Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESENHA SOBRE UMA AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA POLÍTICA DE EXPANSÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS Luciana Vasconcelos da Costa FAVERI, Dinorá Baldo de; PETTERINI, Francis Carlo; BARBOSA, Marcelo Ponte. Uma avaliação do impacto da política de expansão dos Institutos Federais nas economias dos municípios brasileiros. Planejamento e Políticas Públicas, n. 50, 125-147, jan./jun., 2018. O artigo tema dessa resenha é intitulado “Uma avaliação do impacto da política de expansão dos Institutos Federais nas economias dos municípios brasileiros”, de autoria de Dinorá Baldo de Faveri, Francis Carlo Petterini e Marcelo Ponte Barbora, e foi publicado em 2018 na revista Planejamento e Políticas Públicas (PPP), editada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O objetivo do estudo era estimar os efeitos de curto prazo da implantação dos novos campi dos Institutos Federais (IFs) - unidades da rede federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) - sobre um conjunto de indicadores socioeconômicos dos municípios beneficiados, uma vez que não encontraram estudos de monitoramento e avaliação quantitativa que procurassem analisar se os objetivos da política de expansão estão sendo alcançados de alguma forma. De acordo com Faveri, Petterini e Barbosa (2018), no início dos anos 2000, 140 IFs estavam em funcionamento e, entre 2004 e 2016, foram criadas 504 novas unidades. Os autores explicam também que esse crescimento se deu devido à mudança de paradigma durante o governo Lula iniciada em 2003, objetivando consolidar e democratizar a EPT para reduzir desigualdades de oportunidades entre os jovens, ofertar educação alinhada com as necessidades locais e estimular a fixação e a permanência de profissionais qualificados no interior do pais. De acordo com o Ministério da Educação - MEC, o Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional procurou melhorar a distribuição espacial e a cobertura das instituições de ensino e, assim, ampliar o acesso da população à EPT no país (BRASIL, 2018). Esse novo desenho constituído traz como principal função a intervenção na realidade, na perspectiva de um país soberano e MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE INSTITUTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICOS ESPECIAIS EM GESTÃO PÚBLICA II inclusivo, tendo como núcleo para irradiação das ações o desenvolvimento local e regional. O papel que está previsto para os Institutos Federais é garantir a perenidade das ações que visem a incorporar, antes de tudo, setores sociais que historicamente foram alijados dos processos de desenvolvimento e modernização do Brasil, o que legitima e justifica a importância de sua natureza pública e afirma uma educação profissional e tecnológica como instrumento realmente vigoroso na construção e resgate da cidadania e da transformação social. (BRASIL, 2010, p. 21). O MEC aponta que o Plano inicialmente era um instrumento de política voltado às 'classes desprovidas' e que se configura atualmente como importante estrutura para que a sociedade tenha efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas (BRASIL, 2018). Destaca-se o importante papel dessa expansão do IFs na redução da desigualdade, impactando assim no crescimento do país, uma vez que a educação é uma ferramenta essencial para isso. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (2018), o baixo nível de escolarização está relacionado aos altos índices de desigualdade de renda. Além disso, segundo a OCDE (2018), o Brasil possui um dos maiores números de adultos que não têm ensino médio e a escolarização de nível superior ainda é baixa se comparada aos países da OCDE e aos países da América Latina, embora tenha aumentado tenha aumentado nos últimos anos. Faveri, Petterini e Barbosa (2018) apontam que essa mudança foi baseada em quatro ideias iniciais: i) oferta de uma educação mais ampla do que apenas a instrumentalização técnica ao aluno de EPT; ii) todo IF deveria possuir organização pedagógica verticalizada – da educação básica à superior (do técnico ao doutorado) -, possibilitando, assim, a atuação docente em diferentes níveis de ensino, visando atrair professores melhor qualificados; iii) necessidade de uma estrutura multicampi e autônoma, a fim de identificar problemas da região e criar soluções técnicas e tecnológicas para um desenvolvimento sustentável e com inclusão social; iv) apoio ao atendimento das modalidades de educação de jovens e adultos (EJA), educação a distância (EaD), cursos de formação técnica continuada e cursos técnicos subsequentes, bem como auxiliar a implantação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), utilizando, dessa forma, o espaço físico das instituições como base para ampliação de outras políticas educacionais para a redução de iniquidades sociais e territoriais. Segundo Faveri, Petterini e Barbosa (2018, p. 130), em 2016, ao final dessa expansão eram “644 IFs atendendo a 568 municípios, e em várias unidades os níveis de ensino também passaram a atender aos cursos de graduação, pós-graduação e formação continuada”. De acordo com Tischer, Turnes e Rocha (2020), as Instituições de Ensino Superior (IES) contribuem com as regiões onde estão inseridas através da formação profissional e da capacidade de impulsionar regiões e localidades atingindo municípios com a economia estagnada. Para isso, além de realizar uma revisão da literatura acerca da EPT, tanto no âmbito nacional quanto internacional, o referido artigo apresenta a estratégia empírica para identificar potenciais efeitos da política, explorando os 134 de novos campi instalados entre 2004 e 2009 em municípios de porte médio e desfavorecidos de estruturas similares e os Censos de 2000 e 2010 – combinados com outras bases de dados -, permitindo assim o uso das regressões de diferenças em diferenças. A avaliação das políticas públicas é uma ferramenta muito importante para que os recursos públicos sejam usados de forma mais eficiente e para que haja o aperfeiçoamento das políticas públicas e da gestão pública. Além disso, os resultados da avaliação possibilitam o controle social, assim a sociedade terá ciência sobre o que está sendo feito, se a política pública é benéfica ou não, se traz as vantagens prometidas pelos gestores, como está sendo gasto o dinheiro público, ter conhecimento amplo do custo-benefício da política pública. A metodologia econométrica de pareamento por escore de propensão e diferenças em diferenças utilizada por Faveri, Petterini e Barbosa (2018) teve como objetivo testar hipóteses de causalidade de impacto da política. O estudo estabeleceu grupos comparáveis de municípios a partir da técnica de pareamento por escores de propensão, obtidos pela estimação da probabilidade ex ante de um município ser escolhido para abrigar um campus. Segundo o Ministério da Educação (MEC) (BRASIL, 2011), os critérios para o recebimento de um campus teriam sido de três ordens: i) “social” – o município teria um percentual elevado de pessoas em situação de pobreza e/ou renda média abaixo de R$ 1.000 ao mês; ii) “geográfica” – a população seria em torno de 50 mil habitantes e/ou seria uma cidade-polo de uma microrregião não atendida por IFs; e iii) “desenvolvimentista” – haveria um significativo número de “arranjos produtivos locais” e/ou estaria no entorno de grandes investimentos estruturantes. (FAVERI; PETTERINI; BARBOSA, 2018, p. 132). A partir dos histogramas das cidades que receberam os IFs referentes à renda per capita, população, região e ano de implantação, os autores afirmam que os critérios estabelecidos pelo MEC foram atendidos. O artigo teve como escopo teórico as análises de eventuais indicadores de impacto de curto prazo para intervenções similares em outros países feitas porBlackwell, Cobb e Weinberg (2002), Bleaney et al. (1992) e Boucher, Conway e Van der Meer (2003). A partir disso, o artigo teve como foco as variáveis: i) PIB per capita municipal; ii) renda per capita municipal em salários mínimos; iii) salário médio dos trabalhadores formais; iv) média dos anos de escolaridade da população com mais de 24 anos; v) Gini (0 a 100), calculado pelo IBGE; vi) IDH (0 a 100); vii) taxa de desocupação (%), dada pela parcela das pessoas desocupadas em relação às pessoas economicamente ativas; viii) taxa de empregos formais (%), dada pela razão entre os números de empregados formais e de pessoas economicamente ativas; ix) taxa do emprego público (%), dada pela razão entre os números de empregados no setor público e de pessoas economicamente ativas; e x) taxa do emprego de nível superior (%), dada pela razão entre os números de empregados formais com nível de educação superior e de pessoas economicamente ativas. De acordo com os autores, os resultados obtidos apontaram que “houve impacto pequeno e estaticamente significante nos municípios com menos de 70 mil habitantes” (FAVERI; PETTERINI; BARBOSA, 2018, p. 127). Além disso, verificaram que alguns efeitos exigem um período de amadurecimento da nova estrutura para que sejam observados. Faveri, Petterini e Barbosa (2018) associaram o impacto positivo sobre o PIB per capita ao “efeito-gasto”1, capaz de estimular o nível de demanda de municípios de pequeno porte imediatamente. Ademais, o artigo apontou influências sobre o salário médio, a taxa de desocupação e a taxa do emprego de nível superior para municípios com campus estabelecido há mais tempo, sugerindo assim a existência de “efeito- conhecimento”2. Os autores, no entanto, observam que esses impactos podem estar 1 O efeito-gasto são os investimentos na estrutura dos IFs, em seus servidores e os valores que eles gastam com alimentação, habitação, e que influenciam a economia local e tem como foco a análise de indicadores agregados (FAVERI; PETTERINI; BARBOSA, 2018). 2 O efeito-conhecimento está “relacionado à criação ou ao aumento de capital humano, (...), beneficiando a economia como um todo” (FAVERI; PETTERINI; BARBOSA, 2018, p. 130), tendo como foco o acompanhamento de coortes dos alunos, identificando se os egressos estão inseridos na área de formação e/ou na região em que ocorreu a formação. relacionados à incorporação dos profissionais das IFs à mão de obra local do que ao aumento da produtividade local, tendo em vista o limitado recorte temporal do estudo, que considerou campi com menos de dez anos de implantação. O estudo apoiou-se na revisão da literatura internacional para interpretar os resultados, apontando evidências de que os movimentos de expansão (interiorização, diversificação, adaptação curricular) costumam demorar décadas para serem refletidos e consolidados nos indicadores econômicos agregados. Além disso, os autores ressaltam que os impactos são mais bem identificados quando os egressos são acompanhados através de coortes, o que possibilita que os resultados sejam mensurados através de microdados dos ex-alunos, - ratificando que a identificação de impactos de longo prazo depende do acompanhamento dos egressos de forma individualizada - e destacam que, durante a formulação e a implantação da política, parece não ter havido preocupação com o monitoramento de indicadores de impacto. O governo brasileiro investiu nos IFs como política pública para a construção e democratização do conhecimento e apostou neles como espaço primordial na construção dos caminhos para o desenvolvimento local e regional, entretanto, cabe questionar se os municípios e as regiões que receberam os campi também fizeram investimentos em políticas públicas para manter os profissionais e os egressos na localidade ou na região, atraindo novas empresas ou até mesmo melhorando a estrutura da cidade para, quiçá, fixar esses profissionais, levando em consideração os efeitos gasto e conhecimento abordados pelo artigo de Faveri, Petterini e Barbosa (2018). Tendo em vista que os autores sinalizaram dados necessários para obter-se resultados mais próximos da realidade, além de outras abordagens, como, por exemplo, a aplicação de métodos de econometria espacial para analisar o raio de influência de um campus de IF, a estimativa dos efeitos combinados das políticas de expansão dos IFs e das Universidades a partir da redefinição das variáveis do modelo relativas à condição de tratamento dos municípios, e o mapeamento do volume investido e os custos envolvidos na implantação dos campi, para avaliar o custo- benefício dessa política pública, percebe-se o quanto avaliações como essa contribuem para demonstrar os reais efeitos das políticas públicas, se estão proporcionando benefícios para a sociedade e contribuindo para o crescimento do país, se os recursos públicos estão sendo aplicados da melhor maneira, além de possibilitar o aperfeiçoamento da política e da avaliação, REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Expansão da Rede Federal. Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec-programas-e-acoes/expansao-da-rede- federal. Acesso em: 21 out. 2020. ______. Ministério da Educação. Um novo modelo em Educação Profissional e Tecnológica: concepções e diretrizes. Brasília, DF, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6691 -if-concepcaoediretrizes&category_slug=setembro-2010-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 21 out. 2020. FAVERI, Dinorá Baldo de; PETTERINI, Francis Carlo; BARBOSA, Marcelo Ponte. Uma avaliação do impacto da política de expansão dos Institutos Federais nas economias dos municípios brasileiros. Planejamento e Políticas Públicas, n. 50, 125-147, jan./jun., 2018. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/742/464. Acesso em: 15 out. 2020. OCDE. Education at a Glance 2018: Country Note Brazil. OECD Publishing, Paris, 2018. Disponível em: http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/estatisticas_educacionais/ocde/edu cation_at_a_glance/Country_Note_traduzido.pdf. Acesso em: 21 out. 2020. TISCHER, Wellington; TURNES, Valerio Alecio; ROCHA, Isa de Oliveria. A expansão das Instituições de Ensino Superior (IES) como empreendimentos regionais no Brasil – uma discussão a partir do uso de metáforas. Revista Política e Planejamento Regional, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 171-190, maio a agosto, 2020. Disponível em: http://www.revistappr.com.br/artigos/publicados/A-expansao-das- Instituicoes-de-Ensino-Superior-(IES)-como-empreendimentos-regionais-no-Brasil--- uma-discussao-a-partir-do-uso-de-metaforas.pdf. Acesso em: 20 out. 2020.
Compartilhar