Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Letícia Santos – Medicina ANTIMICROBIANOS E MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ANTIMICROBIANOS Os antimicrobianos devem ser capazes de: 1. Alcançar os alvos moleculares, que são primariamente intracelulares. Para isso, o antimicrobiano, em quantidades suficientes, precisa ultrapassar a membrana celular bacteriana; 2. Interagir com uma molécula-alvo de modo a desencadear a morte da bactéria; 3. Evitar a ação das bombas de efluxo que jogam os antimicrobianos para fora da célula bacteriana; 4. Evitar a inativação por enzimas capazes de modificar o fármaco no ambiente extracelular ou no interior da célula bacteriana. Com frequência bactérias utilizam mais de uma estratégia para evitar a ação dos antimicrobianos; assim, a ação conjunta de múltiplos mecanismos pode produzir um acentuado aumento da resistência aos antimicrobianos. A resistência a determinado antimicrobiano pode constituir uma propriedade intrínseca de uma espécie bacteriana ou uma capacidade adquirida. Para adquirir resistência, a bactéria deve alterar seu DNA, material genético, que ocorre de duas formas: 1. Indução de mutação no DNA nativo; 2. Introdução de um DNA estranho - genes de resistência - que podem ser transferidos entre gêneros ou espécies diferentes de bactérias. Os genes de resistência quase sempre fazem parte do DNA de plasmídeos extracromossômicos, que podem ser transferidos entre microrganismos. Alguns genes de resistência fazem parte de unidades de DNA denominadas transposons que se movem entre cromossomos e plasmídeos transmissíveis. O DNA estranho pode ser adquirido mediante transformação, resultando em trocas de DNA cromossômico entre espécies, com subsequente recombinação interespécies. Se uma bactéria sofre a ação de um antibiótico, esta diz- se sensível; se pelo contrário, o antibiótico não exerce qualquer efeito sobre a bactéria esta diz-se resistente. A resistência pode ser natural ou adquirida (por exemplo, pela transferência de plasmídeos ou por ocorrência de mutações). Portanto, para cada bactéria há um conjunto de antibióticos que são eficazes e outros não eficazes. Ainda, de acordo com a faixa de bactérias sensíveis a determinado antibiótico, podemos classificá-los de largo espectro e de espectro estreito. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA Os mecanismos de resistência bacteriana podem ser das seguintes formas: Alteração de permeabilidade Alteração do sítio de ação Bomba de efluxo Mecanismo enzimático 1. Alteração de permeabilidade A permeabilidade limitada constitui uma propriedade da membrana celular externa de lipopolissacarídeo das bactérias Gram-negativas. A permeabilidade reduzida impede que o antibiótico penetre na célula bacteriana, diminuindo a concentração intracelular do antibiótico. A permeabilidade dessa membrana reside na presença de proteínas especiais, as porinas, que estabelecem canais específicos pelos quais as substâncias podem passar para o espaço periplasmático e, em seguida, para o interior da célula. A permeabilidade limitada é responsável pela resistência intrínseca dos bacilos Gram-negativos à penicilina, eritromicina, clindamicina e vancomicina e pela resistência de Pseudomonas aeruginosa ao trimetoprim. As bactérias utilizam esta estratégia na aquisição de resistência. Assim, uma alteração na porina específica da membrana celular externa de P. aeruginosa, pela qual o imipenem geralmente se difunde, pode excluir o antimicrobiano de seu alvo, tornando P. aeruginosa resistente ao imipenem. 2. Alteração do sítio de ação do antimicrobiano A alteração do local-alvo onde atua determinado antimicrobiano, de modo a impedir a ocorrência de qualquer efeito inibitório ou bactericida, constitui um dos mais importantes mecanismos de resistência. Letícia Santos – Medicina Podem ocorrer alterações no local de destino, levando a uma eliminação ou modificação do local de atividade do antibiótico, de modo que ele não funcione. As bactérias podem adquirir um gene que codifica um novo produto resistente ao antibiótico, substituindo o alvo original. Staphylococcus aureus resistente à oxacilina e estafilococos coagulase-negativos adquiriram o gene cromossômico Mec A e produzem uma proteína de ligação da penicilina (PBP ou PLP) resistente aos β- lactâmicos, denominada 2a ou 2', que é suficiente para manter a integridade da parede celular durante o crescimento, quando outras PBPs essenciais são inativadas por antibimicrobianos β-lactâmicos. Alternativamente, um gene recém-adquirido pode atuar para modificar um alvo, tomando-o menos vulnerável a determinado antimicrobiano. Assim, um gene transportado por plasmídeo ou por transposon codifica uma enzima que inativa os alvos ou altera a ligação dos antimicrobianos como ocorre com eritromicina e clindamicina. 3. Bomba de efluxo O efluxo ativo ocorre quando bombas de efluxo nas bactérias bombeiam antibióticos, diminuindo as concentrações intracelulares. O bombeamento ativo de antimicrobianos do meio intracelular para o extracelular, isto é, o seu efluxo ativo, produz resistência bacteriana a determinados antimicrobianos. A resistência às tetraciclinas codificada por plasmídeos em Escherichia coli resulta deste efluxo ativo. 4. Mecanismo enzimático A modificação enzimática devido a uma enzima produzida pela bactéria destrói o antibiótico antes que ele tenha a chance de atingir seu local de atividade ou até mesmo entrar na célula. É o mecanismo de resistência bacteriano mais importante e frequente é a degradação do antimicrobiano por enzimas. As β-lactamases hidrolisam a ligação amida do anel beta- lactâmico, destruindo, assim, o local onde os antimicrobianos β-lactâmicos ligam-se às PBPs bacterianas e através do qual exercem seu efeito antibacteriano. Produção de β-lactamase e resistência aos β -lactâmicos Três mecanismos básicos de resistência aos ß-lactâmicos são descritos: alteração do sítio de ligação, que no caso seriam as proteínas ligadoras de penicilina (PBPs); alteração da permeabilidade da membrana externa bacteriana (a impermeabilidade da membrana externa ocorre quando bactérias mutantes passam a não produzir os habituais canais da membrana externa bacteriana, porinas, locais por onde penetram os ß- lactâmicos, este mecanismo de resistência é mais comumente observado entre amostras de P. aeruginosa); e degradação da droga através da produção de b- lactamases. As amostras bacterianas pertencentes aos gêneros Citrobacter, Enterobacter, Morganella, Serratia e isolados de Proteus vulgaris são reconhecidamente produtores de ß-lactamases AmpC. Estas enzimas são codificadas pelo gene ampC, e sua produção pode ser induzida quando estes isolados clínicos são expostos a agentes ß- lactâmicos. A hiperprodução desta enzima pode acarretar hidrólise de cefalosporinas, como ceftazidima e ceftriaxona, ocasionando falência terapêutica durante tratamento com estes agentes. As cefalosporinas de quarta geração e os carbapenens são mais estáveis à hidrólise pela AmpC. Resistência aos aminoglicosídeos A modificação enzimática é o mecanismo mais comum de resistência aos aminoglicosídeos. Este tipo de mecanismo pode resultar em alto grau de resistência a estes agentes antimicrobianos. Os genes responsáveis por esta resistência encontram-se geralmente em plasmídeos ou transposons. Os aminoglicosídeos contêm em sua estrutura grupos amino ou hidroxila, os quais podem ser modificados pelas enzimas acima, produzidas por isolados bacterianos. Os aminoglicosídeos modificados nestes grupamentos perdem a habilidade de se ligar ao ribossomo e, consequentemente, de inibir a síntese proteica bacteriana. Outros mecanismos de resistência aos aminoglicosídeos como alteração no sítio de ação (subunidade 30S do RNA ribossomal) e alterações na permeabilidade da membrana celular externa também são descritos. Resistência a sulfametoxazol- trimetoprimaOs enterococos frequentemente exibem suscetibilidade a sulfametoxazol-trimetoprima em testes in vitro, mas esses fármacos não são eficazes no tratamento de infecções. Tal discrepância decorre da capacidade dos enterococos de utilizarem folatos exógenos disponíveis in vivo, escapando, assim, da inibição pelos fármacos. Resistência às quinolonas Está associada a alguns mecanismos de resistência, como: alteração de permeabilidade e hiperexpressão de bombas de efluxo; alterações do sítio de ação (topoisomerases); resistência mediada por plasmídeos; alteração enzimática da molécula do antimicrobiano.
Compartilhar