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1 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Vera Lúcia da Silva Ventura - 2 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Universidade Nove de Julho – UNINOVE Rua Vergueiro, 235/249 – 11º andar 01504-001 – Liberdade - São Paulo, SP Tel.: (11) 3385-9218 - editora@uninove.br 3 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Vera Lúcia da Silva Ventura São Paulo 2016 Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional Vera Lúcia da Silva Ventura - 4 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o © 2016 UNINOVE Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei nº 9.610/98). Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização da UNINOVE. Conselho Editorial Eduardo Storópoli Maria Cristina Barbosa Storópoli Patricia Miranda Guimarães Antonio Marcos Vivan Luis Fernando Varotto Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade do autor Capa: Isabella Alves Ventura Editoração eletrônica: Bigtime Serviços Editoriais Revisão: Antonio Marcos Cavalheiro / Mariá Julieta Silvestre Jorge Catalogação na publicação (CIP) Cristiane dos Santos Monteiro – CRB/8 7474 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Ventura, Vera Lucia da Silva. Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional / Vera Ventura. — São Paulo : Universidade Nove de Julho – UNINOVE, 2016. 96 p. il. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-89852-24-1 (impresso) ISBN: 978-85-89852-25-8 (e-book) I. Gestão de pessoas – Gestão estratégica. II. Ventura, Vera. III. TÍtulo. CDU 658.3 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Aos meus queridos Valmir, Isabella, Eloísa e Larissa, pelo amor que dedicam à nossa família e pelo carinho e apoio em todos os meus projetos. Aos dirigentes da Universidade Nove de Julho, que me acolheram e me permitiram trilhar o fascinante caminho da docência no ensino superior. Aos meus colegas professores, que me inspiram a melhorar os meus trabalhos a cada dia em prol da educação com qualidade. Aos meus professores, de toda trejetória acadêmica, em especial, do Programa de Doutoramento da UNINOVE, sem os quais esse projeto jamais seria possível. Vera Lúcia da Silva Ventura - 6 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 7 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Só há um caminho para a ciência ou para a filosofia: encontrar um problema, ver sua beleza e apaixonar-se por ele, casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe – a não ser que encontrem outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que encontrem a solução. Mas, mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas: filhos encantadores, ainda que talvez difíceis, para cujo bem- -estar poderão trabalhar, com um sentido, até o fim dos vossos dias. Karl Popper Vera Lúcia da Silva Ventura - 8 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 9 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Sumário Introdução ...................................................... 11 1 Gestão estratéGica empresarial ............. 15 2 Gestão estratéGica de pessoas ................ 29 2.1 Políticas de recrutamento e seleção ......................38 2.2 Políticas de treinamento e desenvolvimento ...........47 2.3 Políticas de remuneração, incentivos e recompensas .....................................................49 2.4 Políticas de promoção e carreira ...........................50 2.5 Estratégias de comunicação interna ......................51 2.6 Estratégias de relacionamento interpessoal ............53 3 comprometimento orGanizacional ........ 57 3.1 Enfoques do comprometimento organizacional no Brasil ......................................62 3.2 Diferenças dos enfoques do comprometimento organizacional .........................67 3.3 Fatores de influência no comprometimento organizacional .........................70 3.4 Efeitos do comprometimento e do controle sobre os trabalhadores ...........................73 considerações finais .................................... 77 estudo de caso ................................................ 79 referências ...................................................... 83 suGestões para leitura ................................ 91 sobre o autor .................................................. 95 Vera Lúcia da Silva Ventura - 10 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 11 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Esta obra foi criada com a ideia de facilitar o seu entendimento sobre os principais conceitos de Gestão Estratégica de Pessoas e de Comprometimento Organizacional e apresentar de que forma as ações de gestão de pessoas podem reforçar o comprometimen- to das pessoas com a profissão e com a organização. Sabemos que nas últimas décadas o ambiente em- presarial vem se tornando cada vez mais competiti- vo e dinâmico. Esse ambiente oferece complexidades que desafiam as organizações a desenvolverem meca- nismos próprios de defesa que sejam capazes de po- tencializar as competências corporativas e garantir a sustentabilidade do negócio. Para que esses mecanis- mos se fortaleçam as empresas dependem de profissio- nais comprometidos com os resultados organizacionais. Nesse contexto, esta obra propõe reflexões so- bre o que é gestão estratégica de pessoas e qual a sua influência no comprometimento das pessoas na organização. Você perceberá que todos os temas apresentados nos levam a entender que o comprometimento é des- pertado por alguns aspectos da própria organização, tais como o alinhamento e o compartilhamento dos interesses de todos os envolvidos. A concepção é que para que haja comprometimento, as pessoas precisam perceber que existe uma associação entre os seus in- teresses pessoais e os interesses da organização. Para que tudo isso se concretize, a premissa bá- sica é que as ações da Gestão de Pessoas devem ser introdução Vera Lúcia da Silva Ventura - 12 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o vinculadas às estratégias da organização, pois é por meio dessas ações que a organização conseguirá con- quistar o comprometimento de seus colaboradores. Assim, a configuração da gestão estratégica de pessoas simboliza o compartilhamento dos propósi- tos organizacionais, o que implica desenvolver estra- tégias que direcionem os recursos organizacionais a esses propósitos. Outro ponto importante que você perceberá, neste livro, é que os esforços no entendimento e no direcio- namento do comportamento humano podem ser vis- tos como a essência da gestão estratégica de pessoas. A partir dessas considerações, extraem-se dois im- portantes temas apresentados e que vamos discutir neste livro: gestão estratégica de pessoas e compro- metimento organizacional. Por ora, podemos conside- rar que esses temas, quando associados,enriquecem as literaturas nacionais e internacionais no âmbito dos estudos do comportamento organizacional. Esse campo de estudo propõe o entendimento do impulso que os indivíduos, os grupos e a estrutura da organização têm sobre o comportamento das pesso- as. E esse impulso está intimamente ligado aos fatores que refletem, geram ou influenciam o comprometi- mento organizacional. Para que você possa se aprofundar neste tema, organizamos esta obra em quatro capítulos. Neste pri- meiro momento, foram introduzidas algumas aborda- gens sobre os temas e apresentados os objetivos. No primeiro capítulo há uma introdução ao tema Gestão Estratégica Empresarial, no qual pretendemos con- textualizá-lo quanto aos modelos de gestão que se utilizam da Gestão Estratégica, de uma forma mais abrangente. No segundo capítulo, veremos discussões 13 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o acerca, especificamente, da gestão estratégica de pes- soas. No terceiro capítulo apresentaremos os principais conceitos e estudos sobre o comprometimento organi- zacional. Na última parte desta obra, apresentaremos novas proposições sobre os temas, junto das conside- rações finais e da apresentação de um estudo de caso de uma empresa brasileira com práticas de gestão es- tratégica de pessoas que geram o comprometimento organizacional de seus colaboradores que o farão re- fletir e entender melhor as propostas deste livro. Boa leitura! Vera Lúcia da Silva Ventura - 14 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 15 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Gestão estratégica empresarial1 A área de administração de empresas passa por constantes mudanças advindas da evolução do ambien- te competitivo no qual se inserem todas as organiza- ções, independente do segmento ou porte econômico. Tais mudanças forçam essas organizações a se pre- pararem e a criarem mecanismos de defesa e de rea- ção para lidar com as situações de incertezas e com as contingências que podem prejudicar todo o seu planejamento. Uma empresa está utilizando a Gestão Estratégica quando segue um senso de direção voltado ao longo prazo, focalizando o desempenho futuro da organiza- ção, prospectado com base nos cenários. Esses ce- nários, normalmente, são idealizados pela criteriosa análise do ambiente interno e externo da empresa. Dessa forma, as decisões presentes refletem nos resultados futuros. Isso quer dizer que toda e qualquer ação que uma empresa toma, no contexto da gestão estratégica, é tomada com base nas projeções de de- sempenho futuro. Tais projeções abrangem: o conhecimento global do negócio; o entendimento integral da situação organizacional; o reconhecimento da certeza das mudanças futuras; a ciência das forças e fraquezas da empresa, encontradas no ambiente interno; Vera Lúcia da Silva Ventura - 16 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o a ciência das oportunidades e ameaças, encontradas no ambiente externo; a criação de cenários, considerando diversas possibilidades. podemos dizer que um bom administrador pode não ter uma bola de cristal, mas precisará de algo bem semelhante. A prospecção dos cenários envolve, principalmen- te, o monitoramento constante dos ambientes inter- nos e externos e, obrigatoriamente, é realizada com base na realidade e no comportamento da organização em seu mercado competitivo. Nesse sentido, a proxi- midade com o negócio e com o mercado competitivo faz com que as decisões estratégicas sejam tomadas com mais segurança. Assim, a Gestão Estratégica Empresarial baseia- -se em três princípios: 1. alinhamento interno entre os processos, as ações, as informações e as decisões no contexto organizacional 2. posicionamento da organização no am- biente no qual está inserida 3. Visão de futuro 17 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 1º princípio Alinhamento interno entre os processos, as ações, as informações e as decisões no contexto organizacional O processo de tomada de decisão é um dos pontos mais importantes na gestão estratégica empresarial. Porém, uma decisão estratégica somente é possível quando existe uma estruturação bem definida dos pro- cessos organizacionais e das ações que estão ligadas a esses processos. Da mesma forma, é fundamental que exista uma gestão eficaz das informações geren- ciais, haja vista que somente será possível tomar deci- sões assertivas se estivermos munidos de informações confiáveis e seguros das implicações dessas decisões em todo o ambiente organizacional. 2º princípio Posicionamento da organização no ambiente no qual está inserida Uma organização necessita conhecer bem o am- biente no qual está inserida. É fundamental que a or- ganização conheça quem são os seus concorrentes e em qual posição de competitividade ela se encontra. Para isso as organizações devem monitorar o ambien- te com ferramentas que proporcionem a preparação para as reações que deverão tomar a qualquer amea- ça a que venham enfrentar. Da mesma forma, conhe- cendo esse ambiente, a organização ficará muito mais propícia a aproveitar as oportunidades, tendo em vis- ta que tais oportunidades somente serão apresentadas às organizações que estiverem dispostas e disponíveis para ocupar uma nova posição no mercado competitivo. Vera Lúcia da Silva Ventura - 18 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 3º princípio Visão de futuro Quando mantemos o foco no passado, deixamos de viver o presente. Da mesma forma, quando man- temos o foco no presente, deixamos de nos preparar para o futuro. Essa afirmação nos remete a reflexões sobre o que seria o futuro. Quem é esse futuro tão desconhecido? De fato, não temos como prever, exatamente, o que acontecerá no futuro. A única certeza que temos é que as mudanças virão e que nada do que vivemos hoje continuará para sempre da mesma forma. Pensando nessas mudanças é que todo bom admi- nistrador desenvolve a VISÃO DE FUTURO. As incer- tezas são reais, mas utilizando um provérbio famoso: “cada um colhe o que planta”, podemos entender que há como nos preparar para os novos ambientes. Um modelo de Gestão Estratégica Empresarial considera a VISÃO DE FUTURO como um dos princípios quase que óbvios em sua concepção. Essa consideração se dá pelo fato de que não há mais espaço para empre- sas que mantém suas atividades estagnadas e sem atualizações. Principalmente, não há como susten- tar organizações, nos dias de hoje, sem definições de objetivos claros. O fato de definir objetivos já declara uma atitude voltada ao FUTURO. Além disso, uma empresa precisa saber quais são as razões de sua existência e por quais motivos a em- presa continuará existindo. É fundamental, na Gestão Estratégica Empresarial, reconhecer o que mantém as atividades da organização e quais são os valores que os produtos ou serviços, gerados por essa empresa, agregam ao mercado competitivo. 19 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Considerando esses princípios, vale lembrar dos estudos que norteiam a formação de habilidades e competências para atuar com eficácia na Gestão Estratégica Empresarial. Esses estudos apresentam uma sequência de etapas interdependentes e inter-re- lacionadas que são fundamentais para o sucesso do modelo. Essas etapas são reformuladas, nesse capítulo, e apresentadas de forma que seja possível interpretar e implementar um modelo eficaz de Gestão Estratégica Empresarial. Baseando-se em Certo (2005), podem- -se elencar as seguintes etapas: 1. Análise do Ambiente Ambiente Interno Ambiente Externo 2. Definição das diretrizesestratégicas Visão, Missão, Valores Organizacionais e Objetivos Organizacionais 3. Formulação da estratégia 4. Implementação da estratégia 5. Avaliação da estratégia Partiremos do princípio de que antes de definir as diretrizes estratégicas precisamos analisar o ambien- te no qual a organização está inserida, a qual chama- remos de Ambiente Competitivo. 1ª etapa Análise do Ambiente A análise do ambiente competitivo é realizada, nor- malmente, com a utilização de algumas ferramentas Vera Lúcia da Silva Ventura - 20 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o que proporcionam o diagnóstico do que está aconte- cendo no ambiente interno e externo da organização. Uma das ferramentas utilizadas é a Análise SWOT. Essa ferramenta proporciona a obtenção de infor- mações e a identificação das FORÇAS (Strengths) e FRAQUEZAS (Weaknesses), OPORTUNIDADES (Opportunities) e AMEAÇAS (Threats) expostas à empresa. Tanto as OPORTUNIDADES quanto as AMEAÇAS são encontradas no âmbito externo da organização. As OPORTUNIDADES são positivas pois podem propor- cionar uma situação favorável de posicionamento es- tratégico para a empresa. Por outro lado, as AMEAÇAS revelam situações desfavoráveis e podem prejudicar o funcionamento da organização e, até mesmo, colocá- -la em condições de vulnerabilidade perante o merca- do competitivo. Nesse sentido, cabe ao administrador buscar formas de aproveitar as oportunidades e evi- tar ou eliminar as ameaças. Por meio dessa ferramenta, a empresa consegue mapear os elementos que compõem tanto o ambiente interno quanto o ambiente externo, e, com esse ma- peamento poderá monitorar as mudanças que estão ocorrendo, bem como projetar tendências e cenários. Por meio dessa projeção passa a ser capaz de prever possíveis eventos que possam prejudicar ou benefi- ciar a organização. Vale ressaltar que para uma análise eficaz, inde- pendente da ferramenta a ser utilizada, as organizações devem ter em mente que é fundamental manterem-se atualizadas quanto aos principais elementos que com- põem o seu ambiente competitivo. Alguns dos princi- pais elementos são destacados a seguir: 21 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o a) Elemento demográfico O elemento demográfico apresenta as características de determinada população. Esse elemento abrange além dos padrões, tamanho e perfil (faixa etária, for- mação, etnia, renda, entre outras) da população en- volvida no ambiente competitivo da organização, sua distribuição geográfica. b) Elemento econômico O elemento econômico apresenta o contexto econômi- co da organização. Por esse elemento é possível obter informações sobre as políticas econômica, cambial, de investimento, entre outras. Além disso, é possível en- tender a influência governamental sobre os negócios da organização. c) Elemento político-jurídico O elemento político-jurídico envolve as questões rela- cionadas à legislação e traz informações sobre o poder legislativo, bem como das instituições que regulamen- tam as leis tanto nacionais quanto internacionais. d) Elemento sociocultural O elemento sociocultural é bem parecido com o ele- mento demográfico, pois também traz informações so- bre a população, porém as informações socioculturais abrangem aspectos sobre hábitos, costumes, crenças, valores e opções que caracterizam a diversidade social. e) Elemento tecnológico O elemento tecnológico apresenta informações pela tecnologia da informação, redes sociais, registro de patentes, inovações e pesquisas e desenvolvimento e Vera Lúcia da Silva Ventura - 22 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o contribuem para o entendimento da criação, difusão e transformação de dados em informações e, por fim, informações em conhecimento. Por meio da atualização das informações relacio- nadas a esses elementos, as organizações constroem um banco de dados que possibilita manter o monito- ramento dos acontecimentos e facilita o processo de tomada de decisões e de controle do planejamento es- tratégico empresarial. Outra ferramenta muito utilizada e de muita im- portância no que tange à análise do ambiente é a Análise das Cinco Forças de Porter. Contextualiza-se que Michael Porter desenvolveu esse modelo de aná- lise do ambiente empresarial, em 1979, com foco no diagnóstico da competição interorganizacionais. Para Porter, a estratégia competitiva de uma empresa sur- ge das regras impostas pela concorrência. Para tanto, o autor considerou as forças competitivas de uma or- ganização como: Rivalidade entre os concorrentes; Poder de negociação dos clientes; Poder de negociação dos concorrentes; Ameaça de entrada de novos concorrentes ou novos entrantes; Ameaça de produtos substitutos. Rivalidade entre os concorrentes É comum, no ambiente competitivo, que as em- presas participem de competições. Essas competições são saudáveis e são importantes para garantir a quali- dade dos produtos ou serviços oferecidos. Além disso, 23 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o precisamos entender que, se há concorrência, é por- que há demanda do produto e isso é essencial para a continuidade das organizações. Neste sentido, toda organização busca a diferen- ciação para garantir destaque na participação do mer- cado. Normalmente, as empresas são estimuladas à competitividade pelas reações de seus concorrentes e, exatamente por isso, precisam estar atentas e mu- nidas de informações sobre a atuação desses concor- rentes no mercado. Poder de negociação dos clientes Os clientes apresentam enorme poder sobre as or- ganizações. Existe uma total relação de dependência entre ambos. São os clientes que aquecem o mercado competitivo e retém a força de movimentar esse mer- cado, podendo promover até uma “guerra” entre os concorrentes. É por meio dessas movimentações dos clientes que as empresas se obrigam a melhorar a quali- dade e atualizar os preços de seus produtos ou serviços. Poder de negociação dos concorrentes A relação das organizações com seus fornecedo- res também é uma relação de dependência. Não há como manter a competitividade sem parceiros que ga- rantam a qualidade dos insumos e, ao mesmo tempo, ofereçam preços compatíveis com os custos possíveis a serem assumidos pelas organizações, de forma que possam repassar ao produto final sem prejudicar a sua competitividade em preços. Nesse sentido, os fornece- dores também detêm força e as organizações deverão manter o poder de negociação com esses fornecedo- res. A chave é estabelecer uma relação de parceria. Vera Lúcia da Silva Ventura - 24 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Ameaça de entrada de novos concorrentes ou novos entrantes Os novos concorrentes ou novos entrantes são ameaças importantes e constantes que as organiza- ções, independente do segmento, deverão enfrentar. Essas ameaças são latentes devido à própria deman- da do produto no mercado competitivo. Uma vez que o produto é bem aceito, novas organizações surgem e passam a participar do mercado, podendo atrair os clientes de tal forma que prejudique a estabilidade organizacional. Movidas por essas razões, as organizações preci- sam conhecer esses novos concorrentes e agir estra- tegicamente para manter suas posições no mercado. Os estudos sobre administração estratégica chamam essa preparação de barreiras de entradas. Tais barrei- ras são formas de evitar que esses novos concorren- tes ganhem força e vulnerabilizem o funcionamento da organização. Ameaça de produtos substitutos São considerados produtos substitutos aqueles produtos que surgem no mercado com as mesmas ca- racterísticas ou utilidade dos produtos já existentes e que podem oferecer algum benefício a mais, podendo prejudicar a preservação dos clientes. As organizaçõesdevem acompanhar as inovações do mercado e manter constante pesquisa mercadológi- ca para que se fortaleçam no sentido de sair na frente e evitar que tais produtos ameacem a sua posição no mercado. É fato que o modelo das cinco forças afeta indiretamente as organizações e faz parte do ambien- te externo. Para se manterem ainda mais fortes, as 25 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o empresas precisam conhecer o seu próprio ambiente, de forma a fortalecerem sua estrutura constantemen- te para fazer frente à competição acirrada do merca- do. Para isso devem buscar fontes que lhes ofereçam vantagens competitivas. Seguindo um dos princípios de Sun Tzu (2002, p. 43) em “A arte da Guerra”: Conheces teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem combates a travar, cem vezes se- rás vitorioso. Se ignoras teu inimigo e conheces a ti mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas. Se ignoras ao mesmo tempo teu inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates por tuas derrotas. Para conhecer-se ainda melhor, as organizações podem contar com o Modelo da Visão Baseada em Recursos. Segundo Barney (1991), os recursos dis- poníveis nas organizações, se bem utilizados, podem promover a obtenção de vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Vale contextualizar que Recursos são os ativos tangíveis (possíveis de medir ou mensurar) ou intan- gíveis (difíceis de medir ou mensurar) da organização e podem ser classificados como: Capital físico: tecnologia, equipamentos, localização geográfica ou acesso à matéria-prima. Capital humano: capacidade intelectual e de relacionamento que pode ser encontrada nas pessoas que compõem a organização. Capital organizacional: diz respeito à estrutura formal da empresa, a forma como ela se organiza, Vera Lúcia da Silva Ventura - 26 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o suas ferramentas de controle, seus sistemas de coordenação e as relações informais entre os grupos. O que vai garantir que as organizações obtenham vantagem competitiva por meio de seus recursos é o quanto eles são valiosos, raros, difíceis de imitar e difíceis de substituir. Porém, de nada adianta ter um recurso valioso se todos o possuírem. Portanto, as or- ganizações precisam buscar maneiras de criar valor em seus recursos, constantemente, tornando-os ra- ros e, ao mesmo tempo, difíceis de imitar e “impossí- vel” de substituir. 2ª etapa Definição das Diretrizes Estratégicas A definição das diretrizes estratégicas é funda- mental para assegurar métodos e caminhos que a or- ganização deverá seguir. Funciona como um mapa de direção que norteia todas as decisões e, sem esse mapa, não é possível dizer que a organização é admi- nistrada de forma estratégica. Visão A Visão é a declaração do que a organização quer ser no futuro e do que ela pretende realizar. Uma organização sem a definição de visão, não tem diretriz e não conseguirá jamais realizar os seus objetivos. Se a organização não souber onde quer che- gar, qualquer resultado será aceito. E não é isso que os investidores esperam. 27 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Missão A Missão organizacional é a impressão da razão de ser da organização. Trata-se do propósito fundamen- tal e da essência da organização. É pela declaração da missão que a organização identifica-se e apresenta a sua razão de existir. Valores Organizacionais Valores são as crenças e as atitudes reveladoras da personalidade da organização. Exemplos de valo- res que sustentam uma empresa: honestidade, ética, transparência, responsabilidade social e ambiental, entre outros. Objetivos Organizacionais Os objetivos são os resultados que a organização pretende alcançar. Esses objetivos devem ser claros e tangíveis. Com base nos objetivos, as organizações precisam definir metas, que são os passos que devem seguir para atingir seus objetivos. 3ª etapa Formulação da Estratégia Nesta etapa, a organização já tem subsídios para definir quais estratégias deverá tomar para atingir seus objetivos. É importante entender que estratégia é um plano com ações definidas para se atingir determina- do objetivo. Podemos dizer que a formulação da es- tratégia envolve o pensamento racional sobre o que fazer, como fazer, quando fazer e quem estará envol- vido. Sem essas definições não há estratégia e sem estratégia não há resultado. Vera Lúcia da Silva Ventura - 28 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 4ª etapa Implementação da Estratégia O sucesso de toda estratégia está na forma como ela é implementada. Na fase de implementação, a or- ganização precisa estar ciente de que todos devem estar envolvidos e comprometidos com as estratégias e com os objetivos organizacionais. De nada adianta criar estratégias e não colocá-las em prática. 5ª etapa Avaliação da Estratégia Na etapa de avaliação é que a organização pode controlar se tudo que foi estrategicamente pensado foi implementado e se está sendo realizado da forma como planejado. É possível contar com ferramentas de controle que ajudam a organização a medir seus re- sultados e avaliar os cenários, repensando as estraté- gias e, até, se necessário, reformulando-as. A contextualização sobre os conceitos principais da Administração Estratégica torna-se fundamental para que possamos entender como deve ser a atua- ção da gestão de pessoas no contexto estratégico das organizações. Vale reforçar que Gestão Estratégica de Pessoas é o alinhamento das práticas e políticas de gestão de pessoas às estratégias dos negócios da organização. Assim, todas as práticas devem ser voltadas aos ob- jetivos e metas organizacionais, bem como aos valo- res, cultura, mobilizações, mudanças, relacionamento interpessoal e comprometimento organizacional. 29 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Por considerar ser pertinente e relevante apresen- tar um resgate histórico de algumas teorias da admi- nistração, voltaremos a autores clássicos que iniciaram as discussões sobre as relações dos indivíduos com as organizações e com o trabalho. Para isso, nos basea- remos em Fleury (2000) e em Kwasnicka (2004), de forma a contextualizar a evolução da gestão estratégi- ca de pessoas e do comprometimento organizacional. Percebemos que após a Revolução Industrial sur- giram, no início do século XX, estudos de administra- ção que vislumbravam métodos de produção capazes de aumentar a produtividade. Considere que esses es- tudos vinculavam a satisfação do indivíduo às recom- pensas monetárias, por entender ser essa uma forma de se reforçar o vínculo do indivíduo com o trabalho, ainda que apenas pelo interesse monetário, e de se atingir os objetivos esperados. Foi com o avanço desses estudos que surgiram, gra- dativamente, práticas de gestão de pessoas. Embora elas fossem ainda incipientes, eram práticas voltadas à direção e ao controle dos funcionários, pois consi- deravam princípios como justiça na remuneração e na divisão do trabalho. Nesse contexto, as regras de con- duta, a formalização e a padronização serviam de fer- ramentas para controlar os funcionários e estabelecer pactos das relações empregatícias, partindo do princí- pio do homem certo para o lugar certo (FlEURy, 2000). Se você recorrer a outros estudos, poderá se de- parar com carências e reflexões diversas. É o caso da Gestão estratégica de pessoas2 Vera Lúcia da Silva Ventura - 30 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Escola das Relações Humanas, que teve origem a partir da necessidade de humanizar e democratizar a admi- nistração, além de querer considerar as contribuições dos princípios da psicologiae da sociologia. Esse estu- do apresentou as implicações dos fatores psicológicos no desempenho dos funcionários, remetendo a refle- xões sobre a necessidade de evoluir nos estudos sobre os reforços psicológicos na abordagem com os indiví- duos. Foram essas reflexões que fizeram com que os estudos comportamentais tivessem início. Perceba que esses estudos contribuíram para o entendimento sobre a influência das ações da orga- nização na motivação dos indivíduos. Além disso, in- dicaram uma possível motivação dos indivíduos, não somente pela recompensa monetária, mas também pelas propostas do trabalho e pelas perspectivas que a organização lhes proporcionaria em termos de car- reira, desafios e responsabilidades. Tais propostas e perspectivas agradariam o indivíduo na função exerci- da na organização, o que o faria permanecer no traba- lho e congregar os objetivos organizacionais aos seus objetivos individuais. Na sequência desses estudos, a partir da década de 50, quando o homem já era considerado um ser social, capaz de trabalhar em grupo, surgiram as teo- rias de planejamento estratégico nas organizações e de definições de estratégias para reduzir as incerte- zas. A partir de então, novos conceitos foram adotados por algumas organizações que passaram a reconhe- cer os indivíduos como capital humano, composto por conhecimentos, habilidades, experiências individuais e criatividade, embora outras empresas continuassem a adotar modelos tradicionais e típicos do início do sé- culo passado. O reconhecimento do capital humano foi consa- 31 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o grado em conjunto com o capital social, composto por relações sociais, confiança mútua e aprendizado com- partilhado, e com o capital organizacional, constituído pela cultura organizacional, reputação, processos de produção e direitos de propriedade intelectual. Esses capitais foram considerados ativos estratégicos capa- zes de gerar vantagem competitiva sustentável. Com esse reconhecimento, as organizações inclinaram-se à consagração da importância da gestão estratégica de pessoas, que iremos estudar a partir de agora. A área de recursos humanos, anteriormente cha- mada de departamento pessoal, era tradicionalmen- te considerada apenas um setor voltado às atividades administrativas. Por isso, era comum associarmos sua atividade à gestão de benefícios, à folha de pagamento e a outras tarefas rotineiras. Porém, isso foi mudando à medida que essa área foi, gradualmente, incorporan- do uma postura mais estratégica e produzindo capaci- dades derivadas da reconstrução de políticas, práticas e funções da área de gestão de pessoas. Essa postura diferenciada foi motivada pelas mu- danças nos modelos organizacionais que, em função do cenário competitivo, transformaram o gerencia- mento de recursos humanos. Nesse novo contexto, o modelo passou a abranger estratégias, políticas, prá- ticas e filosofias de gestão de pessoas e não apenas questões administrativas e burocráticas. Você pode perceber, portanto, que a abrangência de estratégias, políticas, práticas e filosofias na gestão de pessoas re- mete à nova configuração de gestão de pessoas nas organizações. Entendemos essa configuração como a gestão estratégica de pessoas, considerando sua integração no modelo organizacional que contempla as diretri- zes organizacionais, partindo dos objetivos e metas. Vera Lúcia da Silva Ventura - 32 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Esse modelo, nessa integração, envolve diretamen- te os gestores de pessoas. E é a partir desse envolvi- mento que esses gestores assumem o papel de criar condições para que os objetivos da organização se- jam alcançados. Por esse modelo de gestão de pessoas, os indiví- duos, na organização, transformaram-se em fonte de vantagem competitiva. A partir daí as organizações passaram a reconhecer a área de recursos humanos como parceira estratégica na obtenção de vantagem competitiva sustentável a longo prazo, condicionan- do-a a participar das definições de objetivos, metas, visão e missão organizacionais. Tal parceria é refor- çada pela transformação da figura do indivíduo na organização, uma vez que o capital humano osten- ta um papel valioso e imprescindível na garantia de sobrevivência em um cenário empresarial altamen- te competitivo. Com essa transformação, a área de gestão de pes- soas incorporou, em seus planos, o desenvolvimento de sistemas com foco na conquista do maior envolvi- mento e melhor desempenho dos indivíduos nas or- ganizações, haja vista que essas eram as maiores imposições dos mercados interno e externo. A manu- tenção do envolvimento e do desempenho dos indiví- duos na organização é entendida como condição para a competitividade organizacional e essa condição pres- siona as organizações a investirem em programas de treinamento e desenvolvimento. É importante ressaltarmos que, para obter vanta- gens competitivas, sustentáveis em longo prazo, é im- prescindível que o foco seja voltado para a qualificação das equipes em prol da conquista do comprometimen- to dos colaboradores com os objetivos institucionais (AlBUQUERQUE, 2002). Entretanto, para qualificar 33 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o equipes e obter seu comprometimento com os objeti- vos organizacionais, são necessárias ações de gestão de pessoas vinculadas à obtenção de vantagens com- petitivas e ao compartilhamento de objetivos e metas. Complementarmente a isso, percebemos a neces- sidade de serem solicitadas decisões organizacionais estratégicas também para a área de recursos huma- nos. Isso mostra a mudança radical do seu papel nas relações corporativas, dado que essas decisões estão relacionadas às funções voltadas à formulação das es- tratégias organizacionais e não mais, apenas, às im- plementações das ações operacionais da área. Em suma, para responder aos desafios impos- tos, a gestão de pessoas direciona, estrategicamen- te, sua atenção à conquista e à retenção de talentos que se comprometam com os ideais da organização. Ademais, atenta-se à preparação desses talentos em função dos objetivos organizacionais vinculados aos objetivos individuais. Observe que quando organizamos esse direciona- mento, a conquista, a retenção e a preparação dos ta- lentos carecem de definições de critérios. Isso porque eles devem conceber delineamentos desde a captação até a efetivação de profissionais que apresentem ta- lentos capazes de agregar valor à organização. Após a efetivação desses talentos, cabe à área de recursos hu- manos, já na incorporação de visão estratégica, acom- panhar o desempenho dos contratados, possibilitando a integração dos objetivos individuais aos objetivos or- ganizacionais. Para essa integração de objetivos, há ainda a exigência de esmero na formulação de políti- cas inovadoras de recursos humanos. Essas políticas devem estar baseadas na visão, missão, objetivos e metas da organização, além de serem contempladas nas estratégias corporativas e nas contribuições para Vera Lúcia da Silva Ventura - 34 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o o bem-estar das pessoas, de forma que possam obter realizações profissionais e pessoais. Considere que tais processos de integração, tan- to dos objetivos individuais com os objetivos organi- zacionais, quanto das políticas de gestão de pessoas com as estratégias corporativas, são enfatizados por justificarem as mudanças no comportamento das pes- soas nas organizações. Em decorrência desses proces- sos, essas pessoas passam a interpretar os objetivos organizacionais e a incorporar políticas e práticas cor- porativas de uma maneira sustentável. Ainda nesse sentido, pela integração da gestão de pessoas às estratégias organizacionais, os processosde gestão são reforçados, garantindo maior efetivida- de, coerência e consistência nas decisões e nos direcio- namentos das pessoas. Consequentemente, o modelo de gestão estratégica de pessoas ganha legitimidade e credibilidade (DUTRA, 2008). No entanto, a legitimi- dade e a credibilidade desse modelo são fatores que se reforçam pelas ações, apresentadas com as práti- cas de gestão de pessoas, e pelas diretivas, estabele- cidas nas políticas de gestão de pessoas. Vale destacar a importância de se promover uma integração dessas práticas e políticas, ressaltando que as práticas de gestão de pessoas necessitam ser ca- tegorizadas, de maneira que todas as funções da área sejam, efetivamente, realizadas. Podemos incluir nes- sas funções as atividades operacionais, a construção de ajustes internos, os realinhamentos de objetivos e os direcionamentos voltados à parceira de mudanças, imprimindo, assim, a ligação das práticas com as po- líticas de gestão de pessoas. Essas políticas, como são configuradas em uma amplitude acima das práticas, definem os objetivos 35 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o da área de gestão de pessoas e permitem o direcio- namento dos envolvidos, tornando possível atuar com maior grau de segurança e justiça nas decisões e nas ações de gestão de pessoas. Você pode perceber que alguns gestores de pes- soas, atualmente, já adotam algumas práticas de gestão de pessoas voltadas às estratégias empresa- riais. No entanto, em algumas empresas brasileiras prevalece ao gestor de pessoas a função de execu- tor. Tal situação deve-se ao fato de que as práticas de gestão de pessoas ainda não estão articuladas en- tre si, dificultando, assim, a efetivação de uma atua- ção mais estratégica (TANURE; EVANS; CANÇADO, 2010). A importância da articulação das práticas de gestão de pessoas pode ser justificada pela depen- dência existente entre elas. Em situações de desarti- culação dessas práticas, se não houver planejamento e alinhamento das ações de contratações e das ações de preparação de talentos, a área de recursos huma- nos poderá colocar em risco as estratégias que foram definidas contando com esse planejamento e com esse alinhamento, vulnerabilizando as metas e os objeti- vos organizacionais. Essa vulnerabilidade pode ocorrer, inclusive, por fatores institucionais como legislação, em especial a trabalhista, acionistas, herança histórica e situação do mercado. Esses fatores podem influenciar as práticas e as políticas de gestão de pessoas e, consequente- mente, afetar o resultado da organização. Destacamos aqui alguns autores que contribuíram com estudos sobre as influências da gestão estratégi- ca de pessoas no desempenho organizacional, como você pode observar no Quadro 1. Vera Lúcia da Silva Ventura - 36 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Quadro 1 – Discussões sobre as influências da gestão de pessoas autores / ano contribuições Schneider e Bowen (1985); Ulrich et. al. (1991) Confirmação da existência de relações positivas entre políticas de gestão de pessoas e variáveis como produtividade, lucratividade, qualidade. Guest (1987) Verificação de relação de políticas de gestão de pessoas com resultados esperados de gestão de pessoas e comprometimento. Guest e Hoque (1994) Compreensão de que as práticas de gestão de pessoas melhoram o desempenho organizacional quando integradas à estratégia de negócios. legge (1995) Inferências de que uma estratégia empresarial deve concernir o desenvolvimento de políticas de gestão de pessoas. Boselie, Dietz e Boone (2005) Revelações da influência favorável de políticas e práticas de gestão de pessoas na performance das organizações. Stone, Stone- Romero e lukaszewski (2007) Confirmação da relação entre a efetividade e a aceitação das políticas de gestão de pessoas, valores e cultura organizacionais. El-Kouba et al. (2009) Os investimentos em programas de desenvolvimento têm relação positiva e significante na efetivação dos objetivos estratégicos da organização. leite, Albuquerque e Kniess (2010) Mudanças na cultura organizacional podem influenciar o comprometimento dos empregados com a organização. Fonte: Adaptado de Revista de Administração de Empresas (RAE); Journal of Applied Psychology; Human Resource Planning; Personnel Management; Human Resource Management Journal; Human Resource Management Review; Revista de Administração e Inovação. 37 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Pela apresentação do Quadro 1, notamos que as discussões dos autores foram estabelecidas com foco nas relações entre políticas e práticas de gestão de pessoas e outras variáveis do contexto organizacio- nal. Com esse foco, os autores sugeriram que as po- líticas de gestão de pessoas poderiam influenciar a produtividade, a lucratividade e a qualidade nas or- ganizações, favorecendo ou prejudicando os resulta- dos organizacionais. Evidenciaram-se, ainda, a importância de com- por o desenvolvimento e a implantação de políticas de gestão de pessoas nas estratégias empresariais. Essa composição foi notada como condição para pro- duzir e ofertar produtos ou serviços de valor agregado (lEGGE, 1995). Tal condição poderia, inclusive, nos remeter à necessidade de direcionar a organização a mudanças estruturais e culturais de forma que as po- líticas de gestão de pessoas fossem aceitas e efetiva- das. Nesse panorama, com a aceitação e a efetivação dessas políticas, concluímos que as organizações con- quistariam novos valores e transformariam a cultura organizacional. Tal conquista e transformações podem ser apresentadas como favoráveis à sustentabilidade das políticas organizacionais e, consequentemente, ao alinhamento dos objetivos. Nesse alinhamento, a integração dos princípios organizacionais aos valores do contexto no qual os colaboradores atuam poderia influenciar o comprometimento dos empregados com a organização. Além das políticas, compreendemos que as práti- cas de gestão de pessoas seriam capazes de produzir desempenho organizacional superior se fossem utiliza- das em conjunto e de maneira integrada às estratégias de negócios. Você pode notar que essa compreensão foi uma contribuição importante para o entendimen- Vera Lúcia da Silva Ventura - 38 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o to da necessidade de integração das práticas de ges- tão de pessoas às estratégias organizacionais para a consecução dos objetivos estratégicos da organização. Nessa busca pela consecução dos objetivos orga- nizacionais, destacou-se que uma das políticas que poderia ser contributiva é a política que estabelece programas de recrutamento e seleção e de desenvol- vimento de pessoas. Podemos também considerar relevantes as políti- cas de remuneração, de incentivos e recompensas, de promoção e carreira, de comunicação e de relaciona- mento interpessoal. Nos subcapítulos a seguir, abor- daremos cada uma delas. 2.1 políticas de recrutamento e seleção Para elencar as políticas de gestão de pessoas co- mumente utilizadas pelas empresas, apresentaremos, inicialmente, as políticas de recrutamento e seleção de pessoas. Recrutamento de Pessoas Entende-se por recrutamento a maneira de loca- lizar e atrair candidatos para as vagas abertas na or- ganização. Em uma atuação estratégica, a área de recursos humanos, normalmente, envolve o gestor da área na qual existe a vaga em todo o processo. É fundamental que as competências necessárias para a vaga sejam detalhadas para que as ações de recruta- mento (busca de candidatos) sejam eficazes e atraiam as pessoas certas para o lugar certo. Desta forma, é essencial que o processo de recru- tamento seja bem elaborado ao ponto de se conseguir 39 - Gestão estratégica de pessoascom foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o uma gama suficiente de candidatos. Esses candidatos são a matéria-prima do processo de seleção e, por- tanto, contribuirão com opções que poderão levar à melhor decisão. Cada organização atua com um modelo diferente e exclusivo de recrutamento. Algumas chegam a ter- ceirizar o processo. A fase de recrutamento pode ser terceirizada sem muitos prejuízos. Já a fase de sele- ção deve ser realizada única e exclusivamente pela própria empresa contratante. As organizações devem dedicar a máxima atenção no processo de seleção, principalmente porque, se con- tratar mal, consequentemente gerará gastos desneces- sários para a organização e ainda gerará uma demanda de trabalho para a gestão de pessoas que não agrega- rá valor algum à organização. Essa atenção evitará que a organização entre num dilema que tem sido viven- ciado por muitas empresas nacionais e internacionais: “Contrata mal porque demite muito ou demite muito porque contrata mal? ” Esse dilema ocorre pelo fato de que uma má con- tratação gera tantos outros serviços para a área de re- cursos humanos que essa, por sua vez, não consegue dedicar-se ao que tem de mais importante: a excelen- te contratação. Havendo urgência na contratação, a organização, muitas vezes, tem que contratar profis- sionais que não apresentam as competências neces- sárias. A mesma organização investe em treinamentos e, mesmo assim, não consegue desenvolver compe- tências essenciais para o cargo, aumentando então o índice de rotatividade na organização. Vera Lúcia da Silva Ventura - 40 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o A rotatividade pode ser alocada como custo dire- to com as despesas de admissões e de desligamentos. Além disso, a rotatividade gera custos e reflete, ne- gativamente, nas finanças empresariais, no tempo e nos recursos organizacionais. A alta rotatividade pode gerar ainda perda de produtividade; de lucratividade e de capital intelectual. E, além de perdas financei- ras, sobrecarrega os pares, aumenta os acidentes de trabalho, as doenças ocupacionais e aumenta o pas- sivo trabalhista, impactando na motivação e no com- prometimento das pessoas, podendo ainda reduzir a credibilidade junto aos clientes e prejudicar a imagem da organização. Por essa razão entende-se que se trata de um processo estratégico. Nesse sentido, desde o início, as organizações devem integrar as contratações aos objetivos da organização. A excelência nesse proces- so somente será alcançada se forem definidas, desde o início do processo, as reais necessidades da área e da organização. Um fator importante é a atração de profissionais. Para que se obtenha um banco de currículos interes- sante, a organização deve pensar em como atrair os melhores profissionais. Segundo Faissal (2005), as organizações que desejam atrair profissionais com- petentes devem cuidar de suas imagens. Pesquisas brasileiras que estudam os fatores de atração e reten- ção no trabalho demonstram que a imagem da empre- sa no mercado, a oferta de desafios, as perspectivas de crescimento, a liberdade de ação e um clima orga- nizacional favorável despertam mais o interesse dos profissionais do que a remuneração. No processo de recrutamento, dependendo de suas políticas, a organização poderá adotar três meios di- ferentes de recrutamento: interno, externo e misto. 41 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Recrutamento Interno O recrutamento interno é uma estratégia muito utilizada pelas organizações de diversos portes e ocor- re quando, para preencher uma determinada vaga, a organização busca no seu quadro de funcionários, as competências necessárias para a vaga. Essa estraté- gia gera uma movimentação de pessoal, dentro da própria empresa, com promoções ou transferências e pode ser interessante na medida em que todos te- nham oportunidade de participar e que haja serieda- de e transparência em todo o processo. Vantagens do recrutamento interno 1) Motivação: Uma das principais vantagens é a moti- vação dos envolvidos. Pessoas que têm perspectivas de carreira dentro da organização tendem a sentir-se valo- rizadas e reconhecidas. Esse sentimento é que motiva a maioria dos profissionais competentes nas organiza- ções. Além disso, a organização promove o autodesen- volvimento, desde que pratique o feedback e apresente, aos que não foram escolhidos, as razões pela não es- colha e os pontos que devem ser melhorados para que possa obter sucesso em novas oportunidades. 2) Menor Tempo: A estratégia de recrutamento inter- no torna o processo de recrutamento e seleção mais ágil, pois não há necessidade de divulgações exter- nas, análises detalhadas de currículos e buscas de in- formações sobre o candidato. 3) Menor Custo: Com o recrutamento interno, a em- presa evita despesas com anúncios, honorários de con- sultoria externa, custo da seleção, custo da admissão, custo com integração, entre outros. 4) Melhor Adaptação: Como a empresa contratará um Vera Lúcia da Silva Ventura - 42 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o profissional que já conhece toda a rotina organizacio- nal, não precisará esperar pelo período de experiência e pelo processo de integração para que o profissional comece a produzir. O conhecimento de ambas as par- tes também evitará um choque cultural entre elas. Desvantagens do recrutamento interno 1) Treinamento: Alguns líderes preferem não trans- ferir um profissional já treinado para uma posição na qual precisará ser novamente treinado e substituí-lo por outro que gerará nova demanda de treinamento. 2) Egoísmo da chefia: Em muitos casos, o profissio- nal sente-se constrangido em participar do processo, pois percebe que seu líder direto não aceita perdê-lo para outra função ou departamento. 3) Exposição dos profissionais: O processo de recruta- mento interno pode gerar exposição dos profissionais que participam, pois declara sua possível insatisfação com o cargo/função atual. 4) Mal-estar dos não escolhidos: Os profissionais que não são escolhidos podem ficar ofendidos, pois obvia- mente ninguém gosta de perder. 5) Perda de oportunidade de renovar a organização: O recrutamento interno pode impedir que a empresa insira, em seu quadro de profissionais, o famoso “san- gue novo”. A contratação de novos profissionais, mui- tas vezes, é uma oportunidade de renovar as ideias na organização e de novas experiências. Recrutamento Externo O recrutamento externo é uma maneira de captar novos candidatos, no mercado de trabalho, de forma a 43 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o ocupar as vagas com pessoas desconhecidas pela or- ganização. O recrutamento externo pode ser realiza- do de diversas formas. Normalmente, as organizações possuem um banco de currículos que são armazena- dos, independentemente da existência ou divulgação das vagas. Quando não há um número suficiente de candida- tos para a vaga, a organização pode, ainda, divulgar as vagas e aguardar pelo recebimento dos currículos. Há também a possibilidade de contar com as agências de emprego que ajudam tanto na divulgação, quanto na triagem dos currículos. Vantagens do recrutamento externo 1) Renovação: Ao contrário do que acontece com o re- crutamento interno, o recrutamento externo proporcio- na novos talentos e experiências para a organização. Com a entrada de novos colaboradores, a empresa importa novas ideias e experiências que poderão ser fontes de renovação para a organização. 2) Diversidade: É muito comum que as pessoas nas organizações desenvolvam as mesmas características, crenças e valores. Quando há a possibilidade de con- tratar novos profissionais com novas crenças e valores, a organizaçãopode ter a chance de diversificar suas equipes. O recrutamento externo, além de renovar, enriquece o quadro de profissionais da organização. 3) Vantagem Competitiva: Por meio da contratação de novos profissionais, aumentam as chances de ala- vancar a competitividade no mercado. Principalmente porque esses profissionais podem vir de empresas con- correntes e com o know-how que agregará valor às estratégias da organização. 4) Atualização e Inovação: Profissionais contratados Vera Lúcia da Silva Ventura - 44 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o por meio de recrutamento externo fazem com que a empresa repense suas ideias e sua área de negócios e abrindo-se às novas ideias, a organização terá capa- cidade de se atualizar e renovar seus processos, pro- dutos e estratégias. Desvantagens do recrutamento externo 1) Demora: Normalmente o recrutamento externo é mais demorado que o recrutamento interno. 2) Alto custo: O recrutamento externo gera muito mais despesas do que o recrutamento interno, pois exige gastos com anúncios, agência de recrutamento, en- trevistas, entre outros. 3) Insegurança: O recrutamento externo, normalmen- te, é menos seguro do que o interno, por se tratar de captação de pessoas desconhecidas. 4) Frustração e desmotivação do pessoal interno: Quando a organização busca profissionais de fora, de certa forma, demonstra aos seus funcionários que não possui ninguém capacitado para a vaga, internamen- te. Isso pode gerar frustrações do pessoal interno e perda de perspectivas de carreira. Recrutamento Misto Algumas organizações optam pelo recrutamen- to Misto, pois trata-se de um método que procura viabilizar a seleção do profissional utilizando as van- tagens tanto do Recrutamento Externo quanto do Recrutamento Interno. 45 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o SELEÇÃO DE PESSOAS Após a triagem dos candidatos, chega o momento de selecionar a pessoa certa para a vaga certa. Esse mo- mento é o principal no processo, pois você pode ter cem candidatos e, mesmo assim, não conseguir com- pletar a vaga. Porém, vamos partir do princípio que houve um bom recrutamento e que a triagem dos can- didatos foi realizada com o rigor necessário para a se- leção do melhor profissional. Assim, podemos contar com algumas técnicas de se- leção. Apresentamos as principais: 1) Entrevista – consiste na submissão do candidato a conversas com questionamentos que devem girar em torno de suas experiências profissionais, formação, entre outras questões importantes para verificar se o candidato apresenta o perfil desejado à vaga. Trata-se de uma técnica fundamental para o processo de sele- ção, pois por meio dela é possível conhecer o candi- dato de uma forma mais individualizada, bem como entender quais são as expectativas do candidato pe- rante a vaga e à empresa. 2) Dinâmicas de grupo – trata-se de uma etapa do processo de seleção que avalia o comportamento do candidato diante dos demais concorrentes, em de- terminadas situações. Esse processo visa analisar a capacidade de expressar ideias e de integração do can- didato. Além disso, pelas dinâmicas de grupo é possí- vel avaliar o desempenho do candidato e sua atuação em grupo. Por essa técnica também é possível veri- ficar algumas habilidades e competências específicas da vaga. Na dinâmica de grupo, os candidatos são ex- postos a situações desafiadoras e terão a oportunida- de de apresentar competências, que dificilmente são percebidas pela leitura do currículo. Vera Lúcia da Silva Ventura - 46 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 3) Testes de conhecimento – são considerados ins- trumentos de apoio que oferecem a possibilidade de verificar os conhecimentos técnicos e práticos dos can- didatos. A técnica se torna eficaz na medida em que os testes estejam alinhados aos conhecimentos ne- cessários para a vaga. 4) Testes psicológicos – são técnicas que avaliam a personalidade dos candidatos, bem como suas ten- dências comportamentais e contribuem para analisar melhor o perfil do candidato. 5) Testes grafológicos – permite que se faça o levanta- mento do potencial do profissional e revela se a pessoa poderá corresponder às expectativas da organização, por meio da escrita. Esse teste tem sido bastante uti- lizado pelas empresas e tem revelado uma amplitude de informações a respeito do candidato. Atualmente, as empresas estão utilizando as téc- nicas tradicionais, mas é interessante apresentar uma técnica moderna de seleção de pessoas, chamada brain teaser. Essa técnica foi desenvolvida por empresas de tecnologia dos Estados Unidos e consiste de entrevistas que testam a criatividade e a capacidade da pessoa em encontrar soluções rápidas. Além dessas entrevistas, o selecionador utiliza-se de jogos online e simulações que testam a capacidade de tomada de decisões do candidato durante o jogo, com situações do cotidiano do profissional da área que o candidato deverá atuar. Por meio dessa técnica o selecionador poderá realizar também o Manager Matching. Trata-se de uma análise que procura identificar a aderência entre o candidato e o futuro gestor. Para verificar, na prática, o conhecimento do candidato sobre determinado software, o selecionador poderá utilizar sistemas de simulação de software e de programação. 47 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o Além das entrevistas presenciais, atualmente as empresas utilizam as ferramentas de análise de voz, dicção e gramática por telefone e, ainda, promovem entrevistas a distância por videoconferência. As empresas também utilizam as redes sociais para rastrear o candidato e analisar os pontos positi- vos e negativos na sua interação com outras pessoas, pelo seu histórico, registros na linha do tempo, fotos, amigos, preferências e grupos ativos. É importante destacar que o processo de seleção é um quebra-cabeça que precisa de diversas peças para ser montado. As peças do quebra-cabeça são as técni- cas citadas anteriormente. Cabe ao selecionador jun- tar essas peças e, de posse de diversas informações, verificar qual seria o candidato que apresenta o perfil ideal para assumir a vaga. Quanto mais peças, maior a probabilidade de contratar com segurança. Vale, ainda, lembrar que em todas as técni- cas deve-se manter a ética e obedecer ao art. 5 da Constituição Federal de 1988, que visa afastar qual- quer tipo de discriminação realizada durante a fase pré-contratual no Direito do Trabalho. 2.2 políticas de treinamento e desenvolvimento A teoria acerca dessas políticas conta com autores como Sisson (1994), Dutra (2002), Dessler (2002) e Bohlander e Snell (2010). Eles defendem que as po- líticas de treinamento e desenvolvimento devem ser formuladas de maneira a facilitar a aprendizagem or- ganizacional, tanto para trabalhos atuais quanto para trabalhos futuros. Assim, as políticas de treinamento e desenvol- vimento necessitam estar vinculadas aos propósitos Vera Lúcia da Silva Ventura - 48 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o organizacionais de forma que as ações, nesse senti- do, sejam produtivas e efetivas. Para que isso possa acontecer, os colaboradores da organização devem re- ceber treinamentos planejados e adequados às com- petências que se pretende desenvolver em função das expectativas relacionadas ao desempenho individual. Esse desempenho, por sua vez, precisa estar atrelado às metas e aos objetivos individuais e organizacionais. Sabe-se que uma diversidade de ações e estra- tégias pode ser adotada para treinamento e desen- volvimento. Entretanto, a escolha deve considerar, essencialmente, as necessidades de conhecimen- tos, habilidades e atitudes por diagnósticos legíti- mos, extraídos de um excelente levantamento de Necessidades de Treinamento (lNT).Torna-se, ainda, necessário levar em consideração os objetivos do programa de desenvolvimento e quais os recursos necessários para sua realização. A orga- nização pode optar por realizar o treinamento inter- namente ou externamente por meio de ações formais ou optar por programas de autodesenvolvimento, com ações não formais. Para isso é fundamental definir as modalidades do programa de desenvolvimento que a organização propõe (formais ou não formais): a) Ações formais – as ações formais são configuradas por cursos presenciais; seminários; workshops; ensi- no a distância ou e-learning e fóruns de debate (pre- senciais ou virtuais). b) Ações não formais – coaching (orientação, apoio e acompanhamento dos profissionais para consecução de determinados objetivos); autodesenvolvimento e grupos de trabalho ou comunidades de aprendizagem, com aprendizagem baseada em problemas; estudo de caso; debate; brainstorming. 49 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o É relevante observar que, estrategicamente, para integrar os princípios instrucionais aos objetivos orga- nizacionais, todo programa de treinamento e desenvol- vimento envolve ações de aprendizagem e educação corporativa e, nesse sentido, deve considerar: o público-alvo; o ambiente; o objetivo; os conteúdos; a metodologia; e a avaliação da eficácia do programa. 2.3 políticas de remuneração, incentivos e recompensas As ações de gestão de pessoas deixam de ser ba- seadas apenas em cargos e tarefas e passam a ser conectadas ao valor que os profissionais agregam aos resultados organizacionais. Isso ocorre porque há a tentativa de se atrelar as políticas de remuneração, de incentivo e de recompensa aos objetivos e metas or- ganizacionais. Essa conexão, contudo, ocorre de for- ma adequada e equilibrada e visa a manutenção do comprometimento dos funcionários com as propostas da organização. Percebemos que tais políticas devem estar volta- das às expectativas dos indivíduos, enquanto justiça na remuneração, considerando que esses indivíduos calculam suas necessidades financeiras e as compa- ram com as ofertas do mercado e, com esses cálcu- los, aceitam sua remuneração, desde que percebam a possibilidade de realizarem seus planos pessoais sa- tisfatoriamente. Tendo a segurança para a realização Vera Lúcia da Silva Ventura - 50 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o desses planos e a confiança na contrapartida que ofe- recem com seu trabalho, os indivíduos passam a valo- rizar outros incentivos e outras formas de recompensa pelo excedente do serviço acordado. Com esses parâmetros, a área de recursos hu- manos é nomeada como responsável pela satisfação, estabilidade, continuidade e desenvolvimento dos co- laboradores na organização. Esses fatores, muitas ve- zes, explicam as intenções e os sucessos de carreira desses profissionais. Atualmente, as empresas estão utilizando o termo “remuneração estratégica”. Esse termo contempla uma forma global de criar um conjunto de medidas voltadas à contrapartida monetária ou não. As empresas po- dem adotar políticas de remuneração fixa ou variável. Essa estratégia pode ser interessante tanto para a organização, que reduz os custos fixos, quanto para o profissional, que passa a contar com possibilidades de novos ganhos como recompensa do atingimento de metas e objetivos. Ao propor programas de incentivos e de recom- pensa para os seus funcionários as empresas reforçam ainda mais a parceria e a reciprocidade da relação. Algumas políticas de incentivos e recompensas são voltadas aos planos de bonificações ou premiações de acordo com o desempenho do profissional. O que é importante é definir critérios justos e coerentes para que todos se sintam privilegiados e não haja nenhu- ma forma de exclusão. 2.4 políticas de promoção e carreira As políticas de promoção e carreira são percebi- das pelas ações que formulam a sequência de posições 51 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o ocupadas. Ao mesmo tempo, elas geram a expectativa de conciliação entre o desenvolvimento das pessoas e o desenvolvimento da organização (DUTRA, 2006). Assim, para que essas políticas se estabeleçam, é pri- mordial que o acompanhamento, em termos de de- senvolvimento, seja percebido pelos colaboradores. Essa percepção fortalecerá o vínculo e fará com que o indivíduo empreenda contribuições voltadas para o crescimento da organização, entendendo que a esse crescimento está condicionada a prosperidade de sua carreira. 2.5 estratégias de comunicação interna No contexto das políticas de gestão de pessoas, é essencial que você considere a comunicação com o in- divíduo como peça fundamental, assim como na polí- tica de remuneração, de incentivos e recompensas. O princípio da estratégia de comunicação é o feedback aos colaboradores com relação ao seu desempenho, de forma que possa haver uma compreensão, por par- te do trabalhador, quanto às possibilidades de corre- ções em função de objetivos e metas propostos. Essa postura é fundamental, pois, na concepção da gestão estratégica de pessoas, os objetivos individuais e or- ganizacionais são, necessariamente, vinculados. A partir dessa concepção, observe que a comuni- cação é a base para o fortalecimento de uma relação interpessoal, inclusive entre empregado e empregador. A abertura de canais de comunicação, quando perce- bida pelos indivíduos, pode ser a chave para evitar su- posições e confirmar interpretações. Isso, certamente, reforçará a confiança na relação e, no que tange ao desempenho, reforçará também a comunicação. Além disso, o feedback fornecerá condições de melhoria de Vera Lúcia da Silva Ventura - 52 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o comportamento, bem como de aprimoramento do co- nhecimento do indivíduo, fortalecendo o seu desen- volvimento pessoal e profissional. Ao perceber a preocupação da organização com o seu desenvolvimento e tendo esclarecidas as expecta- tivas da organização quanto ao seu desempenho, pela estratégia de comunicação configurada pelo feedback, o indivíduo tende a se relacionar melhor no ambiente no qual está inserido. Considera-se, nessa estratégia de comunicação interna, a legitimação da confiança, antecedida pelas orientações positivas. Essas orienta- ções tornam a integridade na relação mais perceptível ao indivíduo. Tal integridade é reforçada pela aderência de um conjunto de princípios que o indivíduo considere aceitável e congruente com os seus valores pessoais. Essas considerações foram confirmadas por Oliva (2003), ao advertir sobre a importância da atuação moral e ética na gestão de pessoas. Para ele, isso implicaria, dentre outras ações, na revisão e na im- plementação de políticas de gestão de pessoas que incluam as determinações dos processos de comuni- cação e de disseminação dos valores organizacionais. Assim, a integração de todo esse conjunto pode ser conquistada pela gestão estratégica de pessoas, tendo em vista o princípio de compartilhamento de ob- jetivos e metas no qual todos os envolvidos possuem o mesmo grau de importância e perseguem os mes- mos propósitos organizacionais. Contudo, sabemos somente ser possível atingir os objetivos organizacio- nais por meio da excelência na comunicação interna, do relacionamento interpessoal e do comprometimen- to organizacional. 53 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 2.6 estratégias de relacionamento interpessoal Para se entender a importância de criação e im- plementação de estratégias de relacionamento inter- pessoal, vale relembrar um dos autores clássicos da administração, Henri Fayol, que observou a importân- cia da justiça no tratamento com aspessoas, tendo em vista que a equidade é um fator exigido no rela- cionamento e que não há como integrar um indivíduo a um grupo se esse indivíduo for tratado de maneira discriminatória. Nessas observações, sobrepõe-se a gravidade da má distribuição das tarefas e das responsabilidades. Muitas vezes, os problemas relacionados ao relaciona- mento interpessoal dão-se pela rivalidade e competição excessiva entre os ocupantes de cargos diferenciados. No ambiente organizacional contemporâneo, ao assumirem um cargo, os profissionais tendem a alme- jar um espaço para a demonstração de suas habilida- des e a esperar que essas habilidades sejam aceitas e valorizadas pela organização. Pense que a falta des- sas condições pode gerar constrangimentos, uma vez que o indivíduo pode vir a sentir-se depreciado e até desprezado pela equipe de trabalho na qual se inse- re, provocando o desalinhamento dos interesses e dos objetivos e configurando incapacidade administrativa dos profissionais responsáveis pela gestão de pessoas. As organizações precisam entender que as pessoas, quando trabalham em equipe e quando mantêm um bom relacionamento interpessoal, tendem a se com- prometer mais com os objetivos organizacionais. Ao perceberem que há espaço para compartilhamento de sentimentos e de opiniões, as pessoas tendem a se envolver mais e a se colocarem à disposição para con- Vera Lúcia da Silva Ventura - 54 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o tribuírem com as necessidades da organização. Por ou- tro lado, quando o indivíduo não percebe esse espaço, ou pior, quando percebe fatores que dificultam o re- lacionamento interpessoal, de uma forma global, ten- dem a se isolar ou até a “jogar contra” a organização. Algumas regras básicas podem ser aplica- das pela organização para o melhor relacionamento interpessoal: Estimular a democracia entre os colaboradores; Estimular a positividade e a sinceridade nas relações; Proporcionar espaço para a explanação de críticas construtivas; Permitir a revelação dos sentimentos e dos pensamentos individuais; Impedir qualquer tipo de discriminação. Enfim, para uma melhor atuação no que tange à gestão estratégica de pessoas, podemos utilizar a con- tribuição de Albuquerque (2002). O autor propõe que as organizações reflitam sobre as estratégias de con- trole e estratégias de comprometimento. Ambas são voltadas à gestão estratégica de pessoas, visando aos objetivos organizacionais. As diferenças entre elas, no entanto, são bem claras. Na estratégia de controle não há confiança na re- lação, os indivíduos são controlados e comandados, sendo considerados como números na organização. Por outro lado, na estratégia de comprometimento, há reciprocidade na relação e os indivíduos são conside- rados parceiros da organização. Na comparação des- sas duas estratégias, no âmbito da gestão estratégica 55 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o de pessoas, destacam-se as definições das políticas de desenvolvimento, de remuneração, de incentivos e de delineamento de carreira, dado que essas políticas são úteis para a nossa análise para os esclarecimentos do construto gestão estratégica de pessoas. No que se refere às políticas de desenvolvimento, a estratégia de controle visa ao aprimoramento do in- divíduo na função atual. E, no que tange às políticas que definem a estrutura salarial e à carreira, configu- ra-se excesso de burocracia e tratamento diferenciado ou, até, discriminatório. As políticas de incentivo de- terminam que os planos de incentivo sejam individua- lizados. Já na estratégia de comprometimento, existe uma preocupação com uma construção de carreira lon- ga para o colaborador desde a sua contratação. Para isso, há uma preparação constante para trabalhos fu- turos e não há diferenciação entre os colaboradores. Essa estratégia ainda considera fundamental que os planos de incentivos sejam grupais e vinculados aos resultados empresariais (AlBUQUERQUE, 2002). Por meio dessa comparação é possível verificar que há reações distintas dos indivíduos que são ge- ridos pela estratégia de controle e pela estratégia de comprometimento. Certamente, o comportamento desses indivíduos responde à forma de tratamento e contrapartida ao que a organização lhe oferece. Nessa verificação, subentende-se ser pouco provável que as organizações consigam alinhar os objetivos pela es- tratégia de controle. Da mesma forma, notamos que a participação e o envolvimento dos indivíduos, por meio de boas políticas de relacionamento interpes- soal nas organizações, podem ser manifestados mais facilmente quando a organização adota a filosofia de comprometimento. Vera Lúcia da Silva Ventura - 56 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o 57 - Gestão estratégica de pessoas com foco no comprometimento organizacional U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o comprometimento organizacional3 Para entendermos a história dos estudos sobre comprometimento podemos partir das obras que o visualizaram como um importante estudo na área do comportamento organizacional. De modo geral, obser- vamos que essas pesquisas buscavam relações entre comprometimento, comportamento e atitudes no tra- balho (MOwDAy; STEERS; PORTER, 1979; MOwDAy; PORTER; STEERS, 1982). Com o avanço dos estudos, outros autores, como Bateman e Strasser (1984), juntaram-se à corrente das pesquisas sobre o comprometimento organizacio- nal. Os autores afirmaram que as razões para estu- dar o tema estariam relacionadas com a intenção de entender os fatores que explicassem a eficácia do de- sempenho do indivíduo. Além disso, podemos acrescentar que os autores buscavam verificar as relações do fenômeno com a satisfação do indivíduo no trabalho, suas construções afetivas e cognitivas, suas características pessoais e, ainda, com sua posição perante assunções de res- ponsabilidade. Eles também notaram as intenções de expandir conhecimentos sobre os fatores que influen- ciavam ou eram influenciados pelo comprometimen- to organizacional dos indivíduos com o seu trabalho e com a organização que o empregavam. Seguindo essas intenções, foram investigadas as relações entre esses fatores e o desempenho dos profissionais. A partir dessas investigações, outras obras, como as de Mathieu e Zajac (1990) e de Mowday (1998), Vera Lúcia da Silva Ventura - 58 U N IN O VE – u so e xc lu si vo p ar a al un o apresentaram análises do progresso das pesquisas sobre o comprometimento organizacional. Nessas análises, observamos discussões importantes que, praticamente, definiram as linhas de estudos sobre o comprometimento organizacional, voltadas para a di- mensão atitudinal. Antes disso, alguns estudos, como os de Becker (1960) e Kanter (1968), já haviam sugerido o conceito de controle social, no qual o indivíduo se comprome- teria pelos fatores sociais, tendo como base a cogni- ção, a avaliação e a gratificação emocional. Em 1968, Kanter indicou as características desses três princípios: a) o princípio da base de cognição seria a subordina- ção e a aceitação, caracterizado pelas atitudes do in- divíduo vinculadas às recompensas ou às punições; b) o princípio de base avaliativa é a internalização. Nela, o indivíduo se compromete com normas, valores e convicções sociais, desde que perceba coerência com os seus valores e suas crenças pessoais; c) por fim, a base da gratificação emocional tem como princípios a identificação do indivíduo com as relações sociais e a afetividade com o grupo do qual participa. Alinhando os princípios de cognição, avaliação e gratificação emocional, o indivíduo poderia sujeitar-se à subordinação e aceitar as determinações da organiza- ção desde que fosse remunerado satisfatoriamente ou que recebesse sanções disciplinares por alguma con- duta
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