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AULA 11 - PENAL I

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AULA 11 – CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
1. Conceito: conflito aparente de normas: ocorre quando, aparentemente, para um mesmo fato, mais de uma norma poderá ser aplicada. 
· Uma mãe que mata seu filho recém-nascido sob influência do estado puerperal (logo após o parto) norma que prevê o crime de infanticídio (Art. 123 do CP) e a norma que prevê o crime de homicídio (Art. 121 do CP). Nesse sentido, devendo respeitar ao princípio do non in bis idem, a mãe não pode responder, simultaneamente, ao crime de infanticídio e ao crime de homicídio;
 
· Por outro lado, no caso do assassinato da atriz Daniella Perez através de mais de quarentena facadas realizadas pelo ex-ator Guilherme de Pádua, é perceptível a existência de dois fatos distintos – as lesões corporais antes da morte e o assassinato. 
2. Requisitos: 	 
· Unidade de fatos: As normas devem tratar do mesmo fato;
· Pluralidade de leis penais em vigor: As normas em conflito se encontram em vigência no momento da análise (como no caso das normas relacionadas ao infanticídio e ao homicídio)
3. Finalidade:
· Evitar o bis in idem, ou seja, que a pessoa seja punida duas vezes pelo mesmo fato; 
· Manter a coerência do ordenamento jurídico, isto é, visa à manutenção da segurança jurídica; 
4. Princípios para a solução do conflito aparente de normas: 
4.1 - Especialidade: A norma especial prevalece sobre a norma geral. Por exemplo, ainda no caso destacado, o crime de infanticídio corresponde a um homicídio de cidadãos específicos: crianças (norma especial = norma geral + elemento especializante) e, por conseguinte, deve prevalecer na análise do caso concreto. Daí a justificativa para a nomenclatura “conflito aparente” de normas. 
A mãe de Bruno, sendo funcionária pública, após subtrair determinado bem, responderá ao crime de peculato (Art. 312 do CP) - crime de furto praticado por funcionário público no exercício de sua função ou em razão dela. Nesse sentido, há, novamente, no crime de peculato, uma norma geral (furto) somada a um elemento especializante (ser funcionária pública). A situação apresentada é distinta da hipótese da professora Mayana subtrair o tablet situado em uma das salas da Faculdade Baiana de Direito, tendo em vista que ela responderá ao crime de furto pelo fato de não ser funcionária pública (não há, aqui, um elemento especializante); 
A pena que se encontra vinculada à norma não é fator determinante para a seleção de qual norma irá prevalecer. Isso é ilustrado no fato de que, considerando os dois exemplos trabalhados, prevaleceram o crime de infanticídio (02 a 06 anos de reclusão) em relação ao crime de homicídio (06 a 20 anos de reclusão) e o crime de peculato (02 a 12 anos de reclusão) em relação ao crime de furto (01 a 04 anos de reclusão); 
OBS: É o princípio com maior relevância na contemporaneidade, sendo os outros utilizados quando este não for suficiente. Ademais, o princípio da especialidade corresponde ao único capaz de ser aplicado em abstrato, divergindo-se dos demais que exigem uma análise pautada no caso concreto. 
4.2 - Subsidiariedade: Uma das normas em conflito somente será aplicada se um crime mais grave não acontecer. Aqui é perceptível uma relação de gravidade, devendo-se analisar o caso concreto para decidir qual norma será aplicada. 
Considerando a situação hipotética de Bianca foi forçada a dançar em público após ameaça da professora Mayana. Nessa perspectiva, há a atuação do princípio da subsidiariedade devido a não ocorrência de nenhum fato mais grave ao constrangimento ilegal. 
Entretanto, em uma outra situação abstrata, João forçou uma garota a se relacionar sexualmente com ele. Embora tenha ocorrido um crime de constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), prevalecerá na análise o crime de estupro devido à maior gravidade (Art. 123 do CP). 
 
4.3 - Consunção ou absorção: Pode ser aplicado em quatro situações:
· Crime complexo: É aquele que reúne elementos de mais de um tipo penal. No Art. 147 do CP é previsto o crime de ameaça, no Art. 155 do CP tem-se o crime de furto e, no Art. 157 tem-se o crime de roubo (crime complexo por unir os conteúdos dos artigos 147 e 155). Nesse sentido, um indivíduo que subtrai determinado bem através de grande ameaça, responderá ao crime de roubo. 
· Crime progressivo: Crime de ação de passagem. A título exemplificativo é possível realizar um resgate do homicídio da atriz Daniella Perez proveniente de mais de quarentena facadas. Apesar de antes do homicídio terem ocorrido profundas lesões corporais à atriz, o crime de homicídio se sobrepõe na análise; 
· Progressão criminosa: Mudança de dolo - quando o sujeito começa a praticar o ato ele apresenta uma intenção e, no decorrer da ação, ele muda o dolo e resolve cometer, por exemplo, um crime mais grave. Essa particularidade é considerada rara no âmbito do Direito Penal, tendo em vista que, geralmente, há a análise de uma única intenção desde o início. 
Por exemplo, nem todo tiro apresenta intenção de matar, mas essa intepretação deve ocorrer a luz do caso concreto, já que a intenção de um indivíduo que dispara um único tiro contra a perna de outrem é distinta da intenção de um indivíduo que dispara quinze vezes contra a cabeça de outrem. 
· Fatos impuníveis:
Por exemplo, um indivíduo que entra em um domicílio sem consentimento dos residentes e furta um determinado bem, responderá ao crime de furto (Art. 155) e não do crime de invasão de domicílio (Art. 150 do CP) pelo fato do crime de invasão de domicílio ser considerado um antefato impunível. Nessa perspectiva, é nítido que a invasão de domicílio de domicílio correspondeu apenas ao meio pelo qual o infrator conseguiu para atingir o seu objetivo, visto que um furto pode ocorrer sem, necessariamente, a invasão de domicílio, isto é, com a entrada e permanência consentida pelos residentes; 
O que o indivíduo realiza depois do ato ilícito não é objeto de averiguação por parte do Direito Penal. Por exemplo, um indivíduo que rouba um celular, geralmente, possui o objetivo de vendê-lo. Essa venda focada no vendedor é irrelevante para o Direito Penal pelo fato de constituir um pós-fato impunível (tendo em vista que aquele que compra responderá, se descoberto, ao crime de receptação – Art. 180 do CP); 
OBS: A súmula 17 do STJ considera a falsidade documental como um antefato para a prática de estelionato (Art. 171 do CP). Quando a falsidade documental continua provocando lesões que não se exauriram no primeiro estelionato, não ocorrerá a absolvição.

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