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1. DIREITO ROMANO “Onde houver uma sociedade, aí necessariamente haverá direito” O direito romano é um conjunto de normas ou regras jurídicas que vigoram no mundo romano desde a fundação de Roma (753 a.C. - 565) O direito está sujeito a um processo de desenvolvimento que lhe permite satisfazer juridicamente as novas necessidades 753 a.C. - Formação de Roma 753 a.C. - 130 a.C.–Época arcaica – caracteriza-se pela mistura do jurídico com a religião e a moral e, pela existência de instituições jurídicas rudimentares 450 a.C. – surge a primeira lei escrita, lei das 12 tábuas, vigora 10 séculos 367 a.C. – criação do pretor urbano-magistrados encarregues de questões jurídicas na cidade 242 a.C. – criação do pretor peregrino - magistrados tratavam de questões jurídicas no meio rural e entre os estrangeiros; criação do pretor universalista do direito humano – ius gentium 130 a.C.–230 – Época clássica, época extraordinária do ponto de vista político e jurídico, o direito vai estar na compilação do Justiniano 130 a. C. – 30 a.C. – época pré-clássica: desenvolvimento ascensional muito significativo da ciência jurídica (iurisprudentia) 30 a.C. – 130 – época clássica central: grande aposgeu, marcada pelo esplendor da iurisprudentia, modernização do ius civile 130 – 230 – época clássica tardia: início de decadência da iurisprudentia 27 a.C.- O Senado encarrega Augusto (psicologicamente débil) de pacificar Roma, Augusto acaba de pacificar Roma e diz que quer sair do Senado, mas só aceita ficar se for o príncipes, 1º imperador, vai ser um imperador muito discreto, mas as políticas que vai implementar vão ter efeito para todo o futuro de Roma, estas vão levar à decadência do Império. Até agora quem fazia as leis era o povo e o Senado, quem tinha o poder político era o Senado, quem podia corrigir as leis eram os magistrados, o imperador mandava pouco. No entanto, como Augusto controla o Senado coloca lá pessoas da sua confiança, ocupa-os com a atividade jurídica e ocupa-se da política, vai assim retirando os poderes ao Senado, o imperador começa a ganhar prestígio e apresenta as suas próprias leis ao Senado (que não discorda de Augusto), até que Augusto deixa de consultar o Senado e faz as leis sozinho, neste momento já não há assembleias populares e Augusto não precisa da aprovação do Senado, o problema do imperador passam a ser os magistrados, Augusto contrata os magistrados, assim, se o magistrado não aplicasse uma lei do imperador era ir contra a vontade de Deus, então era condenado à morte, temos agora um imperador que faz as leis sozinho e tem os magistrados controlados, contrata também os doutores, as únicas leis são as leis do imperador, ele é o direito, pela primeira vez na história a lei=direito 230 – 530: Época pós-clássica - o imperador considera-se Deus, o poder está todo concentrado em si, confusão entre lei e direito e justiça, o Império está corrupto, não têm a intuição jurídica das épocas anteriores. Vulgarização do direito romano. 230-395: época marcada pela confusão, ciência simplista e elementar, separação de Roma em 2 impérios, o Império de Roma encontrava-se demasiado grande, cada imperador que subia ao revogava o direito antigo 395-530: • Ocidente: (476-queda do império) – vulgarização do direito romano, foi o maior retrocesso da civilização todos os tempos dá-se o início da entrada na idade média, tudo desaparece: escolas, direitos jurídicos escritos, a igreja católica aproveita-se disso. Em 476 entramos na profunda idade média no Ocidente, que dura até ao século 12, os povos germânicos tentam aproveitar o direito, mas no início este é muito rudimentar regressa-se a uma economia de subsistência, acabaram as escolas, o comércio à distância, não há mais magistrados. Nada tem a ver com o direito Romano, no séc. XII começa a surgir alguma burguesia, economia, feiras, isto devido ao processo de avanço do Império muçulmano no Oriente, há uma fuga significativa de matemáticos, filósofos etc. do Oriente para o Ocidente, o corpus iuris civilis aparece no Ocidente no século 12 em Itália, em Bolonha, (não conseguem entender a obra, não pela língua mas pela forma como esta está escrita, vai ser estudada durante 4 séculos até ser percebida) a partir do século XVI vai ser estudado, nas universidades, mais direito Romano para além do da compilação, até 1776 só se ensinava direito Romano na faculdade de direito, a compilação vai ser aplicada nos tribunais, em Portugal, até Marquês de Pombal (1867), até ao século 19 que é quando surge o primeiro código civil, que contêm direito Romano • Oriente (cai em 1453)– caracterizado pelo classicismo e pela helenização (influência da filosofia grega), época de ascensão do direito romano, o direito vai-se continuar a desenvolver, está a governar um imperador muito ambicioso, tinha 3 grandes objetivos Reconquistar o Ocidente; Unificação religiosa do Império; Criar a Grande compilação do Direito - compilação do imperador Justiniano – 530 - corpus iuris civilis , esta tem direito da época clássica (obra em latim de 4 partes : institutions (ius), digesto( ius ), colix ( lex ), Novellae (lex)- a 2 é a mais importante, tem 50 livros ), é uma grande obra não só pelo seu tamanho, mas também pelo seu conteúdo .. Império cai em em 1453, idade média termina, muçulmanos conquistam a Constantinopla 530-565: Época justinianeia, caracterizado pelo classicismo e helenização, a sua especificidade deriva da maior compilação jurídica jamais feita o corpus iuris civilis (530), a época acaba com a morte do imperador justiniano (565) Jurisprudência- ciência do justo e do injusto: respondere – resolução de casos práticos através de pareceres dados a particulares ou magistrados Cavere – aconselhamento dos particulares na realização dos seus negócios jurídicos Agere – aconselhamento dos particulares em matéria processual 2. Negócios jurídicos Os jurisconsultos romanos não definiram o negócio jurídico e tão pouco utilizaram uma terminologia própria, coube a dogmática moderna elaborar uma noção de negócio jurídico, atos voluntários unificados por uma dimensão comum: um acordo de vontade, é um facto voluntário lícito constituído por uma ou várias declarações de vontade privada que se dirigem à produção de certos efeitos práticos ou empíricos. 3. Direito das obrigações A obrigação é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa está adstrita para com outra à realização de uma prestação – abrange uma obrigação de dar, de fazer, de não fazer - (art. 397), dirige-se contra uma pessoa determinada pela sua relação não com a coisa, mas sim com a pessoa demandante Dar – transferir o direito de propriedade sobre uma coisa Através de uma obrigação o devedor está obrigado a um certo comportamento, mas é necessário que este seja física e juridicamente possível – contrato lícito A obrigação deverá ter em princípio conteúdo patrimonial, ser redutível a dinheiro e deve ser determinado – saber em que consiste o comportamento ou os critérios para o determinar Dare : constituir ou transferir um direito real Facere : realizar uma atividade que não se traduza num dare, pode ser também uma abstenção (non facere) Praestare : designa especialmente a assunção da garantia duma obrigação Teoria de Brinz : débito – dever de realizar a prestação Responsabilidade – sujeição de uma pessoa ao cumprimento do débito A obrigação teria constituído inicialmente um vínculo material, depois desmaterializou-se tornando-se um vínculo jurídico que se traduz na sujeição de um devedor à realização de uma prestação As fontes das obrigações são os contratos, os quase contratos, os delitos e os quase delitos (art.457, 405), estas criam um vínculo obrigacional entre duas ou mais pessoas Quase contratos, mas não contratos - há um ato unilateral, uma obrigaçãoex. alguém que mete um anúncio e oferece dinheiro por encontrar algo No direito romano existiam delitos ( ius civile )e quase delitos, ( ius honorarium ), ex. se eu tenho um vaso na janela e ele cai num veiculo na rua por acidente eu sou responsável pelos danos, esta situação não fazia parte do ius civile e, foi prevista pelos magistrados e passou a fazer parte dos ius honorarium 4. Contratos Em sentido amplo, é um acordo de duas ou mais pessoas dirigindo-se à produção de efeitos jurídicos e num sentido restrito é uma convenção de que nascem obrigações e os correspondentes direitos de crédito É um acordo de vontades que visa constituir uma relação jurídica obrigacional Causa: fim que o direito civil reconhece como social e economicamente digno de proteção, finalidade prática que as partes querem Conventio, acordo: é o acordo das partes, vontades convergem para o fim que constitui a causa Contratos unilaterais – Só gera obrigações para uma das partes Contratos bilaterais – gera obrigações para ambas as partes, uma parte obriga-se, em relação a outra, a realizar a sua prestação Contratos bilaterais imperfeitos – a obrigação de uma das partes não surge inicialmente, mas pode surgir durante a sua vigência Aos contratos bilaterais aplica-se o princípio de que quem não satisfaz a sua prestação não pode exigir que a outra parte satisfaça a sua Os contratos do direito civil são celebrados por cidadãos romanos enquanto que os do direito das gentes (contratos consensuais, contratos reais) são realizados entre estrangeiros e cidadãos ou entre estrangeiros Contratos de boa fé – protegidos por ações de boa fé, o juíz deve apreciar as circunstâncias e considerar tudo o que é exigível entre pessoas justas ( ex. compra e venda) Contratos de direito estrito – tutelados por ações de direito estrito, o juíz deve observar rigorosamente o que foi acordado sem atender a qualquer circunstância que tenha influenciado o conteúdo da obrigação Contratos onerosos – criam obrigações para ambas as partes que se equivalem ou equilibram: a perda patrimonial de uma na realização da prestação corresponde à perda patrimonial de outra (compra e venda) Contratos gratuitos – só criam perda patrimonial para uma das partes (doação) Contrato real – é necessária a prática de certo ato material, não basta o acordo Contrato mútuo – é um contrato unilateral através do qual uma pessoa que recebe a propriedade de outra é obrigada a restituir igual quantidade do mesmo género e qualidade; datio rei – transferência da propriedade; conventio, consenso – restituição da propriedade O mútuo é um contrato gratuito e, por isso, não produz juros, estes têm de ser estabelecidos num contrato à parte, há uma taxa máxima de juros, o anatocismo (juros renderem juros) era proibido Em certos casos, o contrato mútuo era oneroso: havia sempre juros, não era necessário estabelecer uma convenção à parte (Ex: concedido por bancos) Tem de haver transmissão de propriedade porque o mutuário (devedor) precisa de usufruir da coisa Contrato de fidúcia – é o contrato em que uma pessoa (fiduciante) utilizando um negócio jurídico formal (mancipato ou in iure cessio) transfere a propriedade de uma coisa para outra pessoa, que se obriga a restituí-la depois de ter realizado o fim definido num acordo não formal designado por pacto de fidúcia. Fidúcia com função de garantia – o fiduciante transferia a propriedade de algo ao fiduciário que se obrigava a restituir depois da satisfação do seu crédito ex: A (credor)celebra um contrato mútuo com B (devedor), A (bancário) emprestou dinheiro a B no prazo de 3 anos (contrato oneroso porque é um banco), B é dono de um prédio ( A poderia exigir que B lhe transferisse o direito de propriedade do prédio, o A estaria obrigado a retransmissir o direito de propriedade depois de B pagar a divida) - é um contrato bilateral imperfeito, contrato gratuito Fidúcia com função de amizade – Transferia-se a propriedade de uma coisa a uma pessoa leal, com vista à prossecução de diversos fins. Contrato de depósito – é um contrato bilateral imperfeito e de boa fé, em que uma pessoa (depositante) entrega a outra (depositário) uma coisa móvel para que a guarde e a restitua num determinado prazo ou quando o depositante pedir. A responsabilidade do depositário por perda ou deterioração da coisa depositada depende: - na época clássica, somente de dolo – se foi intencional - na época justinieia, por dolo e negligência Deposito necessário – depositante não se encontra em condições para eleger o depositário (maior responsabilidade no depositário) Sequestro – um terceiro obriga-se a guardar a coisa e a entrega-la a quem ganhar o litígio Depósito irregular – há uma transmissão do direito de propriedade de coisas fungíveis, obrigando-se o depositário a restituir o mesmo tanto Contrato comodato – é um contrato de boa-fé e bilateral imperfeito em que uma pessoa (comodante) entrega uma coisa móvel ou imóvel a outra pessoa (comodatário) para que a use gratuitamente durante certo tempo e segundo o modo acordado, é um empréstimo de uso, a propriedade e a posse matem-se no comodante Quanto à sua responsabilidade importa distinguir: - Na época clássica: tem por base a custódia, se a coisa for roubada responde perante o comodante - Na época justinieia: só responde se não observar a diligência, a menos que o comodato seja realizado exclusivamente em interesse do comodante O comodante é obrigado a ressacir os gastos necessáriosque o comodatário tenha feito para conservar a coisa Contrato penhor – é o contrato bilateral imperfeito em que uma pessoa entrega a outra uma coisa para garantir uma obrigação própria ou alheia. O devedor torna-se possuidor, mas em nome do credor, há duas relações distintas: - um direito sobre a coisa a favor do credor da obrigação que se pretende garantir - a obrigação de o credor conservar e restituir a coisa depois da extinção da obrigação garantida. No caso da coisa ser vendida por incumprimento da obrigação, o credor deve restituir o excedente do preço. Contratos consensuais – Não exige nenhuma forma, apenas o consenso, a sua validade depende unicamente do acordo das partes, inspiram-se no princípio de boa fé MÚTUO FIDUCIA DEPÓSITO COMODATO PENHOR Real Real Real Real Real Unilateral Bilateral Imperfeito Bilateral Imperfeito Bilateral Imperfeito Bilateral Imperfeito Gratuito Gratuito Gratuito Gratuito Gratuito Transferência da propriedade Transferência da propriedade Mera entrega da coisa Mera entrega da coisa Transferência da posse Interesse por parte do devedor (mutuário) Interesse por parte do devedor (fiduciário) Interesse por parte do credor (depositante) Interesse por parte do devedor (comodatário) Interesse por parte do devedor 5. Direito real e obrigacional O direito real é o poder direito imediato sobre algo, sem precisar da ajuda de ninguém, gerando uma obrigação passiva universal (não precisam de fazer nada, basta não incomodar), só existem os direitos reais que a lei prevê , o principio da taxatividade Princípio da tipicidade - só existem os direitos que a lei prevê e nos termos que a lei prevê, a lei conforma o conteúdo; osligato = os - ligare sou proprietário de algo - tenho direito real sobre isso, tenho um poder imediato sobre isso, eficácia erga omnes, obrigação passiva universal para os outros O direito real produz um efeito direto e imediato, afeta todos, versam sobre coisas O direito obrigacional é um direito de crédito que necessita da colaboração do devedor e as obrigações só produzem efeito entre as partes - vigora um princípio de liberdade contratucional, contrato sem prejuízo de cumprir a lei Pedia dinheiro emprestado e dizia que devolvia no dia seguinte, forma-se um contrato, contrato mútuo - versa sobrecoisas fungíveis, tenho uma obrigação de devolver o dinheiro, e a pessoa tem um direito de crédito sobre mim, este direito de crédito só se realiza se o devedor devolver o dinheiro. Os direitos obrigacionais traduzem-se num vínculo jurídico e só afetam as partes, não vigora qualquer princípio da taxatividade
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