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Esab Psicopatologia e exames psicológicos

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MÓDULO DE: 
 
PSICOPATOLOGIA E EXAMES PSICOLÓGICOS 
 
 
 
 
 
AUTORIA: 
 
LUCIANA GENELHÚ ZONTA 
 
 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
 
Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
 
2
Módulo de: Psicopatologia e Exames Psicológicos 
 
Autoria: Luciana Genelhú Zonta 
 
Primeira edição: 2009 
 
 
CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS 
 
Várias Marcas Registradas São Citadas No Conteúdo Deste Módulo. Mais Do Que 
Simplesmente Listar Esses Nomes E Informar Quem Possui Seus Direitos De Exploração Ou 
Ainda Imprimir Logotipos, O Autor Declara Estar Utilizando Tais Nomes Apenas Para Fins 
Editoriais Acadêmicos. 
Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, 
beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas 
de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. 
E Por Fim, Declara Estar Utilizando Parte De Alguns Circuitos Eletrônicos, Os Quais Foram 
Analisados Em Pesquisas De Laboratório E De Literaturas Já Editadas, Que Se Encontram 
Expostas Ao Comércio Livre Editorial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3
Apresentação 
A relevância da Psicopatologia concentra-se na contribuição que a mesma presta a todo o 
grupo das ciências humanas, colabora com psiquiatras, psicólogos e sociólogos. Até mesmo 
o historiador tem necessidade de conhecer os princípios fundamentais da Psicopatologia, 
pois somente assim poderá descrever e compreender determinados comportamentos de 
líderes políticos que tentaram mudar os destinos da humanidade. 
Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque 
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos 
anormais de graves consequências para o país (PAIM, 1993). 
 
 
Objetivo 
Compreender os principais sintomas das doenças psicológicas e relacionà-los aos exames 
psicológicos. 
 
Ementa 
História da Psicopatologia. Desenvolvimento da Personalidade. Psicopatologia e psicologia 
do normal. Escolas principais da psicopatologia. Funções Psíquicas Elementares e suas 
alterações. Psicopatologia e doença mental. Transtornos por uso de substâncias. 
Transtornos psicóticos. Transtornos da personalidade. Testes psicológicos e suas práticas. 
 
 
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4
Sobre o Autor 
Possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Espírito 
Santo (2002). É especialista pela PUC/SP em Economia e Gestão das Relações de Trabalho 
(2004). Mestranda em Administração, pela FUCAPE Business School (2009). 
 
 
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5
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 .............................................................................................................................. 8 
Contextualização Histórica .................................................................................................... 8 
UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 12 
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 12 
UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 20 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ................................................................... 20 
UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 37 
Psicopatologia e psicologia do normal ................................................................................ 37 
UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 47 
Funções Psíquicas e suas alterações ................................................................................. 47 
UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 54 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais, 
senso-percepção e representações, memória) ................................................................... 54 
UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 57 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor) ......................... 57 
UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 61 
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO)................................ 61 
UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 68 
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução ........................................................ 68 
UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 73 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE ...................................................... 73 
UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 93 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE ....................................................... 93 
UNIDADE 12 ........................................................................................................................ 115 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA ......................................... 115 
UNIDADE 13 ........................................................................................................................ 126 
EXEMPLOS CLÍNICOS ..................................................................................................... 126 
UNIDADE 14 ........................................................................................................................ 133 
 
 
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6
Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO ..................................................... 133 
UNIDADE 15 ........................................................................................................................ 145 
Classificação das doenças psicológicas ........................................................................... 145 
UNIDADE 16 ........................................................................................................................ 148 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO ............................................... 148 
UNIDADE 17 ........................................................................................................................ 164 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA ....................................... 164 
UNIDADE 18 ........................................................................................................................ 165 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS .................. 165 
UNIDADE 19 ........................................................................................................................ 179 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT ......................... 179 
UNIDADE 20 ........................................................................................................................ 181 
Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR............................. 181 
UNIDADE 21 ........................................................................................................................184 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN .................. 184 
UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 188 
Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS ............................. 188 
UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 189 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
BORDERLINE ................................................................................................................... 189 
UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 191 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA ................................................ 191 
UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 192 
Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO ............. 192 
UNIDADE 26 ........................................................................................................................ 194 
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
 .......................................................................................................................................... 194 
UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 197 
OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ......................................................... 197 
UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 204 
TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ............................................................... 204 
UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 209 
 
 
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7
Instrumentos psicológicos utilizados em seleção profissional ........................................... 209 
UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 214 
VISÃO GERAL DE TESTES PSICOLÓGICOS ................................................................. 214 
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 226 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 227 
 
 
 
 
 
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8
UNIDADE 1 
Objetivo: Oferecer instrumentos teóricos para o estudo e a reflexão da psicopatologia, 
visando à compreensão crítica do conteúdo 
Contextualização Histórica 
A análise etimológica da palavra "Psicopatologia" é composta de três termos gregos: 
psychê, que produziu psique, psiquismo, psíquico, alma; pathos, que resultou em paixão, 
excesso, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento, patológico e logos, que 
resultou em lógica, discurso, narrativa, conhecimento. 
Psicopatologia seria, então, um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer 
psíquico. 
O atual cenário psicopatológico representa a evolução de um contexto histórico-político 
marcado por várias fases, cada uma com referências próprias e diferentes perspectivas 
teórico-clínicas. 
Na Grécia pré-socrática, o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a 
hybris dos homens (Pessotti, 1995). 
Platão dá uma visão completamente nova da psychê ao considerá-la como composta por 
três almas: uma racional, o logos, uma afetivo-espiritual e uma terceira que seria apetitiva. 
Para Platão, a loucura atestaria o desarranjo no equilíbrio das três componentes da psychê, 
fazendo com que a parte racional, o logos, perdesse o controle. 
A visão medieval da loucura está intimamente associada, ou mesmo identificada, à 
possessão demoníaca. Esta perspectiva ganha espaço à medida que a hegemonia do 
cristianismo se impõe. 
Enquanto no século XVII às categorias platônicas são acrescentadas às teorias da loucura, o 
século XVIII é marcado por uma psicopatologia desordenada. As classificações são ora 
 
 
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9
extremamente abrangentes, o que as torna pouco úteis, ora drasticamente limitadas, 
tornando-as de difícil confirmação. No início do século XVIII o pensamento médico em 
relação às "doenças do espírito" e a prática do internamento permaneceram estranhos um ao 
outro; no final desse século as duas correntes - pensamento e prática - sofrem uma primeira 
convergência, embora não se tratasse ainda de uma conscientização de que os internos 
eram doentes (Foucault apud Ceccarelli, 2005). 
Desse modo, a psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são 
considerados dois grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram 
mais à atitude da sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos 
dessa ciência. O primeiro com a postura de Philippe Pinel1 estudioso que abordou as 
doenças mentais como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social, 
em oposição às opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. Já no final do 
século XX ocorreu o segundo, quando tendências agrupadas sob a denominação genérica 
de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social) passaram a recomendar o fim dos 
manicômios e a integração do psicopata à sociedade, mediante técnicas específicas. 
A partir do século XIX, adotou-se uma perspectiva essencialmente anátomo-clínica, ou seja, 
voltada para a descrição clínica e a busca de lesões orgânicas causadoras do quadro 
mórbido. Fase diversa se inicia com o advento da psicanálise, na qual se consagra uma 
posição, adotada por Freud2, que descarta os fundamentos somáticos das perturbações 
mentais e afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos, obtendo acesso à 
consciência, por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que a sistemática do 
nosso cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica, isto é, a mente 
desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseados em imagens, as 
quais são meras representações de significados latentes. 
 
1 Médico, pioneiro no tratamento dos doentes mentais, considerou as doenças mentais como resultados de 
tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos, 
desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão 
demoníaca 
2 Médico, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, 
abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise 
 
 
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No início do séc. XX surge outro tipo de abordagem, o behaviorismo de John B. Watson3 
para quem grande parte dos quadros mórbidos ou patológicos admite interpretação em 
termos de aprendizagem. Daí deriva a prática de implantar controles que visam à inibição da 
conduta desajustada. A corrente fenomenológica se caracteriza metodologicamente pela 
intenção de captar o significado da relação assumida entre o paciente e o mundo. Nessa 
abordagem, omite-se a referência aos processos neurofisiológicos e se considera básica a 
noção de referência intencional, numa dimensão existencial. 
Assim, a psicopatologia chega à contemporaneidade, tema da Unidade 2. 
Complemente sua leitura com os textos abaixo listados. 
 
 
 LEITURA COMPLEMENTAR 
CARRARA, K.Behaviorismo Radical: crítica e metacrítica. São Paulo: FAPESP, 1998. 
Disponível em: 
http://www.cemp.com.br/novo/dados/upload/Origens%20do%20Behaviorismo.pdf 
FACCHINETTI, C. Philippe Pinel e os primórdios da Medicina Mental. Rev. latinoam. 
psicopatol. fundam. [online]. 2008, vol.11, n.3, pp. 502-505. ISSN 1415-4714. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1415-
47142008000300014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt 
THA, F. Representação e pensamento na obra freudiana: preliminares para uma 
abordagem cognitiva. Ágora (Rio J.) [online]. 2004, vol.7, n.1, pp. 109-128. ISSN 1516-1498. 
 
 
3 Ficou muito conhecido pela publicação do chamado "manifesto behaviorista": um conjunto de palestras 
publicadas em forma de artigo em 1913 no qual defendeu o abandono da introspecção e a adoção da 
observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. O manifesto 
behaviorista coordenou muitas das manifestações esparsas que já vinham criticando o método introspectivo e 
se tornou um marco histórico na psicologia 
 
 
 
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11
doi: 10.1590/S1516-14982004000100007. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151614982004000100007&script=sci_abstract 
 
STRAPASSON, B. A. John B. Watson, o cuidado psicológico do infante e da criança: 
possíveis conseqüências para o movimento behaviorista. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 
2008, vol.20, n.2, pp. 629-636. ISSN 1984-0292. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S198402922008000200023&lng=en&nrm
=iso&tlng=pt 
Links Relacionados 
Laboratório de Psicopatologia Fundamental – PUC/SP 
http://www.psicopatologiafundamental.org/ 
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1415-4714 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 
Objetivo: Contextualizar a psicopatologia no cenário atual. 
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE 
Tânia Maria José Aiello Vaisberg 
 
Como sabemos, a Psicopatologia é uma disciplina teórica que fundamenta ações 
psiquiátricas, psicoterapêuticas, psicodiagnósticas e psicoprofiláticas. Os 
autores concordam em atribuir à obra de Jaspers (1913), Psicopatologia Geral, o papel de 
marco inaugural, o que nos permite considerar que se trata de uma ciência relativamente 
nova, com cerca de um século de existência. 
Etimologicamente, o termo significa estudo do sofrimento psíquico. Trata-se, portanto, de um 
modo moderno de focalizar uma questão absolutamente antiga e essencial, a do sofrimento 
que parece inerente à condição humana (Ferry, 2007). Entretanto, sendo, de fato uma 
ciência humana, a Psicopatologia não é um campo unificado de saber, mas abrange, antes, 
uma grande diversidade de hipóteses, explicações e teorias, que se vinculam a diferentes 
referenciais teóricos. Cada referencial, por sua vez, não se limita às suas afirmações 
manifestas, mas assenta-se sobre determinadas visões do que é o homem, do que é o 
mundo, do que é o processo de produção de conhecimento. Em outros termos, partem de 
ontologias, antropologias e epistemologias distintas. Deste modo, não nos deve surpreender 
o fato de terem sido identificados nada menos do que catorze enfoques teóricos da 
psicopatologia (Ionescu,1994). 
Entretanto, um grande número de estudiosos reconhece que o campo pode ser bem 
organizado, em seu estado atual, a partir da distinção de três grandes correntes: a 
neurobiológica, a psicanalítica e a sociológica. Enquanto a primeira privilegiaria a importância 
 
 
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causal da dimensão orgânica e a terceira apostaria na produção social do sofrimento 
psíquico, a psicanálise tanto ignoraria os determinantes somáticos como os sociais, para 
destacar o papel do aparelho psíquico. Estas três correntes são, muitas vezes, consideradas 
à luz das afinidades que mantém com ideologias políticas, de modo que os organicistas são 
considerados de direita, os sociólogos de esquerda e os psicanalistas como esquerdistas 
que tem deslizado, ao longo dos anos, para o centro (Zefaradian,1988). 
Ainda que bastante popular esta divisão em três correntes não deixa de ser simplista e até 
certo ponto ingênua, uma vez que tributária de uma visão positivista segundo a qual cada 
ciência tem direitos de exclusividade sobre determinados objetos. Além disso, está 
basicamente não atualizada, uma vez que não é correto identificar a Psicanálise à 
metapsicologia clássica. Assim, o ramo que detém o domínio do corpo biológico clamaria 
pela “posse” do fenômeno do sofrimento psíquico numa luta contra sociólogos e psicanalistas 
que, estudando a sociedade ou a mente inconsciente, fariam idêntica reivindicação. 
No entanto, se considerarmos que o fenômeno humano é uma complexidade não passível de 
ser reduzida a elementos mais simples, mas um todo, que deve ser abordado como tal, 
chegará à conclusão de que as diferentes ciências humanas, entre as quais se deveriam 
incluir a biologia humana, lidam com um mesmo e único fenômeno (Bleger, 1963). Nesta 
perspectiva, cessam as disputas em favor do reconhecimento de que tanto há espaço para 
uma biologia, como para uma psicanálise ou uma sociologia voltadas, todas elas, ao estudo 
do sofrimento psíquico-emocional. 
Sendo assim, nenhuma descoberta em qualquer desses campos de conhecimento, anularia 
os outros dois, tornando-os inúteis ou supérfluos. Por outro lado, o uso ideológico de um ou 
outro modelo, seja para negar a concorrência das dimensões sociais, seja para negar o valor 
da subjetividade individual, seja para negar a importância do corpo, será mais facilmente 
neutralizado, se prevalecer uma lucidez epistemológica. 
A constituição da Psicopatologia, como ciência moderna, ligou-se, fundamentalmente, à 
crença, já existente, de que o sofrimento psíquico teria, forçosamente, uma base material. 
Mais do que uma hipótese, esta era e é, para muitos, uma convicção que, entretanto, não 
 
 
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14
garantiu a descoberta imediata da etiologia da maior parte das chamadas doenças mentais, 
cuja causalidade continua, em sua maior parte, obscura. 
Passaram-se algumas décadas antes que se tornasse aceita a idéia de que a sociedade 
desempenhava importante papel na produção do sofrimento psíquico (Miles,1981). Hoje é 
claro para a maioria dos estudiosos que o fato de existirem determinantes orgânicos não 
anula a importância das condições concretas da vida social no surgimento de manifestações 
psicopatológicas. 
Deste modo, não surpreende que as relações existentes entre Psicopatologia e 
contemporaneidade possam interessar tanto a clínicos como a pesquisadores. 
Um fenômeno chama, desde o inicio, nossa atenção. Trata-se do fato de ocorrer uma relativa 
diminuição dos quadros mais conhecidos e melhor definidos, vale dizer, da neurose e da 
psicose, em favor de um aumento expressivo dos chamados quadros limites ou borderlines. 
O tema já foi bastante explorado por autores da estatura de um Bergeret (1974), que 
sistematizou uma Psicopatologia Psicanalítica tripartite, seguindo indicações freudianas, no 
interior da qual distinguia as estruturas neurótica e psicótica, ligadas fundamentalmente a 
angústias de fragmentação e castração, ao lado do que denominava organizações limites, 
que, possuindo caráter antidepressivo, exteriorizar-se-iam em termos clínicos como 
agressividade, adição, distúrbios alimentares, depressões, psicossomatoses e normopatias. 
Encontramos uma organização similar, igualmente tripartite, no contexto do pensamento 
winnicottiano, o que, a nosso ver, pode ser considerado como uma Psicopatologia explícita. 
Aceita, assim, a existência de neuróticos, psicóticos e borderlines, mas afirma, curiosamente,que os neuróticos teriam simplesmente desaparecido na Inglaterra, pois já teriam feito um 
trabalho de desenvolvimento pessoal por meio do acesso a grandes obras, literárias e 
musicais, da cultura ocidental (Winnicott, 1963). Entretanto, pode-se captar ao longo de sua 
brilhante obra, a vigência do que temos designado uma Psicopatologia implícita, no interior 
da qual os quadros conhecidos corresponderiam a arranjos de caráter meramente defensivo 
contra a impossibilidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea. 
 
 
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transformadora de si e do mundo. Surge aqui uma contribuição inestimável à Psicopatologia 
Psicanalítica, que permite uma compreensão das demandas que nos chegam, atualmente, 
na clínica psicológica, em variados contextos institucionais, que ultrapassa a mera 
consideração do registro defensivo, neurótico, psicótico ou borderline. 
Esta possibilidade de sentir-se vivo e real como condição de sanidade verdadeira surgiu, é 
importante lembrar, num contexto de teorização que retoma uma valorização do ambiente 
que a Psicanálise abandonara desde o tempo em que Freud substituiu a teoria da sedução 
para privilegiar as fantasias desejantes como elementos determinantes das neuroses 
(Laplanche e Pontalis,1967). 
Ora, como teoriza mantendo uma grande proximidade em relação ao acontecer clínico, 
Winnicott não pensa o individuo de modo abstraído das condições concretas nas quais sua 
vida tem lugar, evitando naturalmente abstrações metapsicológicas e enfatizando a 
importância do ambiente. Como sabemos, Winnicott inspira-se no bebê para pensar o 
humano porque, em sua obra, o bebê é um dos modos de ser pelos quais a natureza 
humana se manifesta. 
Assim, não tem sentido, a nosso ver, pensar, como fazem alguns que o ambiente só tem 
importância na vida do bebê e não na vida do adulto, como se tornar-se adulto pudesse 
significar transcender a dimensão de coexistência que caracteriza a condição humana. 
Entendemos que a contribuição winnicottiana sustenta que o ambiente é absolutamente 
fundamental ao longo de toda a vida individual. 
Valorizar o ambiente significa, então, reconhecer que as condições concretas de vida, 
prevalentes na sociedade contemporânea globalizada, desempenham importante papel na 
geração do sofrimento psíquico emocional. Claro está que não queremos dizer que a vida 
tem sido fácil, no planeta, ao longo da História e que só hoje enfrentamos dificuldades. A 
leitura de um livro bastante atraente, na medida em que muito claro e simultaneamente 
rigoroso, o Aprenda a Viver: Filosofia para Novos Tempos (Ferry, 2007) convence no sentido 
de lembrar como a condição humana, ao conjugar finitude e autoconsciência, é 
inerentemente geradora de sofrimento, o que, segundo este autor, motiva o nascedouro de 
 
 
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16
duas importantes realizações humanas: a filosofia e a religião. Entretanto, muitos pensam 
que a vida atual, na qual os ideais estão ausentes e parecem substituídos por frenesis 
fundamentalistas de consumo (Santos, 2001), traz consigo um quadro novo, desconhecido 
em épocas históricas anteriores. A vida perde sentido e torna-se, deste modo, 
verdadeiramente absurda, o que gera sofrimento emocional importante. Não se trata, assim, 
de negar a importância de dimensões orgânicas, de amadurecimento emocional ou mesmo 
de exercício ético de escolha de posições existenciais mais construtivas e solidárias – que 
podemos presenciar mesmo em pessoas que se mantém a expensas de um falso self 
cuidador, mas de reconhecer que o mundo em que vivemos pode dificultar enormemente a 
constelação do sentir-se vivo e real numa vida que valha a pena. 
Num primeiro momento, podemos pensar que o sentir-se vivo e real seja o que se pode 
chamar de “problema de foro íntimo”. Esta dissociação seria, assim, o mero descompasso 
entre o intelecto e a existir psicossomático, decorrente do fato de ter sido vitima de invasões 
ambientais que teriam interrompido a continuidade do ser do bebê. Entretanto, se levarmos 
em conta que a vida transcorre no ambiente humano e interrogarmos mais detidamente o 
fenômeno da invasão ambiental que, em última instância, visa criar submissão, veremos que 
sentir-se vivo e real é algo que depende das condições concretas do viver, que depende da 
qualidade das relações humanas. 
Será, pois, fundamental, articular a possibilidade de sentir-se vivo e real com o ambiente 
familiar, lembrando que este último dependerá sempre das condições concretas da vida 
social. 
Sabemos que desde o Renascimento, quando progressos científicos até então inimagináveis 
tiraram a sociedade de um cosmo fechado para um universo infinito, para adotar a expressão 
de Koyré (1973), os homens deixaram de encontrar sentidos na religião ou numa visão 
filosófica do mundo como todo harmonioso. Surgiram, assim, o humanismo e a filosofia 
moderna, inaugurando-se uma mudança profunda, a partir da qual os homens passaram a 
produzir os sentidos do viver, fundamentando-se não mais no cosmo ou em Deus, mas em si 
mesmos. 
 
 
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O projeto científico, como manifestação do humanismo, baseou-se em dois pressupostos. O 
primeiro deles diz respeito à crença de que a ciência emanciparia a humanidade de várias 
formas de superstição, obscurantismo e autoritarismos. O segundo é a convicção de que um 
aumento do domínio do mundo natural transformaria a vida humana, trazendo-lhe maior 
conforto, segurança e qualidade. Até aqui, navegava a cultura ocidental em mares nos quais 
se articulavam ideais de progresso das ciências com os de desenvolvimento da civilização. 
Entretanto, parece que a própria noção de progresso sofreu uma modificação drástica, que 
se liga, evidentemente, a vicissitudes do sistema capitalista, frequentemente designada como 
passagem da ciência à técnica, que consiste no desaparecimento dos fins em proveito dos 
meios. Evidentemente, trata-se de fenômeno dotado de alta complexidade, que merece ser 
estudado desde pontos de vista históricos, sociais, econômicos e filosóficos. Entretanto, 
tendo em vista nossos propósitos, que focalizam os efeitos destas transformações sobre as 
experiências emocionais de vida, basta levar em conta as linhas gerais deste movimento: 
“Daí o formidável e incessante desenvolvimento da técnica preso ao crescimento econômico 
e largamente financiado por ele. Daí também o fato de que o aumento do poder dos homens 
sobre o mundo tornou-se um processo absolutamente automático, incontrolável e até mesmo 
cego, já que ultrapassa asa vontades individuais conscientes. É simplesmente o resultado 
inevitável da competição. Neste ponto, contrariamente às Luzes e à filosofia do século XVIII 
que, como vimos, visavam à emancipação e à felicidade dos homens, a técnica é realmente 
um processo sem propósito, desprovido de qualquer espécie de objetivo definido: na pior das 
hipóteses, ninguém mais sabe para onde o mundo nos leva, pois ele é mecanicamente 
produzido pela competição e não é de modo algum dirigido pela consciência dos homens 
agrupados coletivamente em torno de um projeto , no seio de uma sociedade que, ainda no 
século passado, podia se chamar res publica, república, etimologicamente negócio ou causa 
comum” (Ferry, 2007, p.247). 
O efeito da perda de ideais, sobre a experiência emocional individual, é, a nosso ver, 
devastador, porque torna a vida absurda, afetando o sentimento de que a vida valha a pena. 
Em ultima análise,como bem coloca Camus (1942), é o suicídio que se desenha no horizonte 
quando o absurdo ganha a cena, suicídio que tanto pode ocorrer de modo concreto como 
sutilizado sob diferentes roupagens sintomatológicas. 
 
 
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Tenho realizado, majoritariamente, dois tipos de investigação.O primeiro deles diz respeito à 
proposição de enquadres clínicos diferenciados, mediante os quais se possa estender os 
benefícios oriundos do conhecimento psicanalítico a populações tradicionalmente dele 
excluídas. Estes enquadres são, então, investigados em termos da detecção de sua eficácia 
clínica ou potencialidade mutativa. 
É claro que este tipo de pesquisa nos ensina sobre pessoas que buscam alguma forma de 
atendimento, mas não nos dizem muito sobre quem não se abre para este tipo de 
experiência. Nossa experiência tem comprovado a idéia de que predomina, no mundo atual, 
um sofrimento derivado da falta de ideais, esperanças e perspectivas, que afeta a 
capacidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea e transformadora de 
si mesmo e do mundo. 
O segundo tipo de trabalho é conhecido como pesquisa psicanalítica de imaginários 
coletivos, iniciativa que abraçamos a partir da preocupação com os preconceitos existentes 
contra pessoas que necessitam de tratamento psiquiátrico. Assim, pesquisamos as 
concepções, crenças, idéias, sentimentos, fantasias de vários grupos da população, mais ou 
menos diretamente envolvidos com a problemática psiquiátrica, para detectar tanto como, e 
em resposta a que tipo de angústia, organizava-se seu imaginário. Pudemos entender que 
existe um grande medo sob a hostilidade, discriminação e preconceito contra o doente 
mental. Demo-nos, conta, então, de que havíamos desenvolvido uma metodologia de 
pesquisa que servia não apenas para a investigação do imaginário relativo ao doente mental, 
mas também a toda e qualquer figura humana, abrangendo todos os chamados excluídos 
sociais. Assim, passamos a investigar o imaginário de coletivos humanos sobre usuários de 
drogas, crianças com dificuldades escolares, crianças adotadas, obesos, deficientes, 
presidiários e muitos outros. Entretanto, ao realizar tais trabalhos, fomos nos dando conta de 
um fenômeno bastante interessante que consiste no fato dos grupos pesquisados trazerem 
sempre visões de vida fundamentalmente desanimadas, desesperançadas e carentes de 
perspectivas de futuro. A julgar pelo que temos encontrado nestas pesquisas, poderíamos 
afirmar que uma das formas mais comuns de sofrimento no mundo de hoje é a carência de 
sentido que impede o indivíduo de sentir-se vivo, real e capaz de gestualidade espontânea. 
 
 
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O quadro geral indica, a meu ver, que são inegáveis as relações entre o sofrimento humano 
e as condições concretas da vida contemporânea, de modo que se torna indispensável a 
constituição de projetos coletivos de produção de sentido e, em última análise, de esperança. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 
Objetivo: Apreensão da teoria psicanalítica de Freud, bem como outras teorias enquanto um 
conjunto de premissas referentes a uma concepção de homem e de mundo. 
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 
Podemos definir personalidade como sendo um ser humano com individualidade, nitidamente 
expressa, a qual, nem a moda do dia a dia, nem as adversidades conseguirão desviar da 
rota fixada. A noção científica de personalidade se empregará, pois, para discernir as marcas 
particulares inerentes aos indivíduos, isto é, as diferenças inter-individuais; visará igualmente 
determinar as variedades do comportamento de um só e único indivíduo, segundo as 
situações e as épocas de sua existência (Schaaml, 1976). 
A maturidade emocional é um termo relativo, pois não se limita a um único padrão 
comportamental nem a uma determinada cultura. A singularidade é uma característica 
essencial da natureza humana. É preciso supor, pois, uma grande variação no quadro do 
ajustamento emocional. 
Os estudiosos da personalidade estão basicamente interessados em explicar o porquê das 
diferenças existentes entre as pessoas. Por que algumas são bem-sucedidas e outras não 
Por que algumas desenvolvem uma capacidade de ver o mundo com toda a sua riqueza, 
variedade e encanto, enquanto outras apresentam comportamento explosivo, inquietação 
geral, preocupação excessiva com a opinião dos outros, recusando-se a participar de 
situações sociais. Por que algumas são tão talentosas e outras não conseguem desenvolver 
suas potencialidades, impondo-se limitações que as levam ao conformismo e à passividade. 
Os teóricos tentam responder a essas questões buscando descobrir qual a interação 
existente entre os diferentes aspectos responsáveis pela formação da personalidade, tais 
como: aprendizagem, percepção e motivação. 
 
 
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As várias teorias da personalidade se distinguem pela descrição do modo pelo qual essa 
interação ocorre e pelo peso dado a cada um dos fatores (aprendizagem, percepção e 
motivação) na determinação da personalidade. 
A Teoria Psicanalítica de Freud 
A psicanálise nasceu com objetivos bastante limitados. Originalmente, seu único fim era 
compreender algo da natureza de enfermidades nervosas chamadas funcionais, para vencer 
a impotência médica da época quanto ao seu tratamento. Entre os neurologistas de então, 
havia uma crença generalizada a respeito da existência de uma ligação íntima, e talvez 
exclusiva, entre determinadas partes do cérebro e certas funções. Como não sabiam o que 
fazer com o fator psíquico, nem como apreendê-lo, deixavam essas especulações para os 
filósofos, para os místicos e para os curandeiros. Assim, não se abria nenhum acesso às 
causas das neuroses, principalmente da enigmática histeria, que delas consistia em medidas 
de caráter geral, tais como prescrições de medicamentos, choques elétricos e tentativas, na 
maioria das vezes inadequada, de exercer influência psicológica sob forma de conselhos, 
repreensões, ameaças etc. 
Dadas as características da formação médica da época, inicialmente a psicanálise sofreu 
uma violenta rejeição. No entanto, com o passar do tempo ela foi sendo aceita, tornando-se 
posteriormente a terapia mais difundida no tratamento de problemas psíquicos. 
Atualmente, a psicanálise é um termo geral que abrange três coisas: um método de 
investigação de processos psíquicos, um método de terapia e uma teoria da personalidade. 
Como teoria da personalidade, a psicanálise está fundamentada em relatos verbais de 
idéias, sentimentos e auto-descrições feitas pelos pacientes. Freud estabeleceu um paralelo 
entre o funcionamento patológico dos processos psíquicos e os normais. Ele fazia uma 
análise cuidadosa do comportamento verbal (relatos) de pacientes neuróticos e psicóticos 
para esclarecer a causa de tais doenças e supunha que cada aspecto do funcionamento 
patológico fosse um exagero da atividade normal. Dessa forma, a prova que Freud 
freqüentemente apresentava para confirmar uma hipótese a respeito de um componente da 
personalidade eram os dados obtidos com pacientes submetidos à psicanálise. 
 
 
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Outras características da psicanálise como teoria da personalidade é o fato de basear-se 
mais nos pensamentos e sentimentos do que no comportamento. Freud supunha e os 
psicólogos que seguem sua orientação concordam que o comportamento explícito de uma 
pessoa só pode ser interpretado corretamente quando há conhecimento de seus motivos, 
temores, sentimentos etc. Ele considerava o comportamento humano como: 1) um resultado 
de lutas e acordos entre motivos, impulsos e necessidades; 2) ocorrendo em diferentes 
níveis de organização, de tal forma que comportamentos semelhantes podem expressar 
diferentes forças e a mesma força pode ser representada em diferentes comportamentos; 3) 
ocorrendo em vários níveis de consciência. 
As qualidades da vida psíquica 
Freud opôs-se à tendência dominante em sua época de explicar os fenômenos psíquicos 
apenas pelos fatos que o indivíduo temna consciência em um determinado momento. Ele 
não via nos processos consciente a essência da vida psíquica. Ao contrário, na determinação 
do psiquismo, os processos conscientes se somariam aos pré-conscientes e aos 
inconscientes. 
Os processos conscientes são aqueles baseados nas percepções imediatas do mundo 
exterior ou nas sensações do mundo interior, aqueles que estão clara e intensamente 
definidos em nossa mente. Os processos latentes, isto é, que podem vir à consciência a 
qualquer momento, na forma de recordações ou lembranças, são denominados pré-
conscientes. Os processos e conteúdos psíquicos que não têm fácil acesso à consciência 
são os inconscientes. 
Os processos inconscientes são alógicos e têm grande fluidez e plasticidade, de tal forma 
que coisas que ocorreram em momentos e espaços diferentes podem estar unidas como 
elementos de um mesmo conjunto. Tais processos nunca são observados diretamente, e 
quando se manifestam à consciência vêm camuflados com um simbolismo próprio. 
Essas três qualidades dos processos psíquicos (consciente, pré-consciente e inconsciente) 
são dinâmica e não descritivas da personalidade, pois não são absolutas nem permanentes. 
O conteúdo da consciência em um determinado momento pode deixar de sê-lo no momento 
 
 
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seguinte. Além disso, muitas das coisas que pensamos ser verdadeiras em determinado 
momento se tornam contraditórias no momento seguinte, pois outros eventos mostraram que 
a nossa percepção não era correta. Na consciência, pois, existem processos intelectivos que 
podem persistir, ser substituídos ou extinguir-se. 
Os processos pré-conscientes podem irromper na consciência a qualquer momento e os 
inconscientes, por sua vez, por mais resistência que ofereçam, podem ser captados pela 
consciência por meio de técnicas especiais. 
A estrutura da personalidade 
Segundo Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e superego. 
O núcleo da personalidade é formado pelo id, que não tem comunicação direta com o mundo 
exterior. O id é a fonte de toda energia psíquica da personalidade. Dentro dele operam duas 
forças distintas, uma derivada do instinto de vida e a outra do instinto de destruição. Cada 
uma dessas classes de instintos está subordinada a um processo fisiológico especial 
(criação e destruição) e ambas se conduzem de forma conservadora, buscando a 
reconstituição do equilíbrio perturbado pela gênese da vida. Essa gênese seria a causa tanto 
da continuação da vida como da tendência à morte. Por sua vez, a vida seria um combate e 
uma transição entre ambas as tendências. 
O id opera dentro do princípio do prazer, que se define pelo alívio da tensão, pela liberação 
da energia e pela esquiva à dor. O objetivo do id, portanto, é a satisfação imediata e irrestrita 
dos instintos. Para realizar isso, ele dispõe de dois processos: ação reflexa e processo 
primário. 
As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma imediata redução da 
tensão. O organismo humano está equipado com um certo número de reflexos que estão 
relacionados com formas relativamente simples de excitação. 
O processo primário envolve uma reação psicológica mais complicada. A descarga da tensão 
é feita por meio de uma imagem mental. Um processo primário, por exemplo, fornece a uma 
pessoa faminta a imagem do alimento. Essa experiência oferece uma forma alucinatória de 
 
 
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satisfação do impulso. Tal alucinação não ocorre automaticamente. Primeiro a pessoa deve 
ter experienciado a satisfação concreta do desejo para depois representar mentalmente o 
objeto associado a essa satisfação. 
Para Freud, o aparato psíquico de um indivíduo é dominado por um id desconhecido e 
inconsciente, em cuja superfície aparece o ego. 
O ego é a parte modificada do id por influência do mundo exterior. Ele representa a parte 
racional da personalidade. 
Considerado sob o aspecto dinâmico, o ego é fraco. Todas as suas energias são 
emprestadas do id. Sua função psicológica consiste em trazer ao nível do pré-consciente e 
do consciente as exigências dinâmicas do id. Por isso ele é considerado o executivo da 
personalidade. Ele deve controlar quais aspectos instintivos serão satisfeitos e buscar meios 
para satisfazê-los, bem como prever as conseqüências dos atos destinados à satisfação das 
necessidades em questão. É preciso considerar, no entanto, que, como uma parte 
organizada do id, o ego existe para satisfazê-lo, e não para frustrá-lo. 
Durante o longo período da infância, no qual o ser humano em desenvolvimento vive na 
dependência de seus pais, forma-se no ego uma instância especial que perpetua essa 
influência parental. A este sistema Freud deu o nome de superego. À medida que se 
diferencia do ego, o superego se opõe a este e passa a constituir a terceira força que o ego 
tem que levar em conta. Uma ação do ego será correta, portanto, se satisfizer, ao mesmo 
tempo, às exigências do id, do superego e da realidade. 
As relações entre o ego e o superego ficam claras se as compararmos às relações entre uma 
criança e seus pais. 
O superego é o representante interno dos valores sociais que são transmitidos inicialmente à 
criança pelos pais, por meio de um sistema de recompensa e punições. Posteriormente, o 
superego incorpora valores que são transmitidos por substitutos ulteriores dos pais, tais 
como educadores e pessoas consideradas modelos sociais. 
 
 
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Apesar das diferenças fundamentais entre o id e o superego, eles têm uma coisa em comum: 
ambos representam a influência do passado o id, as influências herdadas, e o superego, as 
recebidas socialmente. Por outro lado, o ego é determinado pelas vivências próprias do 
indivíduo, pelo atual e acidental. 
Em resumo, a força do id expressa o verdadeiro propósito vital de um organismo: satisfazer 
às suas necessidades inatas. A missão do ego é buscar formas de satisfação que sejam 
mais favoráveis e menos perigosas no que se refere ao mundo exterior. O superego, por sua 
vez, coloca novas necessidades ao ego, visto que sua função principal é restringir a 
satisfação das necessidades inatas. 
O superego aplica um rigoroso critério moral ao ego, que está à sua mercê. O superego é, 
assim, o representante da moralidade que nos faz sentir culpa cada vez que o ego tenta se 
libertar de seu domínio, e auto-satisfação quando o ego se comporta de acordo com os 
ideais sociais. O superego é constituído, pois, por dois sistemas: o ego ideal, que representa 
a introjeção dos valores familiares, grupais, religiosos, raciais etc. (ou seja, a personalidade 
social), e a consciência moral, que representa a introjeção da censura dos agentes sociais 
controladores. 
A dinâmica da personalidade 
A dinâmica da personalidade diz respeito às formas pelas quais a energia do id é liberada ou 
bloqueada. 
Freud denominou de instintos as forças que atuam nas tensões causadas pelas 
necessidades do id. Essas forças representam as exigências somáticas que atuam na vida 
psíquica. 
As cargas de energia que emanam do id não têm qualquer organização. Não se originam de 
uma vontade única e só aspiram à satisfação das necessidades instintivas de acordo com o 
princípio do prazer. 
 
 
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Para os processos desenvolvidos no id não são válidos os princípios lógicos do pensamento, 
nem mesmo o princípio da contradição. Impulsos contrários podem coexistir sem anular-se 
mutuamente ou um submeter-se ao outro. 
No id não há nada equivalente à negação e nada que corresponda à representação do 
tempo. Eventos que ocorreram em momentos diferentes podem estar juntos numa mesma 
manifestação. Da mesma forma, o id não conhece o bem e o mal nem qualquermoral. 
É possível distinguir um número indeterminado de instintos, embora, como já dissemos, para 
Freud todos derivem de dois instintos fundamentais: o instinto de autoconservação e 
conservação da espécie e o instinto de destruição. 
O primeiro tem como fim básico estabelecer e conservar unidades cada vez maiores, isto é, 
tende à união (por exemplo, o amor). O segundo, ao contrário, busca a dissolução das 
conexões, reduzindo a substância viva a um estado inorgânico. Este segundo foi 
denominado por Freud de instinto de morte. 
Esses dois instintos básicos podem antagonizar-se ou combinar-se. Assim, por exemplo, o 
ato de comer equivale à destruição de um objeto com a finalidade de incorporá-lo ao 
organismo. Da mesma forma, o ato sexual equivale a uma agressão com o propósito da mais 
íntima união. Modificações na proporção de um dos dois instintos no momento da 
combinação levam a diferentes conseqüências, podendo predominar o amor ou a agressão. 
A energia liberada pelo instinto de conservação foi denominada por Freud de libido. 
Os instintos não têm qualidades perceptivas, por isso não podem atingir diretamente a 
consciência. A expressão das forças instintivas é uma das funções do ego, que estabelece 
uma ordem temporal para a satisfação dos instintos e os submete ao teste da realidade. Pela 
interpolação de processos mentais, o ego escolhe a forma e o objeto para liberação da 
tensão, conseguindo, assim, um estado precário de equilíbrio com a redução da excitação. 
Contudo, essa redução é mais formal do que efetiva, pois o ego utiliza apenas as ações que 
no passado foram bem-sucedidas, ma que nem sempre são adequadas ao presente. 
 
 
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O ego se assemelha a um monarca que, não podendo legislar sobre as sanções (superego), 
pensa muito antes de vetar uma proposta do parlamento (id). 
O conteúdo do id pode passar pelo ego por dois caminhos distintos. Um é o direto e o outro 
por meio do ego ideal. As atividades psíquicas são resultantes da eleição de um desses 
caminhos que levam à liberação ou à coerção dos instintos. A coerção é realizada pelo ego 
ideal, que é em parte uma formação reativa contra os instintos do id. 
A esse processo de liberação e inibição da energia do id, Freud deu o nome de catexe e 
anticatexe (ou catexe contrária). 
Submetido a três forças distintas o mundo exterior, a energia do id e o superego ?, o ego se 
sente ameaçado. Com a ameaça surge a ansiedade. A ansiedade é uma reação emocional 
frente à impotência motora ou psicológica ou frente a uma situação traumática. Essa reação 
coloca o ego em alerta, pois representa um perigo para sua integridade. 
Há três espécies de ansiedade: real, neurótica e complexo de culpa. 
A ansiedade real ocorre quando o ego se sente impotente frente a um objeto ou a uma 
situação do mundo exterior, que pode colocar em risco a sua sobrevivência ou a sua 
integridade psicológica. O homem não tem condições de detectar todos os perigos que 
existem no mundo exterior, por isso às vezes se sente impotente frente à realidade. A 
situação traumática contra a qual somos impotentes causa ansiedade, visto que, nessas 
condições, a satisfação de nossas necessidades significa perigo. As crianças pequenas, que 
não têm ainda a noção de perigo, fazem a todo o momento coisas que põem em risco a sua 
vida. 
Na ansiedade neurótica, o ego experiência uma sensação dolorosa que não passa, pois 
coincide com o bloqueio total de uma necessidade do id. Essa impotência psicológica é 
semelhante à impotência motora, pois a satisfação da necessidade poderia por em risco a 
integridade do aparato psicológico. 
 
 
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O complexo de culpa é a ansiedade produzida pela consciência moral. A pessoa portadora 
de um superego muito rígido tende a ter sentimentos de culpa quando faz ou pensa em fazer 
algo que contraria o código moral no qual foi educada. 
A ansiedade é um estado doloroso que o indivíduo não é capaz de tolerar por muito tempo. 
Para fugir dela, o ego desenvolve mecanismos de defesa. 
Os principais mecanismos de defesa são: a projeção, a repressão, a formação reativa, o 
isolamento e a sublimação. Todos esses mecanismos possuem duas características comuns: 
distorcem ou negam a realidade e operam inconscientemente, de modo que a pessoa não 
sabe as verdadeiras causas de seu comportamento. 
Projeção. O aspecto essencial desse mecanismo é a atribuição a outra pessoa de uma 
característica indesejável ou de um impulso perigoso. Um dos exemplos clássicos é a crença 
de uma pessoa pudica de que as outras pessoas estejam excessivamente interessadas em 
sexo ou sejam sexualmente incontroláveis. Subjacente a essa crença, existe o impulso 
libidinoso que aparece na preocupação com o comportamento sexual dos outros. Como a 
sexualidade é atribuída a outra pessoa e é acompanhada de reprovação, ela acaba tendo 
acesso à consciência, embora na forma de um sentimento hostil. Nesse caso, portanto, 
grande parte das ações do ego estão a serviço da libido. 
Na repressão os pensamentos, idéias ou desejos que causam ansiedade são colocados fora 
da consciência. A pessoa oferece uma enérgica resistência quando alguém tenta falar sobre 
o assunto. Comumente a repressão atinge todas as idéias que tenham qualquer elo 
associativo com o impulso reprimido. A repressão está presente em todos os mecanismos de 
defesa. 
Na formação reativa o indivíduo reconhece a existência de um impulso indesejável, mas 
impede sua expressão liberando energia do impulso diametralmente oposto ao primeiro. 
Essa estratégia defensiva geralmente está presente em comportamentos sociais que, 
embora desejáveis, são exagerados e rígidos. A pessoa que utiliza esse mecanismo procura 
não admitir outro sentimento a não ser aquele exageradamente manifestado. Esse é o caso 
de mães supeprotetoras, que não podem permitir que venham à consciência sentimentos de 
 
 
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hostilidade contra seus filhos. A formação reativa fica mais evidente quando as defesas se 
rompem, como quando uma pessoa que aparentemente era incapaz de fazer mal a uma 
mosca comete um assassinato violento. 
Algumas vezes a bondade pode ser uma formação reativa contra a maldade. Uma pessoa 
que faz atos filantrópicos com exagero pode estar querendo impedir que venha à tona o 
prazer que sente frente à vulnerabilidade dos outros. A hostilidade aparece quando ela passa 
a falar mal ou a ignorar os seus beneficiários com a justificativa de que eles foram ingratos e 
não souberam dar valor a quem tanto os ajudou. 
Outra forma de lidar com a ansiedade é o isolamento. No isolamento o conteúdo do impulso 
vem à consciência, mas o sentimento associado a ele é reprimido. 
Algumas pessoas parecem impermeáveis quando são insultadas. Elas agem como se não 
estivessem percebendo o que está acontecendo. Na verdade estão conscientes da intenção 
da outra pessoa, contudo não se sentem encolerizadas, ou, melhor dizendo, não deixam vir à 
tona seus sentimentos de cólera. Tais pessoas agem friamente, dando a impressão de que 
não há sentimentos a serem controlados. 
O isolamento pode estar presente nas atitudes de uma pessoa que faz uma rígida separação 
entre religião e ciência. Isso permite que ela interprete misticamente os fenômenos, para os 
quais aceita também uma explicação científica. Essa separação faz com que ela concilie sem 
dificuldades duas interpretações de alguns fenômenos naturais. 
Na sublimação o objeto original de gratificação do instinto é substituído por um cultural. 
Posteriormente, o instinto primário é totalmente afastado da consciência, ficando apenas a 
expressão cultural substituta. Conseqüentemente, o ego não precisa manter um constante 
controle sobre a expressão do instinto, pois a energia é completamente liberada.Freud 
interpretou a Madona de Leonardo da Vinci como uma sublimação dos desejos libidinosos 
que o artista sentia por sua mãe. 
O desenvolvimento da personalidade 
 
 
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Na teoria psicanalítica, a personalidade é resultante do desenvolvimento das estruturas (ego 
e superego), dos processos de pensamento e da sexualidade. 
Como já dissemos anteriormente, a vida psíquica é função de um aparato extenso e 
composto de várias partes. A mais primitiva delas é o id, que tem por conteúdo tudo o que é 
herdado, inato e constitucionalmente estabelecido. Os instintos originados na organização 
somática alcançam no id sua primeira expressão psíquica, da qual muitas formas ainda são 
desconhecidas. Esta parte primitiva do aparato psíquico continuará sendo a mais importante 
durante toda a vida. 
Sob a influência do mundo exterior, uma parte do id passa por uma transformação especial e 
adquire função mediadora entre o id e o mundo exterior. Este setor de nossa vida psíquica é 
o ego. 
A tarefa do ego consiste na autoconservação, que ele realiza de duas formas. Em primeiro 
lugar, por meio de um processo de aprendizagem, ele se adapta ao mundo exterior, 
gravando na memória as conseqüências dos estímulos, de forma que consegue fugir da 
estimulação desagradável e aproximar-se das situações agradáveis. Em segundo lugar, 
como resultado dessa experiência, o ego vai se caracterizando e adquire certo domínio sobre 
a estimulação interior (instintos do id). Graças a esse domínio ele pode selecionar os 
instintos que serão satisfeitos, bem como as condições mais favoráveis para isso. Essa 
atividade do ego é governada tanto pelas tensões provocadas pelos impulsos do id como por 
aquelas que vão se formando no seu contato com o meio social. O aumento da tensão faz 
com que o indivíduo experiencie um estado de desprazer, e a diminuição da tensão, um 
estado de prazer. Esses estados não têm uma magnitude absoluta. Representam apenas 
graus diferentes no ritmo geral das modificações. 
Na busca do prazer o ego responde com ansiedade a toda situação esperada ou prevista de 
desprezar. A ansiedade, portanto, só aparece na medida em que o ego acumulou um 
conjunto de experiências. 
A criança pequena é praticamente dominada pelo princípio do prazer, buscando a satisfação 
imediata de suas tensões. Quando essa satisfação é cerceada, a criança reage 
 
 
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emocionalmente, chorando ou dirigindo sua cólera para o obstáculo que a impede de obter o 
que deseja. Às vezes ela utiliza processos primários para diminuir a tensão (imagens 
mentais, sonhos, devaneios etc). 
Paulatinamente, os processos primários vão sendo substituídos pela satisfação real da 
tensão. Essa satisfação é realizada pelo ego que vai substituindo o princípio do prazer pelo 
princípio da realidade e os processos primários pelos secundários. Os processos 
secundários envolvem uma análise da realidade e a escolha do objeto para a descarga da 
tensão. Nesses processos predominam a aprendizagem, a consciência, a memória e a 
lógica. 
Ocasionalmente, o ego abandona sua conexão com o mundo exterior. Nesses momentos há 
uma modificação na organização do aparato psíquico: os processos primários voltam a ter 
predomínio. Isso ocorre nos estados de sono, nos devaneios, nos atos falhos etc. As 
manifestações que ocorrem nesses estados são muito importantes para o conhecimento do 
aparato psíquico, porque nesses momentos vem à tona parte do que estava sendo reprimido 
pelo ego. 
A transformação da relação parental em superego se faz por um processo de identificação. A 
identificação é uma forma de vinculação com outra pessoa; é a equiparação do ego de uma 
com o ego da outra. Inicialmente, a criança começa a se comportar como os pais por um 
processo de imitação, depois acolhe os seus valores, incorporando-os à sua personalidade. 
A partir do momento em que o controle parental torna-se interno é que se pode falar em 
superego. 
O comportamento de um menino de 3 a 5 anos de idade é marcado pelo complexo de Édipo. 
Como o menino se identifica com o pai, ele não somente quer ser igual a ele mas também 
escolhe o mesmo objeto para as suas catexes libidinosas. 
A ligação amorosa da criança com a mãe foi denominada por Freud de complexo de Édipo. 
Embora essa ligação se modifique e sofra repressão após os 5 anos de idade, as catexes 
originárias do complexo de Édipo permanecem como uma força vital da personalidade 
durante toda a vida. As atitudes para com as pessoas do sexo oposto, bem como para com 
 
 
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aquelas que representam a autoridade, são, em grande parte, determinadas pela forma 
como a criança resolveu o complexo de Édipo. 
O superego emerge do ego como um herdeiro do complexo de Édipo. O menino se sente 
ameaçado por temer as conseqüências de seu apego amoroso à mãe. O medo da castração 
leva-o a reprimir o desejo sexual pela mãe, bem como a hostilidade pelo pai. Essa situação 
resulta numa identificação com o pai, denominada de identificação com o agressor. Esse 
processo envolve uma relação ambivalente da criança com o pai. Os sentimentos hostis que 
o menino experimenta na situação edipiana geram ansiedade. Para se defender dessa 
ansiedade, ele reprime seus desejos agressivos em relação ao pai e passa a admirá-lo, 
introjetando seus valores. Torna-se, portanto, o mais semelhante possível a ele. É como se a 
criança seguisse o seguinte raciocínio: Se sou igual a ele e me comporto como ele, não 
posso ser punido. 
O medo da castração não é único motivo da repressão no complexo de Édipo, pois o mesmo 
sentimento ocorre nas mulheres, que não poderiam ter medo da castração. Outro 
componente na formação do superego é, pois, o temor de perder o amor dos pais. Quando a 
mãe está ausente ou retira seu carinho, a criança fica exposta às mais penosas situações de 
tensão, que vão desde a não-satisfação de suas necessidades básicas até a sensação de 
estar sozinha num mundo perigoso. O perigo da perda do amor dos pais faz com que a 
criança interiorize todos os valores dos mesmos. Esse processo se faz pela identificação que 
Freud denominou de anaclítica. 
A menina desenvolve inicialmente uma relação de amor e dependência para com as pessoas 
que cuida dela, ou seja, a mãe. Essa relação leva-a a escolher o pai como objeto de seu 
amor, por ter sido o objeto escolhido pela mãe. Quando a menina faz essa escolha, a mãe 
torna-se sua rival, gerando hostilidade na criança. Essa hostilidade também é superada pela 
identificação com a mãe. 
O medo da perda do amor não desaparece totalmente com o desenvolvimento do superego. 
Esse componente aparece nas situações em que uma pessoa experiencia sentimentos de 
culpa, envolvendo a ansiedade pelo medo de perder o amor ou a aceitação dos outros. 
 
 
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Alguns adultos que não resolveram adequadamente a identificação anaclítica no momento 
da formação do superego se tornam extremamente dependentes dos outros, manifestando 
uma conduta infantil. 
No adulto, um superego sadio reflete-se em um conjunto integrado de valores, na 
capacidade de aceitar abalos à auto-estima e aceitar limitações sem recorrer à fantasia. 
As formas de controle disciplinar exercidas pela família são muito importantes na 
determinação de um superego sadio. 
Grande parte da teoria psicanalítica do desenvolvimento refere-se à forma de expressão da 
libido. Freud acreditava que durante a infância os impulsos originários da libido se 
concentram em determinadas regiões do corpo, denominadas zonas erógenas. 
O desenvolvimento é biologicamente determinado e tem como ponto de referência as zonas 
erógenas. Durante os cinco primeiros anos de vida, a criança passa por três fases de 
desenvolvimentoque Freud denominou de pré-genitais. Ele acreditava que as atividades 
características de cada fase são de natureza sexual e exercem uma influência marcante na 
personalidade do adulto. 
A primeira região que surge como erógena é a boca, a segunda é o ânus e a terceira, os 
órgãos genitais. O desenvolvimento emocional da criança depende das interações sociais, 
das ansiedades e das gratificações que ocorrem para as atividades ligadas a essas partes do 
corpo. 
Desde o nascimento, a maioria das atividades da criança está concentrada na boa. Essas 
atividades têm a função de proporcionar a satisfação das necessidades de autoconservação 
e dos impulsos libidinosos. 
Para Freud, a sucção do polegar, a tendência da criança de colocar tudo na boca e o sugar 
no vazio mostram que existe uma necessidade a ser satisfeita que não está ligada somente à 
autoconservação. 
 
 
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Durante essa fase, com o aparecimento dos dentes, começam a se manifestar também os 
impulsos sádicos (ligados ao instinto agressivo), embora sua expressão seja esporádica. 
A agressividade manifesta-se com maior extensão durante a segunda fase. Essa fase foi 
denominada por Freud de sádico-anal, porque a satisfação se realiza na agressão e na 
função excretora. Ele justifica a inclusão dos impulsos agressivos na libido argumentando 
que o sadismo é a fusão dos impulsos libidinosos com os destrutivos. Essa fusão, que se 
inicia nessa etapa, permanecerá durante toda a vida. 
A terceira fase, fase fálica é a predecessora da forma final da vida sexual. Desse momento 
em diante os sexos se diferenciam. Os meninos entram na fase edipiana e as meninas 
sofrem sua primeira desilusão quando tomam consciência das diferenças existentes entre o 
homem e a mulher. 
Como já dissemos, o complexo de Édipo termina, no menino, por causa da ansiedade de 
castração. Nas meninas, a problemática edipiana não é tão intensa quanto nos meninos, por 
isso as mulheres desenvolvem um superego mais fraco e menos severo. Isso explica o fato 
de elas serem mais bondosas e mais compreensivas do que os homens. 
Os componentes de uma fase não são substituídos com o advento de outra. Eles podem se 
sobrepor ou ocorrer simultaneamente. Nas duas primeiras fases, os diferentes componentes 
instintivos começam a buscar o prazer independentemente um do outro. Na fase fálica, 
inicia-se uma organização que subordina a satisfação dos outros impulsos aos genitais. Essa 
organização só se completará na puberdade, ou seja, na quinta fase, fase genital, na qual há 
a conservação de algumas catexes primitivas que se incorporam à função sexual como 
atividades preparatórias. Outros impulsos, no entanto, são excluídos da organização. A 
energia gerada por esses impulsos ou é totalmente suprimida por um processo de repressão 
ou é expressa de outras maneiras, constituindo-se em característica da personalidade, ou 
ainda é sublimada com o deslocamento de seus fins. 
O processo de organização da vida sexual não se realiza sem dificuldades. Podem ocorrer 
inibições no seu desenvolvimento. Quando isso acontece, encontramos nas fixações da 
manifestação da libido características de qualquer uma das três fases iniciais. Nesses casos, 
 
 
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os impulsos da libido tornam-se independentes de seus objetivos sexuais normais e se 
transformam em perversões. 
Freud deu extrema importância às catexes dos cinco primeiros anos de vida na determinação 
da personalidade. Segundo ele, a personalidade é resultante, em grande parte, dos impulsos 
fixados nesse período. A isso se acrescentam os impulsos adquiridos por meio da 
sublimação e os mecanismos de defesa do ego, destinados a substituir os impulsos 
libidinosos e agressivos por outros socialmente aceitos. 
Entre a terceira e a quinta fases do desenvolvimento, há um período em que os impulsos 
sexuais apresentam certa calmaria, não ocorrendo nenhum progresso. Essa fase foi 
denominada de latência e não mereceu nenhum interesse por parte de Freud. Nesse período 
há o desenvolvimento dos processos cognitivos e a maior parte da energia psíquica é gasta 
no conhecimento do mundo. 
As proposições freudianas exerceram profunda influência na maioria dos estudiosos da 
personalidade. Alguns deles seguiram a linha psicanalítica, embora tenham rejeitado alguns 
conceitos e ampliado outros. Outros teóricos, no entanto, se dedicaram à comprovação 
experimental dos conceitos essenciais da teoria psicanalítica. Depois de algum tempo de 
pesquisa, rejeitaram toda a proposta dessa teoria quanto ao desenvolvimento da 
personalidade. 
Os atos delituosos dos neuróticos consistem, de modo geral, em furtos, mentiras, calúnias, 
fraudes, denúncias falsas, cartas anônimas, emissão de cheques sem fundo. Raramente 
esses enfermos praticam ações criminais violentas. Portanto, com referência ao problema da 
responsabilidade penal dos neuróticos não há dificuldades periciais: fora das crises eventuais 
que possam apresentar, não se deve negar a esses enfermos a capacidade de imputação, 
pois agem como pessoas normais (Bleuler). Os atos delituosos desses enfermos são 
imputáveis e os mesmos estão sujeitos às sanções penais correspondentes. 
 
 
 
 
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UNIDADE 4 
Objetivo: Compreender os fundamentos da psicopatologia, conjunto de conhecimentos 
referentes ao adoecimento mental e seus limites e aportes ao entendimento do ser humano 
Psicopatologia e psicologia do normal 
 
Normal ou Patológico em Psicopatologia Clínica 
Adalberto Tripicchio4 
Resumo 
Analisando os conceitos de normal e patológico segundo as principais correntes do 
pensamento psiquiátrico (a fenomenologia, a psicanálise e a anti-psiquiatria), o autor propõe 
repensá-los a partir do discurso próprio "louco" e da desidealização desses conceitos que 
enfatizam três dimensões: a real, a social e a humana. 
 
A colocação do problema 
Logo nas páginas iniciais de seu livro, Devereux (7) coloca em xeque a teoria psiquiátrica. 
Pois se esta se fundamenta sobre o conceito de normal e seu oposto, anormal (lido como 
patológico), a verdade é que o problema de conceituação desses termos não foi resolvido, 
nem ao menos ficou delineada a fronteira que os delimita e, por condição, define. A partir daí 
- isto é, de conceitos indefinidos - ergue-se uma semiologia bastante sofisticada que 
estabelece diagnósticos, que classifica, que coloca os indivíduos em locais precisos: os sãos 
e os loucos. E continua, numa subdivisão minuciosa, propondo-se a descrever a loucura de 
 
4 PhD em Medicina pela University of London Institute 
 Neurologista e Psiquiatra pela Univ. Paris VII - Dennis Diderot - Sorbonne 
 
 
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cada um, mas não a sanidade, vista como um todo unitário. Mesmo a "revolução 
psicanalítica" não trouxe mudanças substanciais à taxonomia psiquiátrica, porquanto as 
categorias ficaram (com maior ou menor sofisticação de detalhes). Foi preciso haver uma 
"invasão alienígena" para que a psiquiatria começasse a questionar esse arcabouço. 
Estudando grupos, e não indivíduos, sociólogos e antropólogos introduziram uma nova 
dimensão na análise da pessoa (dimensão que Freud apreendera, embora lendo do ângulo 
do indivíduo): a cultura. E perceberam também que esta apresentava tantas variáveis, de tal 
modo presentes na organização daquela pessoa, que Marx, anos antes, questionava o 
próprio conceito de "ser humano", enquanto um conceito abstrato. Assim, o problema 
conceitual torna-se mais complexo. Ao nível do orgânico, quando o que define é a 
possibilidade ou não de sobrevivência, ou a qualidade dessa sobrevivência, poderia sermais 
simples estabelecer a fronteira. Mas, ao lidarmos com comportamento, com sentimento, 
como definir? A partir de uma estreita correlação com a "vida dos órgãos" ou a partir de "uma 
análise filosófica da vida compreendida como atividade de oposição à inércia e à indiferença" 
(5)? De qualquer modo, lidamos com valores, posicionamo-nos ideologicamente frente ao 
problema (e haveria outra possibilidade?). 
A angústia do questionamento 
No entanto, não se trata aqui de uma elucubração a respeito de um tema filosófico: a 
oposição entre vida e morte, corpo e alma, saúde e doença, idealismo e materialismo ou 
alguns desses pares antitéticos que preenchem o corpo teórico da filosofia. Muito mais do 
que isso. É em cima de uma definição indefinida que calcamos a nossa prática médica. E 
esta é a angústia do questionamento. Porque frente aos nossos pacientes impõem-se dois 
níveis de compreensão: o social e o individual; o sociológico e o médico. Em outras palavras: 
o observar e analisar e o fazer (a partir de premissas teóricas que fundamentam e justificam 
essa prática, mas que não necessariamente são por ela determinadas). Pois que aquelas 
pessoas "doentes", "alteradas", de comportamento "anormal", algumas até necessitando de 
exclusão, mesmo que temporária, do mundo dos normais, estão ali à nossa frente agindo, 
falando, e seu discurso é essencial para a nossa ação, embora o invalidemos com um 
diagnóstico. Mas mesmo assim lá estão elas, agindo e interagindo, como fazem quaisquer 
 
 
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pessoas em outras situações. São algumas das entrevistas colhidas junto a tais pacientes de 
que me utilizo aqui para colocar o problema (2). E se Marx diz que "suscitar uma questão é 
resolvê-Ia", parece-me que não consegui suscitá-Ia adequadamente. Em busca de clareza, 
tento organizar algumas idéias, como numa primeira abordagem. 
 
Normal e Patológico: Uma questão de leitura? 
 
I. A busca de parâmetros - Que parâmetros são usados para definir, na prática psicoclínica, 
normal e patológico? 
- "Não estou doente não" - diz L. - "estou é com raiva daquela mulher" (da mãe-de-santo que 
lhe prometera um favor e não cumprira). 
 -"Não é doença não, doutora, é esquecimento" - diz H., não se recordando do nome de uma 
antiga paciente. 
Que parâmetros estão usando esses pacientes para distinguir doença de não-doença? 
A corrente fenomenológica lança os parâmetros na Psicopatologia. E o que nos diz ela a 
esse respeito? De início, define Jaspers o objeto da psicopatologia como "a atividade 
psíquica real e consciente [...]. Mas não se trata aqui de toda a atividade psíquica: apenas da 
patológica [...] (a não delimitação clara entre a psicologia e a psicopatologia) resulta do fato 
do conceito de doença não ser uma entidade [...] não atribuímos qualquer valor ao conceito 
preciso de doença física; nós nos baseamos em nossa intuição pessoal e, sobretudo no uso 
tradicional da divisão do trabalho quanto à delimitação de nosso tema de estudo". (11) Numa 
edição posterior consideraria fenômenos anormais como aqueles que "excedem o habitual 
em medida, grau e duração [...] as associações que se tornam hábitos mecânicos [...] A cisão 
ou dissociação (da vida psíquica) que acabe sendo definitiva e insuperável [...] o mecanismo 
de comutação do estado de consciência [...]"(12) Devemos lembrar que o primeiro parâme-
tro aproxima-se da colocação de K. Schneider, um dos principais teóricos da prática clínica 
 
 
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psicopatológica. Distingue ele enfermidade, que "existe apenas na esfera somática" e 
anormalidade, entendida como "apenas uma variedade do normal" (15). 
A corrente psicanalítica não busca tanto descrever os processos quanto entendê-los. "A 
resposta da psicologia freudiana a esta dicotomia é que tanto os processos mentais normais 
quanto os patológicos têm seu lado fisiológico e são ainda funções cerebrais amplamente 
desconhecidas [...] Não há diferenças fundamentais entre psicologia e psicopatologia: ambas 
seguem os mesmos princípios básicos" (1). Princípios esses que serão buscados no conflito 
intra-individual entre as "pulsões instintivas e as demandas ambientais, entre as pulsões 
instintivas e os padrões superegóicos e entre instintos opostos [...]"; o distúrbio decorre 
assim, de uma estruturação desviada da norma ou da expectativa para uma determinada 
idade, de tal monta que o propósito de adaptação fica apenas parcialmente realizado e assim 
o funcionamento do indivíduo é prejudicado" (10). Até aí estamos frente ao Homem - 
entidade abstrata, fora de qualquer contexto. 
Uma terceira corrente - a da antipsiquiatria - procuraria superar esta abstração. Diz Cooper 
(6): "Esquizofrenia é uma situação crítica microssocial, onde os atos e experiências de uma 
certa pessoa são invalidados por outros a partir de certas razões inteligíveis culturais e 
microculturais (usualmente familiais), ao ponto em que esta é eleita e identificada como 
sendo mentalmente enferma de certo modo, e então confirmada (por um processo de 
rotulação específico, embora altamente arbitrário) na identidade de paciente esquizofrênico 
por agentes médicos ou quase-médicos". 
A pessoa eleita teria sofrido um processo de socialização que lhe condicionaria uma "perda 
global ou parcial de validação consensual de sua auto-percepção e de sua hétero-per-
cepção". Negando a doença como processo intra-individual exclusivo e estendendo-a ao 
grupo, a antipsiquiatria ampliaria o conceito de normal e patológico, mas, reproduzindo-o, 
não o questionaria. 
II. Os auto-retratos - E O que dizem os interessados? Isto é, as pessoas rotuladas como 
"doentes mentais"? Aquelas pessoas cujas biografias passam a ser marcadas por um rótulo 
 
 
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de origem polêmica (interno/externo; adquirido/inerente à sua constituição; aceito/imposto 
etc.)? Formariam elas uma "quarta corrente"? 
- "Maluco é quem agride, mas eu estou quase doida, pois me irrito à toa. Sou até capaz de 
bater quando irritada." (Z). 
- "Doida é a que quer pegar, quer avançar no homem [...] mulher-homem, isso é doido [...] 
café demais dá loucura, café com leite dá nervoso [...] (louco) é ficar bom com choque [...] 
quem bate na mãe é maluco [...] (sobre a paciente que saía de alta) esta é assim [...], assim 
[...], não faz nada, nem a cama fazia." (N). 
- "O que tenho é problema de nervos. Tomo remédio já estou boa." (M.) 
"Não gosto de estar em casa. Meu pai me chama de doido, eu não gosto." (Ne.). 
- "Eu só estava querendo acender velas p'ros mortos, mas N. e M. estão aqui e se me virem 
vão falar com o diretor; vão dizer a ele que estou maluca, que estou querendo botar fogo no 
hospital [...]. (Aquele hospital) é uma carnificina: se o sujeito ri vai para a triagem, se chora 
vai também, não é todo mundo que agüenta ver essas coisas." (L.). 
- "Qual é o caso de seus pacientes que a senhora não deixa trabalhar? Os que são 
agressores?" (In.). 
- "Estou tomando remédios e fiquei assim, sem vontade de trabalhar, sem vontade de 
conversar, com as idéias atrapalhadas. Isto foi do tombo que levei, não foi?" (E.) 
- "Ela não é doente não, é cachaça mesmo [...] aquela lá é que não quer comer; há dois dias 
não come p'ra fazer charme p'ro marido. (Vovó Marina) não comia de desgosto porque a 
família tirou o IPASE dela e a internou como indigente; quando ela veio para cá já era tarde, 
estava toda queimada por dentro; desgosto; ainda bem que eu estava de alta; se eu 
estivesse aqui teria ficado maluca." Sobre outra paciente, pergunto se está "fazendo 
charme": "não, esta é louca mesmo." (X.) "era uma doçura, muito boa. Um dia ela disse que 
viu o disco-voador e o marido a internou; quem sabe ela viu mesmo?" (o marido) fazia ela 
descer dez andares de barriga (grávida) para buscar Coca-Cola

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