas vezes matar o irmão mais novo e até mesmo o genitor. 
Sempre gostou de exibir atitudes de grandeza, procurando apresentar-se como pessoa 
importante e propalando que descende de família muito rica. Nos últimos tempos era 
proprietário de uma oficina mecânica, onde trabalhava em consertos de automóveis, 
profissão que aprendeu com muita facilidade e para a qual demonstrou o maior interesse. 
Apesar de revelar dedicação pelo trabalho, mostra-se desorganizado, desleixado, destruindo 
todos os seus pertences em pouco tempo. 
 
 
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A informante esclareceu ao médico examinador que, no ano passado (1973), a família foi 
informada que ele, Antenor, depois de sair de uma churrascaria em companhia de duas 
moças (uma de 31 e outra de 38 anos de idade), levou-as para sua oficina mecânica e ali 
teria estuprado a ambas. As moças, de família importante na cidade de Ituiutaba, onde 
estava residindo, deram queixa à Polícia. Instaurado inquérito, o paciente foi preso, 
permanecendo na cadeia local durante sete dias, aproximadamente. Do Processo Policial 
consta o depoimento das moças, tomado separadamente e em dias diferentes e sem 
nenhuma discordância, e Laudos Médicos Legais, do exame pericial procedido nas duas 
moças. 
Sonia, de 38 anos de idade, declarou ao Delegado que havia começado a flertar com 
Antenor há mais ou menos quinze dias. No sábado último, ele a convidou para jantar na 
"Churrascaria Assis". Como ela não podia ir sozinha, propôs convidar uma amiga, no que ele 
concordou, acrescentando que desejava fazer boas amizades na cidade. Foram à casa de 
Marlene, que aceitou o convite, e assim partiram para a churrascaria. Esclareceu que 
Antenor, durante o jantar, mostrou-se muito cortês, amável e extremamente educado. 
Permaneceram no local até às 22 horas, quando regressaram à cidade, ficando combinado 
que iriam almoçar no mesmo lugar, no dia seguinte. Recorda-se que, durante o regresso, sua 
amiga disse que no próximo domingo seria o "Dia das Mães". Ao ouvir esta referência, 
Antenor ficou exaltado, dizendo que não suportava ouvir esta palavra. Esclareceu que não 
tinha mãe, que fora criado por pais adotivos, depois de passar a infância num orfanato, 
acrescentando que seu pai adotivo é um militar importante em Brasília. Despediram-se com 
a promessa de almoçarem no domingo, no mesmo local. No dia aprazado e na hora 
combinada, Antenor passou pela casa de Marlene, onde Sonia se encontrava e dali seguiram 
para a churrascaria, onde almoçaram e permaneceram até às 14 horas. Durante o almoço 
Antenor "se mostrava uma companhia agradável, alegre, expansivo e muito comunicativo". 
Regressaram à cidade num Volkswagen e, ao chegarem à Avenida 17, Antenor imprimiu 
grande velocidade ao veículo, ganhou a Rua 14 e, virando na contra-mão, na Avenida 15, foi 
entrar rapidamente no galpão de sua oficina. As duas moças, um pouco assustadas, 
tentaram descer do veículo, mas foram impedidas por Antenor. Ele desceu do carro, 
apanhou uma marreta e ameaçou-as de morte, caso tentassem fugir. Em seguida, trancou o 
 
 
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portão da oficina, ligou o rádio no volume mais alto. Ao descer do veículo, Marlene pediu 
"pelo amor de Deus" que as deixassem ir embora. Como resposta, Antenor desferiu-lhe 
violento soco no rosto, quebrando-lhe os óculos e ferindo-a no nariz e no olho esquerdo. 
Como estivesse sangrando muito pelo nariz, Antenor, aos gritos, mandou que ela lavasse o 
rosto em uma "bica" ali mesmo na oficina. Depois começou a falar de maneira agressiva que 
elas estavam habituadas a morar em "casas bonitas" e que agora iriam conhecer o que é a 
vida. Sempre gritando e ameaçando com a marreta, Antenor dizia que elas, como "filhas de 
papai", não conheciam "macho", que naquele momento iriam conhecer um homem de 
verdade. Dirigiu-se a um canto da oficina, apanhou uma toalha suja e esfregou no rosto de 
Marlene. Empurrou as duas moças para dentro de um pequeno cômodo, muito sujo e 
desarrumado, trancou a porta e retirou a chave, guardando-a no bolso da calça. Marlene 
notou que junto ao guarda-roupa havia espingarda e no chão um canivete grande, com a 
folha aberta. Sem abandonar a marreta em nenhum instante, Antenor gritou para Marlene e 
Sonia que tirassem as roupas. Como relutassem, começou a gritar, dizendo que não se 
interessava se elas fossem "filhas de uma puta" ou "filhas do Presidente da República", que 
iriam conhecer, naquele instante "um verdadeiro macho". Como, apesar das ameaças, 
continuassem paralisadas pelo medo, ele começou a esbofeteá-las, "sempre gritando e 
ameaçando". Por fim, quando se encontravam todos nus, Antenor passou à prática de atos 
sexuais anormais, obrigando a declarante a manter com ele o coito anal e, alguns momentos 
depois, realizou o coito vaginal com Sonia, deflorando-A. Depois de tudo consumado, ele 
manifestou uma estranha indiferença. Vestiu-se e mandou que elas também se vestissem, 
dizendo que a levaria para casa e, depois de calmamente pentear o cabelo, abriu a porta do 
quarto e ordenou que elas subissem para o carro. 
 
2º) PSICOPATAS DEPRESSIVOS - Kurt Schneider descreve os psicopatas depressivos 
como aqueles em que o estado de ânimo é permanentemente deprimido; conservam uma 
concepção pessimista da vida. Permanecem numa atmosfera de expectativa ansiosa, 
revelando falta de confiança e incapacidade para alegrar-se de maneira simples. "Em tudo vê 
o lado mau, nada parece limpo. As preocupações impedem o cumprimento dos deveres 
cotidianos; preocupações de toda espécie, autocensuras, dúvidas sobre o valor e o sentido 
 
 
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da existência. As experiências penosas são vividas de modo profundo e persistente". "É 
como se a todo instante pesasse a presença de algo grave que, quando não provém do 
exterior, surge do próprio fundo. Quando o sofrimento ocasionado por algo exterior 
desaparece, seu lugar é em seguida ocupado por preocupações, com freqüência 
relacionadas a motivos afastados, ou a dificuldades íntimas, que desaparecem quando surge 
algo real que inquieta ou ameaça". Diz Kurt Schneider que, nestas pessoas, a tristeza não 
costuma ser afugentada por um acontecimento alegre, mas é apenas substituída pela própria 
tristeza. 
Schneider descreve dois subtipos: 
a) Os melancólicos: são brandos, bondosos, delicados, cheios de compreensão e de 
indulgência para os sofrimentos e as fraquezas alheias e, ao mesmo tempo, tímidos e 
desanimados diante de acontecimentos e tarefas não habituais. 
 
b) Os mal-humorados: são indivíduos frios e egoístas, resmungadores, irritáveis, 
criticadores, perversos e mal intencionados. Cultivam o pessimismo diante de todas as 
coisas e também diante de sua própria sorte têm algo de fanático. Alegram-se quando 
sofrem novos fracassos e não desejam nada de bom para os demais. 
Os atos delituosos praticados pelos psicopatas depressivos não são muito freqüentes, mas já 
foram registrados: a deserção, o incêndio, a fuga sem destino. São atos que têm sua origem 
numa situação de isolamento e representam o ápice de uma depressão crescente e 
asfixiante. 
 
3º) PSICOPATAS INSEGUROS - A "insegurança interna" e o sentimento de "insuficiência" 
caracterizam o tipo de personalidade psicopática a que Kurt Schneider denomina de 
"inseguros de si mesmo". Ao completar o quadro descritivo diz Schneider que a "falta de 
liberdade interior e a timidez dos inseguros de si mesmos se acha, em certas ocasiões, 
compensada para o exterior por uma aparência muito segura, às vezes arrogante, ou 
também mediante um aspecto chamativo: não querem passar despercebidos. Isto pode ser 
 
 
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aplicado, particularmente, àquelas pessoas cuja insegurançaestá no próprio físico ou no 
terreno social. Os escrúpulos e sentimentos de insuficiência dos inseguros de si mesmos 
repercutem muitas vezes, ainda que nem sempre, no comportamento ético. Esses inseguros 
estão sempre lutando com remorsos e escrúpulos de consciência, e quando algo fracassa 
lançam em primeiro lugar a culpa em si mesmos". Aduz ainda que o psicopata inseguro de si 
mesmos não desfruta dos prazeres da vida, e são a todo instante assaltados por remorsos 
de consciência. Essas pessoas vivem em constante temor de haver descuidado algo ou de 
ter realizado algo mau. Esse temor retira o seu conteúdo de qualquer circunstância em 
aparência diferente: "A melodia encontra a letra que lhe corresponde". 
De acordo com a conceituação do Prof. Nelson Pires, os psicopatas inseguros experimentam 
grande reação emocional ante os fatos percebidos, mas quase não a exteriorizam. 
"Concentram a atenção sobre as próprias deficiências. Mulheres se acham feias ou pouco 
atraentes. Homens que se consideram pouco viris, portadores de defeitos físicos ou doenças 
julgadas incuráveis. Pessoas que duvidam da própria capacidade para o exercício das 
funções que exercem, seja na magistratura, na cátedra, nas profissões liberais, nas artes, na 
política". "Esses psicopatas não percebem os defeitos alheios, mas estão sempre prontos 
para observar em si mesmos, deslizes e imperfeições. A auto-análise rigorosa acentua, a 
cada passo, a vivência dos próprios erros e fracassos, cultivando um angustiante sentimento 
de culpa. Preocupados com as próprias debilidades, tendem os inseguros a atribuir a palavra 
e atos alheios o propósito de menospreza-los. São assim, suscetíveis de ressentimentos por 
motivos insignificantes". 
O Prof. Nelson Pires assinala que as situações mais inconvenientes para os psicopatas 
deste grupo são: a) a espera de decisão, de outrem; b) a necessidade de tomar uma 
decisão, especialmente se da mesma podem advir malefícios para outras pessoas ou para si 
mesmos; c) a aproximação de data em que deverá assumir grandes responsabilidades 
(familiares, profissionais); d) um acontecimento vergonhoso (ato desonesto, punição, 
deficiência funcional), e situações equívocas (cometimento de atos que poderiam ser 
interpretados como injustos ou desonestos). 
 
 
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Diz ainda o autor citado que em alguns psicopatas inseguros, os episódios agudos que 
possam ser observados, não são mais do que exacerbações de um estado permanente. Os 
motivos de ordem sexual aparecem entre as causas traumatizantes para esses psicopatas. E 
quando presentes, sempre motivando sentimento de vergonha. Este constitui a nota quase 
constante das personalidades psicopáticas inseguras. A impotência sexual, o 
homossexualismo, o amor não correspondido, a infidelidade do cônjuge fazem sofrer aos 
psicopatas deste grupo pelo que, para eles, têm de vergonhoso. 
O diagnóstico diferencial deve ser estabelecido com os psicopatas depressivos. De modo 
geral, o diagnóstico do psicopata inseguro "não exige a presença de um estado de ânimo 
nitidamente depressivo". Além disso, a "insegurança vital dos depressivos não está, 
necessariamente, unida a uma insegurança interna de si mesmos". No entanto, ao lado do 
humor triste costuma surgir diminuição da capacidade de decisão. "Nos depressivos, o 
primário seria o estado de ânimo e, na decorrência dele, estaria a insegurança. Nos 
inseguros, a tristeza seria conseqüência de insegurança. Entretanto, a coexistência de 
depressão e insegurança impõe, algumas vezes, observação meticulosa para que se possa 
estabelecer a diferença". 
Entre os psicopatas inseguros se encontra maior número de tentativas de suicídio. As 
infrações penais desses psicopatas se referem a atentados sexuais e conflitos éticos. 
 
4º) PSICOPATAS FANÁTICOS - Segundo Schneider, o que caracteriza o grupo é a extrema 
importância que concedem a certos conceitos, quer relacionados com a própria 
personalidade, quer com determinados sistemas filosóficos ou políticos. Salienta que o 
verdadeiro fanático possui uma personalidade expansiva e acentuadamente ativa. O fanático 
de si mesmo luta por aquilo que considera ser, ou é na verdade, o seu direito; o fanático de 
idéias combate pelo seu programa. Os fanáticos psicopatas com que o médico entra mais 
vezes em contato são os querelantes, principalmente aqueles que exigem indenizações. 
Surgem neles, às vezes, desenvolvimentos paranóides, que não devem ser confundidos com 
o que habitualmente se chama desconfiança e que pode ter, por exemplo, um conteúdo de 
 
 
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ciúme. Não se trata aqui de simples personalidades expansivas, senão de personalidades de 
uma extrema complexidade. 
A psiquiatria francesa descreveu sob a denominação de "delírio passional" um grupo de 
reações anormais onde estavam incluídos muitos fanáticos denominados magnicidas, 
naturistas, sectários fundadores de doutrinas políticas e religiosas, reivindicadores, 
genealogistas e inventores. 
O Prof. Nelson Pires apresenta em sua casuística duas observações de psicopatas fanáticos. 
Um deles desenvolveu convicções esotéricas depois de ter perdido a fortuna e mantinha as 
suas idéias mais de vinte anos. O outro, solteirão de 56 anos, silencioso e rígido praticante 
do protestantismo, botequineiro, que se opunha ao sócio na venda de bebidas alcoólicas, por 
impedimentos religiosos. Era um homem sem vida sexual em obediência aos preceitos da 
castidade. Nenhum deles revelava comunicabilidade, mas o protestante não perdia 
oportunidade para distribuir bíblias e concitar os conhecidos ao culto do Evangelho. "Ambos 
levavam vida solitária, mas o esoterista era um pouco errante". A única distração dos dois 
era o culto da seita. Enquanto um deles enchia o seu quarto com livros de evangelistas e 
pastores, lendo-os sozinho até altas horas da noite, o esoterista fechava-se em casa para, 
"mentalizando", provocar visões fantásticas sobre a parede branca do quarto. O protestante 
há trinta anos seguia pontualmente os mandamentos religiosos e, estimulado por qualquer 
conversa, emitia opiniões com base em textos bíblicos, indo muitas vezes apanhar o livro 
para comprovar sua exatidão. 
O Prof. Nelson Pires chama a atenção para o fato de seus pacientes não terem vida sexual. 
Em ambos a curva de vida mostrou-se economicamente decadente, o que é natural para 
quem dedica o seu tempo a práticas místicas com sacrifício absoluto do pragmatismo. 
"Dificilmente um fanático enriquece, ao contrário, os litigantes desperdiçam a própria fortuna 
em pleitos". Do mesmo modo, não é próprio do fanático a prática de alcoolismo. Nos dois 
casos relatados, os pacientes foram sempre péssimos profissionais, tendo o exoterista 
abandonado há muitos anos qualquer atividade remunerada. Assinala ainda o autor que o 
fato de certos fanáticos lograrem obter evidência e facilidade de toda ordem, cria condições 
para que sejam estimuladas outras componentes caracterológicas. Cita o caso de um chefe 
 
 
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de "seita", que foram fanático puro durante mais de quinze anos, e terminou por enveredar 
pela "industrialização dos milagres, quando alcançara fugaz popularidade, se bem que 
funcionasse de modo discreto a "indústria". Desde que começou a auferir dinheiro dos 
peregrinos, multiplicou as audiências de modo mais ou menos equívoco. O dinheiro que os 
crentes lhe deixavam sob toalhas e panos bordados, ele dizia 'que vinha de Deus', numa 
evidente duplicidade. Esse fanático, até então imaculado e pacífico quando a Polícia 
interveio e terminou as atividades 'santificadas', já há muito tempo deixara de ser imaculado". 
O fato da corrupção do fanático é um dado concreto nada raro e tem o aspecto psicológico 
algo mencionável. 
A importância social dessespsicopatas, especialmente dos lutadores, está no fato de proferir 
injúrias e praticar atos de violência quando contrariados em seus desígnios de aliciamento. 
5º) PSICOPATAS NECESSITADOS DE VALORIZAÇÃO - O Prof. Nelson Pires preferiu 
traduzir a denominação "Geltungebedurfrigen" como "necessitados de valorização", porque o 
traço distintivo desses psicopatas é a necessidade que têm de ser valorizados, às vezes, 
desejam essa valorização mesmo que seja desfavorável. Esses psicopatas foram descritos 
por Kurt Schneider como excessivamente vaidosos, que procuram aparentar mais do que 
são na realidade. Trata-se de personalidades imaturas e fátuas. A sua necessidade de 
valorização pode manifestar-se pela excentricidade; para chamarem a atenção dos outros 
defendem os pontos de vista mais extraordinários e praticam ações as mais espantosas. 
Procuram imprimir ao seu aspecto exterior qualquer característica que desperte a atenção. A 
necessidade de valorização pode também se manifestar pela gabarolice e pelo auto-elogio. 
Nos casos extremos esses indivíduos, para realçar sua pessoa, contam aventuras 
fantásticas ou representam-nas como atores. Para esses casos empregava-se antigamente a 
designação de pseudologia fantástica. Jaspers destacou nesses psicopatas, um traço 
fundamental: parecer mais do que são na realidade. Quanto mais se desenvolve o teatral, 
tanto mais falta a esses psicopatas qualquer emoção própria e verdadeira. São falsos, 
incapazes para qualquer relação afetiva duradoura ou realmente profunda. Estão sempre em 
cenário de vivências imitadas e teatrais; este é o estado extremo dos psicopatas 
necessitados de valorização. 
 
 
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A importância social desses psicopatas se acha na criminalidade dos fanfarrões e, 
especialmente, dos pseudologistas. Trata-se de roubos, fraudes, falsas promessas de 
casamento, exercício ilegal da medicina. 
6º) PSICOPTAS LÁBEIS DE HUMOR - São caracterizados, segundo Kurt Schneider, pelas 
alterações súbitas do humor, principalmente no sentido irritável-depressivo. Em muitos 
casos, torna-se difícil esclarecer se essas disritmias são reativas, no sentido de serem 
psiquicamente motivadas. O certo é que esses indivíduos, em determinados dias, reagem de 
maneira fácil e de modo duradouro, depressivamente. Trata-se de uma reatividade 
depressiva aumentada e reforçada, sobre um fundo que não se acha em si determinado de 
modo reativo. Diz Schneider que, a partir dessas alterações do humor desenvolve-se toda a 
espécie de atos impulsivos, tais como fugas, vagabundagem, embriaguez, prodigalidade 
periódica. A perturbação afetiva durante esses dias críticos pode mesmo levar à prática de 
certos delitos. Na maior parte das pessoas "impulsivas", trata-se de lábeis de humor: a 
alteração do estado de ânimo tem aqui um caráter primário. 
7º) PSICOPATAS EXPLOSIVOS - Caracterizados por Kurt Schneider como indivíduos que 
"fervem em água fria", irritáveis, coléricos, exteriorizando reações denominadas de "curto 
circuito". Reagem de maneira primitiva. Esses indivíduos ouvem, por exemplo, uma palavra, 
e antes que tenham compreendido o seu exato significado reagem de maneira explosiva, 
respondendo com insultos ou com violências. Os psicopatas explosivos exercem ação 
particularmente destruidora sobre o matrimônio; revelam uma incapacidade absoluta para a 
educação dos filhos. Praticam ações criminosas com extrema facilidade. Muitos explosivos 
revelam-se como tal apenas durante a embriaguez. Os delitos cometidos por esses 
psicopatas são sempre por agressões, delitos de sangue, imotivados, resistência às 
autoridades e estragos materiais. 
O Prof. Nelson Pires apresenta a observação de uma paciente considerada como psicopata 
explosiva. Trata-se de uma mulher de 23 anos, casada, funcionária pública, aposentada em 
conseqüência da "doença". Sempre apresentou cenas de grande violência, agressão física 
armada e desarmada, escândalos em casa e na repartição do marido, o que motivou várias 
internações em sanatórios e hospitais psiquiátricos. Paciente sexualmente fria, com desamor 
 
 
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aos filhos, aos quais seviciava e descuidava. Quando internada, seu comportamento se 
tornava exemplar. 
 
8º) PSICOPATAS FRIOS DE ÂNIMO - Kurt Schneider descreve-os como indivíduos 
destituídos de compaixão, vergonha, sentimentos de honra, remorso e noção de moral. No 
seu modo de ser esses indivíduos são sombrios, metidos consigo próprio, irritáveis; nas suas 
ações anti-sociais mostram-se impulsivos, brutais, cruéis. Por sua conduta altamente 
perigosa, Kraepelin os chamou de "inimigos da sociedade" ou "anti-sociais". Schneider 
considera que as designações de "loucura moral", "estupidez moral", "imbecilidade moral" 
para esses casos são impróprias. Há muitos criminosos que são psicopatas inafetivos ou 
com defeito moral; nesses casos são inúteis as tentativas de reeducação ou regeneração, 
visto que não há na personalidade qualquer base ou fundamento sobre que se possa exercer 
influência. 
Lichtenstein e Small publicaram, há muitos anos, um exemplo admirável de psicopata desse 
tipo, cuja observação apresentamos em resumo: 
 
"Artur Warrer Waite era um cirurgião-dentista, que, em virtude de ter assassinado o sogro e a 
sogra, foi eletrocutado. Em declaração a um de nós, enquanto estava encarcerado, 
aguardando julgamento, Waite explicou que, durante o curso de bacharelado e, mais tarde, 
já exercendo a profissão de dentista, arrombava fechaduras, roubara modelos de dentaduras 
feitos por outros estudantes e havia mentido repetidamente. Logo que terminasse o curso, 
pretendia conseguir um lugar de dentista numa empresa na África do Sul. Quando estava 
terminando os últimos preparatórios em determinado colégio, tornou-se amigo de um dos 
professores e se vangloriava de ter sido aprovado graças à influência do mesmo. 
"Enquanto estava exercendo a sua profissão na África do Sul roubava todo ouro, prata e 
platina que encontrava ao seu alcance e levou a sua promiscuidade sexual aos maiores 
extremos. Quando sua existência se tornara precária por causa da iminência de descoberta 
dos seus delitos, resolveu praticar os assassinatos, os quais mais tarde foram realizados. 
 
 
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Ainda não mantinha relações com suas vítimas, mas conhecia sua reputação. Tratava-se de 
pessoas que viviam em casa própria na mesma cidade e tinham fama de ricos. Concluído o 
plano, renunciou o posto na África do Sul e partiu para Nova Iorque onde se matriculou numa 
faculdade para fazer cursos de bacteriologia e toxicologia, pois isso fazia parte da 
preparação de seus crimes. 
"Pouco antes de concluir os cursos, publicou nos jornais de Michigan a notícia de que estava 
prestes a regressar a sua cidade natal, onde pretendia abrir consultório. Chegou à cidade 
precedido do maior prestígio. O cenário estava preparado. Desde logo começou a receber 
convites de famílias distintas para comparecer a acontecimentos sociais, e apesar de que 
muitos convites provinham de famílias que tinham filhas em idade de casar-se e eram 
pessoas de alto nível social, declinou invariavelmente a todas essa distinções. Esperava que 
chegasse a escolhida e esta não foi recusada. Pouco tempo depois estava casado com a 
filha daquela família que havia incluído em seus planos. Não perdeu tempo e, 
imediatamente, começou a por em prática as suas maquinações diabólicas. Vejamos como 
ele as descreve: 
"A velha (a sogra) se comportou muito bem, porém o velho me deu um trabalho horrível. 
Administrei um pouco de arsênico à velha e ela morreu tranqüilamente. Era um dia frio e 
úmido, convidei o velho para dar um passeio. Eu me agasalhei bem e disse ao velho que não 
havia necessidade de abrigar-se, pois não fazia frio. Molhei seus sapatos eumedeci o 
assento do automóvel. Deixei os vidros do carro abertos. Na mesma noite começou a 
queixar-se de irritação da garganta e eu o mediquei, fazendo-lhe uma embrocação com 
germes de difteria, porém os malditos não se desenvolveram. Poucos dias depois retirei a 
lâmpada de sua mesinha de cabeceira e coloquei uma caixa na entrada do seu dormitório 
para que tropeçasse e caísse. Efetivamente, levou uma queda e ficou com um ferimento na 
tíbia da perna direita; apressei-me em fazer um curativo, tendo aplicado bacilos de tétano 
sobre a ferida e feito compressão com algodão e esparadrapo. Mas, infelizmente não 
aconteceu nada! Nos dias seguintes administrei ao velho grandes quantidades dos bacilos 
que tinha à mão: bacilos de tipo, pneumococos e outros que não me lembro no momento. 
Não adoecia! O velho era imune a todas as enfermidades infecciosas. Tive que decidir-me e 
 
 
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aplicar-lhe arsênico. E isto deu resultado. Ao anoitecer chamou à porta do meu quarto: 'Vem 
depressa, por favor. Estou me sentindo mal'. 
"Mandei que ele se deitasse no sofá e fui ao meu quarto apanhar um frasco de clorofórmio. 
Molhei bem a almofada com clorofórmio e apertei-a sobre o seu rosto até o momento em que 
ele morreu. O senhor não imagina o trabalho que me deu aquele maldito velho". 
Lichtenstein e Small fazem alguns comentários sobre esta observação e dizem que Waite, 
durante o tempo em que fazia as declarações comia tranqüilamente a sua refeição. 
Esclareceu ainda que era amante da música e côo sua esposa tocava piano de maneira 
admirável, por isso, não tinha sido possível matá-la. 
 
9º) PSICOPATAS ABÚLICOS - O psicopata abúlico, individualizado por Kurt Schneider, tem 
encontrado confirmação de parte dos psiquiatras que dedicaram estudos especiais às 
personalidades psicopáticas. De acordo com a descrição de Schneider, esses psicopatas 
estão caracterizados pela ausência de vontade e pela incapacidade de oporem resistência às 
influências do ambiente. Deixam-se influenciar, com facilidade, por outras pessoas e pelas 
situações. Em geral são bondosos, não oferecem dificuldades nas clínicas e nos 
estabelecimentos pedagógicos; são razoáveis, dóceis, laboriosos e modestos. Mas nada do 
que se consegue deles, sob a ação de influências favoráveis, dura muito tempo. Posto em 
liberdade, deixam-se facilmente corromper pelo primeiro que encontrar e que sabe levá-los 
com habilidade. Como diz Bleuler, são "homens de temperamento variável com o ambiente". 
O Prof. Nelson Pires considera apropriada a denominação dada por Kurt Schneider a esses 
psicopatas. "Todos conhecem o indivíduo incapaz de resistir às solicitações dos 
companheiros, de resistir às tentações e que são, aparentemente, excelentes pessoas que, 
no entanto, claudicam às primeiras dificuldades que a vida oferece". Faz parte da experiência 
de todos os psiquiatras um certo tipo de alcoolista que promete não voltar a beber. As 
promessas são sinceras, mas jamais serão cumpridas. Fora do alcoolismo os fatos são 
sempre os mesmos: o pai que leva o filho ao psiquiatra e diz que: "as más companhias é que 
são responsáveis pelos desvios", ou que o filho "se deixa levar facilmente". Nisto consiste o 
 
 
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traço característico do psicopata abúlico: não oferecer resistência às solicitações de qualquer 
tipo: contravenção, licenciosidade, aventura, alcoolismo, desvio sexual, vagabundagem e 
crime. 
Os psicopatas abúlicos apresentam um índice muito elevado nas estatísticas da 
criminalidade. Em primeiro lugar surgem os roubos, os desfalques e as fraudes. Além disso, 
esses psicopatas desempenham importante papel na questão social da vagabundagem. 
 
10º) PSICOPATAS ASTÊNICOS - Esta designação nada tem a ver com os indivíduos 
fisicamente astênicos. Kurt Schneider classifica os psicopatas astênicos em dois grupos, os 
quais podem aparecer combinados entre si de todas as maneiras possíveis. No primeiro 
subgrupo, inclui certas personalidades psicopáticas que se sentem psiquicamente 
insuficientes. Suas queixas consistem em sensação de incapacidade intelectual, diminuição 
da capacidade produtiva, dificuldade de concentrar a atenção e enfraquecimento da 
memória. 
No segundo subgrupo estão incluídos os indivíduos que se sentem facilmente sujeitos a 
transtornos das funções orgânicas. O indivíduo normal não presta atenção a certas 
indisposições periódicas sem importância e em pequenas perturbações funcionais dos 
diferentes órgãos as quais, de modo geral, desaparecem com a mesma rapidez com que 
aparecem. O psicopata astênico, pelo contrário, procura concentrar a atenção sobre o 
próprio corpo e assim prejudica o jogo recíproco dos órgãos, o qual só se pode efetuar de 
modo normal quando não está sujeito à observação. Esses auto-observadores não se 
interessam pelas coisas exteriores e sim, unicamente, pelo seu organismo, e acabam por 
perder, em relação às funções orgânicas, a atitude normal de despreocupação que tão 
necessária é ao seu bom funcionamento. Esses psicopatas queixam-se de fadiga fácil, 
insônia, cefaléia, perturbações cardíacas, vasculares, menstruais e de distúrbios da função 
genital. São freqüentes as combinações com as toxicomanias, especialmente com o abuso 
de hipnóticos. 
 
 
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A importância social dos psicopatas astênicos consiste, especialmente, na sobrecarga que 
representam para as instituições de assistência pública e órgãos de previdência social. 
 
DIAGNÓSTICO - A expressão é utilizada aqui no sentido de diagnóstico psicológico. Os 
psicopatas não são doentes, nem constituem um grupo nosológico definido por traços 
característicos de comportamento. O que se deve levar em consideração ao formular o 
diagnóstico desses pacientes é, simplesmente, o "desvio do estado normal". Deve-se admitir, 
portanto, que os traços característicos das personalidades psicopáticas consistem em 
anomalias do caráter, anomalias essas que se exteriorizam através do comportamento no 
meio social. Assim considerado, o diagnóstico de psicopatia representa a conclusão natural 
decorrente da análise de determinado paciente e a síntese lógica das informações colhidas 
nos antecedentes pessoais do caso estudado. 
Segundo Kurt Schneider, no diagnóstico das personalidades psicopáticas é necessário 
"mostrar, salientar, destacar as qualidades que as caracterizam de modo acentuado, sem 
que por isso nos encontremos de posse de algo equiparável a sintomas de enfermidades". 
Em sua opinião, esse destacar se realiza sempre a partir do determinado ponto de vista e, 
especialmente, "no sentido de como se encontra subjetivamente o indivíduo em questão, 
desde o sentimento vital e da própria existência, ou das dificuldades que o ambiente e a 
sociedade sofrem por causa destas pessoas e devido às qualidades das mesmas". Ao lado 
das qualidades que foram destacadas, a partir destes pontos de vista, o indivíduo possui 
muitas outras, que não podem ser incluídas "dentro de uma denominação no estilo de 
diagnóstico, qualidades que permanecem ocultas na sombra perante uma consideração 
deste tipo". Desse modo, a designação diagnóstico corresponde somente a certas 
"qualidades do homem concreto, importantes especialmente de certos pontos de vista". Não 
se deve perder de vista que as qualidades destacadas "podem ser encontradas em 
profundidades muito diferentes". Em alguns casos, procedem de estratos centrais e, em 
outros, de camadas superficiais da personalidade, "de acordo com a secção descoberta"." 
 
 
 
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UNIDADE 12 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA 
 
ManifestaçõesCorporais 
As investigações sobre os problemas somáticos da esquizofrenia têm sido realizadas de 
maneira sistemática, visando sempre encontrar em determinadas alterações corporais os 
fundamentos etiopatogênicos da enfermidade. Em que pese o critério rigoroso com que se 
promove essas investigações, até hoje não foi possível encontrar a causa e os mecanismos 
produtores da psicose esquizofrênica. Apesar disso, não se pode obscurecer a existência de 
transtornos somáticos em quase todos os casos de esquizofrenia, embora não se possa 
dizer com segurança se esses transtornos são primários, contemporâneos ou decorrentes de 
uma alteração central básica. 
Os distúrbios neurológicos mais importantes são encontrados na esquizofrenia catatônica. 
Observam-se hipertonia, alterações do tônus muscular durante os movimentos e iteração. Os 
enfermos apresentam diminuição da sensibilidade geral, com analgesia mais ou menos 
acentuada nos estados de estupor. Os reflexos tendinosos estão exaltados. Os reflexos 
cutâneos, ao contrário, apresentam-se diminuídos ou abolidos. Em alguns pacientes, 
observa-se o gatismo por insuficiência esfincteriana. Verifica-se, ainda, na catatonia, rigidez 
pupilar absoluta. São muito comuns as alterações do diâmetro das pupilas, midríase, miose e 
enfraquecimento da reação pupilar à luz e à acomodação. No início da enfermidade observa-
se cefaléia de longa duração. Além disso, são comuns as alterações do sono: insônia, 
pesadelos, terrores noturnos. Em alguns casos, aparecem ataques epileptiformes, os quais 
 
 
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representam sinal de irritação da zona motora do córtex cerebral. Tremor dos músculos da 
face, especialmente do orbicular das pálpebras. 
Ao lado dessas perturbações, observam-se alguns sinais clínicos relacionados com o 
sistema nervoso vegetativo. Registram-se, nesses enfermos, uma série de distúrbios 
vasomotores, entre os quais se destacam: bradicardia, hipotensão, vasoconstrição periférica, 
ausência de reação psicopletismográfica, resfriamento das extremidades, edemas, cianose 
localizada no dorso das mãos e dos pés, e várias alterações cutâneas. Esses transtornos se 
manifestam com maior freqüência nos casos agudos, especialmente na forma catatônica. 
Notam-se, ainda, alterações nas secreções sudoral e sebácea, esta última emprestando à 
face do enfermo um aspecto untuoso característico. 
 
Tipos Clínicos 
A falta de uniformidade nos pontos de vista em relação ao conceito de esquizofrenia 
contribui, decisivamente, para manter certas divergências que se observam ainda na 
exposição dos tipos clínicos desta enfermidade. De acordo com a nossa orientação, 
descreveremos os quatro tipos clínicos que não estão submetidos a grandes controvérsias: o 
tipo simples, o hebefrênico, o catatônico e o paranóide. 
 
ESQUIZOFRENIA SIMPLES 
No quadro clínico da esquizofrenia simples aparecem como sintomas fundamentais o 
empobrecimento da vida afetiva, a indiferença emocional, a vacuidade do pensamento e o 
enfraquecimento da vontade e dos impulsos. A enfermidade tem início, aproximadamente, na 
puberdade e, desde logo, vai operando completa transformação da personalidade e do 
comportamento do doente. As aptidões intelectuais decaem, os pacientes se tornam cada 
vez mais indiferentes e apáticos, sendo necessária a internação em serviço especializado. 
Nos casos leves, a doença passa despercebida e, muitos jovens de futuro promissor, 
terminam ocupando postos inferiores na escala social. Algumas vezes, os familiares chegam 
 
 
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a notar as modificações sobrevindas na personalidade do enfermo, a indiferença e a 
incapacidade para o trabalho. Como a doença não é ainda suspeitada, a causa dessas 
alterações é comumente atribuída a circunstâncias do meio exterior. Recorre-se, por isso, a 
uma série de meios corretivos inadequados, que concorrem para agravar a situação do 
enfermo. 
A doença progride durante anos até a completa destruição da personalidade. Entretanto, é 
possível ocorrer emissões de longa duração, com precário ajustamento ao meio social. 
 
ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA 
Por hebefrenia entende-se, atualmente, um dos quadros clínicos da esquizofrenia que, em 
geral, tem início entre 15 e 25 anos de idade, e conduz, através de um desenvolvimento lento 
ou às vezes rápido, a um estado de enfraquecimento da atividade psíquica. A alteração 
básica do quadro hebefrênico consiste no distúrbio do pensamento. Não se trata de uma 
perturbação de conteúdo, nem tampouco daquilo que, habitualmente se chama de alterações 
formais, mas de um transtorno no processo efetivo do pensar, das operações psíquicas 
necessárias à coordenação do pensamento. Nos casos típicos, os enfermos apresentam 
uma forma de pensamento vago, inconsistente, indeterminado, com diferentes graus de 
intensidade, desde a leve indeterminação até a completa desorganização do pensamento e 
da linguagem. 
Em segundo lugar, a inadequação emocional. Os sentimentos desses enfermos são 
inadequados e inteiramente incompreensíveis ao indivíduo normal. O estado de ânimo é 
instável, notando-se repentinas e imotivadas alterações do humor. É possível verificar, 
muitas vezes, que os doentes passam de um estado de intensa alegria à profunda tristeza, 
da euforia à cólera, sem que se possa perceber a existência de uma causa justificável. Os 
processos afetivos se caracterizam, nos hebefrênicos, pelo amortecimento das emoções e 
dos sentimentos delicados, revelando alguns enfermos a mais completa indiferença pela 
família, pelas pessoas de suas relações anteriores e por sua própria situação. Desperta a 
atenção, nesses enfermos, a disparidade entre os conteúdos ideativos e as reações afetivas. 
 
 
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As concepções delirantes mais extravagantes não se acompanham de uma tonalidade 
emocional apropriada. Esta discordância entre o pensamento e os sentimentos se reflete na 
conduta desses doentes; podem rir alegremente diante de um acontecimento em que a 
reação normal seria a tristeza. 
Os enfermos revelam perda da iniciativa e não realizam nenhuma atividade com fins 
pragmáticos. As alucinações desempenham aqui um papel pouco expressivo. Em alguns 
casos, os doentes fazem referência a vozes que interferem em sua atividade, vozes 
imperativas que os comandam ou que repetem os seus pensamentos. Os delírios dos 
hebefrênicos são desconexos, mutáveis e transitórios, sem tendência à sistematização. 
No quadro clínico da hebefrenia se encontram muitos dos sintomas dominantes na 
esquizofrenia simples, especialmente os sintomas negativos, como a insensibilidade 
emocional, a vacuidade do pensamento e as manifestações de passividade. Por esta razão, 
alguns autores incluem a esquizofrenia simples entre os subgrupos hebefrênicos, no entanto, 
como os esquizofrênicos simples se ajustam em um quadro clínico bem definido e 
constituem um grupo que, embora restrito, tem importância prática especial, convém mantê-
los num quadro independente (Mayer-Gross). 
 
ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA 
A catatonia é concebida, atualmente, como um dos quadros clínicos da esquizofrenia, 
caracterizando-se pela alternância de períodos de inibição e de excitação, com 
predominância na fase de estado de uma série de fenômenos psicomotores, chamados 
sintomas catatônicos, sobressaindo entre eles o negativismo, a sugestibilidade e as 
estereotipias. ?Sob os sintomas dominantes, de modo temporário ou permanente, não faltam 
os distúrbios do pensamento e da afetividade e, raramente, se nota a ausência completa de 
formações delirantes e de alucinações (Lange). A moléstia se declara, em geral, entre 15 e 
25 anos de idade. 
 
 
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Os sinais e os sintomas do quadro catatônico são inconfundíveis.Os doentes podem 
permanecer dias inteiros numa imobilidade absoluta. Não reagem a nenhum estímulo do 
meio exterior. Não falam nem respondem às perguntas do interrogatório. Sentado ou de pé, 
o enfermo persiste na mesma posição por tempo indefinido. No quadro clínico dominam as 
estereotipias de atitude, as posições extravagantes, os maneirismos. 
No início da enfermidade e nos períodos de excitação, os doentes apresentam estados 
alucinatórios de grande intensidade. Sobressaem, em primeiro lugar, as alucinações 
cenestésicas, vindo em seguida as auditivas e, por último, as ilusões e alucinações visuais. 
Nos estados crônicos as alucinações se atenuam ou mesmo desaparecem. 
O bloqueio do pensamento é um sintoma freqüentemente observado no quadro catatônico. 
Os delírios são variáveis, confusos, absurdos, habitualmente de matiz depressivo; delírios de 
culpabilidade, místico, de perseguição, de negação, de transformação corporal. Em muitos 
casos, o pensamento dos catatônicos apresenta uma alteração muito semelhante à 
incoerência dos estados amenciais. 
O estado de ânimo reflete indiferença. É, porém, na esfera da atividade voluntária que se 
encontram os principais sintomas do quadro clínico. No período de estado, verifica-se 
acentuada inibição da atividade, adquirindo significação definida os denominados sintomas 
catatônicos. Sobressai a repetição automática de movimentos: a ecopraxia, realização de um 
ato por imitação, e a ecocinesia, repetição automática dos movimentos executados diante do 
paciente. Em resultado da sugestibilidade e da plasticidade muscular, os catatônicos podem 
manter durante muito tempo as mais extravagantes posições em que sejam colocados os 
seus membros. 
As estereotipias de atitudes são freqüentes, consistindo na capacidade que o enfermo 
manifesta de conservar, durante um espaço de tempo relativamente longo, a mesma 
posição, a mesma atitude. Nas estereotipias de movimento, ?o doente executa de modo 
constante e uniforme, um dado movimento qualquer que seja ele, durante meses e até anos. 
Podem variar desde simples movimentos dos dedos, até marchas estereotipadas. Em geral, 
 
 
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o mesmo paciente conserva de maneira constante, por anos seguidos, os movimentos 
adotados desde o início?. 
Em determinados períodos as manifestações da atividade voluntária estão reproduzidas ao 
grau mínimo ou mesmo abolidas, constituindo o quadro do estupor catatônico. Durante a 
evolução da enfermidade é possível observar períodos de excitação, sobrevindos de maneira 
inesperada e sob a forma de crises passageiras. Nas fases de excitação, observa-se com 
extraordinária freqüência os atos impulsivos. 
As alterações da linguagem, na catatonia, são muito freqüentes, em virtude da tendência 
revelada pelos movimentos a tornarem-se estereotipados. A mais comum dessas alterações 
é a verbigeração. Observam-se, ainda, mutismo, pararrespostas, ecolatia e ecomímia. 
Como componentes do quadro da esquizofrenia catatônica, obsevam-se vários transtornos 
corporais: edemas localizados na face dorsal dos pés; acrocianose, resfriamento das 
extremidades; desmografismo; vertigens, arritimia e pulso filiforme; hipersalivação, 
hiperidrose, aumento da secreção sebácea; diminuição da taxa de ácido clorídrico; 
temperaturas subnormais, hipertemia nas fases iniciais da enfermidade. Reichdardt assinala 
a apresentação de hipertensão cerebral aguda, acompanhada de bradicardia, vômitos e 
perplexidade. Essa hipertensão cerebral seria devida a edema cerebral agudo, responsável 
pelas mortes súbitas de muitos esquizofrênicos catatônicos. 
Exemplo clínico: Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica, 
natural do Estado do Rio de Janeiro. 
Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a 
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao 
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora 
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações, 
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do 
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer 
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para 
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e 
 
 
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ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou, 
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a 
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe 
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto, inteiramente aleado do 
ambiente. Foi novamente conduzido ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual, 
dessa vez, achou que o tratamento só podia ser realizado sob regime de internação. 
Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado, 
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e 
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade 
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e 
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo, 
porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às 
vezes, caía em coma ao adormecer. 
Em 3 de maio de 1960, trazido à presença do médico, aí permaneceu sentado, o tronco 
fortemente recurvado para frente e fazendo movimentos com as mãos, como se estivesse 
penteando os cabelos. Mutismo absoluto. Obediência automática, estereotipia de atitude, 
maneirismos e negativismo. 
 
ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE Denomina-se esquizofrenia paranóide o tipo clínico da 
enfermidade que se caracteriza pela predominância de delírio e alucinações. O quadro 
paranóide é extremamente rico em manifestações psicopatológicas, encontrando-se nele 
todos os sintomas de primeira ordem, de Kurt Schneider. 
Na esquizofrenia paranóide, à medida que a enfermidade progride, o enfermo se integra em 
seu mundo delirante e alucinatório, afastando-se cada vez mais da realidade, da qual retira 
apenas aqueles elementos que contribuem para fortalecer a sua convicção delirante. A 
doença tem início na idade média da vida ou na maturidade. Em toda a sua evolução, não se 
observam alterações profundas da personalidade, como ocorre habitualmente nos tipos 
 
 
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simples, hebefrênico e catatônico. Entretanto, nas fases tardias, a maior parte dos casos 
apresenta acentuado defeito esquizofrênico. 
É nesta variedade clínica de esquizofrenia que as preocupações delirantes se manifestam 
com maior freqüência e adquirem valor excepcional para o diagnóstico. São dotadas de 
significação especial e têm, para o doente, o valor de sinal, de mensagem, como se através 
da percepção falasse ? uma realidade superior?. Os traços característicos da vivência 
consistem em sua significação alterada e em seu caráter de ? imposição?, procedente do 
mundo exterior. O fundamental, nesse caso, não é o conteúdo da percepção, mas o que ela 
representa em si mesma como vivência delirante. 
As percepções delirantes estão sempre unidas ao difuse Wahnstimmung, estado de ânimo 
ou humor delirante que, habitualmente, é experimentado pelo enfermo como um sentimento 
de inconsistência e de insegurança, que o leva a procurar instintivamente um ponto sólido 
em que firmar-se e agarrar-se (Jaspers). 
As alucinações são muito comuns no quadro paranóide e têm a particularidade de se 
manifestarem com a mais completa lucidezda consciência. Observam-se a sonorização do 
pensamento, as vozes que interferem na própria atividade, o roubo do pensamento, a 
divulgação do pensamento e as vivências de influência corporal. Os fenômenos alucinatórios 
mais comuns correspondem à esfera auditiva. Apresentam-se, geralmente como vozes que 
censuram, ameaçam ou interferem diretamente nos atos do paciente. Nos casos em que as 
alucinações auditivas se manifestam como vozes dialogadas, o enfermo percebe que várias 
pessoas falam entre si a seu respeito: umas vozes o elogiam, outras comentam os seus atos, 
outras condenam a sua conduta. 
Os fenômenos alucinatórios, na esquizofrenia paranóide, se confundem muitas vezes com 
ilusões e interpretações delirantes. Os enfermos se queixam de escutar vozes, porém com 
esta expressão designam habitualmente produtos patológicos da atividade imaginativa, que 
não têm características das verdadeiras alucinações. 
O segundo lugar é ocupado pelas vivências de influência corporal. Apresentam-se, 
habitualmente, como sensações anormais e desagradáveis. Em certos períodos da 
 
 
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enfermidade, observa-se uma série de alterações da sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, 
que em muitos casos desempenham papel na produção do chamado delírio de perseguição 
física. Os pacientes se sentem influenciados pelo hipnotismo, pela telepatia, pelo rádio, pela 
eletricidade ou pelo telefone. As alucinações olfativas e gustativas são raras e, geralmente 
estão relacionadas com delírio de envenenamento e com interpretações patológicas de 
percepções normais. 
Ao lado das percepções delirantes, do humor delirante e das alucinações, observam-se nos 
esquizofrênicos paranóides, transtornos da vivência do eu e alterações afetivas e do 
comportamento. 
Exemplo clínico: Apresentamos como exemplo de esquizofrenia paranóide o resumo da 
observação de uma paciente em que se pode enumerar todos os sintomas de primeira 
ordem, de Kurt Schneider, alguns sintomas de segunda ordem, como alucinações olfativas e 
visuais, disritmias depressivas e, ainda, inspiração de pensamentos. 
Trata-se de uma enferma de 35 anos de idade, casada, em que a doença evolui por surtos 
periódicos, com remissões de longa duração: 
Desejo falar com o senhor sobre o princípio do mundo. Vamos remontar ao Continente da 
Atlântida. A Atlântida era um continente onde havia paz e amor, mas, em determinada época, 
por qualquer circunstância que não consigo me lembrar, Deus foi obrigado a submergir o 
Continente da Atlântida. Então, os entes mais desenvolvidos foram salvos e enviados a 
outros Planetas. Da Atlântida muitos andam por aí, muitos são avatares, entes que vivem na 
Terra com poderes supranormais, que já andaram pelos Planetas marte, Vênus, urano, que 
são os planetas mais desenvolvidos do Cosmo. Eu pertenço à Atlântida. Sei disso porque 
tenho ligação direta com o espaço. Devido a minha hipersensibilidade, cheguei a ter contato 
com o Pai Celestial. 
Houve uma época em que a Terra ia ser destruída, porque havia muita maldade. E por que a 
Terra foi criada? Foi criada para salvar os entes perversos que usavam os poderes que 
possuíam quando habitavam a Atlântida. Naquela época os seres humanos não se 
comunicavam pela fala, eles se comunicavam pela mente, por intermédio dessa glândula que 
 
 
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os médicos não atinam a razão de sua existência: a glândula pineal. Costuma-se perguntar: 
para quês serve isto? Ora, se Deus a fez, teria de haver uma razão. Se ela não é 
desenvolvida em determinadas criaturas é porque não merece ser desenvolvida, porque 
essas criaturas podem aplicar os seus poderes para o mal, como foi o caso de Hitler. Ele 
tinha o poder da Kundaline e desenvolveu grandemente esse poder da Serpente e o 
empregou para o mal. Como Goebels e todos os líderes alemães da Segunda Guerra 
Mundial. 
Então o que aconteceu? Um dia, Deus, preocupado na sua suprema bondade, procurou-me 
no Planeta Marte. No Planeta Marte eu sou considerada, sem modéstia, como Rainha. O 
povo de Marte há milênios que sofre porque eu não estou lá, eu vim em missão à Terra, para 
ajudar o Pai nessa missão de redimir. Ele me pediu: filha, só tu podes salvar a Terra. Deixa o 
teu Planeta Marte e vai para a Terra; lá tu sofrerás bastante e viverás encarnações e 
encarnações e encarnações. Eu posso dizer algumas encarnações: fui preceptora na França, 
irmã de caridade na Itália, fui Nefertiti, fui grande advogada criminalista na época de Ana 
Bolena, fui aquele que bebeu cicuta. Quem foi? Sim, Sócrates. Eu sofri as penas do inferno. 
Nós todos, meus amigos. Até parece que estou falando para muita gente. Mas eu estou 
realmente falando para muita gente. Não estamos sós aqui, ao nosso lado tem muita gente. 
O senhor acredita? 
Sim. Quer dizer que a senhora, em outras encarnações, tem sido homem e tem sido mulher? 
 
É verdade. Nós somos hermafroditas. Nós temos um tanto de masculino e de feminino. O 
senhor sabe muito bem disso, porque o senhor é médico. Nós temos um pouco de homem e 
um pouco de mulher. A parte que se desenvolve mais é o sexo que predomina?. 
A senhora se dirigiu nesse momento a outras pessoas. A senhora está vendo alguém além 
de nós? 
 Não, não vejo ninguém. Mas sei que eles estão sempre ao meu lado, me orientando sobre o 
que devo falar, o que posso falar, o que o senhor pode saber. Porque o senhor também 
 
 
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precisa ser esclarecido. Quando chega à noite, meu espírito se separa do invólucro físico e 
eu vou para o Hospital do Espaço 
Existe Hospital no espaço? 
 Existe. Eu sou enfermeira no Hospital do Espaço. Quando me deito, eu peço assim: Pai, 
quando eu dormir me leva para o Hospital do Espaço ou para uma Clínica de Repouso. 
Quero ser levada para a clínica de Ramatis. Então lá, o meu peri-espírito, não o físico, é 
tratado. Eles tratam o meu peri-espírito através da cromoterapia, da fluidificação, um 
tratamento à base de cores. 
Quando a senhora percebe que o seu peri-espírito adoece? 
 Quando? Não, como adoece? 
Quando o físico adoece, o peri-espírito também adoece. Então se a pessoa trata o peri-
espírito, o físico também melhora. Há uma relação, o senhor me entende? Então eu vou para 
o espaço. Quando chega a manhã eu estou elétrica. Como bem, tenho orientação sobre os 
alimentos que devo comer, se devo comer muito sal, se devo comer carne. Eu, por exemplo, 
quase não como carne. Como sou uma criatura voltada para as coisas do espírito, a carne 
não vai bem com o meu organismo?. 
A senhora referiu que se comunica com Deus. É verdade? (...) 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 13 
Objetivo: Possibilitar prática mais abrangente dos transtornos mentais 
EXEMPLOS CLÍNICOS 
 
Exemplo clínico de Esquizofrenia Simples 
Renato, com 23 anos de idade, cor parda, solteiro, fotógrafo. 
Segundo informações da genitora, os sintomas da enfermidade tiveram início aos 17 anos de 
idade. Na ocasião, queixava-se de que, na rua, as mulheres não olhavam para ele, mas os 
homens encaravam-no de modo especial. Já naquela época o paciente revelava tendência a 
emprestar significação especial às ocorrências. O fato dos transeuntes olharem-no 
casualmente na rua, significava: ele é um veado. Começou a manifestar uma preocupação 
extravagante com as mulheres casadas. Às vezes, durante a noite, fugia de casa, subia nos 
telhados das casas vizinhas, afastava algumas telhas, tentando ver o que se passava no 
interior dos quartos. A genitora recebeu várias queixas a respeito desses atos extravagantes 
e talvez ele não tenha sofrido algumas represálias, porque é muito conhecido no lugar onde 
reside. Certa vez chegou em casa muito afobado, com vários ferimentos pelo corpo. 
Interrogado, confessouque havia caído de cima de um muro, quando olhava para o interior 
de uma casa e foi surpreendido pelos moradores. Apesar dessas alterações do 
comportamento, continuou trabalhando, sem fazer tratamento. Em dezembro do ano 
passado, o patrão mandou avisar à genitora que o paciente não estava em seu estado 
normal. Mostrava-se muito retraído e passava horas seguidas pensativo, sem fazer nada. 
Durante alguns meses queixou-se de cansaço e desânimo. De vez em quando era assaltado 
por idéias depressivas. Por exemplo, ao aproximar-se de casa, surgia o pensamento de que 
ia encontrar a mãe morta. Apressava o passo a fim de verificar se realmente isso havia 
acontecido. A comprovação da insensatez de tais idéias não contribuía para que, no dia 
 
 
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seguinte, surgissem os mesmos pensamentos. Estava distraído no trabalho quando, 
subitamente, pensava: Será que a minha mãe está viva. Será que a minha mãe está 
passando bem? Quem sabe se ela não morreu? No dia 8 de março, deste ano, por iniciativa 
própria, tomou um frasco de anquilostomina, porque estava pálido e lembrou-se da história 
de Jeca Tatu. No dia seguinte, ao meio dia, quando regressava para casa, foi assaltado por 
dois malandros de morro, que lhe obrigaram a fumar um enorme cigarro. Em seguida 
forçaram-no a beber água de uma bica próxima. Logo depois, começou a ficar tonto, o 
mundo rodando e com zumbidos estridentes nos ouvidos. Custou a encontrar o caminho de 
casa, porque não reconhecia o lugar onde se encontrava. Permaneceu num estado de 
sonolência por mais de cinco horas. Sentia-se fraco e desamparado, demasiadamente fraco 
para realizar o mínimo movimento. Em 16 de maio, à noite, estava assistindo um filme, 
quando sentiu uma coisa esquisita. Começou a ficar frio, o corpo gelado, o coração batendo 
de maneira descompassada. Teve o pressentimento horrível de que ia morrer naquele 
instante. Ficou apavorado. Saiu do cinema e tomou um café num bar das proximidades. 
Sentiu-se pior. Antes de chegar em casa, começou a perceber que a vista estava ficando 
escura e tinha a impressão de que o mundo ia se acabar. Apressou o passo para chegar 
mais rapidamente em casa, pois desejava morrer junto de sua mãe. Deitou-se e pediu à 
genitora que o acudisse. Nesse momento começou a sentir um cheiro de vela acesa. 
Pensou: Estou no fim e minha mãe acendeu uma vela para colocar em minhas mãos. Mais 
tarde, como continuasse a se sentir pior, foi levado ao Pronto-Socorro. Deram-lhe um 
comprimido de tranqüilizante, pela madrugada, voltou para casa. Não conseguia dormir, 
porque tinha o pressentimento de que algo ainda estava para lhe acontecer. 
Depois de alguns dias, durante a noite, teve um pesadelo. Sonhou que estava andando pela 
rua e, quando passava em frente a um armazém, sentiu que ia morrer e caiu no chão. 
Acordou completamente transtornado. A partir desse momento, começou a perceber que as 
coisas estavam diferentes. Parecia que tinha a visão deformada, porque os objetos não eram 
mais os mesmos. Percebia que havia ocorrido uma transformação completa no ambiente. Os 
seus sentimentos em relação às pessoas também sofreram completa transformação. Não 
gosta mais da companheira, com quem vive a algum tempo. Quando ela se aproximava para 
lhe fazer carinho, sentia de súbito um ódio profundo e tinha vontade de estrangulá-la. Ficou 
 
 
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indiferente em relação aos amigos. Perdeu a afeição à genitora. Todos os seus sentimentos 
se apagaram por completo. O paciente tenta explicar essa transformação: É como se eu 
tivesse dormido durante dez dias e, ao acordar, o mundo tivesse se modificado. Agora é um 
mundo de fantasia. 
Seis dias depois de ter se queixado do pesadelo, começou a dizer que todas as pessoas 
estavam mortas. Escutava uma voz que lhe dizia: você vai morrer. Você vai morrer. Não 
adianta você ficar escutando rádio, porque você já está morto. Andava muito impressionado, 
com desconfiança, admitindo que fizeram macumba contra ele e que lhe influenciam à 
distância. Perdeu completamente a confiança em si mesmo e começou a ficar medroso. Não 
saía mais sozinho de casa. 
Desde a época em que teve o pesadelo, começou a perder a noção do tempo. Em alguns 
momentos não sabe calcular que horas são, ou em que parte do dia se encontra, se é pela 
manhã ou à tarde. Tem a impressão de que perdeu a sensibilidade do lado esquerdo, pois só 
sente o lado direito. Em certos momentos tem o sentimento de que é forçado a pensar, como 
se ele tivesse obrigatoriamente de se entregar aos maus pensamentos. Ultimamente, de vez 
em quando, é assaltado pela idéia de matar a genitora. Pensava que ia morrer e, por isso, 
achava que deveria matá-la: Era para morrer junto com ela? 
Em alguns momentos era tomado por uma sensação de opressão torácica, respirava com 
dificuldade, agitava-se, soltava gemidos, lamentava-se e a fisionomia adquiria uma 
expressão de intenso pavor. Informou então que sentia medo, um medo semelhante ao que 
sentia dentro do cinema. 
Desde o seu ingresso neste serviço, o enfermo tem revelado completo desinteresse por tudo 
e até mesmo por suas próprias condições pessoais. Levado à seção de terapêutica 
ocupacional, ali permanece indiferente, arredio, desinteressado, sem iniciativa, revelando-se 
incapaz para qualquer atividade com fins pragmáticos. 
O pai suicidou-se, há sete anos passados, ateando fogo às roupas. Algum tempo antes, 
vinha freqüentando centros espíritas. Falava sozinho e, certa vez, investiu contra a esposa, 
armado com uma foice, para matá-la. 
 
 
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Exemplo clínico de Esquizofrenia Hebefrênica 
Expedito, com 24 anos de idade, de cor branca, solteiro, auxiliar de laboratório. 
 
Desde a idade de 12 anos vem o paciente se revelando muito nervoso, brigando com as 
pessoas pelas coisas as mais insignificantes. Aos 14 anos, começou a trabalhar num 
laboratório de prótese dentária, no serviço de entregas. Abandonou o trabalho antes de 
completar um ano. Sempre gostou de jogar futebol. Aos 15 anos, tentou ingressar no juvenil 
do Bonsucesso, porém não foi aceito, porque o técnico achou que ele não tinha resistência 
física. Desde então, ficou muito preocupado, com desânimo, queixando-se de que era um 
inútil, que não servia para nada. Dizia que não era igual aos irmãos, que tinham 
desembaraço e estavam encaminhados na vida, enquanto ele nada conseguia. Tinha crises 
de choro e julgava-se um infeliz, sem sorte. Aos 17 anos, foi convocado para o serviço 
militar, tendo sido considerado incapaz, temporariamente, por deficiência de peso. Passou 
muito tempo preocupado, dizendo que nunca teria condições para servir ao Exército. Rezava 
muito. No ano seguinte, apresentou-se novamente ao Exército e, dessa vez, foi considerado 
incapaz, em caráter definitivo, porque não tinha físico. Recebeu certificado de reservista, 
porém não conseguia emprego. Já nessa época revelava tendência a viver significações. 
Tinha a impressão de que as pessoas debochavam dele e que muitos pensavam que não se 
pode confiar num homem que não servia ao Exército. Sentia-se humilhado, porque 
necessitava de dinheiro e tinha de recorrer aos irmãos. Muito preocupado com o problema de 
roupas. Nunca estava satisfeito com as roupas que lhe destinavam. Ora considerava que as 
calças estavam largas, ou apertadas, ou que o paletó não lhe caía bem. 
Em princípios de 1958, conseguiu uma colocação como auxiliar de laboratório. Um mês 
antes de completar um ano e sair de férias, a genitora notou que ele estava muito esquisito. 
Pela manhã, antes de sair para o trabalho, ficava andando de um lado para outro: ia até à 
porta da rua, voltava à sala, ia ao banheiro, novamente se dirigia à porta, mas não se decidia 
a sair, e assim passavam uns quinze minutos, até que alguéminsistisse para que ele fosse 
embora. No trabalho, conduziu-se com exagerado desembaraço, completamente fora do 
 
 
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natural. No período em que esteve de férias, ficava o dia inteiro em casa, não dormia, não 
falava com ninguém, sempre rezando. Apresentou cismas em relação aos companheiros de 
trabalho, dizendo que eles estavam sempre cochichando, falando mal dele. Tinha a 
impressão de que, quando passava junto aos companheiros de trabalho, eles lhe chamavam 
de mariquinhas e que ninguém confiava em sua pessoa. Foi levado a um psiquiatra e esteve 
em tratamento de ambulatório, pelo período de um ano, sem resultado. Durante esse tempo, 
esteve em casa, indiferente, calado, queixando-se de insônia e dores de cabeça. Ria muito 
sozinho e, freqüentemente, mirava-se no espelho. Dizia que escutava vozes durante a noite 
e ficava com ódio tremendo, e decidia que tinha de matar uma ou muitas pessoas para livrar-
se daquela perseguição. Informava que o demônio lhe perseguia. Dizia que estava sendo 
perseguido pelo demônio e pela pomba gíria, a mulher do demônio. Lamentava-se de que 
ninguém pudesse compreender como ele sofria com tamanha perseguição. Passava as 
noites fumando, tomando café e bebendo água. Sentia-se inseguro e com medo. Nunca se 
preocupou com namoradas. Revelava-se tímido em relação às mulheres. Há quinze dias, ao 
apertar a mão de uma garota, sua vizinha percebeu que a mão estava muito grossa: 
queixou-se em seguida que sentiu mal-estar, enjôo e ficou pensando que ela lhe havia 
transmitido algo sobrenatural. 
Internado na Casa de Saúde Dr. Eiras, em 6 de julho de 1960. Ao ser examinado, revelava-
se deprimido, falando em tom de voz baixo, a mímica apagada, gestos escassos e 
informações extremamente precárias. Fez referência a vozes de conteúdo depreciativo: 
chamam-no jeca, covarde, mal-educado, dizem que ele não é homem ou chamam-no de 
veado. Algumas vezes percebe que umas vozes tomam a sua defesa e contradizem: ele é 
homem, sim ele não é covarde, ele não tem culpa Informou também que em sua casa, 
quando está pensando em alguma coisa, percebe que os seus pensamentos são repetidos 
no andar de cima, onde residem certas pessoas que o perseguem. Alucinações 
cenestésicas. Sente que o corpo está dilatado e que as pernas estão grossas, fora do 
normal. Inibição do curso do pensamento. Delírio de perseguição, inconsistente, mal 
sistematizado. Queixa-se de uma perseguição que lhe movem os vizinhos e os colegas de 
trabalho. Tem cismas do pessoal de uma escola de samba, porque eles desejam arruína-lo e 
arrasar com a sua família. Humor delirante. Sentimento de estranheza e de transformação do 
 
 
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mundo. Às vezes, está perfeitamente bem na rua, porém, ao voltar para casa tem a 
impressão de que tudo está mudado. Enfraquecimento dos sentimentos familiares. Sente 
medo de tudo. Não ode escutar rádio, porque acha que estão falando mal dele. Sente uma 
hostilidade no ambiente, como se todos estivessem contra ele. Atos extravagantes: passa 
horas seguidas mirando-se no espelho, rindo sozinho, fazendo caretas. 
 
Exemplo clínico de Esquizofrenia Catatônica 
Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica, natural do Estado 
do Rio de Janeiro. 
Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a 
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao 
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora 
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações, 
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do 
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer 
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para 
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e 
ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou, 
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a 
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe 
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto. Foi novamente conduzido 
ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual, dessa vez, achou que o tratamento só 
podia ser realizado sob regime de internação. 
Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado, 
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e 
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade 
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e 
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo, 
 
 
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porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às 
vezes, caía em coma ao adormecer. 
Em 3 de maio de 1960, trazido à presença do médico, aí permaneceu sentado, o tronco 
fortemente recurvado para frente e fazendo movimentos com as mãos, como se estivesse 
penteando os cabelos. Mutismo absoluto. Obediência automática, estereotipia de atitude, 
maneirismos e negativismo. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 14 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO 
O corpo no autismo10 
Fabiana. S. Fernandes 
Universidade Federal do Amazonas 
O objetivo principal deste estudo é refletir sobre constituição do corpo em crianças autistas. 
Para que esse trabalho seja melhor compreendido, ele foi dividido em três partes principais. 
Num primeiro momento falarei sobre o autismo e suas características comportamentais tais 
com distúrbio do relacionamento; distúrbio da fala e da linguagem; distúrbio do ritmo de 
desenvolvimen-to; distúrbio da motilidade e distúrbio da percepção. Em O corpo exponho um 
breve estudo do corpo e, posteriormente, como esse corpo é constituido, percebido e vivido 
no autista, além de fazer uma referência às estruturas de esquema e imagem corporal, e sua 
importância no tratamento de autistas. Finalmente procurei entender qual a importância e/ou 
interferência da noção de Corpo no desenvolvimento de crianças autistas. A partir dessa 
compreensão será possível investigar novas formas de tratamento e/ou intervenção para 
essas crianças. 
A metodologia utilizada na elaboração desse estudo foi a pesquisa bibliográfica exploratória 
em material já elaborado, constituído principalmente de livros. O critério para seleção do 
material na pesquisa bibliográfica objeto desse estudo, baseou-se na consulta de literatura 
 
10 Artigo disponível no site acadêmico P@PSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1676-73142008000100013&script=sci_arttext 
 
 
 
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especializada na área, selecionada por abordar a temática do Corpo no Autismo, fornecendo 
sustentação teórica suficiente para atender os objetivos desse estudo introdutório. 
O autismo 
De acordo com Gauderer (1993), o autismo manifesta-se por profundas alterações do 
comportamento, que instalam-se precocemente na infância. É uma síndrome formada por um 
conjunto de alterações do comportamento que, embora não sejam exclusivas do autismo, 
constituem uma constelação clínica, não integralmente reproduzida em nenhuma outra 
doença. 
Para Mahler (1989), partindo das perspectivas derelação objetal e desenvolvimento do 
senso de realidade, pode-se descrever dois grupos, clínica e psiquicamente distintos, de 
psicose infantil precoce; num deles, a mãe parece jamais ter sido percebida emocionalmente 
pelo bebê como figura representativa do mundo externo; de outra forma, a primeira 
representação da realidade externa, a mãe como pessoa, como entidade separada, parece 
não ser catexizada. A mãe permanece um objeto parcial, aparentemente destituído de 
catexias específicas, que não é diferenciado dos objetos inanimados. A autora complementa 
essa descrição dizendo que: 
O autismo infantil precoce desenvolve-se, acredito, porque a personalidade infantil, destituída 
de vínculos emocionais com a mãe, é incapaz de enfrentar os estímulos externos como uma 
entidade. O autismo constitui portanto, o mecanismo pelo qual tais pacientes tentam excluir, 
de maneira alucinada (alucinações negativas) as fontes potenciais da percepção sensorial, 
especialmente aquelas que exigem resposta afetiva (Mahler, 1989, p. 34). 
De acordo com Gauderer (1993), esse tipo de psicose infantil foi descrito pela primeira vez 
por Kanner em 1942 e recebeu o nome de autismo infantil precoce. Nessa psicose a criança 
não apresenta sinais de perceber afetivamente os outros seres humanos. Acha-se ausente o 
comportamento que indica a percepção afetiva das provisões maternas vindas do mundo 
externo. 
 
 
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Ainda conforme Gauderer (1993), os sintomas do autismo podem ser divididos em cinco 
grupos gerais: Distúrbios do Relacionamento: tanto o relacionamento com pessoas quanto 
com objetos inanimados estão alterados no autismo. Esta deficiência precoce inclui a falta do 
desenvolvimento de uma relação interpessoal e de contato visual. Distúrbios da Fala e da 
Linguagem: o autor mostra que o desenvolvimento da fala é caracterizado por um enorme 
atraso, com fixações e paradas ou total mutismo. É comum a ecolalia (ou seja, a repetição 
automática de sons ou palavras ouvidas) associada ao uso inadequado ou reversão do 
pronome pessoal. Quando a fala comunicativa se desenvolve é atonal, arrítimica, sem 
inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente as emoções. Distúrbios do Ritmo de 
Desenvolvimento: as crianças autistas mostram grande irregularidade na idade em que 
desenvolvem as seqüências motoras ou de linguagem. O ritmo mais comum é uma 
descontinuidade na seqüência normal do desenvolvimento, por exemplo, a criança pode 
sentar-se precocemente sem ajuda e depois mostrar um atraso significativo para se colocar 
em pé. Distúrbios da Motilidade: o maneirismo e os padrões peculiares de motilidade nessas 
crianças são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e bizarra. 
Moraes (2002) cita que os movimentos corporais estereotipados são comuns e apresentam-
se sob a forma de balanceio da cabeça, movimentos com os dedos, saltos e rodopios. Esses 
movimentos costumam ocorrer, principalmente, entre os mais jovens e os que têm um 
funcionamento global mais baixo. Distúrbios da Percepção: há uma incapacidade na criança 
de fixar ou dedicar sua atenção a certos estímulos visuais, voltando-se quase que 
exclusivamente a outros. A criança é incapaz de usar estímulos sensoriais para discriminar o 
que é importante ou não. Em outras palavras, ocorre um erro de seletividade. A criança 
autista pode ignorar estímulos visuais, até mesmo pessoas e paredes, a ponto de chocar-se 
com estas como se o obstáculo não existisse. 
Classificação do autismo 
Baptista e Bosa (2002) afirmam que se verifica na história uma grande controvérsia com 
relação ao conceito do autismo, a distinção entre autismo, psicose e esquizofrenia. As 
primeiras edições da CID (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, da 
Organização Mundial da Saúde) não fazem qualquer menção ao autismo. A oitava edição o 
 
 
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traz como uma forma de esquizofrenia, e a nona agrupa-o como psicose infantil. A partir da 
década de 1980, assiste-se a uma verdadeira revolução paradigmática no conceito, sendo o 
autismo retirado da categoria de psicose no DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) e no DSM-III-R, bem como na 
CID-10, passando a fazer parte dos transtornos globais do desenvolvimento, como segue: na 
CID-10 (1993) encontra-se a definição dessa síndrome dentro dos Transtornos Invasivos do 
Desenvolvimento, como Autismo Infantil - F84.0 e Autismo atípico - F84.1 e, no DSM IV 
(2000), também dentro dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, encontra-se o 
Transtorno Autista - 299. 
Conforme Baptista e Bosa (2002), durante muito tempo prevaleceu a noção de pessoas com 
autismo como sendo alheias ao mundo ao redor, não tolerando o contato físico, não fixando 
o olhar nas pessoas e interessando-se mais por objetos do que por outras pessoas ou, 
ainda, nem mesmo discriminando seus pais de um estranho na rua. A mídia e a literatura 
debruçaram-se sobre a imagem do "gênio" disfarçado, engajado em balanços do corpo e 
agitação repetitiva dos braços. "Estudos recentes têm comprovado o que os profissionais 
envolvidos com a criança já sabem: nem todos os autistas mostram aversão ao toque ou 
isolamento" (Trevarthen citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34). 
"Alguns, ao contrário, podem buscar o contato físico, inclusive de uma forma intensa, quando 
não "pegajosa", segundo pais e professores. Também existem evidências de que crianças 
com autismo desenvolvem comportamentos de apego em relação aos pais (mostrando-se 
angustiados quando separados deles, buscam sua atenção quando machucados, 
aproximam-se deles em situação de perigo), de uma forma diferenciada" (Capps, Sigman & 
Mundy citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34). 
Na opinião de Baptista e Bosa (2002), a forma como os autistas comunicam suas 
necessidades e desejos não é imediatamente compreendida, se adotarmos um sistema de 
comunicação convencional. Um olhar mais cuidadoso e uma escuta atenta permitem-nos 
descobrir o grande esforço que essas crianças parecem desprender para lançar mão de 
ferramentas que as ajudem a ser compreendidas. 
 
 
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Ainda de acordo com Baptista e Bosa (2002), os estudos de observação minunciosas de 
crianças autistas (utilizando filmagens) mostram que os olhares são mais freqüentes do que 
se imagina. O que ocorre é que são breves e, por isso, muitas vezes imperceptíveis. Na 
verdade, a freqüência do olhar muda com o contexto, e esse é mais comum, e tende a ser 
mais longo naquelas situações em que a criança necessita da assistência do adulto do que 
naquelas em que está, por exemplo, brincando com o adulto. Nesse caso, as teorias 
sociocognitivas ajudam a compreender a pouca freqüência do olhar: não olham porque não 
sabem a função comunicativa do olhar para compartilhar experiências com as pessoas - uma 
habilidade que se desenvolve ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Essa suposição 
parece trivial, mas faz uma diferença quando aplicada em um contexto de intervenção com 
os pais: não olhar porque não compreende a extensão das propriedades comunicativas do 
afeto e do olhar é diferente de não querer olhar. 
Para esses autores, existem várias teorias, desde a psicanálise, ocupando-se do mundo 
interno da criança, passando pelas teorias da linguagem, sociocognitivas (explicando a 
dificuldade em colocar-se no ponto de vista do outro, em refletir sobre estados mentais) até 
as teorias neuropsicológicas (dando conta das dificuldades de dividir a atenção entre os 
eventos sociais e não sociais, habilidade de extrair significado de um contexto perceptivo, 
capacidade de organização, flexibilidade e planejamento, enquanto função dos lobos 
frontais). Nenhum modelo teórico, sozinho, explicade forma abrangente e satisfatória a 
complexidade dessa síndrome - eis, a razão pela qual há a necessidade do trabalho em 
equipe e o respaldo da pesquisa. A experiência clínica, segregada da pesquisa, corre o risco 
de gerar mitos, pois tende a cristalizar preconceitos. Da mesma forma, a pesquisa, 
desvinculada da clínica, aprisiona o conhecimento cuja produção pode e deve trazer 
benefício à comunidade. 
O corpo 
Os seres humanos, ao serem captados pela linguagem diferenciam-se do reino animal, 
deixam de ser puro corpo e, pelo ingresso ao universo simbólico, podem tê-lo e, portanto, ser 
sujeito com um corpo. 
 
 
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Segundo Ferreira (2000), as experiências motoras da criança são decisivas na elaboração 
progressiva das estruturas que aos poucos dão origem às formas superiores de raciocínio, 
isto é, em cada fase do desenvolvimento, ela consegue uma determinada organização 
mental que lhe permite lidar com o ambiente. Pode-se assim dizer que, em termos de 
evolução, a motricidade é uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de 
nela o pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá retardar 
e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo. 
O autor explica que o equilíbrio ou desequilíbrio do tônus muscular, suas variações ou seus 
bloqueios irão traduzir a maneira de ser da criança, suas emoções, suas vivências psíquicas, 
além de participar também como elemento na comunicação não-verbal. A atitude da mãe 
pesa muito no desenvolvimento da criança, desde o período gestacional, quando há um 
aumento considerável de medos, muitas vezes sem motivo aparente, de ansiedades, 
depressões, enfim, uma gama de sentimentos que irão repercutir, mais tarde, no 
desenvolvimento psicológico, intelectual, afetivo e psicomotor da criança. Existe, portanto, 
uma comunicação constante, um diá-logo corporal entre mãe e filho, na esfera do qual as 
modificações tônicas: acompanham não apenas cada afeto, mas também cada fato da 
consciência 
Seguindo na abordagem de Ferreira (2000), ele visualiza, então, que as capacidades 
motoras, intelectuais e afetivas que facultam à criança estabelecer relação com o mundo, 
estão sujeitas à sua carga tônica pessoal, a qual é, por sua vez, construída a partir das 
estimulações que o meio e as pessoas lhes impõem. Será pela percepção das diferentes 
experiências que a criança terá possibilidade de criar a base para o desenvolvimento de sua 
independência e autonomia corporal e sua maturidade socioemocional. 
Esse autor mostra ainda que a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o mundo 
vivenciando e experimentando as relações, isso, a princípio, via corpo, que é no início o seu 
único meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão intimamente 
ligadas à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo 
desde a sua fase uterina. Assim, o movimento está em ligação direta com a criança, pois é 
 
 
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parte dela que se comunica com o mundo, e também é a partir dele que irá organizar-se 
enquanto sujeito pensante e atuante para dar conta da sua participação na sociedade. 
Quando se fala em corpo, segundo Ferreira (2000), tem-se que pensar que ele é um 
organismo vivo, um ser desejante, atuante, emocional, inteligente, enfim, não se pode 
esconder ou apenas renegar a história que ele carrega. É preciso entender que o corpo 
muda com o passar do tempo dependendo dos valores e das necessidades do local, da 
situação e, é necessário aceitar as suas diferenças. 
O corpo no autismo 
Levin (2000) afirma que no autismo, o corpo da criança não tem outra referência do que a de 
estar à margem. Diferentemente da psicose, não tem uma relação de univocidade à 
linguagem (modelo materno), e sim de exclusão. O corpo é pura carne sem ligação 
representacional, é puro real. 
Para esse autor o corpo no autismo permanece mudo, silencioso, carente de qualquer 
gestualidade, mantém-se encapsulado e coisificado nessa única posição do mutismo. 
Mutismo que não se produz por ter um problema na audição, mas porque o que olha e 
escuta é o seu não lugar. Posição mortífera em que nenhum significado remete a outro, nem 
ordena a linguagem. Tanto o corpo quanto as posturas, o tônus muscular, os movimentos, o 
silêncio, o espaço e o tempo, estão numa relação de exclusão à linguagem. Não fazem 
superfície, não fazem borda. Desse modo, o corpo da criança autista movimenta-se num 
tempo eterno, infinitamente, sem pausa, num espaço sem limites, sem um lugar no qual 
possa orientar, navegando no vazio próprio da coisa inerte. 
Ferreira e Thompson (2002) mostram que as noções de tempo e espaço são as principais 
bases do desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança. Mas para que a organização 
espaço/tempo se desenvolva, é necessário, antes de tudo, que as noções de esquema 
corporal e imagem do corpo estejam integradas. Essa percepção do espaço depende de 
dados sensoriais e de atitudes motoras. As alterações da percepção de espaço são, em 
primeiro lugar, causadas pela dificuldade de compreender o espaço corporal e suas 
 
 
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fronteiras. A gestualidade e os movimentos pouco adaptados, assim como a postura, 
perturbam frequentemente a linguagem não-verbal da criança autista. 
Levin (2000) informa que os movimentos estereo-tipados apresentados pelas crianças 
autistas podem ser chamados de movimentos autísticos, uma vez que não se dirigem a 
ninguém. O movimento, ao não passar por um registro outro, não se separou. Ele sugere que 
uma das possíveis vias de entrada no tratamento dessas crianças é por meio desses 
movimentos estereotipados (auto-eróticos). Por essa via procura-se escindir, separar, esse 
corpo do gozo: tenta-se fazer com que o movimento comece a funcionar, desse modo, no 
registro do desejo, situando-o em outra posição separada do gozo. 
Ferreira e Thompson (2002) informam que o autista apresenta dificuldade de compreender 
seu corpo em sua globalidade, em segmentos, assim como seu corpo em movimento. 
Quando partes do corpo não são percebidas e as funções de cada uma são ignoradas, pode-
se observar movimentos, ações e gestos pouco adaptados. O distúrbio na estruturação do 
esquema corporal prejudica também o desenvolvimento do equilíbrio estático, da 
lateralidade, da noção de reversibilidade; funções de base necessárias à aquisição da 
autonomia e aprendizagens cognitivas. 
Na opinião desses autores, não deve ser esquecido que os autistas possuem seus próprios 
desejos, preferências e personalidade, nem ignorar os outros aspectos do desenvolvimento. 
A linguagem, sobretudo, é constituinte do sujeito, sendo base para a estruturação psíquica, 
cognitiva e também psicomotora. Ao falar de corpo, o objetivo é ajudar a pessoa autista a 
superar algumas de suas dificuldades, permitindo seu desenvolvimento em outros planos, 
oferecendo novos meios de expressão, favorecendo a conscientização, possibilitando o 
acesso a funções importantes como o olhar e o tocar, buscando melhorar sua qualidade de 
vida. 
Esquema corporal e imagem corporal 
Segundo Levin (2000), o esquema corporal é o que se pode dizer ou representar acerca do 
próprio corpo. A representação que temos do mesmo é da ordem do evolutivo, do temporal. 
Dentro do esquema corporal encontram-se as noções de proprioceptividade, 
 
 
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interoceptividade e exteroceptividade. Na evolução psicomotora da criança, o esquema 
corporal irá se construindo, ele é suscetível à mensuração e à comparação com outro; por 
exemplo, nas medidas padronizadas em que a criança corresponde a cada idade, um peso, 
uma altura, etc. 
Para Ferreira e colaboradores (2002), o esquema corporal é elementobásico indispensável 
para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, 
científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. A estruturação espaço-
temporal, fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o qual a criança, não se 
reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia aprender o espaço que a rodeia. 
Torna-se necessário que a criança adquira o domínio corporal, o reconhecimento corporal e 
a passagem para a ação. Sem essas habilidades, uma criança, por exemplo poderá chocar-
se constantemente com os amigos durante brincadeiras que envolvam corrida, machucar-se 
ao passar por espaços limitados e sentir dificuldades em transferir líquidos de um recipiente 
para outro ou entornar os líquidos ao bebê-los. As etapas do desenvolvimento do esquema 
corporal abrangem o corpo vivido, o conhecimento das partes do corpo, a orientação-espaço-
corporal e a organização espaço-corporal. 
De acordo com Levin (2001), o estágio do espelho tem um papel essencial na constituição da 
imagem corporal da criança. O gesto dela diante do espelho convoca ao olhar do outro que 
confirma essa imagem própria. Esse gesto implica um movimento postural que, por um 
instante, a descentra do espelho e a aliena mais uma vez enlaçando-a ao outro. A 
transformação implícita, via identificação, o fascínio pela imagem especular determina 
mudanças posturais e corporais que organizam a construção corporal a partir do espelho 
virtual da criança. 
Estudando essas reações da criança diante do espelho, Wallon (citado por Ferreira & 
Thompson, 2002) destaca dois tempos importantes em sua psicogênese: a capacidade de 
perceber a imagem e de relacioná-la a si próprio: 
O primeiro diz respeito à constatação de que, inicialmente, a criança aprende a relacionar 
imagem especular com a pessoa real, por meio da atitude de um outro que, com ela, divide o 
 
 
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reflexo no plano de espelho. Por exemplo, a descoberta da relação entre imagem e pessoa 
real não se constitui por intermédio da imagem propriamente dita, mas do fato de estar a 
criança acompanhada de alguém que, falando ao seu lado, possa criar uma transferência 
entre pessoa real e imagem e, paradoxalmente, estabelecer, ao mesmo tempo, um vínculo 
entre imagem e pessoa real. O caminho percorrido para a associação vai do gesto à 
imagem. 
. O segundo tempo inaugura a construção de imagem de si, propriamente dita. A criança 
passa a reconhecer a sua própria imagem refletida no espelho, buscando estabelecer um 
contato corporal com ela. Nesse momento de captura da imagem de seu próprio corpo, a 
criança passa a referir-se a ela (a imagem), quando a chamam pelo seu próprio nome. 
Durante boa parte dos primeiros anos, ainda assistimos às crianças chamarem-se na terceira 
pessoa, como um processo de referência a si mesma, projetadas na imagem que 
construíram para si, especular e exteroceptiva. 
Ferreira e Thompson (2002) falam que a imagem corporal é um conjunto de informações que 
constituem um sujeito diante de si, do outro e do mundo. A construção da imagem passa 
necessariamente pelo outro e pela cultura. O sujeito aprende a ver com os olhos dos outros. 
Mas, para além do olhar, há muito mais. Há a linguagem inscrita na forma desses que olham 
e que reconhecem o sujeito, lhe dão um rosto, um semblante, uma expressão. A imagem 
passa pelos cuidados recebidos, pelo amor e desamor, pelas frustrações, privações e 
castrações simbólicas. 
O esquema corporal de uma criança autista certamente se encontra perturbado, informa 
Levin (2000), mas não por uma falha no esquema corporal, mas pela ausência, pela carência 
do outro que não fez a inscrição, que não fez os contornos desse corpo, que não gerou 
desejo, imagem, que para serem geradas irão necessitar de um outro que imagine que ali há 
um sujeito e não uma "coisa" (objeto). Desse modo, a criança poderá espelhar-se nessas 
imagens (no olhar desejante), no outro que assim outorga a possibilidade de construir um 
esquema e uma imagem corporal. 
 
 
 
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143
 
Considerações finais 
É essencial ficar entendido que intervir num processo vivencial é intervir na totalidade 
humana, seja essa intervenção através do olhar, do escutar, do tocar ou do falar. Provocar 
alguma variação numa experiência é alterar a vivência global do indivíduo em sua forma de 
ser e estar no mundo. 
Pode-se dizer que uma das primeiras intervenções a que somos submetidos se dá através 
do olhar. Alguém nos olha quando nascemos e nos diz quem somos. A partir desse momento 
começamos a delinear nosso lugar no mundo, nossa identidade. O toque, o sorriso, o falar, o 
olhar dos pais são de vital importância para o desenvolvimento emocional e intelectual da 
criança. O desejo do outro vai marcar e influenciar seu próprio desejo. 
É papel do profissional compreender e viver em profundidade o fato de que a criança 
necessita de alguém que se encante com seu mundo e o compreenda como essencial ao ato 
de viver; alguém que sonha, fantasia, deseja, sorri, dá gargalhadas, se alegra, busca realizar, 
alguém que conscientemente constrói a existência para si e para o outro; um profissional que 
lança mão do arcabouço de seu conhecimento para o exercício de seu trabalho, ao mesmo 
tempo que é repleto de sensibilidade e sutileza relacional. Utilizando o pensamento de 
Ferreira e colaboradores (2002), o profissional que decide lidar com a criança autista, deve 
considerar tudo o que se sabe sobre o processo de desenvolvimento normal e os fatores que 
otimizam o desenvolvimento; como também, tem de considerar o que se sabe sobre os 
aspectos anormais que interferem no desenvolvimento das crianças autistas. 
Foi possível perceber que a criança autista não possui um corpo vivenciado. A sensação que 
se tem é que o corpo é um objeto a parte, sem significação, sem importância. Existe uma 
grande dificuldade por parte da criança em compreender seu corpo como um todo. Ela não 
desenvolve de maneira adequada as noções de Esquema Corporal, o que tem diversas 
implicações, como foi possível observar ao longo desse artigo. Para uma criança autista, o 
corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo se ele não é bem estimulado e 
compreendido. Por isso, é necessário que ele se torne um pólo de segurança e estabilidade. 
 
 
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Posso inicialmente concluir, que umas das maneiras de auxiliar no tratamento do autismo é 
por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o psíquico e o orgânico. A partir 
de experiências sensório-motoras, ele poderá aumentar sua relação com o mundo, 
inicialmente impossível pela dificuldade de entrar em contato com os outros, seja por meio do 
toque ou por meio do olhar. Fica a proposta para num próximo estudo, buscar terapias que 
utilizem o Corpo nessa intermediação corpo-mente, e verificar de que forma elas podem 
contribuir para o tratamento de crianças autistas. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 15 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Classificação das doenças psicológicas 
Anorexia e Bulimia Nervosa11 
Objetivo: Compreender os principais sintomas das doenças psicológicas 
Anorexia nervosa 
Os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros 
psiquiátricos que afetam principalmente adolescentes e adultos jovens (embora uma procura 
maior de crianças se faça notar recentemente) do sexo feminino, levando a grandes 
prejuízos biopsicossociais com elevada morbidade e mortalidade (Doyle e Bryant-Waugh, 
2000). 
A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa à custa de dietas rígidas auto-
impostas em buscadesenfreada da magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia. 
William Gull, no ano de 1874, descreve três pacientes com quadro anoréxico restritivo, 
cunhando o termo “apepsia histérica”. O quadro clínico incluía emagrecimento, amenorréia, 
bradicardia, baixa temperatura corporal, edema nos membros inferiores, obstipação e 
cianose periférica (Abreu e Cordás, no prelo). Brunch (1962), nos anos 1960 e 1970, foi o 
primeiro autor a mencionar a distorção da imagem corporal vista como um distúrbio da 
paciente com anorexia nervosa na percepção de seu corpo. 
 
11 Resenha do artigo de ABREU, Cristiano Nabuco de; CANGELLI FILHO, Raphael. 
Anorexia nervosa e bulimia nervosa: abordagem cognitivo-construtivista de 
psicoterapia. Rev. psiquiatria. clínica [online]. 2004, vol.31, n.4, pp. 177-183. ISSN 0101-
6083. 
 
 
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146
A partir de 1970, pacientes avaliadas clinicamente demonstravam um receio exagerado de 
ganhar peso, sendo este o primeiro passo para incorporar o “medo mórbido de engordar” 
como característica psicopatológica da anorexia nervosa, juntamente com o emagrecimento, 
a distorção da imagem corporal e a amenorréia (Russell, 1970). 
A baixa auto-estima bem como a distorção da imagem corporal são os principais 
componentes que reforçam a busca de um emagrecimento incessante, levando à prática de 
exercícios físicos, jejum e uso de laxantes ou diuréticos de uma forma ainda mais intensa 
(Garfinkel e Garner, 1982, Holden, 1990). Pacientes com anorexia nervosa do subtipo 
purgativo, ou seja, que apresentam episódios bulímicos e alguma prática de purgação 
(vômitos, diuréticos, enemas e laxantes), são mais impulsivas e apresentam aspectos de 
personalidade diferentes de pacientes que usam apenas práticas restritivas e são mais 
perfeccionistas e obsessivas (Garner et al., 1993; Wonderlich e Mitchell, 2001). 
 
Bulimia nervosa 
A bulimia nervosa (BN), por sua vez, caracteriza-se por grande ingestão de alimentos de 
uma maneira muito rápida e com a sensação de perda de controle, os chamados episódios 
bulímicos. Estes são acompanhados de métodos compensatórios inadequados para o 
controle de peso, como vômitos auto-induzidos (em mais de 90% dos casos), uso de 
medicamentos (diuréticos, 
laxantes, inibidores de apetite), dietas e exercícios físicos, abuso de cafeína ou uso de 
cocaína (Fairburn, 1995). 
A descrição de BN, tal como a conhecemos hoje, foi elaborada por Russell em 1979, quando 
descreveu trinta pacientes com peso normal, pavor de engordar, 
episódios bulímicos e vômitos auto-induzidos. Como essas pacientes haviam apresentado 
anorexia nervosa no passado, Russel considerou inicialmente que a bulimia seria uma 
seqüela, uma “estranha” variação da anorexia nervosa (Russell, 1979). 
 
 
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Fairburn (1991) e outros autores, entre eles o próprio Russell, descreveram posteriormente o 
caráter autônomo do quadro, uma vez que apenas de 20% a 30% das pacientes bulímicas 
apresentaram uma história pregressa de anorexia nervosa, em geral de curta duração. 
Como descrito inicialmente, a BN caracteriza-se por grande e rápida ingestão de alimentos 
com sensação de perda de controle – os episódios bulímicos normalmente são 
acompanhados de métodos compensatórios inadequados (Hethrington e Rolls, 2001). 
O aspecto principal da BN é a presença de episódios bulímicos com relatos de ingestão 
média de três a quatro mil calorias por episódio, mas já foram descritos episódios com uma 
ingestão de até 20 mil calorias (Mitchell et al., 1998 ). 
 
 
 
 
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UNIDADE 16 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO 
Conceito e diagnóstico12 
José Alberto Del Porto 
Significados do termo “depressão” 
 
O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um 
estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias) 
doença(s). 
Os sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da vida psíquica normal. A 
tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda, derrota, 
desapontamento e outras adversidades. Cumpre lembrar que 
essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do 
retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de 
alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. As reações 
de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam- se 
pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude. As 
reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser 
diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa 
 
12 Professor Titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo. 
 
 
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usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando 
devidamente estimulada. Não se observa, no luto, a inibição 
psicomotora característica dos estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto, 
limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras idéias de 
culpa estão geralmente ausentes. Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais 
variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, 
esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a 
situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto 
síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da 
capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo 
alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite). Finalmente, enquanto 
doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período 
histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros 
mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, 
distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da 
ciclotimia, etc. 
 
Descrição clínica 
As descrições feitas por Kraepelin, dos estados depressivos e maníacos, na oitava edição de 
seu tratado, são insuperáveis pela clareza e precisão. Felizmente encontra-se disponível 
uma reedição recente desse trabalho, em tradução inglesa, o que torna sua leitura mais 
facilmente acessível. De muito interesse é o artigo clássico de Falret, sobre a “folie 
circulaire”, marco na história da doença maníaco-depressiva, datado de 1854 e recentemente 
republicado pelo American Journal of Psychiatry, com comentários de Marc Sedler. 
Igualmente interessantes são as descrições de Bleuler, em seu Tratado de Psiquiatria 
(atualizado por Manfred Bleuler), que conta com traduções em espanhol e mesmo em 
português. 
 
 
 
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Aspectos gerais 
Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos 
sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de 
tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas 
atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Freqüentemente associa-se à 
sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado. 
Alguns autores enfatizam a importância das alterações psicomotoras, em particular 
referindo-se à lentificaçãoou retardo psicomotor. Este tópico será abordado mais 
detidamente no item referente à conceituação da “melancolia”. No diagnóstico da depressão 
levam-se em conta: sintomas psíquicos; fisiológicos; e evidências comportamentais. 
 
Sintomas psíquicos 
• Humor depressivo: sensação de tristeza, auto desvalorização e sentimentos de culpa. Os 
pacientes costumam aludir ao sentimento de que tudo lhes parece fútil, ou sem real 
importância. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir alegria 
ou prazer na vida. Tudo lhes parece vazio e sem graça, o mundo é visto “sem cores”, sem 
matizes de alegria. Em crianças e adolescentes, sobretudo, o humor pode ser irritável, ou 
“rabugento”, ao invés de triste. Certos pacientes mostram-se antes “apáticos” do que tristes, 
referindo-se muitas vezes ao “sentimento da falta de sentimentos”. Constatam, por exemplo, 
já não se emocionarem com a chegada dos netos, ou com o sofrimento de um ente querido, 
e assim por diante. O deprimido, com freqüência, julga-se um peso para os familiares e 
amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença. São 
freqüentes e temíveis as idéias de suicídio. As motivações para o suicídio incluem distorções 
cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos definitivos e 
intransponíveis, tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o intenso desejo de pôr 
fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como interminável. Outros ainda 
buscam a morte como forma de expiar suas supostas culpas. Os pensamentos de suicídio 
variam desde o remoto desejo de estar simplesmente morto, até planos minuciosos de se 
 
 
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matar (estabelecendo o modo, o momento e o lugar para o ato). Os pensamentos relativos à 
morte devem ser sistematicamente investigados uma vez que essa conduta poderá prevenir 
atos suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito. 
• Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes 
consideradas como agradáveis. As pessoas deprimidas podem relatar que já não se 
interessam pelos seus passatempos prediletos. As atividades sociais são freqüentemente 
negligenciadas, e tudo lhes parece agora ter o peso de terríveis “obrigações”. 
• Fadiga ou sensação de perda de energia. A pessoa pode relatar fadiga persistente, mesmo 
sem esforço físico, e as tarefas mais leves parecem exigir esforço substancial. Lentifica-se o 
tempo para a execução das tarefas. 
• Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Decisões 
antes quase automáticas parecem agora custar esforços intransponíveis. Um paciente pode 
se demorar infindavelmente para terminar um simples relatório, pela incapacidade em 
escolher as palavras adequadas. O curso do pensamento pode estar notavelmente 
lentificado. Professores experientes queixam-se de não conseguir preparar as aulas mais 
rotineiras; programadores de computadores pedem para serem substituídos pela atual 
“incompetência”; crianças e adolescentes têm queda em seus rendimentos escolares, 
geralmente em função da fatigabilidade e déficit de atenção, além do desinteresse 
generalizado. 
 
Sintomas fisiológicos 
• alterações do sono (mais freqüentemente insônia, podendo ocorrer também 
hipersonolência). A insônia é, mais tipicamente, intermediária (acordar no meio da noite, com 
dificuldades para voltar a conciliar o sono), ou terminal (acordar mais precocemente pela 
manhã). Pode também ocorrer insônia inicial. Com menor freqüência, mas não raramente, os 
indivíduos podem se queixar de sonolência excessiva, mesmo durante as horas do dia. 
 
 
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• alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também 
aumento do apetite). Muitas vezes a pessoa precisa esforçar-se para comer, ou ser ajudada 
por terceiros a se alimentar. As crianças podem, pela inapetência, não ter o esperado ganho 
de peso no tempo correspondente. Algumas formas específicas de depressão são 
acompanhadas de aumento do apetite, que se mostra caracteristicamente aguçado por 
carboidratos e doces. 
• redução do interesse sexual 
 
Evidências comportamentais 
 
• retraimento social 
• crises de choro 
• comportamentos suicidas 
• Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora. Freqüentemente 
os pacientes se referem à sensação de peso nos membros, ou ao “manto de chumbo” que 
parecem estar carregando. Em recente revisão da literatura sobre os estados depressivos, o 
item “retardo psicomotor” foi o denominador comum, em nove sistemas classificatórios, como 
traço definidor da melancolia. Na Austrália, Gordon Parker e colaboradores propuseram, para 
o diagnóstico da melancolia, um sistema baseado não em “sintomas” (subjetivos), mas em 
“sinais” (características objetivas, observáveis): o sistema “core”, que tem sido cada vez mais 
utilizado pelos pesquisadores nessa área. 
Na França, Daniel Widlöcher4 e colaboradores, na Salpêtrière, desenvolveram uma escala 
especificamente destinada a medir o retardo psicomotor (“échelle de ralentissement 
dépressif” da Salpêtrière). Deve-se ainda lembrar, no diagnóstico das depressões, que 
algumas vezes o quadro mais típico pode ser mascarado por queixas proeminentes de dor 
crônica (cefaléia, dores vagas no tórax, abdome, ombros, região lombar, etc.). A ansiedade 
 
 
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está freqüentemente associada. Em idosos, principalmente, as queixas de caráter 
hipocondríaco costumam ser muito comuns. 
Alterações dos rimos circadianos 
Muitas funções circadianas encontram-se alteradas nas depressões, a exemplo da regulação 
da temperatura e do ritmo de produção do cortisol. Entre as alterações mais conspícuas 
estão aquelas relacionadas ao ritmo do sono. Segundo Akiskal, cerca de dois terços dos 
pacientes deprimidos têm diminuição da latência para o início do sono REM (“Rapid Eyes 
Movements”). As formas ditas “melancólicas” da depressão caracterizam-se, entre outros 
aspectos, pela piora matinal e pelo despertar precoce pela manhã. 
 
Características melancólicas 
O termo “melancolia” tem sido empregado, nas atuais classificações (como o DSM IV), para 
designar o subtipo anteriormente chamado de “endógeno”, “vital”, “biológico”, “somático” ou 
“endogenomorfo” de depressão. Considerado por muitos como o “protótipo” ou síndrome 
nuclear das depressões, a melancolia – ao contrário de outras formas de depressão – parece 
constituir-se em um grupo mais homogêneo, que responde melhor a tratamentos biológicos, 
e para o qual os fatores genéticos seriam os principais determinantes. Parker e cols. 
chamam a atenção para a importância das alterações psicomotoras na melancolia, para eles 
a principal característica desse quadro nosológico. O conceito de melancolia no DSM-IV foi 
revisto, em relação ao do DSM-III-R, tornando-se mais preciso e definindo com mais rigor no 
subgrupo aqui estudado. Testes biológicos, como, por exemplo, o teste da supressão do 
cortisol pela dexametasona, são mais freqüentemente positivos nos quadros melancólicos do 
que em outros tipos de depressão. 
Características psicóticas 
Cumpre lembrar que o termo “psicótico”, origem de tantas controvérsias em psiquiatria, tem 
três significados distintos: 
 
 
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Significado meramente descritivo, quando designa, por exemplo, quadros psiquiátricos onde 
ocorrem alucinações e delírios; 2. significado etiológico, quando designa quadros endógenos 
(determinados por tendências constitucionais do indivíduo), em contraposição àqueles 
determinados por fatores psicogênicos; e 3. significado que alude à gravidade (ou 
intensidade) do quadro. As atuais classificações, fugindo de preconceitos etiológicos,utilizam 
o termo psicótico apenas em sentido descritivo. Assim, a expressão designa, nesse contexto, 
aquelas formas de depressão onde ocorrem delírios e alucinações. Admite-se que essas 
formas cheguem a 15% dos quadros depressivos. 
Os delírios depressivos considerados congruentes com o humor incluem delírios de culpa, de 
punição merecida, delírios de ruína e delírios nihilistas (que podem configurar a síndrome de 
Cotard, quando incluem negação de órgãos e negação da morte). Na depressão delirante as 
pessoas podem interpretar eventos triviais do cotidiano como evidências de defeitos 
pessoais, ao tempo em que se culpam de forma indevida e francamente inapropriada. Um 
paciente, por exemplo, culpava-se pela morte de um desconhecido, cujo féretro passou por 
sua rua; outra, uma senhora de meia idade, julgava ser a responsável pela paralisação das 
obras de uma ponte em sua cidade. Mais comumente, no entanto, o paciente recua no 
tempo, com a finalidade 
de se acusar por supostos delitos ou atos culposos do passado, remoendo escrúpulos 
indevidos. Os temas de ruína, quando delirantes, apresentam-se, de acordo com 
Bleuler,como: ruína do corpo (delírios hipocondríacos: a pessoa acredita, por exemplo, estar 
com o fígado “apodrecido”, ou com determinados órgãos “tomados pelo câncer”); ruína 
espiritual (delírios de culpa, com acusações por faltas ou pecados cometidos); e ruína 
financeira (delírios que envolvem temas de pobreza e miséria). A “escolha” do tema faz-se, 
certamente, em consonância com as características da personalidade do paciente. Por outro 
lado, podem ocorrer temas delirantes, aparentemente sem relação com o humor depressivo. 
Os delírios incongruentes com o humor incluem temas de perseguição, e delírios de estar 
sendo controlado (estes, comumente associados a fenômenos “schneiderianos” de inserção 
e irradiação de pensamentos). Quando presentes, esses fenômenos incongruentes com o 
 
 
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humor associam-se a um pior prognóstico, avizinhando-se, não raramente, dos estados ditos 
“esquizoafetivos”. 
As alucinações que acompanham os estados depressivos, quando presentes, são em geral 
transitórias e não elaboradas. Costumam ser, mais comumente, coerentes com o humor 
depressivo: vozes que condenam o paciente, imprecações do demônio, choro de defuntos, 
etc. Mais raramente, ocorrem alucinações não congruentes com o humor (sem relação 
aparente com os temas depressivos). As formas mais severas de depressão psicótica foram 
descritas por Kraepelin com o nome de “melancolia fantástica”. Nessa forma aparecem 
intensos delírios e alucinações, alternando-se estados de violenta excitação com estados 
estuporosos, a par de leve obnubilação da consciência (essas formas são hoje dificilmente 
encontradas). 
 
Depressões catatônicas 
Diz-se que uma depressão tem características catatônicas quando o quadro clínico se 
caracteriza por intensas alterações da psicomotricidade, entre as quais: imobilidade quase 
completa, atividade motora excessiva, negativismo extremo, mutismo, estereotipias, ecolalia 
ou ecopraxia, obediência ou imitação automática. A imobilidade motora pode se apresentar 
como estupor (o chamado “estupor melancólico”) ou ainda por catalepsia (flexibilidade 
cérea). Impõe-se aqui o diagnóstico diferencial cuidadoso, com a catatonia induzida por 
condição médica geral (por exemplo, encefalopatia hepática), por drogas ou medicamentos, 
e com a esquizofrenia catatônica. Cumpre notar que, nos tempos atuais, é muito raro 
encontrar-se um verdadeiro “estupor melancólico”. As facilidades de diagnóstico e de 
tratamento quase sempre impedem a progressão a essas formas mais graves, que ainda em 
passado recente (particularmente antes da introdução do eletrochoque) ameaçavam a vida 
dos pacientes. Em pessoas jovens, o aparecimento de acentuada lentificação psicomotora e 
de formas sutis de estupor é quase sempre indicativo de doença bipolar, que freqüentemente 
acabará se manifestando mais tarde através de fases maníacas. 
 
 
 
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Depressões crônicas (distimias) 
As depressões crônicas são geralmente de intensidade mais leve que os episódios de 
depressão maior. Mais que o humor francamente deprimido, os pacientes com depressão 
crônica (distimia) sofrem por não sentir prazer nas atividades habituais, e por terem suas 
vidas coartadas por uma espécie de morosidade irritável. 
 
Depressões atípicas 
Originalmente criado na Inglaterra, e posteriormente desenvolvido pelo grupo da 
Universidade de Columbia, em Nova York, o conceito de depressão “atípíca” refere-se (de 
modo muito típico) àquelas formas de depressão caracterizadas 
por: reatividade do humor, sensação de fadiga acentuada e “peso” nos membros, e sintomas 
vegetativos “reversos” (opostos aos da depressão melancólica), como aumento de peso e do 
apetite, em particular por carboidratos e hipersonia. Além disso, descreve-se como 
característica constante das pessoas sujeitas a esse tipo de depressão um padrão 
persistente de extrema sensibilidade à percepção do que consideram como rejeição por 
parte de outras pessoas. Episódios com características “atípicas” são mais comuns nos 
transtornos bipolares (I e II), no transtorno depressivo com padrão sazonal. 
 
Sazonalidade 
Especialmente no hemisfério norte, onde as estações do ano são bem definidas, verifica-se 
com clareza que algumas formas de depressão acentuam-se ou são precipitadas de acordo 
com um padrão sazonal; mais comumente as depressões desse tipo ocorrem no outono e no 
inverno. Muitos 
desses pacientes têm fases hipomaníacas na primavera, sendo classificados como do tipo 
bipolar II (depressões maiores e hipomania). Freqüentemente esses pacientes apresentam 
algumas características sobrepostas às da “depressão atípica”: fadiga excessiva, aumento 
 
 
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do apetite (em particular por carboidratos) e hipersonolência. O DSM-IV inclui o “padrão 
sazonal” como um especificador do tipo de depressão estudada. 
 
Classificações atuais dos estados depressivos CID-10 
A Classificação Internacional das Doenças, da Organização Mundial da Saúde, em sua 
décima revisão8, a CID-10, assim assim apresenta os transtornos do humor, em suas linhas 
gerais: 
• F30 - Episódio maníaco (usado para episódio único de mania). 
• F31 - Transtorno afetivo bipolar. 
O transtorno afetivo bipolar pode ser classificado, de acordo com o tipo do episódio atual, em 
hipomaníaco, maníaco ou depressivo. Os episódios maníacos são subdivididos de acordo 
com a presença ou ausência de sintomas psicóticos. Os episódios depressivos são 
classificados de acordo com as regras descritas em F32. O transtorno afetivo bipolar inclui 
ainda os episódios mistos (F31.6). 
• 1 2 F32 - Episódio depressivo (usado para episódio depressivo único). 
O episódio depressivo pode ser, quanto à intensidade, classificado como: leve, moderado ou 
grave. Os episódios leves emoderados podem ser classificados de acordo com a presença 
ou ausência de sintomas somáticos. Os episódios depressivos graves são subdivididos de 
acordo com a presença ou ausência de sintomas psicóticos. 
• F33 - Transtorno depressivo recorrente (tem as mesmas subdivisões descritas para o 
episódio depressivo). 
• F34 - Transtornos persistentes do humor: F34.0 – Ciclotimia e F34.1 - Distimia. A CID-10 
inclui ainda códigos para “outros” transtornos do humor e para “transtornos não 
identificados”. 
 
 
 
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DSM-IV 
A Associação Psiquiátrica Americana, no DSM-IV,9 assim classifica os transtornos do humor: 
Transtornos depressivos: 
• 296.xx - Transtorno depressivo maior, que é subdividido em episódio único, ou recorrente. 
• 300.4 - Transtorno distímico, que pode ser especificado de acordocom o tipo de início 
(precoce ou tardio), e de acordo com a presença ou ausência de características atípicas. 
• 311 - Transtorno depressivo sem outra especificação (SOE). 
 
Transtornos bipolares: 
 
• 296.xx - Transtorno bipolar I. 
O transtorno bipolar I inclui a ocorrência de episódio maníaco único. O DSM IV pede que se 
especifique o tipo do episódio mais recente: hipomaníaco, maníaco, depressivo, misto, ou 
inespecificado. 
• 296.89 - Transtorno bipolar II (hipomania associada a pelo menos um episódio depressivo 
maior). Especificar se o episódio atual (ou mais recente) é hipomaníaco ou depressivo. 
• 301.13 - Transtorno ciclotímico 
• 296.80 - Transtorno bipolar sem outra especificação (SOE) 
• 293.83 - Transtorno do humor devido a condição médica geral 
• ___.__ - Transtorno do humor induzido por substâncias (referir os códigos específicos para 
cada substância). 
296.90 - Transtorno do humor sem outra especificação (SOE). 
 
 
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O DSM IV fornece ainda, em seu apêndice B, conjuntos de critérios para estudos adicionais. 
No que concernem os transtornos do humor, devem ser lembrados: transtorno depressivo 
menor, transtorno depressivo breve recorrente, transtorno misto de ansiedade-depressão e 
transtorno da personalidade depressiva. 
 
Críticas ao conceito de “transtorno depressivo maior” 
 
O conceito de depressão maior, como aparece no DSM-IV, é excessivamente abrangente, e 
por isso mesmo, pouco preciso. Abarca provavelmente uma gama muito heterogênea de 
condições, que vão desde as fronteiras da normalidade (reações de luto ou tristeza normal) 
até aquelas formas mais graves de depressão, para as quais provavelmente concorrem 
fatores mais biológicos (adquiridos e/ou geneticamente determinados). Para o diagnóstico 
de “Transtorno Depressivo Maior”, de acordo com o DSM-IV, basta que a pessoa apresente 
“humor deprimido ou perda de interesse ou prazer, durante um período de duas semanas”, 
mais quatro sintomas de uma lista de nove (ou mais três sintomas, se os dois primeiros 
estiverem presentes). Assim, por exemplo, se uma moça que brigou com o namorado 
apresentar tristeza e perda de energia por 15 dias, além de mais três sintomas, como 
insônia, perda de energia e capacidade diminuída de se concentrar, terá preenchido critérios 
para “Transtorno Depressivo Maior”. Um conceito tão amplo certamente não contribui para 
que se testem hipóteses sobre a etiologia das depressões, resposta a tratamentos 
biológicos, etc. Não serve tampouco para auxiliar na decisão de se medicar ou não a pessoa 
que preencha tais critérios. Já o conceito de melancolia é muito mais preciso e, por essa 
razão, tem maior valor preditivo quanto, por exemplo, à resposta terapêutica a 
antidepressivos e ao eletrochoque. 
 
 
 
 
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Depressão e o espectro dos transtornos bipolares 
Assiste-se hoje, indubitavelmente, à redescoberta da obra de Kraepelin. 
1 Os critérios diagnósticos adotados pela Associação Psiquiátrica Americana (DSM IV) e 
pela Organização Mundial da Saúde (CID 10) refletem, em suas linhas gerais, a nosologia 
kraepeliniana. Também no âmbito das afecções do humor (transtornos afetivos) verifica-se, 
em aspectos fundamentais, o retorno às concepções de Kraepelin. Em 1921, tratando da 
definição da “insanidade maníaco-depressiva”, Kraepelin escreveu: “A insanidade maníaco-
depressiva , como descrita nesse capítulo, inclui, por um lado, o domínio completo da 
chamada insanidade periódica e circular, e por outro lado inclui a mania simples, a maior 
parte dos estados mórbidos designados como melancolia, e também um número não 
desprezível de casos de amência. Finalmente, incluímos aqui certos coloridos leves e sutis 
do humor, alguns dos quais periódicos, outros continuamente mórbidos, os quais , se por 
um lado podem ser encarados como o rudimento de doenças mais severas, por outro lado 
passam, sem limites nítidos, para o campo da predisposição pessoal. No curso dos anos 
eu me tornei mais e mais convencido de que todos os estados acima mencionados 
representam apenas manifestações de um único processo mórbido.” 
Retomando a abordagem clássica de Kraepelin, Akiskal tem, em diversas publicações 
6,10,11 enfatizado a importância do espectro da doença bipolar. Esse espectro incluiria 
desde as formas típicas da doença bipolar (bipolar I, com pelo menos uma fase maníaca), 
passando pelas depressões associadas à hipomania (bipolar II) até as depressões 
recorrentes, sem hipomania espontânea, mas freqüentemente associadas ao temperamento 
hipertímico e/ou à história de transtorno bipolar na família. Estes últimos casos são 
chamados de “bipolar III” ou de “pseudo unipolares”, na terminologia de Akiskal. Admite-se 
hoje, em geral, a existência de numerosas formas de transição entre estados depressivos e 
maníacos, incluindo suas formas mitigadas, que esbarram na fronteira dos chamados 
“temperamentos hipertímicos” e “depressivos”. Por outro lado, muitos pacientes exaltados, 
com quadros psicóticos cíclicos, freqüentemente caracterizados por curso bifásico (alguns 
incluindo características psicóticas incongruentes com o humor) pertencem, na verdade, ao 
espectro bipolar, o que se depreende pela história familiar (bipolar) e resposta ao tratamento 
 
 
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com estabilizadores do humor. De fato, muitos dos pacientes chamados “esquizoafetivos” 
concentram-se em famílias de pessoas com quadros afetivos bipolares típicos. 
O DSM IV tornou “oficial” o conceito de “transtorno bipolar II”, incluindo na classificação 
americana os quadros de hipomania associados a episódios depressivos maiores (um ou 
mais episódios depressivos maiores, acompanhados pelo menos por um episódio 
hipomaníaco). Nas versões anteriores do DSM (DSM III e DSM III R), tais quadros – mais 
freqüentes que os de tipo bipolar I – eram classificados apenas como “transtorno bipolar sem 
outra especificação- SOE”. O temperamento dos pacientes bipolares II e III, quando avaliado 
fora das crises, é freqüentemente ciclotímico, isto é, caracterizado por leves depressões que 
se alternam com hipomanias. Nos bipolares III a mudança para a hipomania não é observada 
espontaneamente. Muitas vezes ocorrem fases hipomaníacas, ou maníacas, em decorrência 
do uso de antidepressivos ou eletroconvulsoterapia. Cumpre notar que muitos desses 
pacientes têm história familiar de transtorno bipolar ou temperamento pré-mórbido 
hipertímico. Considerando-se que muitas vezes é difícil obter história fidedigna quanto a 
antecedentes familiares de bipolaridade, o diagnóstico basear-se-á, muitas vezes, na 
presença de temperamento hipertímico ou ciclotímico, associado a depressões recorrentes, 
para que se inclua o paciente dentro do “soft bipolar spectrum”. Observe-se que, entre os 
ciclotímicos, são relativamente poucos (6%) os que desenvolvem mania. A maioria 
desenvolverá quadros de depressão maior, aproximando-se dos bipolares de tipo II. Entre as 
depressões leves e crônicas, a importância do “espectro” é corroborada pelo fato de que um 
em três pacientes com diagnóstico de “distimia”, observados prospectivamente, desenvolvem 
hipomania, caracteristicamente depois da farmacoterapia com antidepressivos. Os episódios 
depressivos daqueles pertencentes ao “espectro bipolar” tendem a se caracterizar por 
hipersonolência e hiperfagia, embora a insônia possa ocorrer, sobretudo em episódios 
mistos. As flutuações do humor observadas nos bipolares II e III freqüentemente dão origem 
a crises na profissão, na vida familiar e no relacionamento social. Não por acaso, esses 
pacientes, sujeitos a períodos de exaltação do humor e liberação dos impulsos sexuais e 
agressivos, são erroneamente classificados como tendo transtornos da personalidade 
(borderline, narcísico e histriônico).Freqüentemente, o abuso e a dependência do álcool e de 
 
 
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outras drogas ocorrem como “complicação” das doenças do espectro bipolar, pela freqüência 
com que essas substâncias são usadas como autotratamento. 
 
Os limites da depressão 
Limites com os transtornos da personalidade 
A distinção entre um transtorno psiquiátrico propriamente dito (eixo I do DSM-IV) frente aos 
transtornos da personalidade (eixo II) reveste-se da maior importância, por suas 
conseqüências práticas e teóricas. Considerada portadora de uma “doença”, a pessoa passa 
a merecer considerações diagnósticas, tratamento, e cuidados sociais. Rotulada como 
portadora de um “distúrbio da personalidade”, a pessoa passa muitas vezes a ser alvo do 
nihilismo terapêutico e vítima de preconceitos morais. “Na melhor das hipóteses, passa a ser 
vista simplesmente como “uma pessoa bizarra”, acautelando-se os demais frente às suas 
“atuações” e “manipulações”, principalmente se o diagnóstico for de um dos seguintes 
transtornos: borderline, anti-social, narcísico e histriônico. Segundo Akiskal,14 cerca da 
metade a dois terços dos pacientes classificados como “borderline” pertenceriam ao grupo 
das doenças do humor (afetivas), sendo, em sua maioria, integrantes do “espectro bipolar”. 
Muitos desses pacientes caracterizam-se por ter uma biografia assaz tumultuada, cujo traço 
mais estável é a instabilidade nas relações afetivas, no trabalho, e na vida em geral. 
Freqüentemente, essas pessoas passam da “calmaria” afetiva à “tempestade” das 
automutilações e das tentativas de suicídio. O abuso e a dependência de drogas 
freqüentemente se associam ao quadro. 
 
Limites com outros diagnósticos 
O diagnóstico dos estados depressivos deve levar em conta, antes de mais nada, se os 
sintomas depressivos são primários ou secundários a doenças físicas e/ou ao uso de drogas 
e medicamentos. O DSM IV contém o item 293.83 - Transtorno do humor devido a uma 
condição médica geral para descrever esses casos. O DSM IV traz também critérios para o 
 
 
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diagnóstico de Transtorno do humor induzido por substância. A tabela 1 enumera alguns 
agentes farmacológicos e doenças físicas associadas ao desencadeamento de estados 
depressivos. No campo da nosologia psiquiátrica, além dos transtornos da personalidade (já 
abordados) devem-se levar em conta, entre outros, os seguintes diagnósticos diferenciais: 
transtornos de ansiedade; alcoolismo e outras farmacodependências; transtornos 
esquizofrênicos, quadros esquizofreniformes e a chamada doença esquizo-afetiva; quadros 
demenciais. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 17 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia. 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA 
A claustrofobia é um tipo de fobia específica que se caracteriza pelo medo de permanecer 
em lugares fechados – como trens, aviões, túneis e elevadores; sem que se esteja passando 
por perigo ou ameaça reais. Nestas situações, o organismo da pessoa desencadeia uma 
reação de alarme, provocando ansiedade, sudorese, aumento dos batimentos cardíacos, 
medo intenso e até, em certos casos, crises de pânico. Em determinados pacientes, o 
próprio fato de pensar na situação já faz com que eles tenham as crises de ansiedade. 
 
Apesar de ainda não ter sido elucidadas as reais causas das fobias, sabe-se que existe aí 
um componente genético, visto que mais de 70% das pessoas fóbicas possuem parentes 
com este mesmo problema. Exposição a situações semelhantes às que provocam medo, 
repressão sofrida no passado, dentre outros fatores, também podem estar relacionados. As 
manifestações da doença geralmente têm início na infância, e devem ser tratadas, já que 
tendem a se agravar com o passar dos anos; e causam situações de desconforto à pessoa, 
podendo interferir em suas relações sociais. 
 
É indicado que o paciente pratique exercícios, tenha uma alimentação balanceada e 
acompanhamento psicoterápico, a fim de reduzir o estresse e aumentar a autoestima e 
confiança – imprescindíveis para o sucesso do tratamento. Pode ser necessário o uso de 
medicamentos específicos, como ansiolíticos e antidepressivos, de acordo com as 
particularidades da pessoa. Uma técnica amplamente utilizada é a da autoexposição, na qual 
o indivíduo fóbico enfrenta de forma gradual as situações que lhe causam medo, podendo se 
recuperar completamente ao final do tratamento. 
 
 
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UNIDADE 18 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS 
Das neuroses atuais à psicossomática* 
Flávio Carvalho Ferraz 
*Publicado em Ferraz F.C. e Volich R.M., (orgs.) Psicossoma I – Psicanálise e 
Psicossomática, S. Paulo, Casa do Psicólogo, 1997 (2a Edição, 2005), pp 25 - 40. 
Os estudos iniciais de Freud sobre as neuroses ficaram marcados pela distinção que ele 
fazia entre as chamadas neuroses atuais e as psiconeuroses. Ocorre que, aos poucos, o 
conceito de neurose atual foi deixando de aparecer em seus trabalhos, como que sendo 
colocado à parte do campo propriamente psicanalítico. No entanto, é interessante observar-
se, hoje em dia, como muitos dos aspectos por ele descritos como peculiares às neuroses 
atuais podem se articular com aquilo que se compreende atualmente como campo da 
psicossomática. 
A expressão “neurose atual” apareceu na obra de Freud, pela primeira vez, no artigo A 
sexualidade na etiologia das neuroses, de 1898. Neste trabalho, ele afirmava que a principal 
causa atuante na origem de toda neurose repousa sobre a vida sexual do paciente, 
afirmação que viria a constituir-se como pedra fundamental para toda a estruturação da 
psicanálise. Mas Freud alertava para o fato de que o papel desempenhado pela sexualidade 
pode ser bastante diferente de acordo com o caso. Deste modo, aparecia, neste artigo, a 
necessidade de se classificarem os casos de neurose - a partir do diagnóstico feito com base 
em um cuidadoso exame da sintomatologia - em dois grandes grupos: o da neurastenia e o 
da psiconeurose (histeria e obsessões), existindo ainda a ocorrência, muito frequente, de 
casos em que os sintomas de ambos os grupos aparecem combinados. 
 
 
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Nos casos de neurastenia, era possível, segundo Freud, chegar-se, a partir da anamnese, à 
descoberta do fator etiológico, presente na vida sexual do paciente, que teria dado origem à 
doença. Isto porque este fato deveria fazer parte de sua vida atual ou do período posterior à 
maturidade sexual. Já nas psiconeuroses, constatou Freud, uma anamnese deste tipo não 
traria resultados. Embora o fator etiológico certamente se encontrasse vinculado à vida 
sexual, o paciente não seria capaz de conhecer tal vinculação: 
“Por um curioso trajeto circular (...) é possível chegar a um conhecimento dessa etiologia e 
compreender porque o paciente foi incapaz de falar-nos qualquer coisa a respeito. Pois os 
eventos e influências que estão na raiz de toda psiconeurose pertencem não ao momento 
presente, mas a uma época de vida há muito passada, que é como se fosse uma época pré 
histórica - à época da infância inicial; e eis porque o paciente nada sabe deles. Ele os 
esqueceu - embora apenas em um certo sentido.” (Freud, 1898, p.293-4). 
Esta passagem deixa nítido o fato de que Freud já condensava aí toda uma teoria das 
psiconeuroses que ainda estava por ser desenvolvida em detalhes, mas cujos pilares - a 
sexualidade infantil e o recalque - estavam construídos. 
Igualmente importante era a observação da distinção entrea psiconeurose e a neurastenia 
(aqui no caso, protótipo de toda neurose atual). Nesta última, a etiologia seria 
contemporânea, e não infantil; ou seja, haveria uma outra relação de temporalidade entre 
causa e sintoma. O termo atual, conforme observaram Laplanche & Pontalis (1967), “deve 
pois ser tomado em primeiro lugar no sentido de uma ‘atualidade’ no tempo” (p.382). Ainda 
na distinção com relação à psiconeurose, lembram estes autores que o termo atual “vem a 
exprimir aqui a ausência daquela mediação que encontramos na formaçãodos sintomas da 
psiconeurose (deslocamento, condensação, etc.)” (p.382). Freud já alertara - antecipando a 
importância que isso viria a ter no futuro para as expansões da teoria e da clínica 
psicanalíticas - para o fato de que havia duas formas bastante diferentes de se processar a 
excitação psíquica: transformando-a diretamente em angústia - donde resultariam sintomas 
predominantemente somáticos ou não simbólicos - ou então procedendo-se à mediatização 
simbólica, donde resultariam sintomas eminentemente psíquicos. 
 
 
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Deste modo, o que delimitaria o domínio das chamadas neuroses atuais não seria apenas 
esta peculiar relação de temporalidade. Seriam também as características somáticas da 
sintomatologia. É assim que, na neurastenia, podiam ser encontrados sintomas tais como: 
“pressão intracraniana, inclinação à fadiga, dispepsia, constipação, irritação espinhal, etc”. 
Em um outro sub-grupo das neuroses atuais, o das chamadas neuroses de angústia, este 
tipo de sintomatologia teria menos importância; os traços sintomatológicos proeminentes 
estariam todos gravitando em torno do “sintoma nuclear” da angústia, e seriam: “sobressalto, 
inquietude, ansiedade expectante, ataques de angústia completos, rudimentares ou 
suplementares, vertigem locomotora, agorafobia, insônia, maior sensibilidade à dor, etc.” 
A distinção entre estas duas modalidades da neurose atual - a neurastenia e a neurose de 
angústia – já fora feita por Freud antes mesmo do aparecimento do próprio termo neurose 
atual. Já no ano de 1894, quando em seus trabalhos anteriores constava somente a figura da 
neurastenia, Freud publicou o artigo 
Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada ‘neurose 
de angústia’, no qual descrevia esta nova possibilidade diagnóstica, caracterizando seus 
sintomas como “manifestações imediatas da angústia ou como rudimentos equivalentes dela” 
(Freud, 1897, p.277). 
Assim, a neurose de angústia seria resultado de uma transformação direta do fator 
quantitativo do representante pulsional em angústia. Verifica-se neste quadro, conforme 
observação de Laplanche & Pontalis (1967), “a ausência ou insuficiência de ‘elaboração 
psíquica’ da excitação sexual somática, pelo que esta não pode transformar-se em ‘libido 
psíquica’, a não ser entrando em conexão com grupos pré-estabelecidos de representações 
sexuais. Quando a excitação não é assim dominada, é diretamente derivada no plano 
somático sob a forma de angústia.”(p.385). 
É por isso que, nesta neurose, predomina um tipo de angústia sem objeto nítido, tendo os 
fatores atuais um papel relevante na sua etiologia, tal como se dá nos casos hoje em dia 
classificados como síndrome do pânico. Para Dejours (1988), a somatização é um processo 
que está na continuidade da neurose de angústia: “para os especialistas em psicossomática 
 
 
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também é hábito dar muita atenção à descompensação que representa a neurose de 
angústia, pelo que ameaça prefigurar para o futuro na ordem das somatizações” (p.126). 
De acordo com Freud, a diferença entre neurastenia e neurose de angústia não residia 
apenas na sintomatologia, mas seria resultante de uma etiologia diversa: “a neurastenia pode 
ser sempre reportada a um estado do sistema nervoso, tal como adquirido por masturbação 
excessiva ou tal como procedente espontaneamente de emissões frequentes; a neurose de 
angústia revela influências sexuais que têm em comum o fator da continência ou da 
satisfação incompleta - tal como o coito interrompido, a abstinência juntamente a uma libido 
viva, a chamada excitação não consumada e outros.” (Freud, 1898, p.294). 
No artigo Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (Freud, 1908), esta distinção 
voltou a aparecer. Fazendo, de modo bastante veemente, uma crítica ao papel repressor da 
civilização sobre a vida sexual, e responsabilizando-a pela causação das neuroses e da 
infelicidade em geral do homem, Freud reiterou a incidência do sintoma sobre o plano 
somático nas neuroses atuais e comparou-o aos sintomas de natureza tóxica que resultariam 
do excesso ou da escassez de certos “tóxicos nervosos”. 
Em contraposição, os sintomas da psiconeurose seriam psicogênicos e estariam na 
dependência da “atuação de complexos ideativos inconscientes” (p.191), isto é, recalcados. 
Podemos verificar, assim, que a concepção diferencial da neurose atual e da psiconeurose 
estava mantida. Aliás, este ponto de vista nunca foi abandonado por Freud. Em outras 
oportunidades ele apontou que, nas neuroses atuais, “o mecanismo de formação de 
sintomas devia ser procurado no domínio da química (intoxicação por produtos do 
metabolismo das substâncias sexuais)”, como mostram Laplanche & Pontalis (1967, p.383). 
Mais tarde, no artigo sobre o narcisismo, Freud (1914) dá mostras de que não havia 
sepultado o conceito de neurose atual, que já então passara a ser pouco mencionado, visto 
que seu interesse dirigia-se à investigação das psiconeuroses ou, já nesta época, neuroses 
de transferência. Neste artigo, ele introduziu uma terceira modalidade da neurose atual, a 
saber, a hipocondria. A partir de uma correspondência termo a termo entre as duas primeiras 
modalidades das neuroses atuais (neurastenia e neurose de angústia) com as neuroses de 
 
 
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transferência, a hipocondria veio a se corresponder com a parafrenia (ou psiconeurose 
narcísica, designação inicial para a psicose). Assim, a hipocondria seria uma “neurose atual 
da parafrenia”; ou, dito de outra forma, a hipocondria estaria para a parafrenia assim como a 
neurastenia e a neurose de angústia estavam para a psiconeurose. 
Pois bem. Ainda que mantida por Freud a distinção entre as psiconeuroses e as neuroses 
atuais, o que se verificou no desenvolvimento ulterior da psicanálise foi um progressivo 
abandono desta nosografia, devido à ênfase que se deu sobre o papel do recalque e da 
sexualidade infantil na constituição do campo propriamente psicanalítico. A idéia de neurose 
atual, sobre a qual Freud dispendeu tantos esforços, foi, silenciosamente, perdendo sua 
importância e caindo, pouco a pouco, no abandono. 
Ocorre, porém, que alguns dos insights freudianos a respeito das peculiaridades das 
neuroses atuais podem, hoje em dia, ser considerados de alta importância teórica. Entre 
elas, destaca-se a afirmação da sintomatologia somática - em oposição à sintomatologia 
psíquica das psiconeuroses - e a especificidade da relação de temporalidade entre sintoma e 
causa precipitante. Laplanche & Pontalis (1967), tratando da perda de força do conceito de 
neurose atual dentro do sistema psicanalítico de Freud, apontam para o fato de que esta 
antiga noção “leva diretamente às concepções modernas sobre as afecções 
psicossomáticas” (p.384). Estes autores criticam ainda aquilo que pode ter sido uma espécie 
de ponto de opacidade na visão de Freud sobre as neuroses atuais: ele teria insistido 
sobremaneira no fator etiológico da não-satisfação das pulsões sexuais. De fato, esta foi uma 
tecla na qual Freud bateu insistentemente em todos os trabalhos mencionados acima. Isto 
limitou o alcance de seu conceito, contrastando com uma intuição extremamente aguçada 
que o fez, poroutro lado, enfatizar a sintomatologia somática correlata a uma outra relação 
de temporalidade, não mediatizada pelo mecanismo do recalcamento. O que Freud entreviu 
foi o fato de que o sintoma psicossomático não se constituía como um retorno do recalcado - 
da sexualidade infantil recalcada - nos moldes da psiconeurose. Aí encontramos um ponto de 
partida na teoria freudiana para todo o campo de estudos da psicossomática que veio a se 
consolidar posteriormente na França, a partir dos anos 70, dentro da Escola Psicossomática 
 
 
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de Paris, que teve na figura de P. Marty seu grande expoente, ao lado M. de M’Uzan e M. 
Fain, entre outros. 
Mas, voltando à crítica de Laplanche & Pontalis (1967), faltou, para Freud, “tomar em conta, 
na gênese dos sintomas neuróticos atuais e psicossomáticos, a repressão da agressividade.” 
(p.384). A psicossomática contemporânea, no entanto, tem procurado preencher esta lacuna 
teórica, ao apontar para o papel da “violência instintiva” (Dejours, 1988) dirigida ao soma nos 
quadros de descompensação, de modo que, ao produzir um sintoma somático, o sujeito 
pode manter-se particularmente “normal” do ponto de vista psíquico. É deste modo que, ao 
traçar um quadro nosográfico para a neurose, incorporando as variações históricas que 
foram se processando, Laplanche e Pontalis (1967) chegaram mesmo a propor que as 
neuroses atuais fossem classificadas contemporaneamente com afecções psicossomáticas. 
Em um breve levantamento, pode-se dizer que Freud enfatizou, no caso das neuroses 
atuais, aspectos tais como: a sintomatologia somática; o caráter atual do fator etiológico; a 
não-satisfação da libido como causa precipitante do sintoma; e a transformação direta da 
causa em sintoma, sem a mediatização simbólica do recalque. 
Todos este fatores, pode-se dizer, merecem ser levados em consideração à luz de uma 
teoria psicossomática contemporânea, desde que cuidadosamente submetidos a uma nova 
leitura e rearranjados os rumos que assumiram dentro do sistema psicanalítico 
exclusivamente freudiano. 
Vejamos um a um os fatores levantados. 
1. A sintomatologia somática, indubitavelmente, mantém-se como ponto de destaque na 
estrutura psíquica que diverge essencialmente da formação neurótica. A impossibilidade da 
elaboração psíquica deixaria livre o acesso da excitação não representável para o plano 
somático. Freud já apontara, para o caso das neuroses atuais, um mecanismo em ação 
divergente do recalque, isto é, da existência de uma 
área de formação do sintoma não abrangida pela simbolização. A elaboração psíquica – 
processo através do qual a simbolização se exerce - seria, segundo Laplanche & Pontalis 
 
 
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(1967), “o trabalho realizado pelo aparelho psíquico com o fim de dominar as excitações que 
chegam até ele e cuja acumulação ameaça ser patogênica. Este trabalho consiste em 
integrar as excitações no psiquismo e em estabelecer entre elas conexões associativas” 
(p.196). 
Ora, isto é exatamente o que acontece de forma deficiente nos processos que conduzem à 
somatização. Vejamos como dois psicanalistas atentos à questão da psicossomática - Pierre 
Marty e Joyce McDougall - procuraram dar conta desta impossibilidade de elaboração 
psíquica. 
Marty (1991) utilizou o conceito de mentalização como sendo uma espécie de medida das 
dimensões do aparelho psíquico, que concernem “à quantidade e à qualidade das 
representações psíquicas dos indivíduos” (p.11). Pode-se dizer, grosso modo, que, para ele, 
uma boa mentalização protege o corpo das descargas de excitação, à medida que esta 
encontra abrigo nas representações existentes no préconsciente. Um grau pobre de 
mentalização, ao contrário, deixa o corpo biológico desprotegido, entregue a uma linguagem 
primitiva basicamente somática. As representações psíquicas, bases da vida mental, são 
responsáveis pela existência das fantasias e dos sonhos, longas vias associativas que 
permitem o escoamento das excitações, dando-lhes um substrato propriamente psíquico. 
Nos processos de somatização pode-se falar, então, em insuficiência ou indisponibilidade 
das representações pré-conscientes. 
McDougall (1991) utiliza o conceito de desafetação para falar de algo semelhante. Os 
pacientes mais propensos a somatizar seriam aqueles “incapazes de recalcar as idéias 
ligadas à dor emocional e igualmente incapazes de projetar esses sentimentos, de maneira 
delirante, sobre as representações das outras pessoas” (p.105). Delineia-se, assim, uma 
estrutura psíquica diferente da neurose, por um lado, e da psicose, por outro. Para 
McDougall, tais pacientes “ejetam brutalmente” do campo consciente as representações 
carregadas de afeto; não podem conter o excesso da experiência afetiva e nem refletir sobre 
ela. As palavras deixam de ter a função de ligação pulsional, e tornam-se “estruturas 
congeladas, esvaziadas de substância e de significação” e o discurso mantém-se inteligível, 
 
 
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porém totalmente destituído de afetos. A palavra, neste caso não oferece mais proteção 
contra a excitação. 
Trata-se, aqui, de algo que vai na mesma linha do que Marty & M’Uzan (1994) designaram 
como pensamento operatório, para eles um pensamento consciente que “manifesta-se sem 
vínculo orgânico com uma atividade fantasmática de nível apreciável e reproduz e ilustra a 
ação, por vezes a precede ou sucede, mas dentro de um campo temporal limitado” (p.165-6). 
O caráter atual do fator etiológico é um ponto bastante complexo, que introduz algumas 
dificuldades na articulação entre as neuroses atuais e as afecções psicossomáticas. 
Lembremos que, para Freud, a etiologia da neurose atual reside na vida sexual presente, em 
oposição à sexualidade infantil da McDougall (1991), fazendo uma consideração sobre a 
etiologia da desafetação, afirma ter encontrado na anamnese destes pacientes referências a 
um “discurso familiar que preconizava um ideal de inafetividade e condenava qualquer 
experiência imaginativa” (p.116). 
Talvez seja necessário, aqui, para que tenhamos uma maior clareza sobre este intrincado 
paralelo, uma separação entre temporalidade e sexualidade. De fato, no caso da 
psiconeurose, trata-se do sexual infantil, ou, de outra forma, do sexual e infantil, atualizados 
no sintoma por uma especial relação que Laplanche (1992) explorou em seus estudos sobre 
a re-significação a posteriori do trauma, recapitulando um pressuposto básico da teoria das 
neuroses de Freud já claramente exposta no artigo “Novos comentários sobre as 
neuropsicoses de defesa” (Freud, 1896). 
Para Laplanche (1992), a teoria do a posteriori ou do trauma em dois tempos postula que 
“nada se inscreve no inconsciente humano, a não ser na relação de ao menos dois 
acontecimentos, separados, no tempo, por um momento de mutação que permite ao sujeito 
reagir de outra forma do que na primeira experiência, ou, melhor, reagir à lembrança da 
primeira experiência de outra forma do que ragiu à própria experiência” (p.119-20). 
Mas como poderíamos pensar na relação de temporalidade tendo o fenômeno 
psicossomático em questão? Freud simplesmente descartou o infantil, ao postular uma 
etiologia sexual contemporânea. Já vimos como Laplanche & Pontalis (1967) criticaram a 
 
 
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insistência de Freud sobre a não-satisfação das pulsões sexuais na etiologia das neuroses 
atuais. Aqui, acredito, devemos recorrer a uma distinção, possível apenas na psicanálise 
pós-freudiana, sobre a gênese sexual da neurose em contraposição à gênese não sexual de 
outras patologias mais regressivas, quando se colocam em relevo experiências primordiais 
relativas à sobrevivência, tal como Winnicott (1954) demonstrou existirem na origem das 
perturbaçõesnão neuróticas graves, como é o caso dos pacientes limítrofes, dos psicóticos e 
dos somatizadores. 
Deste modo, a pesquisa em psicossomática acabou por dirigir-se para o campo das relações 
mãe-bebê, aí encontrando o solo de perturbações que teriam decorrências sobre a 
estruturação das defesas específicas que colocariam o somatizador em um terreno bastante 
diferente daquele do neurótico. 
Trata-se de um vastíssimo campo de investigação, que não caberia detalhar neste espaço. 
Apenas como demonstração, poderíamos nos remeter a McDougall (1991) e sua idéia de 
que, no caso do somatizador, a experiência clínica conduz à hipótese de uma falha da mãe 
como função de páraexcitação do bebê, o que constitui um traumatismo vivenciado na 
primeira infância, antes mesmo da aquisição da palavra. O bebê, assolado por sua angústia, 
não encontra encorajamento para, pouco a pouco, poder vivenciá-la psquicamente, e com 
isto caminhar no sentido de uma elaboração progressiva. 
Neste caso sobrevém, de partida, uma insuficiência constitutiva das representações mentais. 
Provavelmente, o contato da mãe com este bebê encontra-se marcado por uma desarmonia 
afetiva – no sentido da carência ou do excesso - muitas vezes verificadas em casos onde a 
própria mãe sofra de um doença somática ou se encontre deprimida ou excitada, indiferente 
ou excessivamente diretiva; enfim, quando se encontra, por algum motivo, impossibilidade de 
exercer seu papel materno satisfatoriamente. 
Em casos mais favoráveis, a mãe desempenharia o papel de pára-excitação nestes tempos 
primordiais, dando ensejo à fantasia de “um corpo para dois”, sendo esta função, aos 
poucos, assumida pela palavra; no caso, palavra afetada. 
 
 
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A modalidade das experiências precoces, de acordo com o que se disse acima, coloca a 
somatização grave em uma vasta área nosológica que abriga diferentes diagnósticos 
psíquicos tais como a psicose, as adicções mais diversas e as neuroses de comportamento, 
todos situados em um campo diverso da psiconeurose. 
Sob um outro ângulo, pode-se verificar uma relação interessante entre sintoma e 
temporalidade em psicossomática: trata-se do papel preponderante dos fatos atuais sobre o 
desencadeamento das crises. Como lembra Santos Filho (1994), 
“desde Franz Alexander aos modernos autores norte-americanos e franceses está presente 
na manifestação psicossomática um acontecimento, uma cena da realidade, um fato, uma 
mudança nas relações com as pessoas e/ou com o ambiente, mais que uma representação 
ou cena imaginária, ou fantasia, como fator gerador ou desencadeante. Há uma outra via, 
que parte da “realidade” para o corpo. Esta a via biológica, na qual o próprio funcionamento 
humoral e nervoso autônomo impõe-se ao sujeito, sem expectativa ou pedido de 
decodificação” (p.115). 
Portanto, é possível pensar que Freud deu-se conta da importância do fator atual nas 
neuroses atuais, mas circunscreveu-o à insatisfação da libido na vida pós-puberal. Já a 
pesquisa contemporânea pôs em relevo o infantil, ainda que não o sexual. A não-satisfação 
da libido como causa precipitante da neurose atual, como Freud apontava, já foi objeto de 
discussão acima. Vista de modo estrito, esta forma de causalidade parece frágil, como já 
observaram Laplanche & Pontalis (1967), ao apontarem a omissão, por parte de Freud, do 
papel da repressão da agressividade. De acordo com Marty (1991), a repressão da 
agressividade, face a situações em que esta encontra uma fonte que a excite - apoia-se em 
interdições sociais ou parentais interiorizadas, mas não elaboradas. 
Neste caso, o sujeito pode suprimir a descarga motora substituindo-a por comportamentos 
que fazem parte de seu acervo de hábitos: de modo geral, seriam atividades físicas ou então 
sublimadas. Dejours (1988), por seu turno, chamou a atenção para a “violência da pulsão”, 
que seria um dado a ela inerente, tendendo a ser descarregada a partir do inconsciente 
primário ou não representado. 
 
 
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Podemos afirmar, contudo, que Freud percebia um evento contemporâneo que marcava o 
desencadeamento da neurose atual, colocando a não-satisfação da libido neste lugar 
etiológico. Hoje em dia, no entanto, é possível ampliar esta noção - que em Freud se 
restringia a uma única espécie de neurose. 
Aqui se coloca a complexa questão da distinção etiológica entre a psicose e a 
psicossomatose. Se ambas repousam sobre uma perturbação precoce na relação entre a 
mãe e seu bebê, o que determinaria o rumo a ser tomado pela estruturação psíquica? Qual 
seria o mecanismo específico de cada saída possível, e como ele seria determinado? 
McDougall (1991) afirma que, tanto na psicose como na psicossomatose, a relação primitiva 
entre mãe e criança revela-nos a “violência da interpretação” (conceito de Piera Aulagnier). E 
supõe que a “escolha” entre psicose e psicossomatose seja devida à constelação familiar e 
ao papel representado pelo pai na organização psíquica. Bollas (1992), por sua vez, propõe 
uma teoria genética mais consistente para tal diferenciação (para ele, entre a psicose e 
doença normótica), lançando mão dos conceitos de identificação projetiva e de introjeção 
extrativa. Se o pai e a mãe identificam projetivamente na criança elementos cindidos e 
indesejados de seu próprio self, então sobrecarregam-na com um mundo interno complexo e 
caótico, como se dá no caso da personalidade limítrofe. Se, de modo diferente, os pais 
extraem (roubam) o conteúdo e a estrutura mental de uma criança, despojando-a dos 
elementos necessários para o processamento do conflito mental, então ela pode tornar-se 
empobrecida, como ocorre com o indivíduo normótico, propenso à somatização. 
Evento - e pensar na especial suscetibilidade ao acontecimento (fato) verificada no 
somatizador, como já foi dito acima. 
Por fim, a ausência da metabolização simbólica da excitação proveniente da pulsão - que 
Freud entreviu na neurose atual em contraste com as intrincadas formações produzidas pelo 
recalque no neurótico - pode ser considerada como figura de proa da psicossomática. 
O mecanismo de repressão a que se faz alusão na psicossomática diz respeito à barreira 
que se instala entre o sistema pré-consciente e o consciente. Trata-se, aqui, de uma 
repressão psíquica no sentido da evitação de uma representação adquirida, que pode se 
 
 
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alastrar de modo a atingir mais e mais representações ligadas afetivamente às precedentes. 
Marty (1991) frisa que não está em questão, na gênese do sintoma somático, o mecanismo 
do recalque, pois tal espécie de sintoma não tem a característica de retorno do racalcado: no 
caso da repressão, a representação pode aparecer intacta em alguns momentos - sem a 
deformação sofrida pelo recalcado quando este retorna – para desaparecer novamente em 
seguida. O recalcamento, se por um lado torna inconsciente o conflito, por outro produz 
formações - o sonho, por excelência - que “permitem colocar progressivamente em dia a 
história infantil do sujeito, deixando aparecer os complexos que dele resultaram (castração e 
Édipo, por exemplo)” (p.37). 
De fato, o mecanismo de defesa que originalmente deve ter sido estabelecido no caso da 
propensão à somatização em tudo diverge do recalcamento. Como já se viu, não é possível 
de se encontrar uma via de escoamento da excitação através da palavra, visto que o 
discurso se apresenta desafetado ou operatório. A descarga só pode se dar mediante o ato. 
Esta idéia, aliás, parece já presente em Freud (1913), que, embora tratando de uma situação 
diferente da que tratamos aqui, finalizou seu livro Totem e tabu fazendo uma comparação 
entre os povos primitivos e os neuróticos, para concluir que, nos neuróticos, “o pensamento 
constitui um substituto completo doato”. E dá um fecho solene a seu trabalho proclamando 
que “no princípio foi o ato” (p.191). 
O ato do somatizador recai sobre o soma. Ao contrário da conversão histérica, quando o 
corpo afetado é o corpo erógeno - portanto, corpo simbólico - na somatização o corpo é 
mesmo o corpo biológico; daí a existência de uma lesão orgânica, muitas vezes 
extremamente grave. Freud já dizia que o aparelho psíquico tem por função receber e 
processar os estímulos externos e as manifestações pulsionais, fazendo, para tanto, uso de 
suas vias associativas. Quando isto não é completamente possível, outras defesas, que não 
o recalcamento, entram em cena, passando ao largo da mediatização pelo símbolo. 
Como um assinalamento final, cabe fazer uma observação a respeito das relações entre a 
psicanálise e a psicossomática. Ao chamar a atenção para o papel de mecanismos diversos 
do recalque na determinação de um sintoma psicossomático, funda-se um novo campo de 
estudo e de trabalho psicoterapêutico que se assenta, contudo, sobre as bases 
 
 
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metapsicológicas psicanalíticas. A noção de mentalização não pertence, obviamente, à 
metapsicologia freudiana, tendo surgido apenas no início da década de 70. No entanto, este 
conceito não poderia ter existido jamais se não fosse a partir do modelo de funcionamento 
mental proposto por Freud, particularmente na chamada primeira tópica. Além disso, como 
procurei demonstrar neste artigo, a articulação entre as neuroses atuais e as afecções 
psicossomáticas salta aos olhos: a oposição percebida por Freud entre os sintomas somático 
e psíquico corresponde, em grande parte, ao que diferenciamos hoje como sintoma neurótico 
e sintoma psicossomático. 
Deste modo, pode-se compreender o campo da psicossomática como uma extensão da 
pesquisa psicanalítica, assim como o foram os estudos sobre a psicose feitos pelos ingleses. 
Se Freud considerava o tratamento da psicose como tarefa que não se incluía no horizonte 
psicanalítico, com o desenvolvimento ulterior da psicanálise esta limitação deixou de fazer 
sentido. Do mesmo modo, Winnicott procurou demonstrar como a psicanálise poderia ser 
enriquecida pela experiência do trabalho com delinquentes. Maud Mannoni tem trabalhado 
com crianças portadoras de retardo mental a partir da utilização de um referencial 
psicanalítico. Ferenczi, contemporaneamente a Freud, já ousava experimentar tratamentos 
de pacientes “difíceis”, isto é, psicóticos, somatizadores e criminosos. Outros exemplos 
poderiam ser dados aqui, mas não é o caso. O que importa é marcar que conceitos não 
freudianos - como, por exemplo, os de posição depressiva, identificação projetiva, objeto 
transicional, entre muitos outros criados por diversos autores - têm passado a fazer parte do 
campo psicanalítico desde, praticamente, o nascimento da psicanálise. Igualmente, a noção 
de mentalização já entrou para este elenco. 
Se o leitor estranha estas colocações tão óbvias, cabe justificá-las dizendo que se percebem, 
algumas vezes, resistências no seio da psicanálise contra certas idéias nascidas na pesquisa 
em psicossomática. O mesmo é válido para alguns “psicossomaticistas” que enxergam nas 
descobertas e postulações de seu campo uma incompatibilidade com a psicanálise. A meu 
ver, trata-se, em ambos os casos, apenas de exacerbações idiossincráticas, pois, quando se 
examinam as construções teóricas da psicossomática psicanalítica, ficam evidentes os fatos 
 
 
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de que aí se encontra uma importante ampliação para nosso horizonte, bem como de que o 
solo metapsicológico onde repousam seus alicerces é eminentemente freudiano. 
 
 
 
 
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UNIDADE 19 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT 
LUIZ ROBERTO MILLAN 
Glasberg et al. apresentam, nesta revista, o artigo “Prevalence of the burnout syndrome 
among Brazilian medical oncologists”. Trata-se da publicação do resultado de uma pesquisa 
realizada com oncologistas, com o intuito de detectar a prevalência do burnout por meio do 
Maslach Burnout Inventory e as variáveis que se relacionam com a sua presença, 
investigadas por meio de um questionário. Utilizando o rigoroso critério de interpretação dos 
resultados (Ramirez), concluíram que 7,8% desses médicos apresentam a síndrome e que 
aqueles que possuem um hobby, que realizam atividades físicas, que têm mais idade e que 
seguem alguma religião possuem menos risco de desenvolver a síndrome. Utilizando um 
critério mais flexível (Grunfeld), a prevalência subiu para 68,6%, sendo que indivíduos 
casados, com pouco tempo de férias, sem hobby e sem atividade física correm maior risco 
de desenvolver a síndrome. Trata-se de um artigo bem escrito e bem elaborado, importante 
por chamar a atenção para as condições de trabalho dos oncologistas, submetidos a grandes 
pressões no seu dia-a-dia. É questionável, porém, a utilização de critérios de análise que 
levam a uma discrepância tão grande dos resultados (mais de 60%). Talvez fosse melhor 
utilizar apenas o critério de Ramirez, que considera que a síndrome só deve ser reconhecida 
se houver comprometimento nas três dimensões avaliadas para o diagnóstico: exaustão 
emocional, despersonalização e comprometimento da realização pessoal. Criado na década 
de 70 por Maslach, o conceito de Burnout, apesar de algumas críticas iniciais, foi 
rapidamente aceito e tem sido tema de inúmeros artigos científicos, livros e de 
apresentações em congressos de psicologia, psiquiatria e educação médica. Tornou-se, 
assim, um conceito praticamente inquestionável. Porém, ao examinarmos atentamente suas 
 
 
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três dimensões básicas, observa-se que todos os sintomas descritos, sem exceção, estão 
presentes na depressão. Por exemplo, na dimensão exaustão emocional o indivíduo sente-
se esgotado e com a sensação de que não será possível recuperar sua energia, torna-se 
irritável e amargo, pouco generoso, sente-se menos capacitado a cuidar dos outros e torna-
se pessimista; na despersonalização há um distanciamento emocional e uma indiferença 
diante do sofrimento alheio, com uma perda da capacidade de empatia, o que faz com que o 
paciente seja tratado como um objeto (há, aqui, uma distorção do clássico conceito de 
despersonalização utilizado há décadas pela psiquiatria); na dimensão comprometimento da 
realização pessoal o indivíduo sente-se impotente, frustrado, infeliz e com baixa auto-estima. 
A psicopatologia nos ensina que o diagnóstico psiquiátrico não é feito pela descrição de uma 
lista de sintomas, algo que está tão em voga nos dias de hoje, nas inúmeras escalas 
diagnósticas, mas sim pela observação fenomenológica criteriosa que propicia a detecção de 
elementos que, juntos, nos permitem reconhecer uma determinada patologia. Para isso, é 
necessária grande experiência clínica, algo que também não tem sido valorizado como 
deveria. O fato de o trabalho ser o fator desencadeante não justifica a criação de um novo 
conceito. Caso contrário, a cada fator desencadeante descoberto, um novo diagnóstico seria 
criado, o que tornaria a classificação psiquiátrica um verdadeiro caos. A meu ver, Maslach 
era uma ótima observadora, pois percebeu com clareza o que se passava com muitos 
profissionais que se dedicavam ao cuidado de outras pessoas. O estudo desses problemas 
tem sido fundamental para a melhora da qualidade desses profissionais, o que, sem dúvida, 
trará benefícios a seus pacientes. Porém, cometeu um equívoco ao dar um novo nome a 
algo que Hipócrates já conhecia há mais de 2300 anos. É preciso desfazer com urgência 
essa confusão, sob o riscode criarmos uma nova Babel. 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 20 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia. 
Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR 
 
Martin Alda13 
O transtorno bipolar (TBP) é uma condição psiquiátrica relativamente freqüente, com 
prevalência na população entre 1% e 2%. É caracterizado por episódios de alteração do 
humor de difícil controle – depressão ou mania (bipolar I) ou depressão e hipomania (bipolar 
II). Os sintomas podem aparecer em qualquer idade, sendo mais comum o surgimento entre 
o início da segunda e meio da terceira década de vida. A etiologia da doença ainda não é 
conhecida, mas muitos estudos apontam para a existência de disfunções complexas, 
incluindo alterações nos receptores e nos pós-receptores de neurotransmissores. 
Inato ou adquirido? 
Alguns dos primeiros dados sobre a agregação familiar do transtorno bipolar provêm de 
estudos conduzidos no final dos anos 50. Esses estudos determinaram a prevalência do TBP 
e de outras doenças psiquiátricas entre parentes de probandos com TBP e, em alguns 
casos, entre parentes de indivíduoscontrole saudáveis. Como pode ser visto na tabela 1, há 
uma grande variabilidade de riscos, de acordo com os critérios diagnósticos utilizados. 
Entretanto, quando analisados conjuntamente, esses estudos encontraram um risco 8 a 15 
vezes maior em relação à prevalência na população em geral. Os estudos de família, 
isoladamente, não provam a natureza genética (ao invés da familiar) da doença. Já os 
estudos de adoção e de gêmeos têm maior poder de distinção entre os componentes 
 
 
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genéticos e ambientais. No caso do TBP, esses estudos fornecem evidências de uma 
natureza genética para a doença (Gershon et al18 or Alda19 para revisões). 
O que é herdado? 
Além de sugerirem a presença de um componente genético para o TBP, os estudos de 
famílias também indicam a possibilidade de outras condições psiquiátricas fazerem parte de 
um mesmo espectro fenotípico. Em outras palavras, essas condições podem ser todas 
manifestações diversas de uma mesma predisposição genética. A depressão unipolar é 
encontrada mais freqüentemente entre parentes de probandos com TBP do que em parentes 
de controles psiquiatricamente saudáveis. Outra condição que possivelmente faz parte do 
espectro bipolar é o transtorno esquizoafetivo, do tipo maníaco. Já em relação a outras 
entidades, como ciclotimia, transtornos de personalidade, de alimentação ou alcoolismo, os 
dados são mais ambíguos. 
Todas essas condições já foram, em vários estudos, implicadas como parte do espectro 
bipolar, mas as evidências são ainda tênues. 
 
 Fórum II 
“A humanidade, ao longo dos séculos, vem mudando as formas de pensar a saúde/doença, 
mente e corpo”. 
Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o 
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos? 
 
 
 
 
 
13 Departamento de Psiquiatria da Universidade de Dalhousie - Halifax, Nova Scotia, Canadá 
 
 
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Atividade 2 
“A humanidade, ao longo dos séculos, vem mudando as formas de pensar a saúde/doença, 
mente e corpo”. 
Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o 
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos? 
 
 
 
Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua 
SALA DE AULA e faça a Atividade 2 no “link” ATIVIDADES. 
 
 
 
 
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UNIDADE 21 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN 
Ana Paula T de Menezes, Érica de M Holanda, Virgínia Angélica L Silveira, Kelma Cristina da 
S de Oliveira e Francisco George M Oliveira. 
 
Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
Descrita pela primeira vez pelo médico inglês Richard Asher em 1951, a síndrome de 
Munchausen (SM) é um transtorno factício em que o paciente se mostra aguda e 
dramaticamente doente, com a habilidade de mimetizar sinais e sintomas de forma a 
necessitar de internações prolongadas, procedimentos de diagnósticos invasivos, longo 
tempo de terapia com as mais variadas classes de drogas e cirurgias.1 Segundo a 
Associação Psiquiátrica Americana, o critério para o diagnóstico de desordem factícia é 
produção intencional de sinais e sintomas físicos ou psicológicos, sem que o paciente 
obtenha algo em troca, como ganho financeiro ou liberação de responsabilidade legal, 
melhora do bem-estar físico ou uso de determinadas medicações. Na simulação, observa-se 
que o paciente tem objetivo de receber, com sua sintomatologia, ganho financeiro, 
previdenciário, judicial, pessoal e outros. 
 
Apresentação do caso 
Identificação 
 
Paciente do sexo feminino com 26 anos, solteira, parda e católica que trabalha como agente 
de saúde. 
 
 
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História da doença atual 
Cinco dias anteriores à admissão, a paciente passou a apresentar artralgia em cotovelos, 
punhos, interfalangeanas, joelhos e tornozelos e, um dia antes, notou aparecimento de artrite 
nessas articulações. Além disso, apresentou febre alta (40ºC). Não relatou uso de 
medicações para tratar as artralgias. 
 
Antecedentes 
Referiu ter tido, quando criança, febre reumática e não ter feito qualquer tipo de tratamento. 
Disse ser hipertensa e sentir uma dor precordial com queimação esporádica relacionada a 
esforço físico, com duração de cerca de dez minutos e sem irradiação e sintomas 
associados. Estava usando hidroclorotiazida e propranolol e era acompanhada regularmente 
no serviço de cardiologia desse hospital. Relatou um internamento por pielonefrite em 1998. 
A paciente foi adotada, tendo sua mãe falecido havia cerca de dois anos. Desde então, 
assumiu todas tarefas domésticas, a responsabilidade pelos irmãos, tornando os atritos com 
o pai etilista bastante freqüentes. Após esses episódios, passou a apresentar labilidade 
emocional e tristeza intensa. Procurou então um psiquiatra que diagnosticou depressão e 
indicou o uso de amitriptilina. A paciente fez uso da medicação por curto período, 
abandonando o tratamento em poucos meses. 
 
 
Exame da paciente 
 
Encontrava-se com estado geral bom, normotensa, pulso com 80 batimentos por minuto, 
presença de edema em tornozelo, calor, rubor e edema no joelho esquerdo com enfisema 
subcutâneo. Notou-se também ausência de focos dentários de infecção. Sempre quando 
falava da mãe ou da própria vida, apresentava crises de choro. 
 
 
 
 
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Discussão 
A síndrome de Munchausen faz alusão a Karl Friedrich Hieronymus Von Munchausen (1720-
1797), barão alemão que lutou a serviço da Rússia contra os turcos no período de 1763 a 
1772. Após a guerra, o barão costumava contar histórias fantásticas e fantasiosas sobre a 
guerra e seus atos heróicos. Em 1785, Raspe reuniu todos os contos do barão e os publicou. 
Existem algumas teorias sobre a patogênese da SM, como a de Pankratz & Lezak, que 
descreve uma disfunção no hemisfério direito em pacientes com Munchausen; de King & 
Ford, que relata anormalidades no sistema nervoso central em 40% dos 72 pacientes 
estudados (focos epileptogênicos, lesões cranianas de diversas etiologias, infecções prévias, 
anormalidades no EEG); e de Evans et al, que fala de alteração no sistema hipotalâmico-pituitário-adrenal.5-9 História de trauma psicológico pode existir, como privações na infância, 
abuso infantil, rejeição dos pais ou de outros familiares, abandono em instituições e presença 
de fatores ambientais estressantes. 
A idade de início da SM varia de 4 a 79 anos, com uma ligeira predominância em homens. 
Normalmente existe alguma experiência ou contato com a área de saúde e traços de 
personalidade anti-social. O paciente tem passagens por vários hospitais, sendo na maioria 
deles novamente investigado. Também 
é descrito que essas passagens por instituições podem ser apenas mais um componente 
fantasioso da doença. A apresentação de forma incomum ou dramática da doença é 
encontrada em alguns casos, e muitas vezes encontra-se evidência física da auto-indução 
dos sinais. 
Três formas clássicas da SM são descritas: laparotomaphilia migrans (dor abdominal aguda), 
hemorrhagia histrionica (tipo hemorrágico) e neurológica diabólica (convulsões, parestesias e 
outros quadros neurológicos). Além disso, são encontrados: lesões de pele, febre de origem 
obscura, enfisema subcutâneo, dores em geral, distúrbios endócrinos, arritmias, insuficiência 
respiratória, infecções de repetição, simulação de alguma patologia já descrita. Os sintomas 
reumatológicos são relativamente incomuns e incluem artrite séptica, osteomielite e 
simulação de lupus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e outras doenças. É uma 
 
 
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patologia que demanda quase sempre altos custos, pois são necessários diversos exames, 
terapias e procedimentos invasivos para descartar todas as outras possibilidades 
diagnósticas se o paciente não for flagrado provocando sinais e sintomas característicos. O 
paciente também fica sujeito à morbidade e à mortalidade provocadas ou desencadeadas 
pela investigação e pelo tratamento. 
A forma conhecida como Munchausen por procuração é caracterizada pelo abuso infantil, de 
idosos e de deficientes mentais e físicos. As idades já descritas em crianças estão entre 7 
semanas e 14 anos. Normalmente, o provocador é uma mãe jovem, com menos de 20 anos, 
casada e com algum transtorno de personalidade e/ou disfunção familiar. Outras pessoas 
envolvidas diretamente com a criança ou idoso também podem ser autoras dos sintomas. 
O tratamento da doença se baseia principalmente em psicoterapia individual ou de grupo e 
em medidas de suporte físico, psicológico e social. Tentam-se buscar motivos para o 
transtorno, conscientização do paciente que aquilo pode ser prejudicial a ele, conforto para 
tentar chegar à resolução dos problemas psicológicos e evitar recidivas. O uso de 
medicações, como antidepressivos, pode ser necessário. O confronto com o paciente em 
relação a suas ações e doença não deve ser feito em todos os casos, deve ser realizado por 
pessoa bem treinada nesse tipo de abordagem, pois pode levar o paciente à negação com 
consequente evasão do hospital ou tratamento. 
A paciente descrita acima injetava ar com uma seringa descartável em diversas regiões do 
corpo, levando a quadros de artrite e enfisema subcutâneo. Foi submetida à longa terapia 
com antibióticos e diversos exames diagnósticos. A confirmação da síndrome veio com a 
localização de locais de punção no joelho e mão esquerda, das medicações prescritas 
durante um mês no hospital nos seus objetos pessoais e das seringas descartáveis em locais 
pouco comuns. Dessa maneira, destaca-se a hipótese de que a morte da mãe (figura 
protetora), o convívio com o pai agressivo, a responsabilidade com as tarefas domésticas e 
com os irmãos possam ter motivado a paciente a produzir o transtorno factício, levando ao 
diagnóstico de SM. 
 
 
 
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UNIDADE 22 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS 
* Gabriela Cabral 
Síndrome maníaca pode ser conhecida pelos seguintes sintomas: aumento da auto-estima, 
engrandecimento do eu, insônia, fala rápida, agitação psicomotora, irritação, arrogância, 
desorganização, desinibição social e sexual, sentimento de grandeza e de poder. A síndrome 
maníaca pode subdividir-se em: 
- mania franca ou grave, é a mais intensa com fuga de idéias, delírios de grandeza. Os 
idosos ou pessoas com distúrbios cerebrais podem ficar confusos, desorientados e 
diminuição de consciência. Apresenta dificuldades para o diagnóstico médico. 
- mania irritada ou disfórica, é predominante a irritação da pessoa, o mau humor podendo 
ocorrer a destruição de objetos e agressividade em pessoas. 
- mania mista, há vários sintomas maníacos ocorrendo ao mesmo tempo ou alternando-se 
rapidamente. É mais freqüente em adolescentes e idosos. 
- hipomania, a pessoa fica mais disposta que o normal, mais alegre, mais falante, faz 
planejamentos e muitas vezes passam despercebidas pelo médico. 
- ciclotimia, a pessoa apresenta um episódio completo de depressão ou de mania. Aos olhos 
das pessoas é normal e muitas vezes não é submetido a um médico. 
O tratamento para as síndromes maníacas é necessário na maioria das vezes uso de 
medicamentos orientados por um médico especializado e bastante terapia. 
 
 
 
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UNIDADE 23 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
BORDERLINE 
Caracteriza-se por um padrão de relacionamento emocional intenso, porém confuso e 
desorganizado. A instabilidade das emoções é o traço marcante deste transtorno, que se 
apresenta por flutuações rápidas e variações no estado de humor de um momento para outro 
sem justificativa real. Essas pessoas reconhecem sua labilidade emocional, mas para tentar 
encobri-la justificam-nas geralmente com argumentos implausíveis. Seu comportamento 
impulsivo freqüentemente é autodestrutivo. Estes pacientes não possuem claramente uma 
identidade de si mesmos, com um projeto de vida ou uma escala de valores duradoura, até 
mesmo quanto à própria sexualidade. A instabilidade é tão intensa que acaba incomodando 
o próprio paciente que em dados momentos rejeita a si mesmo, por isso a insatisfação 
pessoal é constante. 
Aspectos essenciais 
 Padrão de relacionamento instável variando rapidamente entre ter um grande apreço por 
certa pessoa para logo depois desprezá-la. 
 Comportamento impulsivo principalmente quanto a gastos financeiros, sexual, abuso de 
substâncias psicoativas, pequenos furtos, dirigir irresponsavelmente. 
 Rápida variação das emoções, passando de um estado de irritação para angustiado e 
depois para depressão (não necessariamente nesta ordem). 
 Sentimento de raiva freqüente e falta de controle desses sentimentos chegando a lutas 
corporais. 
 
 
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 Comportamento suicida ou auto-mutilante. 
 Sentimentos persistentes de vazio e tédio. 
 Dúvidas a respeito de si mesmo, de sua identidade como pessoa, de seu comportamento 
sexual, de sua carreira profissional 
 
 
 
 
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UNIDADE 24 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA 
Eduardo de Freitas 
Xenofobia é uma palavra de origem grega que significa antipatia ou aversão a pessoas e 
objetos estranhos. O termo tem várias aplicações e usos, o que muitas vezes provoca 
confusões em relação ao significado. A xenofobia como preconceito acontece quando há 
aversão em relação à raça, cultura, opção sexual, etc. 
 
Em outra abordagem, o termo é usado para designar uma doença psiquiátrica,o indivíduo 
portador possui medo excessivo de situações e pessoas estranhas. De forma mais 
sintetizada, é o temor de uma pessoa em relação a tudo que é diferente para ela; exceto os 
casos de medo natural do desconhecido; nesse caso não é considerado xenofobia. 
 
A xenofobia, como doença, é considerada uma perturbação psicológica de característica 
fóbica; sua principal característica é a elevada ansiedade desenvolvida a partir de situações 
vividas por um indivíduo quando se depara com um fato inédito ou estranho. 
 
Pessoas que possuem esse distúrbio geralmente evitam ter contato com outros indivíduos 
estranhos, essa atitude tem como objetivo poupar o xenófobo de angústia, ansiedade, 
elevação da tensão arterial e freqüência cardíaca, além de apresentar ataque de pânico. 
 
 
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UNIDADE 25 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO 
 
O transtorno hipocondríaco, também é conhecido como a neurose de doenças. O que 
acontece neste transtorno é que a pessoa tem uma sensibilidade corporal exacerbada pelo 
fato de ser muito centrado em seu próprio corpo. No fundo o hipocondríaco, como em todos 
os outros transtornos tem uma ansiedade e uma dificuldade muito grande de entrar em 
contato com pessoas e situações que ele não se sente controlando e com isto vai cada vez 
mais centrando a sua atenção e percepção no próprio funcionamento corporal. Assim 
qualquer alteração fisiológica (mudança do batimento cardíaco, ruídos do funcionamento 
digestivo e outros) é rapidamente notada e por ele ser controlador e pessimista, interpreta 
como risco eminente de algo fora de controle e que pode levá-lo a morte ou conseqüências 
muito graves e irreversíveis. Dai o fato dele estar tomando medicações o tempo todo, ou pelo 
menos querendo tomar, pois se acha e se sente doente, apavorado com o risco de ser uma 
doença grave e querendo fazer tudo para eliminar este sintoma que desencadeia toda esta 
gama de sentimentos. 
A cabeça do hipocondríaco é uma caixa de horrores, ele é capaz de pensar em todas as 
doenças graves e terminais por que está sentindo, por exemplo, uma dor de cabeça. 
É mais ou menos assim que ele pensa: "Como surgiu esta dor de cabeça, será que é um 
tumor, acho que eu preciso fazer um exame, mas eu já fiz a semana passada, então pode 
ser um derrame que esta acontecendo?" Ai ele vai ao clinico , que descarta este diagnóstico 
através de exames e ai imediatamente surge a possibilidade de uma outra doença : "Ahhh, 
 
 
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então deve ser meningite!!!" E novamente enquanto ele não descarta esta possibilidade a 
cabeça fica o tempo todo pensando em coisas ruins. 
A razão desta neurose é que embora ela seja uma caixa de horrores, a atenção da pessoa 
se desvia da realidade, ele não percebe, não vê não se importa com os problemas da vida 
real e fica o tempo todo centrado em seus sintomas e em seus pensamentos funestos. Assim 
fica no seu mundinho, que por pior que seja já é conhecido e não sente necessidade de 
evoluir e de crescer na vida. Tal qual o Transtorno obsessivo compulsivo está diretamente 
ligado a quadros de ansiedade e principalmente de depressão. São pessoas profundamente 
pessimistas, lotadas de sentimentos de culpa que podem ser conscientes ou inconscientes e 
que por isto acha que merecem um castigo (que seria a doença tão temida). Vêem tudo sob 
uma perspectiva sombria e acabam se viciando na egoísta e permanente atitude de só 
olharem para o próprio umbigo. 
O tratamento desta neurose tem que ser feito através de psicoterapia profunda, para que a 
pessoa consiga enxergar sentimentos e conflitos que são os verdadeiros desencadeantes de 
seus sintomas e cismas. Se o pessimismo for profundo e arraigado o uso de medicações 
antidepressivas são essenciais para uma rápida melhoria do quadro. O quadro pode 
acontecer isoladamente ou acompanhando quadros de Depressão (aonde chega ocorrer o 
Delírio hipocondríaco) ou do Transtorno obsessivo compulsivo (é muito comum esta 
associação) 
 
 
 
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UNIDADE 26 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO 
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e 
prática em psicologia 
 
Maria Conceição do Rosario-Campos e Marcos T Mercadante14 
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e/ou 
de compulsões. A relativa simplicidade do diagnóstico categorial sugeriria tanto uma precisa 
delimitação nosográfica, quanto uma homogeneidade do quadro. 
No entanto, resultados de pesquisas recentes têm enfatizado dois conceitos. O primeiro 
refere-se à heterogeneidade do quadro. O segundo refere-se à concepção de que o TOC 
poderia ser estudado a partir de uma visão dimensional e contínua, ou seja, dentro de um 
espectro obsessivo-compulsivo. Sendo assim, para o aprofundamento do conhecimento do 
TOC é necessário buscar-se subgrupos mais homogêneos de pacientes. As peculiaridades 
da apresentação do TOC na infância e adolescência sugerem que o início precoce dos 
sintomas delimitaria um subtipo de pacientes. 
As prevalências de estudos epidemiológicos em adolescentes revelaram taxas entre 1,9% e 
3,0% nos Estados Unidos e entre 2,3% e 4,1% em outros países. A distribuição entre os 
sexos parece variar de acordo com as diversas faixas etárias, sendo que em crianças há 
uma preponderância de meninos. No presente artigo, procurou-se desenvolver os aspectos 
mais importantes e atuais na avaliação de crianças e adolescentes com TOC. 
 
 
14 Protoc, Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Child Study Center, Yale 
University Schools of Medicine & Nursing, Yale, USA 
 
 
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Diagnóstico e quadro clínico 
Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, idéias, 
impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos. Como produtos mentais, as 
obsessões podem ser criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras, 
medos, preocupações, memórias, imagens, músicas ou cenas. Compulsões são definidas 
como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a 
ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a 
ocorrer. Não existem limites para a variedade possível das obsessões e das compulsões. 
Numa revisão, March e Leonard relataram como mais freqüentes em crianças e 
adolescentes as obsessões de contaminação, de medo de ferir-se ou de ferir os outros, 
sexuais e de religiosidade e as compulsões de lavagem, repetição, checagem e rituais de 
tocar em objetos ou pessoas. Na infância, as compulsões comumente antecedem o início 
das obsessões, que podem ser menos freqüentes que na idade adulta. Em um estudo 
recente, foi descrito um intervalo médio de 1,6 anos entre o início das compulsões e o das 
obsessões em pacientes com início dos sintomas até os dez anos de idade Uma questão 
importante para a avaliação de crianças com TOC é a semelhança entre os sintomas 
obsessivo-compulsivos (SOC) e os comportamentos repetitivos característicos de algumas 
fases do desenvolvimento, tais como os rituais e as superstições. Dos dois aos quatro anos 
de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos. Os rituais 
mais comuns nesta fase pré-escolar acontecem, principalmente, nos horários de dormir, de 
comer e de tomar banho. Por exemplo, uma história precisa ser contada da mesma forma 
várias vezes, os alimentos precisam ser organizados no prato de acordo com regraspré-
estabelecidas, só tomam banho se estiverem com um brinquedo específico. A partir dos seis 
anos, os rituais se manifestam mais em brincadeiras grupais. Os jogos passam a ter regras 
rígidas e iniciam-se as coleções dos mais variados objetos. Outros exemplos de 
comportamentos ritualísticos normais são as superstições. Encontradas em todas as faixas 
etárias, parece haver uma mudança qualitativa com a idade. Rituais e superstições são 
normais para estas fases do desenvolvimento. Eles têm geralmente o objetivo de auxiliar no 
desempenho e dar uma sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos eventos. Além 
disso, não interferem no funcionamento da criança e não têm a freqüência ou a intensidade 
 
 
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dos SOC. No entanto, como tratam-se de comportamentos repetitivos, podem ser 
confundidos com os SOC. Portanto, é importante reconhecer quando os rituais e as 
superstições tornam-se patológicos e quando as crianças passam a precisar de ajuda. Deve-
se considerar a faixa etária, a duração diária dos comportamentos, sua intensidade e se 
interferem ou não nas suas atividades e no seu desenvolvimento. 
Para o diagnóstico do TOC é necessário que as obsessões e/ou as compulsões causem 
interferência ou limitação nas atividades da criança, que consumam tempo (ao menos uma 
hora por dia) e que causem sofrimento ou incômodo ao paciente ou a seus familiares.2 O 
diagnóstico do TOC é clínico, não existindo nenhum exame laboratorial ou radiológico 
patognomônico da doença. Tanto o DSM-IV2 quanto a CID-106 utilizam os mesmos critérios 
diagnósticos para crianças, adolescentes e adultos, ressaltando- se apenas que na infância 
não é imprescindível o reconhecimento de que os sintomas são excessivos ou irracionais. 
Ainda não existe um consenso sobre como determinar a idade de início do TOC. A maioria 
dos estudos considera o surgimento dos sintomas como a idade de início do transtorno. 
Outros consideram o início do incômodo causado pelos sintomas ou a primeira vez em que o 
paciente procurou ajuda profissional como a idade de início. 
O início dos sintomas pode ser agudo ou insidioso e os SOC tendem a modificar-se bastante 
durante o curso da doença. Cada paciente tem uma história distinta. Não está definido se as 
peculiaridades do TOC em crianças seriam apenas características patoplásticas dessa faixa 
etária, modificando-se com o desenvolvimento, ou se persistiriam até a idade adulta. Uma 
nova proposta de avaliação psicopatológica do TOC procura agrupar os sintomas que 
tendem a ocorrer em conjunto. Nessa abordagem, quatro a cinco fatores ou dimensões 
sintomatológicas foram estabelecidos: “obsessões de agressão 
e compulsões relacionadas”; “obsessões religiosas, sexuais e compulsões relacionadas”; 
“obsessões de simetria e compulsões de ordenação e arranjo”; “obsessões de contaminação 
e compulsões de limpeza/lavagem”; e “obsessões e compulsões de colecionismo”.Ainda não 
existem estudos avaliando a distribuição desses fatores em crianças. 
 
 
 
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UNIDADE 27 
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica. 
OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS 
Valdeci Gonçalves da Silva15 
A Psicologia contemporânea parece confundir-se com a aplicação dos testes e, em alguns 
casos, julga-se que, sem esse tipo de instrumento, o psicólogo não seria capaz de fazer 
qualquer afirmação científica do comportamento humano. Talvez seja pelo fato das ciências 
serem conhecidas por suas técnicas que lhes permitem aplicações e resultados visíveis. 
Assim, como o público tende a ver os antibióticos como capazes de curar todas as infecções, 
por analogia, também à considerar os testes como recursos infalíveis para conhecer as 
pessoas e suas aptidões. 
No entanto, assim como o médico é obrigado a conhecer a potencialidade dos remédios e a 
levar em conta suas contra-indicações, da mesma forma o psicólogo deve saber, não apenas 
as vantagens dos testes, mas, também os limites de sua utilidade e validade. Do contrário, 
correrá o risco de apresentar diagnósticos falsos ou deformados, pois estariam baseados em 
resultados falhos e incompletos. 
Os testes psicológicos não consistem numa exemplar neutralidade e eficácia em 100% nos 
seus resultados, mas isto não implica que os mesmos devam ser dispensados. Desde que 
atendidas as pré-condições de sua aplicação, e que o psicólogo examinador tenha 
conhecimento, domínio da aplicação e da avaliação, os testes se instalam como referencial 
que elimina boa parte da “contaminação” subjetiva das suas percepção e julgamento. É 
importante ressaltar a condição dos testes como mais um recurso que auxilia o profissional 
na compreensão e fechamento das considerações a respeito de um examinando, seja em 
 
15 Professor de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, autor do livro: Nuance dos Testes Psicológicos 
e algumas inquietações pós-modernas. 
 
 
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processo seletivo (exame psicológico ou psicotécnico), avaliação psicológica e 
psicodiagnóstico. 
CONCEITUAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS 
Os testes psicológicos, da forma que se conhece hoje, são relativamente recentes, datam do 
início do século XX. Um teste psicológico no sentido epistemológico consiste numa tarefa 
controvertida, porque dependerá de posições e suposições de caráter filosófico. Para 
Cronbach (apud PASQUALI, 2001), um teste é um procedimento sistemático para observar o 
comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias 
fixas(p.18).Em outras palavras, um teste psicológico é fundamentalmente uma mensuração 
objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Uma verificação ou projeção 
futura dos potenciais do sujeito. O parâmetro fundamental da medida psicométrica são as 
escalas, os testes, é a demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo 
entre a ordenação dos procedimentos empíricos e teóricos. Enfim, explicita que a 
operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao traço latente1. 
ORIGENS DOS TESTES PSICOLÓGICOS 
Com base em Pasquali (2001), a história dos testes psicológicos, se destacam em 
sucessivas décadas, de tal maneira que é possível associar muitos autores a alguns 
períodos bem específicos. 
A Década de Galton: 1880. Para Francis Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões 
humanas se dava por meio da medida sensorial, através da capacidade de discriminação do 
tato e dos sons. Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que, 
A única informação que nos atinge, vinda dos acontecimentos externos, passa, 
aparentemente pelo caminho de nossos sentidos. Quanto maior o discernimento que os 
sentidos tenham de diferentes, maior o campo em que podem agir no nosso julgamento de 
inteligência (p.8). 
A contribuição de Galton para psicometria ocorreu em três áreas: Criação de testes 
antropométricos para medida de discriminação sensorial (barras para medir a percepção de 
 
 
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comprimento); Apito para percepção de altura do tom; Criação de escalas de atitudes (escala 
de pontos, questionários e associação livre2); Desenvolvimento e simplificação de métodos 
estatísticos (método da análise quantitativa dos dados coletados). 
A Década de Cattell: 1890. Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano) 
desenvolveu medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia 
Mental Test (teste mental). Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo de 
Reação. Este consiste em registrar os minutos decorridos entre a apresentação de um 
estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a primeira resposta emitida pelo examinando. 
Cattell seguiu as idéias de Galton, dando ênfase

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