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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP RAMON TURINI USO LEGÍTIMO DA FORÇA Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como requisito para aprovação na disciplina de TCC em Segurança Pública. ORIENTADOR Professora KATIA DE MELLO SANTOS Vila Velha – ES Junho de 2019 2 NIVEL E PROGRESSÃO DO USO LEGAL DA FORÇA PELA POLICIA MILITAR LEVEL AND PROGRESSION OF LEGAL USE OF THE FORCE BY THE MILITARY POLICE [RAMON TURINI]1 [PROF. KARTIA MELLO DOS SANTOS]2 RESUMO O presente artigo tem como objetivo central, debater de maneira conceitual os níveis e sua progressão para o uso legítimo da força pela Policia Militar. O objetivo de perscrutar os níveis e progressões do uso legitimo da força pela Policia Militar se da pelo fato desta instituição esta diretamente empenhada no Patrulhamento Ostensivo e Preservação da Ordem Público acarretando no contato direto com a sociedade em seu cotidiano e no exercício legal do seu dever de preservar a ordem e pautado no art. 244 do Código de Processo Penal que prevê a fundada suspeita, estes policiais realizam inúmeras abordagens e procedimentos que necessitam do uso legítimo da força em diferentes níveis. Competirá a este profissional discernir o nível necessário de força legitima a ser empregada para solucionar o problema ou responder uma injusta agressão. A justificativa para escolha do tema paira sobre a tomada de decisão para o uso legítimo da força requerer uma análise tanto da realidade necessária para emprega-la, assim como o cuidado para com o profissional que retém esta carga de responsabilidade possibilitando uma visão crítica profissional e moral, bem como na expectativa de contribuir para âmbito o acadêmico. O método de pesquisa empreendido segue natureza qualitativa, quantitativa e pesquisa explicativa, com pesquisa do tipo bibliográfica. Palavras-chave: Uso Legítimo da Força; Policia Militar; Tomada de Decisão. 1 Graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail: ramonturini@hotmail.com 2 Professor orientador – Universidade Estácio de Sá. E-mail: ABSTRACT The main objective of this article, is to discuss in a conceptual way the levels and their progression for the legitimate use of force by the Military Police. The objective of examining the levels and progressions of the legitimate use of force by the Military Police, is due to the fact that this institution is directly involved in the Ostensive Patrol and Public Order Preservation, causing a direct contact with society in its daily life and in the legal exercise of its duty to preserve the order sited in forth in art. 244 of the Penal Procedure Code, which provides for the well-founded suspicion, these police officers carry out numerous approaches and procedures that require the legitimate use of force at different levels. It will be up to this practitioner to discern the necessary level of legitimate force to be employed to solve the problem or respond to unjust aggression. The background for the subject choice hinges on the decision-making for the legitimate use of force requires an analysis of both the reality needed to employ it, as well as the care towards the professional who retains this burden of responsibility, enabling a critical professional and moral view, as well as in the expectation of contributing to the academic scope. The research method used is qualitative, quantitative and explanatory research, with bibliographic research. Keywords: Legitimate Use of Force; Military police; Decision Making, Society. . 1.INTRODUÇÃO Este artigo tem por objetivo falar da importância do Uso Legitimo da Força, seus níveis e progressões empregados pela Policia Militar. É necessário compreender os aspectos que levam a progressão desses níveis, assim como seus impactos quando não empregados de forma correta. Os aspectos legais que norteiam o uso legal da força é descrito no art. 24 do Código Penal que são: I – Em estado de necessidade, II – Em Legítima Defesa, III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito, sendo o Estado de necessidade subdivido em: a) a ameaça a direito próprio ou alheio, b) a existência de um perigo atual e inevitável, c) a inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado, d) uma situação não provocada voluntariamente pelo agente, e) o conhecimento da situação de fato justificante. É de suma importância não confundir o “uso legítimo da força” com violência uma vez que o uso da força devidamente empregado é de suma importância para garantir a incolumidade social. 4 Deste modo, o Policia Militar no estrito cumprimento de seu dever legal dever primordialmente se pautar no aspecto legal para empregar o uso da força. Devidamente reconhecida a legitimidade o agente procedera para os níveis específicos de ação policial, sendo obrigatória a observância princípios; Proporcionalidade, Necessidade, Conveniência e Legalidade (PNCL). Seguindo assim as progressões de força cruciais para solucionar a adversidade, tendo como base de estudo o modelo de adaptação FLECT de uso progressivo da força (SANDES, 2007 a, p.92), modelo mais utilizado no Brasil segundo Wilquerson Felizardo Sandes, que se subdivide em: 1) Presença policial, 2) Verbalização, 3) Contato Físico, 4) Imobilização, 5) Força Não Letal, 6) Força Letal. Conforme prevê na Diretriz Nacional de Uso de Força e Armas de Fogo (Vade Meccum – Senasp 2010) “...uma abordagem profunda sobre o assunto com vistas a redução dos indicies de letalidade nas ações Policiais, possibilitando a confiabilidade na Polícia...”. O desenvolvimento deste artigo será traçado na abordagem profunda deste assunto visando tanto o detalhamento técnico e legal que compreende o Uso legal e progressivo da força supracitados, assim como parâmetros morais para percepção da ação do Policial Militar tangente sua capacitação, preparo e acompanhamento deste profissional, assim como os reflexos positivos de sua ação reverenciando antes de tudo o valor a vida e princípios legais, da mesma forma os reflexos negativos quando negligenciado estes valores e juízos. Segundo Lakatos e Marconi a respeito do Método de Pesquisa Explicativo: A pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica suas causas. Essa prática visa ampliar generalizações, definir leis mais amplas, estruturar e definir modelos teóricos, relacionar hipóteses em uma visão mais unitária do universo ou âmbito produtivo em geral e gerar hipóteses ou ideias por força de dedução lógica (Lakatos e Marconi, 2011). Conforme descreve Minayo (2010, p. 57), o método qualitativo pode ser definido como: “... é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos https://amzn.to/2QZOjJm fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. Embora já tenham sido usadas para estudos de aglomerados de grandes dimensões (IBGE, 1976; Parga Nina et.al 1985), as abordagens qualitativas se conformam melhor a investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos e de documentos.” Desta forma, a natureza escolhida para a criação deste trabalho é qualitativa e explicativa, buscando assim, levantar todas as informações teóricas e analisar fatos registrados, ampliando a visão do assunto abordado utilizando tanto de razões estruturais criadas a partir da observação e levantamentosde segmentos envolvendo grupos (Policia Militar e Sociedade) como de levantamentos específicos inerentes ao assunto (Uso legal e progressivo da Força), utilizando-se de abordagem exploratória através de pesquisa do tipo bibliográfica colhendo informações e conhecimentos técnicos através de artigos científicos, monografias, fóruns, leis e demais meios que agregaram fatos e analises coerentes a temática. 1. DESENVOLVIMENTO 2.1 Legitimidade do Uso da Força Segundo Bayley (2002) e Bittner (2003) defiram conceito de força e seu emprego no âmbito social de forma a ser aceito ainda nos dias de hoje, estabelecendo que o uso da força e conferida, de uso legitimo e exclusivo da polícia para manter e estabelecer a ordem e reprimir atos delituosos em desfavor da sociedade. Assim como distinguir que a força utilizada por perpetradores que objetivam interesses individuais não se relaciona com a força utilizadas pela polícia que preconiza a preservação da ordem e do bem-estar coletivo. Conforme Bayley (2002) essa distinção entre a força empregada por policias e cidadãos que vivem a margem da lei esta no discernimento de suas ações, ou seja, em seus objetivos. Sabe-se que a força empregada pela polícia tem amparo legal, porém para compreendermos o uso legitimo desta 6 força se faz necessário análise técnica, cientifica e racional. Em nossa sociedade, a Policia Militar assim como demais agentes aplicadores da lei carecem do uso legitimo da força para fazer cumprir a constituição e condicionar o uso e gozo dos bens, das atividades e direitos individuais em benefício da coletividade e do próprio Estado, no entanto esta forma coercitiva não e adotada meramente pela concepção do que o policial “acha” do que é a força necessária. Esta força é aplicada baseada no art. 24 do Código Penal que esclarece: I – Em estado de necessidade, II – Em Legítima Defesa, III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito, sendo o Estado de necessidade subdivido em: a) a ameaça a direito próprio ou alheio, b) a existência de um perigo atual e inevitável, c) a inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado, d) uma situação não provocada voluntariamente pelo agente, e) o conhecimento da situação de fato justificante. No tocando a atuação da polícia militar que compreende o patrulhamento ostensivo e a preservação da ordem pública acaba deparando-se com ocorrências em diferentes graus de gravidade e relevância que necessitam do uso legitimo da força em seus diferentes estágios. Visando aperfeiçoar e adequar estes diferentes estágios pelo qual o agente poderá se defrontar no exercício da função, abrangendo o funcionamento do aparato policial e para dar legitimidade ao uso da força pelas policias a SENASP (2014) baseou-se nos seguintes princípios: 1° - Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empregada quando, os danos em razão do seu emprego forem maiores do que os objetivos legais que prevê a lei, ou seja, tem que convir com interesse público. 2° - Princípio da Legalidade: os policiais só poderão agir na forma da lei, ou seja, nada poderá exceder a legalidade, excluindo toda e qualquer hipótese de interesses alheios a coletividade. 3° - Princípio da Moderação: o emprego da força tem que ser pautado nos moldes da legitima defesa, agindo sempre com meios moderados procurando sempre reduzir a força, pois o emprego não moderado caracteriza excesso. 4° - Princípio da Necessidade: o emprego da força tem que ser o último caso, quando meios de menor potencial não foram capazes de reduzir ou sessar a injusta agressão, fazendo-se necessário o emprego da força. 5° - Princípio da Proporcionalidade: o nível da força empregada tem que ser sempre proporcional a injusta agressão, isto é, repelindo a ameaça com força compatível, necessária e moderada contra o opositor. Ressaltando que o princípio da Moderação e da Proporcionalidade por serem parecidos são normalmente instruídos em um mesmo contesto, resumindo em apenas 4 (quatro) princípios (PNCL). Estes princípios e doutrinas norteiam o Policial Militar em sua avaliação quanto ao uso ou não da força legitima, cabendo ao Estado a responsabilidade de ensinar e treinar este profissional para adotar e seguir estes princípios, assim como fiscalizar e adotar as medidas pertinentes caso seja negligenciado por parte do agente no exercício de sua função, pois de acordo com a SENASP (2014) o policial que se excede estará se equiparando ao criminoso podendo sofrer sansões administrativas, cíveis e criminais. 2.2 Progressão do Uso da Força Quando o Policial Militar devidamente preparado e treinado se deparar com situações que necessitam usar da força legitima para conter ou ate mesmo evitar que um ato criminoso aconteça ele fará primeiramente a avaliação de qual força se fará necessária para obter o resultado esperado com o menor dano possível, visando primordialmente o valor e a preservação da vida. Para que o policial militar devidamente treinado possa definir a força a ser utilizada de acordo com o nível do agressor a Secretaria Nacional de Segurança Pública (2006) criou um modelo do básico do uso progressivo da força que é adotado pelas Policias em todo país, este modelo prevê níveis de forças a serem adotados pelo agente aplicador da lei, neste ponto o Policial Militar. Estes níveis foram de fundamental importância no ensino e preparo dos policiais militares pois condicionou-se um modelo oposto do vivenciado na polícia tradicional. São estes níveis: 1. Presença física: é a simples presença policial, diante de um comportamento de normalidade por parte de um agressor, onde não há necessidade da força policial. 2. Verbalização: é a comunicação, a mensagem transmitida pelo policial, utilizada diante de um comportamento cooperativo por parte do agressor, que não oferece resistência e obedece às determinações do policial. 3. Controle de contato: são as técnicas de conduções e imobilizações, inclusive por meios de algemas, utilizadas diante da resistência passiva do agressor, que age em um nível preliminar de desobediência (ele não acata as determinações, fica simplesmente parado). 4. Controle físico: é o emprego da força suficiente para superar a resistência 8 ativa do indivíduo, o qual desafia fisicamente o policial, como num caso de fuga. Cães e agentes químicos podem ser utilizados. 5. Táticas defensivas não letais: é o uso de todos os métodos não letais, por meios de gases fortes, forçamento de articulações e uso de equipamentos de impactos, como os bastões retráteis, diante de uma agressão não letal pelo agressor, que oferece uma resistência hostil, física (contra o policial ou pessoas envolvidas na situação). 6. Força letal: é o mais extremo uso da força pela polícia e só deve ser usado em último caso, quando todos os outros recursos já tiverem sidos experimentados. Nesse caso o suspeito ameaça a vida de terceiros. (SENASP, 2006). Os critérios que legitimam o uso da força somados a progressão do uso da força inovaram a forma de agir da policia militar e demais agentes aplicadores da lei. Cabe ressaltar que o respeito e utilização destes métodos tem sido um fomentador para estreitar os bons laços em a sociedade e a policia militar buscando demonstrar que a instituição preza pela valorização da vida ganhando assim credibilidade com a sociedade. Em contraste, quando o policial militar ou agente aplicador da lei não adota as medidas de progressão da força, por vezes acarreta no abuso ou excesso do agente, gerando insegurança e descredito perante a sociedade e ocasionando em punições ao agente. Levando a análise que o ensino, preparação e treinamento são fundamentais, mas não obstante a consciência do profissional em saber que os resultados de suas ações podem gerar grandes transtornos e danos tanto para siquanto para os demais membros da sociedade na qual está inserido. O Uso progressivo da força demonstra que existem maneira eficazes de solucionar o problema valendo-se de métodos menos danosos. A mera presença do policial militar e um meio de prevenir que atos criminosos ocorram e a verbalização tem sido uma grande ferramenta para o policial militar lidar com problemas que envolvem por exemplo as “vias de fato” ou discussões que tendem a ser ocorrências de maior demanda. Não podemos negar o fato que ocasionalmente o militar necessitara empregar a força física, a utilização de equipamentos de menor potencial letal e em ultimo caso o uso da arma de fogo. O meio em que o policial está inserido tem grande influência, como por exemplo: uma equipe de patrulhamento que atua em áreas consideradas de alto risco deve estar preparada a todo momento para um confronto direto enquanto uma equipe que atua na patrulha comunidade tende a estabelecer seu foco nas regiões comerciais e no contato interativo. Obviamente ambas as equipes podem ter que desempenhar a função uma da outra pois tratam-se de policiais devidamente treinados, mas não exime o fato de que este meio interferira na resposta espera por este profissional. O equipamento e preparo para desempenhar certos níveis de progressão são de suma importância. Segundo a Policia Militar do Espirito Santo (PMES), a Companhia Independente de Missões Especiais (CIMESP) é especializada para: A CIMEsp é um grupo de elite da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo que adota táticas e técnicas especiais em situações que exigem atuação especializada como em ações de Controle de Distúrbios Civis e em Ocorrências de Alta Complexidade Envolvendo Reféns Localizados. Ou seja, determinados níveis de uso da força requerem um aparato e equipamento especializado, assim como treinamento especifico. Sempre observando que os níveis de progressão devem sim ser seguidos e adotados e que tais exemplos apenas agregam a concordância de que a polícia militar tem se preparado e se especializado para adotar essas medidas de forma técnica e racional e o treinamento e especialização destas forças são cruciais para solucionar as crises nas quais são necessárias sua intervenção minimizando ao máximo os danos, conforme SENASP (2009): “ Quanto melhor o preparo, técnico, tático e emocional, melhor serão as qualidades e a capacidade de perceber e decidir pela melhor alternativa e de responder segundo as diretrizes...”. Ressaltando que a necessidade de treinamentos especializados maximiza o potencial de resposta para determinados delitos, todavia segundo Carvalho (2017) a prevenção antes da repressão é a melhor forma de combater o cidadão a margem da lei: A redução do índice da criminalidade de um local está diretamente direcionada à atuação do profissional da segurança pública, pois sua presença fardada ou uniformizada, por si só, reflete na diminuição do estimulo do pretenso infrator. (Carvalho, p. 63). 2.3 Modelos de Uso da Força Não se pode falar em legitimidade do uso da força sem explanar sua progressão, pois uma progressão correta e eficiente com empenho do profissional em cada fase evitando sua evolução é fundamental para preservação e valorização da vida. Para entender essa relação de progressão do uso da força na preservação da vida, de acordo com Persson (2007) os modelos existentes do uso progressivo definem primeiramente o conhecimento de técnicas de defesa pessoal e em ultima instância o uso da arma fogo. O Ministério da Justiça (2006) elencou alguns modelos e suas respectivas origens que são: 10 - Modelo Flect, aplicado pelo centro de treinamento da Policia Federal de Glynco, na Geórgia, Estados Unidos; - Modelo Gillespie, presente no livro Police – Use of Force – A line officer´s guide, 1988; - Modelo Remsberg, presente no livro – The Tactical Edge – Surviving High – Risk Patrol, 1999; - Modelo Canadense; utilizado pela polícia canadense, 1990; - Modelo Nashville, utilizado pela polícia metropolitana de Nashville, Estados Unidos; - Modelo Phoenix, utilizado pelo departamento de polícia de Phoenix, Estados Unidos. O Ministério da Justiça (2006) analisou todos os modelos e definiu três a para serem adotadas no Brasil: Modelo FLECT, GILLESPIE e CANADENSE. O modelo FLECT (Federal Law Enforcement Training Center) é um dos mais utilizados em razão da exigência na utilização de níveis com caráter humanísticos visando o bem maior que é a vida. Este método visa avaliar melhor o processo e o produto da utilização da força. O modelo FLECT foi adotado não apenas por seu conceito geral ser aceito pelo Ministério da Justiça, mas também seu aspecto funcional que trata desde aparatos técnicos até a relevância do estado emocional do Policial Militar. Traz consigo três características importantes e fundamentais para escolha desse modelo que são os elementos de ação: instrumentos, táticas e uso do tempo. Os elementos em si traduzem sua importância, pois desde a presença policial até a utilização da arma de fogo são elementos indispensáveis, assim como saber trabalhar de acordo com o tempo exigente em sua atuação conforme o diagnostico daquilo que é confrontado. É importante frisar que a sociedade na qual o policial atua trará consigo a necessidade ou não de alguns instrumentos, como por exemplo na Irlanda os policiais atuam desarmados com exceção das unidades especializadas, isso porque o nível de resposta esperado não oferece risco, a integridade física dos agentes, mas caso ocorra, o acionamento das unidades especializadas é feito. Obviamente o Brasil esta longe de possuir uma realidade social parecida, necessitando em muito avançar em suas politicas públicas e sociais, mas sendo de grande avanço um país como o Brasil que possui um histórico desfavorável na relação entre polícia/sociedade. Empreender um modelo que muda completamente a visão de uma polícia tradicional e conservadora buscando a valorização da vida e o estreitamento das relações polícia/sociedade. Segundo Salineiro (2016) algumas questões relacionadas ao uso da força pela polícia não estão apenas ligadas a ações puramente repressiva, e sim na capacitação, treinamento e preparo físico/emocional, assim como a competência do aparelho de inteligência, onde este despreparo ou negligência do Estado em fornecer essa qualificação a seus profissionais são razões para a Policia Militar ser uma das que mais mata e morre no mundo. A implementação do modelo FLECT tem como principal atribuição reverter esse quadro trazendo essa habilitação ao policial em lidar com situações onde ele entenda que primordialmente seu confronto é com as “ações” e não com o “ator” fornecendo assim uma resposta ativa, dentro dos limites de segurança e com eficácia, prevenindo assim ações agressivas futuras pelo agressor. 2.4 Resultados do Uso Legitimo da Força e seus reflexos na sociedade O emprego legitimo e progressivo da força produz resultados positivos quando obedecidas suas regras e diretrizes. Contudo a aplicação indevida e excessiva da força pode levar a danos significativos para o agente, a instituição e principalmente para a sociedade que foi vítima. Um exemplo que caracteriza o uso ilegítimo e não progressivo da força é o caso do “Massacre de Pau d’arco” ocorrido na fazenda Santa Lúcia no Estado do Pará em 2017 onde 10 (dez) camponeses foram mortos em uma ação conjunta da policia militar e civil. Ficou comprovado após a perícia que não houve resistência dos camponeses a ação dos policiais, sendo injustificável o emprego da força letal. Neste caso, a não observância destes profissionais a legitimidade do uso da força ocasionou um prejuízo catastrófico, pois o maior bem a ser zelado foi o que sofreu o maior dano. É notório que se estes profissionais considerassem a legitimidade e progressão do uso da força não ocorreriaeste desastre catastrófico que refletiu em danos irreparáveis as famílias vitimadas. Uma ação como esta traz consigo graves consequências como falta de credibilidade da Policia diante da sociedade, os cidadãos passam a temer uma instituição criada exatamente para protege-la e garantir seus direitos civis, acarreta danos às vezes incorrigíveis as famílias vítimas desse abuso e os próprios agente sofrem sanções (administrativas, civis e criminais), o que confirma o dito por Bayley (2002) que o excesso da força pela policia causa a perda de sua legitimidade levando a não aceitação da sociedade e repúdio por tarde do cidadão. Bittner (2002) complementa de 12 forma sabia a colocação de Bayley (2002) pois descreve que a policia é vista como o agente que possui os meios necessários para confrontar os problemas e soluciona-los, todavia, o erro do policial em excedesse leva esse trauma como de “Pau d’arco” onde o cidadão que depositou sua confiança naqueles que o ajudariam, mas na verdade trouxeram ainda mais sofrimento. A percepção e avaliação dos eventos em uma visão crítica é de fundamental relevância pois partido do pressuposto popular a “resultado negativo” tende a deixar mais marcas que o “resultado positivo”. Porém a análise de fatos que trouxeram resultados negativos ao previsto nos leva a uma apreciação dos erros cometidos e na criação de métodos para evitar que ocorram novamente. Sobretudo a avaliação de casos positivamente resultantes deve ser tratada de forma minuciosa e analítica dado que narram o desfecho da evolução aspirada. Trazendo estes aspectos para o uso legitimo e progressivo da força é sábio dizer que os fatos positivos têm produzido bons reflexos e benéficos tanto para sociedade quanto para as instituições e Estado. Os casos que trazem repercussão no meio midiático geralmente são resultados negativos. Entretanto é explicita a crescente relação policia militar/sociedade com a implementação de políticas como “Polícia Comunitária” e “Estado Presente” que estão vinculadas ao uso progressivo da força em seu primeiro estágio: I- Presença Física da Polícia. Essas inovações na forma como a policia deve agir em seu uso progressivo tem ampliado sua gama de ações para preservar e valorizar a vida e estreitado seus laços de afinidade e credibilidade com o cidadão em seu cotidiano, demonstrando que o policial é um ser humano prestando um serviço a seu próximo, que em contrapartida o enxerga como um agente preparado que se valera de meios que zelam primordialmente pela vida e bem estar coletivos garantindo a ordem. A preparação e especialização técnica, física e emocional do policial militar que usufruirá do uso legitimo e progressivo da força é evidenciado por exemplo em ocorrência com tomadas de refém, onde os níveis de legitimidade e progressão são notados com clareza, pois a unidade especializada e os policiais que lidam com esse tipo de ocorrência primeiramente isolam o local (Presença Física) e iniciam a verbalização com o perpetrador. Na grande maioria dos casos este tipo de ocorrência é solucionado ainda no nível da verbalização, demonstrando o respeito as doutrinas e preceitos do uso progressivo e legitimo, assim como da capacitação técnica e emocional do policial militar para dialogar com este perpetrador que por vezes se encontra em um estado emocional elevado. Fato recente que exemplifica ocorreu na Cidade de Vitória/ES no dia 14/03/2019 onde um homem usuário de entorpecentes fez sua família refém por mais de 4 (quatro) horas e o uso progressivo da força adotado pelos policias militares e guarda municipal trouxe um desfecho positivo sendo perpetrador detido e os reféns libertos, onde toda ação foi pautada na presença física dos agentes e na verbalização com o perpetrador. Não podemos excluir a necessidade dos níveis maiores de força, como o uso da força letal, também serem importante quando observados sua Proporcionalidade, Necessidade, Conveniência e Legalidade. Policiais Militares e demais agente aplicadores da lei se deparam ocasionalmente com situações onde cidadãos a margem da lei colocam em risco suas vidas e de terceiros de forma a se fazer necessário o emprego de métodos letais. Conforme dito por Balestreri (1998) quando a policia usa da força para prevenir ou reprimir sua ação vai além do combate a atos criminosos, torna-se um meio educativo com visão pedagógica contrariando a ação do crime. De acordo ainda com Balestreri (1998) quando a polícia age pautado nos princípios legais, técnicos, éticos e morais que ele definiu como “bom policial”, sua ação será lembrada com satisfação e conforto. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tratar do Uso Legitimo da Força é complexo e demanda debates amplos e constantes durante o passar dos anos, ainda sendo assunto de muitas pautas e matérias acadêmicas que tratam sobre segurança pública. É possuir concluir com clareza que o uso da força pelos Policiais é respaldado pela legislação vigente e possui doutrinas e preceitos que regem seu uso. O preparo e condicionamento necessário desses profissionais é de responsabilidade do Estado. Não obstante a participação do policial é crucial pois compete ao Estado fornecer as condições de ensino para capacita-lo, todavia, a avaliação e tomada de decisão defronte a situações adversas cabe a este profissional. Nos reflexos das decisões tomadas pelo 14 profissional foi possível abranger o tangente a seus pontos positivos e negativos e suas respectivas repercussões perante a sociedade e Estado, devendo sempre pautar-se na Proporcionalidade, Necessidade, Conveniência e Legalidade na utilização da força legal, assim como em sua progressão, cabendo esta analise ao policial frente ao problema. Fica evidente também a responsabilidade da sociedade em saber que uso da força legal e proporcional é inerente e de competência das forças policiais sendo necessário a compressão e razoabilidade da população para saber que em diversas situações as policias necessitam fazer uso desta força. Nos dias de hoje nota-se através dos meios midiáticos que qualquer uso da força legal e proporcional, mesmo devidamente aplicadas, tornam os policiais e demais agente aplicadores da lei alvos de retaliação, e isso tem afetado a relação da população com os policiais. Em contrapartida a negligência, imprudência e imperícia do uso da força pelos policiais deve ser investigado e tratado conforme prevê a lei e os regulamentos internos de suas instituições (Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais e Código de Ética) e devidamente aplicadas sansões correspondentes ao grau de sua violação. Salineiro (2016) descreve de forma simples e abrangente a relação da necessidade do uso legal da força e a aproximação da sociedade à segurança pública quando diz: Precisamos recolocar o Brasil nos trilhos das políticas de segurança mais bem-sucedidas do mundo, valorizando e qualificando o agente de segurança, especializando as diferentes forças policiais, unificando órgãos e agencias, aproximando o estado do povo que sofre com a violência. (Salineiro, 2016). Ultimando que a abordagem do assunto “uso legitimo e progressivo da força” precisa estar no roteiro de debate na área de segurança pública visando estabelecer um consenso que respeite cada vez mais os princípios dos Direitos Humanos e preparação dos profissionais, assim como trazendo para sala de aula a conscientização da população para que possam compreender o uso da força por nossas instituições policiais, haja vista que nossa constituição prevê em seu art.144 que: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos...” cooperando mutuamente para estabelecermos uma sociedade segura para todos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -SENASP, Secretaria Nacional de Segurança Pública. Vade Mecum, Brasília, Ministério da Justiça 2010 - SILVA, DejanirBraz Pereira da, RAMALHO, Alexandre Ofranti, FREIRE, Paulo Henrique Batista. Ocorrências com Reféns – Fundamentos e Práticas no Brasil, Vitória, Imprensa Oficial do Espirito Santo 2003. - GOMES, João Marcos Ferreira. A Legitimidade do Uso da Força Policial, Goiânia, Comando da Academia de Policia Militar 2018 -CAMPELO, Lilian. Massacre de Paud’Arco, Brasil de Fato, disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/05/24/massacre-de-pau-darco-com-dez-camponeses- mortos-pela-policia-completa-1-ano/ 2018. -BLANCO, Carballo. Técnica Policial – Uso da Força, disponível em: http://agendadacidadania.blogspot.com/2008/04/tcnica-policial.html. https://www.brasildefato.com.br/2018/05/24/massacre-de-pau-darco-com-dez-camponeses-mortos-pela-policia-completa-1-ano/ https://www.brasildefato.com.br/2018/05/24/massacre-de-pau-darco-com-dez-camponeses-mortos-pela-policia-completa-1-ano/ http://agendadacidadania.blogspot.com/2008/04/tcnica-policial.html 16 - MORAES JUNIOR, Dilton Pinheiro de. O Uso da Força pela Policia Militar e seus Níveis de Utilização da força disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/sociologia/uso- forca-policia-militar-seus-niveis-utilizacao.htm. - CIMEsp. Companhia Independente de Missões Especiais, disponível em: https://pm.es.gov.br/companhia-independente-de-missoes-especiais - TEDESCO, Leandro. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito- santo/noticia/2019/03/14/homem-faz-a-propria-familia-refem-pela-segunda-vez-em- vitoria.ghtml https://monografias.brasilescola.uol.com.br/sociologia/uso-forca-policia-militar-seus-niveis-utilizacao.htm https://monografias.brasilescola.uol.com.br/sociologia/uso-forca-policia-militar-seus-niveis-utilizacao.htm https://pm.es.gov.br/companhia-independente-de-missoes-especiais https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/03/14/homem-faz-a-propria-familia-refem-pela-segunda-vez-em-vitoria.ghtml https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/03/14/homem-faz-a-propria-familia-refem-pela-segunda-vez-em-vitoria.ghtml https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/03/14/homem-faz-a-propria-familia-refem-pela-segunda-vez-em-vitoria.ghtml
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