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Aula 1 - A mutabilidade da técnica e os caminhos científicos do século XX

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A mutabilidade da técnica e os caminhos cien-
tíficos no século XX
 
Textos 
 
 Marcel Mauss [Antropólogo] – Sexta 
parte: As técnicas do corpo 
 Eric Hobsbawm [Historiador] – Era dos 
Extremos (Capítulo 18: Feiticeiros e Apren-
dizes) 
Objetivos 
↪ Deixar claro como para discutir técnicas 
e tecnologia não existe a possibilidade 
de se desconectar do mundo social 
e histórico, devido a isso buscamos rela-
tivizar a referida técnica 
↪ Entender qual a relação do ser humano 
com a aplicação massiva das tecnologias no 
século XX na sua rotina 
↪ Como os problemas sociais do século 
XX afetam a maneira como a ciência en-
tende o mundo 
Primeira parte: O 
corpo como instrumentos 
da técnica 
 
 Abstração de como a técnica e o 
mundo social estão intrinsicamente co-
nectados 
↳ Como que para fazer as mesmas 
coisas objetivas, cada cultura a aplica 
de uma forma diferente 
 
Corpo como instrumento e sua 
técnica 
 
 Técnica do ponto de vista antropoló-
gico, é um ato tradicional e eficaz 
(ordem mecânica/física/físico-quí-
mica) 
↳ Tradicional pois depende da trans-
missão de como realizar algo, e não 
há transmissão se não houve tra-
dição 
↳ Diferente de outros animais, seres 
humanos possuem a capacidade de 
transmitir estes atos tradicionais (fa-
zer um bolo/móvel) 
 
↪ É possível também a existência de atos 
eficazes que não são considerados tradici-
onais, pois não abrange a transmissão de 
conhecimento (fazer algo completamente 
novo) 
 A técnica normalmente envolve a mani-
pulação de algum instrumento 
↳ Verificando as possibilidades de 
transmissões de técnicas a partir do 
instrumento mais básico de todos: 
o corpo humano 
 As técnicas que utilizam o corpo como 
instrumento são regidos pelo habitus, 
que é a maneira como os indivíduos 
pensam e se comportam 
↳ Esse fator varia conforme a cul-
tura, sociedade, educação, moda, 
noções de prestígio e história 
↪ Nos comportamentos e ações que se 
assemelham totalmente pessoais e individu-
ais do corpo e das técnicas em geral é 
onde se deve observar a obra da razão 
prática coletiva, algo que está para além 
do indivíduo. 
↪ A partir disso, Mauss passa a observar 
como diferentes populações realizam ativi-
dades que parecem naturais para a nossa 
sociedade, pois não costumamos relativizar 
estas técnicas. Dessa forma, seguimos de-
terminadas regras sociais que normalmente 
nos são imperceptíveis. 
 Por conta da definição de técnica, pode-
mos dizer que a autoridade social está 
imbricada na ação individual 
↳ Segundo Durkheim, autoridade 
social/fato social são justamente 
estas regras da sociedade 
Importante 
Para que seja considerada uma técnica, deve 
haver uma transmissão de informação com 
eficácia de ordem mecânica/físico-química 
Por conta disso nem todo ato tradicional é 
necessariamente uma técnica, pois existem 
atos tradicionais de eficácia religiosa ou mo-
ral 
Ir na igreja em determinado dia para se rela-
cionar com Deus 
 
“ É preciso ver técnicas e a obra 
da razão prática coletiva e 
individual, lá onde geralmente se 
vê apenas a alma e suas 
faculdades de repetição ”
As técnicas então são SEMPRE cultural-
mente, historicamente e socialmente deter-
minadas, estando em constante transforma-
ção de acordo com as mudanças da sociedade 
e de determinado povo. 
Não podemos pensar em ciência sem pensar 
nestas determinações sociais, pois técnica 
envolve tradição (transmissão de conheci-
mento), e apesar de serem técnicas objetivas, 
carregam a tradicionalidade de seus méto-
dos. 
Pode haver associação de técnicas entre cul-
turas diferentes, essa permutação intercultu-
ral pode ocorrer de diversas formas dife-
rente. 
Franceses começam a andar de forma seme-
lhante a americanos por conta do cinema, 
pois transmite uma nova técnica do andar. 
 Sabemos então que as técnicas NÃO 
possuem um caráter natural, possibili-
tando o questionamento e relativização em 
relação a sua eficácia 
↳ Existem diferentes conjuntos de 
métodos de produzir ciência e tec-
nologia 
 
Segunda parte: A rela-
ção entre ciência e socie-
dade no século XX 
 O século XX foi o que mais se 
abasteceu das ciências naturais, que 
começa a se organizar sistematicamente, e 
em contradição, temos uma sociedade que 
se sente desconfortável com sua aplica-
ção 
↳ Crescimento exponencial de cien-
tistas e engenheiros (8 mil → 5 mi-
lhões), fenômeno da especialização 
↳ Maior geração de tecnologias 
no cotidiano (surgimento de cen-
tros de pesquisa, universidades) 
↳ Ciência revela notável importância 
para a economia e para a constitui-
ção da sociedade 
 
↪ Criamos uma sociedade que passa a ser 
agora dependente das tecnologias 
descobertas e desenvolvidas nesta época, 
mas que não compreendem seu funciona-
mento, pois à medida que avançam e se 
tornam mais pervasivas, acabam se afas-
tando da compreensão do cidadão co-
mum 
 
 Com isso, a tecnologia baseada na ciência 
deu o compasso do crescimento eco-
nômico mundial com a popularização de 
aparelhos da vida diárias 
↳ Esse avanço se estendeu para a 
periferia do capitalismo com a Re-
volução Verde 
 
O conceito de técnica do Mauss 
nos permite relativizar e 
desnaturalizar o que é tecnologia e 
ciência, pois são todos atos que 
utilizam de referências tradicionais 
e eficazes
A partir da alta especialização das áreas do conheci-
mento, a ciência começa a ficar cada vez menos com-
preensível para os não cientistas e cientistas de di-
ferentes áreas. 
 
Apesar da percepção da prestabilidade da 
tecnologia nessa época (final séc. XIX/co-
meço séc. XX), NÃO decorria esta compreen-
são da ciência como inconcebível para a vida 
cotidiana. 
Pelo desamparo e incompreensão do cidadão 
comum, estamos em uma tendência para um 
retorno do ideal científico do século XIX? 
Que negaciona a ciência em detrimento dos 
fundamentos da autoridade? 
Características do século XX 
↳ Avanço da tecnologia 
↳ Especialização do trabalho dos cientistas 
↳ Aparecimento da tecnologia na vida coti-
diano 
↳ Ordem econômica começa a ser definida 
pela tecnologia 
↳ Incompreensão do cidadão comum 
 
 
Consequências da desconfiança 
↪ Desamparado causado pela ciência in-
centiva busca de autoridade superior 
(OVNIS) além de outros fenômenos que a 
ciência não poderia explicar 
↳ Em referência a atual situação 
mundial, temos submissão da autori-
dade pela própria ciência, que causa 
insatisfação a sociedades e líderes 
políticos que buscam ultrapassar es-
tas condições 
Controle político da ciência 
 Tentativas constantes de controle po-
lítico e econômico da prática científica 
↪ Até a metade do século XX os cien-
tistas eram politizados. O auge foi na 
segunda Guerra Mundial, onde induziram 
(exortaram) a construção da bomba atô-
mica no governo americano e britânico 
↪ Gradualistas x Catastrofistas: en-
quanto um acredita em uma mudança gra-
dual (imperialismo, levar civilização às soci-
edades), o outro se encontra dentro de 
uma realidade catastrófica (bomba nuclear, 
guerras) que passa a moldar a prática cien-
tífica 
Medo e desconfiança 
Segundo Hobsbawn, o avanço da ciência e tecnologia ge-
rou medo e desconfiança a quatro sentimentos associá-
veis: 
1. O de que a ciência era incompreensível; 
2. O de que suas consequências práticas e morais eram 
imprevisíveis; 
↳ Consequência da tecnologia, uma vez que vi-
vemos sob seu domínio 
3. O de que ela acentuava o desamparo do indivíduo; 
↳ Sentimento de solidão, não existe mais pre-
ponderância no processo da ciência e se desen-
volve a carência de um “guia” em autoridade 
(rei) como referência de fundamentos da socie-
dade, porém a ciência não obedece a argumen-
tos de autoridade 
4. O de que ela abala os fundamentos (solapar) da auto-
ridade. 
Temos hoje as questões 1 e 2 aplicadas para processos 
atuais, como as teorias acerca da utilização e consequên-
cias davacina. No caso da questão 4, podemos mencionar 
a indicação de medicamentos ineficientes para a COVID 
como fundamentos de autoridade, ignorando constata-
ções científicas. 
Efeito Lisenko – Quando uma teoria que não tem 
fundamento científico nenhum se “veste” de ciência 
para ter algum tipo de autoridade ou respeitabili-
dade 
 
 
 
 
O que veremos posteriormente 
→ Anos 70 e os movimentos ecologistas; 
→ Limitações práticas e morais da investi-
gação científica (engenharia genética) 
→ Ciência com objetivos instrumentais. A 
ideia de que a “ciência pura” é apenas com-
preensível na medida que possibilita a pro-
dução de algo útil. Financiamento da pes-
quisa pelos interesses do Estado. 
→ Como a ciência se organiza no século 
XX, espontâneo ou através do Estado? 
Temos então que os fenômenos 
sociais possuem o poder de guiar 
a constituição da ciência em dado 
momento histórico

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