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ROGÉRIO BRENICCI NECESSIDADE DE SIMPLIFICAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ NÚCLEO DE APÓIO : CAMPUS EAD CONSTANTINO NERY MANAUS – AM 2021 ROGÉRIO BRENICCI NECESSIDADE DE SIMPLIFICAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA Trabalho solicitado pela orientadora: Prof•Karla Regina Peiter , com o objetivo da nota parcial Referente a Disciplina Linguagem Jurídica. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ NÚCLEO DE APÓIO : CAMPUS EAD CONSTANTINO NERY MANAUS – AM 2021 RESUMO Este trabalho procura demonstrar que existe uma necessidade de simplificação da linguagem jurídica, já que os textos jurídicos frequentemente são obscuros e de dificultoso entendimento para a maioria dos leitores, sejam eles operadores do Direito ou não. Objetivamos, com este trabalho, demonstrar que embora exista uma necessária tecnicidade da linguagem jurídica, o uso excessivo de palavras e expressões rebuscadas pode dificultar e até impossibilitar a comunicação. Para a realização desse estudo, analisaremos livros, artigos de revistas jurídicas e sites da internet que tratam do tema. O trabalho será estruturado da seguinte forma: Introdução, capítulo sobre comunicação e linguagem, capítulo sobre linguagem técnica ou jargão jurídico, capítulo sobre dissertação, capítulo acerca de vícios encontrados em textos jurídicos, capítulo sobre exemplos de expressões que poderiam ser simplificadas e conclusão. Palavras-chave: simplificação, linguagem, jurídica. Sumário INTRODUÇÃO ........... ............. ......... .................... .......... ......... . 9 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM .... ............... ............. ........... 10 1.1 Comunicação ...................... ............. ............ ................ . 10 1.2 Linguagem ............ ............. ............ .............. ......... .... ...... 11 2 LINGUAGEM TÉCNICA OU JARGÃO JURÍDICO ... ........... ........ 14 2.1 Linguagem jurídica ... ............ ......... ............. ............ ........ 14 2.2 Vocabulário jurídico ....... ............ ............. ............ ............ 16 2.2.1 Vocabulário unívoco ... ............ ............. ............ ............ 17 2.2.2 Vocabulário equívoco . ............ ............. ............ ............ 17 2.2.3 Vocabulário análogo ...... ............ ............. ......... ............ 17 3 DISSERTAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO ...... ............ ............. ..... 21 3.1 Coesão e coerência ............. ............ ............. ......... ........... 22 3.1.1 Coesão ................ ............. ............ ............. ......... .......... 22 3.1.2 Coerência ............. ............ ......... ............. ............ ........ . 23 4 VÍCIOS NA LINGUAGEM JURÍDICA ............ ............ ............... 24 4.1 Arcaísmos .............. ............. ......... ............. ............ ........ 25 4.2 Neologismos ........ ............. ......... ............. ............ .......... 26 4.3 Estrangeirismos .......... ............ ............. ............ .......... ....26 4.4 Latinismos ........... ............. ............ ............. ......... .......... 27 5 EXEMPLOS DE PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE PODERIAM SER SIMPLIFICADA....... ............. ............ ............. ............ ......... .... . 29 5.1 “Parquet Federal” ............. ............ ............. ......... .............30 5.2 “Peça vestibular” .................. ............ .......... ...................... . 30 5.3 “Preparo” . ......... ............. ............ ............. ............ ......... ...30 5.4 “Recebo a apelação em seus regulares e jurídicos efeitos” ..30 5.5 “Vistos, etc” ............. ............. ......... ............. ............ ...........30 CONCLUSÃO. ............ ............. ......... ............. ............ ............. .. 31 REFERÊNCIAS ....... ............. ............ ............. ......... ........ ...........32 INTRODUÇÃO Este trabalho procura demonstrar que existe uma necessidade de simplificação da linguagem jurídica, já que os textos jurídicos frequentemente são obscuros e de dificultoso entendimento para a maioria dos leitores, sejam eles operadores do Direito ou não. Objetivamos , com este trabalho, demonstrar que embora exista uma necessária tecnicidade da linguagem jurídica, o uso excessivo de palavras e expressões rebuscadas pode dificultar e até impossibilitar a comunicação. Procuraremos demonstrar que a linguagem jurídica deve ser democrática e para isso, deve ser inteligível, minimamente, por qualquer pessoa do povo. Para a realização desse estudo, analisaremos livros, artigos de revistas jurídicas e sites da internet que tratam do tema. O trabalho será estruturado da seguinte forma: Introdução, capítulo sobre comunicação e linguagem, capítulo sobre linguagem técnica ou jargão jurídico, capítulo sobre dissertação, capítulo acerca de vícios encontrados em texto s jurídicos, capítulo sobre exemplos de expressões que poderiam ser simplificadas e conclusão. 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 1.1 Comunicação Em virtude de sua vocação social, desde o princípio de sua existência, o ser humano teve a necessidade de se comunicar. A socialização e a comunicação asseguraram ao homem grande vantagem em relação a outros seres vivos, o que o ajudou a se tornar o mais “evoluído” de todos nesse Planeta. A comunicação humana compreende milhares de formas, através das quais os homens transmitem e recebem ideias, impressões e imagens de toda ordem. Alguns desses símbolos, em bora Compreensíveis, jamais conseguem expressar-se por palavras. Assim, são formas de comunicação o repicar do sino na igreja; os sinais de trânsito, e a escrita. Observe-se que nesses exemplos, a comunicação ocorre através do som (o barulho do sino anuncia o horário da missa), sinal luminoso (o semáforo determina: Pare.) e a escrita (sistema de transcrição dos sinais da fala em grafia). A comunicação, portanto, ocorre em nosso dia-a-dia, de diversas formas e maneiras e é perceptível desde o momento em que acordamos, até o momento em que vamos dormir. Comunicação é a capacidade de intercâmbio ou troca de mensagens entre pessoas. É a potencialidade que os s eres humanos têm de emitir e receber mensagens dentro de um determinado grupo . A palavra comunicar vem do latim comunicare e significa por em comum. Comunicação pressupõe troca, intercâmbio no contexto do convívio comunitário. Comunidade é o agrupamento caracterizado por grande coesão, baseada no consenso dos indivíduos. Consenso significa acordo, consentimento, convergência de intenções, de vontades, que constroem a compreensão, que constitui fator decisivo n a Comunicação Humana. Para que haja compreensão,é necessário por idéias ‘em comum’. O objetivo da comunicação é o entendimento entre os homens. Para que exista entendimento é necessário mútua compreensão entre os indivíduos envolvidos no processo comunicacional. Comunicar, portanto, é o processo de partilhar as idéias com outros seres humanos de um determinado grupo social. 1.2 Linguagem Com a sofisticação da comunicação, surgiu a linguagem. A linguagem é um processo mais evoluído de comunicação no qual todo um sistema de palavras e signos é utilizada para por ideias em comum. A finalidade da linguagem é servir como substrato para a transmissão de uma mensagem, que, por sua vez, contém alguma informação. A linguagem foi concebida para ser compartilhada com outros seres humanos. Se não há esse compartilhamento, a comunicação pode não ocorrer. É o que acontece quando a linguagem se apresenta demasiadamente elevada, com expressões que extrapolam a compreensão do homem médio, o que pode torná-la incompreensível. A linguagem, nesses casos, transforma-se algo em si mesma. O objetivo de “por em comum” uma informação se perde. Pelo fato de “linguagem” constituir elemento central do tem a proposto, convém investigar o seu conceito. Para o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Michaelis, linguagem é o conjunto de sinais falados (glótica), escritos (gráfica) e gesticulados (mímica), de que se serve o homem para exprimir suas ideias e sentimentos. Ou , ainda, qualquer meio para exprimir sensações ou ideias. Uma linguagem é um sistema (conjunto articulável) de signos que combinados entre si, podem produzir uma multiplicidade infinita de significados. Linguagem é o objeto de estudo da linguística. Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Tal ciência funda-se em observações conduzidas por meio de metodologia, em basada em uma teoria. Portanto, a função da linguística é estudar toda e qualquer manifestação linguística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado. É fundamental ter uma noção do que vem a ser linguagem e de sua ciência, a linguística para analisarmos a linguagem jurídica, q eu é um tipo muito específico de linguagem. Se a linguagem (com um) é estudada pelo linguista, o campo de ação do jurista é a linguagem jurídica. Retomando, a linguagem é uma modalidade sistematizada do processo Mas, se para nos comunicarmos através da linguagem, não estiverem presentes as condições p ara por em comum as ideias q eu pretendemos compartilhar, não haverá comunicação. Para que haja essa comunicação, uma equação simples deve estar sempre presente: O “emissor” transmite uma “mensagem” ao “receptor”, utilizando-se de um “meio”. Se houver interferências nesse trajeto, não haverá comunicação. EMISSOR → MENSAGEM → RECEPTOR (Meio de comunicação) São importantes os vetores: O emissor procura transmitir uma mensagem ao receptor. Tal percurso da mensagem _ do espírito do emissor para o receptor, através de um meio _ pode aparentemente ser simples mas eventualmente não se completa. Isso ocorre quanto há interferência no processo comunicacional e a mensagem não é transmitida. Estabelecendo-se um paralelo, a questão da comunicação através da linguagem, o processo ocorre exatamente com o a transmissão de um programa de rádio. Há um emissor, um rádio receptor e o conteúdo do que se transmite, que é a mensagem. Quando há interferências, a transmissão não se completa 2 LINGUAGEM TÉCNICA OU JARGÃO JURÍDICO. 2.1 Linguagem Jurídica Linguagem jurídica é o modo peculiar do uso da Língua Portuguesa, para comunicar, tornar comum, os fenômenos do Direito. Quem se utiliza desse recurso linguístico, normalmente, são os operadores do direito. Assim, como toda ciência, a Ciência do Direito possui palavras específicas para nominar fatos e fenômenos próprios do seu objeto de estudo. A crítica comum que se faz à linguagem jurídica é a de que ela é excessivamente rebuscada e propositadamente faz uso de expressões difíceis ou termos em latim. Mas, a linguagem jurídica não foi criada para ser um invólucro hermético que contém uma mensagem obscura somente inteligível por “iniciados”. Ocorre que a linguagem jurídica contém uma complexidade em si m esma. Diferentemente do que se pode pensar, os textos legais não estão acessíveis àqueles que simplesmente saibam ler. É claro que a interpretação gramatical, que é uma das modalidades mais simples de ( interpretação), resolve grande parte dos problemas hermenêuticos. Mas não todos. Assim, sempre haverá a necessidade de um técnico para resolver os problemas jurídicos. A forma mais simples de interpretação é a gramatical. Mas há outras: sistemática, lógica, integrativa, etc. Cumpre a o operador do Direito “ enxergar” a norma no contexto total do sistema jurídico. É isso que causa a dificuldade, justificada, no entendimento da linguagem jurídica pelas pessoas do povo. Por exemplo: A norma jurídica está organizada num sistema jurídico em forma de pirâmide, onde o ápice é preenchido pela Constituição Federal. Dentro da própria constituição, alguns mandamentos são mais importantes que outros, já que há normas formalmente constitucionalizadas e normas materialmente constitucionais. Mas se as normas constitucionais são hierarquizadas, como um cidadão comum poderá entender o texto em sua plenitude? Aí é que está o problema. Por ser a linguagem jurídica um a linguagem técnica, e lá não pode ser totalmente compreendia pela população. Tal tecnicismo, porém, deve ser “traduzido” para os não bacharéis pelos profissionais do direito. Quando vamos ao médico e ele nos fala que estamos doentes, naturalmente, queremos saber de que mal sofremos, se tem cura, e qual o remédio que deveremos tomar. Se o médico diz: Gripe; É curável; e tome alguns comprimidos se tiver febre, isso está dentro de nossa compreensão. Se, porém , ele disser que fomos acometidos pelo vírus Influenza B; que em alguns raros casos, pode ser mortal; e que será preciso medidas para tangenciarmos os sintomas periféricos, seguramente sairemos do consultório mais doentes do que entramos. No campo da Ciência do Direito, das leis e de sua respectiva criação; nos processos administrativos e judiciais; sem contar nas incontáveis formas de documentos internos que circulam na administração pública e no Judiciário, a linguagem jurídica deve ser o mais clara possível. Do contrário, ocorrerá o mesmo desentendimento do exemplo do médico. A linguagem jurídica, por ser uma linguagem técnica, não pode abrir mão do tecnicismo que lhe é fundamental, m as os profissionais do direito deverão usá-la da maneira mais simples possível. Não há com o vivermos sem essa linguagem técnica, q eu sempre ser á necessária por envolver uma ciência (Ciência do Direito). A Ciênciado Direito, como ciência superior que é, possui essa linguagem própria, o jargão jurídico (ou linguagem técnica). Uma peculiaridade sobre a Ciência do Direito é que ela é, no dizer de Paulo de Barros Carvalho, uma metalinguagem. No Dizer do renomado autor, Digníssimo Professor da P UC/SP e USP, a Ciência do Direito é a linguagem que estuda as normas jurídicas (que sã o constituídas pelo texto legal). Ciência do Direito é a linguagem que estuda a linguagem das normas – METALINGUAGEM. Eis mais uma das razões pelas quais as pessoas do povo têm dificuldades ao se depararem com um discurso jurídico, seja ele, a norma, uma petição inicial, um a sentença ou um acórdão do tribunal: Para a interpretação do discurso jurídico, muitas vezes, há necessidade do domínio da linguagem e da metalinguagem. Ora, o domínio da metalinguagem é peculiar aos técnicos acostumados com as sutilezas do sistema jurídico. Aqueles que têm uma visão sistêmica do Direito são capazes de entender um determinado texto jurídico como um fragmento de todo o Ordenamento Jurídico Nacional como quem vê um fragmento à luz do todo. Além da Ciência do Direito, o técnico do Direito trabalha com um vocabulário especial chamado de jargão jurídico. 2.2 Vocabulário Jurídico: Ao tratar do jargão de uma ciência, é preciso tomar as palavras e compará-las. Às vezes pode haver alteração de significado em relação c om a linguagem comum. São três os tipos de vocabulário jurídico: Unívocos, equívocos e análogos. 2.2.1 Vocabuário unívoco: O vocabulário unívoco é aquele em que as palavras têm um único significado na linguagem comum e na linguagem jurídica. Por exemplo: Furto (art. 155, CP): Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Está no conhecimento comum o sentido da palavra furto. Qualquer pessoa sabe que furtar significa “subtrair”, “surrupiar”, Objeto que propriedade de outra pessoa. 2.2.2 Vocabulário equívoco: O vocabulário equívoco é aquele em que as palavras possuem mais de um significado, devendo ser identificados pelo contexto; Competência (Art. 100 e seguintes do CPC). Júridico: Competência é a divisão da Jurisdição. Competência é a unidade territorial ou por matéria que delimita o poder de cada Juízo. Sentido comum: Competência é a capacidade que a pessoa tem p ara rea lizar bem uma tarefa. Exemplo interessante: “O juiz não tem competência para julgar este processo.” Evidentemente, não se está ofendendo o juiz. 2.2.3 Vocabulário análogo: O vocabulário análogo é aquele em que as palavras pertencem a um a mesma família ideológica, tendo o mesmo significado apesar de ter distinções semânticas. Resolução: (dissolução de um contrato ou ato jurídico). A resolução possui duas modalidades: a resilição, que ocorre por vontade das partes e a rescisão que ocorre como pena por inadimplência de uma das partes. Observe-se que as três palavras significam dissolução do contrato, mas há sutilezas de significado entre elas. Também há ocorrência do fenômeno da polissemia e homonímia. Palavras polissêmicas: são aquelas que de um mesmo significante extraem-se mais de um significado. É a propriedade que tem um a mesma palavra de apresentar vários significados. Polissemia vem de poli = muitos + sermos = significados. Às vezes, a variação de significado ocorre com o passar do tempo. A palavra possuía um sentido m ais literal, mas com o tempo o vocábulo passa a ser utilizado por uma determinada ciência com outro sentido. Interessante exemplo de palavra polissêmica nos traz Antônio Alvares da Silva. Em interessante trabalho intitulado “Etimologia e Conceito Histórico da Palavra ‘Vara’ ”, o autor, a partir de profunda pesquisa histórica na alisa a palavra “vara”, com o seu sentido de bastão e demonstra como tal vocábulo atualmente, na linguagem jurídica, passou a ter sentido diferente, de setor de atuação do juiz. Assim, hoje, há vara cível, penal, criminar, de família, etc. Segundo o autor, no período do Brasil-Reino e Brasil- Colônia, devido à dificuldade de acesso a diversas comunidades remotas, o juiz comparecia periodicamente ao povoado viajando a cavalo. Para tornar visível o seu poder e o seu cargo, portava um longo bastão chamado de “vara”. Tratava-se de uma lança de madeira. Tal aparato servia para demonstrar poder às pessoas menos cultas, que era ele o representante do Estado. A “vara” física, desapareceu da praxe jurídica. Mas por metonímia, houve uma mudança de contexto normal para fazer referência a outro contexto, o tipo de atuação do juiz. Assim, nos dias atuais, “vara” no sentido comum significa bastão. Já “vara” no sentido jurídico significa área de atuação do juiz. Uma mesma palavra, com significados diversos. No Dizer de Regina Toledo Damião e Antonio H enriques: “[...] O profissional do Direito, conquanto a ciência jurídica busque a univocidade em sua terminologia, convive com um sem-número de palavras polissêmicas[...]” Para se ter uma ideia da grandeza do problema, a própria palavra JUSTIÇA significa tanto o aparelhamento estatal, um dos poderes do Estado Brasileiro e quer dizer dar a cada um o que é seu. Homonímia: é a identidade de som ou gráfica de dois ou mais morfemas que não têm o mesmo significado. Exemplo de homônimo homófono: Cessão: Ato de ceder; Seção: Parte, repartição pública; Sessão: Reunião No T RF-3 há uma ses são d a 3ª Seção, onde se reúnem, às quintas-feiras, os componentes do Órgão fracionário do Tribunal. Além disso, há também os parônimos. Parônimos: São palavras de sentido diverso, mas que se aproximam pela forma gráfica ou pelo som. Isso pode gerar confusões e equívocos. Exemplos: Mandato: Instrumento procuratório ou período em que um agente público desempenhará determinada função; Mandado: Ordem do juiz. Algo que manda, ordena. Lide: demanda, ação; Lida: trabalho. Emenda: Uma correção; Ementa: É o resumo do julgamento. Pelo que vimos até aqui, a linguagem jurídica sempre existir á por dizer respeito a uma ciência e por conter características técnicas. Devido à grande ocorrência de polissemias, homonímias e parônimas, somando-se o fato desenvolver metalinguagem e interpretação em diversos níveis, sempre haverá linguagem jurídica. Por se referira uma ciência superior que é o Direito, pode- se dizer que a linguagem jurídica é absolutamente necessária. 2 DISSERTAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO DISSERTAÇÃO Os textos jurídicos, normalmente são dissertações. Dissertar significa expor, apresentar ideias e um raciocínio através de palavras. A dissertação é uma modalidade textual onde ocorre a fundamentação do ponto de vista de quem escreve. Para isso, o autor do texto lança mão das relações de causa-consequência e de pontes de vista favoráveis à conclusão a que se pretende chegar. Na dissertação, nunca deve ser utilizada a primeira pessoa. O texto tem início, desenvolvimento e conclusão. No início, o assunto que será tratado é identificado e delimitado. Nesse momento, pode-se propor uma tese, que deverá serdiscutida no decorrer do desenvolvimento. Desenvolvimento é o momento em que aquilo que foi proposto, será analisado e apresentado progressivamente. Conclusão é o momento em que se faz um resumo forte de tudo o que foi anteriormente dito e deve expor uma avaliação final do tema. Note-se que a dissertação, que também é usa da no discurso jurídico, compõe-se de um silogismo, cujo esquema lógico é: 1.Premissa maior. 2. Premissa menor. 3. Conclusão. Embora simples esse esquema lógico seja poderoso e fugir muito dele pode significar navegar pelas águas perigosas da perplexidade de quem lê o texto jurídico. 3.1 Coesão e Coerência: Para a formação do texto como vimos, possui a estrutura dissertativa, devem-se ter presentes a coesão e a coerência. Há um encadeamento lógico de palavras que compõe um enunciado. Ao se associar este enunciado, com outros enunciados complementares, dentro de uma sequência coerente, lógica, alcança-se uma relação de conteúdo semântico que forma o texto ou o discurso jurídico. É comum encontrar-se petições iniciais com mais de 1 00 (cem) folhas. Não pense que isso ocorre quando a matéria é complexa por tratar de outros campos do conhecimento humano como a engenharia, a medicina, ou a contabilidade. As petições iniciais são recheadas de cópias de jurisprudências, citações de doutrina, que devido ao volume de papel e à extensão do texto, fica difícil, senão impossível ler tal documento. Tais delongas desnecessárias prejudicam a coesão e a coerência do texto. Vejamos o que constitui coesão e coerência: 3.1.1 Coesão: O texto tem uma lógica intrínseca entre as palavras que compõe dada frase. Sem essa lógica, não se há falar em frases, mas em palavras desconexas. A coesão é um fenômeno microtextual, ou seja, refere-se às palavras e à ligação destas dentro da frase. 3.1.2 Coerência: Coerência é a consistência lógica de um determinado enunciado tomado em si mesmo e dentro de todo o texto. O encadeamento lógico e a não-contradição entre segmentos de um determinado texto chama-se coerência. Em verdade, não se deve produzir um texto jurídico que foge ao entendimento do homem médio, que é o receptor do ato comucacional (jurídico). O advogado, quando chega a ser pernóstico, com o uso de expressões antiquadas, latim, citações de jurisprudências e doutrina, o texto de sua petição fica “carregado”, perde-se a linearidade do raciocínio empregado. Nunca se deve esquecer que a petição contém, ou pelo menos deveria conter, silogismos que induzem o leitor a percorrer um determinado raciocínio. No texto jurídico, sempre haverá premissa primária, premissa secundária e conclusão. Mas com o é possível concluir alguma coisa se a petição faz intermináveis rodeios, muitas vezes com a simples finalidade de demonstração de cultura? O texto jurídico possui uma finalidade prática e não se justificam as citações doutrinárias e jurisprudenciais em excesso. A final, quando se redige um a petição inicial, não se está produzindo um trabalho acadêmico. Como vimos, a linguagem jurídica é absolutamente necessária. Mas será necessária que a linguagem jurídica existe como forma de comunicação exclusiva entre operadores do direito? Foi ela criada e desenvolvida para tornar o povo alienado quanto ao seu conteúdo? Se o Direito é a cidadania em sua concretude plena, como é possível a existência de linguagem especial para ele. Ao examinarmos tais questões, que são importantíssimas, aparentemente, vislumbramos um afastamento dos desígnios democráticos previstos na Constituição Federal de 1988. Vejamos: Os processos judiciais contêm pretensões das pessoas do povo. Por lei, tais processos são todos, exceto casos especiais, públicos. Assim, um idoso, por exemplo, pode ir até o fórum conferir o andamento de seu processo de aposentadoria a qualquer tempo. Entretanto, ele dificilmente entenderá o seu conteúdo. O resultado é frustração e perplexidade. Se estivéssemos falando de um caso isolado, o problema estaria com a pessoa em questão, com o receptor da mensagem. Mas estamos tratando de um problema que se transformou numa verdadeira “praga” nacional. A perplexidade do leitor comum é grande. A situação chegou a tal ponto que problemas de comunicação já se faz sentir entre os próprios advogados e os juízes. Com o fito de amenizar esse problema, a associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) editou um pequeno manual, endereçado ao cidadão comum que, de modo leve e compreensível busca desfazer o mito de que escrever bem é escrever difícil. Ironizando as dificuldades da linguagem jurídica, a apresentação está escrita em castiço “juridiquês”: “ENTENDEU? Diagnosticada a mazela, põe-se a querela a avocar o poliglotismo. A solvência, a nosso sentir, divorcia-se de qualquer iniciativa legiferante. Viceja n a dialética meditabunda, ao inverso da almejada simplicidade teleológica, semiótica e sintática, a rabulegência tautológica, transfigurada em pluringuismo ululante indecifrável. Na esteira trilhada, somam -se aberrantes neologismos insculpidos por arremedos do insigne Guimarães Rosa, espalmados com o latinismo vituperante. Afigura-se até mesmo ignomismo o emprego da liturgia instrumental, especialmente por ocasião de sole nidades presenciais, hipótese em que a incompreensão reina. A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles arroladas acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da verdade real. A d argumentando tantum, os pleitos inaugurados pela Justiça pública, preceituando a estocástica que as imputações e defesas se escudem de forma ininteligível, gestando obstáculo à hermenêutica. Portanto, o hercúleo despendimento de esforços par a o desaforamento do ‘juridiquês’ deve contemplar igualmente a magistratura, o ínclito Parquet, os doutos patronos das partes, os corpos discentes e docentes dos magistérios das ciências jurídicas “ O texto acima (de modo exagerado?) m ostra como a linguagem jurídica se tornou hermética e como o conteúdo do que se escreve está distante do leitor, que se sente perplexo. Vejamos alguns vícios de linguagem comumente encontrados no discurso jurídico: 4.1 Arcaísmos: Arcaísmos são palavras caí das em desuso, mas que são inseridas no texto jurídico sob pretexto de demonstrar erudição. Uma pessoa que costumava lançar mão de arcaísmos era o falecido Presidente Jânio Quadros. Na época em que foi prefeito, alguns cidadãos referiam-se a ele como o “alcaide” de São Paulo. Tal palavra é um arcaísmo da palavra prefeito. Linguagem jurídica, os arcaísmos léxicos são os mais comuns devido a seu caráter conservador. A expressão “teúda e manteúda”, em português arcaico significam “tida e mantida”; A palavra “lídimo” significa “legítimo”; “Usança”, equivale a “uso”. Por mais incrível q eu pareça, é extremamente comum encontrarmos tais palavras e expressões do passado nos textos jurídicos. 4.2 Neologismos: A linguagem jurídica, como toda linguagem, é viva, estáem constante mutação e evolução. O aparecimento de novas palavras e de novas expressões, fenômeno chamado neologismo também ocorre na linguagem jurídica. Não se trata, na verdade, de criação de novas palavras, mas de transformação e composição. Em linguagem jurídica, fala-se em “MS”, quando queremos dizer “mandado de segurança”; “HC” é “habeas corpus”; decisão “monocrática” é aquela proferida por um único magistrado. Haverá evidente dificuldade de entendimento de tais expressões se o leitor/receptor for pessoa leiga. 4.3 Estrangeirismos: Estrangeirismos são influências de outras culturas ao nosso idioma. O fenômeno da globalização promoveu um intercâmbio de culturas sem precedentes. Há algumas palavras em linguagem jurídica que vieram do inglês e por nós é tratada sem tradução. Exemplo: “draw back” (regime especial aduaneiro). Outras palavras embora provenham de outra língua, têm tradução: Exemplo: factoring : faturização; e franchising: franquia. Tais expressões, quando usadas com exagero tornam a linguagem jurídica, literalmente, outra língua. 4.4 Latinismos: O uso de expressões em latim tem utilização exagerada na linguagem jurídica. É evidente que o uso discreto de algumas palavras pode se fazer necessário. O exemplo disso é expressão “habeas corpus”. O termo que significa tomada de corpo ou tomada do próprio corpo tem o uso tão arraigado na cultura jurídica que não há como utilizar equivalente. Mas o que se dizer de palavras e expres sões como: Cláusula rebus sic stantibus; data venia; venia conecessa; mandamus; in cansu etc. O latim, na linguagem jurídica, para alguns, é usado com o jóias espalhadas no texto. Servem para lhe dar brilho. Mas será documentos mais claros não comunicariam melhor? Ora, a função do texto é a comunicação e não a pirotecnia. O uso indiscriminado do latim constitui u m dos m ais sérios problemas d a linguagem jurídica, pois a pretexto de demonstrar erudição, conhecimento, os operadores do direito indiscriminadamente têm lançado mão desse recurso. O problema começa nos bancos universitários. Lembro-me que o latim era incentivado. Não como conhecimento de um idioma, mas como repertório de frases soltas para serem distribuídas. Ao escrever um texto jurídico, usávamos as frases sem ter conhecimento absoluto de seu conteúdo e sem nenhuma noção da estrutura da língua latina. 5 EXEM PLOS DE PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE PODERIAM SER SIMPLIFICADOS: A simplificação da linguagem jurídica é inadiável no dizer de José Ricardo Alvarez Vianna. A mentalidade de que a escrita arcaica, prolixa e rebuscada traduz alto grau de cultura de seu autor está fadada à extinção. Vianna, citando artigo de Alexandre Vidigal de Oliveira intitulado “Processo virtual e morosidade real” afirmou que: “o mal maior do Judiciário não está na morosidade do tramitar e sim no atraso em se julgar. 43 milhões de processos aguardam julgamento em todo país, segundo dados recentes do Conselho Nacional de Justiça (fevereiro/2008).” O maior problema da linguagem jurídica talvez esteja nas mãos do emissor. É ele que, conscientemente eleva a linguagem, escreve e fala termos difíceis, o que afasta o conteúdo da compreensão do cidadão comum e, frequentemente, dificulta o entendimento pelo juiz e pelos outros profissionais do Direito. Em Excelente artigo publicado na Revista Circulus, Novéli Vila Nova da Silveira Reis, Juiz Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, critica a linguagem utilizada pelos advogados, juízes e demais operadores do Direito. Ressalta que uma das conclusões aprovadas no Fórum de Debates sobre a Justiça Federal e sua Importância Política, promovido pelo Centro de Estudos Judiciários da Justiça Federal no período de 4 a 5 de março de 1994, em Brasília foi: “Recomendar aos juízes que utilizem, nos atos judiciais, linguagem acessível aos jurisdicionados ”. Aponta diversos exemplos de expressões usadas no dia-a-dia dos fóruns, que podem causas confusão: 5.1 “Parquet Federal” Por que usar essa expressão em francês? Não seria melhor dizer o nome em português? Diga-se apenas Ministério Público Federal, que todo mundo entende. Os autos estão com o Parquet Federal. Seguramente seria melhor dizer simplesmente: O processo está com o Ministério Público. 5.2 “Peça vestibular” Peça vestibular, exordial ou peça preambular, todos significam petição inicial. Petição inicial é a nomenclatura determinada pelo artigo 282, do Código de Processo Civil. Usemos a lei: Petição inicial. 5.3 “Preparo” Preparo é o pagamento das custas do processo em primeiro ou em segundo grau. Custas é um a palavra mais fácil, mais acessível para quem não é do ramo. Deveria, pois, ser mais utilizada. 5.4 “Recebo a apelação em seus regulares e jurídicos efeitos” O que se pretende dizer é: recebo a apelação nos efeitos suspensivo e devolutivo. O artigo 520 do Código de Pro cesso Civil utiliza-se dessa linguagem simples. Regulares e jurídicos soam como algo muito vago, que confunde o entendimento do leigo e dos jovens profissionais. 5.5 “Vistos, etc.” Não há conteúdo semântico nessa expressão e também não há determinação legal para que isso conste em qualquer ato judicial. CONCLUSÃO A linguagem jurídica é peculiar a um a ciência, a Ciência do Direito . Constitui-se, portanto, de linguagem técnica. Por envolver uma ciência superior que é o Direito, pode-se dizer que a linguagem jurídica é absolutamente necessária. Sempre haverá linguagem jurídica devido à grande ocorrência de polissemias, homonímias e parônimas. Além disso, envolve metalinguagem e interpretação sistêmica do Direito. A utilização excessiva de termos difíceis, arcaísmos, estrangeirismos e latim, podem prejudicar a comunicação, que é a finalidade do discurso jurídico. O texto jurídico, para ter aptidão comunicacional deve ter coesão e coerência. O texto jurídico deve ter as características de uma dissertação. Deve haver um esforço por parte de t odos os operadores do Direito, sejam eles advogados, juízes ou servidores do Poder Judiciários, no sentido de utilizar linguagem acessível ao jurisdicionado. REFERÊNCIAS Associação dos Magistrados Brasileiros. O Judiciário ao alcance de todos: noções básicas de juridiquês. Brasília, AMB, 2005. 76p. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2004. CHERRY, Colin. A comunicação humana: uma recapitulação, uma vista de conjunto e um a crítica. Tradução de José Paulo Paes. 2. Ed. São Paulo; Cultrix - Ed. Da Universidade de São Paulo, 1974. DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES Antonio. Curso de Português Jurídico. São Paulo: Atlas, 2004. PENTEADO, R. Wintaker. Técnica da Comunicação Humana. São Pa ulo: Pioneira, 1964. REIS, Novéli Vila Nova da Silveira Reis. O que não se deve dizer – Notas d e linguagem jurídica. Circulus: Revista da Justiça Federal do Amazonas, Manaus, v.2, n.4, p. 198-203, jul- dez 2004. SILVA, Antônio Álvares da. 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