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Curso Gestão de Recursos Humanos Disciplina: Gestão de Carreira e Desenvolvimento – ARA0804 Prof. André Ricardo de A. Barbosa EDUCAÇÃO CORPORATIVA 2 1. INTRODUÇÃO Para se manter competitivas, as empresas estão tendo de fazer mudanças com bastante frequência. No entanto, a maioria dos esforços nesse sentido não tem trazido os resultados esperados. De uns tempos para cá, isso abriu caminho para uma nova e poderosa proposta: a organização orientada para o aprendizado. Por isso pode-se dizer que a era do planejamento estratégico está se transformando rapidamente em era do aprendizado organizacional. No Brasil, existe apenas a tendência, na medida em que as empresas começam também a perceber a necessidade de repensar seus tradicionais centros de T&D (Treinamento e Desenvolvimento), de modo que possam contribuir com eficácia e sucesso para a estratégia empresarial, agregando valor ao resultado do negócio. Uma universidade corporativa deve estar envolvida em todas as fases da educação, desde identificar as necessidades atuais e futuras da empresa e elaborar os cursos até colocá-los em prática. A verdadeira universidade corporativa treina além de seu pessoal, clientes, fornecedores e a comunidade onde está instalada. 2. CONCEITO DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA Educação corporativa é o guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e educação de funcionários, clientes e fornecedores, com o objetivo de atender às estratégias empresariais de uma organização. Há uma variedade na terminologia empregada em torno da ideia da educação continuada que se fundamenta numa interpretação da educação como um processo que deve prolongar-se durante a vida adulta. Educação permanente, formação permanente, educação continuada, educação contínua, requalificação profissional e desenvolvimento profissional são termos em torno de um mesmo núcleo de preocupação. A educação continuada consiste em um processo de aperfeiçoamento e atualização de conhecimentos, visando melhorar a capacitação técnica e cultural do profissional, segundo Mundim (2002; 63). O principal objetivo da educação corporativa é evitar que o profissional se desatualize técnica, cultural e profissionalmente, e perca sua capacidade de exercer a profissão com competência e eficiência, causando desprestígio à profissão, além 3 do sentimento de incapacidade profissional. Educação corporativa é, portanto, o conjunto de práticas educacionais planejadas para promover oportunidades de desenvolvimento do funcionário, com a finalidade de ajudá-lo a atuar mais efetiva e eficazmente na sua vida institucional. A educação continuada faz parte de um sistema de educação por meio do qual os recursos humanos são aperfeiçoados para a vida e por meio dos mecanismos globais da cultura, de forma assistemática, e por meio da educação formal, não formal e informal, de forma sistemática. Os programas de educação corporativa destacam-se como um sistema de desenvolvimento de pessoas e talentos humanos, alinhado às estratégias de negócio, que evidenciaram como poderosa fonte de vantagem competitiva. Ou seja, tais programas devem construir a ponte entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias de negócio da empresa, visando a uma vantagem competitiva. 3. O QUE É UMA UNIVERSIDADE CORPORATIVA UC é uma estratégia para promover a aprendizagem permanente de funcionários, clientes, fornecedores e comunidade. O desenvolvimento deixa de ser o foco no desempenho dos funcionários e passa a ter o foco no desenvolvimento da organização e da cadeia produtiva. As demandas da organização passam a determinar as ações de desenvolvimento. Portanto, o foco sai das necessidades do funcionário e vai para as necessidades da organização e ainda se estende às necessidades da cadeia produtiva (fornecedores, clientes, distribuidores). Com essa mudança a área de T&D adquire maior importância na medida em que passa a contribuir com o desenvolvimento dos parceiros comerciais da empresa. 3.1. Desafios da UC Gerenciar a acelerada depreciação do conhecimento organizacional; Gerenciar a reposição sistemática de conhecimentos; 4 Transformar informação em conhecimento; Reforçar cadeia de relação: clientes fornecedores e comunidade; Difundir missão visão e valores. 3.2. O contexto do surgimento As profundas transformações por que passa o cenário empresarial têm evidenciado a importância das organizações aprenderem como fazer a gestão do conhecimento, tornando- se este um fator crucial e diferenciador para o sucesso. O talento humano inclui motivação, competência, conhecimento, criatividade, genialidade, habilidades, posturas, atitudes, qualificação, educação e etc. Um ponto interessante é que as empresas têm se destacado por uma atuação intensa e eficaz no que diz respeito à forma de treinar, desenvolver e educar pessoas; ressaltando-se ainda que metade delas possui um sistema de desenvolvimento de talentos concebido dentro dos princípios de universidade corporativa. Pessoas talentosas precisam de grandes gerentes. O empregado talentoso pode entrar para uma empresa por causa de seus líderes carismáticos, de seu generoso plano de benefícios e de seus programas de treinamento de classe mundial, mas quanto tempo ele permanecerá e quão produtivo ele será, enquanto nela estiver, será determinado pelo seu relacionamento com o supervisor imediato. Tal descoberta sugere que o gerente é o elemento crítico na construção de locais de trabalho vigorosos. Os esforços para a criação da universidade corporativa tiveram início por muitas razões: consequência da reengenharia, mudanças culturais, nova cúpula administrativa, resultado de nova legislação, até mesmo a reestruturação de toda a indústria, como no caso dos serviços públicos, telecomunicações e saúde. Em quase todas as situações, a meta básica é a mesma: aumentar a produtividade da força de trabalho e criar uma vantagem competitiva no mercado. A universidade corporativa está surgindo no século XXI como o setor de maior crescimento no ensino superior. Para compreender a importância disso, é necessário compreender as forças que sustentam o aparecimento desse fenômeno, que são cinco: 5 Organizações flexíveis, Era do conhecimento, rápida obsolescência do conhecimento, Empregabilidade e Educação Global. Algumas universidades corporativas resultaram da reestruturação da função da educação em toda a organização. Os componentes fundamentais do projeto de uma universidade corporativa são: comunicação constante, avaliação, tecnologia, parceiros de aprendizagem, produtos/serviços, partes interessadas, organização, fontes de receita, visão/missão e controle. Muito embora o apoio forte e visível da cúpula seja certamente um fator vital para o sucesso geral da universidade corporativa, também é necessária uma coalizão entre os gerentes, para dar ao esforço um mínimo de massa nos estágios iniciais. Isto se refere à criação de um sistema de controle, em que não apenas o principal mentor esteja envolvido, mas outros 15 a 50 gerentes se reúnam para desenvolver uma visão compartilhada da universidade corporativa. O número de organizações com universidade corporativa vem crescendo e as empresas estão criando um sistema de aprendizagem contínua em que toda a organização aprende e trabalha com novos processos e novas soluções. O desafio, então, é criar um ambiente de aprendizagem no qual todo funcionário e todo elemento do sistema comercial da empresa compreenda a importância da aprendizagem contínua vinculada a metas empresariais. O ideal é que o tipo de estrutura de controle vincule as principais estratégias empresariais ao projeto e desenvolvimento de soluções de aprendizagem. Em essência, o sistema controlador oferece quatro papeis-chave:identificar e priorizar as necessidades de aprendizagem atuais e futuras; vincular o treinamento a essas principais estratégias empresariais; assegurar o projeto, desenvolvimento, apresentação e avaliação consistentes e oferecer orientação para o desenvolvimento de uma filosofia de aprendizagem. Há várias razões para uma empresa desejar criar uma universidade corporativa, tais como a criação de valores para os funcionários, a criação de uma boa imagem externa causando uma boa impressão aos clientes ou sócios e uma boa imagem interna. 6 3.3. Missão, objetivos e princípios A missão da universidade corporativa consiste em formar e desenvolver os talentos humanos na gestão dos negócios, promovendo a gestão do conhecimento organizacional por meio de um processo de aprendizagem ativa e contínua. Para que isto seja feito com eficácia e sucesso, tem-se mostrado fundamental a utilização de tecnologia de ponta acoplada a uma nova metodologia de trabalho, que permita a todos dentro da empresa não só utilizarem as informações disponíveis, mas também atuarem como fornecedores de novas informações, alimentando todo o sistema. Na verdade, atualmente, as universidades corporativas apresentam um novo modelo de aprendizagem; cada vez mais, esse modelo evolui de modo que o “aprender fazendo” seja uma tônica de suas práticas. Segundo Senge (2004), as organizações que aprendem permitem que seus colaboradores expandam continuamente suas capacidades de criar resultados, e, simultaneamente a isso, novos padrões de pensamento e aspiração coletiva ganham espaço para uma aprendizagem coletiva e compartilhada. Esse não é um modelo fácil de ser implementado. Aprender a pensar e criar juntos, a compartilhar, a entender que toda a empresa é um espaço de aprendizagem e solução de problemas e que o autodesenvolvimento e a aprendizagem coletiva convivem dentro do mesmo espaço. Esse é um desafio para as empresas que deverão cada vez mais abandonar os modelos de T&D e investir em universidades corporativas, que sejam renovadas e baseadas em novos padrões de aprendizagem, cada vez mais inovadores e que saibam lidar com a gestão do conhecimento. O conceito de universidade corporativa corresponde à implementação dos seguintes pressupostos: Desenvolver as competências críticas em vez de habilidade; Privilegiar o aprendizado organizacional, fortalecendo a cultura corporativa, e não apenas o conhecimento individual; Concentrar-se nas necessidades dos negócios, tornando o escopo estratégico, e não focado exclusivamente nas necessidades individuais; Público interno e externo (clientes, fornecedores e comunidade), e não somente funcionários; 7 Migrar do modelo ‘sala de aula’ para múltiplas formas de aprendizagem; e Criar sistemas efetivos de avaliação dos investimentos e resultados obtidos. Meister (1999; 247) constatou que as universidades corporativas com melhores práticas possuem uma declaração de missão semelhante, independente de seu porte, ramo de atividades ou país em que opera. Com refinamentos variáveis de linguagem, a missão da maioria das universidades corporativas é: ‘atuar como parceira para que os funcionários consigam atingir um desempenho excepcional e a organização realize suas metas empresariais e seja reconhecida como líder em seu mercado’. Quadro 1 – Os Sete Princípios da Educação Corporativa PRINCIPIOS PRÁTICAS COMPETITIVIDADE Obter o comprometimento e o envolvimento da alta cúpula com o sistema de educação. Alinhar as estratégias, diretrizes e práticas de gestão de pessoas às estratégias do negócio. Implantar um modelo de gestão de pessoas por competências. Conceber ações e programas educacionais alinhados às estratégias do negócio. PERPETUIDADE Ser veículo de disseminação da cultura empresarial. Responsabilizar líderes e gestores pelo processo de aprendizagem. CONECTIVIDADE Adotar e implementar a educação “inclusiva”, contemplando o público interno e o externo. Implantar modelo de gestão do conhecimento que estimule o compartilhamento de conhecimentos organizacionais e a troca de experiências. Integrar sistema de educação com modelo de gestão do conhecimento. Criar mecanismos de gestão que favoreçam a construção social do conhecimento. DISPONIBILIDADE Utilizar de forma intensiva tecnologia aplicada à educação. Implantar projetos virtuais de educação (aprendizagem mediada por tecnologia). Implantar múltiplas formas e processos de aprendizagem que favoreçam a “aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar. CIDADANIA Obter sinergia entre programas educacionais e projetos sociais. Comprometer-se com a cidadania empresarial, estimulando: * a formação de atores sociais dentro e fora da empresa * a construção social do conhecimento organizacional. PARCEIRA Parcerias internas: responsabilizar líderes e gestores pelo processo de aprendizagem de suas equipes, estimulando a participação nos programas educacionais e criando um ambiente de trabalho propício à aprendizagem. Parcerias externas: estabelecer parcerias estratégicas com instituições de ensino superior. SUSTENTABILIDADE Tornar-se um centro de agregação de resultados para o negócio. Implantar sistema métrico para avaliar os resultados obtidos, considerando-se os objetivos do negócio. Criar mecanismos que favoreçam a autossustentabilidade financeira do sistema. Fonte: Éboli (2004: 60) 9 Pode-se dizer que o objetivo principal é o de desenvolver as competências críticas em vez de habilidades. Existe uma crença nas organizações brasileiras de que as pessoas só dão importância aos fatores externos e não ao conteúdo do próprio trabalho realizado, que caracteriza por sua vez a motivação. Neste sentido, afirma Mundim, um programa de educação corporativa deve não somente atender aos fatores externos de satisfação em relação ao processo de aprendizagem dentro da empresa, como também encontrar e adotar recursos organizacionais e educacionais capazes de não sufocar as forças motivacionais inerentes às próprias pessoas, mas sim incentivá-las. Muito embora as universidades corporativas sejam diferentes em muitos aspectos superficiais, elas tendem a organizar-se em torno de princípios semelhantes, como: Prover oportunidades de aprendizagem que deem suporte para a empresa atingir seus objetivos críticos do negócio; Desenhar programas que incorporem os três C’s: cidadania, contexto e competências; Estimular gerentes e líderes a se envolver com a aprendizagem, tornando-se também responsáveis pelo processo; Utilizar a universidade corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em novos mercados; Entre outros. 3.4. A importância das Universidades Corporativas Em ambiente de negócios marcado pela constante necessidade de inovação, agilidade, flexibilidade, competitividade, diferenciação frente a concorrentes, em que o conhecimento necessário aos profissionais muda cada vez mais rápido, em que a prática de uma gestão competitiva é fundamental, faz-se necessário desenvolver ferramentas de geração, disseminação, aplicação e comprovação do conhecimento cada vez mais focadas no "negócio e estratégia" de cada organização. As áreas de treinamento enfrentam dificuldades para atender essa demanda, por configurarem suas ações de maneira reativa, voltadas ao público interno e ao 10 desenvolvimento do conhecimento. Frente a essa demanda foram surgindo, mais intensivamente nos últimos anos, as universidades corporativas. Um conceito ainda recente no Brasil, essas universidades instaladas (física ou virtualmente) nas organizações apresentam algumas características específicas para atender as necessidades da organização, que as diferenciam de áreas de treinamento e desenvolvimento (T&D): são pró-ativas, com suas ações completamente voltadas ao ambiente de negócio de cada organização; atuam no desenvolvimentode competências essenciais, são inovadoras nas formas de entrega do conhecimento; têm como premissa a disseminação do conhecimento "em qualquer momento, em qualquer lugar"; atuam no desenvolvimento e gerenciamento de ferramentas que propiciem de forma intensa a captação do conhecimento presente na organização (através de seus profissionais, clientes, fornecedores e comunidade) e sua adequada disseminação para fácil utilização sempre que necessário; têm público alvo amplo, não se restringindo ao público interno, mas entendendo que o conhecimento é desenvolvido e utilizado por toda a rede de profissionais que envolve cada organização; e, finalmente, procuram acompanhar a utilização prática do conhecimento, ou seja, a transformação do conhecimento em vantagem competitiva, gerando capital intelectual para as organizações. Além disso, as universidades corporativas, quando contarem com um público mais amplo e com ações mais bem dimensionadas, representam não um centro de custo para a organização, mas sim uma redução de custos nos programas de educação continuada, um entendimento de que devem ser autossustentáveis, e uma visão, já presente em algumas organizações, de que devem ser um centro de lucro. Essas universidades não visam a substituir ou disputar espaço com as universidades tradicionais. Pelo contrário, elas são complementares na medida em que a universidade tradicional fornece toda a formação conceitual e metodológica aos profissionais, enquanto a corporativa oportuniza formação focada no ambiente de negócios, desenvolvendo, pelo mapeamento de "trilhas de capacitação", o aprimoramento nas competências essenciais ou críticas de cada organização. São fortes as possibilidades e os casos de sucesso de alianças estabelecidas entre as universidades corporativas e as universidades tradicionais, visando à formação da rede de trabalho da organização, ou levando isso à comunidade, capacitando e aumentando a empregabilidade de profissionais. 11 Além disso, as universidades corporativas têm um papel muito forte no desenvolvimento e disseminação da cultura de cada organização, sendo focadas em resultados de habilidades e pouco inovadoras com relação às formas de disseminação e gerenciamento corporativos, presente em todas as áreas e alcançando todos os profissionais envolvidos em cada processo. Pode-se dizer que a visão mais ampliada da formação contínua é utópica para a realidade brasileira nos dias de hoje, pois até a década de 80, segundo Mundim, a educação continuada era uma exclusividade acadêmica, para um grupo privilegiado de pessoas que apresentava condições de se atualizar. Atualmente a educação continuada não é mais uma exclusividade acadêmica, mas uma imposição do mercado de trabalho, motivada principalmente pelas mudanças tecnológicas e econômicas. Por isso, ela deixa de ser somente uma atualização para ser incorporada também com o conceito de requalificação. Quadro 2 - Do T&D para a UC Deptº de Treinamento Universidade Corporativa Foco Reativo Pró-ativo Organização Fragmentada e descentralizada Coesa e Centralizada Alcance Tático Estratégico Acesso/responsabilidades Pouco/Nenhum Administração e funcionários Apresentação Instrutor Experiências em várias tecnologias Responsável Diretor de Treinamento Gerentes de Unidades de Negócios Audiência Público-alvo amplo/profundidade limitada Currículo personalizado para famílias de cargo Inscrições Inscrições em períodos determinados Aprendizagem no momento certo Resultado Aumento das qualificações profissionais Aumento no desempenho no trabalho Operação Opera como função administrativa Opera como unidade de negócios-lucro Imagem "Vá para o treinamento" Universidade como metáfora de aprendizado". Marketing Ditado pelo Departamento de Treinamento Venda sob consulta Fonte: Meister (1999: 23-24) 3.5. características gerais da Universidade Corporativa As Universidades Corporativas assumem diferentes características. São elas: De solução de desempenhos individuais para melhoria da aprendizagem e do desempenho organizacionais; Do treinamento operacional/tático para o estratégico; Foco no autodesenvolvimento; 13 Do ensino através do instrutor para o uso de novas metodologias: Internet, intranet, teleconferência, videoconferência, desktop, notebook; Uso de executivos/presidentes como instrutores; Mais virtual do que físico. Embora muitas UCs tenham um espaço físico (campus), o importante é que funciona como um processo de aprendizagem; Muitas são administradas como Unidades de Negócio: determinam o seu mercado, buscam a satisfação de seus clientes (funcionários, clientes, fornecedores e comunidade) e procuram ser autofinanciadas. 3.6. Fatores críticos da implementação De acordo com a sondagem feita por Éboli sobre as Melhores Práticas de 120 Universidades Corporativas, foram verificados seis fatores críticos para a criação e implementação de uma iniciativa desse tipo. O primeiro deles é o compromisso da direção da empresa com o projeto, não só do executivo-chefe, mas de todos os gerentes de escalão superior da companhia. O segundo é compreender o âmbito de atuação de sua organização, ou seja, o que sua universidade deverá fazer, que tipo de produtos e serviços a empresa vai oferecer. O terceiro é determinar qual será o público-alvo e qual a gama de produtos e serviços que será oferecido a ele. O fator seguinte é determinar suas parcerias de ensino seguido pela tecnologia (como utilizá-la). O próximo seria o desenvolvimento de ferramentas apropriadas de medição, para avaliar as economias de custo proporcionadas pela universidade corporativa e, por último, a criação de uma estratégia de marketing e comunicação para a universidade. Segundo Meister, os principais obstáculos ao lançamento de uma universidade corporativa são: Falta de comprometimento sustentado por parte da alta cúpula com o modelo da Universidade corporativa; Falta de consenso entre os gerentes de nível médio sobre a necessidade de uma universidade corporativa; 14 Incapacidade de desenvolver um elo entre a universidade corporativa e as metas empresariais da organização; Falta de visibilidade da ênfase da corporação na aprendizagem; Incapacidade de provar o valor da universidade corporativa. 4. APRENDIZADO ORGANIZACIONAL, EDUCAÇÃO CORPORATIVA E GESTÃO DO CONHECIMENTO Nas últimas décadas, as empresas têm investido no desenvolvimento de seus colaboradores para a geração de novos conhecimentos, objetivando o desenvolvimento pessoal e organizacional. Mitroff apud Franco (2001) demonstra sua preocupação acerca da necessidade de as organizações adquirirem capacidade de coletar, organizar e disseminar informações de modo a incorporarem inovações, pesquisas e desenvolvimento contínuo. Por isso, para Garvin apud Franco (2001) “a organização que aprende é a que dispõe de habilidades para criar, adquirir e transferir conhecimentos, e é capaz de modificar seu comportamento de modo a refletir os novos conhecimentos e ideias”. Como produzir conhecimento e gerar valor nas empresas no cenário atual? O homem passou a ter um papel primordial para as empresas, uma vez que o foco de competitividade está centrado no investimento em preparação da mão de obra. As empresas brasileiras estão gradativamente reconhecendo sua nova função em relação ao desenvolvimento de seus funcionários e da necessidade de sua capacitação estratégica. Bomfim (1995) acredita que há empresas ainda presas a paradigmas alinhados ao mecanicismo, que não apostam na mudança e não entendem que seu maior capital são seus colaboradores, tampouco acreditam que essa possa ser uma nova proposição para as empresas brasileiras. Porém, a era do conhecimento já é uma realidade nasociedade do século XXI, na qual as pessoas têm acesso livre a qualquer hora e a qualquer momento aos diversos dispositivos comunicacionais e informacionais; estamos na sociedade conectada. As gerações de jovens estudantes e trabalhadores têm acesso a uma diversidade de tecnologias que lhes facilita a conectividade e acesso à informação. 15 É preciso chamar atenção para o fato de que, até os anos 70, o principal objetivo da educação corporativa era manter os empregados atualizados para ficarem a par dos novos acontecimentos; já nos anos 80, os investimentos das corporações eram direcionados para a manutenção de um prédio ou um campus destinado à educação corporativa. Tais realidades retratam uma tendência americana que mais tarde viria a influenciar o Brasil no final dos anos 90 e no início de 2000. Empresas mudaram seus polos de treinamento (qualificações isoladas) para um modelo de investimento em uma cultura de aprendizagem contínua, segundo a qual os funcionários aprendem uns com os outros, compartilham novos conhecimentos e podem inovar e solucionar problemas práticos. Nessa nova visão em que a educação corporativa cresce cada vez mais, as aprendizagens formal e informal caminham paralelamente promovendo novas oportunidades de produção e gestão do conhecimento em uma economia que lida com a competitividade e mercados globais. 5. INTELIGÊNCIA INDIVIDUAL E INTELIGÊNCIA ORGANIZACIONAL Encontramos diferentes percepções de inteligência na organização, tanto a individual como a organizacional. E a universidade corporativa precisa saber lidar com essas questões, uma vez que pode auxiliar na gestão do conhecimento organizacional. Vamos, então, verificar com mais clareza o que podemos apresentar como inteligência individual e inteligência organizacional? 5.1. Inteligência Individual Definida como a capacidade de uma pessoa processar, interpretar, codificar, manipular e acessar informações de modo a adquirir, reter e aplicar conhecimento de forma rápida e com sucesso para responder aos desafios externos ou resolver problemas de um determinado domínio ou contexto (GLYNN apud CHOO, 2011, p. 39) 16 5.2. Inteligência Organizacional É a capacidade de uma organização para processar, interpretar, codificar, manipular e acessar informações de maneira proposital e direcionada a metas para que a organização possa aumentar seu potencial de adaptação no ambiente em que opera (CHOO, 2011, p. 39). Já para Glynn ela é definida como um resultado social que está relacionado à inteligência individual por três mecanismos: agregação, transferência transversal e distribuição (GLYNN apud CHOO, 2011, p. 39-40). Hoje sabemos que o papel da universidade corporativa é contribuir para o desenvolvimento da inteligência organizacional e auxiliar na gestão do conhecimento de maneira tal que seus empreendimentos sejam passíveis de geração de resultados, sejam eles tangíveis ou intangíveis. Em todo momento estamos lidando nas organizações com arcabouço de conhecimentos individuais e coletivos, conhecimentos pessoais e organizacionais. Mas como em um universo tão diverso é possível entender esses mecanismos e agir? 6. CONHECIMENTO EXPLÍCITO E CONHECIMENTO TÁCITO De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997, p. XIII), há dois tipos de conhecimento: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito. 6.1. Conhecimento Explícito “Pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações manuais e assim por diante. A maneira de transmitir esse conhecimento entre as pessoas pode ser de maneira formal.” 6.2. Conhecimento Tácito “É difícil ser articulado na linguagem formal, é o conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor.” 17 Se a empresa tem o desafio de lidar com as diferentes formas de conhecimento e produzir o conhecimento organizacional unindo o tácito e o explícito, o formal e o informal, então, a universidade corporativa na linha da aprendizagem organizacional precisa lidar com esse cenário. A escola tradicional, por exemplo, lida durante todo o tempo com o conhecimento formal, ou seja, o explícito, o conhecimento que é reconhecido pela academia, pode ser transmitido oficialmente e, portanto, certificado. Já as universidades corporativas lidam com o conhecimento tácito e explícito, com o conhecimento organizacional. Ainda que se busquem parceiros de aprendizagem, elas vivenciam a experiência do não reconhecimento oficial de suas ações educacionais, ainda que muitas vezes supram as carências da educação formal. Suas ações educacionais não são certificadas pelo sistema formal de ensino; necessitam, para algumas ações, de parceiros acadêmicos para a certificação de programas que dependem da chancela do sistema oficial. 7. PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA E GESTÃO DO CONHECIMENTO Vamos nos ater agora às práticas de educação corporativa e gestão do conhecimento, apresentado as diferenças e similaridades entre ambas. Mas queremos aproveitar, antes de seguirmos, para esclarecer como as organizações lidam com a expressão “universidade corporativa”. Meister (2000), em seu estudo sobre as universidades corporativas (EUA), descobriu que 54 % das empresas não adotavam o termo universidade corporativa para designar esse processo de aprendizagem e de desenvolvimento focado em resultados. Tais instituições adotaram denominações como instituto de aprendizagem (institute of learning) e, até mesmo, a expressão academia de aprendizagem (learning academy). Outras simplesmente utilizam o nome de sua própria instituição, como Unilever, Four Acres, Siemens Management Learning e Vivendi Universal Management (Renaud-Coulon, 2002, p. 223). Como foi possível observar, apesar de as práticas serem as mesmas nas empresas, a nomenclatura é uma questão em discussão entre as instituições no que se refere à expressão universidade corporativa e até mesmo sobre sua finalidade. 18 Também há aqueles que acreditam que uma universidade corporativa é a mesma coisa que uma unidade de gestão do conhecimento. Mas afinal quais são as aproximações e os distanciamentos entre ambas? Você sabe? 8. UNIVERSIDADE CORPORATIVA X UNIDADE DE GESTÃO DO CONHECIMENTO É fato que ambas tiveram avanços no fervor das mudanças no sistema produtivo, no momento em que a produção desenfreada e em massa começava a sofrer seus abalos em decorrência da globalização do mundo, da desaceleração da indústria e da explosão das tecnologias de informação e comunicação. Nesse ponto, as empresas começaram a perceber que o sistema produtivo estava em transformação e que as tecnologias de informação e comunicação no mundo globalizado desafiam as organizações para se manterem atualizadas e mais competitivas. Na verdade, descobriu-se a importância do homem como produtor de conhecimento e valor, ou seja, o capital intelectual das corporações. As organizações perceberam a importância de produzir e gerenciar o conhecimento, cuidar do seu capital e, ao mesmo tempo, desenvolver as competências básicas para organização. A gestão do conhecimento tem como missão estabelecer a relação entre o conhecimento individual e o conhecimento organizacional, criar sistemas e mecanismos para que o conhecimento tácito e explicito possam se comunicar, fundir e alternar, constituindo uma espiral do conhecimento para criar mais valor, competitividade, produtividade e inovação. O método adotado pela gestão do conhecimento cria ambientes físicos e, principalmente, tecnológicos que cuidam do armazenamento de informações e da gestão de comunidades de prática. A gestão do conhecimento também pode: Captar; produzir; codificar; registrar; armazenar; compartilhar; disseminar; aplicar;o conhecimento organizacional e retroalimentar todo o processo. 19 Para Fleury e Oliveira Junior (2002), o conhecimento é fruto das interações que ocorrem no ambiente de negócios e pode se desenvolver através da aprendizagem. Já para Davenport e Prusak (2001), o conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado que propicia uma estrutura para avaliação e assimilação de novas experiências e informações, e cujo nascedouro está na mente dos conhecedores. Esse conhecimento se encontra nas organizações e costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. 9. CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL X DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL INTELECTUAL Enquanto a gestão do conhecimento lida com o conhecimento organizacional a partir de uma visão sistêmica, a educação corporativa tem como foco o desenvolvimento do capital intelectual (trabalhador) e sua cadeia produtiva investindo no desenvolvimento de competências. As estratégias usadas dependem das trilhas de aprendizagem que irão requerer soluções variadas, desde cursos em diferentes níveis até palestras, seminários, vídeos, jogos e simulações, entre outros. A educação corporativa pode contar com especialistas internos e externos para gerar suas soluções de aprendizagem, seja para atividades presenciais, semipresenciais ou a distância. Enfim, a educação corporativa é uma educação informal que pode contar com as possibilidades de aproveitamento de parcerias entre universidades corporativas e instituições oficiais para a certificação de seus colaboradores. Olhando as distintas propostas dos dois modelos apresentados, podemos encontrar a convergência entre eles. Ambos precisam lidar com o conhecimento e os seus produtores, gerar resultados a partir de metas e considerar a aprendizagem como uma metodologia capaz de originar valor para a organização, além de disseminarem e compartilharem o conhecimento. 20 Todavia, a educação corporativa precisa metodologicamente mapear competências e gerar suas trilhas, escolas e soluções de aprendizagem, além de impactar positivamente a performance dos colaboradores visando ao negócio e à estratégia organizacional. A gestão do conhecimento, por sua vez, necessita produzir e gerenciar o conhecimento organizacional, não tendo a necessidade de validação externa de suas atividades; mas pode contar com a educação corporativa para gerar aprendizagem, produzir e disseminar o conhecimento organizacional. Se agora conseguimos esclarecer as aproximações e diferenças entre a gestão do conhecimento e a educação corporativa, já entendemos que ambas podem se complementar e manter suas individualidades. Universidades corporativas que promovem gestão do conhecimento e unidades de gestão do conhecimento que geram aprendizagem. Hoje os dois são essenciais e estratégicos para as empresas. Há exemplos de universidades corporativas de sucesso e cujos modelos já são consagrados tais como: Universidade Petrobras, Universidade do Hambúrguer (McDonald’s), Universidade Corporativa do Sebrae Nacional, Universidade Corporativa da Votorantim. Contudo, ainda há modelos internacionais da Ge, United States Airforce, Bank Montreal Institute for Learning, Disney Institute, Centro Internacional de Educación y Desarrollo – Petróleos de Venezuela, e tantas mais espalhadas pelo mundo. Em relação à gestão do conhecimento, há modelos muito interessantes para serem observados: Petrobras, Vale, Serpro, Marinha do Brasil, Serasa, Eletronorte, entre outros modelos consolidados. 10. CONCLUSÃO A aprendizagem organizacional ocorre mediante insights, conhecimento e modelos mentais compartilhados. Assim, as organizações podem aprender apenas na velocidade em que seu elo mais lento aprende. As organizações são como redes gigantescas de nós interconectados. As mudanças feitas para melhorar o desempenho de uma de suas partes podem afetar surpreendentemente as outras partes, frequentemente com consequências negativas. Os mais bem-sucedidos programas de educação corporativa contam com os líderes empresariais como corresponsáveis pela aprendizagem organizacional e algumas 21 vezes investidos no papel de treinadores e tutores de outros líderes. Mais ainda, os programas de sucesso assim o são por possuírem objetivos intimamente atrelados com a estratégia da empresa, de tal forma que passam a fazer parte integrante da própria estratégia. Apresentam resultados que podem ser mensurados e correlacionados com as competências essenciais diferenciadoras do sucesso ou do fracasso do negócio. As universidades corporativas constituem-se na evidência mais visível de que o modelo de T&D – que foi instrumental para o desenvolvimento de recursos humanos na chamada era industrial – não atende mais ao enorme desafio de desenvolver e reter os talentos na quantidade e qualidade de que as empresas necessitam para competir eficazmente na era do conhecimento. A proliferação dessas universidades corporativas tem sido a resposta estratégica das empresas bem-sucedidas que estão competindo pelo futuro por meio do desenvolvimento contínuo de seus talentos internos e externos. As empresas que estão aplicando os princípios inerentes à universidade corporativa estão criando um sistema de aprendizagem contínua em que toda a organização aprende e trabalha com novos processos e novas soluções. As que aplicam os princípios evidentes nas universidades corporativas estão olhando além dos programas de educação de funcionários, à procura de uma população-alvo – os funcionários internos – e criando sistemas de aprendizagem que reúnam clientes, funcionários e a cadeia de fornecimento em busca do aperfeiçoamento constante. O desafio é criar um ambiente de aprendizagem no qual todo funcionário e todo elemento do sistema comercial da empresa compreenda a importância da aprendizagem contínua vinculada a metas empresariais. A maioria das universidades corporativas aspira aos objetivos do Institute for Learning: aumentar a aptidão do funcionário para a aprendizagem, tentando incorporar em cada um deles o comprometimento e o acesso a uma aprendizagem permanente. Em essência, a universidade corporativa personifica a filosofia de aprendizagem da organização, um modo de pensar que tem como meta oferecer a todos os níveis de funcionários o conhecimento, as qualificações e as competências necessários para atingir os objetivos estratégicos da organização. Para o treinamento tradicional, o processo de aprendizagem é algo que tem começo e fim: depois de certa quantidade de treinamento, o serviço está completo, onde o aluno forma-se e para de aprender. Mas a universidade corporativa o encoraja a lutar 22 continuamente para adquirir novas qualificações e competências durante toda a vida profissional e a responsabilizar-se pelo aprendizado dessas novas qualificações.
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