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1 Licenciatura em Contabilidade e Auditoria Disciplina de Contabilidade Pública Apontamentos 1. Administração Pública e suas especificidades Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços e órgãos instituídos pelo Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade, como Educação, Saúde, Cultura, etc. Administração pública também representa o conjunto de acções que compõem a função administrativa. A administração pública tem como objectivo trabalhar a favor do interesse público, e dos direitos e interesses dos cidadãos que administra. Na maior parte das vezes, a administração pública está organizada de forma a reduzir processos burocráticos. Também é comum existir a descentralização administrativa, no caso da administração pública indirecta, que significa que alguns interessados podem participar de forma efectiva na gestão de serviços. Um indivíduo que trabalha na administração pública é conhecido como gestor público, e tem uma grande responsabilidade para com a sociedade e nação, devendo fazer a gestão e administração de matérias públicas, de forma transparente e ética, em concordância com as normas legais estipuladas. Quando um agente público incorre em uma prática ilegal contra os príncipios da Administração Pública, ele pode ser julgado por improbidade administrativa. A administração pública contempla três fases: a fase patrimonialista, burocrática e gerencial (fase mais recente que está sendo implementada). 2 1.1 Administração pública directa e indirecta A administração pública pode ser directa ou indirecta. A administração pública directa é desempenhada pelos Poderes Central, pelas Províncias, Distritos e Municípios. Estes órgãos não são dotados de personalidade jurídica própria. As despesas inerentes à administração são contempladas no orçamento público e ocorre a desconcentração administrativa, que consiste na delegação de tarefas. A administração pública indirecta é a transferência da adminsitração por parte do Estado a outras pessoas jurídicas, sendo que essas pessoas jurídicas podem ser fundações, empresas públicas, organismos privados, etc. Neste caso ocorre a descentralização administrativa, ou seja, a tarefa de administração é transferida para outra pessoa jurídica. 1.2 Princípios da Administração Pública São considerados os seguintes princípios da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência. a) Princípio da Legalidade: adota-se o critério de subordinação à lei. A legalidade significa que a Administração Pública não tem liberdade e nem vontade pessoal, só pode fazer o disposto em lei; b) Princípio da Impessoalidade: trata-se da ausência de subjectividade. A actividade administrativa deve ser dirigida com finalidade pública, aos cidadãos em geral, sem favoritismos, discriminações benéficas e detrimentosas. A norma administrativa deve ser interpretada e aplicada de forma que melhor garanta a realização do fim público a que se dirige; c) Princípio da Moralidade: impõe a Administração não apenas uma actuação legal, mas também moral, pautada na ética, honestidade, lealdade, boa fé. No entanto, a moralidade a ser obedecida é a administrativa e não a moralidade comum que trata da distinção entre o bem e o mal; d) Princípio da Publicidade: visa garantir o controle através da sociedade da gestão administrativa a fim de conferir à mesma validade e eficácia. Em alguns casos, quando o interesse público ou a segurança o justificarem, poderá a publicidade ser vetada, concluindo-se a relactividade do princípio da publicidade; e) Princípio da Eficiência: é dirigido a toda Administração Pública, possuindo duas interpretações: a primeira está intrinsecamente ligada ao modo de actuação do agente público e a segunda, está relacionada directamente com a maneira estrutural, 3 organizacional e disciplinar da Administração Pública, também com a finalidade de alcançar os melhores resultados na gestão pública, para que o bem comum seja alcançado da forma mais adequada. 1.2.1 Princípio da Legalidade No desempenho das suas actividades, os órgãos da Administração Pública obedecem ao Princípio da Legalidade administrativa. A obediência ao princípio da legalidade administrativa implica, necessariamente, a conformidade da acção adminsitrativa com a Lei e com o Direito. O Princípio da legalidade aparece simultaneamente como um limite e como uma garantia, pois ao mesmo tempo em que é um limite a actuação do Poder Público, visto que este só poderá actuar com base na lei, também é uma garantia aos administrados, visto que só deveremos cumprir as exigências do Estado se estiverem previstas na lei. Se as exigências não estiverem de acordo com a lei serão inválidas e, portanto, estarão sujeitas a um controle do Poder Judiciário. Segundo o princípio da legalidade, o administrador não pode fazer o que bem entender na busca do interesse público, ou seja, tem que agir segundo a lei, só podendo fazer aquilo que a lei expressamente autoriza e no silêncio da lei está proibido de agir. Já o administrado pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe e o que silencia a respeito. Portanto, tem uma maior liberdade do que o administrador. O princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda a sua actividade, presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do acto e responsabilidade de seu autor. Qualquer acção estatal sem o correspondente calço legal, ou que exceda ao âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe-se a anulação. Seu campo de acção, como se vê, é bem menor que o do particular. Na Administração Pública, não há espaço para liberdades e vontades particulares, deve, o agente público, sempre agir com a finalidade de atingir o bem comum, os interesses públicos, e sempre segundo àquilo que a lei lhe impõe, só podendo agir secundum legem. Enquanto no campo das relações entre particulares é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe (princípio da autonomia da vontade), na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei define até onde o administrador público poderá actuar de forma lícita, sem cometer ilegalidades, define como ele deve agir. Por estar sujeita à lei, a actuação dos órgãos administrativos é também sujeita à fiscalização dos órgãos de justiça, o que significa que as actuações torpes desses órgãos implicam sanções aplicadas em processos próprios, por tribunais especialmente criados para o julgamento dessas matérias, nomeadamente, o Tribunal Administrativo. 4 A sujeição dos órgãos da Administração Pública ao princípio da legalidade é uma conquista da democracia que se vem consolidando no decorrer dos últimos séculos. Trata-se de uma conquista que deve ser sempre preservada porque sendo a Administração Pública a entidade que detém o poder, com o privilégio de execução forçada de suas decisões, seriam calamitosas as consequências de sua actividade num quadro de total desregulação e absoluta arbitrariedade. Com o princípio da legalidade, a actuação da Administração pode ser devidamente controlada pelos particulares, evitando que a mesma extravase os limites permitidos pela boa convivência democrática e assegurando que todo e qualquer desvio seja devidamente sancionado. 1.2.2 Princípio da Impessoalidade O objetivo do Princípio da Impessoalidade no ordenamento jurídico é buscar e trazer para toda a sociedade plena segurança jurídica em relação a administração pública, procurando sempre colocar em primeiro lugar o interesse público da população, tendo diversas garantias garantindo a igualdade e deixando impedido qualquer tipo de imparcialidade. O princípio da impessoalidade busca portanto, coibir qualquer tipo de actuação arbitrária do administradorassim como o dos seus agentes, deixando sempre em primeiro lugar o atendimento ao interesse público. Existem vários fundamentos em relação ao principio da impessoalidade, nesses fundamentos encontram-se diversos princípios, tais como: o Estado de Direito, o princípio democrático, o princípio republicano e os direitos fundamentais, onde se destaca o direito à igualdade de tratamento por parte do Estado. De tal forma o Estado de Direito fundamenta o princípio da impessoalidade ressaltando que o Direito é a vontade de autonomia e o Estado é a pessoa, sendo concretizado pela própria norma, na impessoalidade sempre deve haver os interesses colectivos e individuais e estabelecer uma actividade estatal sendo pautada pela lei. No principio democrático faz com que a população tenha soberania, direito de escolher seus representantes na votação havendo um poder funcional no povo, ocorrendo critérios individuais para que cada cidadão mostre o seu interesse e que todos tenham a sua soberania, e, por fim, o principio da igualdade que não exige a consideração da pessoa, mas exige o que está descrito ou positivado na lei. 5 1.2.3 Princípio da Moralidade Se nós levarmos em consideração que o Estado é um organismo criado e mantido pela sociedade, então é natural que suas leis, aperfeiçoadas e actualizadas ao longo do tempo, tenham uma conotação estritamente relacionada com a ética, como o demonstra o Princípio da Moralidade na Administração Pública. A moral administrativa constitui um conjunto de normas que definem comportamentos, os quais devem ser acatados pelos agentes públicos no estabelecimento de rigoroso padrão de conduta que requer postura exemplar e comportamento compatível com a dignidade da pessoa humana, probidade administrativa, confiança, honestidade, lealdade, boa-fé, além de um determinado ideal de Justiça. O princípio da moralidade, inicialmente esteve preso ao da Legalidade, dele derivando em razão de se compreender que a moralidade somente poderia ser verificável quando da análise da finalidade do acto administrativo. A imoralidade tinha sua origem diante da existência do desvio de finalidade verificado em concreto. A imoralidade seria um elemento interno da Legalidade, nada tendo a ver com a ética mais ampla que fundamenta a responsabilidade da acção política. Dentro desta perspectiva alguns autores dizem que o princípio da moralidade só faz sentido diante do princípio da legalidade – consiste num princípio intrinsecamente vinculado à legalidade. Tal entendimento deriva, sobretudo, da concepção que compreende a moralidade como elemento integrante da Legalidade administrativa, porquanto relacionada à finalidade do acto administrativo. Mas esta posição é combatida por diversos autores que defendem o princípio da autonomia da moralidade em relação à Legalidade dada sua natureza principiológica. Há que se reconhecer a autonomia jurídica do princípio da moralidade, sob pena de banir-se a eficácia de um princípio constitucional expresso. 1.2.4 Princípio da Publicidade O Princípio da Publicidade é um dos princípios da Administração Pública e tem como finalidade mostrar que o Poder Público deve agir com a maior transparência possível, para que a população tenha o conhecimento de todas as suas actuações e decisões. Como regra geral, os actos praticados pelos agentes administrativos não devem ser sigilosos. Portanto, salvo as ressalvas legalmente estabelecidas e as decorrentes de razões de ordem lógica, o processo administrativo deve ser público, acessível ao público em geral, não apenas às partes envolvidas. 6 A Administração tem o dever de manter plena transparência de todos os seus comportamentos, inclusive de oferecer informações que estejam armazenadas em seus bancos de dados, quando sejam solicitadas, em razão dos interesses que ela representa quando actua. Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse colectivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Para que os actos sejam conhecidos externamente, ou seja, na sociedade, é necessário que eles sejam publicados e divulgados, e assim possam iniciar a ter seus efeitos, auferindo eficácia ao termo exposto. Além disso, relaciona-se com o Direito da Informação, que está no rol de Direitos e Garantias Fundamentais. 1.2.5 Princípio da Eficiência Eficiência é a capacidade de aptidão para obter um determinado efeito, força ou eficácia. O termo eficiência significa acção, força ou virtude de produzir um efeito, eficácia. O princípio em questão é dirigido a toda Administração Pública, possuindo duas interpretações: a primeira está intrinsecamente ligada ao modo de actuação do agente público e a segunda, está relacionada directamente com a maneira estrutural, organizacional e disciplinar da Administração Pública, também com a finalidade de alcançar os melhores resultados na gestão pública, para que o bem comum seja alcançado da forma mais adequada. A eficiência é representada na expressão: o dever da boa administração, que pressupõe a realização das atribuições com máxima presteza (rapidez e prontidão), com qualidade perfeita e de forma proficiente. A eficiência deve ser compreendida tanto qualitativa como quantitativamente. O princípio da eficiência detém uma relação de intrinsecabilidade com o Direito do Consumidor, na medida em que a sociedade, através da prestação de serviços públicos, se caracteriza como usuária e consumidora destes, fazendo com que a eficiência seja um elemento indispensável no fornecimento dos bens e serviços pela Administração Pública. Destaque-se, também, que a busca pela eficiência na execução dos serviços públicos através de meios eficazes e capazes para a consecução do interesse social resulta na integridade do princípio constitucional da dignidade humana. 7 O princípio da eficiência possui o condão de gerar mudanças no comportamento funcional da Administração, pois dispõe que a Administração central, Provincial, Distrital e Municípal disciplinarão a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade. A eficiência diz respeito tanto à optimização dos meios quanto a qualidade do agir final. O administrador público está compelido a agir tendo como parâmetro o melhor resultado estando atrelado ao princípio da proporcionalidade, o qual estará sujeito à aferição do controle jurisdicional. Existem duas dimensões que se conferem ao princípio da eficiência, sendo elas a exigência da economicidade e avaliação de resultado as quais devem conviver com o controle de legalidade. 2. Finanças Públicas e Privadas 2.1 Conceito, caracterização e Diferenciação O Conceito de Finanças públicas confunde-se muitas vezes com o de Finanças Privadas. Trata-se de uma mera similitude vocabular, que não corresponde a qualquer realidade do mesmo tipo ainda que existam razões históricas que possam justificar a utilização paralela do mesmo termo para designar duas realidades distintas. Entende-se por Finanças Privadas os aspectos tipicamente monetários de financiamento de uma economia abrangendo-se aqui os problemas de moeda e créditos ou mais restritamente os mercados financeiros onde se transaccionam activos representados por titulos a médio e longo prazo. Enquanto que Finanças Públicas entende a actividade económica de um ente Público tendente a afectar bens à satisfação de necessidades que lhe estão confiadas.2.1.1 Principais acepções da expressão “Finanças Públicas” A expresção Finanças Públicas pode ser utilizada em três sentidos fundamentais: 8 1. Sentido Orgânico: Fala-se de Finanças Públicas para abranger a zona da Administração ( o conjunto dos órgãos do Estado ou de outro ente Público) a quem compete gerir os meios económicos destinados à satisfação das necessidades públicas (Ministério de Plano e Finanças). 2. Sentido Objectivo: Designa a actividade através da qual o Estado ou outro ente Público afecta bens à satisfação de necessidades colectivas. 3. Sentido Subjectivo: Visa referir a disciplina cientifica que estuda as leis que regem a actividade do Estado no sentido da satisfação das necessidades que lhes estão conferidas. 2.1.2 Finanças Públicas, Clássicas e Modernas Os sistemas financeiros dependem do regime económico. No capitalismo encontramos dois regimes: a) Liberalismo ( Finanças Clássicas) - reduzido peso do poder público na actividade económica - Liberdade dos múltiplos sujeitos individuais b) Intervencionalismo ( Finanças Modernas ) - Maior coordenação e intervenção do poder politico na economia, respeitando, no entanto, a iniciativa/ propriedade privada. Características fundamentais do modelo capitalista liberal ( Finanças Clássicas) a) A privatização da economia A economia era totalmente privada, competindo ao Estado criar condições para manter a sociedade organizada e estável e a propriedade privada por si, se defendia. Eram funções do Estado, a defesa, seguranca, administração geral e manutenção da ordem, quando muito, a prestação de outros serviços que não interessassem ao capital privado. b) O principio do mínimo da actividade económica pública Tanto em quantidade como em qualidade, a actividade financeira estatal deve-se reduzir ao mínimo imprescindível de modo a absorver o mínimo de rendimento nacional e restringindo-se as actividades básicas de autoridade e administração. 9 c) Neutralidade financeira Há uma neutralidade entre a actividade financeira e a económica. A actividade financeira é organizada de forma a não perturbar nem destroçar a actividade económica privada e nem deve propôr finalidades de alteração ou comando de actividade económica privada. d) Importância dos impostos e os sistemas fiscais A receita típica do liberalismo é o imposto. O período das Finanças clássicas é o período das Finanças tributárias. O imposto garantia um peso devido a redução do património estatal, aumento da importância da riqueza imobiliária do conjunto do rendimento nacional e ainda generalização da ideia de que o imposto é dever de cidadania. Os sistemas fiscais típicos do liberalismo assentam na ideia de justiça meramente formal. e) Equilibrio Orçamental Era o princípio orientador da actividade liberal. Para os clássicos, este equilíbrio orçamental significava que as despesas totais devem ser cobertas pelas receitas normais (impostos e receitas patrimoniais ) e o recurso ao empréstimo seria excepção em caso de guerra. Resumindo: As Finanças clássicas correspondem a fase de puro liberalismo económico e reflectem todas as suas preocupações, designadamente a restrição do papel do Estado e o elogio da actuação da iniciativa privada como instrumento fundamental da actividade económica. As duas caracteristicas fundamentais de liberalismo económico são: - Reduzida dimensão do sector público: - Abstenção económica estadual. Transição para as Finanças Modernas A transição das finanças clássicas para as finanças modernas resulta de vários acontecimentos próprios da evolução das economias liberais. Isto veio justificar um maior peso do Estado na direcção da vida económica. Podem ser apontados como motivos de viragem os movimentos doutrinais, as guerras que obrigam o maior esforço militar e os consequentes gastos financeiros por parte do Estado, a depressão económica (crise de 1929) que resultou em enorme desemprego e mesmo a 2˚ guerra Mundial. 10 A partir daqui o Estado passa a ter um maior peso e as formas de intervenção são quantitativas e qualitativamente diversas. Surge o intervencionalismo e o dirigismo, reforçando assim o papel crescente do próprio Estado. Entre as suas finalidades, pode-se apontar a necessidade de fazer face à prioridades de carácter social (caracteristicas das funções dos modernos Estados de Bem-Estar), à estabilização da conjuntura e crescimento económico e às correcções estruturais. Finanças Públicas Modernas As finanças modernas são fruto dos regimes económicos intervencionais e dirigistas. Esta é a razão de ordem. A dimensão crescente dos actos públicos é uma das caracteristicas das finanças modernas a qual passa a resolver parcelas que se situam entre 30% a 50% do rendimento nacional. Alarga-se o patrimonio estatal, multiplicam-se as empresas públicas e o peso do imposto cresce. As finanças tornam-se activas, pois passam a ter uma atitude e uma prática interveniente. Com o crescimento do papel do Estado na actividade económica , a actividade privada fica restringida e condicionada. Ao contrário do sistema liberal, há uma integração entre a economia e finanças estando sujeitas à intreracção das mesmas forças e princípios. As finanças públicas abandonam o ideal de neutralidade e passam a ser utilizadas como instrumento das politicas económicas e sociais – ou seja, surgem as políticas financeiras. E também alguns aspectos jurídicos próprios do liberalismo como é o caso das garantias individuais que sofrem alterações. O imposto ganha maior importância e surgem as receitas, provenientes do património mobiliário estadual. Portanto, nas finanças modernas o imposto tem tanta importância como nas clássicas; mas ele passa a ser utilizado como instrumento de politica económica ou de politica social servindo, por exemplo, para redistribuir a riqueza. 3. Contabilidade Pública Assim como qualquer ente, os órgãos públicos são capazes de adquirir direitos e de assumir obrigações e ainda compram, vendem, produzem, constroem, etc. Eles realizam, por meio da execução de suas tarefas, que são os programas de trabalho, as mais 11 variadas operações contábeis típicas, envolvendo as áreas financeira, Orçamental e patrimonial, principalmente. Algumas dessas operações costumamos encontrar em nosso dia a dia: recebimento de recursos financeiros próprios e de terceiros, pagamento de pessoal e fornecedores, compra de materiais de consumo e bens permanentes, etc. Além de todas essas actividades, os órgãos e entidades públicas praticam actos administrativos que têm a capacidade de provocar, no futuro, alterações em elementos que compõem o seu patrimônio, ou seja, seus bens, direitos e obrigações, como é o caso de contratos de serviços, convênios, concessão de avais e outros actos. Dentre os actos administrativos os principais são aqueles provenientes da Lei Orçamental, em função desta ser a responsável por quase todas as alterações patrimoniais. Os recursos financeiros que têm ingresso na Lei Orçamental são, na verdade, da colectividade, ou seja, da população, por isso necessitam de autorização expressa de seus proprietários (o povo) para que possam ser aplicados, utilizados. Essa autorização é dada quando da aprovação da lei Orçamental, realizada pelos representantes do povo (deputados) na casa legislativa (Assembléia da República). Com a Lei Orçamental, a população delega autoridade aos governantes para arrecadarem receitas e realizarem despesas em seu nome. Os gastos autorizados por essa Lei é que irão gerar o bem-estar social. São poucos os casos em que o patrimônio público é gerado por factos cuja origem é independente do orçamento, como o recebimento de bens em doação, por exemplo. A Contabilidade Pública, utilizando os princípios,os critérios, os métodos e as técnicas da Ciência Contábil, é responsável pela tarefa de acompanhamento da evolução do patrimônio público. Além disso, tendo em vista a importância que o orçamento tem na vida de um órgão público, a Contabilidade também acompanha a sua execução, traduzida na arrecadação da receita e na realização da despesa. Por conta desse elemento – orçamento – é que a Contabilidade Pública tem peculiaridades especiais não encontradas em qualquer outro ramo da Ciência Contábil. O conhecimento das peculiaridades da Contabilidade Pública é ponto chave no entendimento dos procedimentos para registo, avaliação, demonstração e análise do patrimônio público. 12 A Contabilidade Pública deverá adotar os princípios de contabilidade (entidade, continuidade, competência, oportunidade, etc.); as técnicas de registo dos factos patrimoniais por meio de partidas dobradas; os critérios de levantamento de inventário; os métodos de elaboração de balanços e outras demonstraçõs financeiras. Muito do entendimento da escrituração dependerá do conhecimento do conteúdo do próprio orçamento e da execução dele. A Contabilidade Pública é o ramo da Ciência Contábil que aplica na Administração Pública as técnicas de registo dos actos e factos administrativos, apurando resultados e elaborando relatórios periódicos, levando em conta as normas de Direito Financeiro, os princípios gerais de finanças públicas e os princípios de contabilidade. A Contabilidade Pública estuda, regista, controla e demonstra o orçamento aprovado e acompanha a sua execução; os actos administrativos da fazenda pública; o património público e suas variações. A Contabilidade Pública regista a previsão da receita e a fixação da despesa estabelecidas no orçamento público aprovado para o exercício, escritura a execução Orçamental, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e das despesas, revela as variações patrimoniais, demonstra o valor do patrimônio e controla as operações de crédito, a dívida activa, os créditos e as obrigações. O objecto da Ciência Contábil, em seu sentido amplo, é o patrimônio constituído por bens, direitos e obrigações vinculados a uma entidade (pessoa física ou jurídica). Dentro dessa óptica, podemos definir o objecto da contabilidade praticada por entidades privadas, como sendo o patrimônio privado, de propriedade de cada empresa. Já na contabilidade pública, o patrimônio público é um dos seus objectos, além dele, também podemos citar o orçamento público (do Estado). A preocupação da Lei Orçamental reside no montante de recursos financeiros que poderão ingressar nos órgãos, sendo representado pelo título de “receita”, identificando (prevendo) cada uma de suas origens, bem como no montante de recursos que deverão ser 13 despendidos pelos órgãos, representado pelo título de “despesas”, na realização de seus programas de trabalho (tarefas), identificando (fixando) o montante de cada uma dessas aplicações. Quase tudo na área pública tem origem no orçamento. Dada a importância que o orçamento tem, a contabilidade pública concentra muito de sua atenção no registo do orçamento aprovado e, principalmente, no acompanhamento da execução Orçamental, o que nos permite afirmar que o orçamento é também um objecto da contabilidade pública. A contabilidade tem também como um dos seus objectos os actos administrativos, tais como: contratos, convênios, avais, fianças, cauções em títulos etc. Devemos observar que não são quaisquer actos administrativos que serão controlados pela contabilidade, mas apenas aqueles que têm a característica de poder vir a alterar os elementos patrimoniais, em nível de bens, direitos e obrigações, no futuro. Costuma-se dizer que os actos administrativos contabilizados estão, na realidade, representando: BENS, DIREITOS E OBRIGAÇÕES POTENCIAIS 3.1 As Despesas públicas As despesas públicas representam o próprio fim da actividade financeira do Estado para a satisfação de necessidades. As despesas públicas consistem no gasto, ou no dispêndio de bens por parte de entes públicos para criarem ou adquirir bens susceptíveis de satisfazer necessidades públicas. Como veremos mais adiante, despesa pública pode defenir-se por três elementos : - O tipo de operação em que se concretiza, o sujeito económico que realiza e o fim a que se destina. Quanto ao tipo de operação, a sua forma tipica será o do dispêndio de meio de liquidez. Quanto ao sujeito, de harmonia com a noção adoptada de actividade financeira, ele terá de ser um sujeito público (Estado ou outro ente público) e quanto ao fim, ele é a satisfação das necessidades públicas cuja caracterização já está feita. 14 3.2 As Receitas Públicas A realização de despesas pressupõe que o Estado tem recursos que as financiam, ou seja, que tem receitas. As receitas públicas são muito variadas e a sua natureza e importância está ligada com os sistemas económico-sociais. Geralmente são reportados três tipos fundamentais de receitas: receitas patrimoniais, receitas tributárias e receitas creditícias. Genericamente, as receitas públicas podem ser definidas como sendo qualquer recurso obtido durante um período financeiro dado e mediante a qual o sujeito público pode satisfazer as despesas públicas que estão a seu cargo. Vimos até aqui que o Estado deve e arrecada receitas para cobrir as despesas públicas. Através da sua máquina administrativa o Estado criou e desenvolveu processos uniformes de escrituração que garantem a gestão dos fundos arrecadados e gastos durante os periodos económicos. Daqui podemos dizer que a contabilidade pública é a tecnica de escrituração de receitas públicas e despesas públicas em livros apropriados. 4. O Orçamento 4.1 Definição O Orçamento é o documento no qual estão previstas as receitas públicas a arrecadar e fixadas as despesas públicas a efectuar num determinado período (geralmente o ano económico). Trata-se de uma previsão, já que se refere a um período futuro (o próximo ano económico) e não ao momento presente. E o futuro, como todos sabemos, é incerto. Pode-se também olhar para o orçamento como o quadro geral básico de toda a actividade financeira do Estado, uma vez que é através dele que se procura precisar a utilização que é dada aos dinheiros públicos. 15 4.2 Dimensões e Funções do orçamento São três as dimensões do orçamento: • Económica: o orçamento é uma previsão da gestão orçamental do Estado (plano financeiro). Fixa as despesas a realizar e antecipa as receitas a arrecadar pelo Estado num determinado período de tempo. • Política: o orçamento, uma vez aprovado, é a autorização política do plano financeiro do Estado. Autoriza o Governo a realizar certas despesas e a cobrar determinadas receitas. • Jurídica: o orçamento é o instrumento através do qual se limitam os poderes da administração do Estado no plano financeiro. Por outras palavras, os órgãos da administração terão de seguir as linhas traçadas pelo orçamento na execução da gestão financeira do Estado. Não poderão gastar mais do que aquilo que vem especificado no orçamento nem cobrar receitas que não estão inscritas neste documento. Sendo assim, o orçamento cumpre funções de natureza económica, política e jurídica. Tais funções assumem importância extrema para o funcionamento de qualquer economia e sistema político. Daí a razão da existência do orçamento e a importância que ele assume. No plano económico: • Facilita a gestão dos dinheiros públicos, torna a gestão desses dinheiros mais racional e eficiente. Por outras palavras, evita o improviso, que é sempre uma causa de desperdício. • Constituí um elemento fundamental na definição e execução da política económicado Governo e permite aos agentes económicos e à sociedade em geral conhecer as principais linhas desta política. No plano político: • Garante que a tributação do rendimento dos cidadãos para cobrir os gastos públicos sejá feita mediante decisão dos seus representantes na Assembleia da República, isto é, mediante a aprovação dos Deputados. 16 • Assegura o equilibrio e a separação dos poderes: o Parlamento autoriza a arrecadação de receitas e a utilização das mesmas; o Executivo (Governo) executa o orçamento; e o Parlamento e/ou outro órgão jurisdicional fiscaliza a conta do Estado. No plano jurídico: • A autorização política que é concedida ao Estado para realizar despesas e cobrar receitas limita os poderes financeiros da Administração Pública. De acordo com a lei, aquela não poderá efectuar gastos nem arrecadar receitas que não estão previstas no Orçamento. 4.3 Princípios e regras orçamentais Na preparação do orçamento deverão ser observados vários princípios e regras orçamentais. Estes têm como objectivo tornar o orçamento claro, simples e verdadeiro de forma a garantir que as funções económicas, políticas e jurídicas da instituição orçamental não sofram desvios. São, no fundo, regras de bom senso, boa administração, rigor técnico e eficácia. Os pricípios e regras estabelecidas para o Orçamento são os seguintes: • Anualidade: o orçamento tem uma duração anual. Refere-se ao ano económico, o qual coincide com o ano civil. Ou seja, o orçamento em Moçambique é um documento no qual se prevêm as receitas e se fixam as despesas do Estado para o período compreendido entre 01 de Janeiro e 31 de Dezembro. A regra da anualidade implica a votação anual do orçamento pela Assembleia da República e uma execução também anual do orçamento pelo Governo e pela Administração Pública. Do ponto de vista político, a anualidade assegura que o controlo exercido pelo Parlamento sobre a gestão dos dinheiros públicos é feito com uma certa regularidade. Este controlo é efectuado tanto na fase de previsão das despesas e receitas, como na fase de execução dessas mesmas despesas e receitas e na fase de prestação de contas (uma vez determinado o ano económico). Do ponto de vista económico o ano apresenta-se com um bom período para a realização de cálculos económicos no domínio da gestão corrente dos fundos públicos. 17 • Unidade e Universalidade: todas as receitas e todas as despesas devem ser inscritas num único documento - o orçamento. Ou seja, um só orçamento e tudo no orçamento. Constituem excepção as receitas e despesas das instituições autónomas, empresas públicas e autarquias, que se regem por legislação própria. No entanto, os elementos necessários à apreciação da situação financeira destes três tipos de organismos devem constar em anexo do orçamento. As regras de unidade e universalidade visam evitar que escape à autorização política (na fase de previsão) e ao controlo político e administrativo ( na fase de execução) uma quantidade significativa de receitas e despesas. Ambas dão racionalidade e transparência a obtenção e afectação de recursos, facilitando assim o controlo político, a formulação de opções globais de natureza financeira e a execução precisa, rigorosa e eficiente do orçamento. • Não consignação: no orçamento não pode afectar-se o produto de quaisquer receitas à cobertura de despesas pré-determinadas. Todas as receitas devem servir para cobrir todas as despesas. Quer isto dizer que não se pode consignar certas receitas a certas despesas. Caso contrário, não se estaria a fixar o montante das despesas, que é um dos objectivos do orçamento. Imaginemos que o Estado estabelece que a receita X irá ser utilizada para cobrir a despesa Y. Se a receita X for inferior ao previsto, a despesa Y acabará por ser menor do que o montante que havia sido orçamentado (e aprovado pela Assembleia da República) devido a falta de fundos. Constituem excepção a esta regra os casos em que em virtude de autonomia financeira ou de outra razão especial, a lei determine expressamente a afectação de receitas a determinadas despesas. A título de exemplo, constituem casos de excepção o fundo de Manutenção de Estradas e Pontes, que dispõe de uma parte substancial das receitas sobre combustíveis e os hospitais, que financiam parte das suas despesas com receitas provenientes de consultas. Nos casos em que a lei determina por uma razão especial a consignação de receitas, pretende-se colocar certas despesas em situação de favor ( existe a garantia de que as receitas consignadas serão suficientes para cobrir as despesas que se destinam a financiar), assegurar que certas despesas só sejam realizadas na totalidade se forem cobradas receitas que as cubram, ou promover a eficiência e flexibilidade na gestão de determinados organismos e empresas públicas. 18 • Especificação: o Orçamento do Estado especificará pormenorizadamente as receitas mínimas previstas e os limites máximos das despesas, segundo classificações (classificadores) que fixam o grau de discriminação de forma a permitir a sua uniformização. Inscreve-se, contudo, no orçamento do Estado uma dotação provisional destinada a fazer face a despesas consideradas importantes e inadiáveis, mas que não haviam sido previstas na preparação do orçamento. Através da especificação das despesas e receitas alcança-se uma maior clareza, veracidade e racionalidade económica. • Orçamento bruto: todas as receitas e despesas são inscritas no orçamento pela importância ou valor integral em que foram avaliadas. Por outras palavras, as receitas e as despesas devem ser inscritas no orçamento de forma bruta e não líquida. No caso das receitas, não se deduzem, por exemplo, os encargos de cobrança. No caso das despesas, não se deduzem as receitas por elas geradas. À semelhança do que sucede com a regra da especificação, o orçamento bruto permite uma maior clareza, veracidade e racionalidade económica. Se as receitas e as despesas fossem inscritas pelo seu valor líquido não se saberia exactamente qual o seu montante exacto. • Publicidade: o orçamento será públicado no Boletim da República, sendo matéria de publicação a Lei orçamental, a tabela de receita e a tabela de despesa. Serão objecto de separata orçamental estes três documentos e outras informações económicas e financeiras julgadas pertinentes. Um orçamento não públicado não é orçamento. É através da públicação do orçamento que se concretiza a autorização política das receitas e despesas e se dá conhecimento formal à Administração Pública do conteúdo desta autorização. Também só com a públicação do orçamento os cidadãos terão um conhecimento do mesmo, estando assim em condições de controlar e criticar a sua natureza e execução. • Equilibrio: o Orçamento do Estado preverá os recursos necessários para cobrir todas as despesas. Todas as despesas têm que estar, de facto, cobertas por receitas. Em última instância, as despesas serão cobertas parcialmente através de donativos e empréstimos contraídos no país ou no exterior. 19 O respeito pelos princípios e regras acima indicados requer a sistematização das receitas e das despesas. Para o efeito o Governo aprovou os Classificadores Orçamentais, cuja aplicação é obrigatória. 4.4 Organização e elaboração do orçamento Uma vez analisadas as regras a respeitar na preparação do orçamento em Moçambique, passemos à organização e elaboração do orçamento. O Governo deverá apresentar à Assembleia da República o Orçamento do Estado. Cabe ao Governo, apoiado pelo conjunto dos Órgãos da Administração Pública, elaborar a proposta do orçamento. Aqueles apresentam os seus projectos de orçamento (e as estimativas referentes às receitas, no caso dos serviços que têm por tarefa cobrar receitas), seguindoas instruções do Governo. Os diferentes projectos de orçamento e os cálculos de receitas são depois unificados e coordenados pelo Ministério da Economia e Finanças. Na elaboração da proposta do orçamento, o Governo deverá dar prioridade ao cumprimento do seu programa e ter em conta a necessária relação entre as previsões orçamentais e a evolução provável da conjuntura política, económica e social. Significa isto que o montante e o tipo de receitas e despesas a inscrever no orçamento deverão estar de acordo com a política do Governo e o momento económico, político e social que se vive no país. O orçamento constituí um instrumento privilegiado de política económica do Governo, tendo não só repercussões económicas mas também políticas e sociais, as quais não podem nem ser ignoradas. A proposta do Orçamento do Estado deve conter o projecto de lei orçamental, os mapas orçamentais e os anexos informativos. A proposta de Lei do Orçamento terá de ser votada pela Assembleia da República até 31 de Dezembro de cada ano. Uma vez aprovado o orçamento, os Deputados e as Comissões da Assembleia da República não podem tomar iniciativas de lei que envolvam o aumento das despesas autorizadas ou a diminuição das receitas previstas. Estas, a terem lugar, apenas serão aplicadas em orçamentos futuros. Seria o caso, por exemplo, da construção de um novo hospital ou a concessão de incentivos fiscais ao investimento estrangeiro, que apenas poderiam ter lugar em anos económicos futuros. Fica assim garantida a estabilidade da execução e do equilíbrio orçamental ao longo do ano. Se houver necessidade de reformulação do orçamento, por este ter sido “chumbado” na Assembleia da República, o Governo deve apresentar a esta Assembleia, no prazo de 90 dias, uma nova proposta de orçamento para o respectivo ano económico. A fim de 20 assegurar e dar continuidade ao funcionamento da máquina administrativa, o orçamento executado no ano antecedente continuará em vigor até que um novo orçamento seja aprovado. Implica isto que durante este período temporário serão cobradas todas as receitas e realizadas as despesas correspondentes ao orçamento do ano anterior. O novo orçamento que entretanto vier a ser aprovado deve integrar as receitas e despesas efectuadas até à sua entrada em vigor. 4.5 Execução do orçamento A execução orçamental consiste no conjunto de actos e operações praticados com vista à cobrança de receitas e realização de despesas. Ou seja, uma vez aprovado o orçamento, começam a cobrar-se receitas e a pagar-se as despesas. Compete ao Governo executar e fazer executar o orçamento, sendo para tal apoiado pela Administração. A execução orçamental deverá obedecer a dois princípios: o da utilização mais racional possível das dotações orçamentais aprovadas e o da melhor gestão de tesouraria. Na execução do orçamento, o Governo deverá respeitar as leis em geral e o próprio orçamento. • Não poderá liquidar e cobrar, nem inscrever no orçamento, uma receita que não esteja autorizada por lei. A cobrança de um imposto pode, todavia, ser efectuada para além do montante inscrito no orçamento, já que, ao contrário das despesas, para as quais são fixados limites máximos, as receitas são uma previsão. Podem variar de acordo com a conjuntura económica e outros factores que estão fora do controlo do Governo. • Não poderá também realizar despesas que, apesar de terem base legal, não se encontrem inscritas no orçamento, não tenham cabimento na correspondente verba orçamental, ou excedam os montantes máximos de despesa fixados pelo orçamento. As despesas deverão ainda obedecer à regra dos duodécimos, segundo a qual em cada mês do ano não poderá ser utilizada uma verba superior a 1/12 da verba global fixada no orçamento, acrescida dos duodécimos anteriores vencidos e não gastos. De acordo com esta regra, as despesas distribuir-se-ão uniformemente ao longo do ano ou concentrar-se- ão na parte final do ano, quando a tesouraria já dispõe de maiores recursos. Pretende-se assim impedir que as despesas se concentrem nos primeiros meses do ano, quando a tesouraria ainda não dispõe de recursos suficientes, por ainda não ter sido cobrada a maior 21 parte das receitas. Existem, todavia, excepções autorizadas por lei. Estas excepções existem devido à necessidade de realizar o grosso de certas despesas durante um determinado período do ano. É o caso, por exemplo, da reparação de estradas. Esta deverá ser feita essencialmente durante a estação seca, pelo que a verba destinada para este efeito será em grande medida utilizada durante o período de Abril à Outubro. As despesas só podem ser assumidas durante o ano económico para o qual estiverem orçamentadas e devem respeitar os princípios de economia, eficiência à maximização dos resultados e a eficácia à obtenção dos resultados pretendidos. 4.6 Alterações orçamentais Sendo uma previsão, o orçamento pode não cobrir situações imprevistas que venham a correr durante o ano. Para fazer face a este tipo de situações, torna-se necessário proceder à introdução de alterações no orçamento. As alterações dos limites globais fixados no orçamento são efectuadas por lei sob proposta, devidamente fundamentada, do Governo. Compete à Assembleia da República aprovar essas alterações. O Governo pode, porém, efectuar inscrições de verbas no Orçamento do Estado, se bem fundamentadas. Utilizará, para efeito, a dotação provisional inscrita no orçamento para fazer face a situações imprevisíveis e inadiáveis. As alterações orçamentais que não afectam os limites estabelecidos no orçamento não carecem de aprovação de Assembleia da República. 4.7 Fiscalização e responsabilidades orçamentais O controlo orçamental visa assegurar que a sua execução não sofre desvios, cumprindo- se assim os objectivos e a estratégia definida no orçamento. Pretende-se, em primeiro lugar, garantir que o Executivo se mantem dentro dos limites impostos pela lei, os quais foram determinados pela Assembleia da República aquando da aprovação da Lei do orçamento. Procura-se também através do controlo orçamental evitar o desperdício e a má utilização dos dinheiros públicos. A fiscalização orçamental tem em vista normalmente a fiscalização das despesas. As receitas são em geral mais variáveis e por isso a sua fiscalização é menos rigorosa. 22 Cabe à Assembleia da República pronunciar-se e decidir sobre o relatório de execução do Orçamento do Estado. Tratando-se de um órgão político (a Assembleia da República), estamos na presença de uma fiscalização política. Por sua vez, compete ao Tribunal Administrativo fiscalizar a legalidade das despesas públicas e apreciar as contas do Estado. Neste caso temos uma fiscalização jurisdicional, já que o Tribunal Administrativo é um órgão jurídico. A fiscalização administrativa da execução orçamental é da responsabilidade não só da própria entidade responsável pela gestão e execução do orçamento, mas também das entidades hierarquicamente superiores e de tutela, dos serviços de contabilidade pública e dos órgãos gerais de inspecção. Os titulares de cargos políticos, funcionários e agentes do Estado e demais entidades públicas respondem civil, criminal e disciplinarmente pelos actos ou omissões que pratiquem no âmbito do exercicio das suas funções de execução orçamental. 4.8 A conta Geral do Estado 4.8.1 Definição e objectivos A Conta Geral do Estado é um documento no qual estão apresentadas as receitas arrecadadas e as despesas efectuadas num determinado ano económico, assim como os devedores e os credores existentes no fim do ano. Representa a síntese de toda a execução do orçamento durante o ano económico. Ou seja, enquanto que o orçamento constitui uma previsão das receitas e despesas para um determinado ano, a conta regista as receitase despesas que foram efectivamente cobradas e efectuadas durante esse ano. Constitui, por isso, um meio de controlar a execução orçamental e de responsabilizar os agentes dessa mesma execução. 4.8.2 Âmbito e estrutura O conjunto das contas de gerência de todas as unidades orçamentais resultam na Conta Geral do Estado. A Conta Geral do Estado é o mecanismo de prestação de contas do poder executivo ao poder legislativo e judiciário, relatando a implementação do orçamento do Estado em relação à Lei do Orçamento aprovada. Compreende o relatório do Governo sobre os resultados da execução orçamental; o mapa das entradas e saídas de fundos dos cofres do Estado; os mapas das receitas e despesas do Estado segundo as classificações económica, orgânica, funcional e territorial; o mapa do movimento das operações de 23 tesouraria; e o mapa dos activos e passivos financeiros existentes no inicio e no final do ano económico. Em anexo, o Governo deverá apresentar o financiamento global do Orçamento Geral do Estado, com discriminação das principais fontes de financiamento, e o resumo das receitas, despesas e saldos por cada instituição autónoma, empresa pública e autarquia. 4.8.3 Prazos Os prazos referentes à apresentação e aprovação da Conta Geral do Estado são os seguintes: • A conta deverá ser apresentada à Assembleia da República e ao Tribunal Administrativo até Dezembro do ano seguinte àquele a que diz respeito. A Conta de 2017, por exemplo, terá que ser entregue até Dezembro de 2018. • O relatório e parecer do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do Estado, por sua vez, deverá ser enviado à Assembleia da República até Agosto do ano seguinte àquele em que a mesma for apresentada. No nosso exemplo, até Agosto de 2018. • Por último, a apreciação e aprovação da Conta Geral do Estado pela Assembleia da República deverá ser feita após recepção do parecer do Tribunal Administrativo e estar concluída antes de finais de Dezembro do ano seguinte àquele em que a Conta Geral do Estado foi elaborada. Ou seja, Dezembro de 2018. Disciplina de Contabilidade Pública 1. Administração Pública e suas especificidades 1.1 Administração pública directa e indirecta 1.2 Princípios da Administração Pública 1.2.1 Princípio da Legalidade 1.2.2 Princípio da Impessoalidade 1.2.3 Princípio da Moralidade 1.2.4 Princípio da Publicidade 1.2.5 Princípio da Eficiência 2. Finanças Públicas e Privadas 2.1 Conceito, caracterização e Diferenciação 2.1.1 Principais acepções da expressão “Finanças Públicas” 2.1.2 Finanças Públicas, Clássicas e Modernas Transição para as Finanças Modernas 3. Contabilidade Pública 3.1 As Despesas públicas 3.2 As Receitas Públicas 4. O Orçamento 4.1 Definição 4.2 Dimensões e Funções do orçamento 4.3 Princípios e regras orçamentais 4.4 Organização e elaboração do orçamento 4.5 Execução do orçamento 4.6 Alterações orçamentais 4.7 Fiscalização e responsabilidades orçamentais 4.8 A conta Geral do Estado 4.8.1 Definição e objectivos 4.8.2 Âmbito e estrutura 4.8.3 Prazos
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