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Bandura: teoria social cognitiva - cap 17

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dentro da manga apropriada. Entáo, o paí recompensa o 
filho semente por colocar o braco esquerdo inteiramente 
dentro da manga. Os mesmos procedimentos sao usados 
com a manga díreita, os botóes, as calcas, as meias e os 
sapatos. Assim que a enanca aprende a se vestir comple- 
tamente, o reforce nao precisa se seguir a cada tentativa 
bem-sucedida. Nesse momento, de fato, a habilidade de 
vestir toda a roupa se tornará urna recompensa em si. Ao 
que parece, a enanca poderá atingir o comportamento-alvo 
somente se o pai dividir o comportamento complexo em 
suas partes componentes e, entáo, reforcar as aproxima- 
cóes sucessivas para cada resposta, 
Nesse exernplo, como em todos os casos de condicío- 
namento operante, tres condicóes estáo presentes: o ante­ 
cedente (A). o romportamento (B) e a consequéncia (C). O an- 
tecedente (A) se refere ao ambiente ou ao contexto em que 
o comportamento acorre. Em nosso exemplo, o ambiente 
seria a casa ou algum outro lugar em que a enanca pudes- 
se vestir as roupas. A segunda condicáo essencial nesse 
exemplo é o comportarnento (B) do menino de se vestir. 
Essa resposta deve estar dentro do repertorio do menino 
e nao ter a interferencia de comportamentos paralelos ou 
antagonistas, como a distracáo dos irrnáos ou da televísao. 
A consequéncia é a recompensa (C), ou seja, o doce. 
Se o reforce aumenta a probabilidade de que deter- 
minada resposta se repita, en tao como o cornportamento 
pode ser moldado a partir de um cornportamento relati- 
vamente indiferenciado para um bastante complexo? Em 
outras palavras, por que o organismo simplesmente nao 
repete a antiga resposta reforcada? Por que ele emite no- 
vas respostas que nunca foram reforcadas, mas que, de 
forma gradual, avancarn em direcáo ao comportamento- 
-alvo? A resposta é que o comportamento nao é descon- 
tinuo, mas continuo; ou seja, o organismo, ern geral, se 
rnove um pouco além da resposta reforcada previamente. 
Se o comportarnento fosse descontinuo, a modelagem 
nao poderia ocorrer, porque o organismo ficaria estag- 
n.ado na simples emissao de respostas reforcadas previa- 
mente. Como o comportamento é contínuo, o organismo 
se rnove um pouco além da resposta antes reforcada, e 
esse valor um tanto excepcional pode, entao, ser usado 
como o novo padráo mínimo para reforce. (O organismo 
tarnbérn pode se mover um pouco para trás ou urn pouco 
para os lados, mas sornen te os movimentos de avance em 
dírecáo ao alvo desejado sao reforcados.) Skinner (1953) 
cornparou a modelagem do comportamento a um escul- 
tor moldando urna estátua a partir de urn grande bloco de 
argila. Ern ambos os casos, o produto parece ser diferente 
da forma original, mas a historia da transformacáo revela 
urn comportamento continuo, e nao um conjunto de pas- 
sos aleatórios. 
O comportamento operante sempre ocorre em algum 
ambiente, e este possui um papel seletívo na modelagem e 
na manutencáo do comportarnento. Cada um de nós tem 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 311 
Mesmo um comportamento complexo. como trabalhar no computador, 
é adquirido por meio de modelagem e acroximacoes sucessivas. 
Modelagem 
Na maioria dos casos de condicionamento operante, o 
comportamento desejado é muito complexo para ser emi- 
tido sem antes ser modelado pelo ambiente. Modelagem 
é o procedimento em que o experimentador ou o ambiente 
primeiro recompensa aproximacóes grosseíras do com- 
portarnento, depois aproximacóes mais refinadas e, final- 
mente, o comportamento desejado em si. Por meio desse 
processo de reforce de aproxímacóes sucessivas, o expe- 
rimentador ou o ambiente, de forma gradual, molda o com- 
plexo conjunto final de comportamentos (Skinner, 1953). 
A modelagem pode ser ilustrada pelo exernplo do 
treinamento de um menino com problemas mentais gra- 
ves para aprender a se vestir. O comportamento final da 
enanca é vestir toda a roupa. Se o pai retivesse o reforce 
até que o corres se o comportamen to-alvo, a crianca nunca 
completaria a tarefa com sucesso. Para treinar o menino, o 
pai deve dividir o comportamento complexo em segmen- 
tos simples. Prímeíro, o pai dá ao filho urna recompensa, 
digamos um doce, sempre que este se aproximar do com- 
portamento de posicionar .a mao esquerda perto da parte 
interna da manga esc¡uerda de sua camisa. Depois que o 
comportamento estiver suficientemente reforcado, o pai 
retém a recompensa até que a enanca coloque sua máo 
a maioria dos comportamentos é aprendida por rneio do 
condicionamento operante. A solucáo para o condicio- 
namento operante é o reforce imediato de urna resposta. 
O organismo, primeiro, faz algo e depois é reforcado pelo 
ambiente. O reforce, por sua vez, aumenta a probabilidade 
de que o mesmo comportamento ocorra de novo. Esse con- 
dicionamento é denominado condicionamento operante, 
porque o organismo opera no ambiente para produzir um 
efeito específico. O condicionarnento operante muda a fre- 
quéncía de urna resposta ou a probabilidade de que ocorra 
urna resposta. O reforce nao causa o comportarnento, mas 
aumenta a probabilidade de que ele seja repetido. 
sas condicóes é igualmente reforcado. O reforce, por tanto, 
pode ser dividido entre aquilo que produz urna condícáo 
ambiental benéfica e aquilo que reduz ou evita urna con- 
dicao nociva. O primeiro é chamado de reforco positivo; o 
segundo, de reforco negativo. 
Refor~o positivo. Qualquer estímulo que, quando acresci- 
do a urna situacáo, aumenta a probabilidade de que ocorra 
determinado cornportamento é denominado reforcador 
positivo (Skinner, 1953). Comida, água, sexo, dinheiro, 
aprovacáo social e conforto físico em geral sao exernplos de 
reforcadores positivos. Quando contingentes ao comporta- 
mento, cada um tema capaádade de aumentar a frequén- 
cia de urna resposta. Por exernplo, se aparecer água limpa 
sempre que urna pessoa .abrir a torneira da cozinha, entáo 
esse comportamento será reforcado, porque urn estímulo 
ambiental benéfico foi acrescído. Boa parte do comporta- 
mento humano e animal é adquirida por rneio de reforce 
positivo. Sob condicóes controladas, Skinner conseguiu 
treinar animais para realizarem urna grande variedade de 
tarefas relativamente complexas. 
Comos humanos, no entanto, o reforce, com frequén- 
cía, é acidental, e, portante, o aprendízadc é ineficiente. 
Outro problema com o condicionamento de humanos é 
determinar quais consequéncias sao reforcadoras e quais 
nao sao. Dependendo da historia pessoal, surras e repreen- 
sóes podem ser reforcadores e beijos e elogios podem ser 
punitivos. 
Refor~o negativo. A rernocáo de um estímulo aversivo 
de urna situacáo também aumenta a probabilidade de que 
ocorra o comportamento precedente. Tal rernocáo resulta 
em reforce negativo (Skinner, 1953). Reducáo ou esquiva 
de sons al tos, choques e fome seriam reforcadores negati- 
vos, porque fortalecem o comportarnento que as precede 
de imediato. O reforce negativo difere do reforce positivo 
urna vez que ele requer a remocáo de urna condicáo aversi- 
va, enquanto o reforce positivo envolve a apresentacáo de 
um estímulo benéfico. O efeito do reforce negativo, no en- 
tanto, é idéntico ao do positivo: ambos fortalecem o corn- 
portamento. Algumas pessoas comem porque elas gostam 
de urna comida em particular; outras comem para dimi- 
nuir a fome. Para o primeiro grupo, a comida é um reforca- 
dor positivo; para o segundo grupo, a remocáo da fome é 
urn reforr;ador negativo. Em ambos os casos, o comporta- 
men to de comeré reforcado porque as consequéncias sao 
gratificantes. 
Existe um número quase ilimitado de estímulos 
aversivos, cuja remocáo pode ser um reforce negativo. 
Ansiedade, por exemplo, costuma ser um estímulo aver- 
sivo, e qualquer comportamento que a reduza é reforca- 
dor. Esses comportamentos podem incluir fazer exercí- 
cios, reprimir lernbrancas desagradáveis, pedir desculpas 
por um comportamento ínapropriado, fumar, beber ál- 
cool e inúmeros ·outros comportamentos concebidos de 
Refor~o 
De acordo com Skinner (1987a), o reforcepossui dois 
efeitos: ele reforca o comportamento e recompensa a pes­ 
soa. Reforce e recompensa, portanto, nao sao sinónimos. 
Nem todo comportamen to que é reforcado é gratificante 
ou agradável para a pessoa. Por exemplo, as pessoas sao 
reforcadas por trabalhar, porérn muitas consideram seus 
empregos entediantes, desinteressantes e nao gratifican- 
tes. Os reforcadores existem no ambiente e nao sao algo 
percebido pela pessoa. O alimento nao é reforcador porque 
ele tem gosto bom; ao contrário, ele tem gosto bom porque 
é reforcador (Skinner, 1971). 
Todo comportamento que aumenta a probabilidade 
de sobrevivéncía da espécíe ou do indivíduo tende a ser 
fortalecido. Alimento, sexo e cuidado parental sao neces- 
sários para a sobrevivéncia das espécíes, e todo comporta- 
mento que produz tais condicóes é reforcado. Ferimentos, 
doencas e clima extremo sao prejudiciais a sobrevívéncia, e 
qualquer comportamento que tende a reduzir ou evitar es- 
urna história de ser reforcado pela reacáo a alguns elemen- 
tos em nosso ambiente, mas nao a outros. O histórico de 
reforce diferencial resulta em discriminacáo operante. 
Skinner alegava que a díscrirnínacáo nao é urna habilidade 
que possuímos, mas urna consequéncía de nosso histórico 
de reforce. Nao vamos para a mesa de jantar porque dis- 
cernimos que a comida está pronta; vamos porque nossas 
experiencias prévias de reacáo de urna forma similar foram, 
em sua maioria, reforcadas. Essa distincáo pode parecer 
urna falacia, mas Skinner defendía que ela possuía implica- 
cóes teóricas e práticas importantes. Os defensores da pri- 
rneira explícacáo veern a discriminacao corno uma funcao 
cognitiva, existindo dentro da pessoa, enquanto Skinner 
explicava tal cornportamento pelas díferencas ambientais e 
pelo histórico de reforce do indivíduo. A primeira explica- 
~º vai além do ámbito da observacáo empírica; a segunda 
pode ser estudada de modo científico. 
Urna resposta a um ambiente semelhante na ausencia 
de reforce prévío é chamada de generalízacáo do estímu- 
lo. Um exemplo de generalizacáo do estímulo é dado pela 
compra que urna estudante universitária faz de um íngres- 
so para um show de rock apresentado por urna banda que 
ela nunca viu nem ouviu, mas que alguérn lhe disse que é 
parecida com sua banda preferida. Técnicamente, as pes- 
soas nao generalízarn de urna situacáo para outra, mas elas 
reagem a urna nova situacáo da mesma maneira que rea- 
giram a urna anterior, porque as duas situacóes possuem 
alguns elementos idénticos, ou seja, comprar íngresso para 
um show de rock contém elementos comuns a comprar um 
ingresso para um show de rock diferente. Skinner (1953) 
expressou isso da seguinte maneira: "O reforce de urna res- 
posta aumenta a probabilidade de todas as respostas que 
contero os mesmos elementos" (p. 94). 
312 FEIST, FEIST & ROBERTS 
Reforfadores condicionados e generalizados 
A comida é um reforce para humanos e anímais, porque ela 
remove urna condicao de privacao. Mas como o dinheiro, 
que nao pode remover diretamente urna condicáo de priva- 
cáo, pode ser reforcador? A resposta é que o dinheiro é urn 
reforcador condicionado. Reforcadores condicionados 
(as vezes chamados de reforcadores secundarios) envolvem 
estímulos ambientais que nao sao por natureza satisfató- 
ríos, mas que se tomam satisfatórios porque se associam a 
reforcadoree primários nao aprendidos, como comida, água, 
sexo ou conforto físico. O dinheiro é um reforcador condi- 
cionado porque ele pode ser trocado por urna grande varíe- 
dade de reforcadores primários, Além dísso, constituí um 
reforcador generalizado, pois está associado a mais de 
um reforcador primário, 
Skinner (1953) reconheceu cinco reforcadores gene- 
ralizados importantes que sustentam muito do cornpor- 
tamento humano: atencáo, aprovacáo, afeicáo, subrníssao 
a outros e símbolos (dinheiro). Cada um pode ser usado 
como reforcador em uma variedade de situacóes. A aten- 
cáo, por exernplo, é uro reforcador condicionado generali- 
zado, porque está associada a reforcadores primarios como 
comida e contato físico. Quando as enancas estáo sendo 
alimentadas ou estáo no colo, e las também estáo receben- 
o comportamento do menino em relacáo a familia se tor- 
na mal-adaptativo. No entanto, esse comportamento ina- 
propriado serve ao propósito de impedir punicóes futuras. 
Skinner reconheceu os mecanismos de defesa freudianos 
clássicos como meios efetivos de evitar a dore sua ansie- 
dade concomitante. Apessoa punida pode fantasíar, proje- 
tar sentimentos nos outros, racionalizar comportamentos 
agressivos ou deslocá-los para outras pessoas ou animais. 
Puniµio e refor~o comparados. A punicáo apresenta vá- 
rías características ern comum corn o reforce, Assim como 
existem dois tipos de reforces (positivo e negativo), há 
dois tipos de punícáo, O primeiro requer a apresentacáo 
de urn estímulo aversivo; o segundo envolve a rernocáo de 
urn reforcador positivo. Um exemplo do primeiro é a dor 
sentida por cair em consequéncia de caminhar muito rá- 
pido em urna calcada congelada. Um exernplo do segundo 
é urna multa pesada dada a um motorista por dirigir em 
alta velocidade. O primeiro exemplo (cair) resulta de urna 
condicáo natural; o segundo (ser multado) decorre de urna 
intervencáo humana. Esses dais tipos de punicáo revelam 
urna segunda característica comurn a punicáo e ao reforce: 
ambos podem derivar de consequéncias naturais ou da im- 
posicáo humana. Por fim, tanto a punicáo quanto o reforce 
sao meios de controlar o comportamento, seja o controle 
premeditado ou por acaso. Skinner, obviamente; prefería 
o controle planejado, e seu livro Walden JI (Skínner, 1948) 
apresenta muitas de suas ideias sobre o controle do corn- 
portamento humano. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 313 
Punifiío 
Reforce negativo nao deve ser confundido com punicáo. 
Os reforcadores negativos rernovem, reduzem ou evitam 
estímulos aversivos, enquanto punicáo é a apresentacáo 
de um estímulo aversívo, como um choque elétrico, ou a 
rernocáo de urn estímulo positivo, como desligar o telefone 
de um adolescente. Um reforcador negativo fortalece urna 
resposta; a punicáo nao. Ainda assim, ela também nao a 
enfraquece inevitavelmente. Skinner (1953) concordou 
com Thorndike que os efeitos da punícáo sao menos preví- 
síveis do que os da recompensa. 
Efeitos da puni~iio. O controle do comportamento hu- 
mano e animal é mais bem servido pelos reforces positivo 
e negativo do que pela punicáo, Os efeitos da punicáo nao 
sao opostos aos do reforce, Quando as contingencias de 
reforce sao estritamente controladas, o comportamento 
pode ser modelado com precisáo e previsto com exatídáo. 
Com a punicáo, no entanto, essa exatidáo nao é possível. 
A razáo para tal discrepancia é simples. A punicáo costu- 
ma ser imposta para impedir que as pessoas ajam de urna 
maneira particular. Quando ela tem sucesso, as pessoas 
param de se comportar daquela maneira, mas ainda preci- 
sam fazer algo. O que elas fazem nao pode ser previsto com 
exatidáo, porque a punícáo nao diz o que elas devem fa- 
zer; ela meramente suprime a tendencia a se comportarem 
da maneira indesejável. Como consequéncia, um efeito da 
punicáo é suprimir o comportamento. Por exernplo, se um 
menino provoca sua irmá menor, seus país podern fazé-lo 
parar batendo nele, mas, infelizmente, essa punícáo nao irá 
melhorar sua disposicáo em relacáo a irrná. Ela apenas su- 
prime a provocacáo por urn tempo ou na presenca dos pais. 
Outro efeito da punicáo é o condicionamento de um 
sentimento negativo pela associacáo de um forte estimulo 
aversivo como comportamento que está sendo punido. No 
exemplo anterior, se a dor da surra for forte o suficiente, 
ela instigará urna resposta (choro, retrairnento, ataque) 
que é incompatível com o comportamento de provocar a 
irrná menor. No futuro, quando o menino pensar em tra- 
tar mal a irmá mais nova, esse pensamento pode provocar 
urna resposta condicionada dássica, como medo, ansieda- 
de, culpa ou vergonha.Tal emocáo negativa serve, entáo, 
para impedir que o comportamento indesejável se repita. 
Lamentavelmente, ela nao oferece ínstrucáo positiva algu- 
ma para a crianca. 
Um terceiro resultado da punicáo é a difusfío de seus 
efeitos. Todo estímulo assocíado com a punicáo pode ser 
suprimido ou evitado. Em nosso exernplo, o menino pode 
aprender a evitar sua irmá menor, ficar longe dos país ou 
desenvolver sentimentos negativos em relacáo a palmada 
ou ao lugar em que a palmada ocorreu. Em consequéncia, 
forma intencional ou nao para reduzir o caráter desagra- 
dável da ansiedade. 
urn grao de racáo, contante que ele tenha sido previamente 
reforcado em urna proporcáo rnais baixa. 
Tecnicamente, quase nenhuma escala de pagamento 
para humanos segue um esquema de razáo fixa ou de outro 
tipo, porque os trabalhadores, em geral, nao comecarn com 
urn esquema de reforce continuo imediato. Urna aproxima- 
cae de um esquema de razéo fixa seria o pagamento de pe- 
dreiros que recebem urna quantidade fixa de dinheiro para 
cada tijolo que colocam. 
Raziío variáve! (VR). Com um esquema de razáo com 
relacáo fixa, o organismo é reforcado depois de cada ené- 
sima resposta. Com a o esquema de razáo variável, ele 
é reforcado após a enésima resposta em media. Mais urna 
vez, o treinamento deve comecar com reforce continuo, 
prosseguir para um número baixo de respostas e, entáo, 
aumentar para urna taxa mais alta de resposta. Uro pombo 
recompensado a cada terceira resposta em médía pode de- 
senvolver um esquema de até VR 6, depois VR 10 e assim 
por diante; porérn, o número rnédío de respostas deve ser 
aumentado de forma gradual, para evitar a extincdo. Depois 
de alcancada urna média alta, digamos VR 500, as respos- 
tas se tomam extremamente resistentes a extincáo, {Mais 
detalhes sobre a taxa de extincáo sao fomecidos na próxi- 
ma secáo.) 
Para os humanos, jogar em caca-níqueis é urn exemplo 
de esquema de razáo variável. A máquina é ajustada para 
pagar em determinado ritmo, mas o ritmo deve ser flexí- 
vel, ou seja, variável, para impedir que os jogadores preve- 
jam os pagamentos. 
Intervalo fixo. Com um esquema de intervalo fíxo, o 
organismo é reforcado para a prírneíra resposta após um 
período de tempo designado. Por exemplo, Fl 5 indica que 
o organismo é recompensado por sua primeira resposta 
após cada 5 minutos de intervalo. Os empregados que tra- 
Como as máquinas caca-nroueís pagam com um esquema de razao 
variável, algumas pessoas se tornam jogadoras compulsivas. 
Raziío fixa (FR). Com um esquema de razáo fixa, o or- 
ganismo é reforcado de forma intermitente, de acorde corn 
o número de respostas que ele dá. Razáo refere-se a pro- 
porcáo entre respostas e reforcadores. Um experimentador 
pode decidir recompensar um pombo corn um grao de ra- 
c;ao a cada quinta bicada que ele der em um disco. O pombo 
é, entáo, condicionado ern um esquema de relacáo fixa de 5 
para l, ou seja, FR 5. 
Quase todos os esquemas de reforce cornecam corn re- 
force continuo, mas, em seguida, o experimentador pode 
avancar da recompensa continua para um reforce inter- 
mitente. Da mesma forma, esquemas de razáo fixa extre- 
mamente alta, como 200 para l, devem cornecar com urna 
proporcáo baixa de respostas e, de modo gradual, avancar 
para urna mais .alta. Um pombo pode ser condicionado a 
trabalhar por longo tempo e de modo rápido em troca de 
Esquema de re/orfo 
Todo comportamento seguido pela apresentacáo de urn re- 
forcador positivo ou pela remocáo de um estímulo aversi- 
vo tende, depois disso, a ser mais recorrente. A frequéncia 
desse comporta mento, no en tanto, está sujeita as condi- 
cóes sob as quais ocorreu o treinamento, de forma rnais 
específica, as várias prograrnacóes de reforce {Ferster & 
Skinner, 1957). 
O reforce pode seguir o comportamento em urna pro- 
grarnacáo continua ou intermitente. Com um esquema 
de reforce continuo, o organismo é reforcado a cada res- 
posta. Esse tipo de esquema aumenta a frequéncia de urna 
resposta, mas é urn uso ineficiente do reforcador, Skinner 
prefería os esquemas intermitentes nao só porque eles 
fazem uso mais eficiente do reforcador, mas tambérn 
porque produzem respostas rnais resistentes a extíncao. 
É in teressante observar que Skinner comecou a usar os 
esquemas intermitentes porque ele estava com estoque 
baixo de racáo {Wiener, 1996). Os esquemas intermitentes 
baseiarn-se no comportamento do organismo ou no tempo 
decorrido; eles podem ser estabelecidos ero urna frequén- 
cia fixa ou variar de acorde com uro programa aleatório. 
Ferster e Skinner {1957) reconheceram urn grande número 
de esquemas de reforce, mas os quatro esquemas intermi- 
tentes básicos sáo: razdo fixa, razdo variáve/, intervalo fixo e 
intervalo variável. 
do atencáo, Depois que comida e atencáo sao combinadas 
por várias vezes, a atencáo, em si, se toma reforcadora, 
pelo processo de condicionamento respondente {clássico). 
Criancas, e adultos também, trabalham por atencáo sem 
qualquer expectativa de receberem comida ou contato fí- 
sico. De forma muito parecida, a aprovacáo, a afeicáo, a 
submissáo a outros e o dinheiro adquirem valor de reforce 
generalizado. O cornportamento pode ser modelado e as 
respostas aprendidas, com reforcadores condicionados ge- 
neralizados constituindo um único reforce. 
314 FEIST, FEIST & ROBERTS 
Sele~o natural 
A personalidade humana é produto de urna longa histó- 
ria evolutiva. Corno individuos, nosso comportarnento é 
determinado pela composícáo genética e especialmente 
por nossos históricos de reforcamento pessoais. Como es- 
pécie, no entanto, somos modelados pelas contingencias 
da sobrevivéncía. A selecao natural desempenha um pa- 
Nossa discussáo a respeito da teoria skinneriana até este 
ponto tratou, principalmente, da tecnología do compor- 
tarnento, urna tecnologia baseada, sobretudo, no estudo 
de animais. Mas os princípios do comportamento coleta- 
dos de ratos e pombos se aplicam ao organismo humano? 
A visáo de Skinner (1974, 1987a) era que o conhecimento 
do comportarnento de animais de laboratório pode se ge- 
neralizar para o comportamento humano, assim como a 
física pode ser usada para interpretar o que é observado 
no espaco exterior e um conhecímento de genética bási- 
ca pode ajudar na ínterpretacao de conceitos evolutivos 
complexos. 
Skinner (1953, 1990a) concordava com John Watson 
(1913) em relacáo ao fato de que a psicología deve ser limi- 
tada a um estudo científico dos fenómenos observáveis, ou 
seja, o comportamento. A ciencia deve cornecar pelo sim- 
ples e avancar para o mais complexo. Essa sequéncia pode 
avancar do comportamento dos animais para o dos psicóti- 
cos, para o das enancas com límítacóes cognitivas, daí para 
o de outras enancas e, por fim., para o comportamento 
complexo dos adultos. Skinner (1974, 1987a), portante, 
nao fez apologia para comecar como estudo de animais. 
De acorde com Skinner (1987a), o cornportamento 
humano (e a personalidade humana) é modelado por tres 
forcas: (1) a selecáo natural, (2) as práticas culturais e (3) 
o histórico de reforce do individuo, que acabamos de dis- 
cutir. No en tanto, • tudo é urna questáo de selecáo natural, 
urna vez que o condicionamento operante é um processo 
evoluído, do qual as práticas culturais sao aplkacóes espe- 
dais" (p. 55). 
0 ORGANISMO HUMANO 
extincáo. Esse achado sugere que o elogio e outros refor- 
cadores devem ser usados corn moderacáo no treinamen- 
to de enancas. 
A extincáo raramente é aplicada de modo sistemático 
ao comportamento humano fora da terapia ou da modifi- 
cacao do cornportamento, A maioria de nós vive ern am- 
bientes relativamente imprevísíveis, e quase nunca experi- 
mentamos a retencáo metódica do reforce. Assirn, muitos 
de nossos comportamentos persistem por urn longo pe- 
ríodo de tempo, porque eles estáo senda reforcados de for- 
ma intermitente, muito embora a natureza desse reforce 
possa ser obscura para nós. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 315 
ExtinfiiO 
Depois de aprendidas,as respostas podem ser perdidas 
por, pelo menos, quatro razéies. Prirneiro, elas podern sim- 
plesmen te ser esquecidas com a passagem do tempo. Se- 
gundo, e mais provável, elas podem ser perdidas devido a 
interferencia de aprendizado precedente ou subsequente. 
Terceíro, elas podem desaparecer devido a punícáo. E quar- 
to, devido a extincáo, definida como a tendencia de urna 
resposta previamente adquirida se tomar enfraquecida de 
modo progressivo com a ausencia de reforce, 
A extincáo operante ocorre quando um pesquisador 
retérn de modo sistemático o reforce de urna resposta pre- 
viamente aprendida até a probabilidade de que aquela res- 
posta diminua até zero. O ritmo da extincáo operante de- 
pende, em grande parte, do esquema de reforce soba qua! 
o aprendizado ocorreu. 
Comparado com as respostas adquiridas em um es- 
quema continuo, o comportamento treinado com um es- 
quema intermitente é muito mais resistente a extincáo. 
Skinner (1953) observou 10 mil respostas nao reforcadas 
com esquemas intermitentes. Tal comportamento parece 
se autoperpetuar e é praticamente indistingufvel do com- 
portamen to que díspoe de autonomia funcional, um con- 
ceito sugerido por Gordon Allport e discutido no Capítulo 
12. Em geral, quanto mais alta a taxa de respostas por re- 
force, rnais lento o ritmo de extincáo; quanto menos res- 
postas um organismo precisa dar ou quanto maís curto o 
tempo entre os reforcadores, mais rapidamente ocorre a 
balham por salario ou por pagamento se aproximam de um 
esquema de intervalo fuco. Eles sao pagos todas as sema- 
nas, a cada duas semanas ou a cada mes; mas essa progra- 
macáo de pagamento nao é estritamente um esquema de 
intervalo foco. Ainda que os pombos geralmente apresen- 
tem um impulso no trabalho próximo ao final do período 
de tempo, a maioria dos trabalhadores humanos distribui 
seus esforcos de modo uniforme, em vez de trabalharem 
pouco a maior parte do tempo e, depois, se ernpenharem 
mais no final do período. Essa situacáo se deve, em parte, 
a fatores como supervisores atentos, arneacas de demissáo, 
promessas de promocáo ou reforcadores autogerados. 
Intervalo vorióvel (VI}. Urn esquema de intervalo va- 
riável é aquele em que o organismo é reforcado após de- 
corridos períodos de tempo aleatórios ou variados. Por 
exemplo, V1 5 significa que o organismo é reforcado após 
intervalos de duracáo aleatória que tém, em médía, 5 mi- 
nutos. Tais programacóes resultam em mais respostas por 
intervalo do que os esquemas de intervalo fuco. Para os hu- 
manos, o reforce resulta, coro mais frequéncia, do próprío 
esforco do que da passagem do tempo. Por essa razáo, os 
esquemas de razáo sao mais comuns do que os de interva- 
lo, e o esquema com intervalo variável é provavelmente o 
menos comum de todos. 
Autoconsciencia 
Skinner (1974) acreditava que os humanos nao só tém 
consciencia como tarnbérn estáo cientes da própria cons- 
Estados internos 
Ainda que rejeitasse explícacóes do comportamento fun- 
damentadas em construtos hipotéticos nao observáveis, 
Skinner (1989b) nao negava a existencia de estados in- 
ternos, como sentimentos de amor, ansiedade ou medo. 
Os estados internos podern ser estudados como qualquer 
outro comportamento, porérn sua observacáo é, obvia- 
mente, limitada. Em urna comunicacáo pessoal de 13 de 
junho de 1983, Skinner referiu: "Acredito que seja pcssí- 
vel falar sobre eventos privados e, em particular, estabe- 
lecer os limites comos quais fazemos isso com tanta exa- 
tídáo. Acredito que isso coloca dentro do alcance os assím 
chamados de 'nao observáveis'". Qual é, entáo, o papel de 
estados internos como autoconsciéncía, impulsos, erno- 
coes e propósito? 
Evolu~ao cultural 
Em seus últimos anos, Skinner (1987a, 1989a) elaborou 
de modo mais integral a importancia da cultura na mode- 
lagem da personalidade humana. A sele~do é responsável 
pelas práticas culturais que sobreviveram, da mesma forma 
que desempenha urn papel crucial na historia evolutiva dos 
humanos e também nas contingencias de reforce, "As pes- 
soas nao observam práticas particulares para que o grupo 
tenha maior probabilidade de sobreviver; elas as observarn 
porque os grupos que índuzirarn seus membros a fazer isso 
sobreviveram e as transmitiram" (Skinner, 1987a, p. 57). 
Em outras palavras, os humanos nao tomam urna decisáo 
cooperativa para fazer o que é melhor para a sociedade, mas 
as sociedades cujos rnembros comportararn-se de modo 
cooperativo tenderam a sobreviver. 
Práticas culturais como a fabrícacáo de ferramentas e o 
comportamento verbal comecaram quando um individuo 
foi reforcado por usar urna ferramenta ou por pronunciar 
urn sorn distintivo. Corn o tempo, desenvolveu-se urna 
prática cultural que era reforcadora para o grupo, embora 
nao nece.ssariamente para o individuo. Tanto a fabricacáo 
de ferrarnentas quando o comportamento verbal possuem 
valor de sobrevívénda para um grupo, mas poucas pessoas 
agora fabricam ferramentas e ainda menos inventam no- 
vas línguagens, 
Os remanescentes da cultura, como aqueles da selecáo 
natural, nao sao todos adaptativos. Por exernplo, a divisáo 
de trabalho que evoluiu da Revolucáo Industrial .ajudou 
a sociedade a produzir mais bens, porém conduaiu a um 
trabalho que já nao é mais diretamente reforcador, Outro 
exernplo é a guerra, que, no mundo pré-industrializado, be- 
neficiou certas sociedades, mas, agora, evoluiu como urna 
ameaca para a existencia humana. 
pel importante na personalidade humana (Skinner, 1974, 
1987a, 1990a). 
O comportamento individual que é reforcado tende a 
ser repetido; do contrario, tende a se extinguir. Do mesmo 
modo, os comportamentos que, durante a história, foram 
benéficos para a espécíe tenderam a sobreviver, enquanto 
os reforcados apenas de modo idiossincrático tendiam a se 
extinguir. Por exernplo, a selecáo natural favoreceu aque- 
les individuos cujas pupilas dilatavam e contraíam com as 
alteracóes na ilurninacáo, Sua habilidade superior de en- 
xergar durante a luz do dia e a noite os capacitou a evitar 
perigos ameacadores a vida e a sobreviverem até a idade 
reprodutiva. De forma semelhante, os bebes cujas cabe- 
cas se voltavam na direcáo de um leve toque na bochecha 
eram capases de sugar, aumentando, assim, suas chances 
de sobrevivéncia e a probabilidade de essa característica de 
procura ser transmitida para sua prole. Esses sao apenas 
dois exernplos de vários reflexos que caracterizam o bebe 
humano hoje, Alguns, como o reflexo pupilar, continuam 
a ter valor para a sobrevivéncia, enquanto outros, como o 
reflexo perioral, sao de benefício menor. 
As contingencias de reforce e as de sobrevivéncia in- 
teragem, e alguns comportamen tos individualmente refor- 
cadores tambérn contribuem para a sobrevivéncia da es- 
pécíe, Por exernplo, o comportamento sexual costuma ser 
reforcador para um individuo, mas ele tambérn tern valor 
para a selecáo natural, porque os indivíduos que eram mais 
excitados pela estímulacáo sexual tarnbém eram os que ti- 
nham maior probabilidade de produzir urna prole capaz de 
padróes de comportamento similares. 
Nem todo remanescente da selecáo natural continua 
a ter valor de sobrevivéncia. Na história humana inicial, 
comer em excesso era adaptativo, porque permitía as pes- 
soas sobreviver durante os periodos em que o alimento era 
menos abundan te. Agora, nas sociedades em que o alimen- 
to está sempre disponível, a obesidade se tomou um pro- 
blema de saúde, e comer em excesso perdeu seu valor de 
sobrevívéncia. 
Ainda que a selecáo natural tenha ajudado a moldar 
parte do comportarnento humano, é provável que seja 
responsável por apenas um pequeno número de acóes das 
pessoas. Skinner (1989a) argumentou que as contingen- 
cias de reforce, em especial aquelas que moldaram a cul- 
tura humana, explicam a rnaior parte do comportamento 
humano. 
Podemos rastrear urna pequena parte do comporta- 
mento humano ... ·até a selecáo natural e a evolucáo da 
espécie, mas a maior parte do comportamentohumano 
deve ser rastreada até as contíngéncías de reforce, em 
especial as contíngéncías sociais muito complexas que 
chamamos de culturas. Somente quando levamos essas 
histórias em consíderacáo, é que podemos explicar por 
que as pessoas se comportam da forma como se com- 
portam. (p. 18) 
316 FEIST, FEIST & ROBERTS 
Comportamento complexo 
O comportamento humano pode ser bastante complexo, 
embora Skinner acreditasse que mesmo o comportamento 
mais abstrato e complexo seja moldado pela selecáo natu- 
ral, pela evolucáo cultural ou pela história e pelo reforce do 
indivíduo. Mais urna vez, Skinner nao negou a existencia 
de processos mentais superiores, como cognícáo, raciocí- 
nio e evocacáo, nern ignorou esforcos humanos complexos, 
como criatividade, comportamento inconsciente, sonhos e 
comportamento social. 
Propósito e intenfiio 
Skinner (1974) também reconheceu os conceitos de pro- 
pósito e íntencáo, porérn, mais urna vez, alertou contra a 
atribuicáo de comportamento a eles. Propósito e intencáo 
existem dentro do indivíduo, mas nao estáo sujeitos ao 
escrutinio externo direto. Um propósito constantemen- 
te sentido pode ser, por si só, reforcador, Por exemplo, 
se vecé acredita que seu propósito em correr é se sentir 
rnelhor e viver mais, entáo tal pensamento age como um 
estímulo reforcador, em especial durante o trabalho árduo 
da corrida ou quando tenta explicar sua motivacáo para 
alguérn que nao é corredor. 
Urna pessoa pode "pretender" assistir a um filme na 
noite de sexta-feira, porque assistir a filmes similares foi 
reforcador, No momento ern que a pessoa pretende ir ao 
cinema, ela sente urna condicáo física e a rotula como urna 
"intencáo". O que é chamado de intencóes ou propósitos, 
portanto, sao estímulos sentidos fisicamente dentro do 
organismo, e nao eventos rnentais responsáveis pelo com- 
portamento. "As consequéncías do comportamento ope- 
rante nao sao o que o cornportamento é no momento; elas 
sao apenas similares as consequéncias que o moldaram e o 
mantiverarn" (Skinner, 1987a, p. 57). 
Emoflíes 
Skinner (1974) reconheceu a existencia subjetiva das 
ernocóes, é claro, mas ele insistia ern que o cornportarnen- 
to nao <leve ser atribuído a elas. Ele explicava as emocóes 
pelas contingencias de sobrevívéncia e de reforce. Por 
milenios, os indivíduos que estavam mais fortemente 
dispostos para o medo ou para a raiva eram aqueles que 
escapavam ou triunfavam sobre o perigo e, assirn, eram 
capazes de transmitir essas características para a prole. 
Em um nível individual, os comportamentos seguidos 
por deleite, alegria, prazer e outras ernocóes agradáveis 
tendero a ser reforcados, aumentando, assim, a probabi- 
lidade de que tais comportamentos se repitam na vida do 
indivíduo. 
mente, no entanto, as explicacóes baseadas em constru- 
tos fictícios, como os impulsos ou as necessidades, sao 
apenas hipóteses nao verificáveis. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 317 
Impulsos 
Do ponto de vista do behaviorismo radical, os impulsos 
nao sao a causa do comportamento, apenas fíccóes expla- 
natórias. Para Skinner (1953), os impulsos referem-se sirn- 
plesmente aos efeítos de prívacáo e saciedade e a probabili- 
dade correspondente de que o organismo responda. Privar 
urna pessoa de comida aumenta a probabilidade de comer; 
saciar urna pessoa reduz essa probabilidade. Entretanto, 
pri vacáo e saciedade nao sao os únicos correlatos de comer. 
Outros fatores que aumentam ou diminuem a probabili- 
dade de comer sao a sensacáo de fome, a disponibilidade 
de comida e as experiencias prévias com reforcadores de 
comida. 
Se os psicólogos conhecessem o suficiente acerca dos 
tres aspectos essenciais do comportarnento (antecedente, 
comportamento e consequéncias), saberiam por que urna 
pessoa se comporta de determinada forma, ou seja, que 
impulsos estáo relacionados acomportamentos espedfi- 
cos. Somente entáo os impulsos teriarn um papel legítimo 
no estudo científico do comportamento humano. Atual- 
ciencia; eles nao estáo apenas conscientes de seu ambiente, 
mas tarnbém tém consciencia de si mesmos como parte 
do ambiente; alérn de observaremos estímulos externos, 
também estáo conscientes de si mesmos percebendo tais 
estímulos. 
O comportamento é funcáo do ambiente, e parte des- 
se ambiente está soba própría pele. Tal porcáo do universo 
é peculiarmente nossa e, portante, é privada. Cada pessoa 
está subjetivamente consciente dos próprios pensarnen- 
tos, sentimentos, recordacóes e intencóes, A autoconscién- 
cia e os eventos privados podem ser ilustrados pelo exem- 
plo seguinte. Urna trabalhadora relata para urna amiga: "Eu 
estava tao frustrada hoje que quase abandonei meu ern- 
prego". O que pode ser feíto com tal dedaracáo? Primeiro, 
o relato, em si, é um comportamento verbal e, como tal, 
pode ser e.studado da mesma maneira que outros compor- 
tamentos. Segundo, a declaracáo de que ela estava a ponto 
de abandonar seu emprego se refere a um nao comporta- 
mento. Respostas nunca emitidas nao sao respostas e, é 
claro, nao possuem significado para a análíse científica do 
comportamento. Terceíro, um evento privado transpira- 
va "dentro da pele" da trabalhadora. Esse evento privado, 
como seu relato verbal para a amiga, pode ser analisado 
científicamente, No momento em que a trabalhadora teve 
vontade de desistir, ela poderla ter constatado o seguinte 
comportamento oculto: "Estou observando dentro de mim 
graus crescentes de frustracáo que estso aumentando a 
probabilidade de que eu informe meu chefe de que estou 
indo ernbora". Essa declaracáo é rnais precisa do que dizer: 
"Quase abandonei meu ernprego" e se refere ao comporta- 
mento que, embora privado, está dentro das fronteiras da 
análise científica. 
Comportomento inconsciente 
Como behaviorista radical, Skinner nao podía aceitar a no- 
cáo de urn depósito de ideias ou ernocóes inconscientes. 
No entanto, aceitava a ideia de comportamento inconscien- 
te. De fato, corno as pessoas raramente observam a rela- 
c;:ao entre as variáveis genéticas e ambientais e o próprio 
comportamento, quase todo o nosso comportamento é 
motivado de forma inconsciente (Skinner, 1987a). Em um 
sentido mais limitado, o comportamento é rotulado como 
inconsciente quando as pessoas nao pensam rnais nele, 
porque ele foi suprimido pela punicáo. O cornportamento 
que tem consequéncias aversivas apresenta a tendencia de 
ser ignorado ou nao pensado. Urna crianca que foí puni- 
da várias vezes com severidade por um jogo sexual pode 
suprimir o cornportamento sexual e reprimir qualquer pen- 
sarnento ou lembranca de tal atividade. Por fírn, a crianca 
pode negar que a atividade sexual aconteca. Tal negafiio 
evita os aspectos aversivos associados a pensarnentos de 
punicáo e, assim, é urn reforcador negativo. Em outras pa- 
lavras, a crianca é recompensada por ndo pensar acerca de 
certos comportamentos sexuais. 
Um exemplo de nao pensar acerca de estímulos aver- 
sivos é urna crianca que se comporta de forma furiosa em 
relacáo a rnáe. Ao fazer isso, ela tarnbém exibe alguns com- 
portamentos menos antagonistas. Se o comportamento 
indesejável forpunido, ele será suprimido e substituído por 
comportarnentos mais positivos. Por fim, a crianca será re- 
compensada por gestos de amor, os quais, entáo, aurnen- 
taráo ern frequéncia, Depois de um tempo, seu comporta- 
men to se torna cada vez mais positivo e pode até mesmo 
parecer o que Freud (1926/1959a) denominou "amor rea- 
tivo", A enanca já nao tem rnais pensamentos de ódio em 
as espécies sern recorrer a urna mente onipotente criativa, 
tambérn o behaviorismo explica um comportarnento novo 
sem recorrer a urna mente criativa pessoal. 
O conceito de rnutacáo é crucial tanto para a selecáo 
natural quanto para o comportamento criativo. Em ambos 
os casos, sáo produzidas condícóes aleatórias ou acidentais 
que tém a mesma possibilidade de sobrevivéncia. Os escri- 
tores criativos alteram seu ambiente, produzindo, assim, 
respostas que térn algurna chance de serem reforcadas,Quando sua "criatividade seca", eles podem se mudar para 
um local diferente, viajar, ler, falar com outras pessoas, co- 
locar palavras no computador com pouca expectativa de 
que sejam o produto final ou podem experimentar várias 
palavras, sentencas e ideias de forma velada. Para Skinner, 
entáo, criatividade é simplesmente o resultado de cornpor- 
tarnentos a/eatórios ou addentais (manifestos ou encober- 
tos) que acabam sendo recompensados. O fato de algumas 
pessoas serern rnais criativas do que outras se deve a dife- 
rencas na dotacáo genética e a experiencias que moldaram 
seu comportarnento criativo. 
Criotividode 
Como o behaviorista radical explica a criatividade? Lógica- 
mente, se o comportamento nao fosse nada além de uma 
resposta prevísível a um estímulo, o cornportarnento cría- 
tivo nao poderia existir, porque apenas o comportamento 
previamente reforcado seria emitido. Skinner respondeu a 
esse problema comparando comportamento criativo com 
selecáo natural na teoría evolucionista. "Assirn corno os 
traeos acidentais, que surgem de mutacóes, sao selecíona- 
dos por sua contribuicáo para a sobrevivéncia, também as 
varíacóes acidentais no cornportamento sao selecionadas 
por suas consequéncias reforcadoras" (p. 114). Do mesmo 
modo como a selecao natural explica a díferenciacáo entre 
Processos mentois superiores 
Skinner (1974) adrnitia que o pensarnento humano é, en- 
tre todos os cornportamentos, o mais difícil de analisar; 
todavia, é possível entendé-lo, desde que nao se recorra 
a urna fíccao hipotética corno a "mente". Pensar, resolver 
problemas e recordar sao comportarnentos encobertos que 
ocorrem dentro do individuo, mas nao dentro da mente. 
Corno cornportarnentos, eles sao receptivos as mesmas 
contingencias de reforce dos comportamentos explícitos. 
Por exernplo, quando uma mulher perde as chaves do carro, 
ela procura por elas, porque um comportamento de busca 
similar já foi reforcado previamente. Da mesma maneira, 
quando ela nao consegue lembrar o norne de um conheci- 
do, ela procura aquele nome de modo encoberto, porque 
esse tipo de cornportamento já foi reforcado ern outra si- 
tuacáo. Entretanto, o norne do conhecido nao existia em 
sua mente rnais do que as chaves do carro. Skinner (1974) 
resumiu tal procedirnen to dízendo que" as técnicas de evo- 
cacao nao tém a ver corn urna busca ern um depósito da 
rnemória, mas com o aumento da probabilidade das res- 
postas" (p. 109-110). 
A resolucáo de problemas tambérn envolve o compor- 
tarnento encoberto e, corn frequéncia, requer que a pes- 
soa manipule de modo velado as variáveis relevantes até 
que seja encontrada a solucáo correta. Em última análise, 
essas variáveis sao ambientais e nao surgem como mági- 
co da mente da pessoa. Urn jogador de xadrez que parece 
irremediavelmen te acuado examina o tabuleiro e, de re- 
pente, faz um rnovirnento que permite a sua peca escapar. 
O que provocou esse insigh: inesperado? Ele nao resolveu 
o problema ern sua mente. Ele manipulou as várias pecas 
(nao as tocando, mas de forma velada), rejeitou movimen- 
tos nao acompanhados de reforce e, por fim, escolheu 
aquele que foi seguido por um reforcador interno. Ainda 
que a solucáo possa ter sido facilitada por suas experien- 
cias prévias de ler um livro sobre xadrez, ouvir conselhos 
de um especialista ou praticar o jogo, ela foi iniciada por 
contingencias ambientáis, e nao fabricada por maquina- 
<;oes mentais. 
318 FEIST, FEIST & ROBERTS 
costumes de urna cultura transcendem os meios de con- 
tracon trole de qualquer individuo e servem como variáveis 
potentes de controle na vida dos rnembros individuais. 
Um exernplo um tanto cómico de cornportamento 
inconsciente e controle social envolveu Skinner e Erich 
Frornrn, um dos críticos rnais severos de Skinner. Em urn 
encontro profissional no qual os dois partídpararn, Fromrn 
argurnentou que as pessoas nao sao pombos e nao podem 
ser controladas por meio de técnicas de condicionamento 
operante. Enquanto estava sentado em frente a Frornm, 
do outro lado da mesa, e ouvia tal tirada, Skinner decidiu 
reforcar o comportamento de Fromm ao acenar coro o 
braco, Ele passou um bilhete para um de seus amigos que 
dizia: "Observe a máo esquerda de Fromm. Vou modelar 
um movimento de corte" (Skinner, 1983, p. 151). Sernpre 
que Fromm erguia a máo esquerda, Skinner olhava direta- 
mente para ele. Se o braco esquerdo de Fromm abaixasse 
ern um rnovimen to de corte, Skinner sorria e balancava a 
cabeca coro aprovacáo. Se Frornrn rnantinha o braco rela- 
tivamente imóvel, Skinner olhava para outro lado ou apa- 
rentava estar entediado coro a fala de Fromm. Após 5 mi- 
nutos desse reforce seletivo, Fromm, inconscientemente, 
comecou a bater coro o braco de modo tao vigoroso que seu 
relógío de pulso deslizou sobre sua rnáo, 
Assim como Erich Fromm, cada um de nós é contro- 
lado por urna variedade de forcas e técnicas sociais, mas 
todas elas podem ser agrupadas sobos seguintes títulos: 
(1) condicionamento operante, (2) descrícáo de contingen- 
cias, (3) pri vacáo e saciedade e ( 4) restricáo física (Skinner, 
1953). 
A socíedade exerce controle sobre seus membros por 
rneio de quatro métodos principais de condicionarnento 
operante: reforce positivo, reforce negativo e duas técnicas 
de punicao (acrescentando um estímulo aversivo e remo- 
vendo um positivo). 
Urna segunda técnica de controle social é descrever 
para urna pessoa as contingencias de reforce. Isso envol- 
ve a linguagern, geralrnente verbal, para informar as pes- 
soas das consequéncias de seu comportarnento ainda nao 
emitido. Muitos exemplos de descricáo das contingencias 
estáo disponíveis, em especial ameacas e promessas. Um 
meio mais sutil de controle social é a propaganda, concebi- 
da para manipular as pessoas para comprarem certos pro- 
dutos. Em nenhum desses exemplos, a tentativa de con- 
trole será perfeitamen te bern-sucedída, embora cada urna 
delas aumente a probabilidade de ser emitida a resposta 
desejada. 
Terceiro, o cornportarnento pode ser controlado pri- 
vando as pessoas ou satisfazendo-as com reforcadores. 
Mais urna vez, mesmo que a prívacáo e a saciedade sejarn 
estados internos, o controle se origina coro o ambiente. 
As pessoas privadas de comida tém maior probabilidade 
de comer, aquelas saciadas tero menor probabilidade de co- 
mer, mesmo quando urna refeicáo deliciosa está disponível. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 319 
Controle social 
Os individuos agern para formar grupos sociais, porque tal 
comportamento tende a ser reforcador, Os grupos, por sua 
vez, exercern controle sobre seus membros formulando 
leis, regras e costumes, escritos ou nao escritos, que pos- 
suern existencia física que vai alérn da vida dos individuos. 
As leis de urna nacáo, as regras de urna organizacáo e os 
Controle do comportamento humano 
Por firn, o cornportamento de um individuo é controlado 
por contingencias ambientais. Essas contingencias podem 
ser impostas pela sociedade, por outro individuo ou pelo 
proprio individuo, mas o ambiente, nao o livre-arbítrio, é 
responsável pelo comportamento. 
Comportamento social 
Os grupos nao agem; apenas os individuos. Os individuos 
estabelecern grupos porque foram recompensados por fa- 
zer isso. Por exemplo, os individuos formam das de modo 
que possarn ser protegidos contra animais, desastres na- 
turais ou tribos inimigas. Também formam governos, fun- 
dam ígrejas ou se tornarn parte de urna multidáo sern re- 
gras, porque eles sao reforcados por esse comportamento. 
A filiacáo a um grupo social nern sempre é reforcadora; 
no en tan to, pelo menos por trés razóes, algumas pessoas 
continuam como membros de um grupo. Primeiro, podem 
permanecer em um grupo que abusa delas porque alguns 
membros do grupo as estáo reforcando: segundo, algumas 
pessoas, especialmente as enancas, podem nao possuir os 
meios para deixar o grupo; e terceiro, o reforce pode ocor- 
rer de forma intermitente, de modo que o abuso sofrido 
por um individuo é mesclado comrecompensa ocasional. 
Se o reforce positivo for forte o suficiente, seus efeítos se- 
ráo mais fortes do que os da punicáo. 
Sonhos 
Skinner (1953) considerava os sonhos como formas vela- 
das e simbólicas de comportamento que estáo sujeitas as 
mesmas contingencias de reforce que os demais comporta- 
men tos. Ele concordava coro Freud sobre os sonhos serví- 
rern ao propósito de satisfacáo do desejo. O cornportamen- 
to do sonho é reforcador quando é permitida a expressáo 
de estímulos sexuais ou agressivos reprimidos. Realizar as 
fantasias sexuais e; de fato, infligir dano a um inirnigo sao 
dois cornportamentos com probabilidade de estar asso- 
ciados a punícáo. Até mesmo pensar veladamente nesses 
comportarnentos pode ter efeitos punitivos, mas, nos so- 
nhos, esses cornportarnentos expressam-se de modo sim- 
bólico e sern que urna punicáo os acompanhe. 
relacáo a máe e se comporta de forma excessívarnente cari- 
nhosa e subserviente, 
Estratégias de combate 
Quando o controle social é excessivo, as pessoas podem 
usar estratégías básicas para combate-lo - elas podem 
fugir, revoltar-se ou usar a resistencia passiva (Skinner, 
1953). Com a estratégia defensiva de fuga, as pessoas se 
afastam do agente controlador física ou psicologicamente. 
Nesse caso, encontram dificuldade em se envolverem em 
relacóes pessoais intimas, tendem a ser desconfiadas e pre- 
ferem ter vidas solitárias, sem envolvimento. 
As pessoas que se revoltam contra os controles da so- 
dedade se comportam de modo mais ativo, combatendo o 
agente controlador. Elas podem se rebelar vandalizando a 
propriedade pública, atormentando professores, agredíndo 
verbalmente outros individuos, furtando equipamento dos 
patróes, provocando a polícia ou derrubando organlzacóes 
estabelecidas, como relígíóes ou govemos. 
As pessoas que combatem o controle por meio da re­ 
sistencia passiva sao mais sutis do que as que se rebelam e 
mais irritantes para os controladores do que aquelas que 
Infelizmente, as técnicas de controle social e autocontrole 
por vezes produzem efeitos nocivos, o que resulta em corn- 
portamen to inapropriado e no desenvolvimento de urna 
personalidade desadaptada. 
A PERSONALIDADE DESADAPTADA 
mentas, máquinas e recursos financeiros, para alterar seu 
ambiente. Por exemplo, urna pessoa pode levar um dínheí- 
ro extra quando vai as compras para se dar a opcáo de com- 
prar por impulso. Segundo, as pessoas podem alterar seu 
ambiente, aumentando, assim, a probabilidade do cornpor- 
tarnento desejado. Por exemplo, um estudante que deseja 
se concentrar em seus estudos pode desligar urna TV que 
o está distraindo. Terceiro, as pessoas podem organizar 
o ambiente de forma que possarn escapar de um estímu- 
lo aversivo apenas produzindo a resposta apropriada. Por 
exernplo, urna rnulher pode ajustar o despertador de forma 
que o som aversivo só possa ser interrompido se ela sair da 
cama para desligar o alarme. 
Quarto, as pessoas podem usar substancias, especial- 
mente álcool, como um meio de autocontrole. Por exem- 
plo, um homem pode ingerir tranquilizantes para tornar 
seu comportamento mais calmo. Quinto, as pessoas po- 
dem simplesmente fazer outra coisa para evitar se corn- 
portarem de urna forma indesejável. Por exernplo, urna 
mulher obsessiva pode contar os padrees repetitivos no 
papel de parede para evitar pensar em experiencias prévias 
que gerariam culpa. Nesses exemplos, os comportamentos 
substitutos sao reforcadores negativos, porque permitem 
que a pessoa evite cornportamen tos ou pensarnentos de- 
sagradáveis. 
A restricao física é um meio de controle social. 
Autocontrole 
Se a liberdade pessoal é urna fíccáo, en tao como urna pes- 
soa pode exercer o autocontrole? Skinner diría que, da 
mesma forma como as pessoas podem alterar as variáveis 
no ambiente de outro índívíduo, elas também podem ma- 
nipular as variáveis dentro do próprio ambiente e, assim, 
exercer alguma medida de autocontrole. As contingencias 
de autocontrole, no en tanto, nao residem dentro do indi- 
viduo e nao podem ser livremente escolhidas. Quando as 
pessoas controlarn o próprio comportamento, elas fazem 
isso manipulando algurnas variáveis que usariam no con- 
trole do comportamento de outra pessoa, e, em última aná- 
lise, essas varíáveis se encontram fora delas. 
Skinner e Margaret Vaughan (Skinner & Vaughan, 
1983) discutiram várias técnicas que as pessoas podem 
usar para exercer autocontrole sem recorrer ao livre-arbí- 
trio. Primeiro, elas podern usar ajuda física, como ferra- 
Por firn, as pessoas podem ser controladas por meio de 
restrícóes físicas, como segurar urna enanca para que nao 
caia de um barranco ou colocando na prísáo pessoas que 
desrespeitam a lei. A restricáo física atua para contrariar os 
efeitos do condicionamento e resulta em comportamento 
contrário áquele que teria sido emitido caso a pessoa nao 
tivesse sido restringida. 
Alguns poderiarn argumentar que a restricáo física é 
um meio de negar a liberdade. Contudo, Skinner (1971) 
sustentava que o cornportamento nao tem nada a ver com 
liberdade pessoal, mas é moldado pelas contingencias de 
sobrevivéncia, os efeitos do reforce e as contingencias do 
ambiente social Portante, o ato de restringir fisicamente 
urna pessoa nao riega a liberdade mais do que qualquer ou- 
tra técnica de controle, incluindo o autocontrole. 
320 FEIST, FEIST & ROBERTS 
Em sua historia inicial, o condidonarnento operante foi 
usado, sobretudo, ern estudos com animais e, depois, res- 
postas humanas simples; porérn, mais recenternente, as 
ideias de Skinner foram empregadas ern inúrneros estu- 
dos que lidarn corn cornportarnentos humanos complexos. 
Alguns desses estudos se preocuparam corn a relacáo en- 
tre os padrees de comportamento de longo prazo (i. e., a 
personalidade) e as contingencias de reforce. Tais estudos 
costurnam ser de dois tipos: eles indagam como o condí- 
cionarnen to afeta a personalidade e corno a personalidade 
afeta o condicionarnento. 
PESQUISA RELACIONADA 
o terapeuta é caloroso e receptivo; enquanto os país do 
pacten te sao críticos e julgadores, o terapeuta é apoiador 
e ernpático. 
A rnodelagern de qualquer cornportarnento leva tem- 
po, e o cornportamento terapéutico nao é excecáo, Urn te- 
rapeuta molda o cornportamento desejável reforcando mu- 
dancas no comportarnento que váo melhorando de forma 
sutil. O terapeuta nao cornportarnental pode afetar o com- 
portamento de modo acidental ou inadvertido, enquanto o 
terapeuta cornportarnental atenta de modo específico para 
essa técnica (Skinner, 1953). 
Os terapeutas tradicionais ern geral explicam os com- 
portamentos recorrendo a urna variedade de construtos 
ficticios, como os mecanismos de defesa, a luta pela su- 
pericridade, o inconsciente coletivo e as necessidades de 
autoatualizacáo. Skinner, no entanto, acreditava que es- 
ses e outros construtos fictícios sao comportamentos que 
podem ser explicados pelos princípios da aprendízagern. 
Nenhurn propósito terapéutico é servido pela postulacáo 
de fíccóes explanatórias e causas internas. Segundo os 
fundamentos de Skinner, se o comportamento formol- 
dado por causas internas, entáo alguma forca deve ser 
responsável pela causa interna. As teorías tradicionais 
precisam, em última análise, explicar essa causa, mas a te- 
rapia cornportamental meramente salta sobre ela e !ida de 
modo direto com a historia do organismo; e é essa histó- 
ria que, afinal de contas, é responsável por algurna causa 
interna hipotética. 
Os terapeutas cornportarnentais desenvolverarn urna 
variedade de técnicas ao longo dos anos, a maioria baseada 
no condicionamento operante (Skínner, 1988), embora 
algumas sejam construidas ern torno dos princípios do 
condicionamento clássico (respondente). Ern geral, esses 
terapeutas desernpenham urn papel ativo no processo 
de tratamento, apontando as consequéncias positivas de 
certos cornportamentos e os efeitos aversivos de outros e 
tambérn sugerindo cornportarnentos que, a longo prazo,resultaráo ern reforce positivo. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 321 
Skinner (1978b) acreditava que a psicoterapia é urn dos 
principais obstáculos que bloqueiarn a tentativa da psico- 
logía de se tornar científica. No entanto, suas ideías sobre a 
rnodelagern do cornportarnento nao só tiveram urn impac- 
to significativo na terapia cornportarnental como tambérn 
se estenderam para urna descrícáo de como toda terapia 
funciona. 
lndependenternente da oríentacáo teórica, um tera- 
peuta é um agente controlador. Nem todos os agentes con- 
troladores, no entanto, sao nocivos, e um paciente precisa 
aprender a discriminar entre figuras de autoridade puni- 
tivas (passadas e presentes) e um terapeuta permissivo. 
Enquanto os pais de urn paciente sao fríos e rejeitadores, 
PSICOTERAPIA 
Comportamentos inapropriados 
Os comportamentos inapropriados se seguern a técnicas 
autodestrutivas de combate ao controle social ou a tenta- 
tivas rnalsucedidas de autocontrole, especialmente quando 
esses fracassos sao acornpanhados de forte emocáo, Corno 
a maioria dos comportamentos, as respostas inapropriadas 
ou inadequadas sao aprendidas. Elas sao moldadas por re- 
force positivo e negativo e, principalmente, pelos efeitos 
da punicáo, 
Os cornportamentos inapropriados incluem cornpor- 
tamen to excessivamente enérgico, que nao faz sentido em 
termos da situacáo contemporánea, mas pode ser razoável 
em termos da história passada; e cornportamento contido 
em demasía, que as pessoas usarn como urn rneio de evitar 
os estímulos adversos associados a punicáo, Outro tipo de 
comportarnento inapropriado é bloquear a realidade sim- 
plesrnente nao prestando atencáo aos estímulos aversivos. 
Urna quarta forma de cornportamento indesejável re- 
sulta do autoconhedmento distorcido, a qual se manifesta 
por rneio de respostas autoenganadoras, como contar van- 
tagern, racionalizar ou alegar ser o Messias. Esse padráo de 
cornportarnento é reforcado negativarnen te, porque a pes- 
soa evita a estímulacáo aversiva as so ciada a pensarnentos 
de inadequacáo, 
Outro padrao de cornportarnento inapropriado é a 
autopunicáo, exernplificada por pessoas que se castigarn 
diretamente ou que organizam as variáveis ambientais de 
modo que possam ser punidas pelos outros. 
se baseiam na fuga. Skinner (1953) acreditava que a resis- 
téncia passiva tero maior probabilidade de ser empregada 
quando a fuga e a revolta fracassaram. A característica evi- 
dente da resistencia passiva é a obstinacáo, Urna enanca 
com a tarefa escolar para fazer en contra urna dúzia de des- 
culpas por que a tarefa nao pode ser terminada; um empre- 
gado retarda o progresso minando o trabalho dos outros. 
Como a personalidade ateta o 
condicionamento 
Se o condicionamento pode afetar a personalidade, o in- 
verso tambérn é verdadeiro? Ou seja, a personalidade pode 
afetar o condicionarnento? Milhares de estudos com ani- 
mais e humanos demonstraram a forca que o condiciona- 
men to tern de alterar o comportamento/a personalídade. 
Corn os humanos em particular, no entanto, está claro 
que diferentes pessoas respondem de modos distintos aos 
mesmos reforcadores, e a personalidade pode fornecer um 
indicio importante sobre por que isso ocorre, 
Voltando a pesquisa sobre d-anfetamina e tabagismo, 
por exernplo, parece haver díferencas individuais sistemá- 
ticas no efeito; ou seja, funciona para algumas pessoas, 
mas nao para outras. Assirn corno no estudo anterior, Sta- 
cey Sigrnon e colaboradores (2003) estudaram os efeitos 
que a d-anfetarnina tern sobre o tabagisrno usando deis 
reforcadores diferentes: cigarros e dinheiro. Alérn de ten- 
tar replicar o achado de que os estimulantes psicomotores 
sumen tam específicamente o valor de reforce da nicotina 
comparada com o dinheiro, eles queriam examinar a exis- 
téncia de diferencas individuáis no feito. Se houvesse, en- 
tao quais seriarn as explícacóes possíveís? 
Os participantes erarn fumantes adultos (em média, 
20 cigarros por dia) entre 18 e 45 anos de idade, com urna 
idade rnédia de 21.anos; 78% erarn euro-americanos e 61 % 
era.m do sexo feminino. Para serern incluidos no estudo, os 
participantes tinham que apresentar teste negativo para 
outras substancias alérn da nicotina e nao relatar proble- 
mas psiquiátricos, e as mullieres tinharn que praticar urna 
forma aceitável para a saúde de con trole de natalidade e 
apresentar teste negativo para gravidez. Os participan tes 
foram informados de que poderíarn receber vários medica- 
mentos, induindo placebos, estimulantes e sedativos, e 
que o propósito do estudo era investigar os efeitos de tais 
substancias no humor, no cornportamento e na fisiologia. 
Os participantes recebiam $ 435 se concluíssem as nove 
sessóes. 
No en tan to, os resultados mostraram que os níveis de 
tabagismo ern ambas as sessóes experimentais, de escolha 
(comparado como dinheiro) e fumo livre, aumentaram em 
proporcáo a d-anfetarnina. Quanto mais alta a dese de d- 
-anfetarnína, mais os participantes fumavarn. E ainda rnais 
importante, o fumo era preferido ao dinheiro na sessáo 
de escolha em proporcáo direta com a quantidade de d- 
-anfetarnina administrada. Portante, o estimulante deve 
aumentar o valor de reforce da nicotina específicamente, e 
nao o outro reforcador (dinheiro). Em resumo, a resposta a 
pergunta sobre se os reforcadores podern alterar seu valor 
ao longo do tempo e em cornbinacáo corn outros estímulos 
é "sim ·, e, nesse caso, a nicotina pode se tomar ainda mais 
reforcadora na presenca de estimulantes psicomotores. 
Como o condicionamento ateta a 
personalidade 
No Capítulo 1, referirnos que os elernenros-chave da per- 
sonalidade sáo a estabilidade do comportamento ao longo 
do tempo e em diferentes situacóes. Por esses critérios, a 
rnudanca na personalidade ocorre quando novos cornpor- 
tarnentos se tomam estáveis ao longo do tempo e/ou em 
diferentes situacóes. Urn dornínio ern que a mudanca na 
personalidade pode ser evidenciada é a psicoterapia. De 
fato, urn objetivo principal da terapia é modificar o cornpor- 
tamento, e, se as mudancas sao estáveis ao longo do tempo 
e nas sítuacóes, entáo podernos falar de mudanca na perso- 
nalidade. Dizemos isso para deixar claro que, ernbora Skin- 
ner discutisse a rnudanca do comportamento a longo prazo, 
ele nunca abordou, de fato, a alteracao na personalidade. 
Urn suposto básico do condicionamento skinneria- 
no é que o reforce molda o cornportarnento. No entanto, 
quais sao os fatores que rnodificam o reforce, isto é, certos 
estímulos podern se tomar rnais ou menos reforcadores 
para urn indivíduo ao longo do tempo? Essa é urna per- 
gunta importante no tratamento de pessoas com abuso de 
substancias, porque o sucesso terapéutico requer que um 
reforcador (a substancia) perca seu valor de reforce. Para os 
fumantes, por exernplo, a nicotina, gradualmente, se toma 
urn reforcador negativo, conforme estados leves de tensao 
sao removidos pelos efeitos dessa substancia. 
Certas evidencias mostraram que estimulantes psico- 
motores (como cocaína ou d-anfetamina) aurnentarn os 
níveis de tabagismo naqueles que fumarn. Existern duas 
explicacóes possíveís para o efeito: prímeíro, talvez o esti- 
mulante aumente, de forma especifica, o efeito de reforce 
da nicotina; segundo, talvez os estimulantes psicornotores 
apenas aurnentern os níveis de atividade ern geral, e fumar 
é urna delas. Para testar essas duas explícacóes, Jennifer Ti- 
dey, Suzane O'Neill e Stephen Higgins (2000) conduziram 
urn estudo corn 13 fumantes e os submeterarn a urn ela- 
borado procedimento de teste (12 sessóes separadas de 5 
horas), em que eles recebíarn urn placebo ou d-anfetamina. 
Depois de 90 minutos, os fumantes tinham que escolher 
entre dois reforces diferentes: dinheiro ($ 0,25) ou fumar 
(duas tragadas). Se escolhessem o dínheiro, a contagern 
total da quantia acumulada era mostrada na tela de um 
computador, e os participantes recebiam aquela quantia 
no final da sessáo de teste. Se optassem pelo cigarro,po- 
diarn dar duas tragadas irnediatamente após expressarem o 
comportamento desejado. Se o estimulante sirnplesmente 
aumentar os níveis de atividade geral, nao deve haver pre- 
ferencia sistemática por um reforcador ern relacao ao ou- 
tro (em cornparacáo corn as preferencias da linha de base). 
Além disso, depois que a sessáo experimental terminou, foí 
permitido aos participantes um período em que poderiam 
fumar o quanto desejassern, muito ou pouco (sessáo com 
fumo liberado). 
322 FEIST, FEIST & ROBERTS 
centes de d-anfetamina. Mas esse padrao de resultados nao 
se manteve para os oito nao respondentes: a d-anfetamina 
nao tinha efeito real sobre seu comportarnento de fumar 
cigarros. As possíveis razóes para tal efeito foram vistas 
nas classificacóes subjetivas dos efeitos da substancia: os 
respondentes referiram que se sentiram "altos" e sono- 
lentos e que a substancia tinha bons efeitos. Nas medidas 
objetivas (efeítos fisiológicos), no entanto, nao houve dífe- 
renca entre os dois grupos. 
Ainda que esse estudo nao tenha apresentado evídén- 
cias díretas, outras pesquisas fornecern urna explícacao 
plausível para as díferencas individuais constatadas na d-an- 
fetarnina: ela resulta ern diferencas individuais em sensibili- 
dade ao neurotransmíssor dopamina, o qual está associado 
a maior bem-estar e humor positivo. Em outras palavras, os 
respondentes tero maior probabilidade de serem afetados 
pelo estimulante, porque sua sensibilidade a dopamina é 
maior. Urna vez que a personalidade tem urna base biológica 
(ver Caps.14e15), ela pode afetar a sensíbílidade ao condi- 
cionamento. Na verdade, mui tos pesquisa dores considerarn 
a dopamina corno um sistema de "reforce positivo". 
Mais evidencias de que os estados do temperamento 
e biológicos afetam a sensibilidade da resposta ao condi- 
cionamento provérn de Jeffrey Gray e Alan Pickering e sua 
teoria da sensibilidade ao reforce (RST, reirforcement: sensi­ 
tivity theory; Pickering & Gray, 1999). Esses dois pesquisa- 
dores conduziram dezenas de estudos testando sua teoría, 
e, ernbora os resultados sejam em geral complexos, tendero 
a apoiar a RST. 
Contudo, a associacáo entre sensibilidades ao reforce e 
outras dímensóes da personalidade e sua interacáo apenas 
recentemente comecou a ser explorada. Philip Corr (2002), 
por exernplo, conduziu um dos primeiros estudos a exami- 
nar as diferencas na ansiedade e na impulsividade e sua as- 
sociacáo comas sensibilidades a resposta. Asensibilidade ao 
reforce prediz que os individuos introvertidos, assim como 
os altamente ansiosos, devem ser rnais sensíveis a punicáo, 
devido a forte necessidade de evitar estados aversivos. As- 
sim como os extrovertidos, os individuos altamente impul- 
sivos devem ser mais sensíveis a recompensa, devido a forte 
necessidade de experimentar estados positivos. Além disso, 
na formulacáo original da teoría, as dírnensóes da persona- 
lidade devem operar completamente de modo independen- 
te, enquanto, na reformulacáo de Corr, elas podem operar 
de forma conjunta e interdependente. Para testar a hipó- 
tese reformulada da influencia conjunta, Corr previu que a 
impulsividade deveria interagir com a ansiedade, de modo 
que pessoas ansiosas, mas impulsivas, deveriarn responder 
menos a um estímulo assustador quando vissem imagens 
negativas (slides de corpos mutilados) do que os individuos 
ansiosos, mas nao impulsivos. Por contraste, a formulacáo 
da RST antecíparía apenas que as pessoas ansiosas seriam 
rnais responsivas .ao sobressalto durante um estado de hu- 
mor negativo e que a impulsividade nao teria efeito algum. 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 323 
O procedirnen to geral incluía nove sessóes, a primei- 
ra das quais era urna sessáo de 3,5 horas para familiarizar 
os participantes com os procedimentos e o equipamento: 
nao foram administradas substancias na primeira sessáo, 
As sessóes 2 até 9 duraram 5 horas cada e induíram testes 
respiratórios para assegurar que eles nao haviam fumado 
anteriormente. As medidas da linha de base envolviam 
questionários e medidas fisiológicas pré-sessáo, tais como 
frequénda cardíaca, temperatura corporal e pressáo arte- 
rial. Alérn dísso, cada participante acendia um cigarro e 
dava pelo menos urna tragada para assegurar um tempo 
igual para todos desde a última exposícáo a nicotina. O me- 
dicamento experimental (ou placebo) era, en tao, adminis- 
trado, seguido por perguntas referentes ao humor e urna 
refeicáo leve para evitar náusea. As perguntas relativas ao 
humor induíam: "Vocé sente algum efeito boro?", "Vocé se 
sente 'alto'?", "Vocé se sente nervoso?", e assim por dían- 
te. Usando um procedimento duplo-cego, os participantes 
receberarn placebo ou d-anfetamina. O participante, en- 
tao, completava um teste de múltipla escolha que opunha 
dinheiro a fumar para avaliar os níveis básicos do valor 
monetário de fumar. Por exernplo, o participante recebia 
urna série de 45 escolhas hipotéticas entre furnar e urna 
quantidade progressiva de dinheiro. O ponto em que o par- 
ticipante parava de escolher fumar e selecionava o dinheiro 
era referido como "ponto de ínterseccáo", e era considerado 
um índice de eficácia do reforce da substancia. 
A seguir, cornecava urna sessáo de reforce positivo (RP) 
de 3 horas. O RP en vol ve o aumento do número de respostas 
que sao necessárias antes do reforce. Nesse caso, os parti- 
cipantes tinham que executar urna tarefa motora repetitiva 
por um número n de vezes (comecando com 160 e indo até 
8.400 vezes) para ganhar duas tragadas de um cigarro ou $ 
l. Qual reforcador escolhiarn dependia deles. A ideia por trás 
da natureza progressiva do procedirnento de reforce era ver 
quanto tempo levava para que urna pessoa parasse de res- 
ponder (desistir de tentar obter urn cigarro ou dinheiro). 
Esse ponto de parada é considerado a forca do reforcador, 
Se o ponto de parada dos participantes aurnentasse rnais 
na condicáo corn a substancia do que na linha de base, eles 
erarn considerados respondentes (a substancia); senáo, erarn 
considerados nao respondentes, Corno no estudo de Tidey e 
colaboradores, a última sessáo perrnitia que os participantes 
furnassern livremente o quanto quísessem, pouco ou rnuíto. 
O resultado geral foi que houve um pequeno efeito da 
d-anfetamina no aumento do tabagismo. Entretanto, hou- 
ve diferencas individuais significativas e, quando se exami- 
navam os efeitos para os respondentes comparados corn os 
nao respondentes, o efeito era claro. Os pontos de para- 
da do fumo para os 10 respondentes forarn cada vez mais 
altos com dosagens aumentadas de d-anfetamina, e os 
pontos de parada do dinheiro foram cada vez mais baixos. 
Em outras palavras, os responden tes estavarn díspostos a 
trabalhar mais para obter cigarros corn quantidades eres- 
individuais na ativacáo cerebral em consequéncia da expo- 
sícáo a estímulos de recompensa como comida (Beaver et 
al., 2006). A ativacáo cerebral pode ser estudada de diferen- 
tes maneiras, mas os pesquisadores nesse estudo usararn a 
tecnologia de imagem de ressonáncia magnética funcional 
(lRMf), a qua! está baseada na mesma tecnología que o mé- 
dico usa quando solicita urna imagem de ressonáncia mag- 
nética (lRM) do seu corpo para diagnosticar um problema 
de saúde. Em esséncia, a tecnologia da IRM (tanto IRMf 
quanto lRM convencional) detecta o fluxo de oxigénio no 
interior do cérebro, O oxígénío, transportado pelo sangue, 
é necessário para todas as atividades cerebrais, e quanto 
mais oxígénio houver em urna área particular, mais ativi- 
dade existe lá. John Beaver e colaboradores (2006) usaram 
a IRMf para examinar quais partes do cérebro eram ativa- 
das quando os participantes olhavam para vários estímu- 
los relacionados a cernida e se havia díferencas individuais 
na personalidade que prediziam essa ativacáo cerebral. Os 
estímulos com comida eram ideais para esse experimento, 
porque algumas comidas sao muito gratificantes (como 
sorvete e bolo), enquanto outras nao sáo táo gratificantes(como arroz e batatas). 
Para conduzir seu experimento, John Beaver e cola- 
boradores (2006) primeiramente fizeram os participantes 
completarem a Escala de Atívacáo Comportamental (BAS), 
a qual é uma medida de autorrelato que capta a tendencia 
geral de perseguir recompensas de modo ativo. Para se ter 
urna ideia do que a BAS mede, pense em como vece respon- 
deria ao seguinte item: "Saio de meu camínho para obter 
as coisas que desejo?" (Carver & White, 1994). Alguém que 
tenha uma alta tendencia a perseguir ativamente as recom- 
pensas responderla de forma muito positiva a esse item. 
Após completar a BAS, os participantes eram colocados em 
urn scanner de !RM que foi especialmente equipado para tal 
experimento. De forma mais específica, o scanner foi adap- 
tado com um monitor que perrnitia aes pesquisadores apre- 
sentar imagens a cada participante enquanto um técnico, de 
modo simultaneo, verificava as zonas ativadas do cérebro 
do participante. Várias irnagens eram apresentadas aos par- 
ticipantes enquanto estavam no scanner, porérn, para fins 
desta discussáo, vece pode pensar nelas como situadas em 
duas categorias: (1) prazerosas (bolo de chocolate e sundaes) 
e (2) sem interesse (arroz e batatas cruas). Os pesquisadores 
conseguirarn determinar qual área do cérebro era ativada 
durante a apresentacáo das figuras prazerosas versus sem 
interesse e, o que é mais importante, se as díferencas indiví- 
duais quanto a ativacáo de comportarnen tos informada na 
escala de autorrelato estavam relacionadas a essa atívacáo. 
Os pesquisadores constataram que as. pessoas corn es- 
cores mais altos na variável de personalídade da ativacáo 
do comportamento experimentavarn maior ativacáo diante 
das imagens de bolo e sorvete em cinco áreas específicas do 
cérebro (corpo estriado ventral direito e esquerdo, amígdala 
esquerda, substancia negra e córtex orbitofrontal esquerdo) 
O reforco e o cérebro 
Recentemente, pesquisadores deram um passo adiante na 
pesquisa da sensibilidade a reacáo analisando diferencas 
Os resultados corroboraram a hipótese do subsistema 
conjunto e refutaram a hipótese do subsistema separado. Ou 
seja, os participantes que eram altamente ansiosos, mas tam- 
bérn impulsivos, demonstraram urna resposta de sobressalto 
mais baixa, sobretudo quando viam imagens negativas, com- 
parados aos participantes que eram altamente ansiosos, mas 
nao impulsivos. Em outras palavras, para os participantes 
muito .ansiosos, a impulsividade atua como um amortecedor 
para a responsivídade a imagens negativas. A questáo global, 
no entanto, ainda permanece: as pessoas nao respondem aos 
reforcadores da mesma maneíra, e a personalidade é urn dos 
mecanismos-chave que modera seu efeito. 
Corre colaboradores ampliaram essa pesquisa em um 
esforco para compreender o lado mais sombrio da persona- 
lidade, aplicando a RST revisada a emergencia da psicopatia 
(Hughes, Moore, Morris, & Corr, 2012). Os individuos psi- 
copatas sao caracterizados por extremo egocentrismo, au- 
sencia de rernorso, impulsividade e, relacionado a um capí- 
tulo sobre Skinner, urna capacidade prejudicada de aprender 
com as consequéncías negativas. A maioria dos estudos de 
psicopatia examina as populacóes clínicas cu aprisionadas, 
mas esse pesquisou 192 universitários no Reino Unido para 
fornecer ínforrnacóes importantes sobre como a personali- 
dade nao perturbada pode evoluir para patologia. 
Corr e colaboradores avaliaram estudantes com as 
escalas Sistema de lnibicáo Comportamental/Escala de 
Ativacáo Comportamental (BIS/BAS, Behavioral Inhibition 
System!Behavioral Activation System Sea/es; Carver & White, 
1994), bem como a Escala de Autorrelato de Psicopatia de 
Levenson (LSRP, Levenson Seli­Report Psychopathy Sea/e; 
Levenson, Kiehl, & Fitzpatrick, 1995), que rnede as atitudes 
e as crencas disposicionais que presumidamente subjazem 
a psicopatia, como a ausencia de remorso cu urna tendencia 
a mentir. Os resultados foram coerentes com o modelo neu- 
ropsicológico de Corr (2010), o qual propóe um sistema de 
inibicáo comportamental (BIS) hipoativo nas pessoas psico- 
pátícas, que, em geral, nao an tecipa cu responde a eventos 
potencialmente punitivos. Isto é, aqueles que tiveram esco- 
re mais elevado na LSRP tambérn tendiarn a exibir escores 
baixos no BIS. A ideia, aquí, é que os psicopatas apresentam 
déficits em sua capacidade de detectar conflito de objetivos 
e, assirn, aprender com experiencias aversivas. 
Mais pesquisas sao necessárias para refinar nossa 
cornpreensáo da relacáo entre personalidade e condiciona- 
mento, mas todo esse trabalho proporciona urna visáo fas- 
cinante de como a personalidade sadia e a psicopatológica 
sao moldadas pela ansiedade disposicional, pela irnpulsivi- 
dade e pela capacidade de resolver conflitos de objetivos e 
de aprender com as experiencias aversivas. 
324 FEIST, FEIST & ROBERTS 
pessoas controlam as próprias vidas, elas fazem isso manipulan- 
do o ambiente, o qual, por sua vez, molda seu comportamento. 
Tal abordagem ambiental nega construtos hipotétkos como for- 
ca de vontade ou responsabilidade. O comportamento humano 
é extremamente complexo, mas as pessoas se comportam se- 
gundo as mesmas leis que as máquinas e os animais. 
A nocao de que o comportamento humano é determina- 
do por completo é bastante problemática para muitas pessoas 
Terceíro, em sua habilidade para organizar tudo o que 
é conhecido acerca da personalidade humana, darnos a teoría 
apenas urna dassificacáo moderada. A abordagern de Skin- 
ner foi descrever o cornportamento e as contingencias arn- 
bientais sob as quais ele ocorre. Seu propósito era reunir 
esses fatos descritivos e generalizar a partir deles. Muitos 
traeos de personalidade, como os do modelo dos cinco fa- 
rores, podem ser explicados pelos princípios do condicio- 
narnento operante. Entretanto, outros conceitos, corno 
insight, criatividade, motivacáo, inspiracáo e autoeficácia 
nao se encaixam facilrnente na estrutura do condiciona- 
mento operante. 
Quarto, como um guia para a a~do, classificamos a teo- 
ría de Skinner como rnuito alta. A abundancia de pesqui- 
sas descritivas produzidas por Skinner e seus seguidores 
tornou o condicionamento operan te um procedimento ex- 
tremamente prático. Por exernplo, as técnicasskinnerianas 
tém sido usadas para.ajudar pacientes fóbicos a superarem 
seus medos, para rnelhorar a adesáo a recomendacóes mé- 
dicas, para ajudar as pessoas a superarern adícóes ao tabaco 
e a outras substancias, para melhorar hábitos alimentares 
e aumentar a assertívídade. De fato, a teoría skinneriana 
pode ser aplicada a quase todas as áreas de treinarnento, 
ensino e psicoterapia. 
O quinto critério de urna teoría útil é a coeréncia inter­ 
na; e julgada segundo esse padráo, classificarnos a teoría 
skinneriana corno multo alta. Skinner definiu seus termos 
de modo preciso e operacional, urn processo auxiliado, em 
grande escala, pela esquiva de conceitos mentais ficcionais. 
A teoria é pardmoniosa? Segundo esse critério final, a 
teoria de Skinner é difícil de classificar. Por um lado, a teo- 
ria é lívre de construtos hipotéticos complicados, mas, por 
outro, demanda urna nova rnanifestacáo das expressóes do 
día a dia. Por exernplo, em vez de dizer: "Fiquei tao bra- 
va corn meu marido que joguei um prato nele, mas errei", 
seria preciso dizer: "As contingencias de reforce dentro de 
meu ambiente foram organizadas de tal maneira que ob- 
serveí meu organismo jogando um prato contra a parede 
da cozinha". 
TEORIAS DA PERSONALIDADE 325 
Sem dúvida, B. F. Skinner apresentava urna visáo determinista 
da natureza humana, e conceitos como livre-arbftrio e escolha 
individual nae tinham lugarem sua análise do comportamento. 
As pessoas nao sao livres, mas controladas por torcas ambien- 
ta is. Etas podem parecer motivadas por causas internas, mas, na 
realidade, essas causas podem ser rastreadas até fon tes externas 
ao indivíduo. O autocontrole depende, em última ¡¡nálise, de 
variáveis

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