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Vitória Nobrega Alvarenga Leishmaniose Visceral Introdução A LV possui alta incidência e alta letalidade, sobretudo nos pacientes não tratados e nas crianças desnutridas, e é considerada emergente em indivíduos HIV positivos. Ela possui ampla distribuição na Ásia, na Europa, no Oriente Médio, na África e nas Américas (90% no Brasil – nordeste), onde é denominada de Leishmaniose Visceral Americana ou Calazar neo-tropical. É uma zoonose de importância mundial, com transmissão vetorial, ocasionada pelos protozoários do gênero Leishmania (Américas: L. chagasi), sendo uma doença subnotificada, com letalidade de 90%. Nos últimos anos, tem-se aumentaod o número de casos e houve expansão desses casos para as áreas urbanas e periurbanas (ex: oeste de SP), cidades próximas a centros urbanos. VETOR: fêmea Lutzomiya longipalpis – mosquito palha. RESERVATÓRIOS SILVESTRES: marsupiais e raposas RESERVATÓRIO URBANO: cão AGENTE Os agentes etiológicos da leishmaniose visceral são protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania, que é um parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear, com uma forma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e outra aflagelada ou amastigota nos tecidos dos vertebrados. CICLO DE VIDA: hospedeiro vertebrado é infectado com promastigotas quando picado pelo vetor --? As promastigotas penetram nos macrófagos circulantes e se multiplicam como amastigotas à os macrófagos morrem e as amastigotas são liberadas infectando outros macrófagos à o vetor ingere macrófagos infectados durante o repasto sanguíneo à as amastigotas são liberadas no intestino do mosquito e se multiplicam como promastigotas. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: • No homem: 10 dias a 24 meses, com média entre 2 a 4-6 meses. Suscetibilidade e imunidade Crianças e idosos são mais susceptíveis. A presença do parasita determina uma supressão reversível e específica da imunidade mediada por células, o que permite a disseminação e multiplicação incontrolada do parasita, porem, somente uma pequena parcela de indivíduos infectados desenvolve sinais e sintomas da doença. Após a infecção, caso o indivíduo não desenvolva a doença, observa-se que os exames que pesquisam imunidade celular ou humoral permanecem reativos por um longo período, o que requer a presença de antígenos. Assim, pode-se concluir que a Leishmania ou alguns de seus antígenos estão presentes no organismo infectado durante longo tempo de sua vida, depois da infecção inicial. Esta hipótese está apoiada no fato e que os indivíduos que desenvolvem alguma imunossupressão podem apresentar quadro de LV muito além do período habitual de incubação. Atendimento Primário – POSTOS DE SAÚDE - Suspeitar e encaminhar os pacientes para o centro de saúde - Notificar casos suspeitos - Apoiar o serviço nas demais ações de vigilância epidemiológica da LV - Aplicar o antimonial pentavalente (Sb +5). Observar possíveis reações adversas ao medicamento e encaminhar o paciente para avaliação médica. - Realizar busca de pacientes faltosos ao tratamento. - Acompanhar o paciente durante e após o tratamento - Encaminhar o paciente para acompanhamento médico e avaliação clínica. Atendimento Secundário – CENTROS DE SAÚDE - Suspeitar de leishmaniose visceral - Notificar e investigar os casos de LV. Realizar as demais ações de vigilância epidemiológica da LV - Realizar diagnóstico clínico e laboratorial - Coletar material para exames sorológicos e parasitológico - Realizar exames sorológicos, parasitológico e complementares, quando possível. Se isto não ocorrer, encaminhar para um laboratório de referência. - Tratar os pacientes com antimonial pentavalente (Sb +5) - Realizar acompanhamento clínico durante e após o tratamento. Realizar avaliação dos pacientes com reações adversas e notificar as mesmas. - Encaminhar pacientes para os hospitais de referência, em situações de difícil diagnóstico, falha terapêutica, com pelo menos dois esquemas de tratamento com antimonial pentavalente ou em pacientes com reações adversas graves. Quadro Clínico A maioria é assintomática, mas existem os oligossintomáticos e os sintomáticos. SINTOMAS DE VISCERALIZAÇÃO: febre baixa recorrente (oscilante). 2 a 3 picos diários. ESPLENOMEGALIA: hiperplasia de células do SFM do baco densamente parasitadas. Fisiopatologia As formas amastigotas são fagocitadas pelas células do sistema retículo-endotelial (SRE), iniciando sua Vitória Nobrega Alvarenga fase de parasitismo no novo hospedeiro. Esse parasita com tropismo por células do SRE vai penetrar no macrófago, transformando-se em amastigota e concentrando seu parasitismo em órgãos onde essas células são numerosas, como a medula óssea e baço. A disseminação das leishmânias ocorre por via hematogênica e/ou linfática. Na medula óssea, constam-se sinais de hiperplasia funcional, com poucas células gordurosas, sendo que esse achado evidencia a intensa atividade hematopoiética, que, no entanto, é ineficaz, já que o doente cursa com pancitopenia decorrente do parasitismo celular e do hiperesplenismo. O baço se encontra, na maioria dos casos, bastante aumentado, consistente, congesto, com focos de hemorragia, cápsula espessada e estrias fibrosas no parênquima. O fígado geralmente está aumentado de volume, principalmente após a fase inicial. O parênquima hepático sofre atrofia e degeneração gordurosa mais intensa entorno das células parasitadas. A patogênese da LV está relacionada com a depressão da imunidade celular e elevação significante de anticorpos. A infecção por esse parasita acarreta alterações na imunologia celular e humoral, sendo que a capacidade do macrófago de responder ao antígeno da Leishmania está na dependência do estímulo do linfócito TCD4. VISCERALIZAÇÃO Quando ocorre a visceralizacão, as formas amastigotas estão dentro dos macrófagos, indo para MO, baço, fígado e linfonodos e, ocasionalmente, para as demais células do sangue e outros locais. PORTANTO, É UMA DISSEMINACAO HEMATOGÊNICA E/OU LINFÁTICA. PERÍODO INICIAL/DOENÇA AGUDA: início da sintomatologia, que, na maioria dos pacientes, aparece com febre com duração menor do que 4 semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. O estado geral do paciente está preservado, o baço geralmente não ultrapassa 5 cm do rebordo costal esquerdo. Geralmente, os pacientes vão ao serviço médico fazendo uso de antimicrobianos sem resposta clínica e, muitas vezes, com história de tosse e diarreia. Vale destacar que, durante o exame clínico, em crianças, a manobra estetoacústica é bastante útil para verificar a presença de hepatoesplenomegalia. PERÍODO DE ESTADO: febre irregular, geralmente associada ao emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta um quadro clínico arrastado com mais de 2 meses de evolução e, na maioria das vezes, está associada ao comprometimento do estado geral. PERÍODO FINAL: caso não seja feito o diagnóstico e nem o tratamento à febre contínua e comprometimento mais intenso do estado geral. Instala-se a desnutrição, edema de MMII que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestes pacientes, o óbito, em geral, ocorre por infecções bacterianas ou sangramentos. Diagnóstico - PESQUISA DO PARASITO EM MEDULA ÓSSEA: • Esfregaço de punção • Formas amastigotas • 100% de especificidade • PADRÃO OURO: sensibilidade varia de acordo com a amostra à 76-98% no baço e 54-90% na MO. - Pancitopenia - Biopsia hepática e aspiração de linfonodo + cultura - Hipoalbuminemia - Hipergamaglobulinemia - Punção aspirativa esplênica - Cultura em meio de NNN - Pesquisa de anticorpos contra leishmaniose: • Imunofluorescência indireta (RIFI): amostras + a partir da diluição de 1:80. • Ensaio imunoenzimático (ELISA): não disponívelno SUS. A sorologia pode permanecer positiva por longo período, mesmo após o tratamento, por isso, o resultado positivo sem manifestações clínicas associadas não autoriza a terapêutica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Leucemia mieloide crônica, esquistossomose septicêmica prolongada e tuberculose disseminada. Complicações - Infecções bacterianas: otites, piodermites, BCP, ITU - Sepse - Hemorragias secundárias a plaquetopenia - Hemorragias digestivas altas (HDA) e icterícia: maior gravidade. Tratamento GLUCANTIME E ANFOTERICINA B Seguimento: 3,6 e 12 meses após o tratamento, sendo que as provas sorológicas não são indicadas pelo motivo já explicitado anteriormente. Vitória Nobrega Alvarenga Critérios de Cura São clínicos: desaparecimento da febre e redução das megalias nas primeiras semanas. O desaparecimento da febre é precoce e acontece por volta do 5º dia de medicação, a redução da hepatoesplenomegalia ocorre logo nas primeiras semanas. Ao final do tratamento, o baço geralmente apresenta redução de 40% ou mais em relação à medida inicial. A melhora dos parâmetros hematológicos (hemoglobina e leucócitos) surgem a partir da segunda semana, e as alterações vistas na eletroforese de proteínas podem demorar meses. O ganho ponderal do paciente é visível, com retorno do apetite e melhora do estado geral. Nesta situação, o controle através do parasitológico é dispensável. Controle - Controle de vetores e dos reservatórios - Proteção individual - Diagnóstico precoce - Tratamento de doentes - Manejo ambiental e educação em saúde - Vacinação dos cães.
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