Buscar

A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E PROTEÇÃO SOCIAL-PORTIFÓLIO

Prévia do material em texto

SERVIÇO SOCIAL 
SOLANGE ALVES DE SOUSA
A fome e as opções brasileiras de pacto e proteção social
Bom Jesus de Goiás-GO
2021
SOLANGE ALVES DE SOUSA 
A fome e as opções brasileiras de pacto e proteção social
Trabalho apresentado ao Curso de Serviço Social para a disciplina de atividades interdisciplinares
Profs. Elias Barreiros, Maria Gisele Alencar, Paulo Sérgio Aragão e Stefanny Feniman. 
Bom Jesus de Goiás-GO
2021
1- INTRODUÇÃO 
A desigualdade social pode ser definida como a concentração de poder, seja econômico, político ou cultural, de uma classe social sobre outra. Muitos autores discutem sobre as desigualdades sociais e seu surgimento, alguns pensadores a serem citados como exemplo são Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes. 
Jean Jacques Rousseau, importante filósofo iluminista, nasceu em Genebra na Suíça em 1712 e faleceu em 1778, filho de um relojoeiro e órfão de mãe desde o nascimento tem uma vida cheia de intemperes, acreditava na existência de dois tipos de desigualdade, sendo a primeira a física ou natural que ocorre através da força física, idade e saúde, já a segunda tratava-se da desigualdade moral e política a qual era consentida pelos homens, isto é, ela advinha de uma corrupção da humanidade. Ademais, Thomas Hobbes (Filosofo do século XVII), em sua obra mais famosa intitulada Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo e de uma sociedade fortes, acreditando que a existência da desigualdade era inevitável: 
 deu a cada um o direito a tudo; isso quer dizer que, num estado puramente natural, ou seja, antes que os homens se comprometessem por meio de convenções ou obrigações, era lícito cada um fazer o que quisesse, e contra quem julgasse cabível e por tanto possuir, usar e desfrutar tudo que quisesse ou pudesse obter. Ora, como basta um homem querer uma coisa qualquer para que ela já lhe pareça boa, e o fato dele a desejar já indica que ela contribui, ou pelo menos lhe parece contribuir, para sua conservação [...], de tudo isso então decorre que, no estado de natureza, para todos é legal ter tudo e tudo cometer. E é este o significado daquele dito comum, “a natureza deu tudo a todos”, do qual portanto o entendemos que, no estado de natureza a medida do direito está na vantagem que for obtida. (HOBBES, 2002, p. 32).
O presente trabalho tem por finalidade a análise da organização societária brasileira de acordo com os conhecimentos veiculados nas disciplinas estudadas, refletindo e discorrendo sobre a relação ou não destas representações junto a problemática complexa da fome no Brasil. Ademais, será feita uma analise do papel da cultura e das proteções sociais erguidas no Brasil, bem como suas debilidades e apontamentos de percursos necessários.
2- DESENVOLVIMENTO 
2.1- teorias clássicas de organização societárias
Na Sociologia a teoria é o instrumento de entendimento da realidade, quando procuramos fazer generalizações ou leis sobre determinada realidade, temos uma teoria, um modo de entender a realidade. De modo geral, todas as teorias sobre as formas de governo apresentam dois aspectos: um descritivo, o outro prescritivo. Em sua função descritiva, o estudo das formas de governo levam a uma tipologia - classificação dos vários tipos de constituição política que se apresentam à consideração do observador de fato, isto é, na experiência histórica, mas precisamente, na experiência histórica conhecida e analisada pelo observador. O escritor político, então, se comporta como um botânico que, depois de observar e estudar com atenção um determinado número de plantas, divide-as de acordo com suas peculiaridades, ou as reúne segundo suas afinidades, chegando assim a classificá-las com uma certa ordem. 
As primeiras grandes classificações das formas de governo, como as de Platão e Aristóteles, pertencem a essa categoria: baseiam-se em dados extraídos da observação histórica, espelhando a variedade dos modos com que se vinham organizando as cidades helênicas, a partir da Idade de Homero. Já na função prescritiva, o escritor político não se limita a um exercício descritivo: ele postula, geralmente, um outro problema: o de indicar, de acordo com critério que difere naturalmente de autor para autor, quais das formas descritas são boas, quais delas são más; quais as melhores e as piores; por fim, qual é a melhor de todas, e a pior. Em suma, não se limita a descrever, isto é, a expressar um julgamento de fato; sem o perceber exatamente, exerce também uma outra função, a de exprimir um ou mais julgamentos de valor, orientando a escolha por parte dos outros.
2.2- Mudanças no mundo do trabalho e as transformações geradas na vida dos mais pobres
Anteriormente a Primeira Revolução Industrial, as relações de trabalho eram fortemente agrárias, constituídas dentro do âmbito familiar. O ofício dos pais era geralmente passado aos filhos, o que garantia a construção de uma forte identidade ligada ao labor a que o sujeito se dedicava, isto é, a terra era de onde tirava-se o sustento de um indivíduo e de sua família, logo, a economia baseava-se na troca de serviços ou de produtos concretos, e não na moeda. A estrutura social era rígida, com pouca ou nenhuma mobilidade para os sujeitos, ou seja, um camponês nascia e morria camponês da mesma forma que um nobre nascia e morria nobre.
A partir da Revolução Industrial, houve a adoção do Fordismo o qual trouxe, impessoalidade para as linhas de montagem onde milhares de pessoas amontoavam-se diante de uma atividade repetitiva, sem muitas vezes nem ver o resultado final de seu esforço, passou a ser a principal característica do trabalho industrial.
Após a Revolução Industrial, tem-se a globalização outro forte marco na mudança das relações de trabalho, pois trouxe uma grande flexibilidade e a exigência por uma mão de obra cada vez mais especializada tendo como resultado um trabalhador que, cada vez mais, dedica tempo de sua vida para o aperfeiçoamento profissional. E essa é uma das origens das grandes desigualdades sociais da sociedade contemporânea, visto que, apenas aqueles que dispõem de tempo e dinheiro para dedicar-se ao processo de formação profissional, caro e exigente, conseguem subir na hierarquia social e econômica. Logo, aquelas pessoas que possuem poucas condições financeiras, permanecem quase sempre em trabalhos análagos a condição escrava ou muitas vezes desempregadas. 
2.3- O Brasil de 1950 à 1970, e as transformações ocorridas nas profissões.
Na década de 1950, os chamados “Anos Dourados”, o Brasil passou por diversas transições, originadas pela crescente prosperidade econômica vivida pelos Estados Unidos e outros países com o final da Segunda Guerra Mundia. Foi um período marcado por diversos avanço tecnológicos, comunicacionais e científicos. Na década de 50 o Brasil era governado por Juscelino Kubitschek, que mantinha o plano desenvolvimentista deixado pelo antigo presidente Getúlio Vargas. Kubitsceck fez importantes obras e mudanças, entre outras ações que faziam parte do seu plano de governo chamado de “50 anos em 5”, pondendo se destacar a construção em 41 meses da cidade de Brasília, em 1956.  Ademais, o governo de JK também foi responsável pela abertura do país a multinacionais, facilitando a entrada de capital estrangeiro, e a criação a empresa estatal mais importante na história da nação, a Petrobrás, o que gerou consequentemente mais empregos, já que as industrias cresceram bastante. 
Já na década de 1970, o Brasil vivia a ditadura militar, sendo que o projeto do governo militar não se diferenciava tanto da política econômica de Juscelino Kubitschek, o que mudva era a estabilidade política conseguida através da repressão à oposição de esquerda, necessária para garantir a segurança ao investimento estrangeiro: 
“ O milagre econômico da década de 1970 foi garantido pelo investimento estrangeiro feito no Brasil por empresas multinacionais e também através do acesso às linhas de crédito disponibilizadaspor instituições financeiras estrangeiras. Idealizado pelo economista e Ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto, o milagre econômico incentivou três ramos produtivos.
As empresas privadas brasileiras se dedicavam aos ramos chamados trabalho-intensivos, com maquinário de baixa complexidade tecnológica, baixos salários e extensa utilização de força de trabalho em indústrias têxteis, processamentos de alimentos e produtoras de bens de consumo não duráveis.
As empresas multinacionais se dedicavam principalmente ao ramo capital-intensivo, de alta complexidade tecnológica do maquinário e com número menor de força de trabalho. Os trabalhadores deste setor eram mais produtivos, devido a uma qualificação maior que era necessária para operar com os equipamentos de produção, o que garantia também um salário maior. As multinacionais se dedicavam à produção de automóveis, eletrodomésticos e meios de produção, destinados tanto a outras empresas quanto aos consumidores, abastecendo neste último caso o mercado de consumo de bens duráveis.
Já as empresas estatais ficaram responsáveis pelos investimentos nas indústrias de base, setor que se convencionou chamar à época de “indústrias necessárias à manutenção da segurança nacional”, abarcando as empresas de produção de energia elétrica, indústria pesada, telecomunicações e indústria bélica. Além disso, era responsabilidade do Estado investir na criação das condições gerais de produção, necessárias à industrialização, como redes de transporte e sistema de educação. Foi nesta época que foram construídas a hidrelétrica de Itaipu, a ponte Rio-Niterói e a Transamazônica, símbolos da grandiosidade nacional.”
Cabe ainda ressaltar, que diferentemente da década de 1950, em 1970 as indústrias de transformação e construção civil eram o alicerce da economia nacional.
2.4- Formação política nacional e as desigualdades no contexto da pandemia, no Brasil
O problema da fome no Brasil é histórico e estrutural, envolve fenômenos anteriores à pandemia. O processo de construção da sociedade brasileira foi atravessado por diferentes formas de exploração e desigualdde que, entre outras implicações, agravaram o grandiente de pobreza e tornaram a fome uma constante social.
“Antigamente era a macarronada o prato mais caro, agora é o arroz e feijão que suplanta a macarronada. São os novos ricos. Passou para o lado dos fidalgos. Até vocês, feijão e arroz, nos abandona! Vocês que eram os amigos dos marginais, dos favelados, dos indigentes. Vejam só. Até o feijão nos esqueceu. Não está ao alcance dos infelizes que estão no quarto de despejo.(Carolina Maria de Jesus - Quarto de despejo)”
Todos os dias vem a cabeça dos 19 milhões de brasileiros, que atualmente vivem em estado de fome, os motivos pelos quais estão vivendo tais situações diante do fato de que o Brasil é um país de certa forma rico em recursos. Segundo a socióloga Letícia Bartholo, que estuda políticas públicas de combate à pobreza e à desigualdade e foi secretária nacional adjunta de renda e cidadania (2012-2016), parte da explicação está na cobertura e nos valores do maior programa de transferência de renda, o Bolsa Família. Sendo o primeiro problema, segundo ela, a defasagem da chamada linha de probreza, isto é, o corte que define quais famílias tem direito ao benefício. "A desatualização da linha de pobreza do programa cria um achatamento fictício da pobreza. O número de pobres, na realidade, é muito maior do que o número de pobres considerados do ponto de vista administrativo", diz Bartholo.
3- Considerações finais: Os caminhos viáveis para o enfrentamento da fome e a ampliação do bem estar social da população
Diante de todo exposto, é possível notar que o Brasil é um país que enfrenta grandes desigualdades sociais, o que foi consideravelmente agravado pela pandemia da Covid-19. Com a pandemia e a necessidade do isolamento social como forma mais efetiva para o combate a disseminação do vírus, milhares de pais e mães de família perderam seus empregos que eram a única fonte de sustento de seus filhos e familiares, em decorrência disso notou-se no Brasil um aumento estrondoso nos índices que determinam estas desigualdades, isto é, a pandemia corroborou coma explicitação da pobreza, fome e desemprego no país. 
Para resolver o problema da fome agora e no futuro, é preciso olhar para o passado. Isso é consenso entre os especialistas sobre o assunto, estes defendem que é preciso retomar programas que apresentaram êxito para retirar o Brasil do Mapa da Fome, como o Fome Zero e outras políticas, ainda em atividade, como a transferência de renda do Bolsa Família
"É preciso retomar a produção de alimentos para consumo doméstico, como tivemos no programa Fome Zero, com a promoção da agricultura familiar que destina sua produção para alimentos. Reforma agrária, aquisição de alimentos para pequena agricultura familiar... todas essas ações favorecem o acesso à alimentação" (MOTTA.)
Ademais, deve ser expandido o acesso ao crédito e ao mercado para os agricultores familiares, além do reforço das politicas de distribuição de alimentos e a redução dos impostos sobre os alimentos da Cesta Básica, mas acima de tudo o aumento do salário mínimo brasileiro acima da inflação.
3- Referências 
ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo. Serviço Social & Sociedade. N 127. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/sdGtjJNHNJQrfKn5zZKf4Sd/?lang=pt, acesso em setembro de 2021.
CASTRO, Josué. “A fome”. Disponível em: <https://www.pjf.mg.gov.br/conselhos/comsea/publicacoes/artigos/arquivos/art_fom e.pdf> Acesso: setembro de. 2021.
Extrema pobreza cresce no Brasil e pode aumentar com a crise do Coronavírus.
Disponívelem:<http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=961>. Acesso em:setembro. de 2021.
MENDONÇA, Marina Gusmão. “Fome e pandemia: a atualidade de Josué de Castro”. In: Nexo Políticas Públicas [online]. Publicado em 11 de junho de 2021, 15h28. Disponível em: Acesso: setembro de 2021.
PFEFFER, Renato Somberg. Cultura política patrimonialista e assistência social no Brasil: uma abordagem teórica. Mosaico – Volume 9 – Número 15 – 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6774483.pdf Acesso em set. 2021.

Continue navegando