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Introdução Histórica entre Mente e Cérebro

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INTRODUÇÃO HISTÓRICA 
SOBRE A RELAÇÃO ENTRE 
MENTE E CÉREBRO:
DA FILOSOFIA À NEUROPSICOLOGIA
Esta obra convida-o a viajar pelo 
mundo da construção do 
conhecimento cientí�co sobre a 
relação entre mente e cérebro. 
Ao embarcar em suas páginas, 
você será levado a vislumbrar 
uma vasta e rica produção de 
ideias e teorias, o cimento que 
fornece o alicerce da ciência. Os 
caminhos de pedra da �loso�a; 
as estradas de terra das ciências 
naturais; os trilhos de ferro da 
psicologia; os viadutos da neu-
rociência; as pontes suspensas 
das modernas tecnologias; os 
túneis das ciências cognitivas e 
os movimentados cruzamentos 
da neuropsicologia serão 
descobertos.
No vasto mar da memória, se 
navegará por diversos conti-
nentes, se passeará pelos varia-
dos períodos históricos – do 
Egito dos faraós à Grécia antiga; 
da América pré-colombiana ao 
Brasil colonial; da Europa 
medieval aos Estados Unidos do 
pós-guerra – rumo à uni�cação 
de um mundo globalizado e 
pós-moderno. Algum esforço 
será exigido. A aprendizagem 
obriga ao renovar-se constante-
mente. O cansaço chegará, o 
desânimo ameaçará, mas a 
fome de saber restaurará as 
forças exauridas! Aproveite a 
leitura, como quem passeia em 
um parque e desfrute os 
momentos!
Lucia Maria G. Barbosa atua 
desde 2004 como docente no 
Departamento de Ciências da 
Saúde III da Universidade Nove 
de Julho – UNINOVE. Leciona 
no Curso de Psicologia as disci-
plinas: “Pesquisa em Psicologia”, 
“Neurociências e Comporta-
mento” e “Neuropsicologia”. 
Psicóloga pela Pontifícia 
Universidade Católica de São 
Paulo – PUC-SP. Possui especia-
lização em Neuropsicologia, 
certi�cada pelo Conselho 
Regional de Psicologia de São 
Paulo – CRP-SP 6ª Região. Sua 
Pós-Graduação stricto sensu foi 
realizada na Universidade Fede-
ral de São Paulo – Unifesp. 
Obteve os títulos de Mestre em 
Distúrbios da Comunicação 
Humana e Doutora em Ciências. 
Esta obra é fruto de um sonho 
que a autora alimentava desde 
o seu Doutorado. Quando não 
encontrou um livro que lhe 
fornecesse uma visão conden-
sada e ao mesmo tempo ampla 
dos diferentes enfoques a 
respeito das conexões entre 
mente e cérebro (desde a Filo-
so�a até a Neuropsicologia), a 
autora decidiu enfrentar o 
desa�o de redigir uma breve 
história sobre esta relação, por 
ordem cronológica e por tópi-
cos gerais (da Antiguidade até o 
século XXI). Agora ele tornou-se 
uma realidade compartilhada!
O período englobado pelos anos de 1990 foram declarados 
pelo Congresso Americano como a “década do cérebro”. O 
século XXI já tem sido considerado como o “século do cére-
bro”. Tais fatos apontam não só para o reconhecimento da 
importância dos estudos sobre o funcionamento cerebral 
como também para o crescente interesse sobre a sua relação 
com os aspectos neurobiológicos, cognitivos e psicossociais 
do ser humano. Realmente, o desenvolvimento tecnológico, 
o surgimento da �loso�a da mente, as novas descobertas no 
campo das Neurociências tem trazido à tona discussões 
sobre a mente humana. Por se tratar de uma área multi/inter 
e transdisciplinar, as diversas perspectivas que contribuíram 
para a formação deste conjunto de disciplinas não podem 
ser estudadas de modo isolado. Assim, neste livro se fornece 
ao leitores pontos de contato entre os distintos campos que 
se dedicam à compreensão das relações entre mente e cére-
bro, desde a Filoso�a até a Neuropsicologia, tendo como 
pano de fundo a História. Por isso, convida-se o leitor a 
embarcar nesta fantástica aventura que é a ciência!
A
ce
ss
e:
un
in
ov
e.
br
A
ce
ss
e:
un
in
ov
e.
br
Universidade Nove de Julho – UNINOVE
Rua Vergueiro, 235/249 – 12º andar
CEP: 01504-001 – Liberdade – São Paulo, SP – Brasil
Tel.: (11) 3385-9191 – editora@uninove.br
Lucia Maria G. Barbosa
São Paulo
2018
INTRODUÇÃO HISTÓRICA 
SOBRE A RELAÇÃO ENTRE 
MENTE E CÉREBRO:
DA FILOSOFIA À NEUROPSICOLOGIA
© 2018 UNINOVE
Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação, no todo ou em parte, 
constitui violação do copyright (Lei nº 9.610/98). Nenhuma parte desta publicação 
pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização da UNINOVE.
Conselho Editorial: Eduardo Storópoli
Maria Cristina Barbosa Storópoli
Nadir da Silva Basilio 
Cristiane dos Santos Monteiro
Cinthya Cosme Gutierrez Duran
Renata Mahfuz Daud Gallotti
Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores
Arte e imagem da Capa: Celso Luis Assis Ribeiro Bento 
Colaboração Capa: Big Time Serviços Editoriais
Editoração eletrônica: Big Time Serviços Editoriais
Revisão: Antonio Marcos Cavalheiro
Catalogação na Publicação (CIP)
Cristiane dos Santos Monteiro – CRB/8 7474
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Barbosa, Lucia Maria G. 
Introdução histórica sobre a relação entre mente e cérebro:
da filosofia à neuropsicologia / Lucia Maria G. Barbosa. — São
Paulo : Universidade Nove de Julho, UNINOVE, 2018.
205 p. 
ISBN: 978-85-89852-64-7 (e-book)
ISBN: 978-85-89852-65-4 (impresso)
1. Neuropsicologia. 2. Psicologia. 3. Mente e cérebro I. Autor.
CDU 159.92.01
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Sumário
Agradecimentos ....................................................................................6
Introdução .............................................................................................8
Capítulo 1
Relação mente e cérebro: das especulações filosóficas ao
surgimento dos primeiros autômatos .................................................. 11
Capítulo 2
Relação mente e cérebro: das ciências naturais ao surgimento
da psicologia .......................................................................................45
Capítulo 3
Relação mente e cérebro: do método introspectivo ao
surgimento da neurociência ................................................................65
Capítulo 4
Relação mente e cérebro: da crise da psicologia ao surgimento
das novas tecnologias ..........................................................................98
Capítulo 5
Relação mente e cérebro: da cibernética ao surgimento
das ciências cognitivas ......................................................................128
Capítulo 6
Relação mente e cérebro: da neuropsicologia russa de Luria
ao surgimento da neuropsicologia cognitiva .....................................156
Referências ........................................................................................177
Bibliografia consultada .....................................................................203
A Autora ............................................................................................204
6 - LUCIA MARIA G. BARBOSA
Agradecimentos
À Editora UNINOVE, pelo apoio, pela paciência e 
pela confiança; ao Celso Luis Assis Ribeiro Bento (gradu-
ando do 9º semestre do Curso de Psicologia da UNINOVE e 
pesquisador do Grupo de Iniciação Científica orientado pela 
autora na mesma instituição), que gentilmente criou a linda 
capa desta obra; aos meus alunos e colegas, pelo estímulo; 
e a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram 
para a realização deste livro.
VOLTAR AO 
SUMÁRIO
7 - LUCIA MARIA G. BARBOSA
“[...] é perfeitamente concebível que se possa 
efetuar uma observação do cérebro que descubra 
processos físicos cuja estrutura e, por conseguinte, 
cujas propriedades essenciais sejam análogas 
às que o sujeito experimenta fenomenicamente” 
(VIGOTSKI, 1999a [1930], p. 241).
“A observação científica não é pura descrição de 
fatos separados. Sua meta principal é visualizar um 
evento a partir do maior número possível de pers-
pectivas” (LURIA, 1992, p. 182).
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 8
Introdução
Esta obra convida-o a viajar pelo mundo da construção do co-
nhecimento científico sobre a relação entre mente e cérebro. Ao em-
barcar em suas páginas, você será levado a vislumbrar uma vasta e 
rica produçãode ideias e teorias, o cimento que fornece o alicerce da 
ciência. Os caminhos de pedra da filosofia; as estradas de terra das ci-
ências naturais; os trilhos de ferro da psicologia; os viadutos da neu-
rociência; as pontes suspensas das modernas tecnologias; os túneis das 
ciências cognitivas e os movimentados cruzamentos da neuropsicolo-
gia serão descobertos.
Como passageiro de um transporte do futuro, aquele que se ar-
riscar a olhar pelas janelas deste livro, sempre encontrará atalhos para 
dentro de si mesmo. Neste mundo virtual da realidade da mente huma-
na, o cérebro será o guia a orientar os olhos curiosos dos seus viajantes 
para o labirinto do tempo, quando passado e futuro se encontram no 
presente, que não existe e nem permanece. Para se enxergar o que vem 
pela frente, será necessário se voltar para trás. Para andar em direção 
ao ponto de chegada, terá que se recomeçar sempre do local de parti-
da. A sensação de se reconhecer o que é novo será constante porque, o 
conhecimento científico está sempre em transformação e muito rapi-
damente a novidade desaparecerá da paisagem para dar lugar ao que 
é ainda mais atual. 
No vasto mar da memória, se navegará por diversos continentes, 
se passeará pelos variados períodos históricos – do Egito dos faraós à 
Grécia antiga; da América pré-colombiana ao Brasil colonial; da Europa 
medieval aos Estados Unidos do pós-guerra – rumo à unificação de um 
mundo globalizado e pós-moderno.
O cansaço chegará, o desânimo ameaçará, mas a fome de saber res-
taurará as forças exauridas! A jornada seguirá por vales suaves e monta-
nhas íngremes. Algum esforço será exigido. A aprendizagem obriga-o ao 
renovar-se constantemente. Hospedado no conforto da própria intimida-
VOLTAR AO 
SUMÁRIO
9 - INTRODUÇÃO
de, referenciais familiares servirão de faróis na escuridão das noites desta 
epopeia humana. Esta publicação convida a se mergulhar na história, a 
se saltar rumo ao desconhecido e se refazer a evolução dos antepassados. 
Será preciso muita perseverança. Tenha paciência. Os altos edifícios da 
ciência demandam por sólidas fundações, que exigem disponibilidade e 
tempo. Não tema a frustração! Por vezes, ao atingir um ponto turístico 
famoso, você poderá não conseguir visualizá-lo totalmente. Alguns fatos 
não se revelam e precisam de um mapa do tesouro para ser encontrados. 
Melhor do que chegar a eles é ser capaz de conquistá-los.
Depois de escalar o cume mais alto, no centro do furacão de tantas 
informações técnico-científicas, se revelará o maior mistério de todos: 
se constatará que tudo o que se acumulou como sabedoria fez do ser hu-
mano um indivíduo ainda mais ignorante. Ao término destas férias não 
programadas, quando se folhear os capítulos novamente, se perceberá 
que, enquanto se prosseguia, o que era novo já se desatualizou. Então 
será preciso recomeçar uma nova empreitada e seguir caminhando com 
novos mapas nas mãos e binóculos de enxergar o mais longe possível. 
Seja persistente: tente e não se arrependa do que realizou!
Que os bons ventos o leve rumo ao destino final. Que o destino 
final o conduza a um recomeço. Que o recomeço não signifique um 
retorno, nem uma repetição, mas uma nova chance de repensar o co-
nhecido como uma novidade. O conhecimento que se acumula ajun-
ta poeira! O conhecimento inquieto, de quem não se contenta com o 
que já sabe, frutifica!
O roteiro que se segue antecipa os imprevistos do caminho e au-
xilia na preparação das malas. No primeiro capítulo você embarcará na 
aventura das primeiras concepções filosóficas sobre a relação mente e 
cérebro. Talvez seja surpreendido com o surgimento de autômatos. No 
segundo, acompanhará a caravana de cientistas naturais e o modo como 
o campo da psicologia se estruturou. No terceiro, conhecerá a evolução 
da neurociência. No quarto, observará a crise da psicologia e a criação 
das novas tecnologias, quando se vislumbrarão locais antes impensáveis. 
No quinto, seguirá de perto os avanços da cibernética, da inteligência 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 10
artificial e das ciências da computação até o aparecimento das ciências 
cognitivas. Finalmente, se descortinará a área da neuropsicologia clás-
sica e suas vertentes mais atuais. 
Senhores passageiros, dirijam-se ao Capítulo 1 para o embarque! 
Deseja-se a todos uma ótima e proveitosa viagem!
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 11
Capítulo 1
Relação mente e cérebro: das 
especulações filosóficas ao surgimento 
dos primeiros autômatos
O ser humano é a única espécie capaz de registrar a sua história, 
pensar o seu pensamento e monitorar os próprios processos mentais1. 
Graças ao seu lobo frontal2 mais desenvolvido do que o de qualquer ou-
tro ser vivo, ele apresenta as habilidades mais sofisticadas de que se tem 
notícia: o planejamento, a antecipação e uma flexibilidade de adaptação 
incomparável (BENSON, MILLER, 1997; PINHEIRO, 2005). Por con-
ta da engenharia de seus aparatos biológicos e mentais, ele foi o único 
na face da Terra que, ao vislumbrar o mundo natural foi capaz de se per-
guntar: o que é isto? Ou ainda, ao se deparar com o seu mundo interior e 
privado, refletir: quem sou eu e onde mora o que me habita? Ainda hoje, 
durante o desenvolvimento infantil, a criança humana também procura 
encontrar a resposta para estas mesmas questões (PIAGET, 1987; BEE, 
1996; PIAGET, 1999; PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2006).
1 Nesta obra os termos mental, cognitivo ou funções psicológicas superiores são 
empregados como sinônimos. Compreende-se que eles se referem aos processos que 
ocorrem no cérebro, quando o ser humano realiza ações intencionais; às operações 
mediadas pela linguagem, que envolvem o controle consciente do comportamento e 
que são produzidas reciprocamente na interação do indivíduo com o seu ambiente 
social. Elas têm origem material e exterior ao cérebro. Posteriormente se tornam 
representações mentais. Inicialmente são interpsíquicas e depois se transformam em 
intrapsíquicas (LURIA, 1990; VIGOTSKI, 2000).
2 O lobo frontal integra o neocórtex (o mais recente da evolução filogenética). Ele 
se situa na parte anterior do cérebro e apresenta funções motoras e cognitivas. É 
responsável pelo planejamento e monitoramento da realização das atividades motoras 
e mentais (LENT, 2005).
VOLTAR AO 
SUMÁRIO
12 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
A noção de uma realidade composta por duas dimensões aparente-
mente opostas, que se acham dialeticamente relacionadas (um material 
ou exterior e a outra, imaterial ou interior) sempre permeou a humani-
dade, desde os primórdios da filosofia, até o surgimento das ciências. 
Tais dimensões foram conceituadas antagonicamente como um binô-
mio indissociável: corpo/alma; matéria/espírito ou ainda cérebro/men-
te (HALL, 1972; ECCLES, 1989; GOLSE, 1999; WERLANG, 2006). 
Independentemente do termo empregado, na filosofia tradicional a ques-
tão central consistia em se “saber se o cérebro produz a mente ou se ele 
apenas a manifesta” (TEIXEIRA, 2000, p. 13, grifo nosso).
O interesse e a busca pela compreensão das relações entre uma 
instância concreta e outra abstrata encontram-se graficamente expres-
sos em papiros egípcios, que datam, aproximadamente, de 3500 a.C. 
Neles se acha a descrição detalhada de ferimentos provocados no crâ-
nio por armas de guerra e também a noção de que uma lesão cerebral 
afetaria as funções mentais. Na cultura pré-colombiana há evidên-
cias de que se retirava a massa encefálica do crânio, de modo preci-
so e quase cirúrgico. Tais crânios, com buracos causados pela ação 
humana já indicariam a realização de trepanação (furos precisos de-
liberadamente produzidos no crânio, por meio do uso de instrumen-
tos contundentes), em um período muito longínquo da história. Ou 
seja, realizavam-se intervenções no cérebro na tentativa de se tratar 
as suas consequências comportamentais (BOLLER, 1999; FINGER, 
2001; PINHEIRO, 2005; CAMARGO, BOLOGNANI,ZUCCOLO, 
2008; SANTOS, 2008; RODRIGUES, CIASCA, 2010; CASTRO, 
LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011; UEHARA, CHARCHART-
FICHMAN, LANDEIRA-FERNANDEZ, 2013).
As primeiras concepções sobre a natureza da mente humana 
surgiram com a questão de se entender o que animava o corpo físi-
co ou qual o princípio vital invisível que o colocava em movimento. 
Também se buscava explicar a morte (que representaria a ausência 
do princípio ativo do movimento). Já existia a ideia de que a matéria 
da qual o corpo se originaria seria diferente daquela de onde surgi-
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 13
ria a alma. A primeira seria corruptível e finita, enquanto a segunda, 
incorruptível e eterna.
Quando os portugueses desembarcaram na costa brasileira duran-
te o século XVI, foi descrita a prática da antropofagia entre os índios 
tupinambás. Entretanto, ela tinha um caráter ritualístico. Estes nativos 
acreditavam que ao se alimentarem da carne de seus inimigos, eles ad-
quiririam a sua coragem, sua força e valentia. Assim, a base do caniba-
lismo era mística, ela se sustentava na ideia de que a energia do morto 
permaneceria após a sua morte e poderia ser transferida para outro cor-
po. Por isso, nestas tentativas iniciais de se explicar a relação entre men-
te e corpo, se buscará no mundo de fora (externo) uma explicação para 
os fenômenos observados e não compreendidos. De acordo com a mi-
tologia dos índios brasileiros, Mani era uma menina índia que morreu 
de repente. No lugar onde ela foi enterrada surgiu uma planta, que ser-
viu de base para a alimentação desta população: a mandioca. Do mesmo 
modo, havia um lindo indiozinho que foi morto por uma cobra. A mãe 
desesperada implorou ao deus Tupã para que trouxesse o filho de volta. 
Sobre a sepultura da criança surgiu um fruto, que imitava os seus olhos: 
o guaraná. Nos dois casos, observa-se a noção de que a morte significa 
transformação da matéria, no caso da mandioca; e também permanên-
cia de alguma característica física, sob outra forma, no caso do guaraná 
(WERLANG, 2006; GURGEL, 2011). Historicamente esta tendência 
se inverterá e se procurará a causalidade dos fenômenos no mundo de 
dentro (interior).
Associava-se a cabeça com a sede da alma. Pensava-se que no mo-
mento de sua partida, a alma se reuniria na cabeça, onde portas se abri-
riam para a sua passagem. A alma sairia por algum dos orifícios naturais 
da caixa craniana. Para alguns, a alma escaparia pela boca ou por algu-
ma ferida do corpo e, na morte, perderia a consciência3 de si mesma. Ela 
3 Consciência é um fenômeno privado, ou seja, subjetivo, que só o próprio sujeito 
pode experimentar (DAMÁSIO, 2000). Ela pode ser descrita como a capacidade 
que distingue o ser humano dos demais animais, por não se encontrar associada com 
determinantes biológicos. Ela se orienta pelas necessidades superiores mais complexas 
do ser pensante que é o homem, como as cognitivas e surge com o desenvolvimento 
14 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
deixaria de possuir as suas faculdades espirituais, entre as quais se en-
contrava a inteligência (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991). No cérebro se 
localizaria o “princípio do intelecto” (HALL, 1972, p. 123). Também se 
imaginava que tal órgão corresponderia à “sede de todas as inteligências 
que se acham refletidas nos órgãos corporais” (HALL, p. 131). 
Desde muito cedo se pensava sobre a origem, a estrutura, bem como 
o funcionamento da mente e do corpo humano. Buscava-se explicar de 
que modo os órgãos físicos (principalmente o coração e o cérebro) se vin-
culavam às atividades mentais (CASTRO, LANDEIRA-FERNANDEZ, 
2011). As diversas culturas oscilaram entre tendências cardiocêntricas 
e cerebrocêntricas, em relação ao órgão responsável por estas ativida-
des. Em algumas, como a egípcia, prevalecia a noção de que o centro 
desta atividade se situaria no coração; em outras, como a grega, predo-
minava a de que ele se encontraria no cérebro (FEINBERG, FARAH, 
1997; PINHEIRO, 2005; XAVIER, HELENE, 2007; CAMARGO, 
BOLOGNANI, ZUCCOLO, 2008; COSENZA, FUENTES, MALLOY-
DINIZ, 2008). 
A civilização grega causou um profundo impacto sobre a socieda-
de ocidental moderna. Nela se encontram as raízes da filosofia, da me-
dicina, das ciências naturais, da neurociência e das ciências cognitivas 
atuais (CASTRO, LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). De acordo com 
Tarnas (1993), os gregos possuíam uma grande confiança no poder do 
pensamento humano. Eles foram, provavelmente, os primeiros a con-
siderar a compreensão do mundo como uma questão a ser respondida, 
por meio de explicações coerentes e racionais. Acima de tudo, eles que-
riam conhecer a verdade mais profunda da realidade e do ser humano. 
Já consideravam como faculdades cognitivas: a percepção sensorial, a 
intuição, a memória, a razão, a estética, a imaginação e a moral. 
da linguagem, a partir da necessidade de comunicação gerada pela atividade prática 
coletiva realizada socialmente. Tal conceito implica na habilidade de se ser capaz 
de perceber e avaliar o que ocorre com o mundo e consigo mesmo (LURIA, 1979a; 
VYGOTSKY, LURIA, 1996). Ela também se relaciona com o comportamento 
intencional ou voluntário, dirigido para um objetivo (VIGOTSKI, 1999b, 1999f). 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 15
A antiga mitologia grega – resultado dos primeiros métodos de 
observação na busca pelo conhecimento sobre o mundo – forneceu os 
fundamentos para a evolução da filosofia grega. Com base nas imagens 
mitológicas, os filósofos Pré-socráticos discutiram se o mundo existiria 
em função de o homem o perceber ou se o mundo seria anterior à percep-
ção do homem (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991; BOCK, FURTADO, 
TEIXEIRA, 2001). 
O poeta grego Homero (ca. 928-898 a.C.) sustentava a existência 
de um ser que habitaria o homem (KOVÁCS, 1997). Ele absorveu a in-
fluência das culturas primitivas e afirmou a existência de um outro eu, 
interior, que ele denominou de “psyché”, ou alma. No período Homérico 
prevaleceu a crença de que a alma sem virtualmente nenhuma vitalida-
de permaneceria no Hades, o mundo das sombras (TARNAS, 1993).
Pitágoras (ca. 582-507 a.C.), que acreditava que a mente se locali-
zava no cérebro, foi o primeiro a empregar a palavra “Kosmos” que, para 
os gregos, significava ordem, perfeição estrutural e beleza e por este filó-
sofo era descrito como uma expressão ordenada de certas essências pri-
mordiais, ou princípios transcendentes, concebidos de diversas formas: 
como Ideias, universais, absolutos imutáveis, deidades imortais ou arqué-
tipos (TARNAS, 1993).
O pensamento grego se caracteriza por um princípio recorrente em 
diversos filósofos: o de que o universo é governado por uma inteligência. 
Os pitagóricos foram aqueles que mais enfatizaram a existência da inteli-
gibilidade do mundo. Descobrir as regularidades matemáticas do mundo 
natural levava o filósofo além do nível material da realidade e revela-
va a inteligência divina que governava suas criações com transcenden-
te perfeição e ordem. Esta mesma inteligência estaria refletida na mente 
humana e a tornaria capaz de compreender a ordem cósmica, que seria 
ao mesmo tempo imprevisível e ordenada (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 
1991; TARNAS, 1993).
Seguidor de Pitágoras, o médico grego Alcameão de Crotona (ca. 
560-500 a.C.) foi um dos primeiros estudiosos a afirmar que o cérebro 
é o responsável pelo pensamento e sensações. De acordo com Feinberg 
16 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
e Farah (1997, p. 3), ele é considerado “como o primeiro neurologista 
ou neuropsicólogo”. Com base em sua experiência clínica, ele sustenta-
va que existiriam localizações específicas no cérebro para as diferentes 
sensações. Também se tornou um precursor do localizacionismo, que 
emergirá no século XVIII (FEINBERG, FARAH, 1997; COSENZA, 
FUENTES, MALLOY-DINIZ, 2008; SANTOS, 2008).
Para o filósofo pré-socrático Heráclito de Efeso (ca. 535-475 a.C.) 
a harmonia seriacomposta por elementos antagônicos que se achavam 
em permanente tensão um com o outro. Ele introduziu o uso do termo 
“Logos” para expressar a concepção de um princípio racional superior, 
que representaria o equilíbrio, resultante destas oposições ou a unidade 
inerente a todos os referidos elementos. Segundo Heráclito, existiriam 
duas inteligências: uma privada e outra comum. Com base nos sentidos, 
a inteligência privada, se valeria de palavras e se encontraria identifica-
da com o bom senso; enquanto que a inteligência comum, fundamenta-
da na razão, produziria o conhecimento superior (o “Logos”), por meio 
do qual a verdade seria alcançada (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991; 
TARNAS, 1993).
Anaxágoras (ca. 500-428 a.C.) postulou a existência da mente pri-
mordial e transcendente, a substância mental abstrata, ou o “self” inte-
lectual – denominada “Nous” – que colocaria o universo em movimento 
e lhe daria forma e ordem. Para ele os vários tipos de inteligência que 
os indivíduos manifestavam seriam o resultado da estrutura do corpo ao 
qual o “Nous” estava ligado, como uma função motora, sem se mistu-
rar. O espírito seria feito de uma matéria não física. Haveria uma per-
feita correspondência entre o corpo etéreo ou corpo espiritual e o corpo 
físico. Ele afirmava que o ser humano pensava porque tinha mãos (OS 
PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991), ou seja, ele sustentava a importância do 
uso de instrumentos ou ferramentas bem como do trabalho manual para 
o desenvolvimento cognitivo, como Vygotsky (2000) também o fará cen-
tenas de anos mais tarde. 
No século V a.C. os sofistas julgavam não ser possível se conhe-
cer a objetividade genuína. Afirmaram, então, que o homem deveria ser 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 17
a medida de todas as coisas e que a única realidade que se poderia co-
nhecer seria a de sua própria mente. Se antes deles a filosofia enfocava, 
essencialmente, o mundo externo, sem levar em consideração o obser-
vador humano, a tendência agora se invertia. Com os sofistas se aceitará 
que todo o conhecimento é subjetivo (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991). 
Para Demócrito (ca. 460-370 a.C.), um atomista, o real só poderia 
ser compreendido por meio da razão e os sentidos representariam uma 
ilusão. Ele fazia uma distinção entre dois tipos de conhecimento: o bas-
tardo e o legítimo. O primeiro, fundamentado nos sentidos, impreciso 
e não confiável. O segundo, baseado na compreensão racional de que 
o universo seria formado por átomos, e de que nada haveria além deles 
e do vazio (OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1991). Estas partículas diminu-
tas e invisíveis se movimentariam de modo perpétuo no vácuo e teriam 
uma natureza imutável e essencialmente material. De suas colisões ale-
atórias e combinações variadas surgiriam os aspectos do mundo visível 
(TARNAS, 1993).
O médico grego Hipócrates (ca. 460-377 a.C.) considerou que 
o cérebro seria a sede da mente e enfatizou o papel do encéfalo. Ele 
também descreveu a sua atividade anormal, como origem de transtor-
nos epilépticos em seus pacientes. Observou a olho nu a aparência des-
te órgão e julgou tratar-se de um tipo de glândula branca (FEINBERG, 
FARAH, 1997; KOVÁCS, 1997; GAZZANIGA, HEATHERTON, 2005; 
XAVIER, HELENE, 2007; COSENZA, FUENTES, MALLOY-DINIZ, 
2008; RODRIGUES, CIASCA, 2010). 
Sócrates (ca. 469-399 a.C.), estava convencido de que a realida-
de mais interior do ser humano (a sua alma ou psique) seria a sede de 
sua consciência e do seu caráter intelectual. Por isso, valorizava o auto-
conhecimento. Acreditava que o conhecimento genuíno ainda não tinha 
sido encontrado e que a tarefa da filosofia deveria começar pela admis-
são da própria ignorância. Para ele, o verdadeiro conhecimento não 
era algo a ser ensinado (conforme os sofistas acreditavam), mas algo 
a ser buscado. Inaugurou um método de investigação intelectual que, 
dialeticamente, procurava promover a verdade essencial por meio da 
18 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
autodisciplina e de sua busca incessante. Mais do que encontrar as ver-
dadeiras respostas, sua tarefa seria a de tentar descobri-las, a partir da 
crítica racional e da reflexão. Pela primeira vez na história, se afirmava 
que a razão era o que distinguia os homens dos animais e que ela tinha 
um papel central e significativo no aprimoramento da natureza humana 
(PLATÃO, XENOFONTE, ARISTÓFANES, 1991; TARNAS, 1993; 
BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001). 
Platão (ca. 427-347 a.C.), que teve Sócrates como seu mentor, 
considerava que a mente seria independente do cérebro. Os conteúdos 
mentais possuiriam uma realidade autônoma ao cérebro. Em termos 
mais atuais, foi pioneiro ao falar sobre conteúdos mentais que, apesar 
de ocorrerem no cérebro, possuiriam uma realidade independente des-
te. Os pensamentos formariam um verdadeiro mundo à parte e pode-
riam ser abstraídos do ato de pensá-los (HALL, 1972; COSTE, 1978; 
PLATÃO, 1991; TARNAS, 1993; GARDNER, 1994; KOVÁCS, 
1997; TEIXEIRA, 2000). Platão dividia a realidade em: mundo sensí-
vel e mundo inteligível. O primeiro, que se percebe através dos senti-
dos seria apenas uma cópia do segundo (o das Ideias), que seria o único 
imutável e verdadeiro. Considerava o intelecto a parte mais desenvolvida 
da alma, que se ergueria sobre o mundo físico e sensível. Ele seria capaz 
de recuperar o conhecimento perdido das Ideias. Estas constituíam o 
substrato inteligível do tangível. Elas seriam os princípios governantes 
da inteligência divina. 
Havia vários modos de se obter conhecimento das Ideias: por meio 
da intuição, da memória, da estética, da imaginação, da lógica, da mate-
mática e da observação empírica. Entretanto, para Platão, a observação 
empírica seria a mais depreciada, especialmente quando utilizada sem 
crítica. Na busca pelo conhecimento, razão e sentidos seriam oponen-
tes. Com base no seu dualismo ontológico, ou seja, no dualismo do que 
existe – em que a alma era concebida como separada do corpo – Platão 
distinguia entre duas fontes de saber: o conhecimento (da realidade) e 
a opinião (sobre as aparências). Julgava que não se poderia confiar nes-
ta última, ou seja, na experiência sensorial. Quanto à primeira, sugeria 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 19
que a memória tinha um papel importante neste processo, porque a per-
cepção direta das Ideias, apesar de inata, teria sido esquecida e deveria 
ser rememorada (PLATÃO, 1991; TARNAS, 1993). No entendimento 
platônico, o irracional estaria associado com a matéria, o mundo sensí-
vel e o desejo instintivo; enquanto que o racional estaria associado com 
a mente, o transcendente e o desejo espiritual. A partir de Platão, ocor-
re uma ruptura na percepção da realidade; discute-se se há algo além do 
que os sentidos mostram e, mesmo, se o mundo existe de fato (SEARLE, 
2000; TEIXEIRA, 2000; ANDRADE, 2014). Estabelece-se a divisão 
entre pensamento e sensação.
Por volta do século VI a.C., os atomistas gregos introduziram uma 
ideia revolucionária: acreditavam que ao morrer, a alma desapareceria 
do indivíduo, mas a matéria se conservaria. Para eles, todo o conheci-
mento humano derivaria simplesmente do impacto de átomos materiais 
sobre os sentidos. O átomo seria a substância elementar que constituiria 
o mundo material (TARNAS, 1993). 
Discípulo de Platão e diferentemente da maioria dos filósofos gre-
gos cerebrocêntricos, Aristóteles (384-322 a.C.) considerava o coração 
a sede dos pensamentos (GOMES, 2007; XAVIER, HELENE, 2007). 
Como o pioneiro do empirismo, se contrapôs à posição de seu mestre e 
afirmou que o conhecimento devia ser completamente dirigido para o 
mundo físico com os seus padrões e processos comprovadamente obser-
váveis. Para ele, a realidade verdadeira seria o mundo perceptível de ob-
jetos concretos, e não – como Platão imaginava – o mundo imperceptível 
de Ideias eternas (TARNAS, 1993; DURANT, 1996; MARÇAL, 2009). 
Afirmava que o conhecimento do mundo natural derivaria da senso-per-
cepção, poiso ser humano não teria acesso direto às Ideias transcenden-
tais. Seus estudos foram, basicamente, dedicados à razão, percepção e 
sensações (O’NEIL, 1969; COSTE, 1978; ARISTÓTELES, 1991). Em 
oposição a Platão, ele também sustentava que alma e corpo não pode-
riam ser dissociados. A mente humana seria como uma “tabula rasa” 
– onde nada está escrito – até o momento em que qualquer experiência 
sensorial nela se imprimisse. Ela se encontraria em um estado de poten-
20 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
cialidade, com relação às coisas inteligíveis. Os seres humanos precisa-
riam da experiência sensorial para atualizar o conhecimento potencial, 
com o auxílio de imagens mentais. 
Por isso, ele distinguia entre forma e substância, ou ainda, en-
tre potencial e sua atualização, caracterizados como uma unidade e não 
como entidades distintas. A forma daria à substância sua essência par-
ticular, não só enquanto estrutura, mas também enquanto sua dinâmica 
de desenvolvimento. Com isso, Aristóteles trouxe um reconhecimento 
para os processos naturais de crescimento com os quais cada organismo 
evolui da imperfeição para a perfeição, de um estado de potencialida-
de para um estado de atualidade ou realização de sua forma (O’NEIL, 
1969; ARISTÓTELES, 1991; TARNAS, 1993; DURANT, 1996; BOCK, 
FURTADO, TEIXEIRA, 2001; MARÇAL, 2009). Pela primeira vez a 
noção de desenvolvimento surgia no pensamento grego.
Ele acreditava que o maior poder de cognição da mente derivava 
do “Nous”, o intelecto ativo, compreendido como divino e imortal, que 
daria ao ser humano a capacidade intuitiva de entender as verdades últi-
mas e universais. O “Nous” estaria além do empirismo e da elaboração 
racional da experiência sensorial. Ele era tido, por Aristóteles, como a 
única parte do ser humano que lhe seria externa já que, para ele, a alma 
seria a forma do corpo, assim como o corpo seria a matéria da alma. No 
entanto, a razão ainda era o que permitiria que a experiência sensorial se 
tornasse a base para o conhecimento. Por isso, seria uma faculdade su-
perior à sensação (O’NEIL, 1969; TARNAS, 1993; DURANT, 1996). 
Aristóteles redefiniu o papel da filosofia e, a partir de sua influência, a 
ciência gradualmente se separou dela. 
Assim como Hipócrates, no século III a.C., o também médico gre-
go Herófilo de Alexandria (332-280 a.C.) era conhecedor da anatomia 
do sistema nervoso em nível macroscópico e julgava que no cérebro se 
concentrava a atividade mental (PINHEIRO, 2005; XAVIER, HELENE, 
2007; CASTRO, LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Provavelmente, 
as suas observações se basearam no fato de ele ser o responsável pelo 
atendimento dos gladiadores feridos. O contato com lesões cerebrais e 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 21
medulares forneceu-lhe rico material para as suas especulações. Ele foi 
pioneiro na dissecação de cadáveres humanos. Descreveu a aparência 
e a localização dos troncos nervosos (KOVÁCS, 1997). Séculos mais 
tarde, o cirurgião romano Claudio Galeno (130-200 d.C.), explicaria 
que tais troncos transmitiriam as informações sensoriais e motoras, da 
medula espinhal ao encéfalo, tanto no ser humano quanto em animais 
(GURGEL, 2011).
Herófilo teve a sua atenção atraída pelos ventrículos do encéfa-
lo, onde julgava que se encontraria o centro das sensações e da mo-
tricidade. Considerou que a mente (o “pneuma”) se situaria no quarto 
destes ventrículos. Também deixou para a posteridade as suas ideias, 
que depois foram registradas por meio da escrita e se tornaram os pri-
meiros manuais da prática médica europeia (GURGEL, 2011). Ele sus-
tentou que o “vital spirit” (espírito vital) se originaria no ventrículo 
esquerdo do coração e seria transportado, por meio de transmutações 
de uma energia etérea (“pneuma” ou alma), até o cérebro através dos 
fluidos do sistema ventricular cerebral, ou seja, a vida mental estaria 
fundamentada no cérebro. A noção do sistema ventricular como sede 
da mente foi aceita pela doutrina cristã (FEINBERG, FARAH, 1997; 
FINGER, 2001; GAZZANIGA, HEATHERTON, 2005; PINHEIRO, 
2005; XAVIER, HELENE, 2007; COSENZA, FUENTES, MALLOY-
DINIZ, 2008; RODRIGUES, CIASCA, 2010; GURGEL, 2011; 
ANDRADE, 2014). 
Com o surgimento do Cristianismo tanto a filosofia quanto a ciên-
cia sofreram decisivas influências. O valor das capacidades racionais, ou 
seja, da observação, análise e compreensão do mundo natural, é negado 
e não estimulado pela fé cristã da época, em favor das capacidades emo-
cionais, morais e espirituais. A principal inovação do Cristianismo foi 
a concepção de que o homem traz em si algo da autoconsciência que é 
própria de Deus (STEVENSON, 1976). Durante a Idade Média, a alma 
é considerada como espiritual e racional, enquanto que o corpo repre-
senta a volúpia e a irracionalidade O dualismo ontológico entre espírito 
e matéria de Platão será reforçado (CASTRO, ANDRADE, MULLER, 
22 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
2006). A dúvida torna-se um pecado e não uma virtude intelectual pri-
mária, como Sócrates anteriormente havia sustentado. 
Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro a escrever sobre a exis-
tência de uma consciência na alma. Referia que se poderia duvidar de 
tudo, menos do fato de que sua alma havia vivenciado a dúvida de co-
nhecer, desejar e existir. Opunha-se a Platão e afirmava que nenhuma 
ideia intelectual surgiria na mente que não fosse iluminada por Deus. 
Para Agostinho a alma seria a única fonte de conhecimento e sede do 
pensamento. A aprendizagem ocorreria a partir do interior, por meio do 
contato com Deus, que era considerado como mais importante do que o 
encontro intelectual com as Ideias. Ele acreditava que a ignorância e os 
erros humanos seriam produto do excesso de confiança depositada so-
mente sobre a razão (TARNAS, 1993; SANTO AGOSTINHO, 1999; 
BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001; MARÇAL, 2009). 
No entanto, no início do século XI, mudanças sociais e políticas, 
o desenvolvimento de novas técnicas, a exploração do ambiente natural 
e o surgimento de um sentido profundo da história e de seu dinamismo, 
despertaram a percepção do valor da inteligência humana. Sob a tute-
la da Igreja as primeiras Universidades surgiram por toda a Europa, e 
o estudo do psiquismo humano foi confinado ao poder dos religiosos. 
Com o surgimento das universidades medievais, a Escolástica se forta-
leceu e, ao redor dos séculos XII e XIII, uma mudança filosófica radi-
cal ocorreu: o racionalismo e o naturalismo foram resgatados. Mais do 
que fragmentar a mente, os escolásticos desejavam encontrar a unida-
de na multiplicidade. O seu princípio básico se resumia em integrar to-
dos os conhecimentos disponíveis (O’NEIL, 1969; TARNAS, 1993; 
MARÇAL, 2009). 
A corrente escolástica foi influenciada pelo pensamento de Ibn Sina, 
médico e filósofo muçulmano, nascido na antiga Pérsia, cujo nome foi 
latinizado para Avicena (980-1037). Ele não separava a ciência da reli-
gião e integrou os seus conhecimentos médicos à filosofia. Para ele o ser 
humano era considerado como um animal, formado por dois aspectos: 
um concreto e outro abstrato. O primeiro seria a existência material, per-
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 23
cebida por meio das sensações. O segundo, a essência abstrata ou alma 
racional, sem qualquer relação com a parte física. A compreensão inte-
lectual do indivíduo se deveria a esta alma imaterial, que o distinguiria 
dos demais seres vivos (MARÇAL, 2009). 
Na Idade Média, os escolásticos sustentaram a existência de uma 
organização hierárquica dos poderes da mente ou de suas faculdades 
(que é como eles os designavam). Tal como Avicena, eles também con-
sideravam que os processos psíquicos seriam formas especiais de exis-
tência do espírito (O’NEIL, 1969; LURIA, 1979a). Com base nas ideias 
de Aristóteles, estratificaram tais faculdades: a razão e a sensação inte-
grariam a função noética (relacionada ao conhecimento);enquanto que 
a vontade e o impulso, a função orética (ligada ao desejo). Razão e von-
tade seriam faculdades superiores à sensação e impulso, considerados 
como poderes inferiores (O’NEIL, 1969; TARNAS, 1993). Julgavam 
que havia o potencial e a sua realização (ou atualização do potencial), que 
se constituiriam em um único processo mental. A partir da Escolástica, 
emergiu um novo espírito intelectual cético, aberto para mudanças funda-
mentais, que encorajava uma visão da natureza mais empírica, mecanicis-
ta e quantitativa. Ainda nesta mesma época alguns filósofos distinguiram 
três faculdades básicas, que se achariam provavelmente localizadas em 
algum lugar do cérebro: a percepção (ou imaginação), o raciocínio e a 
memória (LURIA, 1979a).
A ideia homérica de um ser que habitaria o homem foi recupera-
da na Idade Média: o médico e alquimista suíço, Phillippus Aureolus 
Theophrastus Bombastus von Hohenheim (ca. 1493-1541), que ficou co-
nhecido como Paracelso, sustentava que o corpo era controlado por um 
homúnculo que se encontraria no cérebro dos indivíduos (KOVÁCS, 1997). 
Na Alta Idade Média ressurgiu o interesse pela realidade do mun-
do natural, como base necessária para se adquirir êxtase místico e a 
contemplação religiosa. Acreditava-se que quanto mais o mundo fosse 
compreendido e explorado, maior o conhecimento e a reverência pela 
divindade, pois se supunha que razão e fé derivavam da mesma fonte: 
Deus. A confiança na razão humana e na experiência direta estava re-
24 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
lacionada com o redescobrimento dos textos de Aristóteles e o renasci-
mento do interesse pelos clássicos (TARNAS, 1993). 
Neste mesmo período a irracionalidade e a insanidade eram tidas 
como contrárias à natureza criada por Deus, e eram consideradas como 
a manifestação do Mal. Os distúrbios mentais e as psicopatologias eram, 
então, descritos como possessões demoníacas. A salvação da alma ocor-
reria por meio do sacrifício do corpo. O método de tratamento para tais 
casos era o exorcismo. Práticas de torturas ou de punições físicas seve-
ras tornaram-se comuns, além do encarceramento dos doentes mentais, 
que eram tratados de modo desumano. Tal noção de possessão demoní-
aca esteve associada com a concepção de bruxaria e de feitiçaria, até o 
século XVII (O’NEIL, 1969; GAZZANIGA, HEATHERTON, 2005). 
Foi somente no século XVIII que tal quadro se transformou.
Uma nova constituição psicológica do homem estava se desenvol-
vendo. Ela refletia uma radical mudança de enfoque: de Deus para o ho-
mem, ou do transcendente para o empírico. O homem adquiria um novo 
sentido de seu poder. Ele descobria a sua capacidade para compreender 
a ordem natural, por meio de sua inteligência, e mudar tal ordem em seu 
próprio benefício, sem ter que depender de um Deus onipotente. Nesta 
mesma época foi estabelecida, pela primeira vez, uma firme distinção 
entre o conhecimento derivado da teologia e o conhecimento derivado 
da ciência (TARNAS, 1993). Tal fato levou a filosofia a permanecer, não 
apenas separada, mas complementar à teologia. Ao confrontarem dire-
tamente a tensão que surgia das tendências divergentes entre natureza e 
espírito, os filósofos escolásticos (como Aquino) prepararam, na Idade 
Média do século XIII, o caminho para a Revolução Científica, que viria 
a eclodir no século XVII.
O religioso italiano São Tomás de Aquino (1225-1274) teve o mé-
rito de gradualmente introduzir Aristóteles para a Igreja, com sua ciência, 
filosofia e cosmologia integradas à doutrina cristã e pode ser considera-
do como um empirista materialista. Para Aquino a alma era a forma do 
homem e o corpo, a sua matéria. O corpo era intrinsecamente necessá-
rio para a existência do homem. Espírito e matéria eram distinguíveis 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 25
no homem, mas eram também aspectos de uma totalidade homogênea. 
Para ele, os fenômenos mentais seriam manifestação da matéria. O ser 
humano seria tanto matéria quanto espírito. A cognição humana deveria 
refletir ambos os princípios: o conhecimento seria derivado da experi-
ência concreta, de objetos particulares, a partir dos quais as coisas uni-
versais poderiam ser abstraídas (TARNAS, 1993; BOCK, FURTADO, 
TEIXEIRA, 2001). Esta concepção dialética da realidade será poste-
riormente retomada. Ele pressupunha a necessidade epistemológica da 
experiência sensorial, ou seja, era preciso conhecer a realidade concreta 
antes de conhecer a abstrata e universal. Porém a experiência sensorial 
sem o intelecto ativo seria ininteligível e cega. 
Para Aquino, tanto a experiência dos sentidos quanto o intelecto 
seriam necessários para a cognição. Natureza e espírito estariam intima-
mente ligados um com o outro. O homem seria o centro destes dois rei-
nos. Segundo Aquino, as Ideias teriam três modos de existência: como 
coisas com formas inteligíveis; como conceitos formados na mente hu-
mana, por meio da abstração das coisas; e como exemplares da mente 
de Deus, independente das coisas (TARNAS, 1993; MARÇAL, 2009). 
Ele estava convencido da identidade entre ser e conhecer. Conhecer algo 
seria ter este algo no conhecedor. No processo de cognição humana a 
alma receberia a forma de um objeto em si mesma, como também o seu 
aspecto universal. Na verdade, ela seria todas as coisas, pois nela esta-
ria inscrita toda a ordem do universo. 
Por volta do século XIV a mentalidade medieval se transformou 
para sempre, com a separação entre teologia e filosofia. William de 
Ockham (1285-1349), um frade franciscano e filósofo inglês, que nas-
ceu logo após a morte de São Tomás de Aquino, se tornou um pensador 
fundamental do movimento medieval em direção à modernidade, ao ne-
gar qualquer base metafísica da mente humana. Ele se opôs à escolástica 
e a São Tomás de Aquino. Afirmou que o conhecimento humano estaria 
limitado ao empírico e contingente. O conhecimento universal não seria 
necessário, ou seja, não haveria nenhuma continuidade inteligível entre 
a experiência prática e o divino. Segundo Ockham, as únicas certezas 
26 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
do homem se sustentariam na observação sensorial direta e nas propo-
sições lógicas autoevidentes. Especulações racionais sobre realidades 
invisíveis e essências universais seriam implausíveis. Para ele, todo o 
conhecimento humano se basearia na experiência sensorial e qualquer 
conhecimento, além dos sentidos, só poderia ser revelado pela fé, e não 
pela razão. Distinguiu dois campos de conhecimento: o religioso, que 
se colocava acima de qualquer dúvida e de qualquer compreensão ra-
cional; e aquele dos fatos observáveis, descritos pela ciência empírica e 
pela filosofia racional. Existiriam a verdade religiosa e a verdade cien-
tífica. No entanto, nenhuma das duas teria relação de continuidade uma 
com a outra (TARNAS, 1993). 
Ainda no século XIV, um renovado interesse pela civilização 
Greco-Romana foi despertado, em função das ideias do escritor italiano 
Francesco Petrarca (1304-1374). O retorno às culturas antigas e a des-
coberta da literatura clássica foram estimulados por Petrarca e levou ao 
renascimento do Humanismo Clássico, como uma reação à forma inte-
lectualizada e abstrata de se compreender a realidade, imposta pela tra-
dição judaico-cristã. Por outro lado, também se observou o esgotamento 
do pensamento escolástico, que se tornara estéril (TARNAS, 1993). O 
foco do conhecimento não estava mais baseado na precisão teológica, 
ou no conhecimento científico do mundo natural, mas nas profundida-
des e complexidades da consciência. Mais do que espiritual e científico, 
o corpo de conhecimento seria, a partir de então, psicológico, humanis-
ta e estético.
Assim, a partir do século XV surgiu uma nova escola filosófica, 
fundamentada na tradição platônica: o Humanismo. Ele emergiu de di-
versas tradições e perspectivas. A noção de que a imaginação e a visão 
seriam mais significativasdo que a lógica e o dogma, ou a de que o ho-
mem poderia adquirir conhecimento divino, atraiu muitos pensadores. 
Com o Humanismo alcançou-se certo equilíbrio entre as tensões do mun-
do externo e da psique interior. O indivíduo descobriu dentro de si mes-
mo a imagem do divino (Ibid.). Sob a influência dessa tradição, surgiu 
uma nova visão de homem, que, então, adquiriu uma nova consciência 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 27
de seu papel no universo. Ao mesmo tempo, um novo sentido de histó-
ria também foi alcançado. Ela não era mais compreendida como line-
ar, mas cíclica. Um novo modo de se obter o conhecimento, por meio 
do uso disciplinado da imaginação era estimulado. Ele minava, definiti-
vamente, a autoridade espiritual da Igreja. Coincidentemente é também 
no século XV que a palavra “psicologia” foi empregada pela primeira 
vez, para se referir a um aspecto específico do estudo do ser espiritual: 
o campo do conhecimento relacionado com a investigação da alma hu-
mana (O’NEIL, 1969).
No século XVI, um movimento de renovação intelectual e artís-
tica ocorreu na Europa: o Renascimento. Com ele o mundo clássico foi 
resgatado. O valor individual e a independência estavam em grande evi-
dência e o corpo humano era celebrado em sua harmonia formal e propor-
ção (GODWIN, 1979). Por outro lado, neste mesmo período era criado 
o relógio mecânico, cujo sistema de molas e engrenagens articuladas, 
se tornaria um paradigma4 para as máquinas modernas e forneceria as 
bases conceituais de um modelo e metáfora para a ciência emergente da 
nova era. Com uma precisão empírica sem precedentes, o homem era, 
então, capaz de penetrar nos mistérios da natureza e refletir sobre eles 
(TARNAS, 1993).
No século XVI, também surgiu na Alemanha o movimento refor-
mista, sob a inspiração de Martinho Lutero (1483-1546). Como con-
sequência dos ideais protestantes, enfatizou-se ainda mais o papel da 
consciência pessoal e um individualismo assertivo emergiu. A verdade 
seria aquela que o ser vivenciaria subjetivamente, e seria sempre indi-
vidual (TARNAS, 1993). O ser humano seria o sujeito conhecedor dos 
objetos da natureza. A mente humana só poderia conhecer este mundo 
natural (que não era espiritual). 
4 Na ciência, um paradigma representa um modelo ou um padrão teórico que serve como 
parâmetro para o estudo e a investigação em um determinado campo do conhecimento 
científico. Dele derivam as produções da ciência. Ele é o conjunto de definições, 
conceitos, leis, valores, teorias e técnicas, de uma área científica. 
28 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
Ainda no século XVI, a Contrarreforma foi a resposta da igreja 
católica contra a onda protestante. Neste processo, destacou-se o papel 
dos jesuítas, como educadores dos jovens. Nas instituições educacio-
nais que foram fundadas pelos jesuítas, ensinou-se um programa huma-
nista, inspirado nos valores renascentistas e da era clássica, por meio de 
uma racionalidade crítica. Com tal estratégia educacional liberal, os es-
tudantes foram expostos a diversos pontos de vista (tanto pagãos, quan-
to cristãos). Sob o impacto de tal pluralismo intelectual constatou-se o 
fracasso da cultura medieval em chegar a um consenso sobre uma ver-
dade religiosa universalmente válida. Surgiu, então, a necessidade de se 
buscar outro tipo de sistema de crença menos controverso, subjetivo e 
mais racionalmente persuasivo (TARNAS, 1993).
O astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630); o astrônomo 
polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) e o físico, astrônomo e mate-
mático italiano Galileu Galilei (1564-1642) descartaram a noção me-
dieval de que a Terra seria o centro do universo e definiram uma nova 
cosmologia. O físico e químico irlandês Robert Boyle (1627-1691), na 
química; o médico inglês William Harvey (1578-1657), na medicina e 
o físico e matemático inglês Isaac Newton (1642-1727), na física, pro-
moveram uma revolução no campo científico ao descreverem pela pri-
meira vez na história, respectivamente, a noção moderna de elemento 
químico, a circulação sanguínea do corpo humano e a teoria da gravidade 
(TARNAS, 1993; BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2001; MARTINS, 
2006; FORATO, 2006). 
Esta primeira revolução científica ocorrida no século XVII, espe-
cialmente a partir do final do Renascimento resultou em um maior co-
nhecimento e melhor compreensão do universo. Com o advento da Era 
Moderna, a filosofia afastou-se da religião e tornou-se uma força in-
dependente na vida cultural, quando se aliou à ciência. Na verdade, a 
descoberta de novos continentes pelos navegadores, e os diversos even-
tos históricos que marcaram tal período estabeleceram o rompimen-
to da Antiguidade e Idade Medieval, com o universo da Era Moderna. 
Revelou-se um conflito irreconciliável entre a religião e a ciência. Todos 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 29
estes acontecimentos forjarão as bases da revolução científica do sécu-
lo XVIII, inspirada nos ideais do Iluminismo. 
Para o empirista inglês, Francis Bacon (1561-1626), a descoberta 
do Novo Mundo pelos exploradores do globo exigia uma correspondente 
descoberta de um novo mundo mental em que os antigos padrões de pen-
sar, os preconceitos tradicionais, as distorções subjetivas, as confusões 
verbais e a cegueira intelectual geral fossem superados. Ele acreditava 
que as fundações da ciência demandavam por uma radical reformulação. 
Por meio da ciência, o homem moderno se afirmaria em sua verdadeira 
superioridade perante os seus antepassados. Para tal finalidade propôs 
um novo método de adquirir conhecimento: o método indutivo, que era 
fundamentalmente empírico (GALVÃO, 2007). 
De acordo com Bacon, conhecimento era sinônimo de poder. 
Afirmava que o homem fora criado por Deus para interpretar e dominar 
a natureza. A verdadeira base do conhecimento seria o mundo natural e 
a informação que ele forneceria por meio dos sentidos. Foi o pioneiro da 
ciência experimental, e influenciou o caráter e a direção da nova ciência 
da Era Moderna. Pela observação cuidadosa da natureza e o meticuloso 
planejamento de diversos experimentos, no contexto de uma pesquisa or-
ganizada, ele sustentava que a mente humana gradualmente extrairia as 
leis e generalizações que permitiriam a compreensão da natureza, e que 
seriam necessárias para o seu controle. Criticava as posições defendidas 
por Aristóteles e pela Escolástica que partiam de definições abstratas e 
distinções verbais, por meio do pensamento dedutivo. Em 1620 ele pu-
blicou “Novum organum” (Novo Instrumento), em contraposição à obra 
de Aristóteles “Organon” (Instrumento). Criticou o método dedutivo de 
conhecimento por considerar que nele se forçava o fenômeno a se encai-
xar em uma ordem preestabelecida (TARNAS, 1993; GALVÃO, 2007).
Neste mesmo período, Galileu argumentava que, para alcançar jul-
gamentos acurados, os cientistas deveriam considerar somente as quali-
dades objetivas e mensuráveis da natureza, tais como: tamanho, forma, 
número, peso e movimento. Apenas as características quantitativas pode-
riam prover para a ciência certo conhecimento do mundo. Segundo ele, 
30 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
as qualidades perceptíveis como cor, som, gosto, cheiro e consistência 
deveriam ser ignoradas, por se constituírem em qualidades subjetivas e 
efêmeras (COSTE, 1978; TARNAS, 1993).
No século XVII surgiu na Europa um movimento que ficou conhe-
cido pelo termo Iluminismo. A partir dele, uma transformação radical 
foi processada, o que promoveu avanços tecnológicos e científicos sem 
precedentes (TARNAS, 1993). A razão humana autônoma substituiu as 
tradicionais fontes de conhecimento, como também os limites e méto-
dos da ciência empírica foram definidos. Tal período também coincidiu 
com o surgimento da neurofisiologia experimental (KOVÁCS, 1997). 
Entretanto, o conhecimento de neuroanatomia ainda era muito impreci-
so. Paralelamente àevolução científica, a filosofia progredia. Nesta, se 
analisava a natureza e a extensão do conhecimento humano com um ri-
gor e perspicácia cada vez maior. Mas, constatava-se que havia limites 
além dos quais o pensamento filosófico ainda não conseguira penetrar. 
Numa época de tantas transformações, de descobertas de toda a 
espécie, do colapso das instituições e tradições culturais em que o crité-
rio de verdade era questionado com cético relativismo, René Descartes 
(1596-1650), um filósofo francês, estabeleceu a razão humana como a 
base irrefutável do conhecimento. Afirmou que muito do conhecimento 
humano seria inato e que não se fazia necessário aprender sobre si mes-
mo por meio das observações dos eventos. Embora nunca tenha definido 
o que era pensar, e muito menos o que era existir, Descartes entroni-
zou a razão como a suprema autoridade em matéria de conhecimento, 
com o seu método dedutivo, matemático e racional. Para ele, o “cogito” 
(o pensamento, como forma de acessar o eu) era o primeiro princípio e 
o paradigma de todos os demais conhecimentos (DESCARTES, 1991; 
MARÇAL, 2009; RODRIGUES, CIASCA, 2010). Tomou como certe-
za basilar, a proposição “Penso, logo existo”, que era singular e impos-
sível de negá-la. Sustentou que não se poderia pensar que não se pensa 
(O’NEIL, 1969). A existência do pensamento e do espírito que o pensa 
constituía a única e verdadeira certeza de que se dispunha (TARNAS, 
1993; PINHEIRO, 2005; MARÇAL, 2009; ZILIO, 2010). 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 31
Segundo Descartes, anatomicamente a glândula pineal atuaria 
como uma interface entre a mente e o corpo. Nela se encontraria a sede 
da alma. No entanto, enfatizava que espírito e corpo seriam essencial-
mente diferentes. Para ele, os fenômenos mentais ocorreriam apenas 
para o sujeito, ou seja, só o indivíduo poderia saber o que ocorreria em 
sua mente. Por isso, sustentava que os animais só manifestariam proces-
sos fisiológicos e que não possuiriam mentes, mas apenas características 
físicas. Os fenômenos mentais – tais como: o raciocínio, a memória, a 
imaginação, entre outros – apresentariam uma característica específica, 
que não seria encontrada nos corpos físicos: a não espacialidade. Desse 
modo, eles não poderiam ser localizados em qualquer espaço físico, 
nem sequer no próprio corpo. Por oposição aos fenômenos materiais, os 
pensamentos seriam indivisíveis e, assim, não poderiam ocorrer no es-
paço tridimensional (COSTE, 1978; DESCARTES, 1991; GARDNER, 
1994; FEINBERG, FARAH, 1997; KOVÁCS, 1997; DAMÁSIO, 2000a; 
TEIXEIRA, 2000; MIRANDA, 2006; MARÇAL, 2009; ZILIO, 2010; 
ANDRADE, 2014). A visão mecanicista sobre o comportamento animal 
de Descartes será ampliada para o humano, por Watson e Pavlov no fi-
nal do século XIX e início do século XX. 
Fortemente influenciado por Descartes, o filósofo holandês Baruch 
(ou Bento) de Espinosa (1632-1677) desenvolveu as ideias cartesianas 
em outra direção e contestou a noção de separação entre mente e corpo. 
Ele se aproximou do que atualmente é denominado de paralelismo psi-
cofísico. Considerou o mental e o físico como atributos distintos de uma 
mesma realidade. Segundo ele, a razão teria um papel libertador para 
o ser humano, que seria submetido às paixões (impulsos irracionais ou 
emoções). Só a razão possibilitaria ao indivíduo reconhecer que o cur-
so das coisas estava previamente determinado e que existiria uma rea-
lidade essencial. O mundo consistiria em uma única substância infinita 
ou substância única (a natureza). As diversas substâncias (objetos e se-
res), que aparentariam ser múltiplas, seriam formas distintas desta uni-
dade (DURANT, 1996; ESPINOSA, 1997; ESPERIDIÃO-ANTONIO 
et. al, 2008; MARÇAL, 2009). 
32 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
Em contraste com a posição de Descartes, a respeito do conhecimen-
to inato, o filósofo inglês John Locke (1632-1704) julgava que a mente se-
ria como uma “tabula rasa”, e que seria imprescindível que se adquirisse 
o conhecimento por meio da experiência. Com o seu empirismo, ele aju-
dou a desenvolver a perspectiva associacionista e preparou os fundamen-
tos para o surgimento da psicologia, enquanto ciência (O’NEIL, 1969; 
LOCKE, 1991; SIEGLER; 1991). Locke sustentou que não haveria nada 
no intelecto que não teria estado antes nos sentidos. Todo o conhecimento 
do mundo se basearia na experiência sensorial. A mente poderia chegar a 
conclusões razoáveis, por meio da combinação e composição de impres-
sões sensoriais simples, ou ideias (definidas como conteúdo mental), em 
conceitos mais complexos. A reflexão se seguiria à sensação. A fonte de 
conhecimento do mundo para a mente seriam as experiências sensoriais 
(TARNAS, 1993). De acordo com a sua teoria existiriam três fatores no 
processo de conhecimento humano: a mente, o objeto físico e a percepção. 
A primeira possuiria o conhecimento; o segundo seria exterior à mente, e 
a terceira, ou ideia na mente, representaria aquele objeto. Só se conhece-
ria um objeto pela mediação da ideia, mas as impressões do mundo exter-
no que se vivenciaria por meio da cognição poderiam ser absolutamente 
confirmadas como pertencentes ao próprio mundo. Não haveria garantia de 
que todas as ideias humanas sobre as coisas se pareceriam genuinamente 
com os objetos exteriores que elas supostamente representavam. Também 
outro problema surgia: certas ideias complexas não poderiam ser reduzi-
das a sensações ou a ideias mais simples. Para enfrentar estas dificuldades 
Locke propôs uma distinção entre qualidades primárias e qualidades se-
cundárias dos objetos. As primeiras referentes aos aspectos mensuráveis 
inerentes a todos os objetos materiais, e as últimas, à experiência subje-
tiva destes objetos. Enquanto as qualidades primárias produziam ideias 
parecidas com os objetos exteriores, as secundárias produziam ideias que 
seriam consequência do aparato perceptivo do indivíduo (O’NEIL, 1969; 
TARNAS, 1993).
Vale ressaltar que, neste período, os filósofos racionalistas (in-
fluenciados por Platão e seus seguidores) afirmavam que a razão seria 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 33
o instrumento mental indispensável, por meio do qual se teria acesso à 
essência imutável das coisas, pois acreditavam na supremacia da razão 
sobre a experiência dos sentidos. Os racionalistas (como Descartes) sus-
tentavam que as principais atividades da mente seriam: perceber, recor-
dar, raciocinar e desejar. Eles compreendiam a senso-percepção como a 
função que permitia o acesso à realidade manifesta, mutável e superfi-
cial. Já os filósofos empiristas (como Locke), adotavam a posição con-
trária e afirmavam exatamente o oposto, porque supunham a evidência 
sensorial. Tal perspectiva empirista tem suas origens no resgate das ideias 
de Aristóteles, que ocorreu durante a Idade Média, com os escolásticos. 
Na verdade, o pensamento aristotélico, que havia proclamado o poder 
do desenvolvimento do intelecto humano, foi dominante até por volta 
do século XVII (O’NEIL, 1969; MARÇAL, 2009). 
Os métodos indutivo, proposto por Bacon, e dedutivo, por 
Descartes, deixaram uma herança para a filosofia e a ciência dos sécu-
los seguintes. O exame iluminista e científico da mente será empírico 
como também epistemológico. Gradualmente, voltará o seu foco para a 
senso-percepção, o desenvolvimento cognitivo e os estudos comporta-
mentais quantitativos. Na ciência se enfatizarão as correlações empíri-
cas e causas tangíveis que podem ser confirmadas experimentalmente. 
A antiga preocupação com a causalidade dos fenômenos ou a sua causa 
última (o porquê), será abandonada em função da busca por sua finali-
dade (o como).
O bispo irlandês George Berkeley (1685-1753), que era um fi-
lósofo associacionista, sofreu forte influência de Locke e, numa críti-
ca ao referido pensador (que reduzia todos os conteúdos mentais à sua 
base material, ou seja, às sensações), sustentou que todo o dadosenso-
rial poderia ser convertido ao conteúdo mental (O’NEIL, 1969; LURIA, 
1991b; TARNAS, 1993; MARÇAL, 2009). Julgava que a existência de 
um mundo material externo à mente, não seria uma suposição assegura-
da. O que se sabia, com certeza, era que a mente e suas ideias existiam 
(TARNAS, 1993). Berkeley rejeitava a ideia de representação mental, 
pois, segundo ele, nenhuma ideia da mente poderia ser semelhante a um 
34 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
objeto físico. Os dados sensoriais não seriam representações mentais de 
substâncias materiais, mas a própria experiência mental de si mesmos. 
Tudo seria registrado como ideias na mente. Toda experiência humana 
seria limitada às suas aparências na mente (SIEGLER, 1991). 
Ele realizou uma importante análise da percepção visual de ta-
manho e distância, que foi considerada uma das maiores contribuições 
para o campo da psicologia do século XVIII (O’NEIL, 1969; SIEGLER, 
1991). Estabeleceu uma análise e explicação que foi seguida pelos as-
sociacionistas. Seu trabalho na área de percepção visual se baseava na 
premissa de que não se poderia enxergar a distância de um objeto, por 
meio da retina que é bidimensional. Argumentava que tais inferências 
não seriam feitas por meio do estímulo visual, mas com base em pistas 
para distância. Por meio de suas conexões com a experiência de distân-
cia obtida pelo movimento, tal mediação seria possível.
De acordo com Berkeley, ser não significaria a substância material, 
mas a percepção de si mesmo por uma mente. As ideias na mente seriam 
a verdade final. Entretanto, justificava a existência da objetividade por 
meio da suposição da existência da mente de Deus, uma mente individual 
transcendental, que seria universal. Para ele, a mente tinha retido certo 
poder espiritual independente da mente de Deus e não necessitava da base 
física para a experiência. O mundo vivenciado pela mente também seria 
produto da mente de Deus. Para este pensador, nada era objetivamente 
necessário: nem Deus, nem a ordem, nem a causalidade, nem a identidade 
pessoal ou o real conhecimento. Tudo era contingente (O’NEIL, 1969; 
TARNAS, 1993; MARÇAL, 2009). 
Em 1732, o filósofo alemão Christian von Wolff (1679-1754), que 
havia estabelecido uma escola racionalista alemã dominante (e influen-
ciará Kant) usou a palavra “psicologia” para denotar a análise e interpre-
tação filosófica secular do fenômeno mental (O’NEIL, 1969; TARNAS, 
1993). Ele adotou a divisão ternária da teoria das faculdades humanas, 
cuja origem era medieval e achava-se associada à Escolástica, segun-
do a qual existiriam as faculdades: cognitiva, afetiva e conativa (que re-
presentava a tendência consciente para atuar). Em tal teoria a mente era 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 35
definida em termos de poderes, potenciais e atualização de potenciais, e 
não em termos de seus conteúdos ou de objetos mentais. 
O filósofo inglês David Hume (1711-1776), que era um empirista, 
acreditava que todo o conhecimento humano se baseava na experiência 
sensorial. Ele fez uma distinção entre impressões sensoriais (consideradas 
a base de qualquer conhecimento) e as ideias, ou imagens (cópias esma-
ecidas das impressões sensoriais). Enquanto para Platão, as impressões 
sensoriais seriam cópias esmaecidas das Ideias, para Hume, as ideias eram 
cópias esmaecidas das impressões (O’NEIL, 1969; TARNAS, 1993). 
Ele afirmou que as únicas diferenças entre uma impressão formada du-
rante a percepção (isto é, a própria percepção) e uma imagem mental, 
na mesma modalidade sensorial (que ele chamou de ideia) seriam o grau 
de força e a nitidez com a qual surgiriam na mente e se imporiam para 
o pensamento e a consciência. As imagens geradas por estímulos inter-
nos seriam menos vívidas do que as que se originavam de estímulos ex-
ternos (KOSSLYN, 1992; DAMÁSIO, 2000a).
Hume argumentou que, se tudo o que se conhece são ideias, então 
não haveria lugar para o que Berkeley sustentava, como a noção de men-
te ou de Deus, pois tudo o que poderia existir seria uma série conectada 
de ideias, que constituiriam a mente. Segundo Hume, a mente não pos-
suiria ideias, mas ela seria as próprias ideias. Ele afirmava que muitas 
experiências podiam ser reduzidas à associação de simples ideias, lan-
çando, assim, as bases para o associacionismo (O’NEIL, 1969).
Para Hume a mente realmente não poderia saber o que causava as 
sensações (LURIA, 1991b). Ela só poderia experimentar impressões, 
mas não a sua causa. Por meio da associação de ideias a mente assumia 
uma relação causal. Mas tal relação, na verdade não teria nenhuma base 
em impressões que sugeriam que eram causadas por uma substância ob-
jetiva, cuja existência seria independente da mente. A mente nunca ex-
perimentaria tal substância, mas apenas as suas impressões sugestivas. 
A causa deveria ser reconhecida meramente como a repetida conjunção 
acidental de eventos na mente (TARNAS, 1993). Segundo este filóso-
fo, a causalidade seria o único princípio sobre o qual os próprios julga-
36 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
mentos poderiam se basear. Ela estaria fundamentada na observação de 
eventos particulares e concretos que ocorreriam em uma sucessão tem-
poral. Sem temporalidade ou concretude não se poderia aceitar a causali-
dade, ou seja, o fato de que algo é responsável por outra coisa acontecer.
Hume julgava que o homem só poderia basear o seu conhecimen-
to nas impressões de sua mente e não poderia assumir que sabia o que 
existia além destas impressões. Deste modo, todos os conceitos gerais se 
originariam da experiência que a mente tinha com impressões particu-
lares. A partir da relação entre estas impressões, surgiriam as ideias. Era 
do hábito de associação da mente que surgiriam as ideias. Ele afetou a 
fundação lógica da ciência empírica: o processo de indução (a concep-
ção de que a mente progride logicamente do particular para o universal) 
jamais poderia ser absolutamente legitimado. A ciência só seria possí-
vel se fosse levado em conta o fato de que ela se limitava ao fenômeno, 
às aparências registradas na mente, e que sua certeza era subjetiva, de-
terminada pela psicologia humana, e não pela natureza. O homem não 
seria capaz de adquirir conhecimento seguro. Com Hume a ênfase em-
pirista na percepção sensorial foi levada ao extremo. Ele concluiu que a 
mente era somente um amontoado de percepções desconexas, que não 
possuía uma unidade substancial, existência contínua, ou coerência in-
terna. Ordem e coerência, inclusive a ideia do ser humano, tinham que 
ser entendidas como ficção construída pela mente (TARNAS, 1993).
Um dos primeiros associacionistas influenciados por Hume foi o 
médico inglês David Hartley (1705-1757) que, em 1748, empregou a pa-
lavra “psicologia” em inglês, com o significado semelhante àquele dado 
anteriormente por von Wolff (O’NEIL, 1969). Entretanto, devido à sua 
formação, enfatizou o sentido mais fisiológico do termo. Ele acreditava 
que o efeito dos objetos externos sobre os órgãos dos sentidos ocorria 
em função de minúsculas vibrações produzidas nos nervos. Qualquer re-
petição de tais padrões vibratórios poderia evocar a experiência original. 
Sustentou que as sensações seriam processos físicos. 
O historiador e filósofo escocês James Mill (1773-1836) foi ins-
pirado pelo trabalho de Hartley, mas por não possuir conhecimentos em 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 37
fisiologia, se dedicou ao estudo dos fenômenos mentais (por ele desig-
nados como sentimentos). Para ele a mente seria a totalidade do conjun-
to de sentimentos, que se associariam de modo sincrônico e sucessivo. 
Classificava os sentimentos em: simples e complexos. Os complexos 
eram compostos pelos simples. Também os categorizava em dois tipos: 
sensorial ou ideacional. Os sensoriais ocorreriam somente na presen-
ça dos objetos e os ideacionais, na sua ausência. Quandodiscutia so-
bre as sensações ele distinguia entre órgãos dos sentidos (relacionados 
às sensações propriamente ditas) e os objetos aos quais tais sensações 
correspondiam. Por meio dos órgãos dos sentidos, as sensações ocorre-
riam associadas com ideias, concebidas durante tal processo. Por isso 
é que os sentimentos ideacionais seriam derivados dos sensoriais, dos 
quais seriam cópias ou imagens. Afirmava que só após as sensações é 
que as ideias surgiriam. Argumentava que outras ideias se sucederiam 
às ideias geradas pela excitação perceptual das sensações (O’NEIL, 
1969). Constantemente os indivíduos vivenciariam séries alternadas de 
sensações e ideias. 
O filósofo prussiano5 Immanuel Kant (1724-1804) era interessa-
do, principalmente, em epistemologia, ou seja, no ramo da filosofia que 
investiga a origem do conhecimento e foi influenciado pelas ideias de 
Hume. Kant julgava que o espaço, tempo, classes e relações eram as 
categorias centrais do conhecimento e que esses tipos básicos de co-
nhecimento seriam inatos no ser humano. Para ele, causalidade e ou-
tras categorias de entendimento, como substância, quantidade e relação, 
não seriam derivadas da experiência, mas produtos do referencial men-
tal. O indivíduo não receberia todo o seu conhecimento da experiência. 
Durante o processo cognitivo, o seu próprio conhecimento, em certo sen-
tido, já o introduziria na sua experiência. O conhecimento humano não 
se conformaria aos objetos, pelo contrário, eles é que se conformariam 
ao conhecimento do homem (KANT, 1991a, 1991b). Integrou o conhe-
cedor com o conhecido, mas não o conhecedor com a realidade objeti-
5 O território da antiga Prússia (um Estado que não existe mais) hoje se encontra na 
Alemanha, Polônia e uma parte menor, na Rússia.
38 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
va ou com o objeto em si mesmo. Ele operou uma revolução na filosofia 
ao afirmar que embora existissem objetos reais no mundo, só se poderia 
enxergá-los e concebê-los como a forma com que a mente os via ou os 
concebia (KANT, 1991a; KANT, 1991b; SIEGLER, 1991; TARNAS, 
1993; DURANT, 1996).
Kant acreditava que no ato da cognição humana a mente não se 
conformava às coisas, pelo contrário, eram as coisas que se confor-
mavam à mente. A experiência do mundo pelo homem seria, necessa-
riamente, determinada por suas predisposições mentais. Ou seja, uma 
construção da mente imposta às sensações. A ordem que o homem per-
cebia no mundo era uma ordem fundamentada em sua mente. A experi-
ência era inevitavelmente moldada pelo aparelho cognitivo e nunca se 
poderia saber, se o mundo era aquilo que se apresentava ao indivíduo 
ou se era algo diferente. 
Kant rejeitava a teoria das faculdades humanas, mas aceitava a 
concepção de divisão ternária de Wolff (cognição, afeição e conação). 
Foi ele quem perpetuou tal noção para alguns dos psicólogos do século 
XIX (O’NEIL, 1969). Em oposição aos racionalistas e aos empiristas, 
ele sustentava que assim como o pensamento sem sensação é vazio, a 
sensação sem pensamento é cega. Não se poderia conhecer algo sobre 
o mundo só pelo pensamento ou só pela sensação. Também não seria 
possível, primeiro, sentir para depois pensar sobre as sensações. Os dois 
teriam que ocorrer simultaneamente de modo integrado. Só a conjun-
ção da compreensão com a sensibilidade proveria objetivamente o co-
nhecimento válido das coisas (KANT, 1991a; KANT, 1991b; TARNAS, 
1993; DURANT, 1996). 
As experiências do ser humano seriam modeladas pelo aparelho 
cognitivo, inclusive as percepções de mentes e de cérebros. Nunca se 
teria acesso ao cérebro, mas unicamente a algum tipo de representa-
ção do cérebro produzida pelo aparelho cognitivo (TEIXEIRA, 2000). 
Para Kant a cognição humana não se originaria de uma natureza in-
dependente da mente. Portanto, não se poderia abordar nem mentes, 
nem cérebros, mas apenas o como mentes e cérebros se apresentam 
INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE MENTE E CÉREBRO - 39
para os indivíduos. O problema das relações entre mente e corpo era, 
para ele, insolúvel. 
Kant buscou resolver a dicotomia epistemológica fundamental que 
se colocava entre o empirismo e o racionalismo (STERNBERG, 2000). 
Ele afirmou que o mundo objetivo estudado pela ciência era um mundo 
que já havia sido ordenado pelo aparato cognitivo da mente, pois a men-
te não receberia os dados sensoriais passivamente, mas os integraria e 
os estruturaria em função de sua natureza. Assim, para Kant, o homem 
conheceria a realidade objetiva precisamente na extensão em que aque-
la realidade se conformasse às estruturas fundamentais de sua mente. O 
mundo abordado pela ciência corresponderia a princípios que estariam 
na mente, porque o único mundo disponível para a mente já estaria or-
ganizado de acordo com os próprios processos da mente. O homem só 
teria acesso ao mundo permeado por seu conhecimento. A causalidade 
e as leis necessárias da ciência seriam construídas a partir do referen-
cial de sua cognição. Ou seja, eles não seriam derivados da experiên-
cia, mas seriam trazidos para a experiência. Vale lembrar que, antes de 
Kant, Aristóteles e São Tomás de Aquino, também afirmaram, como 
ele, que o homem conhecia porque julgava as coisas por meio de prin-
cípios “a priori”.
 O único mundo que o homem conheceria seria o mundo empírico 
dos fenômenos, e esse mundo só existiria na medida da participação deste 
homem em sua construção. O conhecimento se restringiria aos efeitos sen-
soriais da realidade física nos indivíduos. A mente nunca teria experiência 
daquilo que estivesse fora. Para o homem a realidade era necessariamente 
aquela que produzia. O próprio mundo, em si, era o que só podia ser pen-
sado e nunca objetivamente conhecido. Kant assumiu que o homem podia 
conhecer o mundo genuinamente em função de sua organização mental, já 
que este era o único mundo que ele podia vivenciar o mundo fenomenal. 
Ele exercerá influência sobre as ideias de Jean Piaget (SIEGLER, 1991). 
A revolução provocada por Kant foi sua explicação de que a ordem 
percebida como mundo seria a ordem dada pelo observador, ou seja, sua 
afirmação de que todo o conhecimento humano é subjetivamente cons-
40 - Capítulo 1 | RELAÇÃO MENTE E CÉREBRO: DAS ESPECULAÇÕES FILOSÓFICAS...
truído, de que as observações humanas do mundo nunca são neutras, 
livres de julgamentos conceituais anteriormente impostos (TARNAS, 
1993). A partir de Kant, a filosofia é radicalmente redefinida. Seu obje-
tivo não será mais o de determinar a concepção metafísica do mundo, 
como tradicionalmente concebida. Porém, será o de analisar a nature-
za, os limites da razão humana e compreender quais os fatores cogniti-
vos intrínsecos a toda a experiência humana. A tarefa da filosofia será a 
de investigar a estrutura formal da mente, ou seja, tanto os seus aspec-
tos abstratos quanto os do pensamento (SUTHERLAND, 1996). Como 
Tarnas (1993) sustenta, Kant remove a ciência de qualquer outra base 
que não seja a mente humana.
Entretanto, um representante do Romantismo discordará de Kant: 
o escritor alemão Johann Wolfgang von Göethe (1749-1832). Ele não 
acreditava que o espírito humano imporia a ordem na natureza. Pelo 
contrário, seria o espírito da natureza que revelaria a sua própria ordem 
para o homem. O ser humano seria o instrumento de autorrevelação da 
própria natureza, pois a natureza não estaria separada do espírito, mas 
ela mesma seria o espírito inseparável tanto do homem quanto de Deus. 
Para Göethe, a natureza permearia a realidade, inclusive a mente humana 
e a imaginação. O interesse deste autor pelas ciências naturais levou-o a 
investigar fenômenos perceptivos sem considerar apenas as teorias, mas 
também a experiência pessoal (TARNAS, 1993; RICHARDS, 2002). 
A partir do Renascimento surgiram, na cultura, duas correntes dis-
tintas: o Iluminismo e o Romantismo. Na primeira se enfatizava a ciência 
empírica, a racionalidade e o secularismo cético. Na segunda, predomi-
nava a expressão

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