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Teoria do Crime - Antijuridicidade

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Teoria do crime:	
O crime é uma conduta típica, antijurídica e culpável. Estudamos isso por etapas, vai se ultrapassando a etapa para ver se existe a outra e caso não existe uma delas, não há crime.
 Começamos pela conduta típica, verificando quando há conduta e dentro da conduta a ação, a omissão, o dolo, a culpa; estudamos o resultado; o nexo de causalidade, a tipicidade. Falamos do erro de tipo incriminador, do erro de proibição direto, da tentativa, da desistência voluntária, do arrependimento eficaz, crime impossível.
Vimos tudo o que havia sobre conduta típica. Se chegar-se a um resultado positivo, ou seja, existe conduta típica, passa-se para uma segunda etapa para estudar o segundo momento que é a antijuridicidade. 
Antijuridicidade:
A antijuridicidade decorre da tipicidade, isso é, em princípio, toda conduta típica é antijurídica, só não será quando houver uma causa de exclusão da antijuridicidade. Em outras palavras, a conduta só é antijurídica se não houver uma causa de exclusão da antijuridicidade. Então, é necessário ver se existe alguma causa, se existir, não tem crime e só se existir que se passará para a próxima etapa.
Elementos: 
Para haver uma excludente de antijuridicidade é necessário existir 3 elementos:
a) Elemento subjetivo - Para uma pessoa agir acobertada por uma causa de exclusão da antijuridicidade, ela tem que saber e querer agir dentro dessa causa de exclusão
b) Descriminantes putativas:
b.1) Erro de tipo permissivo: Às vezes, a pessoa pensa estar agindo acobertada por uma excludente de ilicitude, mas não está, são as descriminantes putativas que são as hipóteses de incidir em erro quanto à existência de uma causa de exclusão da antijuridicidade. Erro esse que pode ser de tipo, chamado de erro de tipo permissivo, isso é, quando o erro do agente vem a recair sobre uma situação fática.
b.2 ) Erro de proibição indireto: o erro quanto à existência de uma causa de exclusão da antijuridicidade. Na cabeça do indivíduo ele esta agindo dentro de uma causa de exclusão, mas na verdade essa causa não existe
c) Excesso - Inicialmente, uma pessoa pode agir acobertada por uma causa de exclusão da antijuridicidade e depois ela ultrapassa o limite dessa causa de exclusão. Então, quando ela ultrapassa, se a conduta for típica, será antijurídica, pois no excesso não existe causa de exclusão, e temos que ver se o excesso é doloso ou culposo, as classificações, e etc.
Causas de exclusão da parte geral:
o artigo 23 do CP que enumera quais são as causas legais de exclusão da antijuridicidade. As quatro causas que serão estudadas são: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito. Vale lembrar que essas são as causas legais, porém podem existir causas supralegais que não estão na lei. 
a) O estado de necessidade:
O estado de necessidade é a primeira causa a ser analisada e está previsto no artigo 24 do Código Penal. Nele, o sujeito se vê diante de um dilema, diante de dois bens jurídicos expostos ao mesmo perigo e ele não tem como salvar os dois bens jurídicos, logo, terá que escolher um para salvar e o outro para sacrificar. Esse sacrifício de um bem jurídico, para salvar outro, quando não se pode salvar os dois, é que se chama estado de necessidade.É uma conduta típica que não é contrária ao direito. É uma conduta típica que o direito permite, de acordo com o ordenamento jurídico. Por isso que não há crime quando a pessoa pratica aquela conduta amparada por essa situação especial que se chama estado de necessidade. 
Art 24 do CP: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
i) Pratica o fato para salvar de perigo atual:
Então, quem pratica o fato, que fato é esse? O sacrifício de um bem. E o que é o perigo? O perigo não é claramente explicado pela doutrina. Quando é perguntado o que é perigo, a doutrina responde que o perigo é aquilo que não é agressão. Mas o que é agressão? Agressão é um ato de uma pessoa contra a outra diretamente. Perigo é tudo que não é agressão
Obs: Esse perigo pode ser produzido por uma ação da natureza, como um incêndio ou naufrágio, por exemplo, que tenha exposto dois bens jurídicos ao perigo. Mas esse perigo também pode ter sido provocado pelo homem, embora não seja uma ação direta de uma pessoa contra a outra, quem produziu esse perigo pode ter sido um homem. Por exemplo, alguém pega um fósforo, gasolina, risca o fósforo e provoca um incêndio. Ele não agiu direto contra ninguém, mas provocou, causou, um perigo. Esse perigo que é pressuposto do estado de necessidade. 
 O perigo atual é o perigo que está acontecendo naquele momento em que o sujeito irá praticar o fato típico, o sacrifício de um bem. É o que está escrito no artigo em questão.
Perigo iminente – Divergência doutrinária - Perigo iminente é o perigo que está quase acontecendo. Se o perigo é iminente e já estão presentes todos os requisitos do estado de necessidade, não seria razoável que o legislador aguardasse que esse perigo iminente fosse atual para permitir a conduta típica? Dessa forma, a doutrina sustenta, embora haja divergência, a posição majoritária admite o estado de necessidade quando o perigo é iminente. É claramente uma interpretação favorável para quem virá a agir. Diferente da legal, que amplia um pouco o que esta na lei e que não é unânime, mas aceita pela posição majoritária.
Atenção: Se a questão disser “de acordo com o Código Penal” ou “de acordo com a norma legal”, não será possível admitir o perigo iminente. Se a questão estiver apontando o perigo no estado de necessidade com relação à letra da lei, só se pode admitir o perigo atual
ii) Perigo não provocado pelo agente:
Só pode alegar estado de necessidade quem vai praticar o fato típico e não provocou o perigo por sua vontade, pois se foi ele que provocou o perigo por sua vontade, não estará amparado pelo estado de necessidade. 
Exemplo: Um sujeito, que está sem dinheiro, resolve atear fogo em seu carro e dizer para o seguro que o carro pegou fogo sozinho e receber o dinheiro que lhe cabe. Ele, pensando nisso, armou um plano em que ele estaria dentro do carro e de dentro do carro ele acionaria um dispositivo que vai produzir o incêndio. Para ficar mais realista, ele resolveu chamar um amigo que não estaria sabendo de nada, para ser mais uma testemunha. Ao colocar o plano em prática, o carro começou a pegar fogo. Mas ele achava que conseguiria abrir o carro e fugir, porém, algo deu errado e a porta travou e ele não conseguiu sair. O sujeito e o amigo não conseguiam quebrar os vidros do carro e o fogo já havia se espalhado. O dono do carro, tentando sair pelo vidro traseiro, pega o amigo e o empurra para o fogo como forma de impulsioná-lo na direção do vidro. O sujeito, diante disso tudo, alega estado de necessidade. Diz que teve que matar o amigo para se salvar, pois os dois estavam diante de um perigo, um incêndio, um perigo atual e para se salvar, teve que sacrificar a vida do amigo. Nesse caso, Não poderá alegar que agiu em estado de necessidade, pois foi ele que provocou aquele perigo. No momento da culpabilidade, o sujeito poderá alegar outras coisas, mas nesse momento, de análise do crime, em que ele praticou uma conduta típica, matou alguém, não esta dentro da causa de exclusão do estado de necessidade, ele praticou uma conduta típica e antijurídica. Pode ser que na culpabilidade ele tenha alguma saída, mas no campo da ilicitude, a conduta que ele praticou não é permitida pelo legislador, a conduta que ele praticou é errada, porque foi ele que provocou por sua vontade aquele perigo.
Vontade – Divergência doutrinária - Muitos doutrinadores dizem que essa vontade, essa expressão do artigo 24 do CP teria o mesmo sentido da vontade do artigo 14, II do CP que trata de tentativa. Tentativa só existe quando a pessoa tem vontade na consumação, mas ela não ocorre por circunstanciasalheias a sua vontade. Na tentativa a vontade é dolo, só existe tentativa em crime doloso. A doutrina diz que essa vontade do artigo 24 também é dolo, a pessoa provocou dolosamente o perigo e com isso não pode alegar estado de necessidade. Existe uma divergência na expressão “vontade”. Uma parte da doutrina diz: se o sujeito provocou o perigo, ele não pode alegar estado de necessidade, com ou sem intenção, não pode; outros dizem que o legislador só impede a alegação de estado de necessidade quando o agente quis provocar esse perigo. Se ele provocou sem querer, ou por não ter cuidado, ele poderá alegar estado de necessidade e estar amparado por essa causa de exclusão da antijuridicidade. E a sua conduta típica não será antijurídica e não haverá crime. Então, para a posição majoritária, só não se admite estado de necessidade quando o sujeito provoca intencionalmente o perigo. Isso é, admite-se estado de necessidade em casos em que o perigo tenha sido provocado de forma Culposa.
Obs: A professora acredita que essa ideia confunde, pois não é dolo propriamente dito, não é dolo no sentido de praticar um crime, então ela prefere dizer que agiu por sua vontade, voluntariamente na provocação do perigo e nada se relaciona com o sacrifício do bem, com a conduta típica que ele praticou. Mas sim, com a provocação do perigo.
Exemplo: Uma pessoa que faz pequenos consertos a domicílio, o “faz-tudo”, percebe problemas no interruptor, começa a mexer sem entender muito bem e vai mais por tentativa. Quando ele mexe na fiação, provoca um curto circuito e um incêndio no determinado local. Ele para se salvar do incêndio acaba deixando alguém no apartamento, matando alguém para se livrar e se salvar daquele incêndio. Nessa situação, a doutrina irá divergir quanto ao vocábulo “vontade” presente na lei. No entanto, majoritariamente, afirma-se possível declarar estado de necessidade em situações nas quais o perigo tenha sido provocado por descuido. 
iii) Evitabilidade do dano:
O estado de necessidade é a última alternativa do sujeito, é quando ele não tem nenhuma outra saída. Para salvar um bem, só sacrificando outro. Só há essa alternativa porque se houver outra saída, em que os dois bens jurídicos podem ser salvos, não vai se admitir estado de necessidade. O estado de necessidade é uma situação extrema, o desespero. Salvar um bem depende do sacrifício do outro. Se houver uma situação onde os dois bens jurídicos podem ser preservados, não se vai admitir estado de necessidade. Só será assim considerado se não houver outro modo de evitar.
iv) Estado de necessidade próprio e de terceiro:
O sujeito pode salvar o próprio bem jurídico ou pode salvar um bem jurídico de terceiro ou pode sacrificar o próprio bem jurídico ou de terceiro e conforme seja o sacrifício, conforme seja o bem jurídico que vai ser salvo, vamos ter classificações do estado de necessidade. Se o sujeito vai salvar o próprio bem jurídico se diz que ele está em (I) estado de necessidade próprio. Se ele vai salvar o bem jurídico de terceiro, se diz em (II) estado de necessidade de terceiro
Outra classificação diz respeito ao bem jurídico que ele vai sacrificar: (III) Estado de necessidade defensivo: Quando ele sacrifica um bem da pessoa que provocou perigo, intencionalmente ou não, mas foi ele que provocou e o sujeito em estado de necessidade sacrifica o bem da pessoa que provocou o perigo; (IV) Estado de necessidade agressivo: se sacrificar o bem de uma pessoa que não provocou perigo, que não tem nada a ver com a história.
Atenção: Um exemplo: vamos imaginar um terremoto de pequena proporção. Em uma situação hipotética, para impedir que aquele tremor destrua sua casa, o sujeito vai ter que quebrar um automóvel estacionado em frente a sua casa, pois aqueles escombros vão impedir que sua casa desabe. Admitindo que ele esteja verdadeiramente em estado de necessidade (agressivo), ele quebrou o carro, praticou fato típico, destruiu coisa alheia móvel para salvar de um perigo atual que ele não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio. Penalmente a conduta dele é típica e permitida. É lícita. Existe uma causa que exclui a ilicitude. Será que esse dano/prejuízo vai ficar sem ressarcimento? O ato lícito ou ilícito para o Direito Penal e para o Direito Civil é o mesmo. Havendo uma causa de exclusão da ilicitude no Direito Penal, ela vai ser aproveitada para o Direito Civil. Porém, há duas exceções em que teremos uma excludente de ilicitude no Direito Penal, mas será possível o ressarcimento no Direito Civil. O estado de necessidade agressivo é um caso.
v) Razoabilidade do sacrifício do bem:
Para agir em estado de necessidade, praticar uma conduta típica que não vai ser crime, que vai ser permitida, deve-se olhar para os dois bens jurídicos e decidir qual sacrificar e qual salvar. Há de se fazer uma escolha entre dois bens jurídicos em mesmo perigo, pois não tem como salvar os dois. A lei diz qual deve salvar “aquele cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”
É preciso analisar se os bens jurídicos são de igual valor ou de valores diferentes. Se forem de igual valor para a nossa legislação de acordo com a doutrina tanto faz sacrificar um ou outro. Se forem de valores diferentes para haver estado de necessidade vai se sacrificar o bem de menor valor para salvar o de maior valor. Se não fizer isso. Sacrificar o de maior valor para salvar o de menor valor não vai haver estado de necessidade. A doutrina diz: é o valor do bem em si mesmo.
Atenção: A vida de um vale tanto quanto a vida de outro. Então, quando o bem jurídico em jogo é a vida, tanto faz a escolha que vai se fazer para salvar ou sacrificar um ou outro. Não interessa se a vida foi boa ou ruim. O bem jurídico é o mesmo; a vida vale mais do que a coisa; A vida vale mais que a obra de arte;Uma vida vale menos do que 10, ainda que aquela vida seja da sua mãe, do seu filho ou da pessoa mais querida.
Obs.: O estado de necessidade que estamos estudando é aquele que exclui a antijuridicidade – nos casos onde houver sacrifício do bem de igual ou menor valor. Este é o chamado (I) estado de necessidade justificante, presente no artigo 24 do nosso Código, adotado pela Teoria unitária. Existe outro estado de necessidade, que pode excluir a antijuridicidade ou a culpabilidade. Ele exclui a antijuridicidade da mesma forma que o justificante, quando houver o sacrifício de um bem de igual ou menor valor. Ele exclui a culpabilidade quando houver o sacrifício de um bem de maior valor. Este estado de necessidade ambíguo é chamado de (II) estado de necessidade exculpante, adotado pela teoria diferenciadora, que foi adotado pelo Código Penal Militar.
Obs.: Mas existem outros exemplos de estado de necessidade não muito falados, por exemplo: a pessoa está sem comer há três dias. Ela está tonta, passando mal, não tem dinheiro para comer, então ela pensa “ou eu furto um alimento, ou eu morro”. Então ela vai ao local e furta uma maçã, um sanduíche. Vamos deixar de lado o princípio da insignificância para excluir a tipicidade, vamos pensar na antijuridicidade, passando o primeiro momento. Ele foi lá e subtraiu para si coisa alheia móvel, mas ele estava diante de um perigo, o patrimônio e a vida estavam em perigo, ele não tinha outro modo de evitar, não foi ele que provocou por sua vontade esse perigo, ele sacrificou um bem de menor valor (patrimônio) para salvar um bem de maior valor. Ele está em estado de necessidade? Está. É o chamado furto famélico, o furto da pessoa que está morrendo de fome. Mas não se espalha por aí que o furto para sobreviver não é crime, que está amparado pelo estado de necessidade, na nossa sociedade capitalista. Então, cuidado, pois não se fala desses exemplos, apenas do naufrágio
Em suma: Isso é mal aprofundado, é importante saber que o nosso Código Penal adotou o estado de necessidade que exclui a antijuridicidade quando há o sacrifício do bem de igual ou menor valor, o estado de necessidade justificante. Existe outro, que pode vir a excluir a culpabilidade,é o exculpante, adotado pela Teoria diferenciadora. Existe um artigo no Código Penal Militar em que num caso é admitido o estado de necessidade quando a pessoa sacrifica um bem de maior valor. Porque é difícil às vezes escolher qual bem salvar e qual sacrificar. 
Mas o legislador não ficou alheio a essa dificuldade de escolher o bem jurídico, por isso foi criado, no parágrafo segundo, uma causa de diminuição de pena. Para essas situações em que não há saída na culpabilidade e o sujeito, na hora de escolher, escolheu errado, lê-se “embora seja razoável exigir-se o sacrifício do bem ameaçado, a pena pode ser reduzida de um a dois terços”. O parágrafo segundo do artigo 24 admite que o sujeito que errou na escolha do bem vai responder por um crime, mas vai ter direito a uma redução de pena.
 Nós vamos praticar, com relação às outras pessoas, conduta típica, se não se trata de agente garantidor, omissão de socorro com resultado morte, se é um agente garantidor, como por exemplo, um bombeiro, homicídio por omissão. Responderá por uma conduta típica que não é antijurídica, não tem causa de exclusão da antijuridicidade. Quando chegar à culpabilidade, há saída, não será condenado por inexigibilidade de conduta diversa. O Estado não pode exigir que se aja de outra maneira. Quando vermos isso, voltaremos aqui. Mas não há estado de necessidade porque adotamos o justificante
vi) Dever jurídico de evitar o perigo:
Então eu pergunto a vocês: Quem é que tem o dever legal de enfrentar o perigo? Quem está nessa proibição do §1? O agente garantidor. 
O agente garantidor, então, pelo que a gente está vendo numa primeira leitura não poderá estar em legitima defesa? Bom, antes dessa pergunta ser respondida De que agente garantidor esse art. 24, § 1 está tratando? Será que ele está tratando de todas as hipóteses do art. 13, § 2? O art. 13, § 2 é o artigo que trata do agente garantidor
Agente garantidor – Divergência doutrinária - Existem as duas, a posição majoritária é que só se aplica o art. 24 §1 à letra a do art. 13 §2; então somente o agente garantidor previsto lá na letra a do art. 13 §2 é que não pode alegar estado de necessidade. Exemplos de agente garantidor pela letra “a” são: o policial, o bombeiro, os pais, alguns médicos também.
Então será que eles não podem alegar estado de necessidade? Vimos aqui os casos que falei: o bombeiro que teve que escolher, falei do médico que teve que escolher salvar um ou outro paciente. Mas porque o §1 está dizendo isso e o que ele quer dizer na verdade? O §1 está dizendo que o agente garantidor do art. 13, §2, letra “a”, não pode alegar estado de necessidade para se omitir, para deixar de agir quando pode e deve. Então, o bombeiro diante de um incêndio não pode dizer “Não vou entrar nesse incêndio não. Entre a minha vida e a vida de quem está lá dentro, vou salvar a minha e que “se dane” a dele”. 
Não pode porque ele tem o dever de ingressar naquele perigo para salvar, ele tem conhecimento e ele pode, porque se o incêndio for de um jeito que ele não pode entrar, ele não é nem agente garantidor. Mas se pode porque tem conhecimento técnico, se ele deve, não pode deixar de agir quando ele pode e deve alegando estado de necessidade. É isso que o §1 do art. 24 está dizendo, o bombeiro diante de um incêndio pode ingressar e deve ingressar, não pode deixar de agir dizendo que está em estado de necessidade. 
Atenção: Trarei pra vocês um tema polêmico desse §1 do art. 24 que a doutrina traz pra gente. Vamos imaginar que o bombeiro entrou no incêndio e salvou um monte de gente. Ele foi subindo o prédio, salvando as pessoas e o fogo também pegando por baixo do prédio. Foi subindo até chegar à laje de cima e, embaixo, tudo pegando fogo, então não tem mais como descer. Ele fica aguardando ser resgatado por um helicóptero e, quando o helicóptero está se aproximando, inclusive com vítimas dentro, o helicóptero avisa por megafone que só tem condição de levar uma pessoa. O bombeiro diz que está ali, então aparece outra pessoa dizendo que também está ali para ser salva. Quem o helicóptero vai levar? Os dois estão ali para serem salvos, o bombeiro, que é agente garantidor, e a outra pessoa que não é agente garantidor. Eles entram em luta corporal, começam brigar e o bombeiro mata a outra pessoa para poder se salvar. Ele pode alegar estado de necessidade ou será que ele devia deixar a outra pessoa ser salva e morrer heroicamente no fogo? Será que ele pode alegar estado de necessidade ou não? Aqui existe uma grande divergência, porque não está mais em jogo uma situação onde ele tem duas pessoas pra socorrer e escolhe uma, aqui uma delas é o próprio bombeiro, é o próprio agente garantidor, e aí se questiona se o agente garantidor tem o dever de inclusive se sacrificar pelo outro ou se ele, nessa situação, age como qualquer outra pessoa.
Existem as duas posições, não há nem posição majoritária. Uns entendem que (I) ele está em estado de necessidade porque naquela situação ele não pode salvar e, não podendo salvar, como qualquer um, ele está em estado de necessidade. Outros dizem que não, que (II) o dever dele de agir inclui seu próprio sacrifício, então ele não poderia alegar estado de necessidade, sua conduta seria típica e antijurídica. Na culpabilidade haverá uma saída, mas, dentro da ilicitude, não haveria exclusão. Esse é um tema polêmico dentro da situação de estado de necessidade.
vii) Estado de necessidade putativo:
Às vezes o sujeito pode achar que está em estado de necessidade, mas não está, seria um estado de necessidade putativo, pois fica provado que seria possível salvar os dois. Mas nesse caso a alegação era de estado de necessidade real, o mar estava de fato difícil de atuar e no final eu pedi a absolvição do sujeito por entender que havia sim estado de necessidade. Vale ressaltar que quem foi salvo foi o amigo e sacrificou aquele que estava há mais tempo se afogando. O guarda vidas se justificou dizendo que o mar estava frio e que precisava se aquecer para entrar.
Podemos ter estado de necessidade no caso dos hospitais públicos em que os médicos têm que escolher qual paciente vai para o CTI, qual a criança que nasceu que vai para a incubadora, quando não podem ser todas atendidas. São casos mais reais, mais próximos e não muito comentados de situações de estado de necessidade.
b) Legítima defesa:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Então, o pressuposto da legítima defesa é a existência de uma agressão, diferentemente do estado de necessidade. O pressuposto do estado de necessidade é o perigo, já na legítima defesa, ter agressão de uma pessoa contra outra diretamente.
Atenção: se alguém está andando na rua e, do nada, surge um cachorro louco que morde a perna da pessoa e não solta, fica agarrado na perna da pessoa, que diz que está sendo agredida, que não consegue fazê-lo soltar de jeito nenhum e que a perna já está gangrenando. A pessoa, então, pega uma arma que traz consigo, dá um tiro e mata o cachorro. Diz que matou o cachorro para se defender, porque ele estava a agredindo. Isto é legítima defesa? Não, isto é estado de necessidade. O cachorro, os animais de forma geral, ainda que a gente use a expressão “está me agredindo”, tecnicamente não constitui agressão, constitui perigo. Há dois bens jurídicos em perigo: a perna do sujeito e o animal. Ele vai sacrificar o de menor valor, que é a coisa, o animal; e vai salvar o de maior valor, que é a perna dele, a sua integridade física. Então nós vemos que a situação é de estado de necessidade porque, para haver legitima defesa, tem que haver um ato humano.
Por outro lado, se o cachorro tiver sendo atiçado por alguém, por exemplo, se o inimigo do sujeito o viu passando na rua, pegou seu pitbull e disse “vai lá, pega, morde”. O pitbull morde e ele, para se livrar do cachorro, atira no cachorro ou em quem está atiçando o animal. E agora, estamos diante de um estado de necessidade ou de uma legitima defesa? A doutrinadiz que a situação é de legítima defesa, porque o cachorro está sendo instrumento para uma agressão humana. O sujeito ao invés de ir lá bater, usa o cachorro para cometer o ato contra outra pessoa, então nesse caso temos legitima defesa.
i) Agressão atual e iminente:
Não é qualquer agressão que vai ensejar legítima defesa. Tem que ser uma agressão atual ou iminente. Esse, inclusive, é um dos argumentos daquela posição que defende que no estado de necessidade só pode ter perigo atual, porque eles dizem “olha, na legítima defesa o legislador colocou a iminência, se não colocou no estado de necessidade é porque não pode haver estado de necessidade com perigo iminente”.
Diante do que está no código penal, agressão atual ou iminente, nós podemos chegar a duas conclusões importantes: a primeira é que não há, pela lei, legítima defesa contra agressão futura. 
Exemplo: Vamos imaginar que o sujeito tenha dito para o outro “até o final de semana eu vou te matar”, e ele sabe que isso é verdade porque o sujeito já matou um monte de gente, toda vez que ele promete assim, ele cumpre. Então ele ficou pensando “será que eu vou esperar até o final de semana para isso acontecer? Eu não, eu vou me antecipar, irei à casa dele hoje à noite e vou matá-lo para me defender dessa agressão que eu tenho certeza que ele vai cumprir naquela ameaça que ele fez. Tecnicamente existe legítima defesa? Não, não há legítima defesa contra agressão futura, não há legítima defesa antecipada. O sujeito não pode dizer “ah, mas eu tenho certeza”, mas ainda não começou a agressão. Eu tenho que esperar? Tem, porque não esqueçam que a regra é que toda conduta típica é também antijurídica, só não será antijurídica em situações excepcionais. 
Só há legítima defesa, como está na lei, quando há agressão atual ou iminente. Agressão futura não há legítima defesa. Assim como não há legítima defesa contra agressão passada, contra agressão finda, acabada.
ii) Agressão injusta
É uma agressão errada, contrária ao direito. Poderia se dizer que é uma agressão que não está acobertada por uma causa de exclusão da antijuridicidade. Porque agressão acobertada por uma causa de exclusão de ilicitude é uma agressão certa, permitida pelo direito. Logo, se não houver uma causa de exclusão da antijuridicidade essa agressão é uma agressão errada, contra o direito, injusta.
 Tipos de legítima defesa
O sujeito pode repelir uma agressão que ele está sofrendo – legítima defesa própria.
Ele pode repelir uma agressão que um terceiro está sofrendo – legítima defesa de terceiro.
iii) Meios necessários:
O meio necessário é aquele meio que está ao alcance do agente. É aquele meio que ele pode dispor naquele momento para repelir a agressão. Evidentemente que vai depender do tipo de agressão para verificar qual o meio mais adequado para ele repelir a agressão. Então, se ele tem mais de um meio a sua disposição, terá que escolher aquele que mais se adequa ao tipo de agressão que está sofrendo.
Exemplo: sujeito está sendo agredido com tapas e socos, uma violência física. Ele é forte, tem muita força, tem condição de reagir, de se defender usando a sua força física, mas ele também tem ao seu dispor uma submetralhadora. Para essa agressão que ele está sofrendo qual é o meio necessário? A força física é mais adequada. Se ele usar a metralhadora ele não estará usando o meio necessário para repelir aquela agressão. 
iv) Moderação no uso dos meios necessários:
Esse meio necessário pode ser um único meio ou se tem mais de um meio ele vai escolher o mais adequado para se defender. Mas, não basta usar um meio necessário, ele tem que o usar moderadamente. Tem que usar o meio necessário para fazer a agressão cessar/parar.
Então, no exemplo, ele pode até, por ser muito magrinho, usar a metralhadora. Mas não vai poder usar a metralhadora atirando, de repente ele usa batendo com ela na cabeça do sujeito. Ou dando um tiro no pé. Ele vai ter que usar para cessar aquele tipo de agressão.
Portanto, na legítima defesa, o sujeito irá repelir uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, usando o meio que ele pode dispor até o ponto e com o objetivo de fazer cessar, parar aquela agressão.
Excesso 
Se a agressão parou e ele continuou, incidirá no excesso. Incidindo no excesso, responde por esse excesso? Depende do tipo de excesso. Se for um excesso acidental por caso fortuito ou força maior ele não responderá. Se for um excesso intencional, responderá dolosamente. Se for um excesso por erro, depende do erro. Sempre temos que tomar cuidado com o excesso porque tem que saber qual a razão que fez o sujeito se exceder.
Legítima defesa do patrimônio
A legítima defesa foi crescendo e hoje se admite que a pessoa pode se defender de uma agressão, não só uma agressão física ou agressão à sua vida, mas agressão a qualquer bem jurídico pertencente à ela, como também o patrimônio. O patrimônio pode ser defendido pela legítima defesa. Evidentemente, que deve haver uma proporção. Se o sujeito está furtando alguma coisa se admite que a pessoa se defenda daquele furto agredindo, dando um tapa, praticando uma lesão corporal, mas não matando.
Exemplo: Ele foi furtar uma bolsa, na hora que ele está furtando, a vítima dá um tiro na cabeça dele. É excesso. 
Atenção: Porque patrimônio pode ser defendido com lesão a integridade física. É o termômetro da jurisprudência. Se for roubo, se tiver violência ou grave ameaça, a jurisprudência admite matar em legítima defesa. Então, se entrou em uma casa, ameaçou todo mundo, amarrou, e a pessoa conseguiu se salvar, pegou a arma dela e matou o assaltante, a jurisprudência tem considerado que essa situação é legítima defesa. Porque não está em jogo apenas o patrimônio, também está em jogo a integridade física, a liberdade individual da pessoa.
Quando há furto, a jurisprudência entende que pode haver uma legítima defesa com lesão corporal, com morte, não. Mas se for roubo, poderia haver a morte
Legítima defesa putativa:
Não há legítima defesa real contra alguém que está em legítima defesa real. O que pode acontecer é alguém achar que está sofrendo uma agressão injusta, quando, na verdade, é lícito. Tal circunstância configura-se em uma legitima defesa putativa.
Por exemplo, um sujeito foi empurrado por outro que queria sair pela porta em estado de necessidade, ele não sabia que estava pegando fogo, não sabia nem que estava havendo estado de necessidade, ele ficou com raiva porque achou que aquela agressão fosse injusta quando na verdade era justa; e achando que era uma agressão injusta, ele se defendeu. Isso é uma legítima defesa real? Não, é uma legítima defesa putativa. Então, não pode haver legítima defesa real quando se está agindo em legítima defesa real.
A legítima defesa putativa, a descriminante putativa, exclui a antijuridicidade? Não, então se não exclui a antijuridicidade, a agressão em legítima defesa putativa é justa ou injusta? Injusta, enseja da outra parte uma legítima defesa real. Então, a legítima defesa putativa deve ser solucionada pela teoria do erro. Quando a pessoa erra na legítima defesa, porque acha que tem agressão e não tem, esse erro é de tipo; agora, quando a pessoa erra, sabendo que tem agressão, mas valorando mal essa agressão, achando que essa agressão é injusta quando na verdade é justa, esse erro é de proibição.
Se o sujeito aqui, o outro está praticando uma agressão justa, seja legítima defesa, estado de necessidade, ele nunca vai estar em legítima defesa real, mas se ele estiver em legítima defesa putativa, esse erro, achando que é injusto ou que é justo, é erro de proibição. E, aí, temos que ver se é vencível ou invencível.
Há a necessidade de se perguntar o porquê que ele se excedeu pra saber se ele responderá ou não. Se excedeu porque ele incidiu em erro de tipo invencível. Que tipo de excesso é esse derivado de erro? É o excesso não intencional, é uma descriminante putativa no excesso. Ele continuou atuando porque achou que ainda estava em legítima defesa. É uma legítima defesa putativa no excesso, para ultrapassar o limite,a causa de exclusão da antijuridicidade, presente no Art. 20 § 1°, isento de pena. E esse excesso não intencional derivado de erro pode ser um erro de tipo, um erro de proibição. 
Atenção: legitima defesa subjetiva - é um excesso por legítima defesa putativa e por erro de tipo invencível. Na legítima defesa real, ele não responde porque há uma excludente de ilicitude, na legítima defesa subjetiva, ele não responde porque se excede por erro de tipo invencível
Classificação de excesso:
Excesso intensivo: Quando o excesso, se dá por uso dos meios errados, desnecessários. Quando a pessoa se excede porque ela usa um meio que não é o que ela deveria usar.
Excesso extensivo: Quando ele usa o meio necessário mas usa de forma imoderada se excede porque exagera na maneira pela qual ele usa o meio necessário.
Legítima defesa do excesso:
Em qualquer excesso a agressão é injusta porque não há uma excludente de ilicitude. Mesmo que o B não responda pelo excesso, essa agressão como não está acobertada por uma excludente de ilicitude, pois o sujeito ultrapassou o limite, é sempre uma agressão injusta.
Pode haver legítima defesa do excesso? É possível, e essa legítima defesa do excesso é chamada de Legítima Defesa Sucessiva. É importante saber que pode haver Legítima Defesa Sucessiva porque a agressão do excesso é sempre injusta.
Ofendículas:
Também chamadas de ofensáculos. As ofendículas são os meios, aparatos, utilizados na proteção da propriedade. É tudo aquilo que o proprietário/possuidor utiliza para defender/proteger sua propriedade. É o caco de vidro no muro, a cerca de arame farpado, a cerca eletrificada, o cachorro, todos esses meios utilizados na proteção da propriedade nós poderíamos classificar como ofendículas/ofensáculos.
A doutrina e a jurisprudência dizem que a colocação de ofendículas é considerada um exercício regular de direito. Uma causa de exclusão da antijuridicidade que ainda não examinamos, mas seria uma causa de exclusão de exercício regular de direito. Então o proprietário/possuidor tem o direito de defender a sua propriedade. Não é obrigado a pôr, mas tem esse direito subjetivo. Não haveria crime nessa colocação se ela for correta.
O proprietário tem de ter todo cuidado na colocação dessas ofendículas. Exemplo: coloca-se vidro em cima do muro e não em toda a extensão do muro já não é exercício regular de direito e, dessa maneira, o sujeito pode vir a responder por uma lesão provocada a título de dolo ou culpa conforme tenha sido o seu ânimo. “Colocarei caco de vidro em toda a extensão do meu muro porque quem encostar no meu muro vai se machucar” – há dolo direto; “Pode vir a machucar alguém mas que se dane” – há dolo eventual; Ele pode nem ter imaginado que alguém poderia tropeçar e se machucar ali – há culpa consciente.
Quando alguém coloca a ofendícula de forma descuidada ou intencionalmente coloca erradamente, responderá pelo resultado que vier a ocorrer a título de dolo ou culpa conforme o seu ânimo. E se ele não tiver agido nem com dolo e nem com culpa? Dessa forma, de fato ele não responderá.
Quando essa ofendícula atua na defesa da propriedade, nós vamos ter a doutrina e a jurisprudência afirmando que vai haver uma legítima defesa. Só que essa legítima defesa será considerada uma legítima defesa pré-ordenada ou legítima defesa predisposta. Como assim? É legítima defesa porque a ofendícula está repelindo uma agressão ao patrimônio usando moderadamente os meios necessários. Porque, como já foi dito, a jurisprudência entende que havendo agressão ao patrimônio pode haver legítima defesa com lesão corporal. Então seria uma legítima defesa ao patrimônio.
Atenção: Essa legítima defesa pré-ordenada ou predisposta se não tomarmos cuidado podemos nos confundir e achar que é um caso de legítima defesa antecipada, que já foi dito não ser legítima defesa. Na verdade, a ofendícula é colocada para proteger o agente de uma agressão futura, mas ela só age quando a agressão é atual. Então, legítima defesa preordenada não é a mesma coisa que legítima defesa antecipada.
E se a ofendícula vier causar a morte de alguém? A jurisprudência entende que houve um excesso de Legítima Defesa e a pessoa que colocou a ofendícula, que causou a morte, vai responder por esse excesso? Depende da razão pela qual ocorreu o excesso. Se ela colocou veneno na ponta de cada caco de vidro, porque ela pensou: “quem entrar na minha casa, vai morrer e vai ser uma lição para qualquer um que tentar entrar de novo”. A pessoa entra, se machuca no caco de vidro, o caco de vidro tem veneno, cai na corrente sanguínea e a pessoa morre. Esse excesso é um excesso doloso, então o autor, que colocou a ofendícula, irá responder por isso. Porém, se a pessoa foi escalar uma grade cuja ponta possui uma lança, e no momento em que ele está ultrapassando e passando, justamente, do lado da lança, ele escorrega, cai, fica espetado na lança e morre. A ofendícula causou a morte, porém o excesso ocorreu por culpa exclusiva da vítima que escorregou. Então, houve um excesso acidental, quem colocou a ofendícula não vai responder pelo excesso.
E se a ofendícula acabar machucando uma pessoa “inocente”, no sentido de que não estar agredindo a propriedade? Por exemplo, um garoto está soltando pipa, ela enrola numa árvore na rua e ele tenta subir o muro para ficar mais alto e desenrolar a pipa. Quando ele sobe no muro, ele se machuca no caco de vidro. A ofendícula atingiu uma pessoa que não estava agredindo a sociedade, quando isso acontece, a jurisprudência entende que há uma Legítima Defesa Putativa. E aí tem-se que analisar se é erro de tipo, erro de proibição, vai depender do caso concreto
Estado de necessidade e bem disponível:
Exemplo: sujeito pensa que há um perigo para a propriedade de alguém (o dono da mala ou sacola), mas para ele tentar tirar o cachorro ele tem que bater nele, para que ele poder se afastar da sacola, ou então ele deixa o cachorro fazer o que ele quiser e, portanto, ele destrói a sacola. Não é possível que o sujeito salve os dois bens jurídicos: o cachorro de ser agredido e a sacola de ser destruída. O sujeito tem que agir. O sujeito resolve bater no cachorro, para que ele pare de morder e preservar o patrimônio de alguém, pois pode ter alguma coisa ali de valor. Ao fazer isso, o sujeito alega que está em Estado de Necessidade de terceiro, mas o bem jurídico que ele salvou (o patrimônio) é disponível
Uma parte da doutrina diz: ninguém pode agir em Estado de Necessidade de terceiro para salvar um bem jurídico disponível, sem que haja um consentimento do dono, porque o dono pode ter deixado o cachorro destruir a sacola. Se isso aconteceu, esse perigo deixa de existir, mas o sujeito não sabe. O estado de necessidade deixa de ser real e passa a ser putativo. Senão, o consentimento do ofendido exclui a antijuridicidade e, portanto, o cachorro, se está mordendo com o consentimento do dono, o sujeito não pode pensar que está tendo uma conduta lícita, porque na verdade não tem perigo nenhum.
Em suma: Assim, quando a pessoa vai salvar um bem jurídico de terceiro (estado de necessidade de terceiro) e o que ela vai salvar é um bem jurídico disponível, e os exemplos, em regra, são de patrimônio, ela primeiro deve perguntar ao dono se ele dá o consentimento para aquela lesão ao seu patrimônio ou não. A doutrina, que não se deve fazer isso, pois não se sabe se o dono permite quebrar o carro, porque esse dano é uma conduta típica acobertada por uma excludente supralegal de antijuridicidade: o consentimento do ofendido. Essa agressão não é injusta, é justa e, portanto, o sujeito não estaria em legítima defesa real, mas em legítima defesa putativa.
Erro na execução e legítima defesa:
Erro na execução é um erro de tipo acidental que pode ter resultado único e resultado duplo. O primeiro quando sujeito atinge o único alvo que ele não quer e o segundo quando ele atinge quem ele quer e quem ele não quer.
Por exemplo: A agride B, uma agressão injusta e atual, e B quando vai repelir essa agressão de A, erra o alvo e atinge C. A não sofre nada e o Bagrediu o C. Isso é um erro na execução com resultado único. B responde como se o C fosse o A e, sendo assim, ele está em legítima defesa. Então, ele não vai responder por essa agressão, não é crime. Não é crime, mas essa é a segunda exceção em que a conduta do B é lícita penalmente, mas dará ensejo à responsabilidade civil. Essa é a segunda causa na qual em que não há crime, mas pode haver uma responsabilidade civil. A primeira, como já foi mencionada antes, é o estado de necessidade agressivo e, a segunda, é quando uma pessoa age em legítima defesa e há um erro na execução com resultado único.
 E se o resultado fosse duplo?
O A agride o B, o B repele essa agressão e, ao repelir essa agressão ele atinge o A e o C. Ele responde pelos crimes que praticou e a aplicação de pena na forma do concurso formal. 
Com relação ao A, há algum crime? Não, porque ele está em legítima defesa. E com relação ao C? Ele pode ter agido com dolo eventual, com culpa ou sem dolo ou culpa, em regra, por culpa. Então, ele vai responder por uma lesão culposa, homicídio culposo com relação ao C, mas com relação ao A ele está em legítima defesa e não responde por nada.
Atenção: Há doutrinador, é uma posição minoritária, que diz que a legítima defesa do A se estende ao C. embora, exista essa posição não parece razoável, com relação ao C, normalmente, há uma inobservância do dever de cuidado.
c) Estrito Cumprimento de Dever Legal
A terceira causa de exclusão da antijuridicidade é o Estrito Cumprimento de Dever Legal. Como pode-se analisar pelo nome: a pessoa está cumprindo exatamente o que a lei manda, ou seja, ela está cumprindo estritamente uma ordem da lei. Se ela está cumprindo exatamente o que a lei determina, evidentemente, que há uma excludente de ilicitude, que a conduta dela não pode ser errada, nem contrária ao Direito, nem antijurídica. Por isso quem age em estrito cumprimento de um dever legal, quem está cumprindo a lei, não está praticando uma conduta contrária ao direito, pelo contrário, ela está praticando uma conduta que a lei está mandando.
Artigo 301 do Código de Processo Penal: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”
A lei está dizendo que a autoridade e seus agentes devem prender quem está em flagrante delito, a lei está mandando o policial prender a pessoa que está numa situação de flagrante delito. 
E quando o policial prende a pessoa, ele está praticando uma conduta típica: privar a liberdade de alguém, essa conduta típica, às vezes, até precisa de um constrangimento ilegal, usar de violência ou de ameaça para obrigar a pessoa a fazer o certo.A jurisprudência até admite que para prender uma pessoa pode até causar uma lesão corporal para segurá-la. Então, o policial para prender alguém em flagrante, ele está praticando uma conduta típica, no mínimo, uma privação de liberdade. Mas essa conduta típica que ele está praticando não é errada, não é antijurídica, porque ele está cumprindo exatamente o que a lei manda, ele está em estrio cumprimento de um dever legal, e a sua conduta embora típica não e antijurídica, mas ele tem que cumprir exatamente como a lei manda.
 Se a pessoa já está detida e ele resolve espancar a pessoa, aí não há estrito cumprimento de um dever legal, há um excesso, o que a lei manda é prender a pessoa que está em flagrante delito.
Outro exemplo: Um oficial de justiça vai cumprir uma ordem dada pelo juiz, uma ordem, por exemplo, de uma busca e apreensão numa residência. Caso a pessoa não permita a entrada, ele chama testemunhas, pois a lei exige isso, e entra sem o consentimento do morador para cumprir aquela diligência, ele então está praticando a conduta típica da violação do domicílio, ele entrou em casa alheia sem o consentimento do morador, durante o dia, o horário que a lei permite e manda o oficial de justiça cumprir a diligência expedida por autoridade competente, no caso o juiz. Então esse oficial de justiça está praticando uma conduta típica, mas esta é permitida, que a lei o obriga a praticar, ele está em estrito cumprimento de um dever legal, entrou na casa, procurou o objeto, aprendeu o objeto e foi embora. Praticou uma conduta típica, protegida e amparada pelo estrito cumprimento de um dever legal. A pessoa está cumprindo exatamente o que a lei manda.
Atenção: Quem se defende resistindo, pratica uma agressão injusta. O policial pode se defender em legítima defesa? Pode. Só que nós ouvimos na TV o quê? Que houve uma troca de tiros em algum lugar, e o policial vai para a TV e fala: “Não, nós estávamos lá, ingressamos naquele local que tinha tráfico de drogas, fomos recebidos a tiros, então nós no estrito cumprimento do dever legal, atiramos e matamos um traficante.” Eu pergunto: Existe cumprimento de um dever legal para matar uma pessoa? A doutrina diz o seguinte: Existiria se nós tivéssemos pena de morte, e o carrasco que fosse executar essa morte, ele estaria matando alguém em estrito cumprimento de um dever legal. 
Nós não temos a pena de morte instituída, nos casos de paz, não temos isso. Se uma pessoa mata a outra ela jamais poderá dizer que matou em estrito cumprimento de um dever legal. Agora ela pode estar em legítima defesa, ela pode ter sofrido uma agressão injusta e ter repelido usando moderadamente os meios necessários, porque, lembrem, é pra fazer cessar a agressão, nós vamos ter uma possibilidade do policial agir em legitima defesa. Pode acontecer, mas não é o que normalmente acontece.
d) Exercício Regular do Direito:
Vamos agora falar da quarta e última causa de exclusão da antijuridicidade que é o exercício regular de direito. O próprio nome também ajuda, a pessoa exercerá regularmente, corretamente, um direito subjetivo que é concedido pelo ordenamento jurídico. O ordenamento jurídico permite que as pessoas possam exercer alguns direitos, ela confere aos indivíduos direitos subjetivos que eles podem exercer ou não, eles não são obrigados. Tem essa faculdade, essa possibilidade de fazer ou não.
.O art. 301 do CPP traz duas situações: Qualquer um do povo poderá e a autoridade policial e os seus agentes deverão prender em flagrante. Quanto à autoridade policial e seus agentes que são obrigados a prender quem está em flagrante delito, temos a causa de ontem: estrito cumprimento do dever legal. Quanto a qualquer um de nós, do povo, presenciando uma situação de flagrante delito o legislador permite, se você quiser você pode prender alguém em flagrante, mas não é obrigado. Então qualquer um do povo poderá, é um direito subjetivo concedido pelo ordenamento jurídico e a pessoa tem a faculdade de exercer ou não esse direito. Se ela quiser exercer esse direito, se ela quiser prender alguém em flagrante ela vai praticar a conduta típica, seja da privação da liberdade, seja do constrangimento ilegal, de uma lesão leve; uma conduta típica que vai estar amparada pela causa de exclusão do exercício regular de direito.
Então, desde que a pessoa exerça regularmente, corretamente, dentro das regras, aquele direito subjetivo que foi conferido pelo legislador, a conduta será típica, mas não será antijurídica, não será contrária ao direito, não será errada, porque é o próprio ordenamento jurídico que permite que a pessoa possa agir daquela maneira.
Violência esportiva:
O que é a violência esportiva? As pessoas têm o direito de exercer e praticar esportes desde que queira, ninguém é obrigado. Por exemplo, objetivo do boxe é lesão corporal, agredir, mas se ele está praticando essa lesão corporal dentro das regras, não há crime nenhum, é um exercício regular de direito.
Lógico, se ele ultrapassar a regra, se der um golpe que não está dentro da regra do esporte, se não está na hora que é a luta, fora da luta, evidentemente não haverá essa causa de exclusão, ou porque não existe mesmo, ou porque houve um excesso, mas essa causa de exclusão alcança essas hipóteses de violência esportiva.
Benfeitoria locatária:
Pessoa que aluga o imóvel, pode fazer algumas benfeitorias no imóvel, pode melhoraraquele imóvel que ela está alugando. E algumas benfeitorias, o locador tem que indenizar, outras não. Vamos imaginar que o locatário tenha feito alguma benfeitoria e que o locador tenha que indenizar, e o locador não indenizou. Então, ele (locatário) ao invés de devolver o imóvel na hora, ou ao invés de pagar o que deve, ele retém o imóvel até que o locador pague o que deve pela lei. Essa hora que ele retém alguma coisa que não é dele, não tinha na sua posse, ele pode estar praticando uma conduta típica de apropriação indébita, mas a própria lei de locações é que permite ao locatário esse direito de retenção. A conduta típica não é contrária ao direito, porque a própria lei permite que o locatário faça retenção dessas benfeitorias até que o locador as indenize. Isso também é um exemplo de exercício regular de direito.
Intervenção Cirúrgica:
Quando o médico corta a pessoa para operar, ele não está praticando uma lesão corporal? Está, mas essa lesão corporal é crime? Não, porque o médico está exercendo a medicina, o médico tem o direito subjetivo, conferido pelo legislador, para operar as pessoas, para exercer a medicina da melhor maneira possível. Então, vamos ter a intervenção cirúrgica consentida pelo paciente como um exemplo de exercício regular de direito.
A intervenção cirúrgica só é exercício regular de direito quando há o consentimento do paciente. Se o paciente não consentir, não existe essa causa de exclusão. Se o médico disser que tem que operar, e o paciente diz que não vai operar, e o médico diz que ela vai passar mal no futuro e etc. A pessoa não quer. O médico opera a pessoa a força. Vai haver exercício regular de direito? Não, ainda que o médico ache que está certo. Pode até ser um exercício regular putativo, mas não é real, para ser real tem que haver o consentimento do paciente.
Atenção: E se o paciente não puder consentir? E o médico tem que operar para que a pessoa não morra. Será que o médico tem que esperar a pessoa melhorar, para consentir, e ele poder operar? Mas se ele ficar esperando, a pessoa vai morrer. Então, o que ele faz numa situação dessas? Opera. Ao operar sem o consentimento ele não está alcançado pelo exercício regular de direito, mas ele pode estar alcançado pelo estado de necessidade de terceiro. Porque há dois bens jurídicos em perigo: o consentimento e a vida. Ele sacrificará o bem de menor valor, o consentimento, para salvar o bem de maior valor, a vida.
Então, o médico quando opera o paciente que está em perigo de vida, e não dá para esperar o consentimento, ou até mesmo a pessoa pode dizer: “não quero operar, quero morrer!” O médico mesmo assim, opera o paciente, ele estará sacrificando o consentimento para salvar a vida, isso é estado de necessidade de terceiro, não é exercício regular de direito, pois exercício regular de direito precisa de consentimento do paciente.
E o fato do médico obrigar a pessoa a se operar, quando ela não quer e há risco de vida, não é nem a operação em si, pois a operação é um estado de necessidade de terceiro. Mas o fato de obrigar a pessoa a se operar seria um crime de constrangimento ilegal? Não é. Vejam: 
Art. 146, parágrafo 3, inciso I: Não se compreendem na disposição deste artigo: a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida.
 Não é constrangimento ilegal, e a natureza jurídica desse parágrafo terceiro é uma exclusão de tipicidade. Não é constrangimento ilegal por exclusão expressa da lei e não é lesão corporal pelo médico estar agindo por estado de necessidade de terceiro.
Intervenção cirúrgica quando não há doença:
Primeiro caso: uma pessoa chega para o médico e diz que não quer mais o braço esquerdo, porque acha feio e pergunta se o médico pode arrancar. O médico diz que pode exercer a medicina, o paciente está dando o consentimento, e acha que não tem problema nenhum. Vai lá e arranca o braço esquerdo da pessoa, dizendo que está exercendo o exercício regular do direito.
Segundo caso: a pessoa chega para o médico e diz que não aguenta mais as gorduras localizadas, e quer fazer uma lipoaspiração, lipoescultura, tirar a gordura que incomoda. O médico diz assim, “bom eu sou médico, posso exercer a medicina, o paciente está dando o seu consentimento”, vai lá e tira toda a gordura da pessoa.
Quando uma pessoa opera sem necessidade de doença, nós podemos ter cirurgias mutiladoras e cirurgias reparadoras. As cirurgias mutiladoras não são consideradas exercício regular de direito, se a pessoa quer arrancar um braço, se quer tirar um pedaço do estômago sem necessidade patológica, apenas porquê está querendo emagrecer; se não tiver indicação medica, obesidade, mas quer, não pode, pois haverá crime. Assim como a pessoa que tira um pedaço da costela para ficar mais magra, que faz laqueadura de trompas sem haver indicação, pois temos uma lei que trata desse assunto, lei do planejamento familiar.
Mas se a cirurgia for reparadora, como por exemplo, cirurgia plástica, cirurgia pra corrigir certo grau de olho, que a pessoa não tem nenhuma doença, mas quer ver melhor. A pessoa que faz cirurgia plástica, lipoaspiração, isso tudo está dentro de uma cirurgia reparadora. Tá dentro do exercício regular de direito. Essa classificação é uma classificação interessante, só para vocês saberem.
i) Tipicidade conglobante: 
Modernamente a tipicidade tem que ser encarada tanto no aspecto formal, adequação da conduta aquela fôrma, descrição típica; como também num aspecto conglobante, numa valoração da proibição.
Vimos que essa tipicidade conglobante também têm dois aspectos: um aspecto da antinormatividade e um aspecto material. No aspecto da antinormatividade, a professora mencionou a situação em que o legislador inicialmente proíbe a conduta e logo em seguida manda a pessoa praticar aquela conduta, ou permite que a pessoa pratique aquela conduta. Então, teremos ter uma situação de antinormatividade, em que se diz se o legislador proíbe e depois permite, na verdade a conduta não é proibida, não é típica.
A professora tinha dito que essa visão da tipicidade conglobante pega o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito e traz para a tipicidade. Ao invés de considerar o exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal como excludente de antijuridicidade, como estamos vendo, e como o art.23 CP determina, então para nossa legislação, realmente é uma causa de exclusão de antijuridicidade. Mas a visão de tipicidade conglobante diz que isso pode ser analisado na tipicidade. Se o legislador diz que é crime entrar em casa alheia sem o consentimento, mas o próprio legislador manda o oficial de justiça entrar em casa alheia sem consentimento, para o oficial de justiça que entra, não é proibido. Se não é proibido não é típico, porque só é típica a prática da conduta proibida.
Na verdade, a tipicidade conglobante, no aspecto da antinormatividade, antecipa a análise do estrito cumprimento do dever legal e do exercício regular de direito para a tipicidade. Tratam dessas duas causas como causas de exclusão da tipicidade conglobante, no aspecto da antinormatividade. 
É uma ideia interessante, mas pela nossa legislação, essas causas são excludentes de ilicitude. Ficou faltando fazer essa ligação entre esses dois assuntos, porque quando a professora falou inicialmente, a gente não tinha visto ainda essas causas, e tinha ficado no ar, agora vocês podem compreender, pois já sabem o que é estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito, que são situações onde a lei manda o sujeito agir ou o ordenamento permita que ele tenha uma determinada atuação, portanto, para o professor Zaffaronni, que foi quem idealizou essa posição, isso seria uma excludente de tipicidade. 
Mas para a nossa legislação continua sendo excludente de ilicitude. De qualquer forma, não haverá crime, mas existem, por trás disso, algumas consequências processuais, por isso é importante sabermos essa questão.

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