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M E D I C I N A F M R P - U S P TURMA LXIX REDAÇÕES FUVEST 2020 Scanned with CamScanner NOTA: 41 A ciência como ferramenta no mundo contemporâneo O desenvolvimento da ciência fez-se presente na humanidade desde a Antiguidade. Dito isso, aponta-se que, na Grécia Antiga, os pré-socráticos utilizavam métodos empíricos e científicos para elaborar teorias, tal como o Teorema de Thales e o Teorema de Pitágoras, ambos utilizados hodiernamente. Desde então, é possível perceber que estudos científicos compõem importante parte da vida social, tal que, na Contemporaneidade, as ciências humanas, exatas e da natureza unem-se em prol do benefício da sociedade. Então, afirma-se que, no período vigente, o papel da ciência é de colaborar para o desenvolvimento do globo, seja como ferramenta de análise ou de construção. A priori, nota-se que as ciências humanas têm papel de estudar a sociedade e as relações humanas. Diante disso, aponta-se que Emilie Durkheim, considerado o fundador da sociologia, estudou conceitos como anomia e solidariedade orgânica, ou seja, diagnosticou, a partir da análise do comportamento humano coletivo, características que se referem à ausência de sentido (anomia) e às formas de relacionamento interdependente na Modernidade (solidariedade orgânica). A partir disso, percebe-se que o estudo da sociedade permite analisar aspectos positivos e negativos da humanidade, tal que demonstra que o papel das ciências humanas no mundo contemporâneo é de diagnosticar problemas – como a anomia – e propor alternativas que buscam melhorias no convívio social – como a solidariedade orgânica -, ou seja, apresentam papel de ferramenta de análise. A posteriori, as ciências exatas e da natureza têm papel primordial na evolução técnica do globo. Assim, cita-se a III Revolução Industrial como evento marcante para a tecnologia, tal que o desenvolvimento de aparatos que permitiram a ampliação dos meios de transportes e comunicações foi atingida graças ao apoio de teorias científicas, as quais culminaram em conhecimento necessário para a concretização de tal marco. Outrossim, aponta-se que esse evento é demasiado importante para o mundo contemporâneo regido pela Globalização, no qual o aumento de fluxos dentre todas as regiões do globo foi permitido pelo acúmulo de técnicas da III Revolução Industrial. Sendo assim, infere-se que a ciência é uma ferramenta que constrói teorias para promover o desenvolvimento da humanidade. Portanto, em vista dos argumentos supracitados, conclui-se que o papel da ciência no mundo contemporâneo é de ferramenta para culminar no progresso humano. Destarte, as ciências humanas permitem análise da sociedade, diagnóstico de problemas e proposição de soluções que buscam melhorar o convívio social. Já as ciências exatas e da natureza permitem evolução técnica e somatório de condições que resultam em desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, todas as áreas da ciência unem-se em prol do benefício da sociedade. NOTA: 40 Ciência no século XXI: conhecimento e democracia As sociedades de hiperconsumo do século XXI são, segundo Gilles Lipovetsky, marcadas pela mercantilização da felicidade, de modo que o consumo de roupas ou calçados, por exemplo, atua como uma verdadeira pílula de felicidade. Nesse contexto, os indivíduos estão sujeitos a um processo de imbecilização - o qual causa a privação do saber crítico e o desprezo pela ciência, visto que eles são não servem à lógica esquizofrênica do consumismo e do individualismo. Trata-se, conforme afirma Carl Sagan, de uma civilização global em que elementos fundamentais - como a educação, a medicina e a própria democracia - dependem da ciência, a qual é, todavia, profundamente incompreendida. Assim, o papel da ciência no mundo contemporâneo é o de conter o avanço nefasto da ignorância e o de proteger os regimes democráticos. A ignorância, sobretudo por meio das redes sociais, adquire uma enorme capilaridade no tecido social. Não por acaso, segundo Alicia Kowaltowski, as pessoas utilizam produtos derivados do conhecimento científico, como celulares e computadores, a fim de, paradoxalmente, negar a ciência. A expansão do movimento antivacina é um exemplo notório dessa contradição absurda, em que a recusa em se vacina provoca efeitos devastadores - como a reaparição do sarampo em 2019. Desse modo, a ciência serve o papel de combater a disseminação da ignorância, de forma a auxiliar na reconstrução do saber crítico nas sociedades de hiperconsumo do século XXI. Além disso, segundo Eric Hobsbawn, a ausência de lastro no conhecimento histórico permite o revisionismo oportunista e, portanto, a ascensão de tecnocracias. A título de exemplo, a eleição de Jair Bolsonaro - o qual demonstra profundo desprezo pelas ciências humanas -, permitiu o avanço da mineração e do garimpo ilegal em reservas indígenas Yanomamis. Isso é uma flagrante violação de direitos humanos, visto que há a danificação irreparável de um patrimônio material e imaterial fundamental a essas populações. Assim, a ciência possuí o papel de preservar o conhecimento, de modo a impedir a ruína dos regimes democráticos de direito. O papel da ciência no mundo contemporâneo é, pois, o de combater a alienação provocada pelo hiperconsumismo e o de defender as democracias liberais. De fato, a ciência deve prevenir o esfacelamento dos elementos que alçaram a modernidade ao progresso: o conhecimento e a democracia. NOTA: 38 Drummond, antirrosas e utopias O homem sempre buscou - busca - a verdade: o surgimento das religiões comprova que precisamos de algo em que acreditar. É a ciência, atualmente, que nos permite sonhar e persistir rumo às utopias. Entretanto, se serve ao nosso progresso, também serve a nossa destruição: a "antirrosa atômica", metáfora de Vinicius de Moraes para a bomba atômica que atingiu Hiroshima, nos permite conferir um papel ambíguo às ciências, as quais, ao mesmo tempo, levam-nos da realidade aos sonhos, das utopias às distopias. Nessa linha de raciocínio, Drummond de Andrade, no poema "A Ingaia Ciência", tacitamente revela tal ambiguidade: a maturidade, para o eu-lírico, tem seus benefícios, entretanto, o conhecimento que a acompanha torna o homem infeliz. De fato, se a ciência é uma das ferramentas que aproxima o homem da verdade, também é a que toca em nuances como a morte, tabu que o assombra desde sempre. Em "A Máquina do Mundo", também de Drummond, o eu-lírico deixa clara sua aversão à verdade "fácil" ao negar o conhecimento oferecido pela Máquina, a mesma verdade também é relativizada em "A Relíquia", de Eça de Queirós, quando Jesus é confrontado por Pilatos. A busca pela verdade, entretanto, atrelada à ciência, é uma geradora de utopias, as quais mantém o homem rumo ao progresso: saber que é possível atingir a felicidade, o prazer eterno de um mundo justo, faz com que a sociedade funcione como funciona atualmente. Buscamos recompensas por nossas ações, e é fato que a ciência oferece algo a se objetivar - o que varia de pessoa para pessoa. De utopia à distopia, entretanto, basta bem menos que a troca de prefixos: armas nucleares, sistemas de tortura e teorias eugenistas sempre foram embasados na ciência, o que a confere um poder capaz de submeter o próprio homem. Desse modo, a ciência, no mundo contemporâneo, exerce papeis ambíguos: ainda que permita ao homem sonhar, também permite que ele se destruae destrua aos outros. A rosa "sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada" simboliza não só o poder que as ciências conferem ao ser, mas também a multiplicidade de horrores que podem causar. NOTA: 43 Alicerce sólido, edifício frágil Importante vanguarda do século XX, o futurismo foi marcado por obras artísticas que exaltavam a tecnologia, que trouxe elementos como a grandiosidade e a velocidade, os quais encantaram os olhos humanos e se tornaram essenciais para o funcionamento da sociedade. Quanto a isso, as cores vibrantes e o dinamismo das pinturas futuristas mostram a ciência que é exterior aos indivíduos, os quais, até hoje, vivem sem uma compreensão interna e plena do conhecimento científico, cujo papel é, portanto, bastante discutível. O avanço da ciência mostrou-se evidente nas Revoluções Industriais, pelas quais grande parte do mundo passou, e resultou no progressivo aumento da presença da tecnologia na rotina e no modo de vida do ser humano. Como consequência, diversas práticas do século XXI dependem do desenvolvimento técnico, o que pode ser visto, então, como o alicerce do grande edifício que vem se construindo: a sociedade contemporânea. No entanto, grande parte desse prédio humano carece de informação, a liga que seria essencial para o sucesso da edificação do corpo social. Em outras palavras, embora rodeada pela tecnologia possibilitada pelo avanço científico, a população encontra-se distante do conhecimento baseado na pesquisa e na comprovação, necessário para preencher os fragmentos que fragilizam essa estrutura em construção. Ademais, o conhecimento que nasceu restrito a uma elite intelectual continua sendo usado para marginalizar a maioria da população. Como ilustração, a universalização da internet tem trazido a falsa sensação de democratização do conhecimento, ao agilizar e facilitar o acesso à informação. No entanto, constantemente bombardeados por notícias e dados e influenciados pelo imediatismo das relações atuais, os usuários de sites e aplicativos despreocupam-se quanto à veracidade e à fonte das informações, o que contribui para a propagação de discursos superficiais, limitando o campo de influência do embasamento científico e da comprovação, de modo a aprofundar o abismo entre o saber e a ignorância. Dessa forma, sobre a sólida base da ciência e como próprio resultado de seu avanço, constrói-se uma estrutura fragilizada pela inexistência de raizes que conectem a população à cultura da descoberta. Sendo assim, somente o alicerce científico não é suficiente para manter a estrutura do mundo contemporâneo. Carente de mecanismos que enraizem o conhecimento em si, os blocos humanos são frágeis. O grande edifício construído pelo Homem tende a ceder, se a liga de cultura não for democratizada e usada para a libertação do povo em relação à ignorância. NOTA: 39.5 A instrumentalização do saber científico O Iluminismo, ocorrido na Idade Moderna, foi uma corrente que se destacou ao indicar a razão científica como essencial ao desenvolvimento humano. Os intelectuais de destaque da época, como Carnot, Rousseau e Kepler, pertenciam à aristocracia e compreendiam a ciência simplesmente como um passatempo. Na época contemporânea, contudo, o saber tomou outra dimensão, tornando- se muito mais vinculado à detenção do poder e ao controle das massas. A obra inglesa Fahrenheit 451 aborda um cenário distópico, no qual os bombeiros são encarregados de queimar todas as obras literárias existentes. Desse modo, o governo despótico controla o conhecimento científico e, consequentemente, a população. A ciência passa a exercer a função de mecanismo de controle das massas e da dinâmica comportamental. O sociólogo francês Michel Foucault aponta esse fenômeno em que as organizações governamentais exercem seu poder através de manobras de controle populacional, científico e comportamental. Foucault denominou como biopoder tal submissão de um sujeito ou grupo a determinado saber científico. De tal modo, o biopoder sustenta a ideia de que “saber é poder”, o que implica em que o controla da ciência está atrelado ao poder. Desse modo, muitos discursos se conceituam na dialética erística, de Arthur Schopenhauer, na qual o objetivo da argumentação é vencer o debate e, assim, controlar a razão, mesmo que o indivíduo faça uso recorrente de falácias e falsos argumentos científicos. Essa técnica aparece, contemporaneamente, em discursos de movimentos terra-planistas e anti-vacinas. Tais ideias arriscam o desenvolvimento científico e especialmente a saúde pública. O saber científico recebeu diferentes concepções no decorrer da história: já foi visto como heresia, na Idade Média, e como salvação na Idade Moderna. No mundo contemporâneo, assume papel central na política e sociedade. A ciência passa a ser mecanismo de controle do poder e das massas. Portanto, a máxima “saber é poder”, em uma sociedade contemporânea, é válida apenas quando “controlar o saber é poder”. NOTA: 45 O decifrar do caos "O caos é uma ordem por decifrar". O trecho extraído do romance "O Homem Duplicado", de José Saramago, explicita a compreenssão da dinamicidade caótica na qual os processos mundanos decorrem. Decerto, em consonância com a epígrafe, o saber científico auxilia a percepção dos fenômenos globais por intermédio da análise objetiva da realidade hodierna. Dessa forma, o papel da ciência perpetua o entendimento acerca dos valores inerentes à condição humana que, por conseguinte, são integrados aos elementos humanistas culturais que edificam os sistemas democráticos no mundo contemporâneo. A priori, a autonomia cognitiva propiciada pela difusão dos saberes científicos liberais corrobora um pensamento crítico concernente aos acontecimentos atuais. Nessa conjuntura, a obra literária "1984", de Georg Orwell, expõe uma distopia em que o controle das ciências pelo Ministério da Verdade - órgão estatal especializado em distorcer o conhecimento- integrado à educação escolar propicia cidadãos acríticos que aceitam as decisões arbitrárias do governo orwelliano. Assim, ao mitigar essa realidade de opressão social, as ciências instigam a liberdade de expressão no século XXI. Outrossim, o estudo científico acerca das ideologias obsoletas, propulsoras de desigualdades, que permeiam o mundo contemporâneo colabora a progressão democrática das sociedades vigentes. Sob tal óptica, a filósofa alemã Hannah Arendt conceitua a "banalização do mal" como a naturalização de paradigmas retrógrados -sociais e econômicos- na cognição humana com o intuito de perpetuar violências simbólicas promotoras da manutenção de lógicas de poder segregacionistas. Dessa maneira, os ideais e as tecnologias elucidados pela ciência auxiliam a compreenssão de desigualdades- como o racismo e a pobreza- contestadas por manifestações em prol do bem-estar social. Destarte, entre a autonomia psicológica e o esclarecimento de ideologias, as ciências propiciam um entendimento no que tange ao valores intrínsecos à humanidade liberal. Ademais, a proliferação de ideais de liberdade e a organização de manifestações sociais são características relacionadas ao papel científico na contemporaneidade. Portanto, o decifrar do caos perpetua a ordem democrática no mundo hodierno. NOTA: 38.5 A bota da manipulação “Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano — para sempre.” Essa passagem, do livro “1984”, de George Orwell, retrata a busca incessante pelo poder e pela dominação naquela sociedade distópica. Analogamente ao que o livro narra, vive-se, hoje, um retrocesso — caracterizado pela ascensão do conservadorismo e pelo esvaziamento dos valores humanistas —, no qual se observa paulatino descalabro da função da ciênciaem relação ao que se desenhou originalmente. Hoje, dialeticamente, a ciência vem se tornando instrumento de dominação de acordo com as manipulações estabelecidas pelos detentores do poder e é, por conseguinte, desvalorizada. Tais detentores do poder, como as forças mercantis e o próprio governo, através da ideologia e da manipulação das massas, promovem, sob o olhar dos indivíduos, a desvalorização da ciência. Concomitante a isso, alimentam-na como instrumento de dominação — assim como no livro “1984”. Como se vê, depende-se cada vez mais da ciência. Nesse cenário, evidencia-se a onipresença da ciência e da tecnologia na vida das pessoas, que não mais se desvinculam, em uma relação que apresenta caráter dialético. Toda dinâmica do universo é regida por relações dialéticas — ou seja, pela complementariedade entre facetas que se opõem. A ascensão da ciência, que promove, entre outros fatores, avanços tecnológicos, na contemporaneidade, não é diferente. De fato, facilita o cotidiano e permite melhor compreensão dos fenômenos. No entanto, ao ser delineada de acordo com o interesse de poucos, a ciência se torna mecanismo de controle, através do qual as pessoas são levadas a se fechar aos deleites dos processos naturais da vida — o que se relaciona à narrativa de George Orwell, em que o Estado totalitário controla àquilo que os indivíduos têm acesso — e a se afastar do desenvolvimento científico. Nessa direção, o interesse pela ciência míngua e ela se torna, ainda, rejeitada, de acordo com interesses conservadores. Como se vê, é evidente que a ciência, atrelada ao atual momento de retrocesso vivido, se encontra controlada por poucos, poderosos, de acordo com seus interesses. Dessa forma, para se evitar que o futuro se concretize, de fato, como uma bota a pisotear um rosto humano, devido à manipulação por meio do poder e da dominação, deve-se promover uma educação adaptada aos novos tempos, visando à retomada do ímpeto inicial dos desenvolvimentos científicos e do interesse pela ciência, findando a atual rejeição a ela estabelecida. NOTA: 38.5 A ciência e o anti-intelectualismo O desenvolvimento tecnológico e sua influência no mundo. Essa foi uma das pautas estudadas pelo geógrafo brasileiro Milton Santos. Se em um primeiro momento predominava o meio natural e as pessoas se submetiam aos ciclos da natureza, a ciência e a tecnologia mudaram essa relação. Dessa forma, o desenvolvimento de técnicas cada vez mais avançadas permitiu que a humanidade e a natureza exercessem igual influência (meio técnico) e até que a humanidade dominasse a natureza, como na atualidade. Observando-se a vida no meio técnico-científico- informacional, pode-se afirmar que essa depende completamente da ciência e de sua tecnologia. Entretanto, na contemporaneidade, a ciência vem perdendo força, devido ao fortalecimento de um movimento anti-intelectualista. Primeiramente, é preciso caracterizar o contexto atual quanto à dependência da ciência. Após séculos de exaltação contínua do conhecimento científico, fato este que se iniciou com o Renascimento Cultural no século XIV e perdura até hoje, diversas tecnologias foram desenvolvidas. Dentre essas encontram-se meios de transporte e comunicação extremamente eficientes que permitem que a humanidade domine o meio natural. Por isso, pôde-se afirmar que, atualmente, a humanidade depende dos produtos da ciência para realizar desde tarefas simples, como cozinhar, até tarefas complexas, como viajar dezenas de milhares de quilômetros. É preciso ressaltar que umas das tecnologias mais influentes na pós-modernidade são as redes sociais, que atuam como meio de contato entre as pessoas, podendo ser utilizada para convocar protestos, como observado na Primavera Árabe, e como um mecanismo de difusão de informações. Entretanto, mesmo em um contexto de dependência direta da ciência, essa vem perdendo influência na sociedade atual. Tal fato é causado pelo fortalecimento de um movimento anti- intelectualista, marcado pela valorização e afirmação de opiniões pessoais sobre pesquisas e fatos científicos. O surgimento desse está diretamente relacionado às redes sociais. Isso porque essas permitem a divulgação em massa de notícias e informações que nem sempre são verdadeiras. Todavia, como defendeu Leandro Karnal, quando bombardeado por informações, os indivíduos tendem a legitimar aquelas que são favoráveis a seus pontos de vista pré-existentes. Tal fato leva à formação de um cenário no qual opiniões pessoais são consideradas como verdades absolutas, mesmo quando combatidas pela ciência, o que enfraquece essa. Um exemplo desse fenômeno foi o discurso do atual presidente Jair Bolsonaro acerca do nazismo. Isso se deve ao fato de que as opiniões pessoais do presidente, e a presença de “comunismo” no nome do partido de Hitler, foram suficientes para que ele afirmasse que o nazismo era de esquerda, mantendo seu posicionamento mesmo quando contrariado por pesquisadores de totalitarismo. Em suma, pôde-se afirmar que a sociedade atual é dependente da ciência em diversos aspectos da vida. Contudo, mesmo nesse contexto, há um atual enfraquecimento dessa, causada pelo fortalecimento de um movimento anti-intelectualista. NOTA: 33.5 A ciência no mundo atual A ciência é o princípio da civilização. Desde a Revolução Agrícola, de milhares de anos atrás, até a física moderna de Albert Eisntein e sua incrível teoria da relatividade o conhecimento cientifico se liga ao progresso. Nesse sentido, levanta-se o questionamento sobre o papel da ciência no mundo contemporâneo. Dentro dessa perspectiva, é possível identificar duas funções fundamentais, a sustentação da sociedade e o aumento da qualidade de vida. Primeiramente, entende-se que a ciência é a base para a construção do conjunto social. isso porque toda a estrutura civilizatória, como a política, a agricultura, a industria e a educação são derivadas do avanço da ciência e apenas se mantêm funcionando através de conhecimento cientifico em constante transformação. Prova disso é a Revolução Verde, a qual ao unir avanço do saber a tecnologia constata as falhas da teoria de Tomas Maltus, que afirmava o crescimento populacional em PG e a produção de alimentos em PA, ao produzir modificações na produtividade suficientes para elevar o estoque acima do comum. sem esses avanços Maltus provaria-se verdadeiro e a fome provocaria caos na sociedade e mortes humanas. Com isso, é visível que os progressos no campo das ciências são as estruturas que sustentam a sociedade. Além disso, vê-se que a vida humana tem melhorado graças ao conhecimento. As vacinas, os antibióticos, a higiene pessoal e o sistema de esgoto são avanços que aumentaram a expectativa de vida e ajudaram na qualidade desta. Recentes pesquisas da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp) criaram vacinas contra a doença viral, dengue, que é fatal nos casos hemorrágicos e tem sofrido modificações constantes cada vez mais fatais. Já no sertão nordestino, pesquisas para dessalinizar a água estão em andamento, uma vez que a seca nesse local é um problema que impacta negativamente a vida do sertanejo. Esses exemplos são apenas uma pequena mostra do grande impacto da ciência na qualidade de vida do homem contemporâneo. Portanto, faz-se notável que o conhecimento possibilita a manutenção da grande estrutura social, a qual o homem está inserido, assim como torna a vida mais satisfatória. Dessa forma, entende-se que assim como a Revolução Agrícola e a teoria da relatividade, novas formas de conhecimento virão para preencher mais o papel da ciência no mundo. NOTA: 44.5 Tecnologia: a faca dedois gumes Até meados do século XX, o racionalismo e a ciência eram considerados fatores essenciais para uma sociedade ser considerada civilizada. Com o final da ll Guerra Mundial, em 1945, no entanto, quando a bomba pairou sobre a cidade de Hiroshima, a tecnologia passou a ser questionada quanto aos benefícios e malefícios que ela causa ao homem. De fato, a ciência no mundo contemporâneo tem o papel de garantir conforto e facilidades à vida humana; mas, utilizada de forma irresponsável e irracional, ela pode gerar sérios problemas à sociedade, ao meio ambiente e ao saber. É inegável que o desenvolvimento científico contribuiu para elevar a qualidade de vida do homem moderno. As ciências médicas, por exemplo, possibilitaram a contenção de diversas epidemias, como a da gripe suína e da ebola, o que poupou a vida de diversos indivíduos, fato que não ocorreu quando a peste negra assolou a Europa no século XlV. Além disso, diversos produtos, como automóveis e aparelhos eletrodomésticos, surgiram para facilitar e agilizar as atividades mais simples do cotidiano. Vale ressaltar, entretanto, que grande parte dessas tecnologias são produzidas a partir da superexploração de recursos naturais e seu descarte contribui para a geração de lixo urbano nas grandes cidades. Assim, do mesmo modo que a ciência desenvolveu essas tecnologias no passado, hoje, por meio de pesquisas e estudos ecológicos, ela deve criar novos produtos e formas de produção mais sustentáveis, visando à diminuição dos impactos negativos provocados por ela. Outro ramo importante para o qual a ciência contribuiu foi o comunicação. Com a Revolução Técnico-Científica Informacional, o mundo se viu inteiramente interconectado, o que contribuiu positivamente para o debate de ideias e a liberdade de expressão, direitos das democracias atuais. A fluidez da informação no meio digital, contudo, favoreceu a proliferação de "fake-news" e pesquisas pseudocientíficas, que ao invés de contribuírem para a difusão do conhecimento, o deturpam e o distorcem. Exemplo disso é o crescimento de movimentos antivacina, após ser divulgado falaciosamente na "internet" que vacinas causam autismo. Desse modo, a ciência tem o papel de garantir o conhecimento básico à população e impedir que questionamentos irracionais sejam difundidos. A ciência possui, pois, ação ambígua no mundo contemporâneo. De um lado, ela resolve problemas cotidianos e facilita a vida humana. De outro, ela, paradoxalmente, contribui para a destruição do mundo e do conhecimento. Logo, a menos que utilizemos a ciência com responsabilidade, continuaremos a segurar a faca de dois gumes que é a tecnologia. NOTA: 43 Sociedade Científica O saber científico é construído a partir de comprovações. Para isso, utiliza a observação, o raciocínio e os experimentos. O objetivo disso é fundamentar o conhecimento em bases sólidas, a fim de fugir de dogmatismos e tornar possível que as descobertas possam ser utilizadas pela sociedade. Hoje, tudo se relaciona com a ciência, desde as coisas mais simples, como a folha de papel, até as mais avançadas, como as naves espaciais. Contudo, ela não é compreendida por todos e as suas próprias tecnologias digitais auxiliam na sua rejeição. Assim, o papel de criticar e inovar exercidos pela ciência continua, mas é necessário que ultrapasse as barreiras acadêmicas e atinja a sociedade. Para o filósofo iluminista René Descartes, a ciência deve ter um método rigoroso de questionamento constante. No entanto, hoje, a existência de diversos algoritmos no meio digital cria bolhas que isolam os indivíduos em suas próprias ideias. Isso, porque esses mecanismos analisam os padrões de busca e navegação de seus usuários, selecionando, por meio disso, o que será exibido para essas pessoas. Dessa forma, a sociedade vai perdendo sua criticidade, pois deixa de entrar em contato com diferentes visões de mundo. Nesse sentido, apesar da ciência estar em praticamente tudo, os seus próprios frutos, como a internet, atenuam o pilar de sua existência, o questionamento. Logo, a sociedade atual está cada vez mais alheia ao pensamento científico. Como decorrência disso, os movimentos anticiência ganham forças, já que as pessoas estão perdendo seu filtro crítico. Prova disso é o movimento terraplanista, que nega a esfericidade da Terra. Sem métodos científicos para sustentar suas ideias, seus adeptos negam os experimentos de Keppler, Galileu e Newton, que se dedicaram a observar e provar seus argumentos. Por conta da falta de conhecimento dos métodos e da importância da ciência, esses movimentos ganham força, uma vez que criam falsas verdades, originadas pela falta de questionamento e de criticidade para lidar com ideias falsas, também típicas do meio virtual. Nessa análise, se a ciência fundamenta tecnologias que auxiliam na sua própria rejeição, ela estaria se direcionando para um caminho autodestrutivo. Isso se justifica pelo fato dela não incluir a sociedade, apenas fornece a esta as suas inovações, como se as tecnologias fossem dissociadas da ciência. Dessa maneira, o papel da ciência não deve se limitar às inovações, mas também assumir a responsabilidade de incluir as pessoas em seu meio, tornando-as críticas. Com isso, a ciência não deve apenas compreender, mas também ser compreendida, para que suas criações não se voltem contra ela. Portanto, o papel da ciência, hoje, é de incluir a sociedade em sua função crítica e inovadora. Sem isso, ela estaria caminhando em uma trilha que a direcionaria ao seu fim. NOTA: 40 Kant jamais poderia imaginar o que a razão e o desejado “Esclarecimento” seriam capazes de conquistar. Com eles, a ciência e o desenvolvimento tecnológico produziram, entre outros, máquinas, transgênicos e internet, fazendo com que a humanidade atingisse mais do que filmes de ficção conseguiram projetar. A ciência passou, dessa forma, a ocupar todos os lugares do cotidiano de forma a melhorar a qualidade de vida do ser humano. Apesar dessa realidade, e dos bens que o desenvolvimento científico trouxe, a sociedade, hoje, vive o paradoxo de, ao mesmo tempo, ter satélites e terra planistas; ter provas do aquecimento global e negadores de sua existência. Ora, se aquele que é fruto do esclarecimento e responsável por tantos benefícios, é negada, talvez, o papel da ciência seja lutar contra essa escuridão. Cabe avaliar, inicialmente, que a ciência, no seu percurso do desenvolvimento tecnológico, sempre manteve seus conhecimentos compreensíveis a parcelas restritas da humanidade. Isso significa dizer que a complexidade de seus processos não era explicada de forma acessível a população em geral. Exemplo disso são os centros acadêmicos em que até lordes ocuparam, como Lorde Kelvin. Nesse sentido, mesmo que nesses centrosfera a física mais precisa estivesse sendo estudada, fora deles, para as pessoas comuns, explicar a esfericidade da Terra seria algo extremamente complexo. Em função desse processo mútuo de esclarecimento para alguns e escuridão para outros, nem mesmo os avanços obtidos pela ciência foram suficientes para que a sociedade confiasse nela. O fato é que aquilo que é estranho à alguém, torna-se fonte de desconfiança e de descrédito, como nas palavras de Drummond, uma ingaia ciência, ou seja, uma ciência inútil, apesar das respostas obtidas. Dessa maneira, o papel do desenvolvimentocientífico de melhorar a qualidade de vida do ser humano perdeu o seu reconhecimento pela sociedade. Por isso, como Kant, a ciência deve buscar a razão e o “Esclarecimento”, mas não apenas para o desenvolvimento, e sim também para tirar da escuridão quem a nega, tornando-se acessível como nunca fora. Afinal, para terra planistas e negacionistas do aquecimento global, falta-lhes a explicação clara e evidente que só a ciência pode lhes fornecer. NOTA: 48 Engrenagens do Motor Em “A máquina do Mundo”, o poeta Carlos Drummond de Andrade recita como essa máquina, que apareceu no meio de um caminho pedregoso, é essencial para a resolução das questões e das dúvidas humanas. Sabe-se que, para a sociedade, essa máquina é a ciência. Foi a ciência, por intermédio da cartografia, que garantiu a ocorrência das Grandes Navegações. Foi a ciência, por meio da termodinâmica, que garantiu a ocorrência das Revoluções Industriais. E a ciência que, hoje, soluciona as dúvidas humanas e garante a sobrevivência da população. Concomitantemente, entretanto, há indivíduos que a negam, fogem da máquina do mundo e questionam: qual o papel da ciência na contemporaneidade? Sem a ciência, no século XV, o continente americano permaneceria isolado dos demais. Sem a ciência, no século XIX, a população não teria acesso às ferrovias. Ao longo dos séculos, o desenvolvimento tecnológico cumpriu um papel crucial no progresso humano, visto que foram as suas engrenagens que permitiram o deslocamento do motor da história. A Globalização e a integração promovida, o desenvolvimento médico-sanitário e a Revolução Técnico-Científica Informacional são apenas algumas das conquistas que essa máquina do mundo trouxe na contemporaneidade. Porém, e se a sociedade ignorasse essa máquina? O infindável e pedregoso caminho enfrentado por Drummond seria novamente uma realidade e todo o progresso alcançado com o motor da história estaria a milhares de quilômetros de distância. A ciência é essencial para que haja o desenvolvimento humano, cujas peças são os componentes do motor da história. Ainda há, todavia, indivíduos questionando atualmente a veracidade desse progresso. Simultaneamente à pesquisa de células-tronco para o transplante de órgãos, a eficácia das vacinas é questionada. Simultaneamente à construção de satélites visando à exploração de sistemas solares distintos, a esfericidade da Terra é duvidada. A ciência, que sana as dúvidas da sociedade, tornou-se, para alguns, o objeto de dúvida. Enquanto, para a população feudal europeia do século X, o desconhecido é amedrontador, atualmente o superconhecimento é que assusta a sociedade. O que se tinha como truísmo é indagado e a máquina do mundo, para esses indivíduos, não é a engrenagem do motor da história, mas sim uma arma que prejudicará a população. E é por meio dessa perspectiva retrógrada que o papel da ciência de progresso e de aprimoramento humanos é suprimido atualmente, pois o seu valor é banalizado, sucateado e, muitas vezes, ignorados devido à influência dessas pessoas questionadoras. Logo, na contemporaneidade, a ciência não recebe muitas vezes o seu devido valor. A sociedade, há séculos, aceitou entrar nessa máquina do mundo de Drummond. Máquina essa que garantiu o deslocamento do motor da história e, consequentemente, do progresso humano. Sem ela, a integração humana e o desenvolvimento da saúde e da tecnologia atuais seriam apenas ilusões presentes em apenas mais um poema análogo ao de “A Máquina do Mundo”. Contudo, há indivíduos que questionam a ciência e desejam negar seu papel. Desejam transformar a máquina em uma pseudo-arma. Desejam jogar o motor da história no ferro-velho. E, assim, desejam voltar a caminhar na travessia pedregosa e infindável da ignorância. NOTA: 48.5 Instagram existiria sem Nagazaki e Hiroshima? No conto machadiano “Ideias de canário”, um pássaro, com atributos humanos, acredita que o mundo se resume a uma loja de Belchior, e “todo o resto é ilusão e mentira”. Assim como o canário saiu da gaiola, o homem, ao utilizar-se da ciência para compreender o mundo e melhorar suas condições de vida, também expande o seu horizonte. No entanto, a utilização da ciência nem sempre é só de expansão, mas também é retração. Numa análise de expansão, isto é, benéfica da ciência entende-se que o homem, por meio dela, consegue explicar grande parte da realidade, de modo que o mundo não se resuma à “achismos” de aves presas em gaiolas. Isso é feito por meio da análise, investigação e experimentação do mundo em diferentes campos de atuação, como História, Biologia, Física e outros. Assim, é possível explicar tanto como as plantas fazem fotossíntese, mas também o motivo pelo qual as pirâmides do Egito foram construídas. A partir dessas descobertas, além da ampliação do conhecimento que adquirimos sobre o mundo, há a possibilidade da criação de ferramentas que nos auxiliam a comunicar (celulares computadores), locomover-se (carros, aviões, trens),interagir com os outros (Instagram, Facebook), produzir alimentos de forma produtiva (transgenia, adubos, fertilizantes). Nesse sentido, há a expansão do que entendemos sobre o mundo e da sua possível utilização através da ciência. Todavia, a ciência também adquire uma conotação de retração, ou seja, negativa, quando é utilizada pelo homem para aprisionar outros em gaiolas, ou até mesmo para destruir seus mundos. Nessa perspectiva, movimentos “antivacina” e “terraplanistas” inserem-se na tentativa de utilizar a própria ciência contra si mesma, a fim de que, por meio do aprisionamento de indivíduos em gaiola, onde é dito que a terra é plana e vacina provoca autismo, seja possível usufruir financeiramente , como ocorreu nos EUA, em que um médico, aliado a indústrias farmacêuticas, disse que a vacina era precurssora do autismo, para impedir que as pessoas as utilizassem e, com isso, aumentasse a procura por medicamentos genéricos. Além disso, em casos extremos, a ciência também é utilizada para destruir mundos, como ocorreu, por exemplo, em Hiroshima E Nagazaki que tiveram suas populações devastadas, através das bombas atômicas, ou melhor, das inovações científicas, em nome de uma guerra. De acordo com Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco “, uma ação virtuosa é aquela que se situa na mediana entre dois extremos, isto é, entre a falta e o exagero. Nesse sentido, o homem, ao utilizar-se da ciência, precisa buscar o equilíbrio entre a falta da ciência e o excesso de sua utilização, para que o papel dessa seja libertar os homens de suas gaiolas sem que nesse ato eles se espatifem numa asa de um avião. NOTA: 36 Redescobrindo o passado O filme "O garoto que descobriu o vento" , baseado em fatos reais, conta a história de um menino que realiza um avanço incrível para sua vila, inventa um moinho de vento. Para muitos esse feito pode parecer banal e até ultrapassado, a final, vivemos atualmente em uma sociedade repleta de avanços tecnológicos, fazendo com que esqueçam-se que a vida nem sempre foi dessa maneira. A ciência é o que proporciona, em todos os seus campos de atuação, o conforto e a praticidade que desfrutamos, sendo a base para praticamente todas as atividades no mundo moderno. Apesar disso,com a passagem dos tempo e das gerações, chegamos a um ponto em que a maioria dos jovens e adultos não sabe como era a vida à 50 anos, e as gerações que cresceram beneficiadas por todos os avanços científicos, começam a esquecer-se de sua importância no cotidiano. A banalização de descobertas seculares vem levando a descrença, e a ciência, que desde o Renascimento tem simbolizado a libertação para o homem, para a ser duvidosa, enquanto opniões sem fundamento tomam lugar como verdades absolutas, sem espaço para discussão. Deste modo, assim como o apresentado pelo sociólogo Habermas, nossa sociedade ainda não atingiu o uso pleno da razão e a resolução de conflitos pelo método dialógico, por meio de debates, e mais do que isso, tem presenciado o ressurgimento de teorias infundamentadas e que já haviam sido superadas, como a terraplanista. Esses fatos mostram um caminhar no sentido da ignorância, em um tempo no qual a maioria busca saber apenas como as coisas podem ser úteis para si e a curiosidade pela descoberta vem gradualmente se perdendo. Entretanto, a ciência não perdeu sua importância, as pessoas é que tornaram-se incrédulas e autoritárias, assim, é necessário que a sociedade, assim como o garoto do filme citado, encontre seu novo "moinho de vento" e possa redespertar para a importância de todas as descobertas tecnológicas do passado. Com isso a ciência, que é um dos alicerces do mundo contemporâneo, poderá voltar a crescer e exercer seu papel de esclarecimento e desenvolvimento para o homem pós-moderno, deixando de lado teorias e ideias retrógradas. NOTA: 43.33 Renascimento e desmistificação Com condições sociais e políticas propícias para a construção do saber racional, as cidades de Gênova e Veneza - maiores expoentes do renascimento europeu - apresentaram muitos pensadores que contribuíram para o avanço científico no período, como Leonardo da Vinci, que através da experimentação e observação da natureza desenvolveu importantes ideias sobre o funcionamento da anatomia humana. Tal ímpeto pelo conhecimento, demonstrado por Leonardo, também está presente na sociedade científica atual que, com a ascensão de ideias anticientificistas, procura demonstrar o papel que a ciência tem no mundo contemporâneo. A partir da Revolução Industrial Inglesa, o desenvolvimento de tecnologias se deu de forma exponencial até os dias atuais. Inteligência artificial e “internet das coisas”, por exemplo, são alguns dos instrumentos que estão sendo desenvolvidos na atualidade para facilitar a vida da população, que gera avanços em grande parte das áreas do saber - como na medicina - e dinamiza as relações sociais. Nesse sentido, a ciência na atualidade tem o objetivo de gerar uma melhor qualidade de vida para as pessoas através dos avanços tecnológicos e do saber. Concomitantemente à Revolução Industrial, o desenvolvimento da “Máquina de Gutenberg” também teve papel importante na sociedade e está em consonância com um dos paradigmas da ciência, que é a busca pelo espalhamento do saber científico - uma vez que ela disseminou as primeiras cópias de enciclopédias de forma eficaz. Assim, a ciência na atualidade não só busca uma melhora na qualidade de vida das pessoas, mas também busca disseminar o conhecimento factual e concreto para a população. Ainda, um dos importantes objetivos do saber científico contemporâneo são a desmistificação de ideias infundadas e o esclarecimento com base empírica - defendidos desde os filósofos iluministas. Contudo, o crescimento do anticientificismo, como no terraplanismo ou nos movimentos antivacinas, caracteriza-se como uma afronta aos preceitos científicos, dado que compartilham ideias falsas, sem base concreta e aprofundam a ignorância humana. Enfim, o papel da ciência no mundo contemporâneo - que remonta ao Renascimento e iluminismo europeu - é o esclarecimento e a propagação de ideias racionais, a busca por melhorar a qualidade de vida da população e a desmistificação da ignorância. Nesse viés, a ascensão do anticientificismo - evidenciado pelo terraplanismo e movimentos antivacina - é um golpe no saber racional e empírico, que é substituído por “achismos” que expressam a subjetividade pessoal. NOTA: 42.5 A era do meio técnico-científco-informacional-irracional A contemporaneidade é marcada pela influência das tecnologias no cotidiano da humanidade, as quais atingiram um alto grau de complexidade ,sobretudo, na rapidez do compartilhamento de informações, tornando-se a era dos meios técnicos-científicos-informacionais. Nesse contexto, a ciência, como impulsionadora de novas tecnologias, adquire função essencial para a atual sociedade, dado que o ser humano é cada vez mais dependente das produções tecnológicas. Todavia, a presença de indivíduos que contestam a ciência é marcante na atualidade, prejudicando pesquisas e divulgações científicas em diversas áreas da saúde e geografia, por exemplo, que seriam de grande importância para a sociedade. Em uma primeira análise, o sociólogo Antonio Candido, em seu texto “Direito à literatura”, afirma que em comparação a eras passadas o ser humano atingiu o máximo de racionalidade técnica e o máximo de irracionalidade de pensamento. Nessa perspectiva, a grande disponibilidade de ferramentas tecnológicas capazes de facilitar as ações humanas denota a incapacidade individual de utilizar essas ferramentas para o bem-estar social. Tal fato é evidente na ascensão do movimento anti-vacina que defende a não aplicação de vacinas, mesmo que elas sejam comprovadamente eficientes no combate à doenças, implicando, assim, no reaparecimento de doenças já erradicadas, como, no caso do Brasil, o sarampo. Ademais, o filósofo Jean Paul-Sartre defende que a humanidade é condenada à liberdade e, consequentemente, é responsável por seus atos. Em analogia ao pensamento de Sartre, na atualidade, o indivíduo é livre para escolher crer ou não na ciência e nos seus resultados para a sociedade, todavia, há a responsabilidade com as consequências dessa escolha. Isso ocorre, por exemplo, nas críticas às pesquisas que advertem sobre as ações antrópicas no meio ambiente, em que há a liberdade de crítica ou não a elas, porém as responsabilidades das alterações climáticas provenientes das alterações no meio ambiente alertadas pelos cientistas devem ser arcadas pelos críticos. Conclui-se, portanto, que a contemporaneidade marcada pelo meio técnico-científico- informacional denota o papel primordial da ciência. Contudo, as produções científicas são contestadas por muitos indivíduos, seja pela sua irracionalidade de pensamento, seja pela presença ou não da responsabilidade. NOTA: 37.5 A previsão de Harari O período conhecido com Renascimento foi o florescer do pensamento racionalista e antropocêntrico, rompendo com teorias que tentavam explicar fenômenos de maneira superficial ou religiosa. Em contraste, o anticientificismo hodierno cresce de maneira assustadora, negando teses consolidadas ao basear-se em misticismo ou conspiracionismo. Nesse contexto, o papel da ciência no mundo contemporâneo é de alicerce de uma sociedade que se alimenta da tecnologia, além de ser a instituição responsável pela guarda do rigor metodológico que discute as questões centrais para comprovação de uma hipótese. A priori, as relações humanas ocorrem atualmente com significativa influência tecnológica. Nesse sentido, o escritor israelense Harari –autor do best-seller “21 Lições para o século XXI” - descreve em sua obra o domínio quase que completo do uso da inteligência artificial em todas as áreas, substituindo cargos laborais e algumas vezes, o contato humanoaté o final do século. Isto posto, a crescente participação de ferramentas desenvolvidas em virtude do avanço do conhecimento científico faz deste um pilar da sociedade moderna. Nota-se, portanto, a pesquisa como agente promovedor de conexão e funcionamento coeso da civilização. A posteriori, a ciência é o único meio de descredibilizar teorias absurdas que surgem ocasionalmente, sejam elas com algum propósito ou não. Sob tal ótica, o pensador e cientista Karl Popper foi um dos responsáveis pela discussão acerca do método de verificação da integridade científica, adaptando-o para que suas conclusões sejam verdadeiramente aceitáveis. Com efeito, a verdade científica pode dissolver ideias que buscam, através da irracionalidade humana, promover sua ideologia ou conquistar notoriedade. Logo, visualiza-se que a ciência defende o homem da manipulação alheia. Em suma, tanto alimentar as redes tecnológicas que mediam as interações humanas quanto verificar a veracidade de teses constituem o papel da ciência no mundo contemporâneo. Destarte, a ciência auxilia na manutenção da ordem de uma sociedade saudável. Assim, a previsão de Harari será concretizada positivamente se a ciência receber seu devido valor. NOTA: 43 A ciência é a luz dos povos O papel da ciência para o progresso da humanidade já era reconhecido pelos empiristas no Século XVIII, mas, hoje, sua importância é ainda maior, diante dos discursos negacionistas que ressaltam a ignorância e oprimem o conhecimento humano. Na contemporaneidade, a ciência é um elemento de emancipação do homem e age como ferramenta de poder geopolítico aos países, sendo subestimada por uns e temida por outros. É notável que o conhecimento científico permite ao indivíduo a compreensão do mundo em que vive e de suas potencialidades, desenvolvendo, a partir de então, seu pensamento crítico, que o emancipa das opressões. Esse fenômeno é nomeado por Kant como a conquista da maioridade, e permite a constante evolução das sociedades. Um exemplo disso é a criação de produtos para uso espacial no Século XX e sua posterior utilização no cotidiano social, facilitando a rotina das pessoas. No contexto geopolítico também há a emancipação dos países. A ciência relacionada à pesquisa e ao desenvolvimento impulsiona o país ao status de desenvolvido na atual Divisão Internacional do Trabalho por exportar conhecimento e tecnologia aos outros. Além disso, as descobertas científicas garantem poder de barganha, aos países que as detêm, em relações diplomáticas entre os Estados, seja pelo poderio bélico ou econômico deles. Têm-se como exemplo a Coreia do Norte, que investe em arsenal nuclear para ganhar facilidades no diálogo entre potências como os Estados Unidos. Essa característica revolucionária da ciência gera animosidade por parte de líderes que almejam a alienação popular para a prática da opressão. No século XXI, a ciência luta constantemente contra ataques a ela, como a disseminação de fake news, que questionam e atenuam o valor da verdade, e como o corte de incentivo à pesquisa em universidades, o que cria uma sociedade ignorante e alienada. A ciência assume papel libertário e emancipador no mundo contemporâneo. Sua prática é vital para o desenvolvimento das relações humanas e para o combate à dominação entre Estados e indivíduos. O período de trevas que ela enfrenta deve ser combatido e, dessa forma, o conhecimento vigorará sobre a ignorância. NOTA: 45 A faísca que rege a mudança Em 2019, o Governo Federal brasileiro realizou uma série de cortes financeiros nas universidades do país, alegando que a educação não era a prioridade das verbas públicas. No entanto, tal ação se mostra insipiente e perigosa, pois torna deficitária a formação científica, a qual, no mundo contemporâneo, é eminente, já que, além de proporcionar avanços que alavancam a qualidade de vida, contribui para a preponderância da verdade e para a manutenção da integridade crítica da sociedade. A princípio, a ciência tem um papel fundamental por impedir a disseminação de falácias. Isso pode ser visto pela corrente filosófica do Empirismo, cujo princípio se baseia na defesa da experimentação para a comprovação do saber, impedindo, logo, que pensamento subjetivos se tornem verdades incontestáveis e que superstições e opiniões superem a legitimidade da ciência, algo que possibilita a manutenção da integridade social, pois ela possui as reais respostas para questões relevantes como saúde e política. Dessa forma, nota-se a importância do saber na modernidade, pois ela vive, de acordo com a Sociologia, a era da “Pós-Verdade”, em que crenças individuais têm, paulatinamente, superando o factual, gerando, por exemplo, movimentos contrários às vacinações, e evidenciando, com isso, a necessidade da educação para conter tal era, que coloca em risco a população. Ademais, a ciência também possui o papel de instigar o saber, o que impede a alienação social. Tal fenômeno foi muito presente no século XVII com a Revolução Científica, na qual a divulgação de teorias, como as da gravitação de Kepler, instigou a curiosidade e a criticidade da sociedade, levando-a a negar e a enfrentar os opressores dogmas católicos do período. Analogamente, em 1968, durante as corridas armamentista e aeroespacial da Guerra Fria, que impulsionaram a formação do conhecimento, um grupo de estudantes parisienses se mobilizou para questionar regras sociais arcaicas, alavancando um grande movimento no país, que aglutinou também as reivindicações trabalhistas. Com isso, a ciência, além de proporcionar tecnologias, possui um grande papel social na alteração de padrões opressores e exploradores, sendo, assim, a faísca que rege a mudança. Portanto, a ciência se mostra indispensável no mundo contemporâneo, em virtude de seu papel na formação de inovações, na validação dos fatos e, principalmente, no impulso à racionalidade e ao questionamento. Dessa maneira, a ação do governo brasileiro assume um caráter extremamente perigoso ao não considerar a educação como prioridade, sacrificando, com isso, a integridade física e crítica da população, e mantendo-a na escuridão da opressão, longe do fogo do desenvolvimento. NOTA: 44.5 Por entre a obscuridade do desconhecido e a estagnação histórica: a ciência Ainda na Idade Antiga, a civilização grega, a fim de desvencilhar-se da irracionalidade das explicações mitológicas, desenvolver a Filosofia, Ciência que deu origem às outras formas de conhecimento, deixando como legado para a humanidade os primórdios da metodologia científica. Assim como as sociedades da antiguidade utilizaram-se do saber racional para permitir a sobrevivência e a compreensão dos fenômenos, o gênero humano, desde os tempos remotos até à contemporaneidade, depende historicamente da tecnologia e do exercício científico, sendo a construção de grande parte do passado resultado do desenvolvimento da ciência. Muito embora essa forma de saber seja de crucial importância para a civilização, observa-se na contemporaneidade um movimento “obscurantista” de negação da ciência, destituindo-lhe seu fundamental papel facilitador da vida cotidiana e de orientação da atividade humana, restando à sociedade tão somente o retrocesso e o desconhecimento. Presente historicamente na vivência em sociedade, o desenvolvimento científico é fruto de uma busca constante não só pela sobrevivência humana, mas, principalmente, pela necessidade de superar dilemas e de proporcionar qualidade de vida, resultando na contemporaneidade globalizada, realidade na qual a tecnologia é um pilar imprescindível. A esse respeito, o geógrafo brasileiro Milton Santos, ao conceituar a “Revolução Técnico-Científico-Informacional”, refletiuacerca da crucialidade da ciência para os níveis de desenvolvimento socioeconômicos que marcam o presente e a necessidade da tecnologia para a facilitação de fluxos , sejam eles materiais ou imateriais, sendo a produção científica, portanto, ferramenta que sustenta o presente e permite a progressão para o futuro. Dessa forma, uma vez que o cotidiano contemporâneo e toda historicidade humana são marcados pelo saber produzido pela ciência, não reconhece-lo é negar a própria realidade e a busca pelo desenvolvimento progressista. Além de marcar a temporalidade histórica, sobretudo a contemporaneidade, a ciência norteia a ação coletiva ao desvendar o desconhecido e explicar impasses presentes. Nesse sentido, o “obscutantismo”, que preza pelo repúdio aos conhecimentos científicos – como à vacina, ao formato terrestre, ao aquecimento global-, atenta contra a metodologia racional e a capacidade reflexiva humana, apresentada pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman como elementar para uma sociedade que busca a superação de dilemas que a aflingem. É, assim, através da ciência que o indivíduo, circundado por um presente de desconhecimento e por um universo de difícil compreensão, encontra respostas para, enfim, explicar a si próprio e o seu meio. Diante dessa contemporaneidade que tem seu progresso dificultado pelo não reconhecimento do papel da ciência, é relegado à sociedade o obscurantismo do desconhecimento que permeava as civilizações da antiguidade. Ao passo, por fim, em que a humanidade relutar pela ignorância da negação dessa forma de saber, que não só facilita e constrói a vida cotidiana, bem como orienta o homem contemporâneo, a vida em coletividade estará fadada à estagnação. NOTA: 40 Ciência elitizada e sociedade capitalista É certo que a relação entre sociedade e ciência é moldada a partir da relação entre política e economia de cada período histórico. Enquanto a Europa Medieval, religiosa e agrária, negava e combatia o saber científico os Árabes, urbanos e comerciais, desenvolviam todos os campos da ciência. Nesse Viés, a tendência contemporânea de reduzir o papel da ciência às elites e aos interesses econômicos se relaciona com a estrutura social, política e econômica que avança hoje em escala global. Primeiro, é preciso analisar a tendência mundial de ascensão de políticas e líderes dogmáticos e superficiais quanto à importância da cultura, arte e ciência. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos a liderança está com partidos conservadores que promovem a manutenção dos privilégios elitistas e dissimulam a necessidade pela democratização do acesso à educação. Nesse sentido, o conhecimento científico se perpetua como monopólio das elites, as quais acessam esse conhecimento de maneira privada. Esses fatores se somam distanciando as massas da ciência e isolando a população. Segundo, e como consequência, aumenta-se a distância da integração entre sociedade geral e ciência. Acerca disso, os polos desenvolvedores de tecnologia criam novos produtos e impulsionam o consumo alimentando o Sistema Capitalista. Esses frutos são consumidos de forma passiva pela população, que usufrui da ciência sem retê-la. Como resultado, a sociedade cria aversão por aquilo que não compreende, sendo cada vez mais alienada por essa aspiral excludente. O papel da ciência passa a ser o de consumo e não o de integração à realidade e a cultura Em suma, o espaço que o conhecimento científico possui depende da agenda política de cada Estado e sociedade. Na atualidade, o sucesso do capital é priorizado frente à democratização do saber. Os governos conservadores intensificam a alienação da população em relação a seu papel, este por sua vez parece limitado ao de consumidor passivo. NOTA: 44.5 Ciência: progresso e manipulação Durante séculos, os avanços científicos foram considerados sinônimos de progresso. Entretanto, recentemente percebeu-se que a mesma tecnologia responsável pelo desenvolvimento da eletricidade e pela melhora nos procedimentos médicos, os quais aumentaram a qualidade de vida da população, foi a base de grandes mazelas sociais, como a bomba atômica, que gerou muita morte e destruição. Nesse contexto, fica-se evidente como o mundo contemporâneo tornou-se dependente da ciência, mas como grande parte da população não a compreende, abre-se espaço para a ignorância e a manipulação social. Em um mundo cada vez mais influenciado pela tecnologia, em que o conhecimento mostra- se muito acessível, por meio da internet, a população encontra-se, paradoxalmente, na menoridade kantiana. Dessa forma, por mais que seja fácil buscar o conhecimento, as pessoas não o procuram, consequência de uma realidade em que grande parte dos trabalhos humanos, como até mesmo pensar, já são realizados por máquinas. Diante dessa disseminação da ignorância, a ciência começa a ser utilizada de forma negativa, como para espalhar “fake news”, fato que chega até mesmo a prejudicar a medicina, já que notícias erradas sobre vacinação foram uma das principais causas da volta de doenças já erradicadas. Assim sendo, a ciência mostra seu lado retrógrado, o qual contribui para a menoridade do ser humano. Nesse cenário, a sociedade pode ser facilmente manipulada por quem entende de tecnologia, seja intimidando pelo fato de possuir bombas atômicas, como os Estados Unidos fazem, seja pela compra de informações pessoais de usuários em redes sociais, dentre outras maneiras. O ponto é que com a ignorância da população somada às facilidades tecnológicas, as pessoas podem ser manipuladas, como na última eleição americana, em que o presidente Donald Trump fez uso de “fake news” para ser eleito. Dessa forma, mostra-se como a ciência pode ser utilizada a favor dos poderosos, não somente para o desenvolvimento do país, mas também para a manipulação e a destruição. Infere-se, portanto, que o papel da ciência no mundo contemporâneo é tanto positivo, pela criação da eletricidade por exemplo, quanto negativo, sendo causa de grandes mazelas sociais. Isto posto, evidencia-se a necessidade da população de compreender a tecnologia, com a finalidade de evitar manipulações e atingir a maioridade kantiana, levando a humanidade ao progresso. NOTA: 34.5 A Ciência e o Obscurantismo Em 2019, o Governo Federal, presidido por Jair Bolsonaro, realizou discursos ataques à educação, especialmente através do corte de verbas. Esse corte interrompeu o pagamento de diversos pesquisadores e prejudicou milhares de estudos. Nesse sentido, a ciência tem sido desacreditada devido ao avanço do obscurantismo, o que impacta em seu papel de transformação social e desenvolvimento da medicina. Primeiramente, para Immanuel Kant, o movimento iluminista representava a emancipação do homem, que teria deixado sua menoridade, a idade das trevas, através da ciência e do livre pensamento. Analogamente, no mundo atual, as ciências humanas têm um papel de transformar a sociedade ao investigar as relações de poder e contribuir para a emancipação do proletariado. No entanto, esse fenômeno representa uma ameaça à elite conservadora, que fomenta o anti-iluminismo a fim de manter a alienação e consequentemente, seu poder. Dessa forma, uma das funções da ciência no mundo contemporâneo é transformar e emancipar a sociedade. Além disso, outro papel da ciência é a melhoria da saúde humana. Esse desenvolvimento da medicina se dá por meio de pesquisas científicas, como a realizada pela Universidade Estadual de São Paulo, que executou, com sucesso, um novo tratamento para o câncer. Em contrapartida, com o descrédito causado pelo obscurantismo, o movimento anti-vacina cresce e provoca surtos de doenças, como o de sarampo no estado de São Paulo. Desse modo, a ciência é imprescindível para a saúde humana, já que, quando negada, doenças graves ressurgem, quando incentivada, novos tratamentos são criados. Em suma, a ascensão degovernos conservadores, como o Bolsonaro no Brasil, reflete o obscurantismo que permeia o mundo atual. Consequentemente, o fortalecimento do anti-iluminismo faz com que grande parte da sociedade permaneça em sua menoridade e sofra com o retorno de doenças, já que a ciência é impedida de realizar seus principais papéis no mundo contemporâneo: a transformação social e o desenvolvimento da medicina. NOTA: 38 A Volta De João E Maria Na história infantil “João e Maria”, tais personagens, movidos pela inocência e irracionalidade típicas de crianças, são levados a uma armadilha por parte de uma Bruxa, que os prende e pretendia mata-los. No entanto, por sorte, conseguem escapar da antagonista e sobrevivem. De maneira semelhante ao imaginário das crianças do enredo, nota-se, em um contexto contemporâneo, que a humanidade tende a guiar-se instintivamente, o que aumenta a possibilidade de que ela também caia em uma armadilha de uma Bruxa. Dessa forma, entende-se que a ciência, dado a sua racionalidade, atua como um adulto que dá conselhos e rejeita informações falsas, desenvolvendo assim uma mentalidade mais madura na atual sociedade “infantilizada”. Essa infantilização pode ser notada a partir de determinadas atitudes irracionais. A campanhas pela volta da eleição em cédulas de papel, por exemplo, corresponde a esse tipo de ação, dado que rejeita a urna eletrônica, produto de tecnologias diretamente ligadas a ciência, em nome de um método que remonta períodos de vigência de currais eleitorais e inúmeras fraudes nesse meio, como foi na Primeira República. A partir disso, fica nítido que a ciência deve tomar uma posição que, por meio de fatos e estudos, comprove o anacronismo de certas atitudes e preferencias da comunidade, que promovem um verdadeiro atraso na presente conjuntura, atuando assim de forma a expandir um esclarecimento acerta de muitos assuntos. A necessidade desse esclarecimento em questão ocorre pelo que a cientista política Hannah Arendt classifica como “banalidade do mal”. Tal conceito se baseia no fato de que a sociedade, por vezes, é responsável pela normatização de diversas ideias que a corrompem. Tais ideias, na forma de “fake news”,por exemplo, de maneira recorrente, terminam por minar descobertas científicas, produzindo mais atrasos e prejuízos aos indivíduos. Um caso que ilustra tal conceito é a comunidade “anti vacina”, que, ao atropelar várias verdades referendadas pela ciência, disseminam ideias sem comprovação nenhuma. Enxerga-se, então, que a ciência também deve assumir um papel combativo com relação a tais ideias por meio da manutenção do incentivo a descobertas que, cada vez mais, comprovem pontos a seu favor. Portanto, conclui-se que, no mundo contemporâneo, a ciência recebe o papel de desenvolver um amadurecimento intelectual nos homens, além de esclarecer tais indivíduos por meio de novas descobertas e até mesmo assumindo uma postura combativa a fim de impedir a volta de uma “mentalidade João e Maria”, responsável por fazer com que, assim como os personagens, a sociedade caia em inúmeras armadilhas. NOTA: 36.5 Nebulosidade No século 18, os filósofos iluministas Diderot e D’Alembert, chamados enciclopedistas, objetivavam a democratização do acesso ao conhecimento através da sua compilação e distribuição na forma de enciclopédias. Séculos depois, a Internet tem cumprido bem uma função análoga na atualidade, deixando usuários e informações a um clique de distância. Paradoxalmente à ampliação desse acesso à ciência, percebe-se sua negação através da disseminação de inverdades, permitindo afirmar que o papel da ciência no mundo contemporâneo é a quebra de mitos. Em primeiro lugar, a emancipação humana está intimamente ligada à ciência. Para Immanuel Kant, o homem só alcança a “maioridade” quando faz uso da razão sem o auxílio de “tutores”. Ou seja, o indivíduo que busca conhecimento por si próprio possui autonomia intelectual e dificilmente é enganado por outros. Entretanto, mesmo nos dias de hoje, são vistas posturas semelhantes às do período medieval, em que pessoas pouco escolarizadas são manipuladas por líderes religiosos mal intencionados, que, por exemplo, vendem artigos supostamente milagrosos para a cura de doenças. Em segundo lugar, convém ressaltar também a preservação da vida que a ciência representa. Tome-se como exemplo a criação de vacinas no século 20, importantes fármacos geradores de imunidade no combate a muitas enfermidades. Contudo, a divulgação nas redes sociais, como Whatsapp, de um estudo falso por um médico que alegou que as vacinas provocam autismo em crianças impactou na redução da cobertura vacinal no mundo todo, inclusive no Brasil, trazendo de volta doenças extintas perigosas como o sarampo. Assim, é corroborado o pensamento de Carl Sagan sobre o caráter destrutivo da ignorância, urgindo conscientização. Fica claro, portanto, que o papel da ciência no mundo contemporâneo é o combate aos mitos, sejam eles fatos ou pessoas. Ao representarem nebulosos riscos à autonomia e até à vida humana, torna-se fundamental a clareza que só o conhecimento oferece. Dessa forma, será possível, mais que democratizar – como visado pelos enciclopedistas -, vislumbrar a real valorização da ciência. NOTA: 39.5 Entre a maioridade e melhores condições de vida De acordo com Oscar Sala, profissional da área de humanidades, apenas em sociedades que apresentam clima cultura de impulso à curiosidade e amor a descobertas a ciência pode florescer. Analisando-se a realidade brasileira, observa-se que esse cenário de florescimento não é propiciado, uma vez que a ascensão de movimentos negacionistas – que repudiam ideias científicas consolidadas, tal como as vacinas – ilustra uma comum rejeição ao conhecimento científico, o que cria uma conjuntura de avanço da ignorância. Diante desse cenário, tem-se que, de fato, a ciência possui um papel indispensável no mundo contemporâneo, pois permite a maioridade e promove melhorias na qualidade de vida. Decerto, a ciência permite a maioridade. Tal noção, criada pelo filósofo Immanuel Kant, corresponde à habilidade do ser humano de pensar por si próprio, de modo autônomo, o que é obtida pelo estudo. Prova dessa potencialidade é a obra Mayombe, do angolano Pepetela, na qual, em meio a guerra de independência pela Angola, o comandante Sem Medo, em uma das passagens, estimula um dos guerrilheiros a estudar, pois assim este conseguiria obter sua maioridade – o que, em um contexto macro, alude metonimicamente, à independência cultural e intelectual do país em formação. Portanto, a ciência possui grande importância na atualidade, pois o estudo é um instrumento de obtenção da maioridade. Ademais, a ciência também promove melhorias na qualidade de vida. Essa fomentação ocorre, pois muitos são os projetos científicos destinados à descoberta de conhecimentos que acarretem melhores condições para a sobrevivência humana. Um exemplo de como esses estudos podem propiciar tal cenário foi a descoberta da penincilina, antibiótico que revolucionou o tratamento de infecções bacterianas e salvou milhares de vidas. Dessa forma, à luz do essencial papel da ciência na promoção de melhorias na qualidade de vida da população humana, o conhecimento científico, realmente, possui indiscutível relevância. Em suma, levando-se em conta a atual conjuntura de avanço da ignorância, denota-se que a ciência possui um papel indispensável no mundo contemporâneo. Assim sendo, a permissão para a obtenção da maioridade, como observado na obra Mayombe, ilustra essa importância. Além dessa autonomia, tal papel essencial também justifica-se pela promoção de melhorias na qualidade de vida, a exemplo da descoberta da penincilina, fatores estes que explicitam a função basal da ciência na contemporaneidade. NOTA: 45 Anticientificismo: construção de muros e cavernas “Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia/omedo nos leva a tudo, sobretudo à fantasia/ então erguemos muros”. Na música “Muros e Grades”, da banda Engenheiros do Hawaii, o medo constante que permeia a sociedade contemporânea é cantado como motivo para a construção de muros concretos e abstratos, como, por exemplo, aquele que afasta a ciência e seus desdobramentos da população. Nesse contexto, o anticientificismo se apresenta como fruto da dificuldade humana de entender que a ciência é composta de verdades transitórias, o que esmaece seu papel no mundo contemporâneo, permitindo, sobretudo, a dissolução do Estado democrático. Primeiramente, o descrédito a ciência é resultado do apego humano a suas crenças pessoais. Nesse sentido, o método científico é um mecanismo para averiguar hipóteses a fim de garantir teses sólidas, apartidárias e reprodutíveis. Para tanto, o filósofo Karl Popper estabeleceu o conceito de falseabilidade, o qual define que uma hipótese só pode ser levantada se houver a possibilidade de ser refutada. Com isso, no meio acadêmico, a todo instante teorias são reformuladas, aperfeiçoadas ou dissolvidas, como atesta o modelo heliocêntrico de Ptolomeu, o qual foi revisado e aperfeiçoado por Kepler. Contudo, estudar e compreender a transitoriedade das verdades científicas não é simples, o que impele indivíduos a se apegarem a suas crenças e opiniões que, por vezes, são imutáveis. Uma analogia disso é o Mito da Caverna de Platão, no qual pessoas estão acorrentadas nas sombras - preconceitos e crenças -, mas, quando uma delas se liberta e conta sobre as luzes de fora da caverna - o conhecimento -, matam-na, visto que é cômodo se apegar a suas crenças pessoais. Assim, com o anticientificismo resultante do apego a percepções pessoais, dificulta-se o entendimento do papel da ciência no mundo atual, aumentando a altura do muro entre ela e a população. Em decorrência do descrédito à ciência, o Estado democrático se fragiliza. Nessa perspectiva, o filósofo Michel Foucault definiu episteme como o conjunto de pressupostos e preconceitos de determinada época, o qual é alicerce para entender o que se entende como verdade, já que, para o filósofo, esta é construção histórica. Desse modo, epistemes pautadas por pressupostos autoritários produzem verdades arbitrárias, decididas por percepções dos governantes. Stálin, por exemplo, por não acreditar na teoria de Darwin, adotou, como ditador da URSS, medidas agrícolas que levaram à fome milhares de camponeses e à perda de capital por parte do Estado. Portanto, consolidar uma episteme baseada na ciência impede que governos adotem políticas públicas baseadas em percepções pessoais e construam verdades úteis e arbitrárias que possam prejudicar a população. Ou seja, o papel chave da ciência se constrói ao ser aplicada socialmente, impedindo a prática de governos autoritários, garantindo o bem-estar da população e, por isso, a sustentação do Estado de direito. Em síntese, o papel da ciência no mundo contemporâneo é, sobretudo, de garantir a qualidade de vida e o progresso, desconstruindo verdades utilitárias que sustentam políticas públicas ideológicas. O Estado democrático, no entanto, para ser assegurado, necessita de uma episteme baseada na ciência, o que se torna gradativamente mais difícil em uma sociedade que se agarra em suas crenças pessoais, como o fazem as pessoas do Mito da Caverna de Platão, e descredita o método científico. Assim, enquanto se solidifica, no mundo contemporâneo, uma episteme anticientificista, o medo se difunde, os muros se acirram, as opiniões e crenças ganham força e o Estado de direito se desfaz, abrindo o espaço para regimes totalitários e suas respectivas verdades.
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