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Os termos ontogênese e filogênese dizem respeito a observação da história do indivíduo, desde o seu processo de formação até ao estado maduro da vida. Filogenia: é uma ciência que teve seu início em 1966, com o objetivo de estudar a história evolutiva das espécies e seus conceitos de ancestralidade e descendência evolutiva. A base desse estudo encontra-se nas teorias de Charles Darwin, as quais afirmavam que o ambiente seleciona aquele que estiver mais adaptado e tiver melhor condição de sobrevivência (Teoria da Seleção Natural). Na representação filogenética, observa-se que todas as espécies têm características em comum, porém, além dessas, outras vão surgindo e não vieram do ancestral. Ou seja, as espécies descendentes podem apresentar três tipos de características: as diferentes, as iguais e as exclusivas. Em resumo: a filogenia serve para a compreensão do processo evolutivo de cada espécie, para o entendimento do desenvolvimento humano, as mudanças que ocorrem ao longo do tempo e o possível surgimento de outras gerações. Ontogenia: diz respeito ao processo de desenvolvimento de um organismo, desde o momento da fertilização até o momento em que o organismo/ser vivo está em seu estado maduro e completamente desenvolvido. A diferença entre a ontogenia e a filogenia, é que elas estudam o processo do indivíduo em seu próprio tempo e a evolução da espécie, respectivamente. A ontogenia relaciona-se a inúmeras ciências, como: a zoologia, para tratar do processo de desenvolvimento animal, de flores e vegetais; a embriologia, para tratar do processo de desenvolvimento celular; a antropologia, para tratar sobre o processo pelo qual incorporamos nossa própria história ao longo de nosso desenvolvimento; assim como a psicologia do desenvolvimento e a neurociência cognitiva e do desenvolvimento, que estudam as mudanças que acontecem e são influenciadas por diversos fatores externos e seus processos biológicos envolvidos (VERGARA-SILVA, 2016). Ao longo da história, muitos estudiosos e cientistas estiveram envolvidos em seus estudos e formaram conceitos e teorias que deram origem à ontogenia. No início do século XX, Johann Meckel e Antoine Serres deram origem à Lei de Meckel-Serres, que afirma haver estágios sucessivos durante o desenvolvimento embrionário, e assim identificaram deformidades em embriões. Outro marco identificado ao longo da história deu destaque ao nome de Karl Baer, que trouxe sua proposta das quatro leis para explicar o processo embrionário; ele afirmou que esse processo acontecia de forma ramificada, e cada organismo seguia seu processo ontogênico próprio. Dando continuidade a esse processo histórico, em 1866, a Lei da Bioenergética foi proposta por Ernst Haeckel, pela qual os estágios do desenvolvimento embrionário de um animal são iguais aos estágios ou formas adultas de outros animais. Sendo assim, o desenvolvimento de um animal tem características do seu ancestral, fazendo com que entendamos esta frase muito mencionada na ontogenia: “a ontogenia recapitula a filogenia”. Em seguida, em 1922, Walter Garstang trouxe sua obra que fala sobre filogenias ancestrais, e, em 1977, Stephen Gould publicou seu livro Ontogenia e filogenia, que reafirmava a teoria da recapitulação. A Psicologia do Desenvolvimento é a área dentro da ciência psicológica que estuda a criança e o adolescente. Esta propõe perguntas sobre a interferência do tempo sobre os diferentes processos vividos, sejam eles ligados a aquisição de conhecimento, socialização, experiências e formas como a pessoa adquire competências durante determinado tempo (PRADO; BUIATTI, 2016). A Psicologia do Desenvolvimento estuda o desenvolvimento cognitivo, que está ligado a razão e inteligência, desenvolvimento afetivo, social e psicomotor. Nesse sentido, existe um processo que pode ser dividido em etapas, e, ao passar por todas elas, determinada capacidade se torna propriedade da pessoa. Esse é o objeto de estudo da psicologia do desenvolvimento (BARROS, 2014). Essa é uma área que se preocupa com todas as mudanças que acontecem ao longo da vida e estuda os fatores influenciadores desse processo e como se dá essa influência. Sendo assim, dentro dessa área da psicologia, afirma-se a existência de etapas que não podem ser puladas, pois uma antecede e influencia a outra. Por isso, não existem seres humanos que tenham conseguido pular etapas e ter sucesso no processo de desenvolvimento. A psicologia do desenvolvimento humano estuda o processo de desenvolvimento humano em seus diferentes âmbitos, como aspectos intelectuais, sociais, físicos e emocionais. Esse estudo observa o desenvolvimento desde o nascimento até a vida adulta e busca entender a cognição, seu A psicologia comportamental afirma que a personalidade é a soma da interação entre a filogenia, a ontogenia e o contexto social, e elas atuam como base para a formação dos comportamentos de nossa espécie durante o período de dependência e imaturidade que acontece durante a infância e a adolescência. desenvolvimento e os comportamentos identificados durante as diferentes fases da vida (MIRANDA, 2020). Essa ciência deu origem a diversas teorias usadas nas ciências que estudam o desenvolvimento humano, dentre elas: • Gestalt: para esta abordagem, o indivíduo precisa utilizar uma série de estruturas físicas que lhe dão qualidade com o objetivo de aprender. Ou seja, o aprendizado e o desenvolvimento acontecem a partir de estruturas biológicas que capacitam atividades cerebrais, as quais aprendemos a usar quando crescemos. • Psicanálise: afirma a existência de impulsos inconscientes com efeitos no comportamento do indivíduo em desenvolvimento. Esta abordagem acredita que a criança necessita satisfazer suas necessidades, que surgem de acordo com seu estágio de desenvolvimento. • Behaviorismo: para os behavioristas, as crianças já nascem com várias respostas inatas, e logo em seguida as associam respostas a estímulos de experiência vividas, dando origem a múltiplos comportamentos complexos. • Psicologia cognitiva: essa linha de pensamento da psicologia surgiu em reação à evolução behaviorista e estuda os processos internos cognitivos que acontecem como resultado de diferentes estímulos, resultando em diferentes comportamentos. Nesse sentido, dentro dessa área são estudados processos mentais que surgem de conexões cerebrais, as quais fazem do indivíduo um produtor de informações. Por fim, a Psicologia do Desenvolvimento Humano é essencial, pois estuda as características comuns entre as fases da vida, existindo formas de entender e se comportar em cada uma dessas fases. Entretanto, estas podem ser influenciadas por diversos fatores, dentre eles: hereditariedade, crescimento orgânico, maturação neurofisiológica e o meio em que o indivíduo está inserido. O desenvolvimento humano acontece de forma que a base é a formação corporal, cognitiva, biológica e fisiológica. No entanto, existem muitos fatores que podem modificar, interromper ou acelerar esse processo sequencial, fazendo com que o ser humano que está sendo formado mude de comportamentos e, por isso, receba resultados diferentes (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Hereditariedade: diz respeito as características genéticas e a carga de DNA que definem um indivíduo. Alguns aspectos deste podem ser resultado da carga genética; contudo, outros fatores podem colocá- los em evidência ou fazer com que desapareçam. Crescimento orgânico: refere-se a todas as características físicas ligadas ao crescimento humano e que possibilitam a interação deste com o mundo. Por exemplo, quando falamos de crescimento ósseo, é ele que nos permite estabilização esquelética para gerar comportamentos físicos que permitem nos relacionarmos com o ambiente. Maturação neurofisiológica: diz respeito ao desenvolvimento de funções que o indivíduo tem, e a partir daí ele gera os comportamentose o desenvolvimento de habilidades e capacidades. Por exemplo: para que uma criança seja alfabetizada, ela precisa desenvolver alguns aspectos da maturação neurofisiológica, pois, caso não estejam desenvolvidos, o processo de alfabetização não acontecerá, por mais que o ensino esteja adequado para desenvolver essa habilidade. Meio ambiente: o indivíduo que está no processo de desenvolvimento é influenciado por diversos fatores que modificam seus próprios comportamentos. Nesse sentido, o ambiente pode estimular o indivíduo para que surjam comportamentos que aceleram o desenvolvimento humano. Da mesma forma, a falta de estímulo ou um estímulo negativo pode retardar esse processo. O desenvolvimento humano é um processo complexo, e as influências que geram modificação nesse desenvolvimento também não acontecem isoladamente. Por isso, quando acontecem alterações no aspecto motor, estão acontecendo alterações nos âmbitos da inteligência, emocional e social. E tudo isso dá origem a novos comportamentos que criam a identidade do ser humano (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Há quatro principais aspectos do desenvolvimento humano, diretamente relacionados à sua formação e ao processo de desenvolvimento, segundo Papalia e Feldman (2013), que são: • Aspecto físico-motor: crescimento orgânico, maturação neurofisiológica e desenvolvimento de capacidades e habilidades com o corpo, como locomover-se e manipular objetos. • Aspecto intelectual: capacidade de pensamento e raciocínio, para que inteligência seja administrada e aprendizado gere evolução em seus níveis. • Aspecto afetivo-emocional: sentimentos e comportamentos advindos deles, que surgem e são confirmados a partir das experiências. • Aspecto social: relacionamento com outras pessoas, reações e comportamento diante de situações e experiências com os outros; aprendizados adquiridos que nos capacitam a lidar com os outros e com as diferenças. Se pararmos para pensar em uma criança que está aprendendo a escrever, observamos que nesta situação está envolvido o aspecto físico-motor, pois, para que uma criança aprenda a escrever, que é uma habilidade motora fina, primeiro ela aprende habilidades motoras grossas, como locomover-se e manipular grandes objetos com movimentos pouco precisos. Mas, ao analisarmos a situação por completo, uma criança está também passando pelo desenvolvimento neuro-cognitivo de seu cérebro, o que gera diferentes evoluções de aprendizado, e assim também estamos falando de aspecto intelectual. Além disso, essa mesma criança pode ter vivenciado experiências anteriores que lhe geraram sentimentos positivos ou negativos ao tentar escrever. Nesse sentido, estamos falando de aspectos intelectual e afetivo-emocional, e esses sentimentos estão ligados aos incentivos vindos das pessoas que estão no ambiente dessa criança, ou seja, que estão se relacionando com ela em seu aspecto social. Os pensadores e estudiosos do desenvolvimento humano direcionaram-se para linhas de pensamento distintas, gerando o que hoje são chamadas de teorias psicanalíticas e teoria cognitiva. Teorias psicanalíticas: inicialmente desenvolvida por Sigmund Freud, busca entender a origem dos transtornos mentais, o processo de desenvolvimento humano, a motivação humana e a construção da personalidade durante esse transcurso. Nesse sentido, consiste na interpretação de conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias, em casos de neurose e psicose. Atualmente, a psicanálise avançou do que foi criado por Freud e é amplamente utilizada em outros cenários e temas. Assim, uma das mais recentes correntes criadas a partir da psicanálise é a neuro- psicanálise, em que Eric Kandel afirma que a neurociência pode fornecer aos profissionais fundamentos e explicações mais sólidas sobre a psicanálise (MEZAN, 2020). Teoria de Freud: para Freud, a mente inconsciente exerce influência sobre o comportamento. Ele acreditava que a mente humana é influenciada por três elementos, sendo eles: Id, ego e superego. Freud acreditava que, tornando-se conscientes dos pensamentos e das motivações inconscientes, as pessoas poderiam ser curadas. Nesse sentido, a teoria psicanalítica tinha como objetivo liberar experiências e emoções reprimidas, ou seja, conscientizar o inconsciente. • Id: é o primeiro elemento da nossa mente e contém todos os elementos inconscientes, básicos e primitivos. • Ego: sendo o segundo aspecto da personalidade, é o elemento que lida com exigências da realidade e ajuda a controlar impulsos do Id, fazendo-nos ter comportamentos realistas e aceitáveis, ajudando a controlar impulsos básicos, ideais e a realidade. • Superego: é o elemento final de nossa personalidade e contém nossos ideais, nossos valores e nossas crenças, muitas vezes aprendidos na infância, e que servem de força orientadora, fazendo com que nosso comportamento seja de acordo com a moral. A mente inconsciente inclui todos os pensamentos que estão fora da nossa percepção consciente, incluindo memórias da infância, desejos secretos e impulsos ocultos. Por outro lado, a mente consciente inclui tudo que está dentro de nossa consciência, as informações que estamos cientes ou que podemos facilmente levar à consciência (FREUD, 2017). Freud afirma que existem diferentes fases envolvidas no processo de desenvolvimento: • Fase oral: acontece entre 0 e 1 ano, iniciando com o nascimento e apresentando modos de expressão concentrados na boca, nos lábios, na língua e em outros órgãos relacionados com a cavidade oral. Nessa fase, a criança inicia com o elemento Id, ou seja, há a primazia de elementos inconscientes, básicos e primitivos. Nesse sentido, a região do corpo que mais gera prazer para a criança é a boca, e não é por acaso que nesse período a criança aprende o movimento da sucção e leva muitos objetos à boca para conhecê-los. Nessa fase, as percepções visuais e auditivas são fundamentais, e os movimentos realizados são chamados movimentos reflexos. • Fase anal: essa fase ocorre entre 1 e 3 anos. Tem esse nome pois existe uma relação de aprendizado do controle dos esfíncteres, pela evolução do processo de maturação. O desenvolvimento psicomotor também contribui para o aprendizado dos atos de reter e expulsar fezes. Então, por isso, a maior satisfação da criança é na região anal, e nessa fase a criança começa a aprender a praticar hábitos de higiene e se comportar com mais autonomia. Nesse momento também surgem o ego e os comportamentos egocêntricos. • Fase fálica: ocorre entre 3 e 5 anos, iniciando-se quando a criança começa a dar atenção a sua região genital e muitas vezes a manipula. Como primeira percepção, a criança imagina que todas as crianças possuem pênis e que as meninas, por não apresentarem o pênis, foram castradas. Isso se chama complexo de castração, e esse processo de observar-se e observar o órgão genital chama-se teoria sexual infantil. Outro comportamento que surge nessa fase é o que os estudiosos chamaram de complexo de Édipo, em que o menino sente mais atração pela mãe e tem o pai como rival. • Fase latente: acontece dos 5 a 11/12 anos. Nesse momento o superego é formado, fazendo com que a criança apresente amnésia infantil, em que esquece alguns acontecimentos e certas sensações. Nessa fase, a criança também desenvolve competências que a fazem evoluir em seus níveis escolares, na convivência social e no desenvolvimento cultural. A criança não apresenta o impulso sexual da fase anterior, aumentando o foco em outros âmbitos do desenvolvimento. • Fase genital: ocorre a partir de 11/12 anos, sendo a última fase. Esta acontece no início da adolescência. Nesse momento, acontece a reativação da sexualidade, pelos acontecimentos ligados à puberdade e a um aumento de relacionamentos com pessoas externas ao ambiente familiar. Essa fase é caracterizada por um período de mudança da identidade infantil, que está muitoligada aos pais, para ir em direção à identidade adulta, sendo necessária grande adaptação às mudanças de ambiente, comportamento, relacionamento e modo de ver do mundo externo. Teoria de Erickson: o estudioso Erickson criou a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, que propôs oito fases do desenvolvimento do ser humano, do nascimento até a morte. Em cada fase, o indivíduo atravessa uma crise psicossocial, e cada uma contribui para a construção da personalidade total do indivíduo, que é chamado de princípio epigenético. Para ele, a formação da identidade acontece nas primeiras quatro fases do processo de desenvolvimento. As oito fases incluídas por Erickson em sua teoria são: • Confiança x desconfiança: ocorre no primeiro ano de vida (até 1 ano), momento em que a criança é muito dependente de outras pessoas e precisa de cuidados para alimentar-se, ter higiene, locomoção, aprendizado de palavras e alguns significados. • Autonomia vergonha ou dúvida: acontece dos 2 aos 3 anos e é nesse período que a criança adquire controle das necessidades fisiológicas, comportamentos higiênicos, autonomia e certo grau de liberdade. Nessas fases, a criança pode desenvolver a vergonha, se passar por situações de ridicularização. • Iniciativa x culpa: ocorre dos 4 aos 5 anos. É nessa fase que a criança passa a perceber diferenças sexuais entre homens e mulheres, além de curiosidades intelectuais e culturais, que, caso sejam reprimidas ou castigadas, podem dar origem a um sentimento de culpa e uma falta de proatividade no futuro. • Construtividade x inferioridade: acontece dos 6 aos 11 anos. Esse período é comumente utilizado para a alfabetização, proporcionando convívio com outras crianças, fazendo-a melhorar em termos de socialização, trabalho em grupo e cooperatividade. • Identidade x confusão de papéis: ocorre os 12 aos 18 anos. É uma fase chamada Identidade Vênus, que pode identificar polos positivos ou negativos. • Intimidade x isolamento: é uma fase jovem-adulta que é voltada para atividades profissionais e construção de relações mais duradouras, com grau elevado de intimidade e apego afetivo. Por outro lado, em muitas situações, quando acontecem decepções afetivas nessa fase da vida, as pessoas tendem a se colocar em condições de isolamento. • Produtividade x estagnação: ocorre na meia idade e é uma fase da vida que muitas pessoas tendem a mostrar comportamento de dedicação à sociedade e grande interesse sobre o conforto físico e material. • Integridade x desesperança: acontece na velhice, sendo um momento da vida em que se intensifica o processo de envelhecimento, as pessoas tendem a mostrar comportamentos de gratidão pelo que foi vivido, em muitos casos, sem apresentar arrependimentos. Nos casos em que o arrependimento predomina, as pessoas se comportam com tristeza, desesperança e amargura. Teoria Behaviorista: essa teoria se baseia em comportamentos apresentados que não surgem em consequência de características biológicas. Por isso, acreditou-se que a causa do comportamento não poderia estar vinculada à mente, mas à existência de fatores extrínsecos, ou seja, fatores e estímulos ambientais que modificam o comportamento da criança. De acordo com esse ponto de vista, as mudanças geradas pelo ambiente foram consideradas comportamento. Teoria cognitiva: criada por Jean Piaget, o qual foi responsável por modificar a maneira de entender a educação e o desenvolvimento de crianças, ao explicar que as crianças não são miniadultos, ao contrário, possuem características únicas. Piaget observava a relação das crianças com tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade e, a partir disso, criou o que ele mesmo chamou de epistemologia genética, teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Ele mesmo explicou essa teoria como tendo quatro estágios que duravam desde o nascimento até o início da adolescência, quando o indivíduo conclui o desenvolvimento de sua capacidade de raciocínio plena. Em sua concepção, a criança aprende por descobertas vivenciadas por ela mesma, e, por isso, ele acreditava que educar é provocar a atividade. Nesse sentido, esse estudioso trouxe à tona a existência de dois mecanismos de inserção de informações durante o processo de aprendizagem infantil, uma vez que crianças não aprendem da mesma forma que adultos. Esses mecanismos são: assimilação (processo de incorporar objetos externos por meio de esquemas mentais formados anteriormente, ou seja, utilizando experiências e conhecimento prévio para aprender) e acomodação (esse processo ocorre de maneira que já é possível modificar os sistemas de assimilação a partir de informações externas). • Exemplo: uma criança conhece um cachorro e assimila as características desse animal; ao conhecer um cavalo, a partir do processo de assimilação, vai acreditar que o cavalo late igual ao cachorro. Isso porque o esquema de aprendizagem anterior está ligado às características do cachorro. Porém, ao aprender que o cavalo não late, a criança modifica seu esquema mental geral pré-existente, para entender a diferença de características, então ela passa pelo processo de acomodação. Outro conceito interessante trazido por Piaget é o fato de a criança apresentar um egocentrismo vindo como conceito da epistemologia genética, e toda a magia que a envolve. A partir do momento em que o cérebro inicia seu processo maturacional e vai ganhando consciência lógica, a criança vai perdendo essa característica egocêntrica, muito comum em crianças em torno de 2 a 3 anos de idade, que não querem dividir seus brinquedos, seus espaços e a atenção de seus pais com outras atividades ou pessoas (ABREU, 2010). Nesse sentido, essa mudança de raciocínio mágico para raciocínio lógico é consequência do processo de mudanças que acontecem durante o desenvolvimento da criança. Segundo o autor, a criança passa por quatro estágios de desenvolvimento, sendo eles: • Sensório-motor: tem como características iniciar a partir do nascimento e dar prioridade aos movimentos reflexos no repertório motor da criança. Esse período é anterior ao desenvolvimento da linguagem, no qual também começa a acontecer a percepção de si mesmo e da existência de objetos em sua volta. • Pré-operatório: é o momento do surgimento e do domínio da linguagem e representação do mundo pela utilização de símbolos. Nesse momento, a criança ainda apresenta comportamentos egocêntricos e não sabe se colocar no lugar do outro, sendo assim não consegue entender a situação do ponto de vista de outras pessoas. • Operações concretas: caracteriza-se pelo aparecimento de uma noção de reversibilidade das ações que realiza e, também, pelo surgimento da capacidade de diferenciar objetos por suas características semelhantes e diferentes. Uma capacidade que a criança começa a apresentar nesse momento é uma boa noção de tempo e espaço. • Operações formais: seu principal marco é a transição da infância para a adolescência, que serve de preparação para a fase adulta. Nesse momento, o adolescente tem domínio dos pensamentos lógicos e dedutíveis, possibilitando a experimentação mental e a relação com conceitos abstratos e hipóteses. Toda a teoria criada por Jean Piaget pode nos levar à conclusão de que a criança não aprende simplesmente pela transmissão de conteúdos, mas a partir de vivências e experiências com o mundo. Por isso, são tão importantes as brincadeiras e os jogos, que são formas de colocar a criança em diversas situações de aprendizado a partir da vivência de determinadas situações. Existem diversos fatores que influenciam o desenvolvimento humano e diversos aspectos que sofrem influência dele durante seu transcurso. Um desses aspectos é o físico-motor, que está ligado ao crescimento do corpo e à capacidade de utilizá-lo, ao se locomover e/ou manipular objetos. Nesse sentido, o processo de desenvolvimentosó acontece de forma adequada e eficiente em seu aspecto físicomotor se a criança realizar movimento. Essa relação com o movimento se inicia na gestação, quando a criança realiza movimentos dentro da barriga da mãe e o faz para se preparar para os movimentos que irá realizar fora de lá. Ao nascer, a criança começa a sua vivência motora no ambiente externo e durante algum tempo é totalmente dependente de outras pessoas para se mover. Porém, à medida que ela vai crescendo e maturando, ela vai desenvolvendo suas capacidades para aprender a utilizar seu corpo sozinha, então ela treina e repete todos os movimentos que aprende. Ao longo do processo de crescimento, a criança então vai aprendendo mais e mais movimentos, e esse aprendizado sofre grandes influências do ambiente, das pessoas com as quais a criança se relaciona, da forma como ela aprende a se enxergar e das suas características genéticas. Continuando esse processo evolutivo, a criança aprende então seus movimentos básicos, que são os chamados movimentos fundamentais, para depois aperfeiçoá-los, e aprender a realizar movimentos mais complexos, que devem ser praticados durante toda a vida, para que o corpo desenvolvido mantenha suas capacidades locomotoras e manipulativas. Por fim, o movimento é imprescindível para que o ser humano se desenvolva com alta qualidade, e o corpo serve de ferramenta para que o movimento aconteça, permitindo ao indivíduo uma boa qualidade de vida como resultado de uma boa utilização do corpo em diferentes situações que exigem movimento humano de qualidade. Entre as teorias que existiram ao longo da história e que abordam o desenvolvimento humano, todas têm uma característica em comum, que é a busca pelo entendimento de como se forma o ser humano e quais fatores podem ou não influenciar esse processo de evolução e amadurecimento. A Teoria Sociocultural também surgiu com este objetivo de entender o ser humano desde sua concepção até a morte. No entanto, Lev Semyonovich Vygotsky, ao criar essa teoria, teve como base a influência da sociedade sobre o desenvolvimento humano individual e enfatiza a interação e o relacionamento entre as pessoas e a cultura na qual estão inseridas (CAMPIRA; ARAÚJO, 2012). Teoria de Lev Semyonovich Vygotsky: Vygotsky foi um psicólogo russo considerado um pioneiro na área do desenvolvimento intelectual de crianças a partir da interação social e as condições de vida apresentadas. Ele acreditava que o desenvolvimento da criança acontecia de forma contínua por meio da aquisição de controle sobre algumas funções físicas e cognitivas que antes eram tidas como passivas. Segundo o teórico, a capacidade de transformar estruturas complexas em algo que pode ser visto de forma mais simples é um grande instrumento da inteligência humana e faz com que, por meio de contatos com novos conceitos, a criança possa resgatar essa simplicidade e não necessitar de uma reestruturação mental completa para poder incorporá-los. Nesse sentido, a utilização do brinquedo possibilita à criança perpassar um mundo imaginário onde é possível realizar os seus desejos. Ele afirmava que as atividades cerebrais produzem as funções psicológicas do ser humano. Assim, ele acreditava em dois conceitos: 1) materialismo dialético: simultaneidade entre corpo e alma, de maneira que um fenômeno possui uma história que se modifica e explica mudanças nos processos psicológicos; 2) materialismo histórico: mudanças na sociedade produzem mudanças no ser humano, afetando diretamente a evolução dos seus processos psicológicos. Nesse sentido, Vygotsky divergiu de outras teorias, como a behaviorista e a de Jean Piaget, pois, segundo ele, a trajetória da formação do pensamento acontece no sentido sociedade-indivíduo e não no sentido indivíduo- sociedade, como essas outras teorias acreditavam. Por isso, ainda segundo Vygotsky, o pensamento não é formado com autonomia e independência, mas sob condições determinadas, e é influenciado pela cultura que se apresenta ao redor do ser humano em desenvolvimento. Outro ponto muito marcante da Teoria Sociocultural é a afirmação do papel fundamental de atividades infantis na evolução da criança, pois, segundo Vygotsky, essa evolução é desencadeada pelas ações que a criança faz e pela interação com objetos que modelam o pensamento. Dessa forma, a interação social e o convívio com determinadas formas de agir vão fazendo com que a criança construa seus signos e símbolos, como por exemplo a linguagem (SOUZA, 2011). Nesse sentido, Vygotsky desenvolveu o que ele chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A ZDP é a distância existente entre o nível de desenvolvimento real (onde existem soluções independentes) e o nível de desenvolvimento potencial (solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outras pessoas mais capazes). Vygotsky afirma, com essa teoria, que determinadas atividades podem ser realizadas sem ajuda de outras pessoas, pelo fato de que já foram internalizadas pelo aprendiz. As teorias humanistas tomam por base as particularidades e complexidades de cada ser humano, acreditando que a aprendizagem é um processo individual. Carl Rogers e Abraham Maslow: segundo Rogers, pessoas psicologicamente saudáveis possuem um autoconceito verdadeiro e pessoas psicologicamente não saudáveis apresentam uma desarmonia entre o autoconceito real e o autoconceito ideal de si. Já Maslow acreditava na capacidade de uma pessoa se tornar autorrealizadora e chegar ao nível mais alto de sua existência. Seguindo esse raciocínio, Maslow criou uma escala de necessidades que devem ser atendidas, e, quando isso acontece, surgem outras necessidades, fazendo com que o indivíduo caminhe em busca da autorrealização. A sequência segue: necessidades fisiológicas > necessidade de segurança > amor e pertencimento > estima > autorrealização. O fato é que gerar uma criança é um processo de muitas mudanças e adaptações para o ser que está sendo gerado, para a mãe que o está gerando e para todos que estão por perto. Quanto à gravidez, também chamada de gestação, não podemos esquecer dois momentos posteriores, que também são muito importantes para uma mulher que tem um ou mais filhos. Estamos falando do parto e do pós- parto, também chamado de puerpério. Aspectos fisiológicos da gravidez, do parto e do puerpério: o termo gestação/gravidez tem como significado a ação de gerar, sendo o estado restante da fecundação de um óvulo pelo espermatozoide e que envolve subsequente desenvolvimento uterino do feto a ser gerado, até que, em um momento adequado, o feto seja expulso do corpo da mãe e aconteça o nascimento. Ao passar por esse momento, a mulher enfrenta diversos acontecimentos e muitas mudanças em seu corpo, suas emoções, seus pensamentos, sua rotina e sua vida de forma geral. Porém, todas as pessoas que estão em torno da mãe também passam por alguma modificação e sofrem influência da gestação. Entre essas pessoas estão a própria criança que está sendo gerada, o pai dela e todos os outros membros da família que acompanham essa jornada. Todo esse processo é fisiológico e se inicia, de fato, como o termo sinaliza, com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, e os primeiros sinais da gestação que surgem são: inibição do ciclo menstrual, enjoos e vômitos, seguidos de aumento dos seios, da fome, do sono, da frequência urinária e da sensação de cansaço. Já nas primeiras semanas da gestação a mulher começa a sentir esses sintomas, e alguns permanecem por toda a gestação. O período denominado como primeiro trimestre da gestação é o momento da sua descoberta. Geralmente assemelha-se com o período de tensão pré-menstrual, que acontece normalmente dias antes do ciclo menstrual de rotina da mulher. Nesse período podem surgir enjoos e náuseas, que são muito comuns, e aparecem o inchaço das mamas, a sensação de sonolência, e em muitoscasos o desejo ou a repulsa por alguns alimentos e/ou aromas (PAPALIA; FELDMAN, 2013). O segundo trimestre é caracterizado como o período de lua de mel da gestante, pois nessa etapa os enjoos e as náuseas muitas vezes diminuem ou acabam, e a barriga ainda não está tão grande a ponto de causar desconfortos e inchaços nos membros inferiores. Então, normalmente é uma fase de mais tranquilidade e prazer para a mãe aproveitar o desenvolvimento do bebê que está por vir. Nessa fase, muitas vezes a vontade de urinar diminui, e podem acontecer episódios de prisão de ventre. O terceiro e último trimestre é o mais próximo do momento do nascimento e o de maior crescimento da barriga da mãe, o que causa muitas dores na coluna. Além disso, pode haver bastante desconforto no quadril, pois o corpo da gestante está se preparando para o parto. Outros sinais que podem surgir nesse momento são falta de ar e dificuldades para respirar como consequência do tamanho da criança e de seus movimentos dentro da barriga, que já está se tornando um espaço pequeno para ela. Alterações nos sistemas orgânicos do corpo da gestante: • Sistema cardiovascular: aumento da volemia (modificação na quantidade de sangue no corpo com o objetivo de atender a demanda de sangue do útero, podendo causar anemia); aumento do débito cardíaco; diminuição da resistência vascular periférica (devido a uma vasodilatação em consequência da maior produção das prostaciclinas); e diminuição da reatividade vascular. • Sistema endócrino: para que a criança se desenvolva e a mãe se adapte a esse processo, são necessárias atuações hormonais. Nesse sentido, a gestação gera modificações nos comportamentos da maioria das glândulas endócrinas do corpo da mãe por dois motivos: a placenta produz hormônios, e a maioria dos hormônios que são produzidos circula sob a forma de proteínas ligadoras, que também estão aumentadas durante a gestação. • Sistema respiratório: no início da gestação, acontece a dilatação dos capilares da árvore respiratória. Posteriormente, o crescimento uterino contribui para o deslocamento do diafragma para cima e para as laterais. Outra alteração observada é a diminuição do tônus muscular do abdome, que sobrecarrega a atividade do diafragma. Acontece um aumento de cerca de 65% do ar que entra e sai dos pulmões, além do acréscimo da capacidade respiratória em 5% a 10% e uma diminuição da resistência pulmonar, como consequência da ação da progesterona. • Sistema urinário: modificações corporais como aumento do volume vascular total, do fluxo plasmático renal e do volume intersticial levam a alterações estruturais e anatômicas do sistema urinário nesse período da vida da mulher. Uma dessas alterações é a retenção urinária por volta das semanas 12 e 14 da gestação, em gestantes com útero retrovertido. Essa alteração é consequência de uma elevação e do aumento da tensão sobre a bexiga, promovendo uma falha no seu processo de relaxamento. Da mesma forma, outro fenômeno que pode acontecer é o aumento da taxa de filtração glomerular renal e consequente produção da urina, o que pode causar maior frequência urinária e incontinência urinária se iniciando no primeiro trimestre da gestação e crescendo ao longo da gestação. Outras alterações são o aumento do comprimento uretral funcional, da pressão uretral e da pressão de fechamento uretral. • Sistema gastrointestinal: o aumento dos níveis de progesterona é responsável pela lentidão do esvaziamento gástrico e do trânsito intestinal, ocasionando náuseas, vômitos e constipações, além da distensão intestinal. Outra alteração gastrointestinal decorrente dos níveis de progesterona é o relaxamento do esfíncter esofagiano superior, o que leva à maior pressão abdominal, provocando assim o refluxo e cálculos biliares. • Sistema hepatobiliar: durante a gravidez, em decorrência do aumento do débito cardíaco e da frequência cardíaca materna, o fluxo de sangue hepático é constante. Além disso, a ação da vesícula biliar fica reduzida, por consequência dos acréscimos de estrogênio e progesterona no corpo da gestante, sendo maior a predisposição ao acúmulo da lama biliar e, possivelmente, ao surgimento de cálculos biliares. Outra alteração decorrente da gravidez é a queda da albumina sérica, em razão do maior volume plasmático, o que gera com muita frequência o surgimento de anemia, principalmente no final do período gestacional. • Sistema hematológico: como já mencionado, durante a gestação, acontece um crescimento do volume sanguíneo total em cerca de 40% a 50%. Isso leva ao aumento do volume plasmático, por ampliação dos eritrócitos e leucócitos circulantes, em razão da hipertrofia do sistema vascular do útero que está crescendo. No entanto, a partir do segundo trimestre da gestação, acontece uma redução das células vermelhas, dos níveis de hemoglobina e dos hematócritos. Além disso, a quantidade de plaquetas diminui moderadamente com a evolução da gestação, e existe um aumento das necessidades de ferro tanto para a mãe quanto para o bebê, a placenta, o cordão umbilical e as perdas sanguíneas que virão em decorrência do parto e do puerpério. • Sistema tegumentar: a pele, maior órgão do nosso corpo, sofre alterações durante a gestação em cerca de 90% das mulheres. O aumento dos níveis de progesterona e estrogênio somados à distensão da pele são os principais causadores de alterações no sistema tegumentar. Essas mudanças podem acontecer de três formas: alteração fisiológica da gravidez, que ocorre durante essa fase, mas não se constitui doença; dermatose afetada pela gravidez, ou seja, alguma doença de pele que existe antes da gravidez e que pode melhorar ou piorar durante esse período; e dermatose específica da gravidez, que é alguma doença de pele que aparece durante a gravidez e está associada a ela. Além disso, as alterações da cor da pele são muito frequentes e começam a aparecer já no primeiro trimestre. São exemplos dessas transformações o surgimento da linha nigra, a linha marcada no centro da barriga da gestante, e o cloasma, uma mancha escura que aparece no rosto da gestante e é conhecida como máscara de grávida, assim como as estrias. Ao passar por um processo de gestação, uma mulher enfrenta muitas mudanças fisiológicas. Entretanto, as mudanças não param nesse âmbito. As experiências vivenciadas por uma mulher que se torna uma gestante – ou seja, um corpo que gere, cria e desenvolve outro ser, e tem este para, a partir de então, cuidar, alimentar, acalentar, cuidar de suas necessidades mais básicas e primitivas, dependendo física, mental e emocionalmente dela por muitos anos – são transformações que vão muito além da condição fisiológica. Ao passar por esse processo, a mulher sente seu corpo se modificando e precisa se adaptar a essas mudanças, como quadris mais largos, abdome distendido, muitas vezes sinais na pele que, se saírem, podem demorar meses ou anos para isso. Além disso, sua rotina não será mais controlada por seus desejos e suas tarefas, mas pelas necessidades da criança. Pensando um pouco antes, no parto, trata-se de um momento mágico, de uma elevação espiritual tamanha, em que uma pessoa, uma simples mortal, é capaz de dar a vida a outra. Mas você já imaginou quanto a mulher se doa nesse processo? Ela doa sua vida, seu corpo, sua rotina, suas prioridades, seus padrões físicos e sua atenção. E o mais comum dos comportamentos é que, quando a criança nasce, as pessoas ao redor voltem sua atenção toda para a criança, e a mãe deixa de ser “importante”. Pois, afinal de contas, a criança nasceu e o nascimento é uma dádiva, mas a mãe está cansada, frágil, desgastada física e emocionalmente e ainda precisa lidar com uma avalanche de hormônios agindo em seu corpo, deixando-lhe mais confusa e cansada do que já está. Não é incomum que mulheres desenvolvam baixa autoestima ou até depressão pós-parto, e é preciso deixarclaro que isso não significa não querer ser mãe, ou não amar seus filhos. Essas consequências têm a ver com a falta de sensibilidade em relação à condição psicológica e afetiva de uma mulher que se doou tanto e agora precisa de amparo. Um ponto importante a ser ressaltado é que o período gravídico-puerperal é o período de maior incidência de transtornos psíquicos na vida da mulher, sendo necessária uma atenção especial e direcionada para sua saúde mental, a fim de preservar seu bem-estar e sua relação com o bebê. A infância se inicia no momento do nascimento, em que a criança começa a viver o período pós- natal, e finaliza na transição para a fase da adolescência. Durante todo esse período, a criança que se desenvolve está passando por alterações no crescimento somático, no crescimento físico e na composição do seu corpo. Crescimento e maturação durante a infância: o crescimento humano tem como definição o aumento das dimensões corporais, que acontece como consequência das atividades de duplicação celular, também chamada de hiperplasia celular, seguida pela diferenciação celular, também chamada hipertrofia celular, além da ação dos líquidos intracelulares. Todas estas ações levam ao aumento dos tecidos, ou seja, dos ossos, dos músculos, das articulações, dos órgãos viscerais, do cérebro, levando ao aumento de todo o corpo. A maturação acontece ao longo do processo de desenvolvimento, em boa parte de sua duração, de maneira paralela ao crescimento do indivíduo. Porém, a maturação é um processo bem mais complexo e está ligado ao desenvolvimento das funções dos sistemas corporais. Então, à medida que a criança cresce, suas funções corporais também vão se desenvolvendo, de maneira que o seu processo maturacional está em evolução. Ao final do processo de maturação, o indivíduo atingiu sua maturidade. Os ciclos da infância: o primeiro ciclo de vida acontece até o final do primeiro ano de vida, sem a inclusão do primeiro aniversário. Nesse ciclo, acontece um crescimento intenso da maioria dos sistemas corporais e do sistema neuromuscular. A infância é dividida em fases, pois cada uma delas apresenta diferentes intensidades de crescimento, fazendo com que o desenvolvimento siga em seu processo evolutivo. Processos biológicos e cognitivos na infância: ao longo da infância, a criança passa por diversas alterações que acontecem de forma intensa, fazendo com que ocorram muitas mudanças em sua aparência, nas formas de comunicar-se, nos comportamentos e nas habilidades. Durante tal processo, a cognição evolui quando acontecem os processamentos de informações, ou seja, receber, integrar, compreender e responder adequadamente aos estímulos recebidos. Para que o processamento cerebral de informações ocorra, é necessária a participação de diversas regiões do cérebro, que, em conjunto, atuam de forma eficiente para efetivá-lo. Todavia, esse processamento só é possível uma vez que essas partes estejam em seu estado maduro, ou seja, tenham suas capacidades funcionais completamente desenvolvidas. Como forma de viabilizar esses processos de interpretação de informações, também estão acontecendo alterações biológicas que levam ao amadurecimento das funções cerebrais. Nesse sentido, o desenvolvimento biológico e cognitivo ocorre de forma conjunta, para que as fases da infância transcorram de forma saudável. Processos afetivos e sociais da infância: quando a criança está inserida em um ambiente com afeto e estímulos positivos para o seu desenvolvimento, suas ações serão de replicar esse cenário. Por outro lado, quando a criança está inserida em um ambiente sem estímulos positivos e sem afeto, ela também irá replicá-lo em suas ações, dando origem a um processo de desenvolvimento humano indesejado. Os fatores genéticos e biológicos dão origem a muitas características dos indivíduos que não podem ser modificadas, como a cor dos olhos, a altura e a cor da pele. Porém, muitas características atribuídas ao indivíduo sofrem influência do ambiente físico, dos estímulos afetivos, verbais, visuais e comportamentais das pessoas a sua volta, e das oportunidades que a criança tem de experimentar suas capacidades e habilidades adquiridas ao longo da vida. A adolescência é um período da vida que chega depois da puberdade e antes da vida adulta. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a adolescência como o período de vida que se inicia aos 10 anos e termina aos 19 anos, sendo dividida em três fases: pré-adolescência (10 a 14 anos), adolescência, (15 a 19 anos) e juventude (a partir dos 20 anos). Essa fase serve para nos preparar e modificar nossos tecidos e órgãos para a vida adulta, assim como nossa mente e muitos dos nossos comportamentos também são transformados. Geralmente, dentro da sociedade, a vida adolescente se inicia e tem como primeiros conflitos as mudanças físicas e corporais, dando origem a outros fatores de conflito pessoais e familiares. E ela se encerra quando a pessoa é considerada adulta o suficiente para se tornar uma engrenagem para a sociedade. Segundo alguns autores, no adolescente, tanto o corpo quanto as ideias, as emoções e os comportamentos sofrem consequências do processo de transformação. E, por isso, muitas vezes esse adolescente será dinâmico, mutável e imprevisível, até para ele mesmo. Como o conceito de ser adolescente mudou ao longo dos tempos: o termo adolescente foi utilizado pela primeira vez em 1430, na língua inglesa, para se referir a pessoas com idade entre 14 e 21 anos, para meninos, e 12 a 21 anos, para meninas. Porém, tornou-se estágio desenvolvimental oficialmente inaugurado com Stanley Hall em 1904. Esse momento do desenvolvimento sempre existiu como componente psicológico e fisiológico fundamental, independentemente do período histórico ou cultural. Porém, nem sempre foi reconhecido como tal. Apenas com a chegada dos séculos XIX e XX e como consequência de acontecimentos demográficos, sociais e culturais, a adolescência ganhou seu rótulo de período de desenvolvimento humano distinto dos outros períodos. A partir desse momento da história, informações sobre a adolescência começaram a ser recolhidas, e os primeiros estudos científicos sobre essa fase da vida surgiram. Na Idade Moderna, o Estado passou a interferir na sociedade, na forma de agir das pessoas, tomando como suas responsabilidades a alfabetização, a leitura, além do surgimento das formas de proteção para as crianças e para os adolescentes. Depois desses acontecimentos, o colégio se tornou uma instituição com práticas escolares destinadas às faixas etárias separadas. Além disso, a infância passou a ter importância na sociedade, e a adolescência passa a ser vista como um momento crítico para a vida, podendo estar ligada a novas formas de viver em grupo. Foram primeiramente os educadores que reconheceram a adolescência como uma etapa do ciclo de vida. Nesse momento, as teorias de Sigmund Freud trouxeram elementos da sexualidade e, então, a adolescência começou a ser reconhecida como parte integrante do desenvolvimento do ser humano, o que ocasionou os estudos sobre seus processos biológicos, cognitivos, afetivos e sociais. Além das mudanças biológicas da adolescência que vêm com a puberdade, também há modificações afetivas, comportamentais e sociais. Isso ocorre pois o avanço maturacional é tão intenso que faz com que o adolescente comece a enxergar novas informações, compreender novos conhecimentos e mudar de visão sobre suas opiniões. Processos biológicos e cognitivos da adolescência: com a adolescência ocorrem algumas alterações biológicas responsáveis pelo desenvolvimento das características reprodutivas. Um fator importante dessa fase é a atuação hormonal, marcada por dois estágios: 1) ativação das glândulas adrenais; 2) amadurecimento dos órgãos sexuais. • O primeiro estágio se inicia ainda na infância, em crianças com idadeente 6 e 8 anos. Nesse momento, as glândulas adrenais, que se localizam acima dos rins, iniciam sua excreção de hormônios androgênios, principalmente o dehidroepiandrosterona (DHEA). Já aos 10 anos, idade mais próxima da adolescência, os níveis de DHEA são 10 vezes mais altos que aos 4 anos e são responsáveis pelo aparecimento de pelos nas regiões íntimas, nas axilas e na face, levam ao aumento da oleosidade na pele, crescimento mais intenso e o surgimento de odores corporais. • O segundo estágio da puberdade inicia com um novo pico de liberação de DHEA, para que aconteça o amadurecimento dos órgãos sexuais até o nível adulto. Nesse período, o corpo da menina começa a produzir estrogênio, que leva ao crescimento dos órgãos genitais e desenvolvimento dos seios. Por sua vez, o corpo do menino começa a produzir testosterona, que leva ao crescimento dos órgãos genitais, aumento da massa muscular e dos pelos pelo corpo. Outro fato que é considerado um divisor de águas para essa faixa etária, no contexto biológico, é o estirão de crescimento, que pode ser definido como aumento rápido, levando a mudanças na altura e no peso do corpo. Esse acontecimento é percebido um pouco antes da maturidade sexual total. O crescimento rápido e repentino se dá pelo aumento dos ossos, dos músculos e da gordura corporal. Meninos e meninas crescem de forma diferente, uma vez que meninos apresentam um crescimento geral, com ombros mais largos, pernas mais grossas, antebraço mais longo, e meninas apresentam pelve mais larga e maior acúmulo de gordura, como uma preparação para um possível parto. Um fato marcante é que a gordura se acumula duas vezes mais nas meninas que nos meninos, e, por isso, esse estirão tende a acontecer, em média, dois anos antes em meninas que em meninos. • Quanto mais gordura corporal, mais cedo inicia-se a puberdade, pois o acúmulo de gordura leva ao aumento dos níveis de leptina, que atua como ativadora. Ao final de todo esse processo, o adolescente atinge a maturidade sexual. O fato de os órgãos sexuais se apresentarem maduros gera o seu funcionamento, levando ao surgimento da menstruação nas meninas, e da produção de esperma nos meninos, que leva à primeira ejaculação. Outra estrutura fisiológica que sofre mudanças é o cérebro. Estruturas cerebrais envolvidas com a construção das emoções, do julgamento, da organização do comportamento e do autocontrole passam por muitas mudanças ao longo dessa fase. Nesse contexto, a atividade cerebral, durante a adolescência, acontece a partir de duas interações, que estão ligadas a comportamentos de risco. Estas são: 1) rede socioemocional sensível a estímulos sociais e emocionais: torna-se ativa durante a puberdade; 2) rede de controle cognitivo que regula as respostas e os estímulos: amadurece durante o início da vida adulta. Os adolescentes processam informações de forma diferente dos adultos, uma vez que o cérebro ainda imaturo pode permitir que alguns sentimentos se sobreponham a pensamentos racionais. Além disso, os sistemas corticais frontais ainda não estão desenvolvidos, o que pode levar à impulsividade. Outra mudança no cérebro é o aumento da quantidade de substância branca típica pelos lobos frontais. Por outro lado, no início da puberdade, acontece um aumento exponencial da produção de substância cinzenta nos lobos frontais, até o estirão do crescimento, diminuindo sua densidade após esse acontecimento. Esse fato está ligado ao aumento da força das sinapses nervosas, da metade para o final da adolescência. Nesse sentido, as experiências vivenciadas determinam quais conexões sinápticas serão fortalecidas e quais serão esquecidas e sumirão. Processos afetivos e sociais da adolescência: tanto para crianças quanto para adolescentes, é muito importante oferecer uma base afetiva, para enfrentar todas essas mudanças e adaptações necessárias de forma que se sintam apoiados e amados. Uma das relações de afeto mais importantes durante essa fase é a relação mãe-filho(a), pois é decisiva para a formação da personalidade e da estrutura emocional do indivíduo. A afetividade é a capacidade individual de experimentar emoções, paixões e sentimentos e tem um papel fundamental no processo de aprendizagem. Além disso, é a partir das relações construídas no afeto que surgem as relações sociais de amizade e os relacionamentos. Essas interações resultam da soma da afetividade com atitudes que a cultivam, fazendo com que o relacionamento prospere. Ou seja, não há relação social sem afeto. Segundo Henri Wallon, a evolução do processo de desenvolvimento humano é resultado do fator biológico somado ao meio ambiente; a afetividade estaria neste segundo fator. Quando o indivíduo está passando pela adolescência, existe um processo gradual ligado à tomada de consciência de seu papel no mundo e na sociedade. Isso implica observar o mundo a sua volta, observar acontecimentos internos e refletir sobre todas essas constatações. Toda essa dinâmica é individual e singular, mas também está ligada à convivência social, se dando de forma interativa, com trocas entre o indivíduo e o meio. Em todo esse acontecimento, é fundamental que a família seja o suporte do adolescente, uma vez que a dinâmica familiar serve como estrutura na criação do autoconceito. Como se constrói uma identidade adolescente: o termo identidade traz como conceito a qualidade de ser idêntico e, ainda, um conjunto de características que individualiza uma pessoa. Segundo Eric Erickson, a concepção de uma identidade acontece a partir da construção de metas, valores e crenças com as quais o indivíduo em desenvolvimento se identifica. Essa construção da identidade durante a adolescência acontece a partir do desejo, que gera grande esforço do adolescente em olhar para si e conseguir compreender-se, mesmo que não seja possível que todo esse autoconhecimento aconteça apenas em uma fase da vida, ainda mais tão inicial. E esse processo é natural e saudável para o adolescente pelo fato de que forma o alicerce para lidar com os desafios que virão durante a vida adulta. Como a construção da identidade não é concluída durante a adolescência e se prolonga durante toda – ou quase toda – a vida adulta, é frequente o surgimento de uma confusão ou crise de identidade, sendo um período de exploração intensa das diferentes formas de olhar para seu interior. A construção da identidade é concluída quando o indivíduo atinge a maturidade em três aspectos importantes da vida, sendo eles: a escolha de sua ocupação, a adoção de seus valores que serão praticados durante a vida e o desenvolvimento de uma identidade sexual que o satisfaça (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Como esse processo de construção de identidade traz muitos conflitos, alguns adolescentes têm mais dificuldade em fixar-se em uma identidade tão cedo, o que pode levar à aquisição de comportamentos que levam a consequências negativas. Nesse sentido, o adolescente se comporta como se buscasse adiar seu desenvolvimento. Esse fenômeno foi denominado por Erickson de moratória psicossocial e pode levá-lo a encontrar, durante sua construção de identidade, compromissos com os quais ele será mais fiel e assim serão desenvolvidas as virtudes da fidelidade e da lealdade. Por outro lado, um fenômeno que pode causar grandes prejuízos na construção da identidade do adolescente é a confusão de identidade, quando ultrapassa limites saudáveis. Na adolescência, é muito comum identificar a formação de diferentes grupos sociais de pessoas que se consideram semelhantes, que buscam pelo sentimento de pertencimento a algo, por afinidade seja da aparência física, seja das opiniões, seja de um gosto ou interesse específico. Seus pares e tribos na adolescência: a construção da identidade que ocorre na adolescência envolve as diferentes experiências que ocorrem nesse período da vida, sendo também uma consequência docontexto cultural e histórico no entorno do adolescente. Desse modo, as relações construídas por esse indivíduo serão resultado do contexto histórico e cultural no qual ele está inserido. Entretanto, essa construção passa pela forma como esse adolescente se enxerga, como ele se aceita, e se ele se respeita. Os diferentes grupos sociais (as “tribos”) fazem parte das tantas descobertas vivenciadas nesse momento e da construção dessa identidade, isso porque é por meio dos amigos que o adolescente exercita seu eu social e os papéis atrelados a ele. Wallon aponta que o papel dos grupos sociais na adolescência está relacionado à existência de uma ambivalência de sentimentos e atitudes, que fazem com que o adolescente busque certa independência, juntamente com a necessidade de viver coisas novas. Para isso, necessita se unir a outros jovens que estão nessa fase (ALENCAR; FRANCISCHINI, 2016). No entanto, infelizmente não existem apenas papéis positivos, considerando que, muitas vezes, para se sentir aceito nesses grupos, muitos adolescentes negligenciam a si próprios, seus interesses, gostos, jeitos e características, adotando e priorizando regras e comportamentos coletivos sem questionamento. Existe uma tendência grupal muito forte que faz parte do adolescente, como parte de seu comportamento defensivo, assim como pela busca pela uniformidade, segurança e autoestima. Por isso, o adolescente busca o grupo e seu espírito que se exprime por meio de vestimentas, modos de falar, lugares que frequenta, interesses, entre outros. Nesse contexto, é fundamental a participação de dois núcleos sociais na vida do adolescente, para que ele possa viver essas experiências sociais de pertencimento sem ultrapassar barreiras necessárias. O primeiro núcleo é o familiar, que dará orientações iniciais da vida externa a ele. O segundo núcleo é o escolar, que deve se tornar parceiro do adolescente na vivência dessas experiências. Relações amorosas durante a adolescência: as relações amorosas durante a adolescência também fazem parte da construção social da personalidade do indivíduo em desenvolvimento. Essas relações fazem parte do surgimento de novas experiências e da necessidade do novo, como resultado das transformações emocionais que acontecem nesse período. Como tudo o que acontece na adolescência é muito intenso, com os relacionamentos amorosos não seria diferente. O adolescente vivencia o relacionamento amoroso acreditando que é o único e mais importante de sua vida. Isso tem a ver com o fato de o adolescente ainda estar muito ligado à fantasia infantil dos contos românticos, em que existem o príncipe, a princesa e o “felizes para sempre”. Esse processo também faz parte da construção do indivíduo em transição, que ainda não possui seu estado de maturidade totalmente adquirido. Nesse sentido, mais uma vez é preciso que o adolescente possua o suporte adequado de sua família, de seus pais e do ambiente escolar, para vivenciar essas experiências de forma saudável, aprendendo sobre elas, extraindo o que é importante e superando muitas das frustrações desses relacionamentos amorosos. Muitas vezes, quando esse suporte não existe, o adolescente se vê desamparado. Essa desproteção dá margem para alguns comportamentos negativos do adolescente, como isolamento social, dificuldades escolares, perda de interesse em suas atividades, alterações em seu sono, podendo chegar até a quadros de crises de pânico, transtornos de ansiedade e depressão. É na adolescência que surge a demanda da sexualidade, inicialmente corporal e fisiológica. Nessa fase, os adolescentes exploram seu corpo e descobrem sensações, uma vez que, com concretização da puberdade, chegam a uma condição de amadurecimento de seus órgãos reprodutivos, fato fisiológico que desperta o olhar para a sexualidade. O que o adolescente precisa aprender sobre sexualidade: segundo Sigmund Freud, o adolescente se encontra na fase genital, que possui esse nome justamente pelo fato de que as sensações de prazer e satisfação estão nessa região do corpo, fazendo uma alusão à intensificação da sexualidade que acontece na adolescência. Toda a adolescência é permeada por transformações biopsicossociais e físicas que despertam os instintos sexuais e uma maior percepção do outro, além de uma busca por posição social e autonomia. Nesse sentido, a sexualidade surge como consequência física, fisiológica, mas também social, com o enfrentamento dos jovens aos desafios que surgem (HAYWOOD; GETCHELL, 2016). Desse modo, é preciso que as pessoas à volta busquem entender todo o processo e o fenômeno que inclui a adolescência e a sexualidade. Sendo assim, como já mencionamos, há necessidade do apoio da família para que o adolescente entenda o que ele está vivendo, o que é sexualidade e como lidar com isso, assim como entender sobre o grau de responsabilidade que ele deve ter. Gravidez na adolescência: a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a gravidez é considerada precoce quando acontece entre os 10 e os 19 anos. É considerada precoce, pois pode levar a consequências para a saúde da mãe e da criança, que afetam não só o aspecto fisiológico, mas também social e do desenvolvimento. Quando tratamos de consequências da gravidez precoce, podemos citar: alto índice de mortalidade materna; aumento da evasão escolar; e riscos à saúde como a possibilidade de ruptura do colo do útero, assim como nascimento prematuro e aborto natural. Além disso, contribui para a perpetuação da pobreza, baixos níveis de escolaridade da população, abuso e violência familiar. A escola é um ambiente que participa da constituição do indivíduo, dos processos que o adolescente vivencia nesse período de transformação. O primeiro ambiente que o indivíduo conhece, depois de conhecer sua casa e sua família, é a escola. Então, esse ambiente o acolhe ainda criança e o acompanha nesse processo de formação e de transformação intensa. Nesse sentido, a escola deve exercer um papel que vai além do processo educacional formal, uma vez que é responsável por oferecer um suporte adequado quanto aos aspectos emocionais, levando assim a um acolhimento do adolescente, auxiliando no desenvolvimento de competências socioemocionais, que começa com a família (DINIZ; KOLLER, 2013). Por isso, o ambiente escolar, ao mesmo tempo que ensina sobre cidadania, regras, conteúdos e formalidades, deve ser um ambiente acolhedor e verdadeiro, que auxilie o adolescente a lidar com todos os desafios que surgem, mas que também o prepare para os desafios que ainda vão aparecer. Como o adolescente se relaciona com a escola: a escola para o adolescente é um local que acolhe suas opiniões e seus comportamentos, deixando-o à vontade para passar por esse período da vida, cheio de experimentação e vivências novas. Além disso, é no ambiente escolar que se iniciam muitas relações, de amizades ou amorosas. É na escola que o jovem passa boa parte de seu dia. Então, na maioria dos casos, é nesse ambiente o que adolescente começa a entender quem é, o que gosta de fazer, quais os seus interesses, como também as coisas que não gosta. Além disso, a escola tem um grande papel de levar o aluno ao pensamento crítico e questionador, levando-o a ser um indivíduo que busca evoluir como ser humano e não se submeter a todas as opiniões que existem. Outro ponto que podemos destacar dessa relação entre indivíduo e ambiente escolar é a contribuição da escola ao ensinar ao indivíduo que todas essas mudanças de sua imagem corporal são normais e passageiras. Assim, sabendo disso, logo ele estará acostumado com sua nova aparência. Também ensina que todos somos diferentes e não precisamos seguir padrões de imagem corporal. Como as tecnologias são utilizadas no ambiente escolar: as novas tecnologias na escola possibilitam a utilização de ferramentas que levam a uma forma mais efetiva de aprendizagem ede interação com diferentes pessoas, mesmo que elas estejam em locais bem distantes. Nesse sentido, o papel da escola é utilizar essas ferramentas e ensinar aos adolescentes como lidar com esses recursos, que poderão ser utilizados não só no ambiente escolar, mas durante toda a vida. O ECA é uma legislação que serve de orientação para a relação e a convivência com a população infanto-juvenil. Esse estatuto assegura os direitos dos quais o adolescente pode usufruir, mas também suas responsabilidades e suas sanções ao cometer infrações ligadas ao contexto social. Corresponde a um conjunto de normas jurídicas criado em 1990 (Lei nº 8.069) que tem como principal objetivo proteger, de forma integral, tanto a criança quanto o adolescente, a partir de medidas protetivas jurídicas. Para o ECA, são consideradas crianças as pessoas com idade até 12 anos, e adolescentes as pessoas com idade entre 12 e 18 anos. O ECA é de grande importância, pois proporciona o reconhecimento das crianças e dos adolescentes como sujeitos que possuem seus direitos e suas vidas protegidas, uma vez que são pessoas que vivem períodos intensos de desenvolvimento em suas mais diferentes formas, como o desenvolvimento psicológico, físico, moral e social. Este estatuto garantiu que as crianças deixassem de ser vistas como miniadultos. Além disso, deixa claro que nenhum adolescente pode ser objeto de qualquer negligência, fato que evidencia a responsabilidade da família sobre seus cuidados básicos, como educação, moradia e bem-estar. É importante entender que, a despeito dessa legislação, que assegura todos esses direitos, cada município precisa ter um conselho tutelar, que é uma entidade pública responsável por salvaguardá- los e direcionar o cumprimento de sanções por infrações cometidas pelos adolescentes. Referências: Apostilas 1) “Teorias por trás do Desenvolvimento Humano”; 2) “Gravidez ao final da infância”; 3) “Processos da adolescência”; e 4) “Adolescência e seus desafios” disponibilizadas pela Universidade Salvador (UNIFACS) na disciplina “Desenvolvimento Humano na Infância e Adolescência”. Autoria de Taís Feitosa da Silva.
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