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MANUAL TÉCNICO-PROFISSIONAL Nº 3.04.01/2020-CG MTP 01 INTERVENÇÃO POLICIAL, PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E USO DA FORÇA BELO HORIZONTE – MG 2020 MANUAL TÉCNICO-PROFISSIONAL Nº 3.04.01/2020-CG Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da Força BELO HORIZONTE - MG 2020 Direitos exclusivos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG). Reprodução condicionada à autorização expressa do Comandante-Geral da PMMG. Circulação restrita. M663m MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral. Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01/2020: Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da Força / Comando-Geral. Belo Horizonte: Assessoria Estratégica de Emprego Operacional (PM3). 2020. 78p. 1. Preparo Mental. 2. Avaliação de Riscos. 3. Pensamento Tático. 4. Intervenção Policial. 5. Processo de Comunicação. 6. Uso da Força CDD - 353.3 CDU - 351.75(815.1) Bibliotecária responsável: Tatiane Krempser Gandra – CRB 6/2963 ADMINISTRAÇÃO Comando-Geral da Polícia Militar Quartel do Comando-Geral da PMMG Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas, Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900 SUPORTE METODOLÓGICO E TÉCNICO Assessoria Estratégica de Emprego Operacional – PM3 Quartel do Comando-Geral da PMMG Cidade Administrativa Tancredo Neves, Edifício Minas, Rodovia Papa João Paulo II, nº 4143 – 6º Andar, Bairro Serra Verde Belo Horizonte – MG – Brasil - CEP 31.630-900 E-mail: pm3@pmmg.mg.gov.br GOVERNADOR DO ESTADO ROMEU ZEMA NETO COMANDANTE-GERAL DA PMMG CEL PM RODRIGO SOUSA RODRIGUES CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA PMMG CEL PM EDUARDO FELISBERTO ALVES CHEFE DO GABINETE MILITAR DO GOVERNADOR CEL PM OSVALDO DE SOUZA MARQUES CHEFE DA ASSESSORIA ESTRATÉGICA DE EMPREGO OPERACIONAL TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS COLABORADORES 1ª EDIÇÃO (2010) CEL PM FÁBIO MANHÃES XAVIER CEL PM ANTÔNIO LEANDRO BETTONI DA SILVA TEN CEL PM MARCELO VLADIMIR CORRÊA MAJ PM ALFREDO JOSÉ ALVES VELOSO MAJ PM WÁGNER EUSTÁQUIO DA SILVA ALMEIDA MAJ PM EDUARDO DOMINGUES BARBOSA MAJ PM EDUARDO FELISBERTO ALVES MAJ PM ÉDSON GONÇALVES CAP PM ARNALDO AFFONSO CAP PM MARCO AURÉLIO ZANCANELA DO CARMO CAP QOS FABRÍZIA LOPES BRANDÃO PEREIRA CAP PM RODOLFO CÉSAR MOROTTI FERNANDES CAP PM RENATO SALGADO CINTRA GIL CAP PM WANDERSON GARCIA COSTA NEVES 1º TEN PM ÉDSON H. RABELLO DE S. MENDES 1º TEN PM RODRIGO SALDANHA 1º TEN PM MOLISE Z. FONSECA DE SOUZA 1º TEN PM LUCIANA DO CARMO S. NOMINATO 2º TEN PM ANDERSON PEREIRA DE SOUSA 2º TEN PM RICARDO PEREIRA DE ARAUJO GOMES 1º SGT PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA 2º SGT PM RINALDO ARAÚJO MARÇAL 3º SGT PM RICARDO MARTINS LOPES 3º SGT PM MÁRCIA DANIELA BANDEIRA SILVA 3º SGT PM NADJA ALVES DE SOUSA 3º SGT PM EDNA MÁRCIA COSTA MENDONÇA CB PM ELIAS SABINO SOARES SD PM LEONARDO GIORI DE OLIVEIRA SD PM ALINE VANESSA ALVES PROFº. HUGO DE MOURA PROFª. MARIA SÍLVIA SANTOS FIÚZA PEDAGª. ISABEL CRISTINA DE P. MOREIRA NAZARETH ASS. JURÍDICA MARIA AMÉLIA PEREIRA COLABORADORES 2ª EDIÇÃO (2013) TEN CEL PM SÍLVIO JOSÉ DE SOUSA FILHO MAJ PM EUGÊNIO PASCOAL DA CUNHA VALADARES MAJ PM CLEVERSON NATAL DE OLIVEIRA CAP PM RICARDO LUIZ AMORIM GONTIJO FOUREAUX 1º TEN PM HELIVELTON SALVADOR SANTANA SUBTEN PM ANTÔNIO GERALDO ALVES SIQUEIRA 2º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA 2º SGT PM LUIZ HENRIQUE DE MORAES FIRMINO CB PM ELIAS SABINO SOARES COLABORADORES 3ª EDIÇÃO (2020) REDAÇÃO TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS TEN CEL PM RODRIGO SALDANHA TEN CEL PM SANDRO ALEX CANUTO GONÇALVES MAJ PM WELVISSON GOMES BRANDÃO CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA 1º TEN PM PABLO SÉRGIO DE SOUZA CORREA 1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO 1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS 1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA 1º SGT PM SANDRO GONÇALVES MAIA 1º SGT PM CÉSAR AUGUSTO VILAÇA JÚNIOR 2º SGT PM DANIEL CORDEIRO RODRIGUES FOTOGRAFIAS CAP PM IRAN MARTINS DE OLIVEIRA 1º TEN PM CLÁUDIO JOSÉ VIRGÍLIO 1º SGT PM DANILO TEIXEIRA ALCÂNTARA REVISÃO DOUTRINÁRIA TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS 1º TEN PM BRUNO DINIZ CAMPOS 3º SGT PM DANIELLE SUELI VENTURA REVISÃO FINAL TEN CEL PM WAGNER ALAN DE MATTOS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APF - Auto de Prisão em Flagrante AR - Auto de Resistência BO - Boletim de Ocorrência CCEAL - Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei CG - Comando-Geral COPOM - Centro de Operações Policiais Militares HPM - Hospital da Polícia Militar IMPO - Instrumento de Maior Potencial Ofensivo IPM - Inquérito Policial Militar MG - Minas Gerais MTP - Manual Técnico-Profissional NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde ONU - Organização das Nações Unidas PBUFAF - Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei PIDCP - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos PIDSEC - Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais PM3 - Assessoria Estratégica de Emprego Operacional PMMG - Polícia Militar de Minas Gerais REDS - Registro de Evento de Defesa Social SIPOM - Sistema de Inteligência da Polícia Militar TCAF - Treinamento com Armas de Fogo LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Quarteto do pensamento tático ........................................................................... 21 Figura 2 - Etapas da intervenção policial ............................................................................. 32 Figura 3 - Modelo do uso diferenciado da força .................................................................. 59 Figura 4 - Local para transporte da arma portátil em viatura que não possui cabide. ......... 63 Figura 5 - Policial militar com a arma na posição 1 (arma localizada) e suas variações ...... 64 Figura 6 - Policial militar com a arma na posição 2 (arma em guarda-baixa) e suas variações ............................................................................................................................. 65 Figura 7 - Policial militar com a arma na posição 3 (arma em guarda-alta) e suas variações ............................................................................................................................................ 66 Figura 8 - Policial militar com a arma na posição 4 (arma em pronta-resposta) e suas variações ............................................................................................................................. 66 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 8 2 PREPARO MENTAL ......................................................................................................... 11 2.1 Estados de prontidão .................................................................................................. 12 2.1.1 Classificação dos estados de prontidão ...................................................................... 12 2.2 Estados de prontidão e a atuação policial-militar ..................................................... 15 3 AVALIAÇÃO DE RISCOS ................................................................................................. 18 3.1 Metodologia de avaliação de riscos ........................................................................... 18 3.2 Aplicação ...................................................................................................................... 20 4 PENSAMENTO TÁTICO ..................................................................................................21 4.1 Quarteto do pensamento tático .................................................................................. 21 4.1.1 Leitura do ambiente .................................................................................................... 24 4.1.2 Alinhamento com os estados de prontidão .................................................................. 25 4.2 Processo mental da agressão ..................................................................................... 27 5 INTERVENÇÃO POLICIAL .............................................................................................. 30 5.1 Níveis de intervenção .................................................................................................. 30 5.2 Etapas da intervenção ................................................................................................. 31 5.3 Abordagem policial ...................................................................................................... 33 5.3.1 Fundamentos da abordagem policial a pessoa em atitude suspeita ............................ 34 5.4 Requisitos básicos para intervenção policial-militar ................................................ 36 6 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ................................................................................... 37 6.1 Comunicação na intervenção policial ........................................................................ 38 6.1.1 Verbalização durante a abordagem policial ................................................................. 41 6.2 Considerações finais ................................................................................................... 48 7 USO DA FORÇA .............................................................................................................. 50 7.1 Princípios do uso da força .......................................................................................... 51 7.1.1 Níveis de comportamento da pessoa abordada .......................................................... 54 7.1.2 Uso diferenciado da força ........................................................................................... 55 7.1.3 Modelo Gráfico do uso diferenciado da força .............................................................. 59 7.1.4 Responsabilidade pelo uso da força ........................................................................... 60 7.2 Arma de fogo ................................................................................................................ 61 7.2.1 Regras gerais de controle ........................................................................................... 61 7.2.2 Normas de segurança ................................................................................................. 62 7.2.3 Usar ou empregar arma de fogo ................................................................................. 63 7.2.3.1 Possibilidades de uso ou emprego de armas de fogo: ............................................. 64 7.2.4 Atirar ou disparar arma de fogo ................................................................................... 67 7.2.4.1 Objetivo do disparo .................................................................................................. 67 7.2.4.2 Procedimentos para o disparo da arma de fogo ....................................................... 70 7.2.4.3 Circunstâncias especiais para o disparo de arma de fogo........................................ 72 7.2.4.4 Procedimentos após o disparo de arma de fogo ...................................................... 76 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 77 8 MANUAL TÉCNICO PROFISSIONAL Nº 3.04.01/2020 – CG Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da Força 1 APRESENTAÇÃO Os fundamentos aplicados neste “Manual Técnico-Profissional” estão em conformidade com a legislação brasileira e com os documentos oriundos da Organização das Nações Unidas (ONU), aplicáveis à função policial, quais sejam: Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF), o Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL), o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (PIDSEC) e a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes. Expressar toda a complexidade da atividade policial-militar em um conjunto de textos é desafiador. Cada intervenção é singular e exige flexibilidade do profissional. Mas é necessário ter parâmetros bem definidos que deem sustentação às ações policiais militares, mesmo considerando essa versatilidade. Diante dessa realidade, caracterizada por tantas variáveis, é imprescindível respeitar os princípios legais e éticos que conferem identidade e legitimidade à profissão policial-militar e aplicar técnicas e procedimentos consolidados pela experiência de seus integrantes. A construção do escopo doutrinário declara o que esta atividade tem de essencial, constante e estável; uma estrutura sólida que servirá de guia sobre a atividade operacional da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG). Registra-se ainda que o vigor operacional da Corporação, sua força e eficiência devem se mostrar no esforço e energia diária desprendidos por todos os policiais militares na garantia da lei e da ordem no Estado de Minas Gerais. Este exercício profissional deve traduzir-se também, individualmente, na disciplina militar, lealdade, honestidade, espírito de corpo, iniciativa, dedicação, equilíbrio emocional, coragem, abnegação, vigor físico, civismo e patriotismo. A PMMG apresenta um conjunto de Manuais Técnicos-Profissionais que estabelecem métodos, técnicas e parâmetros que propiciam suporte à sua prática profissional e, por isso, consistem em instrumentos educativos e de proteção, tanto para o policial quanto para o cidadão. 9 Este Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01 (MTP 01) – Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da Força tem como finalidade apresentar orientações básicas para a efetividade das intervenções policiais e deve ser tomado como referencial obrigatório para os demais Manuais Técnicos-Profissionais. A Seção 2 deste manual, trata do Preparo Mental e dos Estados de Prontidão, ressaltando a importância de o policial militar ensaiar possibilidades para antecipar respostas e observar sua capacidade de reação para as diferentes situações do cotidiano operacional. A Seção 3 traz a metodologia para proceder à Avaliação de Riscos, ferramenta necessária para diagnosticar as diversas situações de ameaça e as condições de segurança para uma intervenção. O Pensamento Tático é outro recurso importante para o diagnóstico de cada ocorrência. Ele fornece elementos para analisar e controlar as diferentes áreas do “teatro de operações” e buscar interferir no processo mental do agressor, subsidiando o planejamento da intervenção. Será desenvolvido na Seção 4, em complemento à seção anterior. A Seção 5 aborda o tema Intervenção Policial-Militar, suas etapas e classificação em três níveis diferentes, em função dos objetivos e riscos avaliados. A Abordagem Policial, como exteriorização da intervenção, também é tratada nesta seção, contudo, de forma introdutória, pois será retomada mais detalhadamente nos outros Manuais Técnicos, devido à sua importância na atividade policial-militar. O Processo de Comunicação é tema da Seção 6, destacando a importância dos elementos verbais e não verbais do processo de comunicação, como instrumento facilitador em qualquer intervenção, aplicável em todos os níveis de uso da força pela Polícia Militar.Finalizando, a Seção 7 dispõe sobre o Uso da Força, seus diferentes níveis, além de trazer considerações e orientações sobre o Uso da Arma de Fogo e de Força Potencialmente Letal, consistindo num referencial para que o policial militar tenha segurança em utilizá-la, desde que em conformidade com os princípios éticos e legais que regem seu emprego. 10 Este conjunto de Manuais Técnicos-Profissionais operacionais denomina-se Prática Policial-Militar Básica e será composto pelos seguintes documentos: a) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.01 – Intervenção Policial, Processo de Comunicação e Uso da Força (MTP - 01); b) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02 – Abordagem a Pessoas (MTP - 02); c) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.03 – Blitz Policial (MTP - 03); d) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.04 – Abordagem a Veículos (MTP - 04); e) Manual Técnico-Profissional nº 3.04.05 – Escoltas Policiais e Conduções Diversas (MTP - 05). 11 2 PREPARO MENTAL É fato que cada ocorrência policial possui um conjunto de variáveis que a torna única. Cada intervenção é singular, exigindo que o policial militar seja versátil e capaz de adaptar-se às peculiaridades de cada situação do cotidiano operacional. Nesse contexto, a segurança do policial militar, na execução das suas tarefas, está diretamente relacionada ao seu preparo mental. Considera-se preparo mental o processo de pré-visualizar os prováveis problemas a serem encontrados em cada tipo de intervenção policial-militar e ensaiar mentalmente as possibilidades de respostas. Essa antecipação desencadeia um conjunto de alterações fisiológicas e psicológicas, colocando o policial militar num estado de prontidão que ampliará sua capacidade de resposta a cada situação. A falta do preparo mental do policial militar durante uma intervenção prejudicará o seu desempenho, levando a um aumento de seu tempo de resposta à agressão e, assim, o uso da força poderá ser inadequado (excessivo ou aquém do necessário para contê-la). Num cenário mais grave, o policial militar pode ser levado a uma paralisia ou a um bloqueio na sua capacidade de reagir, comprometendo, consequentemente, a segurança e o resultado da ocorrência. Visualizar as situações e respostas possíveis prepara o policial militar para a tomada de decisões. Mesmo em circunstâncias adversas (por exemplo, ferido ou sob estresse), o policial militar bem treinado terá como responder, adequadamente, dentro dos padrões técnicos, legais e éticos. O treinamento policial-militar baseado em situações práticas que se aproximam do cotidiano profissional, somado à análise crítica de erros e acertos vivenciados na experiência real, contribuem para o desenvolvimento da habilidade do policial militar pensar sobre como ele agiria nas diversas situações, visualizando mentalmente suas respostas e definindo previamente o seu procedimento básico. Dessa forma, ele criará rotinas seguras para sua atuação. Por isso, o treinamento policial-militar deve ser contínuo, valorizando o preparo mental, tanto quanto todas as atividades da capacitação profissional. 12 2.1 Estados de prontidão Na atividade profissional, o policial militar lida com diversas situações caracterizadas por diferentes níveis de risco e complexidade. Cada momento exigirá dele uma habilidade de antecipar e reagir ao perigo e atuar em um estado de prontidão diferente. Os estados de prontidão são definidos por um conjunto de alterações fisiológicas (frequência cardíaca, ritmo respiratório, dentre outros) e das funções mentais (concentração, atenção, pensamento, percepção, emotividade) que influenciam na capacidade de reagir às situações de perigo. É importante destacar que os estados de prontidão dependem de fatores subjetivos, tais como experiências anteriores, domínio técnico e relacionamento com a equipe de trabalho, que influenciam no modo como cada policial militar percebe e responde a um mesmo estímulo. 2.1.1 Classificação dos estados de prontidão Os diferentes estados de prontidão são classificados da seguinte forma: a) Estado Relaxado É caracterizado pela distração em relação ao que está acontecendo ao redor, pelo pensamento disperso e pelo relaxamento psíquico do policial militar. Pode ser ocasionado por uma percepção errônea da ausência de perigo ou mesmo por cansaço. É representado pela cor branca. O policial militar encontra-se despreparado para um eventual confronto e, caso uma intervenção seja necessária, aumentará consideravelmente os riscos e comprometerá a sua segurança individual e a de sua guarnição. Exemplo: o policial militar de folga, em casa, almoçando com sua família, pode se encontrar no estado relaxado. Por outro lado, em patrulhamento, escutar uma música com fone de LEMBRE-SE: Ao desenvolver o preparo mental, o policial militar antecipa-se, fazendo uma avaliação preliminar das ameaças e considera as possibilidades de atuação. 13 ouvido ou usar o celular para assuntos diversos que desviem sua atenção do policiamento executado, colocará a sua segurança e a de seu grupo em risco, caso tenha que fazer uma intervenção inesperada. b) Estado de Atenção Neste estado de prontidão, o policial militar está atento, precavido, mas não está tenso. Apresenta calma, porém, mantém constante vigilância das pessoas, dos lugares, das coisas e ações ao seu redor por meio de uma observação multidirecional e da atenção difusa (em 360º). É representado pela cor amarela. No Estado de Atenção, o policial militar estará preparado para empregar ações de respostas adequadas às situações de normalidade. Não há identificação de um ato hostil e, embora não haja um confronto iminente, o policial militar está ciente de que uma agressão é possível. Percebe e avalia constantemente o ambiente, atento a qualquer sinal que possa indicar uma ameaça em potencial e a necessidade de intervenção. Exemplos: o policial militar, realizando patrulhamento em sua área de responsabilidade e interagindo com comerciantes, orientando-os quanto a dicas de segurança e, ao mesmo tempo, estando atento a toda a movimentação de pessoas dentro e fora do estabelecimento comercial; Qualquer deslocamento do policial militar fardado ou à paisana durante sua folga. O mesmo se aplica aos Policiais Militares do Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM). c) Estado de Alerta Neste estado de prontidão, o policial militar detecta um problema e está ciente de que um confronto é provável. Embora ainda não haja necessidade imediata de reação, o policial militar se mantém vigilante, identifica prováveis riscos que exijam uso da força e calcula o nível de resposta adequado. É representado pela cor laranja. ATENÇÃO! Na atividade operacional ou em deslocamento fardado ou à paisana, em ambientes não controlados, o policial militar NÃO deve estar no estado relaxado (branco). 14 Manter-se no estado de alerta diminui os riscos do policial militar ser surpreendido, propiciando a adoção de ações de resposta, conforme a situação exigir. Deve-se avaliar a necessidade de pedir apoio de outros policiais militares e, concomitantemente, identificar prováveis abrigos (proteções) que possam ser utilizados. Exemplos: o policial militar acionado pelo rádio por meio do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) para atender a uma ocorrência em um local considerado zona quente de criminalidade ou a um chamado de um roubo à mão armada ocorrido na sua região de patrulhamento, e desloca-se a fim de tentar realizar a prisão dos agentes. d) Estado de Alarme Neste estado de prontidão, o risco é real e uma resposta do policial militar é necessária. É importante focalizar a ameaça (atenção concentrada no problema) e ter em mente a ação adequada paracontrolá-la, aliando a intervenção verbal ao uso das demais técnicas (inclusive de menor potencial ofensivo), ou da força potencialmente letal, conforme as circunstâncias exigirem. É representado pela cor vermelha. O preparo mental e o treinamento técnico recebido possibilitarão ao policial militar condições de realizar sua defesa e a de terceiros e, mesmo em situações de emergência, decidir adequadamente. Exemplos: o policial militar intervindo no atendimento de uma ocorrência, como num conflito entre vizinhos, e um deles ameaça o outro com uma arma de fogo; ou quando se depara com um veículo que acaba de ser tomado de assalto, iniciando-se uma perseguição ao veículo em fuga. e) Estado de Pânico Quando o policial militar se depara com uma ameaça para a qual não está preparado ou quando se mantém num estado de tensão por um período de tempo muito prolongado, seu organismo entra num processo de sobrecarga física e emocional. É representado pela cor preta. Nesse caso, podem ocorrer falhas na percepção da situação, comprometendo sua capacidade de reagir adequadamente à ameaça enfrentada. Isso caracteriza o estado de pânico . 15 O pânico é o descontrole total que produz paralisia ou uma reação desproporcional, portanto ineficaz. É chamado assim porque a mente entra em uma espécie de “apagão”, o que impossibilita ao policial militar dar respostas apropriadas ao nível da ameaça sob a qual estaria exposto. Durante o estado de pânico, poderá ocorrer o retorno parcial e momentâneo ao estado de alarme, o que até poderá propiciar alguma capacidade de reação. Contudo, é importante interpretar essas oscilações dos estímulos mentais (percepção, atenção ou pensamento) como um grave sinal de perigo e esgotamento mental, e não como indicativos de que o policial militar suporta bem o estresse oferecido pela situação. Exemplos: o policial militar que abandona um abrigo e atraca-se fisicamente com um agressor ou que utiliza a arma de fogo sem controle, atirando de maneira instintiva ou, até mesmo, entrar em uma situação de letargia física ou paralisia momentânea, deixando de acompanhar sua guarnição, quando em deslocamento no local da ocorrência. 2.2 Estados de prontidão e a atuação policial-militar O estado de atenção (amarelo) é o estado de prontidão no qual o policial militar deve operar durante uma situação de normalidade (exemplo: patrulhamento ordinário), dando prioridade para a identificação de possíveis riscos. Durante uma intervenção, policiais militares podem ser feridos em decorrência de situações de risco que não anteciparam, não viram ou não estavam mentalmente preparados para enfrentar. No transcorrer da ação, quando uma mudança de estado de prontidão é exigida, aumentando o nível de concentração do policial militar (para o estado de alerta - laranja ou alarme - vermelho), a partida do estado de atenção (amarelo) é muito mais fácil do que um salto do estado relaxado (branco). Como já foi dito anteriormente, nesse último caso, partindo do estado relaxado (branco), o policial militar estaria tão despreparado que poderia até entrar numa situação de pânico (preto). Ressalta-se que o estado de atenção (amarelo) pode ser mantido por um período mais prolongado sem sobrecarregar as funções físicas e mentais. Contudo, o estado de alerta (laranja) e o estado de alarme (vermelho) podem ser mantidos pelo organismo e pela mente apenas por períodos de tempo relativamente curtos, pois exigem um dispêndio maior de 16 energia. Operar continuamente nesses avançados níveis de prontidão pode desencadear reações adversas, tanto no âmbito físico quanto psicológico, levando a síndromes de esgotamento (estresse crônico). Caso a ocorrência tenha exigido atuação no estado de alarme (vermelho), quando cessada a situação de ameaça, é importante incentivar o policial militar a retornar ao estado de atenção (amarelo), se as condições de segurança do ambiente assim permitirem. Essa medida favorece o retorno do organismo às condições de funcionamento normal, sem muito desgaste. Esse processo pode ser conduzido, logo após o desfecho da ocorrência, pelo próprio comandante da guarnição ou pelo comandante do turno, incentivando o grupo a conversar sobre a experiência vivida. A manutenção do espírito de equipe e da confiança entre líder e liderados são fatores importantes para minimizar o desgaste do profissional. Posteriormente, durante os horários de folga, em ambientes controlados, os policiais militares devem ser incentivados a buscar um repouso (estado relaxado – branco). A participação em atividades junto à família ou amigos, a prática de esportes, atividades culturais, ou outros hábitos de vida mais saudáveis devem fazer parte da rotina durante as folgas. Caso o policial militar sinta os efeitos do estado de pânico, mesmo durante as folgas, é extremamente recomendado buscar apoio na sua unidade e incentivado o contato com profissionais da área de saúde, (psicólogos, terapeutas, etc) seja nos Núcleos de Atenção Integral à Saúde (NAIS), diretamente no Hospital da Polícia Militar (HPM) ou profissionais de saúde da rede de conveniados. Caso não haja preocupação com essas medidas, o policial militar estará mais propenso a desenvolver um quadro de estresse crônico. Comportamentos de irritabilidade, intolerância e impaciência são sintomas comuns e, agindo sobre os efeitos deste quadro, o policial militar poderá responder de forma impulsiva quando se deparar com situações de ameaça e perigo, ou ainda, com reações exageradas mesmo em ocorrências com baixo nível de risco e complexidade (nível de força incompatível com a análise de risco e reação do abordado). Tudo isso pode favorecer o surgimento do estado de pânico (preto) durante o serviço operacional. Medidas que incentivam o retorno ao estado relaxado (branco) são, portanto, estratégias que contribuem tanto para a prevenção da saúde mental do profissional de 17 segurança pública quanto para evitar a banalização de atos de violência nas intervenções policiais militares. O acompanhamento com o profissional de saúde promoverá uma melhora na qualidade de vida do policial militar, e permitirá um resultado positivo na atividade profissional, além de evitar atingir graus de estresse mais elevados que o serviço exige. Assim, o estado de prontidão do policial militar é considerado tão fundamental quanto os equipamentos e armamentos colocados à sua disposição no serviço ou patrulhamento, pois, juntamente com o domínio técnico e o condicionamento físico, é ele que determinará sua condição de resposta à situação apresentada. Quanto melhor preparado mentalmente, melhor condição o policial militar terá para: a) detectar sinais de riscos e de ameaças; b colocar-se no estado de prontidão apropriado para cada situação; c) ter autodomínio para passar para um nível mais alto ou mais baixo de prontidão, de acordo com a evolução da intervenção. 18 3 AVALIAÇÃO DE RISCOS Toda intervenção envolve algum tipo de risco potencial que deverá ser considerado pelo policial militar. O risco é a probabilidade de concretização de uma ameaça contra pessoa e bens. Cada situação exigirá que ele se mantenha no estado de prontidão compatível com a gravidade dos riscos que identificar, podendo migrar de um estado de prontidão para outro que a situação exigir. Uma ponderação prévia irá orientar o policial militar sobre a necessidade e o momento de iniciar a intervenção, escolhendo a melhor maneira para fazê- lo. Toda ação policial-militar deverá ser precedida de uma avaliação dos riscos envolvidos, que consiste na análise da probabilidade da concretização do dano e de todos os aspectos de segurança que subsidiarão o processo de tomada de decisão em uma intervenção, formando um componente importantedo diagnóstico provável da intervenção. O risco é incerto, mas é previsível e em sua avaliação o policial militar deverá ter em mente que, em qualquer processo de tomada de decisão em ambiente operacional, a Polícia Militar tem o dever funcional de preservar vidas, de servir e proteger a sociedade, preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo o cumprimento da lei1. 3.1 Metodologia de avaliação de riscos Esta metodologia compreende cinco etapas, sendo elas: a) Etapa 1 - identificação de direitos e garantias2 sob ameaça: consiste em identificar qual direito ou garantia está exposto ao risco, os bens móveis e imóveis sujeitos a algum tipo de dano, as circunstâncias e o histórico dos fatos, o comportamento das possíveis vítimas envolvidas, o tipo de delito e a possibilidade de evolução do problema. b) Etapa 2 - avaliação das ameaças: consiste em avaliar as características dos fatores que ameaçam direitos e garantias. Para tanto, o policial militar deve obter informações do infrator em potencial (idade, sexo, compleição física, estado emocional e psicológico, motivação 1 Inciso V do art. 144 da Constituição Federal Brasileira. 2 Os direitos e garantias são os previstos na Constituição Federal de 1988. 19 para o ato, armas empregadas, trajetória criminal, registro anterior de agressão ou da ação contra policiais, entre outros); c) Etapa 3 – classificação de risco: a classificação de risco permite ao policial militar agir dentro de padrões de segurança, auxilia na escolha do comportamento tático mais adequado, além de lhe propiciar melhores condições para assegurar os direitos e proteger todos os envolvidos. A classificação de risco está estruturada em 3 níveis: Risco nível I - caracterizado pela reduzida possibilidade de ocorrerem ameaças que comprometam a segurança. Este nível de risco está presente em situações rotineiras do patrulhamento e intervenções de caráter preventivo, educativo e assistencial. O estado de prontidão coerente com o risco de nível I é o estado de atenção (amarelo); Risco nível II - caracterizado pela real possibilidade de ocorrerem ameaças que comprometam a segurança. São situações nas quais existe fundada suspeita, mas que a intervenção policial-militar consiste numa averiguação preventiva. O estado de prontidão coerente com o risco de nível II é o estado de alerta (laranja); Risco nível III - caracterizado pela concretização do dano ou pelo risco real e iminente. São situações nas quais a intervenção policial-militar é de caráter repressivo3. O estado de prontidão coerente com o risco de nível III é o estado de alarme (vermelho). d) Etapa 4 – análise das vulnerabilidades: consiste em analisar os recursos que existem para responder à ameaça, dentre eles: Competências profissionais dos policiais militares para agir no cenário em função das técnicas e táticas adequadas aos tipos de ameaças; Efetivo policial-militar suficiente para atuar com supremacia de força; Meios que o policial militar dispõe para intervir de forma efetiva e segura (armamento, colete balístico, equipamento para comunicação, veículos, entre outros). 3 A palavra “repressivo” admite conotação depreciativa relacionada, principalmente, a fatores históricos, políticos, culturais e ideológicos referentes à tríade classe, raça e gênero. Contudo, no âmbito da atividade policial-militar, o termo é empregado para caracterizar ações de cunho técnico e profissional voltadas a coibir atos ilícitos que ameaçam direitos fundamentais. 20 e) Etapa 5 – avaliação dos possíveis resultados: é a análise da relação custo-benefício da intervenção policial-militar diante de cada situação de risco. Cabe ao policial militar estimar quais serão os resultados de suas ações e seus reflexos na defesa da vida e das pessoas, no reforço de um cenário de paz social e na imagem da PMMG. 3.2 Aplicação A Avaliação de Riscos possibilita o uso de técnicas e táticas adequadas às diversas formas de intervenção policial (ver Intervenção Policial – Seção 5). Para cada nível de risco determinado, haverá condutas operacionais pré-estabelecidas como referência para a ação policial-militar, cabendo-lhe selecionar os procedimentos mais adequados a cada situação. Cada atuação da Polícia Militar é cercada de particularidades. Não existem ocorrências iguais, contudo é possível desenhar um conjunto de “situações básicas” que podem servir de modelos aplicáveis ao treinamento. A sistematização das respostas esperadas a partir da identificação e classificação de riscos em uma intervenção policial-militar viabiliza a seleção e a aplicação de procedimentos adequados à solução de problemas, como será visto na seção seguinte. LEMBRE-SE: não é possível afastar completamente o risco em uma intervenção policial militar, mas o preparo mental, o treinamento e a obediência às normas técnicas garantem uma probabilidade maior de sucesso. 21 4 PENSAMENTO TÁTICO Pensamento tático é o processo de análise do cenário da intervenção policial-militar (leitura do ambiente). Consiste em mapear as diferentes áreas do “teatro de operações” em função dos riscos avaliados, identificar perímetros de segurança para atuação, priorizar os pontos que exijam maior atenção e tentar interferir no processo mental do agressor, limitando sua ação. Enquanto o preparo mental ocorre antes da intervenção, o pensamento tático ocorre concomitantemente com a avaliação de riscos, sendo importantes componentes do diagnóstico provável da intervenção. Num processo dinâmico, atualiza-se em função da evolução da ocorrência. 4.1 Quarteto do pensamento tático O pensamento tático é norteado pelo quarteto: área de segurança, área de risco, ponto de foco e ponto quente. Figura 1 - Quarteto do pensamento tático Fonte: Elaborado pelo autor. AVALIAÇÃO DE RISCOS + PENSAMENTO TÁTICO = DIAGNÓSTICO PROVÁVEL DA INTERVENÇÃO 22 Ao aplicar esses conceitos, o policial militar terá melhores condições para avaliar e reagir adequadamente aos riscos que possa vir a enfrentar, mesmo sob estresse. O emprego do pensamento tático permite ao policial militar: Dividir em diferentes níveis de perigo o local onde se encontra ou para onde se dirige (“teatro de operações”); Formular um plano de ação; Estabelecer prioridade para dirigir a atenção e determinar pontos que devam ser controlados; Manter segurança individual e da equipe no desenrolar da ocorrência; Controlar ameaças que possam surgir. Os conceitos que se seguem devem ser entendidos de maneira ampla e sistêmica, sendo adaptáveis às diversas situações operacionais: a) Área de segurança É a área na qual a Polícia Militar tem o domínio da situação, não havendo, presumidamente, riscos à integridade física e à segurança dos envolvidos. É o espaço onde o policial militar deve, primeiramente, se colocar durante a intervenção, evitando se expor a perigos desnecessários. Exemplo: Manter-se abrigado nos arredores de uma residência já cercada por policiais militares, devidamente protegidos onde, no interior da edificação, se encontra o suspeito da prática de um delito, armado. b) Área de risco Consiste num espaço físico delimitado, no “teatro de operações”, onde há maior probabilidade de existir ameaças, potenciais ou reais, que ponham em perigo a integridade física e a segurança dos envolvidos. Via de regra, o policial militar não deve estar neste espaço sem controlá-lo. É a área na qual o policial militar não detém o domínio da situação, 23 por ainda não ter realizado buscas, torna-se, uma fonte de perigo para ele ou terceiros, e por isso requer que os riscos envolvidos sejam rigorosamente avaliados (ver Avaliação de Riscos – seção 3).Exemplo: o interior de uma residência onde se encontram suspeitos da prática de um delito, considerando que os policiais militares já dominaram os arredores da edificação. c) Ponto de foco Os pontos de foco são partes dentro da área de risco que requerem monitoramento específico e demandam imediata atenção do policial militar, uma vez que deles podem surgir ameaças que representem risco à segurança dos envolvidos, ou seja, elementos no ambiente para os quais há a convergência do pensamento, acerca do risco real ou potencial que representa para a atuação policial, e que demandam cautela na conduta operacional. Portas, janelas, escadas, corredores, partes dos veículos, obstáculos físicos, escavações, uma pessoa, ou qualquer outro elemento no local de atuação que possa oferecer ameaça, mesmo que não imediatamente visível ou conhecida. Exemplo: Uma porta que dá acesso a um dos cômodos do interior da residência, considerando que os policiais encontram-se no interior da residência executando um adentramento tático. d) Ponto quente Os pontos quentes são partes do ponto de foco que possuem um maior potencial de se tornarem fontes reais de agressão e que, por isso, devem ser cautelosamente monitorados para garantir a segurança de todos os envolvidos. O policial militar direcionará sua atenção, energia e habilidade para essas fontes a fim de responder adequadamente, considerando os princípios e as regras para o uso da força. Seguindo o exemplo da alínea “c) Ponto de foco”, o ponto quente será o suspeito da prática de um delito, que está posicionado na porta que dá acesso a um dos cômodos. É necessário compreender que a definição do que será ponto de foco e ponto quente ocorre de maneira contínua e dinâmica, decorrente da avaliação de riscos. Isso permite ao policial ATENÇÃO! O policial militar para adentrar a área de risco deve considerar os perigos que ali se encontram. 24 militar reclassificá-los à medida que os locais de onde podem partir as ameaças vão sendo identificados e/ou controlados, mais especificamente. No exemplo anterior, no primeiro momento, o suspeito na porta foi definido como um ponto quente. Contudo, quando o policial militar identifica que ele está com uma arma de fogo, a partir de então, o abordado será considerado como um ponto de foco e suas mãos passam a ser o ponto quente. Outro exemplo: um veículo suspeito será considerado ponto de foco e um indivíduo que está em seu interior o ponto quente. Esse mesmo indivíduo poderá tornar-se o ponto de foco e suas mãos serão definidas como o ponto quente. Igual atenção deverá ser dada às janelas, portas e porta-malas, pois são locais prováveis para o surgimento de ameaças (pontos quentes). 4.1.1 Leitura do ambiente Existem três questões chaves para uma correta leitura do ambiente, que levam à identificação dos riscos presentes numa intervenção policial: Onde estão os riscos potenciais nesta situação? Ao se aproximar de uma residência para atendimento de uma ocorrência, uma mulher sai correndo de dentro da casa na direção ao policial militar. Considere, a mulher, em si mesma, é uma ameaça? Onde estão as portas e janelas das quais o policial militar pode ser visto ou atingido por alguém que se encontre dentro da residência? Que outros locais podem abrigar um agressor que não foi visto? Esses riscos estão controlados? Na cena descrita, existem locais de ameaça que o policial militar ainda não controla. Qualquer foco de ameaça que não esteja sob o controle visual de pelo menos um policial militar é um risco que não se controla. No exemplo, o policial militar não deve se colocar parado no passeio em frente à residência, exposto a tais pontos de foco, pois aumenta o perigo potencial de sofrer um ataque. 25 Se esses riscos não estão controlados, como fazer para controlá-los? Nesse exemplo, o policial militar pode considerar os possíveis abrigos próximos: uma grande árvore, uma coluna de varanda, um carro estacionado, uma caçamba ou outro meio de proteção. Abrigado numa área de segurança, o policial militar utiliza a verbalização para identificar e direcionar a mulher para uma posição segura e, simultaneamente, checa, periodicamente, o ambiente em sua volta, avalia a área de risco, identifica os pontos de foco e visualiza os pontos quentes. 4.1.2 Alinhamento com os estados de prontidão É possível alinhar os conceitos do pensamento tático com o estado de prontidão. Quando o policial militar se aproxima da área de risco e começa a analisá-la, o seu estado de prontidão deve ser o de alerta (laranja), precavendo-se contra situações adversas e estando consciente de que o perigo pode estar presente. Ao chegar ao local de intervenção, é necessário avaliar a área de risco, procedendo à identificação dos pontos de foco e seus pontos quentes. O policial militar deve questionar se é possível controlar todos os pontos (todas as pessoas e suas mãos, casas e suas janelas e portas, dentre outros). Ao identificar um ponto de foco, o policial militar deverá esforçar-se ainda mais para manter o controle visual da situação. O estado de prontidão poderá subir para o estado de alarme (vermelho), conforme o caso. O policial militar deverá estar atento e preparado para fazer uso da força diante de uma possível agressão. Quando o policial miliatar localiza um risco real no ponto quente, o estado de prontidão deverá atingir, definitivamente, o estado de alarme (vermelho), contribuindo para que o policial militar esteja em condições de controlar a ameaça. LEMBRE-SE: ao se colocar num estado de prontidão adequado, passando do estado de atenção (amarelo) para o estado de alerta (laranja) ou para o estado de alarme (vermelho), quando necessário, o policial militar estará melhor preparado para identificar os pontos de foco e seus pontos quentes. 26 Em algumas situações, a avaliação de riscos leva o policial militar à conclusão de que não possui condições suficientes (efetivo de policiais, armamento, treinamento, entre outros) para agir imediatamente (etapa 4 da avaliação de riscos). Nesse caso, recomenda-se ao policial militar algumas ações de primeiro interventor4: a) não adentrar a área de risco; b) conter a crise, ou seja, impedir que outras pessoas ou áreas sejam envolvidas; c) isolar o local; d) solicitar apoio via rede de rádio; e) iniciar a verbalização. O objetivo do policial militar em uma ocorrência é, de modo geral, impedir o agravamento de qualquer situação e solucionar os problemas. Quando o policial militar não se expõe a perigos desnecessários e trabalha sem invadir a área de risco, identificando e controlando os pontos de foco, ele possui mais chances de evitar confronto direto e terá mais tempo e maior segurança para decidir quando e como agir. Em situações em que há mais de um policial militar, é possível dividir os pontos de foco de uma área de risco. O número de policiais militares empregados em uma intervenção deve ser, sempre que possível, capaz de proporcionar o controle de todos os pontos de foco e seus pontos quentes. Algumas vezes, policiais militares se concentram em um mesmo ponto de foco deixando outros sem controle. Todos os pontos de foco devem estar sob vigilância e, para isso, deverá ocorrer uma ação coordenada por parte dos policiais. Jamais um ponto de foco pode ser desconsiderado. O policial militar que verbaliza manterá contato visual com o abordado, sempre olhando para ele. Isso interferirá no processo mental do agressor, reduzindo sua capacidade de reação. Se uma ameaça real surge de um ponto de foco, a habilidade e o preparo mental para entender e controlar os seus pontos quentes serão os suportes para a resposta correta do policial militar. Nesse sentido, duas consideraçõessão importantes: 4 Primeiro interventor é o primeiro policial que chega no local da ocorrência e inicia o protocolo de solução de crise, quando esta extrapola o atendimento rotineiro. 27 Não dispersar e não dividir a atenção! Pode ser possível monitorar mais de um ponto de foco, ao mesmo tempo, pelo policial militar, dependendo da situação, da distância em que se encontram e do tempo necessário para a reação. Mas ele não conseguirá controlar, plenamente, mais de um ponto quente por vez. O estado de alarme (vermelho) demanda muita atenção quando um ponto quente é identificado, sendo necessário avaliar qual ameaça é a mais séria e imediata e nela concentrar esforços. Estando ela dominada, a probabilidade de agressão diminui. Não confundir atenção concentrada com visão em Túnel; Em uma situação de risco iminente, o policial militar deve concentrar toda a sua força e energia para controlar a ameaça o mais rápido possível. Por outro lado, a “visão em túnel” ocorre quando o policial militar fixa seu olhar e sua atenção em apenas um ponto, perdendo a capacidade de percepção do que se encontra à sua volta. Como consequência, poderá eleger um objetivo incorreto ou um conjunto de ações inadequadas para atingi-lo. O policial militar, na sua prática operacional diária, deve lidar com a probabilidade de riscos, preparando-se para enfrentar ameaças onde quer que elas possam ocorrer. Não é possível eliminar todos os riscos da sua atividade, mas, usando corretamente os princípios do pensamento tático, haverá uma redução substancial do perigo. 4.2 Processo mental da agressão Consiste nas etapas percorridas por uma pessoa que intenciona agredir o policial militar, da seguinte maneira: Identificar: captar o estímulo por meio da visão, dos sons ou de outra forma de perceber a presença do policial militar; Decidir: definir o que fazer, isto é, preparar-se para o ataque ou ocultar-se; Agir: colocar em prática aquilo que decidiu. Conhecer esse processo é identificar os estágios de pensamento que uma pessoa seguirá para agredir o policial militar. Utilizar essa informação no contexto das ações e operações possibilita minimizar ou evitar uma ameaça direta. 28 Usualmente, as etapas do processo mental da agressão percorridas pelo suspeito ocorrem nesta sequência (IDENTIFICAR, DECIDIR E AGIR), porém, ocasionalmente, podem não ocorrer nesta ordem. Exemplo: o suspeito pode estar com a arma pronta para disparar, apontada para a esquina de um beco em um aglomerado urbano, antes mesmo de identificar um alvo. Qualquer que seja a ordem, um provável agressor tem apenas esse processo de pensamento para percorrer. Isso coloca o policial militar em desvantagem, pois, enquanto o agressor passa por TRÊS fases para executar o ataque, o policial militar passa por QUATRO fases, a fim de responder a ameaça. Após identificar a provável agressão, o policial militar deve se certificar para depois decidir e agir em consonância com os princípios do uso da força (legalidade, necessidade, proporcionalidade), e com os parâmetros éticos. A interpretação da execução do ato policial varia de acordo com a situação fática. O conhecimento do processo mental do agressor propicia a construção de ideias em um pequeno espaço de tempo para antecipar o perigo, identificar e entender o ato de agressão que está ocorrendo. Sabendo que o tempo para reagir é curto, a melhor maneira de trabalhar com essa desvantagem é alongar e manipular o processo mental do agressor. Cinco fatores são úteis na tentativa de compensar as possíveis desvantagens entre os processos mentais do agressor e do policial militar: a) ocultação: se o agressor não sabe exatamente onde o policial militar está, ele terá dificuldades em IDENTIFICÁ-LO para um ataque. Assim, poderá atirar ou atacá-lo a esmo, em um “esforço cego” para atingi-lo, mas, muito provavelmente, sua tentativa será inútil, caso o policial militar se encontre devidamente abrigado e coberto (oculto) na área de segurança. b) surpresa: caracteriza-se por medidas que dificultam a percepção do abordado em relação ao policial militar, ou seja, é uma ação inesperada para o suspeito, surpreendendo-o e reduzindo seu tempo de reação. IDENTIFICAR – CERTIFICAR – DECIDIR – AGIR 29 c) distância: de uma maneira geral, o policial militar deverá manter- se a uma distância que dificulte qualquer tipo de ação por parte do abordado. Certamente, se um ataque físico é a preocupação, quanto maior a distância a ser percorrida pelo agressor para atacar, mais tempo ele demorará para atingir o policial militar que, por sua vez, terá mais tempo para identificar, certificar, decidir e repelir a ameaça. Quanto mais próximo de um agressor, maiores são as chances do policial militar ser atingido. O policial militar estará mais seguro, quando permanecer a uma distância adequada e sob a proteção de um abrigo. Principalmente considerando se tratar de infratores com armas brancas, onde o policial poderá usar a regra de Tueller5 ou regra dos 21 pés (6,4 metros). d) autocontrole: na ânsia de ver o êxito de suas atuações, os policiais militares, frequentemente, abreviam boas táticas ou se lançam dentro da área de risco na presença de um suspeito potencialmente hostil. Por outro lado, se o policial militar faz com que ele venha até a área de segurança, que está sob seu controle, estará provavelmente interferindo em todo o processo de pensamento do agressor, desarticulando, desse modo, suas ações. e) proteção: este princípio é, sem dúvida, o mais importante entre todos. Se o policial militar pode posicionar-se atrás de algo que verdadeiramente o proteja dos tiros e, ao movimentar- se, utiliza abrigos, um agressor terá muita dificuldade em atacá-lo com sucesso. O abrigo também lhe dará mais tempo para identificar qualquer outra ameaça que se apresente. Em resumo, o policial militar deve procurar aumentar o tempo de decisão do agressor, enquanto simplifica e encurta o seu próprio processo mental. Entender este processo ajudará a avaliar as áreas de risco, estabelecendo perímetros de segurança e determinando corretamente as prioridades, segundo os respectivos pontos de foco que se apresentarem. 5 Sargento Dennis Tueller, do Departamento de polícia de Utah (Estados Unidos) criou a Regra de Tueller ou regra dos 21 pés (6,4 metros). A regra estabelece que esta distância é a mínima para ter possibilidades de se defender com uma arma de fogo, diante de uma agressão com arma branca, considerando a arma no coldre em condições de disparo. 30 5 INTERVENÇÃO POLICIAL Entende-se por intervenção policial, a ação ou a operação que empregam técnicas e táticas policiais, em eventos de defesa social, tendo como objetivo prioritário a promoção e a defesa dos direitos fundamentais da pessoa. Toda intervenção policial deve ser transformadora da realidade, objetivando, de modo geral, a prevenção e a resolução de conflitos, o combate ao crime e à violência, a preservação da ordem e a garantia do cumprimento da lei. Uma intervenção da Polícia Militar pode ter como objetivos: o esclarecimento de dúvidas ou o fornecimento de informações junto a um transeunte; a realização de uma busca pessoal, em um veículo ou em uma edificação; uma ação de auxílio a uma pessoa acidentada ou perdida; o cumprimento de mandado de prisão; a imobilização, a algemação e a condução de pessoas; disparar arma de fogo de acordo com os princípios do uso da força e outras formas de contato do policial militar com a sociedade. Ao iniciar uma intervenção, o policial militar deve observar os aspectos éticos, normativos e técnicos que regulam e orientam a sua execução. O conhecimento do conjunto normativo, somado ao treinamento diuturno, garantirá o sucesso dessas ações. 5.1 Níveisde intervenção Os Níveis de intervenção são classificações em função da respectiva avaliação de risco (ver Avaliação de Riscos – seção 3), que podem ser adotadas como referência para a atuação policial-militar. Estão estruturados em três níveis: a) Intervenção nível I: adotada nas situações de caráter preventivo, educativo e assistencial. A finalidade das ações policiais militares neste nível é promover um ambiente seguro por meio de patrulhamento ordinário e contatos com a comunidade, para prevenir, educar e assistir (risco de nível I). No entanto, é sempre necessário lembrar que as situações rotineiras não podem provocar diminuição no nível de atenção do policial militar. O estado de prontidão, neste tipo de intervenção, deverá iniciar no estado de atenção (amarelo). O policial militar deve estar preparado para o caso da situação evoluir e ser necessário fazer o uso da força. b) Intervenção nível II - adotada nas situações em que haja a necessidade de verificação preventiva. Neste caso, a avaliação de riscos indica que existe indício de 31 ameaça à segurança (do policial militar ou de terceiros). Assim, o policial militar deverá manter-se em condições de respondê-la. (Risco nível II e estado de alerta - laranja). Neste tipo de intervenção, além das ações descritas no nível 1, podem ser realizadas buscas em pessoas, veículos ou edificações, pois as equipes envolvidas iniciam suas ações com algum risco já conhecido (indício) e o policial militar deverá estar pronto para enfrentá-lo. Exemplo: abordagem a pessoa ou veículo com características semelhantes às de envolvidos em delitos; execução de patrulhamento e verificações em locais com histórico de violência. c) Intervenção nível III: adotada nas situações em que há certeza do cometimento da infração, caracterizando ações repressivas. Neste caso, a avaliação de riscos indica a iminência de algum tipo de agressão (Risco de nível III e estado de alarme - Vermelho). Os policiais militares deverão estar prontos para o emprego de força, quando assim a situação exigir, sempre com segurança, e observando os princípios da legalidade, necessidade e proporcionalidade. (ver Uso da força - Seção 7). Exemplo: um infrator avistado no momento de uma ameaça direta à vítima ou que, logo após, empreende fuga e é perseguido pela polícia; um agente de crimes procurado pela Justiça e que é identificado pelo policial militar. 5.2 Etapas da intervenção Uma intervenção policial-militar deve ser dividida em etapas para garantir o seu sucesso: a) Etapa 1 - DIAGNÓSTICO: elaborado a partir das informações sobre o motivo, o abordado e o ambiente, obtidas por meio da avaliação de risco e do pensamento tático. b) Etapa 2 - PLANO DE AÇÃO: consiste na decisão, acerca das atribuições de cada policial militar, dos métodos e procedimentos para alcançar objetivos da intervenção. Os policiais militares, trabalhando em equipe, devem ter atitudes coerentes entre si, fruto de uma mesma avaliação de risco e um consequente escalonamento da força. É imprescindível considerar os dados que subsidiaram o diagnóstico, os fundamentos da abordagem, os princípios do uso da força e os recursos disponíveis (pessoas e equipamentos). O plano de ação pode ser elaborado de forma simples e verbal, ou exigir maior estruturação, conforme a avaliação da complexidade. 32 O policial militar precisa responder às seguintes perguntas: - Porque estamos intervindo? - Quem ou o quê iremos abordar? - Onde se dará a intervenção? - O que fazer? - Como atuar? - Qual a função e a posição de cada policial militar? - Quando intervir? c) Etapa 3 - EXECUÇÃO: é a ação propriamente dita, resultante das fases anteriores. Consiste na aplicação prática do plano de ação, bem como da adoção de medidas decorrentes da própria intervenção (prestação de auxílio ou orientação, busca pessoal, prisão e/ou condução do agente e o registro do fato em Boletim de Ocorrência/Registro de Evento de Defesa Social(BO/REDS). d) Etapa 4 - AVALIAÇÃO: as condutas individuais e do grupo, os resultados alcançados e as falhas notadas em cada intervenção devem ser, posteriormente, discutidas e analisadas, e possíveis correções devem ser apresentadas, visando aperfeiçoar as competências profissionais. Figura 2 - Etapas da intervenção policial Fonte: Elaborado pelo autor. 33 5.3 Abordagem policial Na relação cotidiana entre a Polícia Militar e a comunidade, a abordagem policial é a forma de intervenção policial mais comum, sendo executada em todos os níveis, como veremos a seguir. Trata-se de um conjunto de ações policiais militares ordenadas e qualificadas para que o policial militar possa se aproximar de pessoas, veículos ou edificações com o intuito de orientar, identificar, advertir, realizar buscas e efetuar detenções. Para tanto, utiliza-se de técnicas, táticas e meios apropriados que irão variar de acordo com as circunstâncias e com a avaliação de risco. Qualquer contato do policial militar com as pessoas, decorrente da atividade profissional, é considerada abordagem. Exemplos: orientações diversas, coleta de informações, contatos comunitários, medidas assistenciais, buscas pessoais, imobilizações físicas, prisão e condução. O contato físico, necessário e inevitável em alguns tipos de abordagem (aquelas que geram busca pessoal, principalmente), se torna um momento crítico, tanto para os policiais militares quanto para os envolvidos. Por um lado, o abordado pode se sentir constrangido pela intervenção à qual foi submetido e, por outro, pode oferecer riscos ao policial militar. Por isso, ao realizar este procedimento, deve-se atuar, respeitando a dignidade e os direitos fundamentais, sem descuidar-se das medidas de segurança. Na abordagem policial, a busca pessoal, prevista e fundamentada no art 244 do Código de Processo Penal, é realizada de ofício a partir de circunstâncias de fundada suspeita e que se impõe, independentemente, de concordância da pessoa (ver MTP 02). A posição em que o policial militar sustenta sua arma durante a abordagem dependerá da avaliação de riscos da intervenção. O policial militar deve manter-se sempre atento ao comportamento do abordado e não descuidar da sua segurança. Quando, inicialmente, o abordado não apresentar indícios de suspeição, como nos casos de orientação ou assistência, a abordagem poderá ser iniciada com a arma no coldre ou localizada. 34 5.3.1 Fundamentos da abordagem policial a pessoa em atitude suspeita Ao realizar este tipo de abordagem, o policial militar deverá observar a sigla SSRAU6, indicativa dos fundamentos da abordagem elencados abaixo, para potencializar suas ações e assegurar que o objetivo proposto seja alcançado: a) Segurança: caracteriza-se por um conjunto de medidas adotadas pelo policial militar para controlar e mitigar os riscos da intervenção policial. Antes de agir, o policial militar deverá identificar a área de segurança e a área de risco, monitorar os pontos de foco, controlar os pontos quentes e certificar-se de que o perímetro está seguro. Sempre que possível, o policial militar deverá agir com supremacia de força; 6 SSRAU é um processo mnemônico, descrito no Manual Básico de Policiamento Ostensivo Geral. ATENÇÃO! Em relação às posições das armas 1, 2, 3 e 4, descritas na seção 7.2.3 sobre o uso de arma de fogo, LEMBRE-SE SEMPRE: ARMA LOCALIZADA: Adotada em casos de possibilidade de ruptura da normalidade com a percepção de que a situação pode agravar-se – RISCO NIVEL I ou II; ARMA EM GUARDA-BAIXA: Adotada em deslocamentos táticos e situações nas quais existem fundada suspeita, mas que a intervenção policial-militar consiste numa averiguação preventiva(análise subjetiva) – RISCO NIVEL II; ARMA EM GUARDA-ALTA: Adotada em deslocamentos táticos e situações onde há risco potencial ou real à segurança do policial militar e terceiros (análise subjetiva) – RISCO NIVEL II ou III de acordo com a avaliação de risco; ARMA EM PRONTA-RESPOSTA: Adotada em situações onde está ocorrendo risco real à segurança do policial militar e terceiros (percepção objetiva) – RISCO NÍVEL III. 35 b) Surpresa: caracteriza-se por medidas que dificultam a percepção do abordado em relação ao policial militar, ou seja, é uma ação inesperada para o suspeito, surpreendendo-o e reduzindo seu tempo de reação. c) Rapidez: é a velocidade com que a ação policial-militar é processada, o que contribui substancialmente para a efetivação da “surpresa”. Não se pode confundir rapidez com afobamento ou falta de planejamento. Em uma abordagem que resulta em busca pessoal, o policial militar deve usar todo o tempo necessário para uma verificação exaustiva por objetos ilícitos ou indícios de crime; d) Ação vigorosa: é a atitude firme e resoluta do policial militar na ação, por meio de uma postura imperativa, com ordens claras e precisas. Não se confunde com truculência. O policial militar deve ser firme e direto, porém cortês, sereno, demonstrando segurança, educação e bom senso adequado às circunstâncias da intervenção; e) Unidade de comando: é a coordenação centralizada da intervenção policial-militar que garante o melhor planejamento, fiscalização e controle. Da mesma forma, cada policial militar envolvido na abordagem deve conhecer sua tarefa e qual a sua função específica naquela intervenção, interagindo de forma harmônica, sabendo a quem recorrer, respeitando a cadeia de comando. A aplicação dos conceitos apresentados nesta seção e a observação das etapas da intervenção e dos fundamentos da abordagem são essenciais para o resultado satisfatório das intervenções policiais. A educação e a polidez devem sempre ser observadas nas abordagens, uma vez que alguns desfechos são agravados pela postura inadequada adotada pelo policial militar. LEMBRE-SE: O treinamento constante propicia condições ao policial militar para agir com rapidez, sem descuidar dos princípios da segurança. 36 5.4 Requisitos básicos para intervenção policial-militar7 a) Conhecimento da missão: o desempenho das funções de Policiamento Ostensivo impõe, como condição essencial para eficiência operacional, o completo conhecimento da missão, que tem origem no prévio preparo técnico-profissional, decorre da qualificação geral e específica e se completa com o interesse do indivíduo. b) Conhecimento do local de atuação: compreende o conhecimento dos aspectos físicos do terreno, do interesse policial-militar, assegurando a familiarização indispensável ao melhor desempenho operacional. c) Relacionamento: compreende o estabelecimento de contatos com os integrantes da comunidade, proporcionando a familiarização com seus hábitos, costumes e rotinas, de forma a assegurar o desejável nível de controle policial-militar, para detectar e eliminar as situações de risco, que alterem ou possam alterar o ambiente de tranquilidade pública. d) Postura e compostura: a atitude, compondo a apresentação pessoal, bem como, a correção de maneiras no encaminhamento de qualquer ocorrência influem decisivamente no grau de confiabilidade do público em relação à Corporação e mantém elevado o grau de autoridade do policial militar, facilitando-lhe o desempenho operacional. e) Comportamento na ocorrência: o caráter impessoal e imparcial da ação policial-militar revela a natureza eminentemente profissional da atuação, em qualquer ocorrência, requer que seja revestida de urbanidade, energia serena, brevidade compatível e, sobretudo, isenção. 7 Conforme "Procedimentos Básicos" do Manual Básico de Policiamento Ostensivo. 37 6 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO A comunicação é um grande facilitador para o sucesso da atuação policial nas diversas interações com o público, como um dos fatores mais importantes das intervenções policiais militares, se bem realizado propiciará a melhoria da sensação de segurança e facilitará, entre outros aspectos, as ações durante a abordagem propriamente. Por isso, o policial militar deve dar atenção a este processo, para maximizar resultados positivos na sua atividade profissional. A comunicação é um processo de interação estabelecida no mínimo entre duas pessoas, construindo entre ambas um intercâmbio de sentimentos e ideias. Este processo, por si só, já remete a uma série de interpretações diferenciadas, pois, com características únicas que temos, podemos entender distintamente as mensagens. Isso significa que, cada pessoa, que se passa a considerar como interlocutor, troca informações baseadas em seu repertório cultural, sua formação educacional, vivências, emoções e toda a "bagagem" que traz consigo, assim como, o receptor agirá da mesma maneira, segundo o seu próprio filtro cultural. A maior dificuldade de interpretação está em fatores como a escolha de palavras utilizadas na fala e na escrita, gestos e postura corporal, bem como o meio pelo qual a mensagem é transmitida e estabelecida. Este canal também pode estar sujeito aos ruídos (celulares que tocam em hora errada, barulho do trânsito, tom de voz alto ou baixo demais) e tantos outros problemas que atrapalham a compreensão da mensagem enviada. A falta de clareza e a adequação para o tipo de público, a impropriedade da técnica, a urgência com que a mensagem é transmitida, e outros fatores, podem dificultar ou mesmo impossibilitar a compreensão. A escolha dos meios de comunicação e a utilização das ferramentas disponíveis devem ser observadas de modo a facilitar todo o processo com o menor índice de ruídos possível. O sucesso na comunicação não depende só da forma como a mensagem é transmitida, a compreensão dela é fator fundamental, lembre-se que vivemos em sociedade de cultura diversificada, e o que às vezes parece óbvio para você para seu interlocutor não é. ATENÇÃO: Para que a comunicação atinja o seu objetivo, o melhor caminho é a simplicidade. 38 Simplicidade quer dizer que o emissor transmite uma mensagem para o receptor de forma clara, fácil e possível de ser entendida. Emissor é aquele que fala, escreve, desenha, faz mímica; é o ponto de onde parte a mensagem; Receptor é aquele que quer ou precisa ouvir e aprender; é o destinatário da mensagem; Mensagem é o conteúdo do que se quer dizer e comunicar. 6.1 Comunicação na intervenção policial Para potencializar o uso da comunicação nas intervenções policiais militares, serão apresentadas, a seguir, algumas orientações baseadas em áreas específicas do conhecimento (fonoaudiologia, psicologia e neurolinguística). O primeiro contato com o abordado é de fundamental importância, haja vista que irá construir mentalmente uma imagem do policial militar (e da Polícia Militar), por meio da análise da postura, apresentação pessoal e, principalmente, da fala e gestos. Esses fatores contribuem para a credibilidade, legitimidade e confiança na autoridade. Mesmo quando não está realizando um contato, ou fora do serviço, sua postura deve ser exemplar, porque esse é o primeiro aspecto que se avalia. O processo de comunicação decorre dessa avaliação prévia do cidadão e é moldado pela maneira como o policial conduz a interação. Algumas atitudes contribuem para a solução pacífica dos conflitos e o alcance dos objetivos institucionais e, consequentemente, para a boa imagem e a legitimidade de suas intervenções. Dentre elas, o policial militar deve ser: A APRESENTAÇÃO PESSOAL É O CARTÃO DE VISITA DO POLICIAL MILITAR. Uma boa imagem é representada por detalhesimportantes como: fardamento limpo e adequado e cuidados com a higiene pessoal, dentro dos padrões estabelecidos pelas normas da PMMG. Outros comportamentos como o uso irregular de cobertura e de acessórios exóticos ou extravagantes transmitem a ideia de descaso e relaxamento. 39 firme: agir de forma segura, estável, constante, comunicando de maneira polida e sem truculência; justo: atuar de acordo com o ordenamento jurídico e em conformidade com os princípios éticos, respeitando a dignidade da pessoa; cortês: o policial militar deve ser educado, atencioso e solícito. A seriedade e a firmeza necessárias não podem ser confundidas com indiferença ou grosseria. O diálogo entre o policial militar e o abordado pode ser prejudicado e sofrer interferências diante de uma postura que denote agressividade, arrogância ou descaso. Exemplo: o policial militar que aponta o dedo indicador para o abordado, ou se lhe apresenta com os braços cruzados ou com o rosto sisudo. Ao dirigir-se às pessoas, o policial militar não deve fazer uso de gírias ou palavras vulgares porque transmitem uma má impressão e afetam a credibilidade junto aos envolvidos. Mantendo uma linguagem firme e cordial, o policial militar demonstra profissionalismo e controle da situação. Outro aspecto importante da comunicação é o volume da voz. O policial militar deve atentar para este aspecto, a fim de facilitar sua comunicação, adequando-o às diversas situações, podendo modificá-lo para alcançar melhor seu objetivo. O volume da voz deve se adaptar ao nível de cooperação do abordado, devendo aumentar ou diminuir, conforme o nível de força empregado. O som da voz deve chegar claramente ao ouvinte, para que ele possa entender e interagir com o policial militar. Cabe ao policial militar fazer uma leitura do ambiente, para adequar o uso da voz a cada situação, lembrando que o volume muito baixo inviabiliza a comunicação, por dificultar o entendimento, e o volume muito alto, quando desnecessário, pode se tornar agressivo, incômodo e deseducado. Devem ser levadas em consideração as possíveis interferências sonoras (ruídos) presentes em um determinado ambiente. Outros fatores como o timbre (qualidade sonora que identifica a voz de uma pessoa), a dicção (pronúncia correta dos sons das palavras) e a velocidade com que se fala são determinantes para a qualidade da comunicação estabelecida. Nos treinamentos, o policial militar deve buscar o timbre em que sua voz fique mais clara, pronunciar as palavras com 40 calma e correção e em velocidade que possibilite ao interlocutor compreender exatamente o que está sendo dito. A fala confusa ou vagarosa causa a impressão de indecisão ou desânimo, gera descrédito e insegurança. Em contrapartida, falar muito rápido denota ansiedade, dúvida e desatenção. O silêncio também pode transmitir mensagens não verbais. O policial militar, ao se comunicar, deve utilizar-se de pausas em suas falas, verificando o nível de cooperação do abordado, proporcionando tempo para que este entenda e cumpra o que lhe foi determinado. Pausas eficazes na interlocução e um processo de perguntas e respostas logicamente ordenadas podem ser determinantes para o sucesso da verbalização. Outro aspecto a ser considerado é que toda pessoa tem um espaço (área física em seu entorno) que considera psicologicamente reservado para aqueles que são íntimos a ela. Ao aproximar-se demasiadamente de uma pessoa, o policial militar invade este “espaço pessoal” e pode provocar, no abordado, o desejo inconsciente de afastar, fugir, ou defender- se. Qualquer palavra dita nessa situação poderá soar agressivamente. Assim sendo, o policial militar deverá estabelecer o contato inicial com o abordado, a uma distância segura (ver MTP 02), para criar um vínculo verbal e de confiança. Por exemplo, numa intervenção nível I, pode “quebrar o gelo” com o uso do “aperto de mão”, demonstrando interesse ao também olhar diretamente nos olhos do interlocutor sorrindo. Numa intervenção nível II, explicando o que será realizado, antes de se aproximar, exemplo: “— Fique Parado! Vamos realizar uma busca pessoal. Você me entendeu?” Numa intervenção nível lII, dando comandos imperativos, como: “— Deite-se! Coloque as mãos sobre a cabeça!” É importante ressaltar que os elementos não verbais utilizados na comunicação durante a abordagem influenciam na percepção que policial militar e o abordado constroem um do outro. Por isso, os policiais militares devem estar atentos aos efeitos que suas mensagens não verbais provocam e, ao mesmo tempo, observar e retirar conclusões dos elementos emitidos pelo abordado. A comunicação bem trabalhada pode evitar o emprego de níveis de força superiores, facilitando o desenrolar das intervenções policiais. O policial militar passa a ter um maior 41 controle da situação, minimizando, em grande parte dos casos, a possibilidade de uma reação indesejada. O modo de agir, de se postar e falar com o abordado interfere diretamente na sua reação, auxilia no nível de cooperação e no acatamento das ordens. Dessa forma, a postura do policial militar, durante a abordagem, pode evitar manifestações de descontentamento que exijam a adoção de medidas coercitivas pela polícia, como os controles de contatos e os controles físicos, as técnicas de menor potencial ofensivo e, como medida extrema, o uso da arma de fogo. 6.1.1 Verbalização durante a abordagem policial Uma das formas da comunicação é a verbalização. Verbalizar 8 significa expressar ou exprimir algo na forma de palavras. Na técnica policial-militar, o conceito de verbalização diz respeito ao uso da fala e de comandos verbais que, apesar de constituírem um dos níveis de uso da força, conforme seção 7, estarão presentes em todo tipo de intervenção policial- militar. Nas teorias de comunicação, diz-se que, uma informação somente é eficaz quando apresenta, dentre outras, duas características fundamentais: clareza: utilização de linguagem de fácil compreensão; precisão: grau de detalhamento suficiente para produzir o resultado desejado (ser prático, objetivo, direto). As técnicas de comunicação estabelecem que antes mesmo de haver a troca de palavras propriamente dita entre as pessoas, existem elementos verbais e não verbais que interagem entre o emissor e receptor. O policial militar não deve alimentar a expectativa de que o abordado sempre se disponha a colaborar de forma espontânea. Assim, deve buscar o controle da situação por meio de uma verbalização adequada, emitindo ordens legais, claras, objetivas e pertinentes. Durante a abordagem, o policial militar deve explicar os motivos da intervenção e o comportamento que se espera do abordado. 8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 42 Ao abordar, não aponte o dedo indicador para a face do abordado, nem toque no seu corpo, salvo nos casos em que se faz necessário o controle de contato, o controle físico e a busca pessoal. Respeitando seu espaço pessoal, será mais fácil obter sua cooperação. O policial militar deve manter o equilíbrio e o autocontrole, mesmo se o abordado não obedecer, se fizer comentários ofensivos, ignorar a sua presença ou atrair a atenção de pessoas em volta. A linguagem que deve prevalecer é a do policial militar e não a do abordado. Manter um diálogo claro, direto, não emocional e sem abusos, demonstra profissionalismo e domínio da situação. Dessa forma, o policial militar ganha credibilidade junto à população e atrai a confiança de testemunhas, que poderão confirmar que foram dadas todas as chances ao abordado para cooperar, sem utilizar a força, mas que ele se recusou a acatar. O policial militar deve transmitir ao abordado
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