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Marina Moura Fé – M7 Infecções de vias aéreas superiores (IVAS) INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), definem-se como doenças respiratórias, as doenças ou infecções que ocorrem no trato respiratório, tanto superior como inferior, nas quais há a obstrução da passagem do ar, tanto a nível nasal quanto a nível bronquiolar e pulmonar. Elas variam desde infecções agudas, como pneumonias e resfriados comuns, a infecções mais graves, como a tuberculose. As infecções respiratórias agudas estão entre as doenças infecciosas de maior índice de morbimortalidade em todo o mundo, afetando principalmente os mais jovens e os mais idosos. Essas infecções podem ser classificadas de acordo com sua localização em infecções das vias aéreas superiores e infecções das vias aéreas inferiores e são geralmente causadas por vírus, porém podem ter como agente causador outros patógenos, como bactérias, tendo em muitos casos apresentações de infecções mistas, que são as infecções que possuem mais de um agente causador, como bactérias e vírus, simultaneamente. As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) compreendem todas as infecções do trato respiratório acima da laringe, tendo como exemplo o resfriado comum, influenza, amigdalite e rinossinusite. Correspondendo a um dos problemas mais comuns encontrados em serviços de atendimento médico pediátricos, resultando em morbidade significativa em todo o mundo. Enquanto a população adulta desenvolve 2 a 5 episódios no ano, as crianças em idade escolar desenvolvem de 7 a 10 episódios no decorrer do ano. As IVAS incidem principalmente do início do outono ao início da primavera. As diferenças na apresentação clínica são úteis não somente em identificar o agente causal como em melhorar a acurácia do diagnóstico clínico de infecções virais emergentes, como a pandemia de influenza e a síndrome respiratória aguda severa a fim de introduzir terapia antiviral específica e iniciar medidas de saúde pública na comunidade, como o isolamento de casos infectados. A gravidade da doença vai depender do patógeno causador da infecção, do meio ambiente e de fatores do hospedeiro. As IVAS são doenças facilmente encontradas em todo o mundo, apresentam sintomatologia autolimitada, geralmente com quadros leves a moderado. Porém, são responsáveis por uma alta frequência de absenteísmos em, principalmente, escolas e trabalho, levando em decorrência disso alto investimento com medicamentos, e um considerável impacto socioeconômico. Marina Moura Fé – M7 A extensão da infecção viral é modulada pela idade, estado fisiológico e imunológico do paciente. A depender desses fatores, a infecção pode apresentar-se assintomática ou levar o paciente ao óbito, sendo mais comumente associada com uma sintomatologia autolimitada. O resfriado comum ou uma gripe podem ainda evoluir para otite, faringoamigdalite, laringite e pneumonia. Podem ser prevenidas por meio da educação da comunidade e do autocuidado referente a esses tipos de doenças. A busca por tratamento e medicamentos para combater doenças como amigdalites e resfriado comum pode ser diminuída se a população for estimulada a se prevenir e autocuidar-se. Para isso, é imprescindível a atuação dos profissionais responsáveis junto às famílias, ensinando a prevenção, o cuidado e até mesmo situações de intervenções no meio-ambiente em que estão vivendo. Fluxograma – IVAS O comprometimento infeccioso das vias respiratórias superiores, nem sempre tem a devida atenção clínica. Isso se deve ao fato de que, em geral, os distúrbios são passageiros e não impedem o paciente de dar continuidade à sua rotina diária. A situação muda a partir do momento em que se observa um agravamento dos sintomas, os quais podem desencadear um processo sistêmico. No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as regiões, sendo mais marcado naquelas com estações climáticas bem definidas, ocorrendo com maior frequência nos meses mais frios, em locais de clima temperado. Há um aumento de casos devido à falta de ventilação (efeito estufa) e aglomerações, como casas fechadas por um tempo superior e contato próximo, utilização de ambiente comum, entre outros. É importante orientar a população as formas de contágio e como se prevenir principalmente nessa época do ano. MODOS DE TRANSMISSÃO As infecções respiratórias são doenças de alto contágio devido ao seu elevado potencial de propagação, que pode acontecer por três mecanismos: aerossóis de pequenas partículas, aerossóis de partículas grandes e contato direto. Marina Moura Fé – M7 O contágio é significativo em comunidades fechadas e semifechadas, como domicílio, creches (importante na morbidade de lactentes), escolas e outras coletividades. A prevenção da transmissão de ambas as doenças deve ser feita com a interrupção da cadeia de transmissão onde no caso da precaução para gotículas o uso de máscaras cirúrgicas é recomendado em pacientes contaminados. Já na precaução para aerossol, a sugestão é o uso da máscara N95. IVAS MAIS COMUNS Amigdalite A amigdalite é a infecção aguda das amígdalas e embora a principal causa de seja viral, muitas vezes apresenta-se com um quadro de etiologia bacteriana. O agente etiológico mais comum é o estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Sua importância em Saúde Pública decorre não apenas da sua alta frequência, mas também das suas complicações. As anginas eritematosas são as mais frequentes, correspondendo a 90% dos casos, de origem viral ou bacteciana. Ao exame observa-se a mucosa orofaríngea arroxeada, as amígdalas edemaciadas e aumentadas de volume. Além das características inflamatórias podem estar presentes exsudato esbranquiçado puntiforme ou confluente, que se desprende facilmente da mucosa ao ser manipulado com o abaixador de língua. Dor à deglutição é a marca da doença e é, muitas vezes, referida nos ouvidos. As crianças muito jovens que não são capazes de queixar-se de dor de garganta, quase sempre se recusam a comer. Além de outros sintomas como: febre alta, cefaleia, mal- estar, haliatose, voz abafada e indisposição gastrointestinal. O exame físico revela hiperemia, aumento de tonsilas e exsudato purulento, além de adenomegalia em cadeia jugulodigástrica, observada em 60% dos casos. No hemograma observamos leucocitose com desvio à esquerda. É importante o diagnóstico correto da amigdalite estreptocócica porque o seu tratamento diminui o risco de doença reumática e de complicações supurativas, tais como abscesso periamigdaliano. É importante lembrar que o vírus que, com mais frequência, causa quadro clínico difícil de distinguir da etiologia estreptocócica. Apesar do diagnóstico da amigdalite aguda bacteriana ser basicamente clínico, é possível a utilização de métodos diagnósticos para a confirmação da etiologia estreptocócica. A cultura de orofaringe é considerada o padrão ouro, mas apresenta como desvantagem o tempo prolongado (18 a 48 horas) para obtenção do resultado do exame e com isso a espera para a introdução da medicação adequada. Outros testes para detecção do estreptococo, como ELISA, imunoensaios ópticos ou sondas de DNA, apresentam a vantagem do diagnóstico rápido. Marina Moura Fé – M7 O paciente que apresenta dor de garganta com outros sintomas respiratórios, tais como coriza, obstrução nasal, disfonia, tosse, é muito provável que seja portador de amigdalite viral. Tratamentos de suporte incluem analgesia, hidratação e repouso. No caso da etiologia bacteriana, o tratamento consiste no uso de analgésicos, anti-inflamatórios, corticosteroides e antibioticoterapia. No Brasil, o antibiótico mais utilizado para tratamento de faringite estreptocócica é a amoxicilina, onde 7 a 10 dias tem sidoo tempo utilizado. O tratamento pode ser iniciado imediatamente ou adiado até que os resultados da cultura sejam conhecidos. Se o tratamento é iniciado empiricamente, ele deve ser interrompido caso as culturas sejam negativas. Amigdalectomia têm sido com frequência considerada se amigdalite por estreptococo beta-hemolítico do grupo A recorrer repetidamente (> 6 episódios/ano, > 4 episódios/ano por 2 anos ou > 3 episódios/ano por 3 anos) ou se a infecção aguda é grave e persistente mesmo após o uso dos antibióticos. Marina Moura Fé – M7 Rinossinusite/Rinite Alérgica Uma das afecções mais prevalentes das vias aéreas superiores, caracterizada por todo processo inflamatório da mucosa de revestimento da cavidade paranasal, trazendo custo financeiro elevado aos serviços de saúde. Sendo doença de alta prevalência, gera impacto direta e indiretamente na economia global. Trata-se de uma inflamação da mucosa nasal, mediada por anticorpos IgE, que ocorre após exposição a alérgenos. A rinossinusite ocorre geralmente após uma infecção das vias aéreas superiores viral, sendo a causa predisponente de 80% das rinossinusites bacterianas ou após uma inflamação alérgica, causa predisponente de 20% das rinossinusites bacterianas. Estima-se que 0,5 a 2% das IVAS apresentam evolução para rinossinusite bacteriana. A rinossinusite é classificada principalmente de acordo com sua duração. Desta forma, as classificações devem ser consideradas apenas como dado complementar para nortear a conduta. Sendo a classificação das rinossinusites, segundo Bailey: Rinossinusite viral é a causa mais comum de rinossinusite adquirida na comunidade, geralmente ocasionando sintomas respiratórios autolimitados. Com relação a rinossinusite bacteriana, os agentes mais comumente relacionados com rinossinusite bacteriana aguda adquirida na comunidade em adultos são: Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, isolados em cerca de 75% dos casos. Em ordem de importância, os sintomas mais frequentes são dor, que pode ser nasal, facial ou ainda manifestar-se como cefaleia, febre que está presente em 50% dos adultos com rinossinusite aguda, obstrução nasal e rinorreia, onde a secreção é geralmente verde-amarelada, podendo ser uni ou bilateral e halitose, anosmia e rinorreia posterior com tosse. Em geral, a intensidade da dor é pior pela manhã, diminuindo ao longo do dia, aparecendo geralmente na região do seio acometido. A rinossinusite do seio etmoidal apresenta-se com dor na parte medial do nariz e na área retrorbitária. A rinossinusite esfenoidal pode se manifestar por dor no vértex, bitemporal, retrorbitária e pode ser irradiada para pescoço e ombros. Na rinossinusite maxilar aguda pode haver queixa de odontalgia. Marina Moura Fé – M7 Os achados do exame físico incluem secreção purulenta e dor à palpação. O exame da cavidade nasal evidencia uma mucosa edemaciada, coloração pálida e a presença de secreção aquosa principalmente se a criança estiver em crise. É difícil distinguir as rinossinusites virais de rinossinusites bacterianas através da apresentação clínica. De modo geral, quanto mais prolongados forem os sintomas, maior a chance de se tratar de uma rinossinusite bacteriana. O padrão-ouro no diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda é a cultura de secreção do seio acometido por punção ou endoscopia. São métodos indicados em poucos casos, como os recorrentes, crônicos ou ainda de difícil resposta ao tratamento convencional. Em relação aso exames de imagem, de um modo geral, a radiografia é um exame de baixa sensibilidade e especificidade, não sendo geralmente indicada nas rinossinusites agudas ou crônicas. O valor da TC no diagnóstico da rinossinusite bacteriana aguda é questionável pela alta sensibilidade e baixa especificidade desse exame O tratamento preconiza tanto desobstruir o seio e restabelecer a drenagem quanto erradicar o agente etiológico. Algumas medidas que podem ser úteis na desobstrução do seio são hidratação adequada, umidificação do ambiente e evitar exposição a agentes que causem alergia. Além da lavagem nasal com solução salina, que é importante para todos os pacientes, que pode ser usada solução salina fisiológica ou hipertônica. Para fazer uma lavagem efetiva é necessário colocar a solução na mão e aspirar pela narina até a solução atingir a cavidade oral, uma narina de cada vez e repetir o procedimento várias vezes ao dia. Os descongestionantes podem ser tópicos ou orais, os tópicos devem ser usados por um curto período de tempo, no máximo 3 dias, por causa do efeito rebote e desenvolvimento de rinite medicamentosa com o uso crônico. Feito o diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda, a escolha do antibiótico deve refletir a prevalência de organismos produtores de B- lactamase. Amoxicilina é adequada onde a presença destes microrganismos é baixa, que é o caso do Brasil. Se não houver melhora do quadro clínico em 4 a 5 dias, recomenda-se o uso de outros antibióticos de segunda opção, como amoxicilina com clavulanato de potássio, cefuroxima axetil ou cefprozil. É recomendado o uso de antibióticos por 10 a 15 dias, porém se a resposta clínica for baixa, a continuação da terapia por uma semana depois da resolução dos sintomas pode ser a melhor escolha. Marina Moura Fé – M7 Resfriado comum O resfriado e gripe são doenças virais agudas do trato respiratório superior altamente transmissíveis, muitas vezes de difícil distinção entre si. O resfriado raramente é acompanhado de complicações sistêmicas e tem evolução autolimitada. A gripe, ao contrário, costuma ser acompanhada de complicações sistêmicas, podendo evoluir de maneira autolimitada, porém com significativa chance de apresentar agravos clínicos importantes em idosos e em portadores de doenças associadas. Dado o seu potencial pandêmico, a gripe pode ainda ser classificada nas variantes sazonal, forma clínica que ocorre anualmente, e pandêmica, forma clínica verificada em periodicidade de anos não previsíveis. O resfriado comum é uma enfermidade benigna autolimitada, causada por vírus respiratório. É a doença aguda mais frequente em todo o mundo, responsável por 500 milhões de caso por ano. Representa cerca de 40% de ausência ao trabalho e à escola por ano. É causado por aproximadamente 200 subtipos de vírus, tendo na maioria das vezes o rinovírus. O período de incubação costuma ser de 24 a 72 horas e os sintomas podem variar de paciente para paciente, mas a rinite e a congestão nasal são os mais comuns. A referência de garganta “arranhando” costuma também ser sintoma comum na fase inicial. A dor de garganta aparece acompanhando os sintomas nasais até o terceiro dia. A tosse inicia comumente no quarto dia, ocasião em que os sintomas nasais diminuem. Achados de exame físico são pobres, apesar do intenso mal-estar referido pelo paciente. Em 25% dos casos os sintomas podem perdurar até duas semanas, durando em média 3 a 10 dias. Tem como fatores de risco que aumentam a gravidade da doença a baixa idade, prematuridade, tabagismo, doença crônica, imunodeficiências e desnutrição. O diagnóstico é essencialmente clínico, a presença dos sintomas, associados à sazonalidade e à possibilidade de contato recente com portadores de infecção aguda viral das vias respiratórias superiores, costumam ser suficientes para a definição diagnóstica. Sendo assim, não há necessidade de realização de exames complementares. Marina Moura Fé – M7 O tratamento consiste no uso de sintomáticos, como descrito abaixo: Gripe A gripe é quase sempre causada pelos vírus do grupo influenza, um vírus RNA da família Orthomyxoviridae. Existem quatro tipos de vírus influenza: A, B, C e D. Os vírusA e B apresentam maior importância clínica. Estima-se que, em média, o tipo A causa 75% das infecções, mas em algumas temporadas, ocorre predomínio do tipo B. A influenza é uma doença grave que causa danos à saúde das pessoas há muitos séculos. A sintomatologia é da febre é mais complexa comparada ao resfriado comum. Há o comprometimento sistêmico com febre, mialgias, cefaleia, prostração tornando o paciente incapaz para suas atividades diárias, sendo uma das principais características da gripe, enquanto o resfriado traz maior desconforto pelos sintomas nasais de coriza e obstrução. A tosse é o principal sintoma respiratório da gripe, geralmente acompanhada dos sintomas sistêmicos mencionados, os quais têm início súbito e com período de incubação de 1 a 4 dias, tendo o pico de excreção viral no segundo dia. Sinusite A sinusite bacteriana é um processo inflamatório que acomete a mucosa que reveste as cavidades dos seios paranasais. Quando, associado a este quadro, há inflamação da mucosa nasal, denomina- se rinossinusite. Breve revisão de seios paranasais Você deve se lembrar que os seios paranasais (figura abaixo) são constituídos pelos seios maxilares, etmoidais, frontais e esfenoidais. Entre as funções destas cavidades estão: dar ressonância à voz, fornece suporte ósseo para a face e para os olhos, reduzir o peso do crânio e auxiliar a cavidade nasal na filtração, aquecimento e umidificação do ar respirado. Estes seios sofrem aeração progressiva conforme a idade. Ao nascer, a criança já possui os seios etmoidal e maxilar, que vão tendo sua aeração aumentada gradativamente ao longo do crescimento. Aos 5 anos, há o início da aeração do seio esfenoidal, e só aos 16 anos, o seio frontal se torna completamente aerado. Logo, o bebê não vai ter sinusite frontal, que é um quadro típico do adolescente. Marina Moura Fé – M7 Etiologia Sinusite pode ter origem infecciosa (viral, bacteriana ou fúngica) ou não infecciosa (decorrente de mecanismos alérgicos, hormonal, medicamentosa, vasomotora, idiopática, entre outras). Mais comumente a etiologia é infecciosa e viral, sendo o tratamento compatível com o do resfriado comum: lavagem nasal com soro fisiológico e inalação. Porém, a sinusite que gera maiores repercussões clínicas é a bacteriana. Sinusite bacteriana A sinusite bacteriana, em 90% dos casos, começa após uma infecção de vias aéreas superiores (IVAS) por vírus (resfriado comum ou gripe). Esta evolução ocorre prioritariamente em crianças: • Entre 4 e 7 anos; • Que frequentam creches; • Que possuem rinite alérgica ou sofrem tabagismo passivo; • No período do outono e do inverno (época em que há maior circulação de vírus). As bactérias mais comumente relacionadas ao acometimento dos seios da face são: • Streptococcus pneumoniae (30%); • Moraxella catarrhalis (20%); • Haemophilus influenzae não-tipá vel (20%); Patogênese Como supracitado, a sinusite bacteriana, na maioria das vezes, é precedida por uma infecção viral. Isso ocorre porque o vírus leva à disfunção ciliar, que predispõe ao espessamento do muco. Ademais, a inflamação gerada em torno do óstio do seio paranasal, culmina na sua obstrução e, consequentemente, no acúmulo de secreção dentro destes seios. Dessa forma, estando a função ciliar comprometida, o muco espesso e preso dentro do seio paranasal, este se torna um ambiente bastante propício para a proliferação bacteriana. Quadro clínico A criança geralmente cursa com: • Febre; • Obstrução nasal; • Rinorreia anterior ou posterior; • Tosse produtiva. Interessante... Rinorreia anterior se refere à coriza nasal, referida pelo paciente, e a rinorreia posterior é um sinal encontrado no exame físico, quando à oroscopia, percebe-se uma secreção descendo da nasofaringe em direção à orofaringe. A este achado dá-se o nome de sinal da vela. Marina Moura Fé – M7 Resfriado comum x sinusite bacteriana Diagnóstico O diagnóstico da sinusite bacteriana é essencialmente clínico! Não se deve solicitar radiografia de seios da face de rotina, porque a criança que tem um resfriado comum pode ter alterações na radiografia dos seios paranasais, sem necessariamente ter sinusite. A tomografia computadorizada (TC) de seios da face, por sua vez, só deve ser solicitada em 2 situações: • Suspeita de complicações; • Infecção persistente ou recorrente, sem melhora com antibioticoterapia adequada. Tratamento O tratamento da sinusite bacteriana consiste na antibioticoterapia (com amoxicilina) e em medidas adjuvantes (lavagem nasal com soro fisiológico e corticoide nasal). Faringite A faringite é a inflamação da mucosa faríngea. Comumente, está associada à inflamação das tonsilas palatinas, sendo denominada faringotonsilite. Já quando a inflamação das tonsilas é isolada, denomina-se tonsilite. Etiologia Faringites virais As infecções por vírus são mais comuns e autolimitadas. De acordo com a época do ano, há prevalências diferentes dos vírus que causam as faringites. Dessa forma, no inverno, há predomínio de vírus sazonais, como: Rinovírus, Coronavírus, Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e Parainfluenza. Já na primavera e no verão, as infecções são, em sua maioria, por enterovírus. Faringites bacterianas O principal agente bacteriano responsável por faringites é o Streptococcus pyogenes (também denominado Streptococcus ẞ-hemolítico do grupo A). Quadro clínico Os sinais e sintomas da faringite podem ser inespecíficos ou sugestivos de infecção viral ou infecção bacteriana. Entre os achados inespecíficos se encontram: • Febre • Dor de garganta Os achados sugestivos de infecção viral são, no geral, sintomas típicos de resfriado comum (acometendo vias aéreas superiores), como: Marina Moura Fé – M7 Tosse; Rinorreia; Conjuntivite; Rouquidão; Diarreia (enterovírus); Vesículas em orofaringe (Coxsackie A) Já os achados sugestivos de bactérias são: -Vômitos -Petéquias em palato ou manchas de Forchheimer -Exsudato faríngeo ou tonsilar -Rash escarlatiniforme - Linfonodos cervicais dolorosos. Diagnóstico Devido à superposição entre sintomas sugestivos de vírus e de bactérias, o diagnóstico clínico é insuficiente. Dessa forma, mesmo com achados sugestivos de S. pyogenes, é necessária a cultura de orofaringe, que apresenta sensibilidade entre 90 e 95%, mas seu resultado demora cerca de 3 dias. É interessante solicitar o antibiograma associado, para verificar se há resistência da bactéria a algum antibiótico. Otite A otite externa A otite externa é bastante comum em pessoas que vivem em países tropicais como o Brasil, onde o clima úmido e quente na maior parte de seu extenso território, e os hábitos de imersões frequentes (banhos de mar, piscina e prática de esportes aquáticos) favorecem o aparecimento de afecções da pele que reveste o canal auditivo externo (CAE). A orelha externa é constituída pelo pavilhão auricular e pelo CAE, conduto esse anatomicamente formado, em seu terço lateral, por tecido cartilaginoso e, nos 2/3 mediais (próximos à membrana timpânica) com arcabouço ósseo. A porção mais estreita do CAE é a junção fibrocartilaginosa com a parte óssea, local mais comum da impactação dos corpos estranhos inseridos na orelha. A orelha externa e o CAE são revestidos em sua totalidade por pele, que apresenta características próprias: • quase inexistência de tecido celular subcutâneo, aderindo intimamente ao pericôndrio e periósteo, fato que explica a magnitude da otalgia em seus processos inflamatórios; • folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas especializadas, produtoras de cerúmen, elemento básico na manutenção da umidade e pH do CAE, indispensávelna integridade do tecido de revestimento. Marina Moura Fé – M7 O CAE constitui uma estrutura de proteção e limpeza própria: as secreções altamente viscosas das glândulas sebáceas e as secreções pigmentadas ceruminosas do canal combinam-se às células superficiais esfoliadas da pele para formar um revestimento protetor, uma película acidificada, cérea, que repele a água. A pele do conduto auditivo externo tem seu próprio mecanismo de limpeza, que carreia para fora o cerúmen e pequenas impurezas, dispensando o uso de instrumentos para sua higiene. A exposição frequente do canal auditivo externo à água, à instrumentalização ou à limpeza excessiva com o emprego usual de hastes flexíveis de algodão removem as secreções protetoras da pele do conduto auditivo externo, modificam o seu pH e alteram o principal fator de resistência às infecções. A otite externa é definida como o processo inflamatório da orelha externa, de múltipla etiologia. As mais comuns são as formas difusas das otites bacterianas das piscinas (otite do nadador ou otite das piscinas) e, ocasionalmente, a forma localizada dessas infecções, como o furúnculo do CAE. O mecanismo de instalação da otite externa, na grande maioria dos casos, envolve fatores intrínsecos ou extrínsecos, que predispõem o seu aparecimento. Os fatores intrínsecos são: 1. Variantes anatômicas do CAE: condutos estreitos e sinuosos que dificultam a limpeza natural, acarretando retenção de material seroescamoso e variações de umidade. 2. Alterações de pele (descamações, dermatite seborreica, dermatite de contato por medicamentos tópicos). 3. Presença de otorreia secundária à perfuração da membrana timpânica ou drenada pelos tubos de ventilação. Os fatores extrínsecos são: 1. Manipulação excessiva do CAE, objetivando falsa limpeza e lavagem da orelha. 2. Exposição à água e umidade excessivas. 3. Traumatismos (digitais ou por corpo estranho). DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da otite externa é baseado nos sinais e nos sintomas, e fundamentalmente na otoscopia. Sintomas O sintoma predominante é a dor de ouvido, acentuada por manipulação do pavilhão auricular e por pressão sobre o trago, cuja intensidade pode ser desproporcional ao grau de inflamação pelas características de fixação da pele. O prurido é um precursor frequente da dor e geralmente é um sinal característico do comprometimento crônico do canal. A surdez condutiva pode decorrer do edema, das secreções ou do espessamento crônico da pele do CAE. Edema, eritema e otorreia amarelo- esverdeada são sinais proeminentes de doença aguda. Algumas vezes fica difícil a comprovação do sítio primário de infecção (orelha externa ou orelha média), em especial quando há comprometimento da orelha média com perfuração da membrana timpânica, exsudato, dor e edema no CAE. A dor, quando a membrana timpânica está perfurada, drenando secreção, não é importante, pois neste caso a efusão não está sob pressão. Marina Moura Fé – M7 Outro dado diferencial é que a otite externa secundária à perfuração ocorre cerca de 24 a 48 horas após o início da otorreia.O médico pode ainda lançar mão da otoscopia pneumática quando a membrana timpânica estiver íntegra: a cavidade da orelha média sem efusão permite uma boa movimentação da membrana timpânica. Em alguns pacientes com otite externa, o edema periauricular pode ser tão intenso que o pavilhão auricular é empurrado para a frente, numa condição que pode ser confundida com mastoidite aguda; entretanto, na mastoidite a prega pósauricular é obliterada, enquanto que na otite externa a prega é mantida. Etiologia A microbiota normal do conduto externo consiste em Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium (difteroides), Micrococcus sp e, ocasionalmente, S. aureus e Streptococcus viridans. A maioria das otites externas é causada por bactérias gram negativas, mais comumente por Pseudomonas aeruginosa (50%-60%), Enterobacter aerogenes, Proteus mirabilis, Klebsiella pneumoniae, estreptococos (9%-15%), S. epidermidis e fungos como Candida e Aspergillus. Tratamento A terapêutica baseia-se na analgesia (analgésico + calor local) e em preparações óticas tópicas contendo antimicrobianos ou uma mistura contendo antibióticos-corticosteroides. Otite média A inflamação da orelha média é a doença de maior prevalência na infância depois das infecções virais do trato respiratório. O diagnóstico e o tratamento corretos da otite média são importantes, não apenas porque é uma enfermidade bastante comum, como também porque, às vezes, é sucedida por complicações significativas, como disseminação intracraniana da infecção, com meningite e inflamação aguda do ouvido médio, seguida por derrame local persistente durante um período de tempo variável. O último pode acarretar significativa perda de audição condutiva, podendo prejudicar o desenvolvimento da fala e da linguagem. A otite média aguda (OMA) é definida pelo aparecimento de fluido ou secreção na orelha média, associada a sinais ou sintomas de doença aguda local ou sistêmica. Diferencia-se da otite média com efusão (OME), definida quando houver a presença de fluido na orelha média com ausência de sinais ou sintomas de infecção aguda do ouvido, situação também conhecida como otite média secretora ou otite média serosa. A incidência de otite é mais alta no inverno e mais baixa no verão, o que, epidemiologicamente, coincide com a maior incidência das infecções das vias aéreas superiores (IVAS). Os microrganismos bacterianos historicamente e mais comumente encontrados nas OMA são o Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae não capsulado (não-tipável) e a Moraxella catarrhalis. Desde a introdução das vacinas conjugadas para pneumococo (7-valente e, posteriormente, 10- valente ou 13-valente) houve uma mudança dos patógenos da OMA, com diminuição de casos causados pelo pneumococo e aumento relativo dos casos por hemófilos. Outra informação a ser mencionada é a resistência antibiótica dos microorganismos responsáveis pelas OMA. Marina Moura Fé – M7 Classificação O termo “otite média” engloba dois subtipos em sua classificação: a otite média aguda (OMA) e a otite média com efusão (OME). Essa é uma subclassificação prática que facilita o entendimento do fenômeno patológico subjacente. A otite média aguda (OMA) é definida pelo aparecimento de fluido ou secreção na orelha média, associada a sinais ou sintomas agudos de inflamação da orelha média. Diferencia-se da otite média com efusão (OME), definida quando houver a presença de fluido na orelha média com ausência de sinais ou sintomas de infecção aguda do ouvido, situação também conhecida como otite média secretora ou otite média serosa. Manifestações clínicas As manifestações clínicas de uma OMA podem se confundir com as de uma IVAS; OMA quase sempre ocorre no contexto de uma infecção viras das vias aéreas superiores, entre o terceiro e sétimo dia. Assim, essas crianças tem rinorreia, congestão nasal, e, eventualmente temperatura corporal elevada. Diagnóstico O diagnóstico de Otite Média Aguda (OMA) é feito com base nas características clínicas abaixo: 1. Otorreia não provocada por otite externa 2. Sinais de efusão na orelha média + sinais de inflamação. Os médicos podem diagnosticar OMA em crianças que apresentam leve abaulamento da MT, recente (menos de 48 horas) aparecimento de dor de ouvido (ou criança não-verbal segurando, puxando ou esfregando a orelha) ou intenso eritema da MT. Os médicos não devem diagnosticar OMA em crianças que não têm efusão do ouvido médio. Tratamento O uso de analgésicos orais é recomendado para todas as crianças com OMA e que tenham dor: dipirona, paracetamol ou ibuprofeno.O uso de analgésicos tópicos tem pouco benefício comprovado, não devendo ser prescrito rotineiramente. Para a decisão de utilizar antibióticos, deve-se considerar a história natural de resolução espontânea da OMA, o risco de aumento das taxas de resistência bacteriana, e ainda a possibilidade de evolução com complicações (meningite, mastoidite, otite média com efusão)
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