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FACULDADE DE DIREITO PROF. JACY DE ASSIS DIREITO PROCESSUAL CIVIL ATIVIDADE ASSÍNCRONA SEGUNDA SEMANA 2020-1 ALUNA: Vanessa Martins Giroto MATRÍCULA: 11921DIR237 – Turma 79 J (noturno) CASOS CASO 1: Gerusa Flores, no ano de 2015, ingressou com ação de reparação de danos contra Leocádio Firmino, que reside no Condomínio Verões Legais. A citação de Leocádio foi realizada por correio ainda naquele ano, tendo o aviso de recebimento sido assinado pelo porteiro do condomínio. Leocádio não apresentou defesa e foi reconhecida sua revelia. Em fevereiro de 2017, sobreveio sentença julgando procedente o pedido de Gerusa. No prazo legal cabível, Leocádio, por advogado, apresentou recurso alegando a nulidade da citação, tendo em vista que o aviso foi firmado pelo porteiro do condomínio, o que se achava em desacordo com o art. 223, parágrafo único do CPC/73. Em resposta ao recurso, o advogado de Gerusa alegou que o art. 248, § 4° do CPC/15 admite a referida hipótese. Tendo em vista as previsões quanto à aplicação das normas processuais no tempo que foram estudadas, dê sua opinião sobre as duas teses lançadas pelos advogados, esclarecendo qual delas deverá prevalecer quando do julgamento do recurso. Fundamentar a resposta. Conforme se infere no art. 14 do CPC/15, a norma processual não deve retroagir (para não ferir o princípio da segurança jurídica) e deve ser aplicada, de forma imediata, aos processos pendentes, respeitando os atos e efeitos produzidos pela legislação anterior. Contudo, é importante salientar que o CPC/15 foi sancionado e publicado em março de 2015 e, de acordo com a previsão do art. 1.045, o período de vacatio legis foi de 1 (um) ano, determinando que o Código entrou em vigor em março de 2016. Assim, adotando, ainda, a teoria do isolamento dos atos processuais, a citação de Leocádio se deu no ano de 2015, portanto, o Código vigente era o de 1973. Apesar de a sentença ter sido proferida no ano de 2017, onde o Código aplicado já era o de 2015, o ato processual da citação deveria ter seu efeito baseado na legislação anterior, visto que foi praticado naquela época. Portanto, a meu ver, a tese lançada pelo advogado de Leocádio deve prevalecer e dar provimento ao recurso visto que, de fato, o ato processual da citação se deu na vigência do CPC/73 e, portanto, a aplicação do art. 223 parágrafo único que defende que a assinatura na carta de citação deve ser do próprio citando, o que não foi o caso de Leocádio, está correta. A tese do advogado de Gerusa seria apropriada se o ato de citação tivesse sido praticado em 2016, data em que o CPC/15 entrou em vigor. Dessa forma, a aplicação do art. 248, § 4º estaria de acordo com a norma vigente. Dessa maneira, a tese que prevalece e que terá sucesso no julgamento do recurso será a do advogado de Leocádio. CASO 2: Militino das Dores, por intermédio de advogado regularmente constituído, ingressou com uma ação de reparação de danos contra Sebastiana Silvino, que o difamou publicamente pelas redes sociais. Ao analisar a petição inicial, o juiz considerou que se achava ela carente de todas as informações necessárias à apreciação do caso. Diante disso, determinou a complementação da petição inicial no prazo de 15 dias, fundado no conteúdo do ar. 321 do CPC Qual o princípio fundamental dentre os estudados que melhor explica o ocorrido? Justificar a resposta. O principio da primazia do julgamento do mérito está voltado para a superação dos vícios processuais, onde o julgador permite que as partes façam suas correções, possibilitando a análise de mérito e, consequentemente, a solução da lide. No Código de Processo Civil de 2015, esse princípio está previsto no art. 4º que determina que as partes tenham o direito de obter a solução integral do mérito e da atividade satisfativa e, também, no art. 6º prevendo que todos os sujeitos - considerando que sujeitos são as partes, os advogados, juízes e seus auxiliares – devem cooperar entre si para obter a decisão de mérito justa e efetiva. Dessa forma e considerando o ocorrido descrito no caso, o principio da primazia do julgamento do mérito é importante, pois ele permite que situações como a emenda de uma petição inicial seja realizada, conforme fundado no art. 321 do CPC/15, para que, assim, seja possível da melhor maneira a resolução do mérito e alcance da justiça através da solução dos conflitos. CASO 3: Em certo hospital do município de Uberlândia, há uma criança que necessita, para sobreviver, de transfusão de sangue. Entretanto, a criança é filha de casal adepto da crença da religião “Testemunhas de Jeová”, e que, portanto, em fundamentos doutrinários e bíblicos, não admitem a realização do procedimento. Constatada a total omissão do médico quanto ao ocorrido, uma enfermeira ingressou com ação na Justiça Estadual, a fim de possibilitar com medida liminar a transfusão e salvar a vida da criança. A ação intentada é viável processualmente? Que outra solução poderia ser adotada para a proteção judicial da vida da criança? Justificar a resposta. De acordo com a definição de Wambier, ação é o direito de exigir do Estado que ele exerça sua função jurisdicional sobre determinado caso do direito material, sendo, portanto, um instrumento processual que garante o acesso à jurisdição para determinado interesse particular. Contudo, o Código de Processo Civil de 2015, eu seu art. 17, define que para exercer o direito de ação é necessário que haja duas condições, quais são: interesse e legitimidade. O interesse está pautado no binômio necessidade e utilidade, ou seja, a necessidade de que atividade jurisdicional seja aplicada em caráter imprescindível para o desfecho da lide apresentada pela parte e a utilização das medidas processuais para obtenção do objetivo pretendido. Já a legitimidade está relacionada com as pessoas, ou seja, é a aptidão que o sujeito tem para figurar em algum polo da demanda, seja ele ativo ou passivo e significa dizer que está autorizado a postular demanda aquele que for titular da relação jurídica. A legitimidade também está prevista no art. 18 do CPC/15 que diz que ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. A partir desse contexto, entende-se que, no caso em questão, apesar da enfermeira ter agido com boas intenções - poder realizar a transfusão de sangue para que a criança sobreviva - ela não possui legitimidade para tal. Deste modo, processualmente, a ação da enfermeira é inviável, pois ela não é a legítima titular do direito pleiteado. Contudo, por se tratar de um menor incapaz, considerando o direito fundamental à vida e à saúde, é possível acionar as entidades responsáveis, como o Ministério Público e o Conselho Tutelar, que possuem legitimidade extraordinária para responder pela criança. CASO 4: Marcolino Silva foi citado para responder à ação de investigação de paternidade proposta por Catarina dos Montes. Acontece que Marcolino é estéril e jamais poderia ser pai. Assim, o advogado de Marcolino vai apresentar contestação alegando em preliminar a ilegitimidade passiva de seu cliente, uma vez que não reúne ele condição alguma de ser pai. Comente a preliminar que será invocada, abordando quanto ao seu sucesso ou insucesso. Fundamentar a resposta. Conforme disposto no art. 17 do Código de Processo Civil de 2015, para exercer o direito de ação é necessário que haja interesse e legitimidade. A legitimidade é a aptidão que o sujeito tem para estar em algum polo da demanda, seja ele ativo (autor) ou passivo (réu). Deste modo, para que alguém seja responsabilizado civilmente por algo, é preciso que haja legitimidade passiva, ou seja, que algum ato tenha sido praticado ou deixado de praticar, figurando-se, portanto, polo passivo da ação. O art. 337 do CPC/15 prevê, em seu inciso XI, que incumbe ao polo passivo, antes de discutiro mérito da ação (ou seja, preliminarmente), alegar a ilegitimidade processual. Portanto, de acordo com o caso em questão, o advogado de Marcolino está correto em invocar a preliminar visto que, de fato, Marcolino não é legitimo para a ação proposta por Catarina. Portanto e considerando o art. 338 do CPC/15, o advogado de Marcolino, devidamente comprovando na contestação que o réu é parte ilegítima, o juiz facultará ao autor para alterar a petição inicial e substituir o polo passivo, fazendo com que a preliminar invocada tenha sucesso. CASO 5: Laudelina Lontras é portadora do vírus HPV e seu advogado vai ingressar com ação cível contra a operadora de plano de saúde com a qual mantém contrato, no intuito de obter cobertura para um tratamento inovador para sua doença. A pedido de Laudelina, o advogado vai requerer a concessão segredo de justiça para o processo. Tendo em vista que o princípio da publicidade consta expressamente das normas fundamentais do processo civil, o juiz vai conceder ou não o segredo de justiça? Fundamentar. O princípio da publicidade exige que os atos processuais sejam abertos ao publico pois tratam-se de interesse da sociedade que busca pela justiça. Deste modo, o cidadão, em tese, consegue verificar as decisões e a aplicação do Direito. Tal exigência é explicada pela circunstancia de que na prestação da atividade jurisdicional há um interesse publico maior do que o interesse privado. Tal princípio está previsto no art. 11 do Código de Processo Civil de 2015 que prevê que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário deverão ser públicos e fundamentados. Porém, no Parágrafo Único do artigo, a exceção é assegurada, visto que nos casos de segredo de justiça é permitido que o princípio da publicidade não seja aplicado. Desse modo, para verificar se o juiz irá conceder o segredo de justiça para Laudelina, deve-se observar o art. 189 do CPC/15 que dispõe, em seus quatro incisos, quais processos podem tramitar em segredo de justiça. O inciso III do art. 189 do CPC/15 determina que tramite em segredo de justiça os processos que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade. Esse direito está previsto no inciso X do art. 5º da Constituição Federal de 1988, visando que a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis. A partir dessas informações, é necessário balancear a dicotomia entre publicidade e intimidade. Deve-se adotar a ponderação de princípios e, portanto, relativizar o princípio da publicidade em promoção ao direito constitucional à intimidade. Considerando, ainda, que há, na doutrina, um consenso de que no caso de processos com dados bancários ou uma das partes ser portador de alguma doença contagiosa, deve-se priorizar o direito à intimidade em face ao princípio da publicidade e, portanto, é devido a concessão do segredo de justiça. Com isso, acredito que o juiz concederá o segredo de justiça para o caso de Laudelina, visto que, em seu processo, constarão dados de sua saúde e que, caso sejam públicos, podem Vilar seu direito à intimidade e causar constrangimento. CASO 6: Macalena Sérvia de Sá convive em união estável com Felisbino das Luzes há vários anos e seu sonho é casar-se com o companheiro. Ocorre que Felisbino sempre se recusa a consumar o casamento, inventando inúmeras desculpas. Macalena conhece bem o ditado “amigado com fé, casado é”. Procurou então um advogado, pedindo-lhe que ingresse na justiça a fim de obter uma decisão judicial que reconheça ser ela casada com Felisbino. O advogado não descarta a possibilidade de ajuizar a ação, já que a jurisdição é inafastável, pela dicção do art. 3° do CPC. Comente o caso retratado, informando de forma justificada se o intento de Macalena tem viabilidade. O direito de ação é um direito público subjetivo do cidadão, previsto no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal de 1988. Também, no art.3º do Código de Processo Civil de 2015, há expressado que não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão ao direito. Em ambos os textos, encontra-se plasmado o princípio da inafastabilidade da jurisdição, em razão do qual, no Brasil, somente o Poder Judiciário tem jurisdição, ou seja, é o único Poder capaz de dizer o direito com força de coisa julgada. Portanto, o acesso à jurisdição não poderá ser afastado ou condicionado. A ação é um direito abstrato, visto que independe do resultado final do processo, ou seja, o direito de ação não depende de qualquer fato ou resultado exercido por quem tenha ou não razão. Portanto, levando em conta o direito de ação, previsto, tanto no texto constitucional como no art. 3º do CPC/15, ainda, sendo um princípio fundamental, pode-se dizer que Macalena e seu advogado podem ajuizar a ação, visto que, desde que haja plausibilidade e ameaça ao direito, o Poder Judiciário é obrigado a efetivar o pedido de prestação judicial. Assim, por meio da ação adequada, todo aquele cujo de direito que houver sido violado ou ameaçado de violação, pode obter a tutela jurisdicional. Contudo, cumpre ressaltar que para exercer o direito de ação é importante que haja condições para ação. O art. 17 do CPC/15 exige que tenha interesse e legitimidade para a postulação em juízo. A legitimidade está relacionada com as partes, ou seja, com a aptidão que o sujeito tem para figurar um dos polos da ação. Já no interesse deve-se analisar o binômio da necessidade e adequação, ou seja, é preciso que verifique se há, de fato, um conflito e se existe um meio hábil para a resolução dele. Considerando, ainda, que o Poder Judiciário não é um órgão consultivo, portanto, para exercer o direito de ação e preencher as condições de ação, é necessário conferir se os pedidos são passíveis de resolução, bem como se as partes são legítimas para tal, conforme o já mencionado art. 17 do Código. Portanto, a partir de tais informações, verifica-se que o intento de Macalena não possui viabilidade, visto que não possui interesse de agir. Seu pedido de se casar com Felisbino não é um conflito que possa ser solucionado pela atividade jurisdicional, já que, no fato de Felisbino não querer se casar com Macalena, não se encontra lesão de algum direito material. Indo além, ao estar em união estável, Macalena tem todos os seus direitos já resguardados. Deste modo, ao certificar-se da ausência de interesse processual, aplicando o inciso III do art. 330 do CPC/15, a petição inicial de Macalena seria indeferida. Ou, ainda, caso prosseguisse, Felisbino, em sua contestação, poderia invocar o inciso VI do art. 337 do mesmo Código e o processo poderia ser extinto sem resolução do mérito.
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