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Ética Profissional da Educação Física
Mas, o que seria o conceito ou o saber conceitual?
- O Conceito é uma representação universal com características comuns.
- O conceito é um instrumento da linguagem para representar o real.
Por exemplo: Conceito de Homem. Características comuns: animal racional, bípede, dotado de linguagem, etc.
E de que forma se pode chegar a um conceito?
De acordo com as concepções de Immanuel Kant, através dos atos lógicos do pensamento, ou seja, comparação, reflexão e abstração. 
A filosofia criou, também, possibilidades fundamentais para o desenvolvimento das ciências cognitivas. Ora, como esclareceu o autor Silvino Santina, a ordem universal passou a ser desenhada pelos conceitos e em seguida redesenhadas pelas ciências. Além disso, foi por causa da filosofia e dos conceitos que nasceu a ÉTICA. Pois, esta surge com a Polis, exatamente quando se confrontam e se rompem com as tradições míticas de explicações da realidade. A vida humana, anteriormente dirigida pelos deuses, passou a ser ordenada por decisões do próprio Homem.
A palavra ética tem sua origem no termo grego ethos e faz alusão ao caráter ou a maneira de ser do Sujeito. E foi na Grécia antiga que se iniciaram as reflexões acerca de ética, porque esta estava fortemente associada ao pensamento de moral. Neste contexto havia grande preocupação com harmonia e honestidade e equilíbrio, porque as cidades da Grécia estavam em desenvolvimento (sobretudo, Atenas).
Ressalta-se ainda que, Sócrates e Platão e Aristóteles foram e são os filósofos gregos, da Antiguidade, mais estudados no campo da ética. Os três apregoavam que as condutas humanas precisavam ser embasadas no equilíbrio, pois, assim se evitaria a falta de ética. Contudo, como veremos
abaixo, cada um deles pensava de forma peculiar a respeito da mesma.
ÉTICA PARA SÓCRATES
De acordo com o filósofo Sócrates, a alma humana era, em sua essência, razão e nessa deveriam ser encontrados os fundamentos da moral. Para ele, o conhecimento, a bondade e a felicidade estariam completamente interligados. Ora, o ser humano agiria corretamente após conhecer o bem,
e depois de saber o que é este, jamais poderia deixar de praticar. Além
disso, ao almejar o bem, sentir-se-ia dono de si próprio e, consequentemente, seria feliz.
Sócrates compreendia que Virtude é conhecimento, é sabedoria (Sofia). E o saber fundamental era aquele que diz respeito ao Homem. Ou seja, ele interpretava cada uma das virtudes (justiça, temperança, sabedoria, fortaleza) como forma de conhecimento capazes de conduzir o sujeito ao entendimento a respeito dos modos que precisa adotar nas diferentes circunstâncias. Obviamente que não era qualquer conhecimento, era aquele arraigado na alma, que faz da alma o que ela é de fato. Enquanto que o vício era entendido como resultado da ignorância.
Sendo assim, na perspectiva da “essência Socrática”, o ser humano, procuraria sempre o bem, mas nem sempre o praticaria. Porém, ao praticar o mal, não o faria por se tratar de algo mal e sim por esperar receber algum bem, mesmo que este seja a cargo de interesses particulares. Todavia, ao tomar tal atitude o Homem estaria se enganando, agindo por falta de conhecimento do verdadeiro bem, agindo por ignorância. E é por conta disso, que ele afirmava que o conhecimento do bem é fundamental para prática do mesmo, por que: de que modo poderíamos praticar o bem se não sabemos o que é?
As reflexões da ética Socrática acreditavam que o saber do bem é objetivo e universal, mas sem que seja anulada a multiplicidade de variedades de suas manifestações. Para ele, há um saber universalmente válido, decorrente da essência do ser humano. E é a partir desta que se poderia gerar o embasamento de uma moral universal. Além disso, o que existe de essencial no sujeito é a alma racional, seu espírito, sua psyché e é nessa alma e nesse espírito que devem estar pautados os costumes morais e as normas.
ÉTICA PARA PLATÃO
O filósofo Platão, discípulo e admirador de Sócrates, tinha concepções muito parecidas ao seu Mestre, no que se refere à ética. Mas, ele desenvolveu seus pensamentos fazendo uma distinção entre Corpo e Alma. O primeiro poderia acabar desviando o homem do Bem, porque trazia concepções dotadas de paixões. Enquanto que o segundo seria o mundo das ideias, portanto, das coisas verdadeiras. Logo, para que a ideia de bem fosse alcançada, o Homem necessitaria da Pólis, porque é nela que se desenvolveria a vida moral e ética. E esta, inclusive, desaguaria na política. 
Para ele, dentro da Pólis, o Ser que age de modo ético é bom, ou seja, é um bom cidadão. Por isso que, ao final de uma de suas mais famosas obras, intitulada: A República, o mesmo esclarece que cada um deve viver de acordo com as leis da Cidade, ou seja, de acordo com as leis da justiça e do bem. Além disso, essas leis deveriam estar internalizadas no homem. Porque, mesmo que tal Cidade, conhecida como Cidade Ideal, em seu exterior não fosse tão ideal assim, o Homem deveria ser.
ÉTICA PARA ARISTÓTELES
O filósofo Aristóteles trouxe grandiosa contribuição para o Campo da Ética e da Moral. Como se pode perceber em obras densas e famosas como: Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo. Obviamente que ele também estava inserido no contexto da “ética racionalista”, assim como Sócrates e Platão. Contudo, ele teve o interesse de fazer uma conexão mais aprofundada entre o Homem e a vida na Pólis, Cidade grega. Por conta disso, este filósofo abandonou a concepção Platônica de dualismo entre Corpo e Alma.
Aristóteles afirmava que o Homem era um animal político, só realizaria sua natureza quando inserido e envolvido na Pólis. Dentro das interpretações Aristotélicas, a política, ao lado da ética, constituiria o saber prático. Uma vez que o objetivo dessas seria o bem estar individual e o bem estar comum. Além disso, para ele, a ética seria o estudo da virtude (em grego denominado de areté), que é traduzido como excelência. 
De acordo com as concepções Aristotélicas o télos da ação humana seria a eudaimonia. Este termo (eu=bom daimon= divindade), apesar das divergências entre traduções, traria em seu significado a felicidade ou bem viver. Pois, como esclareceu Aristóteles a perícia política visaria atingir o mais extremo dos bens susceptíveis de ser obtido pela ação humana: a felicidade. Porque se supõe que ser feliz é o mesmo que viver bem e passar bem. Logo, o único bem, de todos os possíveis ao ser humano, capaz de possuir finalidade em si mesmo seria a felicidade. 
Para o filósofo, a eudaimonia seria o bem mais completo, sublime, autossuficiente e mais divino de todos os bens. E, para ele, nenhum outro bem possuiria tais características. Portanto, todos os outros fins deveriam estar subordinados a este.
Segundo Aristóteles, a ideia de eudaimonia estaria ligada a de movimento e atividade. Uma vez que a função das ações seria a realização de suas possibilidades próprias. O fim de algo residiria no produto de sua atividade. Neste contexto, seria na função humana que se encontraria a felicidade, a perfeição, o bem. Por conta disso é que a ação do homem deveria ser boa em relação aos outros porque o seu bem estaria pautado na atividade da alma em conformidade com a virtude.
A respeito da virtude, compreende-se que são as morais ou éticas (relacionadas com as emoções e adquiridas pelos hábitos, neste caso interpretado como os costumes), constituiriam a parte humana da alma sensível e exigiriam uma espécie de meio justo entre as emoções. E teria como característica principal intermediações nas situações de ação e emoção.
Enquanto que as virtudes intelectuais ou dianoéticas ou excelências da razão seriam comuns à parte racional da alma. Representariam atividades relacionadas ao ensino, à instrução. Como é o caso da sabedoria. E a função primordial desta virtude seria deliberar a respeito dos meios mais justos e adequados para se alcançar a finalidade desejada, o bem.
Além disso, de acordo com Aristóteles, se quisermos alcançar a eudaimonia precisamos viver racionalmente. Ou seja, viver segundo a virtude.E as virtudes da emoção e da razão constituiriam o agir virtuoso.
Sendo assim, para que o Homem alcance a virtude é necessário que escolha a justa medida das coisas, e aja de modo equilibrado. Ele aponta a felicidade como sendo o grau mais elevado do bem humano. E para que esta seja alcançada, faz-se pertinente que cada indivíduo cumpra com sua capacidade de pensar. Porque, a racionalidade é a maior virtude do Sujeito e para ser feliz é preciso exercitar a faculdade racional. Além disso, como o ser humano não vive só, sua ação virtuosa implicará na vida política e social, ou seja, na relação que estabelece com o outro.
Ao se analisar, ainda que brevemente, a respeito do pensamento desses filósofos pode-se compreender melhor o contexto que propiciou o surgimento da ética e as questões envolvidas neste campo. O que é importante para que posteriormente se compreenda as modificações ocorridas no referido campo.
ÉTICA NO IMPÉRIO ROMANO
Como se sabe, após a ascensão do Império Romano, ocorreram diversas modificações nos modos de agir e pensar na sociedade. Mas alguns dos “valores” apregoados por estes filósofos foi incorporado pelo Império e outros não. O importante é que os filósofos romanos, de maneira geral, acabaram mantendo a mesma preocupação que se tinha no ápice da cultura grega, em relação à ética e moral. Ou seja, eles acreditavam que o principal objetivo das atitudes humanas está pautado na virtude e a moral era interpretada como um conjunto de deveres que a natureza impôs ao sujeito.
ÉTICA NA IDADE MÉDIA
A corrupção que acometeu o Império Romano e a grande Crise, fez com que o imperador Teodósio dividisse o mesmo. Nesse contexto, iniciava-se a Idade Média. Nesta, a religião cristã assumiu papel central na determinação dos valores éticos e morais. Havia predominância do que ficou conhecido como Ética Teocêntrica, cuja teoria traz Deus como centro e as ações éticas e morais são pautadas a fim de agradar esta divindade e seus representantes junto à humanidade. 
ÉTICA NO PERÍODO MODERNO: CONCEPÇÕES KANTIANAS
A partir do momento em que a Igreja Católica entra em seu período de descrença e diferentes acontecimentos históricos acontecem no mundo, dá-se início ao surgimento de uma “nova era”. Esta, denominada de Modernidade ou Idade Moderna, proporcionou o nascimento de uma nova Ética, com ênfase no antropocentrismo (homem no centro). Neste contexto, alguns filósofos modernos resgataram aspectos do pensamento filosófico greco-romano, por acreditarem que a humanidade necessitaria alcançar a felicidade e a sabedoria, pautando-se na razão e no equilíbrio. Dentre os diferentes filósofos, destacaremos o Immanuel Kant que tem diversas obras famosas e uma delas intitulada: A Fundamentação Metafísica dos Costumes, que aborda com brilhantismo as questões envolvendo a Ética. 
Faz-se importante lembrar que Immanuel Kant sofreu influências iluministas, logo, acreditava que o que deve embasar as escolhas morais é a razão humana e jamais os valores religiosos. Essa ética, fortemente influenciada por ideais do iluminismo é conhecida como Ética Normativa. Porque, a razão humana seria uma razão legisladora e, por intermédio desta seria possível se chegar às normas. Estas seriam interpretadas como universais por serem fundadas na razão, algo que todos os humanos possuem.
Nas concepções Kantianas, há uma ligação estreita entre a noção de dever e de liberdade. Ora, obedecendo às normas, o sujeito estaria exercendo sua liberdade de estabelecer, através da razão, o que é correto. Logo, percebe-se que o dever seria uma expressão da racionalidade humana.
O filósofo esclarece na Fundamentação Metafísica dos Costumes que a toda legislação pertencem dois elementos:
- Primeiro: Aquele que faz da ação um dever, ou seja, que representa objetivamente como necessária a ação que deve ocorrer;
- Segundo: um móbil que conecta subjetivamente o fundamento de determinação do arbítrio para esta ação à representação da lei. Ou seja, a obrigação de agir deste modo é ligada, no sujeito, a um fundamento de determinação do arbítrio em geral.
Sendo assim, aquela legislação que faz de uma ação dever, e desse dever, simultaneamente, um móbil, é ética (KANT, 2013, p. 26). O autor buscou fornecer uma espécie de padrão no qual se pode determinar o que é permissível ou obrigatório fazer. E isso era realizado através do Imperativo Categórico (expressão que representava as indagações a respeito de ações moralmente corretas).
Além disso, compreende-se que Kant apresenta uma Ética formalista, porque prescinde de elementos empíricos e se acha fundamentada tão-somente na razão. Traz uma forma de agir moralmente correta, no entanto, não especifica o que deve ser feito nas situações concretas. 
Porém, Kant sabia que o ser humano não é dotado somente de razão, ele é formado por medos, interesses e desejos que influenciam e interferem suas escolhas. Por conta disso, este filósofo afirmava que, ao tomar qualquer atitude o sujeito deveria observar se sua ação poderia ser aplicada a todos, ou seja, universalizada. De maneira que ninguém fosse prejudicado e se o gesto não pudesse ser universalizado, então não seria uma ação moralmente correta.
O agir moral, para ele, não pode estar subordinado aos fins exteriores de conduta. Defendia a moral de modo a ser entendida como a diferença entre o certo e o errado, mas sempre ultrapassando a questão do sentimento (do que cada um tem para si como certo ou errado). Esclareceu que diferenciação entre certo e errado é inerente à razão humana, porque todas as pessoas, por menos instruídas que sejam, sabem o que é certo e o que é errado, e isso seria inerente à razão. 
Sintetizando-se, entende-se que para Kant ética e moral estão completamente “misturadas”.
Cabe-se mencionar que o formalismo Kantiano foi criticado pelo filósofo Hegel, porque para este mais importante do que a própria ação são as consequências desta. Além disso, para ele, ética e moral são coisas distintas. As decisões implicam em escolhas e quem escolhe renuncia à totalidade e se compromete com a finitude, impondo-se limites. O que determina as escolhas são os hábitos, as circunstâncias históricas, os costumes e a cultura, completamente oposto do que pensava Kant.
Hegel, entendia que a moralidade se ocupava do aspecto subjetivo da vontade, enquanto que a ética cuidaria de suas determinações objetivas.
Ressalta-se que o conceito de ética da contemporaneidade não é o mesmo do observado desde a Antiguidade até a Idade Moderna. Mas, foi fundamental entender o modo como a ética era interpretada de acordo com alguns filósofos, porque trazem na sua essência, discussões, para o referido campo, que são suscitadas atualmente.
ÉTICA NA PÓS-MODERNIDADE OU CONTEMPORANEIDADE
Na Contemporaneidade pode-se identificar a denominada Ética do Existencialismo, cujo princípio básico está fundamentado na existência. Neste contexto, têm-se rupturas drásticas com os “pensamentos” priorizados anteriormente. Por exemplo, existe uma moral que exalta os desejos do ego, o bem-estar individual e a felicidade, em oposição ao ideal de abnegação.
Diferentes autores vão abordar a temática da ética neste período. Como foi o caso do renomado filósofo sociólogo Zygmunt Bauman; Soren Kierkegaard, pouco conhecido, porém influenciador de autores famosos como Heidegger, Sartre, Derrida, Adorno, Hannah Arendt, entre outros. Claro que as concepções de cada um desses autores acerca da ética e da moral não poderiam ser veementemente elucidadas em uma unidade. Pois, são autores densos e complexos que requerem anos de estudos. Porém, ao longo desta disciplina abordaremos, brevemente, algumas contribuições interessantes deixadas por eles. Contudo, por hora, vamos dar continuidade, apresentando conceitos fundamentais desta unidade.
ATENÇÃO!
Cabe-se destacar que a ética é definida pelos dicionários ora sendo interpretada como a arte de dirigir a conduta humana, ora como ciência da moral. Mas, para ser mais fidedigno na conceituação como apresentou o autor Adolfo Sánchez Vazquez na obra intitulada Ética,datada de 1992:
- ÉTICA = Teoria ou ciência do comportamento moral da sociedade e dos homens;
- MORAL = Conjunto de normas ou regras incorporadas à atitude humana, através da prática ou do hábito.
Para promover um maior esclarecimento sobre ética e moral, afirma-se que, “apesar de unidas”, possuem definições e funções diferenciadas. A primeira não deve ser reduzida a um conjunto de regulamentos ou normas a respeito da conduta humana, enquanto que a segunda não deve ser tratada como ciência, mas sim como objeto desta porque é investigada e estudada pelo conhecimento científico.
Além disso, a ética tem por objetivo, influenciar nas ações morais, explicar a moral efetiva. Logo, a ética enquanto ciência têm como ponto de partida as ações humanas ou tipos de fatos, objetivando desvendar os princípios gerais que os expliquem.
Importa-se em abordar, também, que a ética é uma das causas responsáveis por diferenciar os animais dos seres humanos. Porque estes “seguem” comportamentos segundo os desejos influenciados e manifestos pelos meios cultural e social. Enquanto aqueles possuem comportamentos estereotipados, seguido por princípios biológicos. 
Chegamos ao final desta unidade, e nela você aprendeu e pode analisar os contextos que envolveram o surgimento da Ética e as diferentes concepções filosóficas que a permeiam. Além de poder compreender o conceito de ética e de moral oriundos da atualidade.
UNIDADE 2
Ética Profissional na Área da Saúde e Bioética
Ética Profissional na Saúde e Bioética
A ética é uma condição essencial do Ser Humano, porque este é dotado de livre arbítrio e razão, logo, ele é o responsável por zelar pelo cumprimento das atividades, principalmente no âmbito profissional. Mas, este cuidado não é algo simples e decorado. Uma vez que, não basta que o profissional obtenha apenas um conhecimento técnico, pois este não é um fim em si mesmo. Deve haver um “saber-estar” na sociedade, que vai muito além do conhecimento da práxis e teórico que envolve e embasa uma determinada profissão.
ÉTICA PROFISSIONAL
A Ética Profissional é compreendida como um conjunto de normas e de conduta que precisarão ser colocadas em prática no exercício das diversificadas profissões. Ora, no âmbito profissional, as condutas éticas são extremamente fundamentais, porque o profissional além de ter responsabilidades individuais, tem responsabilidades sociais.
Atualmente a Ética Profissional não é interpretada e visualizada somente como uma questão de consciência, ela é uma crescente e acentuada exigência do mercado. Pois, há empresas que rejeitam profissionais que possam comprometer de modo negativo a imagem das mesmas. Por este motivo, existem inúmeras estratégias para se discutir os limites éticos e colocar em prática as devidas condutas. 
Sabe-se que o exercício de uma profissão exige uma predisposição que não pode estar limitada, somente, as técnicas pertencentes à mesma. Porque, deve haver uma convicção social e pessoal do profissional que irá atuar. Dentro deste contexto, existem três sustentáculos nos quais toda profissão para ser bem exercida devem se fundamentar. São eles: a ética, a técnica e o aprimoramento profissional. 
- A Ética Profissional constitui um conjunto de valores aplicados de modo específico na prática de um ofício.
- A Técnica possui relação direta com a formação cultural e científica, que tem sua origem no conhecimento particular da ciência, também conhecido como: Lexis Artis.
- O Aprimoramento Profissional é interpretado como a atualização constante da própria técnica, cuja demanda é contínua e proporcionada pelos avanços da própria técnica e do conhecimento.
Logo, pode-se entender que a ação profissional está pautada no equilíbrio entre esses elementos que interagem com diferentes e iguais fatores apresentados pelos sujeitos da intervenção profissional. E aqueles que se candidatam ao exercício de uma profissão na área da saúde, além de precisar lidar com a ética em suas atitudes, também precisam estar dispostos a respeitar os valores humanos. Neste caso, valor não tem nenhuma relação com a questão monetária ou financeira ou de escambo.
Pois, como elucidou Beresford (2004), valor é uma qualidade metafísica e estrutural que agrega sentido ou significado para tudo que existe. E por isso, um Ser o aspira, mobilizado por sentimento e vontade objetivando preencher ou suprir de maneira positiva determinadas necessidades, oriundas de suas vacuidades, privações ou carências. 
Porém, este estado de aspiração acontece de modo muito peculiar, no Ser do Sujeito (em sua essência), pois este é o único que tem a capacidade de avaliar ou valorar, diferentemente dos outros Seres da natureza. Essa capacidade é que faz com que o Homem possa transformar o mundo da natureza no mundo dos valores humanos ou da cultura.
Os ideais são capazes de transcender o campo dos direitos e das obrigações e muitas vezes, as virtudes levam as pessoas a agirem. Por isso, grandes partes das diferentes teorias acerca da temática da ética concordam que o elemento mais importante na vida moral dos sujeitos é o desenvolvimento do caráter, porque este cria uma íntima motivação para que se realize o que é bom e certo. 
A ética trata das ações, das atitudes (relação com o caráter) e do hábitos (ligado à virtude). Logo, pode-se interpretar com clareza que ser ético é cuidar de si (de maneira a se conseguir a promoção de uma existência digna) e, também, cuidar do outro (com solidariedade, e exercendo a liberdade e a responsabilidade). Deve-se ter a capacidade de reconhecer e conhecer os limites da própria liberdade, porque nem sempre o que é bom ou próprio é considerado justo, sob a perspectiva da moral social.
Por conta disso, torna-se cada vez mais frequente no exercício das profissões o estudo adequado da ética no âmbito profissional. Pois, existem muitas situações contraditórias que podem se apresentar, uma vez que a vida profissional é composta por tomada de decisões que englobam questões transacionais, pessoais, satisfações, expectativas, esperanças e articulações de interesses.
VIRTUDES INDISPENSÁVEIS AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE
Tratando-se especificamente da ética profissional no campo da saúde, ressalta-se que o indivíduo precisa adotar determinados atributos morais para que seja realizada uma correta prestação de serviços. Algumas das qualidades morais ou virtudes, consideradas indispensáveis para os profissionais de saúde são:
Justiça – a responsável por comprometer o profissional com a sociedade, fazendo com que este volte sua atenção para os indivíduos que estão às margens (compondo um estrato social mais injustiçado) e excluídos dos benefícios que os divergentes tipos de ciência podem proporcionar;
Coragem – disposição para enfrentar as dificuldades cotidianas que o exercício de uma profissão na área da saúde traz. Seja para conseguir sanar as situações que se apresentem ou para tratar das questões relacionadas às limitações estruturais oriundas do sistema de atenção a população;
Prudência – ser cauteloso e agir com bom senso dentro do saber-fazer profissional. Essa virtude indica uma ação pela busca do que é bom e repudia o que é mau. É ela que distingue a ação do impulso. Por isso, é considerada a principal “companheira” das decisões profissionais;
Temperança – consciência e respeito dos limites profissionais existentes, porque ao se conhecer os mesmos se pode adotar uma conduta correta que não ultrapasse a técnica, a ciência e os limites do próprio sujeito;
Fortaleza – virtude que destaca a importância de renovar a disposição do profissional da saúde para que o mesmo continue exercendo o seu ofício, com base no seu conhecimento técnico e em suas convicções morais, sempre em benefício do paciente;
Tolerância – responsável por ensinar o respeito e reconhecimento das diferenças existentes entre as pessoas. Ora, o planeta está cada vez mais cheio de pessoas diversificadas e peculiares e o profissional de saúde precisará agir de modo mais isento possível, tendo com objetivo o respeito a integridade e dignidade do ser humano;Compaixão – solidária participação do profissional de saúde junto ao sofrimento do paciente. Não deve ser confundida com a piedade (sentimento de tristeza ou pena pela dor do outro). Porque, essa virtude afirma que o profissional precisa compreender o que se passa com o sujeito para que consiga proporcionar melhorias em suas condições. Logo, é uma ação positiva e não passiva ou negligente;
Generosidade – qualidade moral intrínseca ao profissional deve-se ter cuidado e zelo com o outro para que se consiga promover um melhor processo de cura e de saúde;
Humildade – saber reconhecer e ter consciência de suas fraquezas humanas e entender o seu “tamanho” no campo de intervenção, de maneira que não vá do que sua consciência e a ciência autorizem;
Misericórdia – atributo moral responsável por elucidar as pessoas de que as faltas cometidas (por exemplo: as ofensas) precisam ser relevadas. Pois, praticar a misericórdia é ter consciência de que quem está recebendo a prestação dos serviços, muitas vezes por causa de suas limitações de condições e frustações e / ou dores, não reconhecem o mérito de quem está contribuindo de alguma maneira para amenizar o sofrimento alheio;
Solicitude – estar aberto e disponível a atender bem a quem busca os serviços oferecidos. Ter tempo para escutar o outro, ajudar e orientar da melhor forma. Essa virtude envolve até mesmo sacrifícios familiares e pessoais;
Entusiasmo – Não deve ser confundido com humor, porque este depende de um conjunto de fatores. Esta virtude tem relação com o estado de espírito com que se deve realizar as tarefas dentro do ambiente de trabalho. É uma junção da coerência com a fidelidade profissional. Inclusive, é uma das virtudes que precisa estar presente na atuação dos profissionais de educação física;
Fidelidade – diz respeito ao comprometimento com as normas e princípios que regem a profissão. É a coerência entre o que se fala e as atitudes que se tomam; coerência entre o saber-fazer e saber-estar, entre a práxis e o discurso.
ATENÇÃO
Estas virtudes devem estar, na prática, interligadas para que haja uma ação profissional mais coerente e correta possível. Contudo além destas, é necessário e fundamental ter atenção aos deveres de conduta do Profissional de Saúde, porque estes são indispensáveis para que sejam construídas as virtudes pertencentes ao ato praticado e se amenizem as possibilidades de erro por parte do profissional.
DEVERES E CONDUTAS DO PROFISSIONAL DA SAÚDE
Cabe-se destacar que quando se aborda a temática dos deveres de conduta, também se está englobando o elemento responsabilidade. Uma vez que esta diz respeito ao conhecimento do que é primordial e justo por parte de um sistema de obrigações e deveres. Ora, o termo responsabilidade pode ser utilizado tanto no sentido ético quanto no jurídico, pois se está falando do exercício de profissões e as questões de natureza jurídica não podem ser separadas das de ordem moral. E quaisquer que sejam as maneiras de se avaliar a responsabilidade de um profissional em determinada atitude dentro do campo da saúde, em âmbito legal ou ético, precisam levar em consideração os deveres de conduta deste. 
A seguir, serão elencados alguns dos deveres de conduta que os profissionais atuantes na área da saúde precisam adotar. São eles;
- Dever de Abstenção de Abuso – afirma que o profissional não pode decidir ousar em técnicas recém-criadas ou audaciosas, sem que haja comprovação científica eficiente. Ou seja, o mesmo deve ser abster de agir de modo precipitado ou regido por seu ego;
- Dever de Vigilância – Diz respeito ao fato de que a atenção precisa ser permanente e constante, não se pode omiti-la, em momento algum, na atenção ao paciente ou sujeito. Inclusive, esta atenção pode se estender, para além do horário de atendimento ou ambiente de trabalho;
- Dever de Atualização – Versa que o profissional não pode, somente, estar habilitado legalmente para exercer determinada profissão. Mas, deve estar devidamente atualizado, com aprimoramento contínuo e isso deve ser “encarado” não apenas como um direito proporcionado, mas sim como uma obrigação.
ATENÇÃO
É uma tarefa inviável embasar as condutas dos profissionais de saúde, apenas, por intermédio de seus respectivos códigos profissionais (semelhante a um código penal). Porque, na prática de cada profissão, existem muitas situações específicas que não são contempladas pelos códigos. Além disso, na formação acadêmica destes profissionais, pouco se adquire, efetivamente, de embasamento “ético-filosófico”. Há uma repetição de códigos e de normas impositivas presentes no código de ética profissional e isso é o que, geralmente, é ministrado na disciplina de ética. Logo, muitas vezes, não se contempla a essência dos estudos sobre a referida temática e se dificulta a adesão de princípios filosóficos aplicados ao cotidiano e as condutas éticas no agir profissional.
Levando-se em consideração que na sociedade contemporânea há uma espécie de crise de valores, percebe-se como de suma importância a existência de excelentes profissionais, tanto na sua capacitação ética quanto na técnica.
Cabe-se ressaltar que seria uma tarefa árdua falar de ética profissional sem mencionar o termo: Deontologia. Este tem sua origem na palavra grega deontos e significa o que é obrigatório. Pode ser compreendido como tratado de deveres; conjunto de obrigações profissionais de qualquer categoria profissional estabelecidos em um código específico. Em síntese é interpretado como o código moral das regras e procedimentos próprios às categorias profissionais. E o exemplo mais clássico é a deontologia médica, presente no Juramento de Hipócrates. 
A deontologia é um ramo da ética profissional que se limita ao comportamento do indivíduo enquanto profissional. Essa está relacionada tanto à filosofia quanto à ética. Nas profissões que ainda não possuem a sua deontologia, os sujeitos ficam submetidos aos deveres da ordem, de modo geral. Contudo, nas profissões que a possuem, as obrigações são apresentadas em um documento denominado Código de Ética Profissional. Os Códigos de ética profissionais, na maioria das vezes, expressam a filosofia de ação a ser seguida, sempre mantendo um posicionamento ético humanístico e tendo como elementos fundamentais o bem-estar social e a dignidade do sujeito. 
ATENÇÃO
Em termos práticos, ao se analisar alguns códigos de éticas profissionais de algumas áreas (como engenharia, direito, medicina, etc.), percebem-se alguns princípios comuns priorizados. São eles: a lealdade com a instituição; a formação de uma consciência profissional; respeito à dignidade da pessoa humana; discrição no exercício profissional; observação das normas administrativas institucionais; tratamento cortês aos colegas, aos superiores e aos subordinados hierárquicos; segredo profissional; execução de trabalho no mais alto nível de rendimento; honestidade no ambiente de labor; apoio aos esforços para aprimoramento profissional.
Dentro deste contexto, além dos princípios existem os aspectos que são considerados como faltas contra a dignidade do trabalho. São elas: fomentar a discórdia; não prestar ajuda aos companheiros; fazer publicações inexatas e indecorosas; adotar conduta egoísta na transmissão de conhecimentos e experiências; prestar serviço de forma inadequada; abonar, sem motivo, algum trabalho que foi solicitado; fazer declaração que constitua perigo de divulgação; utilizar influências e informações obtidas na posição para conseguir vantagens pessoais; delegar a outrem a execução de trabalhos que em forma estritamente confidencial lhe tenham sido solicitada.
OBSERVAÇÃO: Em sentido prático, cabe-se mencionar que os Códigos de Ética Profissionais possuem força de lei na sua aplicação e pode punir os infratores. As medidas disciplinares poderão ir de uma “simples” advertência até a cassação do exercício profissional. Nestes casos os órgãos responsáveis pelas punições são os Conselhos Regionais, em primeira instância, e os Conselhos Federais, em segunda instância.
Tendo-se compreendido acercada ética profissional, dar-se-á prosseguimento aos estudos elencando as questões ligadas a Bioética.
CONTEXTO DO SURGIMENTO DE BIOÉTICA
Na década de 1960, nos Estados Unidos da América (EUA), ocorreram diversificados casos de manipulações em pesquisas com pessoas que estavam enfermas (ex.: pacientes com síndrome de Down, sujeitos negros com sífilis, pacientes em diálise), sem que houvesse o consentimento destas para procedimentos invasivos e em muitos casos havia experimentações em pacientes terminais e abusos nos tratamentos clínicos destes. Esses casos foram descobertos pela opinião pública dos EUA e preocuparam os órgãos governamentais do país. Logo, houve uma espécie de despertar do senso ético que provocou discussões a respeito dos direitos do sujeito em estado enfermo. Sendo assim, na década de 1970, surgiu a Carta dos Direitos do Enfermo, que foi aprovada pelos hospitais dos EUA, e este foi considerado um grande marco na relação entre os doentes e os profissionais da área da saúde.
Cabe-se relembrar que a ética médica tradicional, traz o paciente como sendo um indivíduo “menor de idade”. Ou seja, o profissional de saúde seria o responsável pela decisão sobre o que seria feito ao sujeito, porque o profissional é que conhecia o diagnóstico e o prognóstico do mesmo. A partir da Carta dos Direitos do Enfermo, iniciou-se um processo de modificação dessa mentalidade, pois se demonstrou a necessidade do consentimento informado do paciente. Dentro deste contexto, começou a se “desenhar” o surgimento da bioética, que abarca um saber mais interdisciplinar e global e por isso substituiu a ética médica tradicional.
Um dos professores da Universidade de Wisconsin, Van Rensselaer Potter em 1971 criou o tornou público o termo Bioética na obra intitulada Bioethics: Brigde to the Future. Para Potter, a bioética era a ciência da sobrevivência diante das ameaças da vida. No mesmo ano, surgiu na Georgetown University, em Washington, o primeiro instituto que trazia em seu nome a palavra bioética. Este passou a abordar a bioética a partir de uma perspectiva moral e antropológica, com uma preocupação sob o ponto de vista educativo. Ressalta-se ainda que o primeiro centro de bioética fora dos EUA surgiu em 1976, no Canadá, dentro do Centre de Bioéthique que funcionava no interior do Institute de Recherche Clinique de Montreal. E neste Centro é que se passou a desenvolver uma reflexão ética ligada à pesquisas clínicas.
Essas criações foram fundamentais e pertinentes para que na atualidade, por exemplo, existam Conselhos de ética para “analisar” as pesquisas que são realizadas, sejam elas com seres humanos ou outros seres presentes na natureza.
Mas, o que se compreende por Bioética?
o estudo sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da saúde e da vida, e a referida conduta é analisada segundo os princípios e valores morais; preocupa-se com as situações de vida, especialmente dos seres Humanos, em situações onde as escolhas morais estejam relacionadas com o padrão de bem viver
Sabe-se que o mundo interior (do psiquismo), o exterior (do próprio corpo) e o da identidade dialética (do exterior e do interior do espírito) constituem uma totalidade estrutural que define o Ser Humano. Ora, o psiquismo é compreendido como possibilidade de presença face ao outro, o corpo é interpretado com possibilidade e presença no mundo, o espírito representa a possibilidade de presença diante do absoluto. Essa percepção é indispensável no que tange à Bioética, porque a vida humana é uma trama de relações com os outros, o absoluto e o mundo.
Para ficar mais claro, a relação com o absoluto tem ligação com a transcendência. Esta designa uma maneira de relacionar o sujeito situado na história e no mundo, sendo o absoluto captado como sentido. Ou seja, a experiência do bem como norma de ação (agir é realizar o bem), a experiência da verdade enquanto medida do conhecimento (conhecer e buscar a verdade), a experiência de Existente Absoluto como princípio de todo existir humano (acreditar é depender do existente absoluto).
A relação com o mundo está ligada a objetividade, ou seja, a experiência do sujeito que organiza a realidade como interconexão de eventos, coisas, significações e representações, construindo então a trama no mundo e manifestando-se como ser no mundo. Enquanto que a relação com o outro está ligada a intersubjetividade, responsável por romper com a objetividade para proporcionar uma relação dialógica com outro eu. Fazendo emergir o problema do outro e compreendendo o Ser humano como ser com outros.
Esses elementos são importantes para que se compreenda a bioética no campo da dignidade humana. Ora, esta representa uma referência absoluta para as ciências da saúde e da vida e o respeito a esse absoluto expressa o sentido de qualquer ação que faz alusão a vida humana e representa o seu critério de bem e de verdade. Sendo assim, a relação de transcendência, de objetividade (com o mundo) e de intersubjetividade (com o outro) faz parte da Bioética.

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