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Fichamento do texto: WEBER, David. Borbones y bárbaros: centro y periferia em la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuário IEHS, Tandil, n.13, p. 147-171, 1998. David Weber, historiador americano especializado em História da América, trabalha neste artigo a relação dos índios submetidos com os espanhóis e de que forma a reformulação da política indígena bourbônica trouxe novas perspectivas a essa relação. Weber inicia o seu artigo levantando a questão de que a conquista efetiva não contemplava todo o território compreendido da América Hispânica, afirmando que os índios não submetidos ocupavam metade desse território. Para os Habsburgos, estender a conquista territorial para além das áreas centrais, sob raras exceções, eram desestimuladas pelo rigor do clima, inacessibilidade e aparente escassez de recursos nessas áreas periféricas, além da oposição dos nativos dessas regiões. No entanto, na segunda metade do século XVIII, quando a questão das fronteiras se tornou uma preocupação central para a Espanha, a reordenação da política indígena para essas áreas proposta pelos bourbons, aliado as especificidades dos territórios periféricos da Hispano-América, trouxeram novas relações entre espanhóis e os índios “bravos”. Uma das grandes questões levantadas por Weber sobre a problemática da defesa do território, que gerava grande preocupação aqueles que conduziram essa nova política indigenista, era a possibilidade da aliança entre os índios não submetidos e a Inglaterra, o que poderia facilitar a expansão inglesa na América e ameaçar o controle espanhol nessas áreas limítrofes, tanto em questão comercial como em territorial. Cabe destacar ainda, a necessidade dos Bourbon em extrair mais receita da América como meio de reverter a crise econômica que a Espanha se encontrava, o que implicava não somente uma política voltada para o centro, mas também o desenvolvimento das áreas periféricas e vulneráveis, na qual perpassava o controle dos índios bravios. Nesse sentido, dentro de um pacote de reformas da administração pública com o intuito de aumentar a produtividade, o comércio e a segurança na América, o pensamento ilustrado e os exemplos inglês e francês sugeriram uma nova estratégia aos Bourbons para controle dos indígenas: o comércio. A exposição mais clara desta ideia na tradição de pensamento espanhol, segundo Weber, é o Novo sistema de governo econômico para a América, um plano de desenvolvimento econômico das colônias espanholas. Segundo esta cartilha, a Espanha havia cometido o erro de conservar o espírito de conquista e não aderir às utilidades do comércio no trato com os indígenas. Sob esse novo sistema os benefícios econômico e comercial aumentariam as divisas tal qual os Bourbons almejavam sem os custos de um controle político e econômico sobre os indígenas numa época que o erário régio não era capaz de sustentar novas guerras de conquista. Como exemplo desta nova prerrogativa, José de Gálvez iniciou uma nova política indígena nas províncias interiores da Nova Espanha em 1776, instruindo seus funcionários a realizar apenas ações defensivas para evitar confrontos e para que os indígenas dependessem dos espanhóis para obter seus bens de luxo e armamento. Política esta precedida e mantida por seu sobrinho Bernardo de Gálvez em 1786 quando foi designado Vice-rei da Nova Espanha. Mesmo que esta política dependesse da iniciativa de funcionários individuais para serem implementadas e não tenha sido amplamente aceita pelos funcionários espanhóis, esta prerrogativa permaneceu nas provinciais interiores. Nas próprias palavras de Weber: “[...] Conciliação e negociação, previamente subordinados mediante o uso da força, se converteram no marco da política bourbônica para a América e seu conjunto aos fins da década de 1780 e na pedra angular de uma nova política espanhola para os indígenas”1 Cabe destacar que, embora a questão de caráter comercial e de defesa das fronteiras sejam centrais, elas por si só não explicam a política dos Bourbon para os índios bravios, somava-se a isso uma maior atenção a temática dos direitos humanos que surgia na Europa e dirigia queixas a opressão cometida pelos espanhóis durante e depois da conquista, o que traria a esta nova política indigenista um caráter não puramente estratégico e econômico, mas também humanitário. Este caráter humanista se caracterizou de várias formas, uma das mencionadas por Weber e que merece destaque foi a mudança de discurso em relação aos indígenas, o exemplo mencionado é o caso dos apaches, na qual os funcionários ilustrados buscaram explicar sua conduta como resposta de forçar externas e não mais como características inatas. Como destacado: 1 WEBER, David. Borbones y bárbaros: centro y periferia em la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuário IEHS, Tandil, n.13, p. 156, 1998. “[...] Se os apaches mantinham ‘uma cruel e sangrenta guerra’ contra os espanhóis, a causa poderia encontrar-se nas ‘infrações [ataques], excessos e avareza dos próprios espanhóis” 2 Para além das divisas geradas pelo comércio com os indígenas, outras medidas foram tomadas como resultado da nova política indígena, como o reconhecimento a alguns grupos indígenas do direito de viver de maneira autônoma fora dos limites do império, um benefício que ao mesmo tempo estendia as fronteiras efetivas do império. Ao longo do século XVIII este processo se traduziu de maneira crescente sob a forma de tratados de comércio, amizade e aliança com índios não submetidos. Nestes acordos, os espanhóis se referiam aos indígenas como nações independentes politicamente. Estava referendado também o comprometimento com a paz, lutar por inimigos comuns e estabelecer relações comerciais. Como parte desses acordos, os indígenas aceitavam a proteção da Coroa sem, no entanto, converter-se em vassalos da Coroa ou perder sua autonomia e soberania. Segundo um jurista da época mencionado por Weber “[...] Simples alianças de proteção, tributo e vassalagem que um estado pode estabelecer com outro, não perturbam a continuidade de uma soberania completa.”3 Essas políticas, que não eram inteiramente novas, - tendo sido emplacadas anteriormente na América do Sul, no Chile e no Rio da Prata, com menos concessões aos indígenas por não ser uma área de muitas disputas o que diminuía a margem de negociação – não foram resultado de uma pressão central, mas segundo Weber o impulso para a mudança de estratégia na América do Norte despontou dos próprios indígenas que exigiram um tratamento que haviam recebido por parte dos franceses e ingleses, como também de funcionários espanhóis como Bernardo de Gálvez. Weber então conclui que “[...] Na América do Norte, as recomendações para mudar a estratégia parecia fluir mais das fronteiras para a metrópole.”4 Por fim, Weber defende que de diversas maneiras indivíduos, sejam indígenas ou espanhóis, motivados por interesses individuais independentemente das políticas e 2 WEBER, David. Borbones y bárbaros: centro y periferia em la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuário IEHS, Tandil, n.13, p. 157, 1998. 3 WEBER, David. Borbones y bárbaros: centro y periferia em la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuário IEHS, Tandil, n.13, p. 161, 1998. 4 WEBER, David. Borbones y bárbaros: centro y periferia em la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuário IEHS, Tandil, n.13, p. 164, 1998. filosofias dos funcionários bourbônicos, receberam as novas determinações originadas do centro do Estado absolutista espanhol e remodelaram-na segundos seus próprios interesses, respondendo com pragmatismo as circunstâncias locais.
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