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Análise do Discurso

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Análise do Discurso
Profa. Maria Perpétua Teles Monteiro
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife
 Monteiro, Maria Perpétua Teles
 Letras: Análise do Discurso/ Maria Perpétua Teles Monteiro. - 
Recife: UPE/NEAD, 2012.
 
64 p.
 Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à Distância II. Título 
 
 
Reitor
 
Vice-Reitor
 
Pró-Reitor Administrativo
 
Pró-Reitor de Planejamento
 
Pró-Reitor de Graduação
 
Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa 
 
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
Prof. Béda Barkokébas Jr.
Profa. Izabel Christina de Avelar Silva
Profa. Viviane Colares S. de Andrade Amorim 
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo - UPE
NEAD - NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA
Coordenador Geral
 
Coordenador Adjunto
 
Assessora da Coordenação Geral
 
Coordenação de Curso
 
Coordenação Pedagógica
 
Coordenação de Revisão Gramatical
 
Gerente de Projetos
Administração do Ambiente
 
Coordenação de Design e Produção
 
Equipe de design 
 
Coordenação de suporte
EDIÇÃo 2012
Prof. Renato Medeiros de Moraes
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
Profa. Waldete Arantes
Profa. Silvania Núbia Chagas
Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti
Profa. Eveline Mendes Costa Lopes
Profa. Geruza Viana da Silva.
Prof. Valdemar Vieira de Melo
Igor Souza Lopes de Almeida
Prof. Marcos Leite
 
Anita Sousa
Gabriela Castro
Rafael Efrem 
Renata Moraes
Rodrigo Sotero
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão
Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
5
Análise do 
discurso
Profa. maria Perpétua Teles monteiro
Carga Horária | 60 horas 
ementA
Estudos da linguagem. Relações entre língua, enunciado e discurso. Fundamen-
tos das teorias do texto e do discurso. A produção discursiva. Aspectos semân-
ticos e semióticos da análise do discurso. Dimensões ideológicas do processo 
discursivo. Heterogeneidade discursiva e discurso polifônico. Elementos da ar-
gumentatividade e pragmática. A interdiscursividade em textos verbais e não ver-
bais. Análise do discurso: ensino e mudança social.
objetivo GerAl
Apresentar as bases teórico-filosóficas que sustentam os fundamentos, sentidos, 
processos e procedimentos da análise do discurso.
ApresentAção
Prezado aluno
No percurso desta disciplina, pretendemos promover uma reflexão acerca do 
campo da Línguística e da Comunicação, especializado em analisar construções 
ideológicas em um texto, a que chamamos de Análise do Discurso. Inicialmente 
apresentaremos questões referentes à linguagem e ao discurso de forma a apontar 
conceito e objeto da Análise do Discurso e suas filiações teóricas. A seguir, apre-
sentaremos questões relacionadas a Texto e discurso, Prática discursiva, Análise 
do Discurso: ensino e mudança social. Esperamos contribuir, mesmo que de 
forma introdutória, para o seu processo de aquisição de conhecimento e compre-
ensão da Análise do Discurso, suas formas de produção de sentido e de desen-
volvimento humano.
7Capítulo 1 77Capítulo 1
objetivos específicos
•	 Apontar	objeto	e	conceitos	identificando	aspectos	teóricos,	históricos	e	inte-
lectuais da Análise do Discurso.
 
•	 Questões	Introdutórias	à	Análise	do	Discurso.
 
•	 É	a	relação	linguagem/pensamento/mundo	unívoca.
Análise do 
discurso
Profa. maria Perpétua Teles monteiro
Carga Horária | 15 horas 
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introdução
Existem várias formas de abordar a linguagem humana. Apesar das diferenças 
entre elas, há um consenso sobre a linguagem ser produto da atividade histórica 
dos homens, cuja função seria a de preencher uma das condições que a sobrevi-
vência e a organização dos indivíduos em grupo impõem: a comunicação. Desse 
modo, é possível encontrar linguistas que estudam a língua como possibilidade 
de representação de uma realidade, ou os que a entendem como geradora de 
ações significativas dos indivíduos. Há ainda os que se ocupam em estudar os 
significados, descrevendo as regras de uso da língua e há aqueles que se propõem 
a analisar a produção de sentidos, incluindo dimensões mais amplas, como a da 
historicidade da linguagem. Pensando nas muitas maneiras de significar, os estu-
diosos começaram a se interessar pela linguagem de uma maneira bem particular: 
a Análise do Discurso (AD). Nesta, procura-se compreender a língua fazendo 
sentido, como trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do 
homem e da história.
8 Capítulo 1
1. Análise do discurso: 
 filiAções teóricAs
para a noção de sujeito. Este, por sua vez, se consti-
tui na relação com o simbólico na história.
Assim, para a Análise do Dis-
curso, resume Orlandi (2010):
a. A língua tem sua ordem 
própria, mas só relativamente 
autônoma (distinguindo-se da 
Linguística, ela reintroduz a 
noção de sujeito e de situação 
da análise da linguagem);
b. A história tem seu real 
afetado pelo simbólico (os fa-
tos reclamam sentidos);
c. O sujeito de linguagem 
é descentrado, pois é afetado 
pelo real da língua e também 
pelo real da história, não ten-
do o controle como elas o 
afetam. Tal fato redunda em 
dizer que o sujeito discursivo funciona pelo 
inconsciente e pela ideologia.
A Análise do Discurso, trabalhando na conflu-
ência dos três campos de conhecimento citados, 
irrompe em suas fronteiras e produz um novo re-
corte de disciplinas, constituindo um novo objeto 
que vai afetar essa forma de conhecimento em seu 
conjunto: este novo objeto é o discurso. Nele te-
mos o social e o histórico indisssociados. 
2. Análise do discurso: 
 linhA frAncesA
De seu marco inicial (1969) até hoje, a Análise de 
Discurso francesa, de Michel Pêcheux e seus segui-
dores,	completou	35	anos.	É	pouco	para	a	consoli-
dação de qualquer área de conhecimento e pouco 
também para a ‘disciplina de entremeio’. Com o 
desaparecimento de seu principal pensador, em 
1983, houve um natural esvaziamento do grupo de 
pesquisa, liderado por ele, a tal ponto que, hoje, 
na França, não se ouve mais falar em Pêcheux. Seu 
nome, suas obras, sua inquietante reflexão foram 
deixados de lado até por aqueles que se dizem ‘ana-
listas de discurso’ na França. A morte do pai foi 
consumada. Apesar disso, ainda hoje se ouve falar 
muito o nome de Pêcheux. Onde? Aqui entre nós, 
na América Latina, mas, sobretudo no Brasil.
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Babel - Pieter Brueghel, o Velho (1563)
A Análise do Discurso, nos anos 60, se constitui 
no espaço de questões criadas pela relação entre 
três domínios disciplinares que são, ao mesmo 
tempo, uma ruptura com o século XIX: a Linguísti-
ca, o Marxismo, a Psicanálise.
A Linguística se constitui pela afirmação da não 
transparência da linguagem: ela tem seu objeto pró-
prio, a língua, e esta tem sua ordem própria. Essa 
afirmação, segundo Orlandi (2010), é fundamental 
para a Análise do Discurso que procura mostrar 
que	a	relação	linguagem/pensamento/mundo	não	
é unívoca, não é uma relação direta que se faz ter-
mo a termo, ou seja, não é passada diretamente de 
um a outro, pois cada um tem sua especificidade. 
Por outro lado, a Análise do Discurso pressupõe 
o legado do materialismo histórico, isto é, há um 
real da história de tal forma que o homem faz his-
tória, mas esta também não lhe é transparente. 
Daí, conjugando a língua com a história na pro-
dução de sentidos, esses estudos do discurso tra-
balham o que se vai chamar forma material (não 
abstrata), que é aforma encarnada na história para 
produzir sentidos; essa forma é, portanto, linguísti-
co-histórica. Reunindo estrutura e acontecimento, 
a forma material é vista como acontecimento do 
significante (língua) em um sujeito afetado pela 
história. Entra aí, então, a contribuição da Psica-
nálise, com o deslocamento da noção de homem 
9Capítulo 1
Para aqueles que já tiveram a oportunidade de per-
correr os intrincados caminhos da análise do dis-
curso, está bem presente a marca que essa experiên-
cia deixa no modo pensar as questões relacionadas 
à	linguagem,	ao	mundo,	ao	sujeito.	É	difícil	ficar	
imune a esse caminhar. 
Aqui no Brasil, o grande tributo que se deve pres-
tar, pela consolidação e pela difusão da área é a 
Eni Orlandi, que, em seu trabalho como profes-
sora, orientadora, pesquisadora e autora fez da 
Análise do Discurso um lugar de referência con-
sagrado no quadro acadêmico institucional. (FER-
REIRA, Maria Cristina Leandro – Disponível em: 
http://w3.ufsm.br/revistaletras/artigos_r27/re-
vista27_3.pdf).
As razões que fizeram surgir a Análise de Discurso 
na França, no final da década de 60, são diferentes 
das razões que a fizeram proliferar entre nós, no 
final da década de 70. Na França, o quadro da con-
juntura política da época contrapunha a Análise 
do Discurso à tendência dominante nas ciências 
sociais – o conteudismo, a análise de conteúdo – 
como também à entrada com força da corrente for-
malista-logicista, graças ao prestígio, entre outros, 
de linguistas como Chomsky. No Brasil, desde o 
início, o embate se deu com a Linguística, e a Aná-
lise do Discurso acusada de não dar importância à 
língua, fixando-se exclusivamente no político. Por 
essa trilha, surgem os epítetos de ‘análise do dis-
curso radical ou ortodoxa’ atribuídos à Análise do 
Discurso, concebida por Michel Pêcheux.
Têm-se, pois, uma teoria e método de investiga-
ção de que, o texto – unidade empírica – busca o 
acesso ao discurso, aceitando o desconforto de não 
considerar a linguagem como evidência, tampou-
co como o já estabelecido. Prefere refletir nos en-
tremeios, em interstícios disciplinares, nos desvãos 
existentes nas disciplinas que acabam por deixar 
à espreita suas articulações contraditórias. A AD 
trabalha na (des)construção do seu objeto, isto é, 
o discurso, interpretando-o incessantemente, em 
busca da compreensão do seu funcionamento. 
Nesse entremeio, formado pelo materialismo his-
tórico, pela linguística e pela psicanálise, o discur-
so instaura uma leitura que permite novos gestos 
de interpretação, liberando os seus sentidos por 
meio da sua materialidade, compreendida como o 
encontro do histórico com o linguístico. 
Aprofunda o caráter de interpretação da história, 
deslocando a ideia de que a história “aparenta” 
o movimento da interpretação do homem diante 
dos “fatos” para um campo teórico em que a noção 
de discurso pressupõe as condições de sua produ-
ção. Não vê a história como exterioridade do texto, 
mas reconhece a historicidade no texto.
3- A linGuAGem em Questão
 
Se, originalmente, a função da linguagem era ape-
nas dar nomes às coisas do universo dos homens 
a fim de garantir melhores condições de sobrevi-
vência, quando as relações sociais se estruturaram 
de forma para além dos agrupamentos primitivos, 
outros objetivos cada vez mais complexos se consti-
tuíram e ultrapassaram a nomeação e a informação 
pura e simples. 
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3.1 línGuA e discurso
Algumas abordagens concentram sua atenção sobre a língua como sistema de signos ou como sistema de re-
gras formais, temos então a Linguística; ou como norma de bem dizer, por exemplo, a gramática normativa.
10 Capítulo 1
Segundo Voese (2004), é até com certa tranquili-
dade e frequência que se afirma e ainda se aceita, 
em especial na escola, que a língua é um instru-
mento de comunicação, no sentido de que serve 
para transmitir informações. Ou seja, entende-se 
que seja função predominante da língua a de re-
presentar algo. 
Quando	se	defende	a	concepção	de	que	a	função	
da língua é exclusivamente representativa, adota-se 
a noção de código. Se a língua, porém, fosse ape-
nas um código, os enunciados deveriam remeter 
sempre a um mesmo significado, embora se alte-
rando, por exemplo, os contextos em que fossem 
produzidos.
Voese (2004) lembra que, na década de 70, Ducrot 
abordava com muita propriedade essa questão, 
quando afirmava:
Dizer que as línguas naturais são códigos destinados à 
transformação da informação de um indivíduo a outro, é 
ao mesmo tempo, admitir que todos os conteúdos expres-
sos graças a elas são exprimidos de maneira explícita. Com 
efeito, por definição, uma informação codificada é, para 
aquele que sabe decifrar o código, uma informação que 
se dá como tal, que se confessa, que se expõe. O que é 
dito no código é totalmente dito, ou não de forma alguma. 
(DUCROT 1977 apud VOESE, 2004:30)
A afirmativa nos deixa pistas de que a comunicação 
requer, a cada nova palavra explicativa, a necessária 
polissemia das palavras. Por necessária polissemia 
talvez possa ser compreendida a concepção de que 
os recursos linguísticos podem estar se referindo a 
diferentes coisas, ou que a nomeação de coisas é 
sempre arbitrária e seu sentido depende, em parte, 
de como os grupos sociais pensam e agem. Além 
disso, uma mesma coisa pode ser nomeada por 
diferentes expressões. Esse fato nos dá a primeira 
noção das dificuldades para se manter a noção de 
código, além de apontar para a complexidade da 
linguagem humana.
A Análise do Discurso ou de Discurso, como seu 
próprio nome indica, não trata da língua, não trata 
da gramática, embora todas essas coisas lhe inte-
ressem. Ela trata do discurso. A palavra discurso, 
etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de 
percurso, de correr por, de movimento. O discurso 
é, assim, a palavra em movimento, prática de lin-
guagem. Com o estudo do discurso, observa-se o 
ser humano falando.
Por esse tipo de estudo, pode-se conhecer melhor 
aquilo que faz do homem um ser especial, com sua 
capacidade significar e significar-se. A Análise do 
Discurso concebe a linguagem como mediação ne-
cessária entre o homem e a realidade natural e so-
cial. Essa mediação, que é o discurso, torna possível 
tanto a permanência e a continuidade quanto o des-
locamento e a transformação do homem e da reali-
dade em que vive. O trabalho simbólico do discur-
so está na base da produção da existência humana.
Para Orlandi (2010), a primeira coisa a se observar 
é que a Análise do Discurso não trabalha com a 
língua como um sistema abstrato, mas com a lín-
gua no mundo, com maneiras de significar, com 
seres humanos falando, considerando a produção 
de sentidos como parte de suas vidas, seja como 
sujeitos, seja como membros de uma determinada 
forma de sociedade.
Levando em consideração o homem em sua histó-
ria, a Análise do Discurso considera o processo e 
as condições de produção da linguagem mediante 
a análise da relação estabelecida pela língua com os 
sujeitos que falam e as situações em que se produz 
o dizer. Desse modo, para encontrar a regularida-
de da linguagem em sua produção, o analista do 
discurso relaciona a linguagem à sua exterioridade.
Tendo em vista essa finalidade, ele articula de modo 
particular conhecimentos do Campo das Ciências 
Sociais e do domínio da Linguística, fundada em 
uma reflexão sobre a história da epistemologia e 
da filosofia do conhecimento empírico, objetivan-
do a transformação da prática das ciências sociais e 
também a do estudo da linguagem. Essa proposta 
em que o político e o simbólico se confrontam, 
coloca questões para a Linguística, interpelando-
-a pela historicidade, do mesmo modo que coloca 
questões para as Ciências Sociais, interrogando a 
transparência da linguagem sobre a qual elas se 
assentam. Dessa forma, os estudos discursivos vi-
sam pensar o sentido dimensionado no tempo e 
no espaço daspráticas do homem, descentrando 
a noção de sujeito e relativando a autonomia do 
objeto da Linguística. 
Em consequência, não se trabalha com a língua fe-
chada nela mesma, mas com o discurso, que é o ob-
jeto sócio-histórico em que o linguístico intervém. 
Nem se trabalha, por outro lado, com a história e 
a sociedade como se elas fossem independentes do 
fato de que elas significam.
11Capítulo 1
Nessa confluência, a Análise do Discurso critica 
a prática das Ciências Sociais e a da Linguística, 
refletindo sobre a maneira como a linguagem está 
materializada na ideologia e como a ideologia se 
manifesta na língua. Partindo da ideia de que a 
materialidade específica da ideologia é o discurso 
e a materialidade do discurso é a língua, trabalha 
a relação língua-discurso-ideologia. Essa relação se 
complementa com o fato de que “não há discurso 
sem sujeitos e não há sujeito sem ideologia: o in-
divíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é 
assim que a língua faz sentido” (PECHEUX, 1975 
apud ORLANDI, 2010).
Consequentemente o discurso é o lugar em que se 
pode observar essa relação entre língua e ideologia, 
compreendendo-se como a língua produz sentido 
por e para os sujeitos.
3.2 discurso
A noção de discurso, em sua definição, distancia-
-se do esquema elementar de comunicação que dis-
põe seus elementos, definindo o que é mensagem 
(emissor, receptor, código, referente e mensagem). 
Para a Análise do Discurso, não se trata apenas de 
transmissão de informação, nem há essa linearida-
de na disposição dos elementos da comunicação, 
como se a mensagem resultasse de um processo 
assim seriado: alguém fala, refere alguma coisa, 
baseando-se em um código, e o receptor capta a 
mensagem decodificando-a. Na realidade, a língua 
não é só um código entre outros, não há essa sepa-
ração entre emissor e receptor, tampouco eles atu-
am numa sequência em que primeiro um fala e de-
pois o outro decodifica, etc. Eles estão realizando, 
ao mesmo tempo, o processo de significação e não 
estão separados de forma estanque. Além do mais, 
em vez de mensagem, o que se propõe é justamente 
pensar aí o discurso. 
Desse modo, vemos que não se trata apenas, como 
pontua Orlandi (ibid. p.21) de transmissão de in-
formação, pois, no funcionamento da linguagem, 
que põe em relação sujeitos e sentidos afetados 
pela língua e pela história, temos um complexo 
processo de constituição desses sujeitos e produ-
ção de sentidos e não meramente transmissão de 
informação. São processos de identificação do su-
jeito, de argumentação, de subjetivação, de cons-
trução da realidade, etc. Por outro lado, tampouco 
se assenta esse esquema na ideia de comunicação. 
A linguagem serve para comunicar e para não co-
municar. As relações de linguagem são relações de 
sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e 
variados. Daí a definição de discurso: o discurso é 
feito de sentidos entre locutores. 
Portanto, o sujeito e a situação que tinham sido 
postos para fora da análise linguística contam fun-
damentalmente para a análise do discurso. Este su-
jeito e esta situação, porém, contam na medida em 
que são redefinidos discursivamente como parte 
das condições de produção do discurso. Daí que 
na análise do discurso não se pode deixar de re-
lacionar o discurso com suas condições de produ-
ção, sua exterioridade.
Essas condições de produção incluem, pois, os su-
jeitos e a situação. Esta, por sua vez, pode ser pensa-
da em seu sentido estrito quando ela compreende 
as circunstâncias da enunciação, o aqui e o agora 
do dizer, o contexto imediato; e no sentido lato 
quando a situação compreende o contexto sócio-
-histórico, ideológico, mais amplo. Entenda-se que 
essa separação entre contexto imediato e contexto 
em sentido amplo é utilizada para fins explicativos, 
isto é, na prática, não se pode dissociar um do ou-
tro, ou seja, em toda situação de linguagem, esse 
contextos funcionam conjuntamente.
Não se deve também confundir discurso com 
“fala”	na	continuidade	da	dicotomia	(língua/fala)	
proposta por Ferdinand de Saussure. O discurso 
não corresponde à noção de fala, pois não se tra-
ta de opô-lo à língua como um sistema, em que 
tudo se mantém, com sua natureza social e suas 
constantes, sendo o discurso como fala apenas em 
sua ocorrência casual, individual, realização do 
sistema, fato histórico, assistemático, com suas va-
ráveis, etc. O discurso tem sua regularidade, tem 
seu funcionamento em que é possível apreender se 
não fazemos oposição entre o social e o histórico, 
o sistema e a realização, o subjetivo e o objetivo, o 
processo e o produto.
A Análise do Discurso faz outro recorte teórico re-
lacionando língua e discurso. Em seu quadro teóri-
co, nem o discurso é visto como uma liberdade em 
ato, totalmente sem condicionantes linguísticos 
ou determinações históricas, nem a língua como 
totalmente fechada em si mesma, sem falhas ou 
equívocos. A língua é condição de possibilidade 
do discurso. No entanto, as fronteiras entre língua 
e discurso são postas em causa sistematicamente 
em cada prática discursiva, pois as sistematicidades 
12 Capítulo 1
em cada prática discursiva não existem sob a forma 
de um bloco homogêneo de regras, organizado à 
maneira de uma máquina lógica. A relação é de 
recobrimento, não havendo, portanto uma separa-
ção estável entre eles.
3.3 o Ato de fAlA
O estudo dos atos de fala revela que utilizar a lín-
gua envolve muito mais que transmitir informa-
ções, especialmente quando se descobre que se 
pode nela atuar. E o mal-entendido, o constrangi-
mento, o mal-estar e o sofrimento que produzem 
certos enunciados não podem, pois, ser explicados, 
apenas, de um ponto de vista linguístico ou comu-
nicacional porque, em geral, eles são resultados da 
inobservância de regras sociais que orientam tanto 
as escolhas linguísticas como o modo de usá-las.
No ato de fala, ou seja, no uso da língua em inte-
ração, o enunciante faz e age, em geral, motivado 
por interações e interesses pessoais que nem sem-
pre são explícitos, mas subentendidos, cuja com-
preensão, porém, depende não só do que diz o 
enunciante, mas também das regras que orientam 
os atos de fala. Ao falar, deverá o indivíduo assu-
mir, além do sentido instituído nas palavras, deter-
minados comprometimentos cooperativos como o 
de ser sincero, quer seja em relação à informação 
quer seja em relação aos propósitos. Assim, além se 
ser uma produção de enunciados, qualquer ato de 
fala, também, é um ato interativo.
Não se pode, portanto, reduzir o uso da língua à 
função comunicativa: a interação verbal, embora 
se apoie na informatividade das expressões lin-
guísticas, inclui a observação de determinadas re-
gras e acordos sociais, o que deve ser considerado 
como um conjunto de elementos extralinguísticos 
que parece acoplar-se aos sentidos do enunciado 
e contribuir de modo decisivo com o processo de 
significação.
Observando, entretanto, um enunciado como “lu-
gar de homem não é na cozinha”, algumas questões 
sérias em relação à concepção dos atos de fala to-
mam vulto porque, nem sempre, o enunciante tem 
a preocupação de ser cooperativo e explícito nos 
seus objetivos, uma vez que pode implicitar por di-
ferentes razões: “Saia da cozinha”, ou “Você está 
desrespeitando um costume nosso” ou “A minha 
mulher não quer você na cozinha”, por exemplo. 
Isso poderia indicar que nem sempre um enuncia-
do tem um caráter informativo ou revelar as reais 
intenções do enunciante e com o que ele estaria 
disposto a se comprometer na interação, o que tal-
vez explique, pelo menos parcialmente, porque se 
diz, correntemente, que, ao agir, não basta ter boas 
intenções. Isto é, as relações sociais são bem mais 
complexas que as que poderiam estimular sinceri-
dade e transparência com as quais nem sempre os 
indivíduos podem se comprometer. Os seres hu-
manos, muitas vezes, também mentem, enganam, 
seduzem, coagem, ameaçam, ou seja, se escondem 
e se protegem usando a língua, o que poderia in-
dicar que aos propósitosdo enunciante se acres-
centam dimensões de uma esfera mais ampla, a do 
controle e a dos rituais culturais.
3.4 o evento culturAl
As pessoas se valem para interagir, não só da lín-
gua, mas também de regras de uso. Nem sempre 
falar garante o sucesso do ato interativo, mesmo 
respeitando os limites do jogo linguístico e as re-
gras conversacionais e interativas. A comunicação 
pode ficar prejudicada e a interação parece fugir do 
controle, motivo pelo qual a descrição do processo 
de produção de sentidos provavelmente requeira 
incluir, ainda, elementos de outra esfera social: a 
dos rituais institucionalizados, o que quer dizer in-
cluir as determinações culturais. 
Na verdade, quando os indivíduos interagem, 
também se submetem a regras que têm origem 
em esferas sociais mais distantes da situação 
imediata e, por isso, são diferentes das regras 
conversacionais: as ações interativas apoiadas na 
linguagem sempre recebem marcas que, inclusi-
ve, dizem respeito às atividades que desenvolvem 
os interlocutores.
A interação verbal pode estar revelando que na in-
formação contida pelo enunciado e o ato de fala 
que o enunciante realiza ao pronunciá-lo também 
se refere a um determinado papel que se pode exer-
cer em determinada cultura, isto é, outra comuni-
cação estaria se processando e o ato de fala deveria 
ser entendido como sempre, também um evento 
cultural. Veja-se o exemplo da frase dada “Lugar 
de homem é na cozinha.” Tem-se que esta refle-
te, também, valor e valoração de papéis e lugares 
sociais, o que, historicamente, se constituiu como 
uma hierarquização de forças da qual, em geral, as 
interações sociais não podem fugir.
13Capítulo 1
3.5 o luGAr sociAl dA enunciAção
Ao incluir, na produção dos enunciados, a di-
mensão histórica, amplia-se ainda mais a questão 
da complexidade do uso da língua, de modo que 
um enunciado como o que vem sendo trabalhado 
“Lugar de homem não é na cozinha”, cujos senti-
dos poderiam, no plano imediato da enunciação, 
ser considerados um tanto “inocentes” -, já que se 
referem a uma informação e realizam um ato de 
fala que é também um evento cultural -, assume 
também uma forma de valoração de um lugar so-
cial, ou seja, aquilo que o homem diz (ou não) e faz 
(ou não) em determinado lugar social vai ter mais 
ou menos prestígio e poder. Em outros termos, ao 
enunciar “Lugar de homem não é na cozinha”, o 
enunciante poderia estar manifestando um valor 
como	“Quem	é	que	manda	nessa	casa,	o	homem	
ou a mulher?”, o que revelaria que só a mulher 
deveria ocupar o lugar onde se cozinha – e só ela 
deveria, poderia (?) falar sobre os assuntos ligados a 
esse lugar da casa, cuja “força” de fala seria inferior 
a de outros lugares por onde, por oposição, deveria 
transitar preferencialmente o homem. 
Pode-se, por exemplo, entender hoje que alguém, 
alguma vez, tenha sido condenado à morte por 
dizer que a Terra é redonda? E mais, isso pertence 
ao passado? Não, existem ainda hoje coisas ditas e 
não ditas, especialmente em jornais e revistas, às 
quais só poucos têm acesso. 
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A distribuição de papéis, de acordo com os lugares 
sociais que os indivíduos ocupam, corresponde a 
uma hierarquização que concretiza uma diferencia-
ção quanto ao valor e à importância do que se diz 
em cada instância social, ou seja, há valores de pa-
péis que se agregam às falas, ungindo-as com maior 
ou menor força para produzir efeitos de poder. E se 
nos enunciados transitam também valores sociais 
dessa ordem, pode-se arguir que, se muitas vezes o 
que é dito pode levar a julgamento e punição, não 
é porque houve insucesso no processo de comuni-
cação. Ao contrário, é porque houve sucesso e se 
compreendeu muito bem o que foi dito para poder 
condenar o que, segundo valores sociais, não pode-
ria ter sido dito. Há outras dimensões das relações 
humanas com que a utilização da língua se acha en-
volvida e isso, em geral, não é dito explicitamente. 
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Outra questão que deve ser considerada importan-
te diz respeito ao uso da língua na mídia, também 
chamada de meios de comunicação social, preci-
samente, porque, se são esses os instrumentos dos 
quais a sociedade depende em termos de cir-
culação e transmissão de informações, seria 
capaz de se esperar que a primeira preocupa-
ção fosse, aí, com a precisão e a transparên-
cia possível, no sentido de comunicar o mais 
exato e imparcialmente temas e fatos de que 
depende o desenvolvimento social. Sabe-se, 
porém, que tanto a TV como o jornal e o rá-
dio, dentro da nossa sociedade, devem a sua 
existência não ao comprometimento com o 
que importa ao gênero humano, mas à prio-
rização dos efeitos de manipulação produ-
zidos por certas notícias com o público. Ou seja, 
são selecionadas e verbalizadas somente as infor-
mações que atendam às expectativas das empresas 
patrocinadoras dos programas cujos produtos são 
divulgados e prestigiados. Nenhuma empresa, por 
exemplo, divulga seus produtos em jornais cujos 
leitores são poucos ou pertençam à camada social 
de pequeno poder aquisitivo. Tal situação revela, 
geralmente, a instalação, nesse meio, de um tipo 
de cumplicidade acobertada pelo fato de que inte-
resses particulares se sobrepõem aos coletivos.
Já não é tão difícil escutarmos que alguns canais de 
comunicação desinformam mais que informam, 
que não comunicam de forma imparcial ou que 
atendem mais aos interesses de determinados seg-
mentos da sociedade. 
14 Capítulo 1
Nesse sentido, pode-se compreender que a língua 
não se reduz à (de)codificação de uma mensagem, 
nem apenas a interações e eventos culturais, mas 
que a produção de sentidos não sugere uma trans-
parência nem inocência, antes, o contrário. Os 
subentendidos e as implicitações comprometidas 
com determinados interesses são mais frequentes 
que se espera ou se pensa, e as interpretações que 
interessam ao exercício do poder, gerando confli-
tos, representam problemas maiores que o fato de 
fazer apenas uma leitura errada.
Ora, tal constatação implica dizer que a descrição 
da produção de sentidos precisa, também, respon-
der por que e como se dá o fato de uma dada infor-
mação, um determinado ato de fala ou evento cul-
tural e não outros surgirem no tempo e no espaço 
circunstancial, ou seja, interessa também saber por 
que, em dadas circunstâncias históricas e sociais, 
se faz uma distinção quanto à presença de homem 
e mulher, por exemplo, na cozinha e que efeitos 
de sentido em termos de poder isso provoca nas 
respectivas falas. 
3.6 o Acontecimento
Ponto em que um enunciado rompe com a es-
trutura vigente, instaurando um novo proces-
so discursivo. O acontecimento inaugura uma 
nova forma de dizer, estabelecendo um marco 
inicial de onde uma nova rede de dizeres possí-
veis irá emergir.
Para Voese (2004:41), descrever a produção de 
enunciados e sentidos requer observar não só a si-
tuação imediata da enunciação – o ato ou o evento 
restrito a si mesmo – mas também um contexto 
mais amplo e histórico. Nesse momento, o enun-
ciado assume o estatuto de acontecimento. Essa 
concepção implica entender qualquer enunciado, 
do nível da sentença ao nível do texto, como um 
discurso não só quanto à estrutura interna como 
também em relação às conexões o qual estabelece, 
com diferentes esferas do gênero humano, o que 
corresponde à sua discursividade. Implica dizer 
que um enunciado, como texto, tem uma estrutu-
ra interna própria e uma discursividade entendida 
como determinação exterior que fixa o horizonte 
de seu acontecimento e de suas leituras. Por ser 
mediação de fatos que acontecem na história, diz-
-se	que	o	discurso	é	também	um	acontecimento.	É	
também história.
E, por ser acontecimento, o discurso também deve 
ser abordado do ponto de vista do que significa 
como um repetido-errepetível para a continuidade 
do gênero humano. A compreensão do texto como 
discurso depende fundamentalmentede como se 
entende essa relação entre uma lógica do enuncia-
do e a da determinação exterior, tanto da esfera 
imediata como da mediata.
3.7 ideoloGiA
“...toda língua está necessariamente em relação
com o ‘não está’, o ‘não está mais’, ‘o ainda não está’ 
e o ‘nunca estará’ da percepção imediata: nela se 
inscreve assim a eficácia omni-histórica da ideolo-
gia como tendência incontornável a representar as 
origens e os fins últimos, o alhures, o além e o invi-
sível.” (PÊCHEUX,1990, p. 8)
IdeologIa e SujeIto
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Orlandi (2010) enfatiza que um dos pontos fortes 
da Análise de Discurso é ressignificar a noção de 
ideologia com base na consideração da linguagem, 
trata-se de uma definição discursiva de ideologia. 
O fato de que não há sentido sem interpretação, 
atesta a presença da ideologia, ou seja, não há 
sentido sem interpretação e, além disso, diante 
de qualquer objeto simbólico, o homem é levado 
a interpretar. O trabalho da ideologia é produzir 
evidências, colocando o homem na relação imagi-
nária com suas condições materiais de existência, a 
ideologia é condição para a constituição do sujeito 
e dos sentidos. O indivíduo é interpelado em sujei-
to pela ideologia para que se produza o dizer. 
A evidência dos sentidos que faz uma coisa apagar 
o seu caráter material, faz ver com transparência 
aquilo que se constitui pela remissão a um conjun-
to de formações discursivas que funcionam com 
uma dominante. A palavra recebe seus sentidos de 
15Capítulo 1
formação discursiva em suas relações. Este é o efei-
to da determinação do interdiscurso (da memória).
A evidência do sujeito apaga o fato de que o indi-
víduo é interpelado em sujeito pela ideologia. Esse 
é o paradoxo pelo qual o sujeito é chamado à exis-
tência: sua interpretação pela ideologia. São essas 
evidências que dão aos sujeitos a realidade como 
sistema de significação percebida, experimentada. 
Tais evidências funcionam pelo chamado esque-
cimento. Acontece de modo que a subordinação 
– assujeitamento - se realiza sob a forma da autono-
mia, como um interior sem exterior, esfumaçando-
-se a determinação do real do interdiscurso pelo 
modo como ele funciona. O trabalho ideológico é 
um trabalho de memória e do esquecimento, pois 
é só quando passa para o anonimato que o dizer 
produz seu efeito de literalidade. O dizer tem histó-
ria, os sentidos não se esgotam no imediato. Tanto 
é assim que fazem efeitos diferentes para diferentes 
interlocutores. 
4. o sujeito e suA formA históricA
A forma-sujeito histórica, que corresponde à socie-
dade atual, apresenta bem a contradição: é um su-
jeito ao mesmo tempo livre e submisso. Ele é capaz 
de uma liberdade sem limites e uma submissão sem 
falhas: pode tudo dizer, contanto que se submeta à 
língua para sabê-la. Essa é a base que chamamos as-
sujeitamento. Mediante a noção de determinação, 
o sujeito gramatical cria um ideal de completude, 
participando do imaginário de um sujeito mestre 
de suas palavras, ou seja, ele determina o que diz. 
Em determinados casos, o assujeitamento se faz do 
modo que o discurso apareça como instrumento 
(límpido) do pensamento e um reflexo justo da re-
alidade. O sentido literal, na concepção linguística 
imanente, é aquele que uma palavra tem indepen-
dentemente de seu uso, em qualquer contexto. Daí 
seu caráter básico, discreto, inerente, abstrato e ge-
ral. A literalidade é uma construção que o analista 
deve considerar em relação ao processo discursivo 
com suas condições.
4.1 o sujeito nA históriA e no simbólico
 
A prática da leitura discursiva procura compreen-
der como sujeito e discurso se constituem. Surgem, 
assim, o simbólico e o significante, inaugurando-se 
novas práticas de leitura. O sujeito, então, é posto 
na ordem dos efeitos do simbólico e da história 
e no equívoco em que se trabalha o inconsciente 
e a ideologia. Portanto, a própria língua funciona 
ideologicamente, tem sua materialidade e oferece 
lugar	à	interpretação	e	à	produção	de	sentidos.	É	
aí que entra o interdiscurso, já que há o “outro”, 
na identificação ou na transferência, abre, assim, a 
possibilidade de interpretar mediante a organiza-
ção da memória. 
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É	na	memória	 que	 se	 inscrevem	os	 sujeitos	 e	 os	
sentidos, mostrando-nos as coisas não como uma 
aprendizagem, mas como uma transferência, um 
deslizamento de sentidos metafóricos que são pro-
duzidos nos discursos. Assim, podemos dizer que 
não há sentidos literais armazenados. Os sentidos 
são simbólicos e se constituem em processos, nos 
quais estão presentes a ideologia e o inconsciente.
TEXTOS COMPLEMENTA
RES
Análise do discurso de 
linha francesa. 
Disponível em: http:/
/pt.scribd.com/
doc/36173843/ANALISE
-DO-DISCUR-
SO-DE-LINHA-FRANCES
A
O pensamento de FOUC
AULT – Dispo-
nível em: http://www.sc
ielo.br/pdf/es/
v25n87/21471.pdf
Análise do discurso: as 
marcas do su-
jeito. Disponível em: h
ttp://www.con-
teudo.org.br/index.php/
conteudo/arti-
cle/viewFile/13/12
Entre a estrutura e o
 acontecimen-
to: Uma releitura de P
êcheux e Fou-
cault em busca do sis
tema. Disponí-
vel em: http://www
.discurso.ufrgs.
br/impressao.php3?i
d_article=13
16 Capítulo 1
TEXTOS COMPLEMENTA
RES
Atos de fala. Disponíve
l em: http://
www.atosdefala.com/
Teoria dos atos de fala. 
Disponível em: 
http://www2.videoliv
raria.com.br/
pdfs/10585.pdf
Atos de fala e ações
 sociais. Dis-
ponível em: http:/
/www.ifcs.ufrj.
br/~mvelasco/Textos/AC
CIOSOC.pdf
Análise dos atos de fala 
nas tirinhas de 
Mafalda. Disponível em:
 http://www.fi-
lologia.org.br/xiicnlf/tex
tos_completos/
An%C3%A1lise%20do
s%20atos%20
de%20fala%20nas%20t
iras%20de%20
mafalda%20-%20M%C3
%94NICA.pdf
A Marcha da Produçã
o: discurso e 
acontecimento (Ana Cl
eide Chiarotti 
Cesário)
http://www.pr.anpuh.o
rg/resources/
anpuhpr/anais/ixencon
tro/comunica-
cao-coordenada/Marc
ha%20da%20
producao%20um%20me
smo%20obje-
to%20e%20varios%20ol
hares/AnaCC-
Cesario.htm
Contextos epistemológic
os da analise 
do discurso: http://ww
w.labeurb.uni-
camp.br/portal/pages/p
df/escritos/Es-
critos4.pdf
A teoria dos atos de fala
 como concep-
ção pragmática de ling
uagem (Danilo 
Marcondes de Souza Fil
ho). Disponível 
em: http://www.pesso
al.utfpr.edu.br/
paulo/atos%20de%20fal
a.pdf
VÍDEOS: 
Michel Foucalt por ele 
mesmo: http://
www.youtube.com/w
atch?v=Oy0_
KfZnlws
Debate: Chomsky-Fou
cault: http://
www.youtube.com/watc
h?v=W9S1CiG
PX2Q&feature=related
Ideologia Marcuse: http
://www.youtu-
be.com/watch?v=7mNN
npygMWU
A Ideologia Segundo Ma
rx: http://www.
youtube.com/watch?v=5
mBwkKNyo4M
SAIBA MAIS!
FOUCAULT
Paul-Michel Foucault na
sceu em Poitiers, 
na França, em 15 de out
ubro de 1926. Foi 
aluno de Jean Hyppolite
, importante filó-
sofo que trabalhava o 
hegelianismo na 
França. Estudou na Esco
la Normal Supe-
rior da França, a partir 
de 1946, na qual 
conhece e mantém con
tatos com Pierre 
Bourdieu, Jean-Paul Sa
rte, Paul Veyne, 
entre outros. Nessa me
sma Escola, Fou-
cault foi também aluno 
de Maurice Mer-
leau-Ponty. Passados do
is anos, Foucault 
graduava-se em Filosof
ia na Universida-
de de Sorbonne. Em 194
9, Foucault se di-
ploma em Psicologia e c
onclui seus Estu-
dos Superiores de Filoso
fia com uma tese 
sobre Hegel, sob a ori
entação de Jean 
Hyppolite.
Em 1950, o pensador 
aderiu ao Parti-
do Comunista Francês. 
No ano seguinte, 
Foucault torna-se profe
ssor de psicolo-
gia na Escola Normal Su
perior, onde tem 
como alunos Derrida e 
Paul Veyne. Nes-
se mesmo ano, ele trab
alha no Hospital 
Psiquiátrico de Saint-An
ne. Também na 
década de 1950, evidenc
ia-se a afinidade 
de Foucault pelas artes.
 Podemos obser-
vá-lo estudando o surrea
lismo, por exem-
plo, em 1952 e René Ch
ar em 1953. Mais 
ou menos nesse período
, Foucault segue 
o famosoSeminário de
 Jacques Lacan. 
Maurice Blanchot e Geor
ges Bataille apro-
ximam Foucault de Niet
zsche, ao mesmo 
tempo em que ele rec
ebe seu diploma 
em Psicologia Experime
ntal (fase em que 
Foucault se aplica a Jane
t, Piaget, Lacan e 
Freud). Começa, então,
 a fase mais pro-
dutiva, no sentido acadê
mico, na vida de 
Foucault a qual vai até 
o final da década 
de 1970.
Em 1971, Foucault assu
me a cadeira de 
Jean Hyppolite na discip
lina História dos 
Sistemas de Pensamento
. A sua aula inau-
gural nessa cadeira foi a
 famosa “Ordem 
do discurso”.
ACESSE: http://www.p
ropp.ufms.br/ps-
grd/grupo-mf/biografi.h
tml
CONHEÇA O GRUPO D
E ESTUDOS MI-
CHEL PÊCHEUX: http://w
ww.ufsm.br/cor-
pus/grupo_estudo/peche
ux1.html
17Capítulo 1
AtividAdes |
Utilize o conhecimento adquirido para articular os fundamentos da Análise do Discurso às ideias, 
possivelmente, expressas nos textos abaixo: 
1. MITO DA CAVERNA
http://www.labeurb.unicamp.br/portal/pages/pdf/escritos/Escritos4.pdf
2. TEORIA DO SUCESSO
3. ESTRAGOU A TELEVISÃO!!! 
Luís Fernando Veríssimo 
-- Iiiih... 
-- E agora? 
-- Vamos ter que conversar. 
-- Vamos ter que o quê? 
-- Conversar. É quando um fala com o outro. 
-- Fala o quê? 
-- Qualquer coisa. Bobagem. 
-- Perder tempo com bobagem? 
-- E a televisão, o que é? 
-- Sim, mas aí é a bobagem dos outros. A gente só assiste. Um falar com o outro, assim, ao vivo... Sei não... 
-- Vamos ter que improvisar nossa própria bobagem. 
-- Então começa você. 
-- Gostei do seu cabelo assim. 
-- Ele está assim há meses, Eduardo. Você é que não tinha... 
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18 Capítulo 1
-- Geraldo. 
-- Hein? 
-- Geraldo. Meu nome não é Eduardo, é Geraldo. 
-- Desde quando? 
-- Desde o batismo. 
-- Espera um pouquinho. O homem com quem eu 
casei se chamava Eduardo. 
-- Eu me chamo Geraldo, Maria Ester. 
-- Geraldo Maria Ester?! 
-- Não, só Geraldo. Maria Ester é o seu nome. 
-- Não é não. 
-- Como, não é não? 
-- Meu nome é Valdusa. 
-- Você enlouqueceu, Maria Ester? 
-- Pelo amor de Deus, Eduardo... 
-- Geraldo. 
-- Pelo amor de Deus, meu nome sempre foi Val-
dusa. Dusinha, você não se lembra? 
-- Eu nunca conheci nenhuma Valdusa. Como é 
que eu posso estar casado com uma mulher que 
eu nunca... Espera. Valdusa. Não era a mulher do, 
do... Um de bigode...
-- Eduardo. 
-- Eduardo! 
-- Exatamente. Eduardo. Você. 
-- Meu nome é Geraldo, Maria Ester. 
-- Valdusa. E, pensando bem, que fim levou o seu 
bigode? 
-- Eu nunca usei bigode! 
-- Você é que está querendo me enlouquecer, Edu-
ardo. 
-- Calma. Vamos com calma. 
-- Se isso for alguma brincadeira sua... 
-- Um de nós está maluco. Isso é certo. 
-- Vamos recapitular. Quando foi que casamos? 
-- Foi no dia, no dia... 
-- Arrá! Tá aí. Você sempre esqueceu o dia do nos-
so casamento... Prova de que você é o Eduardo e a 
maluca não sou eu. 
-- E o bigode? Como é que você explica o bigode? 
-- Fácil. Você raspou. 
-- Eu nunca tive bigode, Maria Ester! 
-- Valdusa! 
-- Tá bom. Calma. Vamos tentar ser racionais. Di-
gamos que o seu nome seja mesmo Valdusa. Você 
conhece alguma Maria Ester?
-- Deixa eu pensar. Maria Ester... Nós não tivemos 
uma vizinha chamada Maria Ester? 
-- A única vizinha de que eu me lembro é a tal de 
Valdusa. 
-- Maria Ester. Claro. Agora me lembrei. E o nome 
do marido dela era... Jesus! 
-- O marido se chamava Jesus? 
-- Não. O marido se chamava Geraldo. 
-- Geraldo... 
-- É. 
-- Era eu. Ainda sou eu. 
-- Parece... 
-- Como foi que isso aconteceu? 
-- As casas geminadas, lembra? 
-- A rotina de todos os dias... 
-- Marido chega em casa cansado, marido e mulher 
mal se olham... 
-- Um dia marido cansado erra de porta, mulher 
nem nota... 
-- Há quanto tempo vocês se mudaram daqui? 
-- Nós nunca nos mudamos. Você e o Eduardo é 
que se mudaram. 
-- Eu e o Eduardo, não. A Maria Ester e o Eduardo. 
-- É mesmo... 
-- Será que eles já se deram conta? 
-- Só se a televisão deles também quebrou.
Disponível em: http://www.ime.usp.
br/~vwsetzer/jokes/TV-estragou.html)
Glossário
AssujeitAmento - Movimento de interpelação dos indiví-
duos por uma ideologia, condição necessária para que o 
indivíduo torne-se sujeito do seu discurso ao submeter-se 
livremente às condições de produção impostas pela or-
dem superior estabelecida, embora tenha a ilusão de au-
tonomia. Para Althusser, os indivíduos vivem na ideologia, 
não havendo, portanto, uma separação entre a existência 
da ideologia e a interpelação do sujeito por ela, o que 
ocorre é um movimento de dupla constituição: se o sujeito 
só se constitui por meio do assujeitamento, é pelo sujeito 
que a ideologia torna-se possível já que, ao entendê-la 
como prática significante, concebe-se a ideologia como 
a relação entre sujeito, língua e história na produção dos 
sentidos (Orlandi, 1999).
interdiscurso - Compreende o conjunto das formações 
discursivas e se inscreve no nível da constituição do dis-
curso à medida que trabalha com a ressignificação do 
sujeito sobre o que já foi dito, o repetível, determinando 
os deslocamentos promovidos pelo sujeito nas fronteiras 
de uma formação discursiva. O interdiscurso determina 
materialmente o efeito de encadeamento e articulação de 
tal modo que aparece como o puro “já-dito”.
interdiscursividAde - Relação de um discurso com outros 
discursos; vozes discursivas outras que se manifestam em 
um dado discurso e interferem no seu sentido. Esses dis-
cursos alheios penetram no discurso em estudo, interferin-
do assim no seu sentido. Tal noção está ligada, portanto, 
à noção de heterogeneidade discursiva, de formação dis-
cursiva e de pré-construída.
condições de Produção - São responsáveis pelo estabe-
lecimento das relações de força no interior do discurso e 
mantêm com a linguagem uma relação necessária, cons-
tituindo com ela o sentido do texto. As condições de pro-
19Capítulo 1
dução fazem parte da exterioridade linguística e podem 
ser agrupadas em condições de produção em sentido es-
trito (circunstâncias de enunciação) e em sentido amplo 
(contexto sócio-histórico-ideológico), segundo preconiza 
Orlandi (1999).
Disponível em: http://www.discurso.ufrgs.br/glossario.
html
referÊnciAs
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise do Discurso: 
princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 
2010.
________________. Introdução às ciências da 
linguagem - Discurso e textualidade. Campinas: 
Pontes editores, 2010.
FERREIRA, Maria Cristina Leandro – O quadro 
atual da Análise de Discurso no Brasil. Dispo-
nível em: http://w3.ufsm.br/revistaletras/arti-
gos_r27/revista27_3.pdf).
VOESE, Ingo. Análise do discurso e o ensino 
de língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 2004.
Glossário de termos do discurso. Disponível 
em: http://www.discurso.ufrgs.br/glossario.html
21Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2
objetivos específicos
•	 Apresentar	aos	cursistas	os	conceitos	basilares	de	texto	e	discurso;
•	 Refletir	acerca	dos	processos	de	construção	do	sentido	com	base	nas	perspec-
tivas teóricas da análise do discurso;
•	 Possibilitar	o	conhecimento	dos	diversos	recursos	linguísticos	agenciados	na	
produção de sentido a partir dos estudos da semiótica e semiologia.
introdução
No primeiro momento do nosso estudo, privilegiamos o conhecimento acerca 
do percurso histórico que definiu o objeto de investigação da Análise do Discur-
so e os desdobramentos teóricos que a disciplina sofreu antes da delimitação do 
seu objeto: o discurso. Neste segundo capítulo, abordaremos reflexões e proble-
máticas acerca dos conceitos e da relação texto-discurso, conduzindo as reflexões 
à teoria semiótica, cujo contexto restringe-se ao próprio texto, no qual nos será 
possível observar que, face a certas situações, a semiótica mobiliza saberes da te-
oria daenunciação, entre eles, a noção de contexto situacional. Com base nesses 
fundamentos, esperamos ampliar a compreensão de que pensar o texto em seu 
funcionamento é pensá-lo em relação às suas condições de produção, é ligá-lo a 
sua exterioridade, uma vez que as palavras em si mesmas não apresentam senti-
do. Além disso, a construção de sentido depende também de aspectos extralin-
guísticos em “que a própria textualidade traz, nela mesma, sua historicidade, isto 
é, o modo como os sentidos se constituem, considerando a exterioridade inscrita 
nela	e	não	fora	dela”.	É	com	esse	propósito	que	abrimos	o	segundo	capítulo	deste	
livro. Assim, convidamos você, caro estudante, a caminhar conosco, imbuído de 
um espírito reflexivo e disposto a debruçar-se sobre as questões que envolvem 
texto, discurso e produção de sentidos.
Análise do 
discurso
Profa. maria Perpétua Teles monteiro
Carga Horária | 15 horas 
22 Capítulo 2
1. texto e discurso
http://mastersuno.blogspot.com.br/2010/05/
eleicoes-2010-discurso-para-antes-e.html
O que nos permite afirmar ser ou não
um cachimbo?
Para alguns linguistas, não há diferença entre texto 
e discurso. Para outros, um texto é mais ou menos 
um produto físico, resultado de um discurso que, 
por sua vez, é analisado como um processo que 
leva à construção de um texto. Para outros, ainda, 
um texto se define, em primeiro lugar, pelo fato de 
ter um propósito identificável – uma abordagem 
que leva, imediatamente, a classificá-lo num certo 
número de tipos, caracterizados por propósitos di-
ferentes, os quais, por conseguinte, também têm 
características diferentes. Outros ainda veem o 
texto como abstração, cuja realização física seria o 
discurso. Por fim, há linguistas que simplesmente 
consideram o texto apenas o escrito, ao passo que 
o discurso, a fala. 
Passando a refletir sobre a análise, Orlandi 
(2010:22) afirma que a unidade de análise de dis-
curso é o texto, o qual é uma unidade significativa; 
destacando ainda que, para ser texto, é preciso ter 
textualidade. Esta, por sua vez, é função da relação 
do texto consigo mesmo e com a exterioridade em 
que podemos pensar não a sua função, mas o seu 
funcionamento. 
Não são as palavras que significam, mas o texto. 
Quando	 uma	 palavra	 significa	 é	 porque	 ela	 tem	
textualidade, ou seja, é porque sua interpretação 
deriva de um discurso que a sustenta, que a provê 
de realidade significativa. A palavra que significa é 
uma palavra textualizada. Daí, ser o texto um obje-
to linguístico-histórico. Ele não é apenas um con-
junto de enunciados portadores de uma e até várias 
significações; é, antes, um processo que se desenvol-
ve de múltiplas formas em determinadas situações 
sociais (RIDOUX, 1973 apud ORLANDI, 2010).
Do ponto de vista de sua apresentação empírica, 
um texto é um objeto com começo, meio e fim; 
mas se o considerarmos como discurso, reinstala-
-se imediatamente sua incompletude. Isso porque 
nem o discurso nem os sentidos são completos. O 
texto, pois, visto na perspectiva do discurso, não 
é uma unidade fechada – embora como unidade 
de análise ele possa ser considerado uma unidade 
inteira – pois tem relação com outros textos, com 
suas condições de produção, com o que se chama 
sua exterioridade constitutiva (o interdiscurso, a 
memória do dizer).
Orlandi (ibid...) chama atenção para o fato do que 
se chama historicidade do texto nada tem a ver 
com a noção de história relacionada à linguagem 
como no século XIX, que via nesta uma dimen-
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René Magritti – Les Deux Mystères (1966)
Trask (2010:291), no Dicionário de Linguagem e 
Linguística, nos aponta texto como uma porção 
de língua falada ou escrita, especialmente quan-
do tem um começo e um fim reconhecíveis. Por 
muito tempo, os linguistas usaram a palavra tex-
to muito informalmente, para denotar qualquer 
trecho de língua em que, por acaso, estivessem 
circunstancialmente interessados. A partir da dé-
cada de 60, a noção de texto ganha status teórico 
em vários domínios, tornando-se a análise de tex-
tos, hoje, um dos principais objetivos da investi-
gação linguística.
Quanto	ao	termo	discurso, Trask (ibid. p. 82) o 
define como qualquer fragmento conexo de escri-
ta ou fala. Um discurso pode ser produzido por 
uma única pessoa que fala ou escreve ou, também, 
por duas ou mais pessoas que tomam parte de 
uma conversação ou, mais raro, de uma troca de 
escritos. O estudo do discurso ganhou realce nos 
últimos anos, e o tratamento é numeroso e varia-
do. Há variação em seu uso, mas, de um modo ge-
ral, os linguistas anglo-saxônicos aplicam o termo 
Análise do discurso a uma abordagem fortemente 
baseada nos conceitos gramaticais tradicionais, já 
o termo Análise da conversação a uma abordagem 
empírica que rejeita os conceitos tradicionais e que 
procura extrair esquemas dos dados, e o termo 
Linguística textual a estudos de unidades linguís-
ticas amplas, cada qual com uma função comuni-
cativa definida.
23Capítulo 2
são temporal expressa na forma da cronologia e da 
evolução. Historicidade são os meandros do texto, 
o seu acontecimento como discurso, seu funciona-
mento, o trabalho dos sentidos nele. Desse modo, 
só se pode pensar uma temporalidade se esta for 
uma temporalidade interna, ou melhor, uma rela-
ção com a exterioridade tal como ela se inscreve 
no próprio texto e não como algo lá fora, refletido 
nele. Trata-se de compreender como a matéria tex-
tual produz sentidos.
Assim, a Análise do Discurso, ao tomar em consi-
deração o texto como forma material, manifesta-
ção concreta do discurso, torna possível a análise 
de seu funcionamento, não pela utilização de uma 
metalinguagem formal, mas pelo deslocamento do 
lugar heurístico da interpretação: o analista não in-
terpreta o texto por meio de um dispositivo analíti-
co, ele explica, torna visíveis os gestos de interpre-
tação que textualizam a discursividade e interpreta 
os resultados dessa análise no interior de um dis-
positivo teórico. Sua finalidade não é interpretar o 
texto, mas compreender os gestos de interpretação 
inscritos nele.
AtividAde |
Com base no que você leu, tomando as ima-
gens como sugestão, discorra sobre como a 
Análise do Discurso leva-nos a compreender 
melhor a constituição dos sujeitos, dos senti-
dos e suas relações.
1.1 A função discursivA Autor
Para Orlandi (2010:22), o discurso está para o texto 
assim como o sujeito está para o autor. Se há um 
sujeito no discurso, no texto há um autor. Essas 
relações dizem respeito à ligação entre unidade e 
dispersão. De um lado, a dispersão do discurso e 
do sujeito, de outro, a unidade imaginária do texto 
e do autor.
Ao citar Ducrot, Orlandi (Idem....) aponta a fun-
ção enunciativa do locutor e a do enunciador. O 
locutor é aquele que se representa como “eu” no 
discurso, e o enunciador é a perspectiva que esse 
“eu” constrói.
De acordo com Foucault (1971), há processos in-
ternos de controle e delimitação do discurso. Esses 
processos se dão a título de princípios de classifi-
cação, de ordenação, de distribuição, visando do-
mesticar a dimensão do acontecimento e do acaso 
do discurso. Tal controle pode ser observado em 
noções como a de comentário, autor e disciplina.
Foucault (1971), citado por Orlandi (2010), consi-
dera o autor como princípio de agrupamento do 
discurso, como unidade e origem de suas signifi-
cações, como o núcleo de sua coerência. O que o 
coloca como responsável pelo texto que produz. 
Passamos, assim, da noção de sujeito para a de 
autor. Se a noção de sujeito recobre não uma for-
ma de subjetividade, mas um lugar, uma posição 
discursiva (marcada pela sua descontinuidade nas 
dissenções múltiplas do texto) a noção de autor já 
é uma função da noção de sujeito, responsável pela 
organização do sentido e pela unidade do texto, 
produzindo o efeito de continuidade do sujeito. A 
partir daí - à diferença de Foucault, que guardaa 
noção de autor para situações enunciativas espe-
ciais (em que o texto original, de autor, se opõe a 
comentário) - procuramos estender a noção de au-
toria para o uso corrente, como função discursiva 
do sujeito, distinta da de enunciador e de locutor. 
Com isso, para nós, a função autor não se limita, 
como em Foucault, a um quadro restrito e privile-
giado de produtores originais de linguagem (que se 
SAIBA MAIS!
A Análise da Conversaç
ão (AC) é uma abor-
dagem da Análise do D
iscurso desenvolvida 
por sociólogos que se a
utodenominam etno-
metodologistas. A etno
metodologia é uma 
abordagem interpretativ
a da Sociologia que 
focaliza a vida cotidiana
 como efeito depen-
dente de habilidades e 
métodos que as pes-
soas usam para produzi
-las. Há uma tendên-
cia em se evitar discuss
ões e conceitos como 
classe, poder e ideolog
ia. Os analistas da 
conversação têm-se con
centrado em conver-
sas informais entre igua
is, embora trabalhos 
mais recentes tenham se
 direcionado para ti-
pos institucionais de dis
cursos, nos quais as 
assimetrias de poder são
 mais óbvias. 
Sugestão de leitura: Lui
z A. Marcuschi - Aná-
lise da Conversação. São
 Paulo: Ática (2003)
TEXTOS COMPLEMENTA
RES
http://www.pucrs.br/e
dipucrs/online/
pesquisa/pesquisa/artig
o12.html
http://www.slideshar
e.net/premas-
ter2010/linguagem-disc
urso-e-texto
A etnometodologia e a 
análise da con-
versação e da fala em:
http://www.emtese.ufsc.
br/h_Adalto.pdf
24 Capítulo 2
definiriam em relação a uma obra, por exemplo, 
Saussure, Marx etc.). Para nós, a função autor se 
realiza toda vez que o produtor de linguagem se 
repre¬senta na origem, produzindo um texto com 
unidade, coerência, progressão, não contradição e 
fim. Em outras palavras, ela se aplica ao corriquei-
ro da fabricação da unidade do dizer comum, afe-
tada pela responsabilidade social: o autor responde 
pelo que diz ou escreve, pois é suposto estar em 
sua origem. Assim, estabelecemos uma correlação 
entre	sujeito/autor	e	discurso/texto	(entre	disper-
são/unidade	etc.).
A função autor é tocada de modo particular pela 
história: o autor consegue formular, no interior 
do formulável, e se constituir, com seu enunciado, 
numa história de formulações. Significa que, em-
bora ele se constitua pela repetição, esta é parte 
da história e não mero exercício mnemônico. Ou 
seja, o autor, embora não instaure discursividade 
(como o autor original de Foucault) produz, no 
entanto, um lugar de interpretação no meio de ou-
tros. Esta é sua particularidade. O sujeito só se faz 
autor se o que ele produz for interpretável. Ele ins-
creve sua formulação no interdiscurso, historiciza 
seu dizer. Porque assume sua posição de autor, ele 
produz um evento interpretativo. O que só repete 
(exercício mnemônico) não o faz. O que se leva a 
distinguir: 
a. repetição empírica, exercício mnemônico que 
não se historiciza (efeito papagaio); 
b. repetição formal: técnica de produzir frases, exer-
cício gramatical que também não historiciza; 
c. repetição histórica: a que inscreve o dizer no 
repetível (interpretável) como memória consti-
tutiva (interdiscurso). 
Esta, a memória, rede de filiações, faz a língua sig-
nificar.	É	assim	que	sentido,	memória	e	história	se	
intrincam na noção de interdiscurso. Sem a inscri-
ção da língua na história (memória discursiva) não 
há significação.
1.2 interpretAção
 
Segundo Orlandi (2010), na análise de discurso, 
a interpretação está relacionada com a questão da 
ideologia. Podemos considerar a interpretação em 
duas instâncias: 
a. como parte da atividade do analista; 
b. como parte da atividade do sujeito.
Como parte da atividade do analista, devemos di-
zer que a análise de discurso dá um estatuto dife-
rente que a hermenêutica dá à interpretação. Na 
análise de discurso, há um batimento entre descri-
ção e interpretação, a linguagem não é transparen-
te. Interpretar não é atribuir sentido, mas se expor 
à opacidade do texto, ou seja, é explicitar como um 
objeto simbólico produz sentidos.
Se atentarmos para o modo de existência da in-
terpretação no sujeito, podemos dizer que a inter-
pretação é uma injunção. Face a qualquer objeto 
simbólico, o sujeisto é instado a interpretar, pois 
ele tem a necessidade de “dar” sentido. E o que 
é dar sentido? Para o sujeito que fala, é construir 
sítios de significação, é tornar possíveis gestos de 
interpretação.
É	por	meio	do	modo	como	se	trabalha	a	interpre-
tação que a análise de discurso desloca-se de uma 
perspectiva sociológica de ideologia para outra 
perspectiva. O modo como as Ciências Humanas 
e Sociais concebem a ideologia é ancilar à perfí-
dia interpretativa: considerando que a linguagem 
é transparente, essas ciências visam aos conteú-
dos ideológicos, concebendo a ideologia como 
ocultação. Desse modo, elas deixam pensar que, 
pela busca dos conteúdos (o que ele quis dizer?) 
se podem descobrir os “verdadeiros” sentidos do 
discurso que estariam escondidos. Se não nos ati-
vermos aos conteúdos da linguagem, mas ao fun-
cionamento do discurso, podemos compreender o 
modo como o texto produz sentido e a ideologia 
será então percebida como o processo de produ-
ção de um imaginário, isto é, produção de uma 
interpretação particular que apareceria, no entan-
to, como a interpretação necessária e que atribui 
sentidos fixos às palavras em um contexto histórico 
dado. A ideologia não é assim um conteúdo “x”, 
mas o mecanismo de produzir “x’.
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25Capítulo 2
Uma concepção discursiva de ideologia estabelece 
que, como os sujeitos estão condenados a signifi-
car, a interpretação é sempre regida por condições 
de produção específicas que, no entanto, aparecem 
como universais e eternas. Disso resulta a impres-
são do sentido único e verdadeiro.
Um dos efeitos ideológicos está justamente no fato 
de que, no momento mesmo em que se dá, a inter-
pretação	se	nega	como	tal.	Quando	o	sujeito	fala,	
ele está em plena atividade de interpretação, ele 
está atribuindo sentido às suas próprias palavras 
em condições específicas. Mas ele o faz como se o 
sentido estivesse nas palavras - e não na inscrição 
das palavras em formação discursiva - apagando-se 
assim suas condições de produção, desaparecendo 
o modo pelo qual a exterioridade o constitui. Em 
suma, a interpretação aparece para o sujeito como 
transparência, como o sentido lá.
Não se pode assim excluir do fato linguístico o 
equívoco como fato estrutural, implicado pela or-
dem do simbólico. Há, como diz Pêcheux (1995), 
“um trabalho do sentido sobre o sentido, tomado 
no relançar indefinido das interpretações”: Aí in-
tervêm a história e a ideologia.
O processo ideológico não se liga à falta, mas ao ex-
cesso. A ideologia representa a saturação, o efeito 
de completude que, por sua vez, produz o efeito de 
“evidência”: sustentando-se sobre o já dito, os senti-
dos institucionalizados, admitidos por todos como 
“naturais”: Pela ideologia, há transposição de certas 
formas materiais em outras, isto é, há simulação. 
Assim, na ideologia não há ocultação de sentidos, 
mas apagamento do processo de sua constituição.
Além disso, há, como diz M. Pêcheux (1984), uma 
divisão social do trabalho da leitura, de tal modo 
que ela tem suas diferentes formas na história, em-
bora, basicamente, se possam distinguir: 
a. o modo literário e 
b. o modo científico da relação com os sentidos, 
sendo essa relação determinada pela divisão 
entre o corpo social dos que têm direito à 
interpretação, distinto daqueles que fazem o 
trabalho cotidiano de sustentação da interpre-
tação que deve ser, que se estabiliza. 
É	 a	 administração	 sócio-histórica	 da	 apreensão	 e	
produção dos sentidos: gesto que divide, separa, 
na história, o direito à interpretação e trabalha os 
modos de gerenciá-la.
1.3 dispositivos dA interpretAção
A análise de discurso leva em conta a tomadaem 
consideração da materialidade do texto e a cons-
trução de dispositivos da interpretação. Ao se re-
conhecer a materialidade da linguagem, sua não 
transparência, reconhece-se, ao mesmo tempo, a 
necessidade da construção de dispositivos para se 
ter acesso a ela, para trabalhar sua espessura lin-
guístico-histórica, sua discursividade.
Os dispositivos são de dois tipos: dispositivo teóri-
co da interpretação e dispositivo analítico da inter-
pretação. O dispositivo teórico é constituído pelas 
noções e conceitos que constituem os princípios 
da análise de discurso: a noção de discurso como 
efeito de sentidos, a noção de formação discursiva, 
a de formação ideológica, o interdiscurso etc.. 
O dispositivo teórico vai determinar o dispositivo 
analítico. Ele orienta o analista em como observar 
o	funcionamento	discursivo.	É	o	dispositivo	teóri-
co que faz o deslocamento de uma leitura tradicio-
nal para uma leitura que chamamos sintomática: a 
que estabelece uma escuta que coloca em relação o 
dizer com outros dizeres e com aquilo que ele não 
é, mas poderia ser (ORLANDI, 2010).
O dispositivo analítico da interpretação é o que 
cada analista constrói em cada análise específica. 
Determinado pelo dispositivo teórico, o dispositi-
vo analítico, por sua vez, vai depender da questão 
do analista, da natureza do material analisado, do 
objetivo do analista e da região teórica em que se 
inscreve o analista (Linguística, História, Antropo-
logia, Literatura etc.).
Feita a análise, o analista não vai interpretar o tex-
to, mas os resultados da análise à luz da teoria do 
discurso como entrada do dispositivo e a teoria (so-
ciológica, antropológica, linguística etc.) a que ele 
se filia. A esse fato chamamos compreensão. Por 
isso, podemos dizer que o analista tem como finali-
dade compreender o processo de produção de sen-
tidos instalado por uma materialidade discursiva.
Na realidade, todo sujeito interpreta com base 
em um dispositivo ideológico que o faz interpre-
tar de uma maneira e não de outra. Pelo processo 
de identificação, como sabemos, o sujeito se ins-
creve em uma formação discursiva para que suas 
palavras tenham sentido. E isso lhe aparece como 
natural, como o sentido lá, transparente. Ele não 
26 Capítulo 2
reconhece o movimento da interpretação, ao con-
trário, ele se reconhece nele. Ele se reconhece nos 
sentidos	que	produz.	É,	no	entanto,	a	possibilida-
de de contemplar o movimento da interpretação, 
de compreendê-lo, que caracteriza a posição do 
analista. Nem acima, nem além do discurso ou 
da história, mas deslocado. Numa posição que en-
tremeia a descrição e a interpretação e que pode 
tornar visíveis as relações entre diferentes sentidos. 
Desse modo, com esses dispositivos (o teórico e o 
analítico), ficamos sensíveis ao fato de que a des-
crição está exposta ao equívoco e o sentido é sus-
cetível de tornar-se outro. Espera-se do dispositivo 
teórico que ele produza um deslocamento capaz de 
permitir ao analista trabalhar as fronteiras da for-
mação discursiva. Em outras palavras, que ele não 
se inscreva em uma formação discursiva, mas entre 
em uma relação crítica com o conjunto complexo 
da formação. E o dispositivo analítico deve ofe-
recer procedimentos (paráfrase, substituição etc.) 
para que ele possa explicitar isso.
Com isso, não estamos pretendendo uma posição 
neutra do analista em relação aos sentidos. Não só 
ele está sempre afetado pela interpretação, como 
um dispositivo analítico marca uma posição em re-
lação a outras. O que estamos afirmando é que o 
dispositivo analítico é capaz de deslocar a posição 
do sujeito, trabalhando a opacidade da linguagem, 
a sua não evidência e, com isso, relativizando a re-
lação do sujeito com a interpretação. Ele poderá 
assim fazer uma leitura o menos subjetiva possível, 
mediado pela teoria e pelos mecanismos analíticos.
efeIto MetafórIco
A noção de funcionamento, estendida da linguís-
tica para a análise de discurso, faz não trabalhar-
mos apenas com o que as partes significam, mas 
procu¬rarmos quais as regras que tornam possível 
qualquer parte. Isso introduz a análise de discurso 
no campo das ciências da linguagem. A proposta é, 
então, explicitar os mecanismos de funcionamen-
to do discurso (E. Orlandi, 1983). O trabalho do 
analista de discurso é mostrar como funciona um 
objeto simbólico, como os processos de significa-
ção trabalham um texto, qualquer texto.
Por seu lado, a definição de efeito metafórico situa 
a questão do funcionamento na relação do discur-
so com a língua. M. Pêcheux (1969) vai chamar 
efeito metafórico o fenômeno semântico produ-
zido por uma substituição contextual, lembrando 
que esse deslizamento de sentido entre x e y é cons-
titutivo do sentido designado por x e por y. Como 
esse efeito é característico das línguas naturais, por 
oposição aos códigos e às línguas artificiais, pode-
mos considerar que não há sentido sem essa pos-
sibilidade de deslize, e, pois, sem interpretação. O 
que nos leva a colocar a interpretação como consti-
tutiva da própria língua (natural).
Consequentemente, quando se trata da língua na-
tural não há metalinguagem. Toda descrição está 
intrinsecamente exposta ao equívoco da língua: 
“Todo enunciado é intrinsecamente suscetível de 
tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar 
discursivamente de seu sentido para derivar para 
um outro” (M. Pêcheux, 1991). A não ser que haja 
proibição explícita de interpretação. A metáfora, 
não vista como desvio, mas como transferência 
(M.Pêcheux, 1975), - uma palavra por outra -, é 
assim constitutiva do sentido. O conjunto desses 
deslizes (paráfrases) instala o dizer no jogo das dife-
rentes formações discursivas e são o vestígio da his-
toricidade. O deslize, próprio da ordem simbólica, 
é o lugar da interpretação, da ideologia, da histori-
cidade.	É	assim	que	podemos	compreender	a	rela-
ção entre língua e discurso: a língua pensada como 
“sistema sintático intrinsecamente passível de jogo, 
e a discursividade como inscrição de efeitos linguís-
ticos materiais na história” (M. Pêcheux, 1994).
O modo de conceber o deslize, o efeito metafórico 
como constitutivo do funcionamento discursivo, 
liga-se ao modo de se conceber a ideologia discur-
sivamente. Em termos de interpretação, isso nos 
aponta para o “discurso duplo e uno”. Segundo Al-
thusser, a leitura sintomática, falando de ideologia, 
é a que revela o ir-revelado no próprio texto que 
lê e o remete a outro texto, presente no primeiro 
por uma ausência necessária. Essa duplicidade que 
faz referir um discurso a outro, para que ele faça 
sentido, envolve a questão do equívoco. Na análise 
de discurso, essa duplicidade, esse equívoco é tra-
balhado como a questão ideológica fundamental, 
pensando a relação do discurso à língua e a da ide-
ologia ao inconsciente.
É	ainda	o	efeito	metafórico,	a	deriva,	o	deslizamen-
to de um enunciado em outro, que pode nos fazer 
compreender o que chamamos historicidade na 
análise de discurso. Tomemos como exemplo:
1- Não há liberdade sem luta. 
2- Não há l liberdade sem paz.
27Capítulo 2
Em 1, temos uma fala que toma a perspectiva de quem vive em uma sociedade ditatorial e que só vê a 
possibilidade de sair dela e de viver um regime de liberdade.
AtividAde |
Leia o poema de Gilberto Gil e, considerando 
os estudos realizados, reflita: Como se dá a in-
terpretação do indivíduo em sujeito?
Metáfora
Gilberto Gil
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.
Disponível em: 
http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_
SAIBA MAIS!
Formação discursivaNa visão de Orlandi (19
99), formação discursiva
 pode ser uma “regiona
lização do interdiscurso”
, 
uma configuração espec
ífica do discurso em sua
s relações, ou seja, uma
 palavra pode ter sentid
os 
diferentes de acordo co
m as condições de prod
ução, da posição dos su
jeitos, etc. Foucault deix
a 
claro que a formação dis
cursiva diz respeito ao q
ue se pode dizer soment
e em uma época e espaç
o 
social; enfim, as condiçõ
es de produção específic
as historicamente é que
 vão possibilitar o lugar 
e 
a realização de um enun
ciado. Esse dispositivo o
portuniza uma reflexão 
relacionada ao sujeito s
i-
tuado em um espaço, em
 determinada época, com
 estilo de vida, exigência
s e costumes diferentes. 
Assim, ao apresentar um
a propaganda do século
 XXI, com suas imposiçõ
es de formas e estilos de
 
corpo feminino, por exem
plo, o professor deve pos
sibilitar ao aluno, image
ns de outras épocas para
 
que se percebam as pos
síveis construções de sen
tido de palavras, imagen
s ou conceitos.
ACESSE - Efeitos metafó
ricos em: 
http://www.unicamp.br/
iel/site/alunos/publicaco
es/textos/e00008.htm;
http://www.filologia.org
.br/ileel/artigos/artigo_1
28.pdf; 
http://www.ufp.pt/index
.php?option=com_conte
nt&view=article&id=189
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1.4 semióticA e semioloGiA
Trataremos essa temática à luz de Vogt (2010) 
quando observa que o termo semiótica tem longa 
tradição de uso e sua antiguidade remonta ao mé-
dico grego Cláudio Galeno, que viveu entre 131 e 
201 da era cristã, cujas teorias influenciaram forte-
mente a medicina até, pelo menos, o século XVII. 
Nesse caso, semiótica, com a variante semiologia, 
designa a ciência dos sintomas em medicina e é 
sinônimo de sintomatologia.
O uso do termo semiótica, para designar a ciência 
dos signos, correspondendo, nesse sentido, à ló-
gica tradicional, foi proposto pelo filósofo inglês 
John Locke, no século XVII e, em seguida, retoma-
28 Capítulo 2
do por Lambert, no século XVIII, como título da 
terceira parte da obra Novo Organon.
Entretanto, por iniciativas independentes, a semi-
ótica, por um lado, na designação de origem anglo-
-saxã, e a semiologia, de outro, na vertente neola-
tina da cultura europeia, vão ser propostas como 
disciplinas autônomas, no primeiro caso, pelo filó-
sofo norte-americano Charles Sanders Peirce, que 
viveu de 1839-1914 e, no segundo, pelo linguista 
suíço, Ferdinand de Saussure (1857-1913), cujo 
Curso de linguística geral (1976), publicado postuma-
mente em 1916, por Charles Bally e A. Sechehaye, 
que haviam sido seus alunos, constitui o marco de 
referência da grande revolução teórica dos estudos 
na área.
A terceira e última parte da “Introdução” a essa 
obra fundadora da linguística moderna, Saussure 
a dedica à reflexão sobre o “Lugar da língua nos 
fatos humanos”, para, daí, anunciar, com feliz au-
gúrio, o nascimento futuro da semiologia.
É	conhecida	a	distinção	entre	língua	e	fala	propos-
ta por Saussure, no sentido de delimitar a língua 
como objeto de estudo da ciência linguística.
Enquanto a fala é um contínuo sonoro e a lingua-
gem é heterogênea e múltipla de aspectos físicos, 
psíquicos e sociais, a língua, de natureza homogê-
nea, formada de elementos discretos, constitui um 
todo em si mesmo, é um princípio de classificação, 
isto é, de ordenação e explicação dos fatos de lin-
guagem. A língua é, portanto, um objeto teórico, 
um constructo, um sistema cujos elementos inte-
grantes	e	integradores	são	os	signos.	É,	ao	mesmo	
tempo, uma instituição social que se distingue de 
outras instituições, políticas, jurídicas etc., pela na-
tureza especial do sistema de signos que constitui.
Segundo escreve Saussure: A língua é um sistema 
de signos que exprime ideias e, desse modo, é com-
parável à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos 
ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais 
militares	etc.	É,	contudo,	o	mais	importante,	des-
ses sistemas.
É	nesse	momento	que,	anunciando	a	nova	ciência	
dos signos, o autor lança a semente do que viria a 
ser um dos mais profícuos campos de investigação 
do comportamento e das formas simbólicas das re-
lações humanas no século XX e continuando neste 
século, que já, aos poucos, se desdobra.
Diz o autor:
Pode-se conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no seio 
da vida social; ela seria parte da psicologia social e, consequente-
mente, da psicologia geral; nós a nomearemos semiologia (do grego 
sémeion, “signo”). Ela nos ensinará em que consistem os signos e 
que leis os regem. Como ela não existe ainda, não se pode dizer 
o que ela será; mas tem direito à existência e seu lugar já está pré-
-determinado. A linguística não é senão uma parte dessa ciência 
geral e as leis que descobrirá a semiologia serão aplicáveis a ela, 
fazendo com que a linguística se ligue a um domínio bem definido 
no conjunto dos fatos humanos.
Um pouco mais sobre o assunto nas duas páginas 
restantes dessa “Introdução” e é tudo o que aparece 
no Curso de linguística geral referente à semiologia.
Mas o vaticínio lançado funcionou também como 
provocação científica. Desse modo, uma escola se-
miológica, com identidade, diferença, harmonia 
e disputa, foi se consolidando na Europa e foi se 
disseminando no mundo pela ação de intelectu-
ais, estudiosos e grandes referências internacionais 
como o linguista Roman Jakobson, o antropólo-
go Claude Lévi-Strauss, a teórica da literatura Ju-
lia Kristeva, o semanticista e semiólogo Algirdas 
Julien Greimas, o ensaísta Roland Barthes, entre 
muitos outros, que fizeram ou seguiram escolas de 
semiologia, lá, aqui, onde quer que se falasse de 
sentido, significação, signos e significância.
A outra vertente da moderna semiologia, designa-
da mais especificamente pelo termo semiótica, tem 
suas origens mais contemporâneas na vasta obra 
do lógico e filósofo americano Charles Sanders 
Peirce (1931-1958).
Preocupado em estabelecer uma relação necessá-
ria entre Ciência e Filosofia, formula o método 
pragmático, buscando, assim, propor um método 
científico	para	a	Filosofia.	Quer	dizer,	um	método	
capaz de conferir significado às ideias filosóficas 
em termos experimentais. As opiniões e o estabe-
lecimento de sua verdade constitui o objetivo fun-
damental do método científico. Ao pragmatismo 
cabe responder pela determinação experimental do 
significado das ideias ou dos conceitos intelectuais.
O pragmatismo proposto por Peirce como um 
método científico para determinar o significado 
de conceitos intelectuais é também a negação do 
intuicionis¬mo cartesiano e da ideia de que o pen-
samento	possa	interpretar-se	a	si	mesmo.	É	só	em	
termos de signo que ele se efetua e, desse modo, é 
29Capítulo 2
visto como complexamente estruturado numa rela-
ção triádica: significa alguma coisa para alguém de 
alguma maneira.
A semiótica, para Peirce, é sinônimo não só da ló-
gica, mas também da teoria linguística e deve en-
globar os três níveis fundamentais de análise: o da 
sintaxe, o da semântica e o da pragmática.
Peirce propõe uma série de classificações para o 
signo, sendo a mais conhecida a que o considera 
em sua relação com o objeto e o caracteriza como 
ícone, índice ou como símbolo.
Em Peirce, tudo é múltiplo de 3, assim como para 
Saussure e para os estruturalistas que vieram de-
pois dele, os sistemas de signos são binários e se 
organizam em posições dicotômicas.
Na linha da semiótica de inspiração lógica, é pre-
ciso lembrar a forte influência exercida por Frege, 
em particular sua distinção entre sentido e signi-
ficado, os trabalhos de Russel e de Carnap e a sis-
tematização que a ela deu outro lógico e fIlósofo 
americano nos anos 1930, Charles Morris.
Seguindo essa mesma orientação, mas incorporan-
do o conteúdo dos estudos etológicos desenvolvi-
dos nos EUA e na Europa, a semiótica voltou-se 
também para a vida

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