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1 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP HEPATOESPLENOMEGALIA INTRODUÇÃO A hepatoesplenomegalia é um diagnóstico sindrômico caracterizado pelo aumento do volume do fígado e baço provocado geralmente por uma grande atividade de defesa imunológica do organismo. Geralmente indica a existência de uma hepatopatia (doença do fígado) grave, porém, muitos indivíduos com hepatopatia podem apresentar um fígado de tamanho normal ou mesmo menor do que o normal, fato não tão frequente assim quando tratamos do baço. OBS: O aumento de tamanho do baço é consequência da concentração de glóbulos e plaquetas, o que pode aumentar o risco de outras doenças e infecções. Investigação semiológica Fígado Palpação do fígado: apalpar o hipocôndrio direito, flanco direito e o epigástrio, partindo do umbigo até o rebordo costal. Hepatimetria: consiste na percussão da linha hemiclavicular a partir do 3º espaço intercostal, em sentido caudal, seguindo a linha. Lobo de Riedel: anormalidade anatômica do fígado, que é um lobo hepático acessório, raro e em forma de lingueta, situado no lobo hepático direito. Essa anomalia, ao exame físico em palpação, pode simular uma hepatomegalia. Dor → estiramento da cápsula de Glisson → geralmente em causas na qual a hepatomegalia acontece de forma mais rápida e aguda → insuficiência cardíaca, metástase hepática. Baço Palpação do baço: avaliar se o espaço de Traube encontra-se livre (normal) ou ocupado (suspeita de hiperesplenismo). Sinal de Castell: na linha axilar anterior esquerda percute-se o espaço intercostal mais inferior (ponto de Castell) que normalmente é timpânico, e peça ao paciente para respirar profundamente, se permanecer o timpanismo na inspiração profunda é improvável a esplenomegalia; mas se houver mudança para macicez esplenomegalia mais provável. Investigação clínica Anamnese → fundamental para identificação etiológica da hepatoesplenomegalia. Antecedentes familiares (pensando em buscar alguma doença metabólica e/ ou genéticas); Antecedentes pessoais (infecções congênitas e doenças neonatais); Levantamento epidemiológico (viagens, condições de vida e lazer). Questionar hipoglicemias, tremores, convulsão, sempre pensando em algum distúrbio metabólico; Alerta a histórico positivo de infecção congênitas por STORCH. 2 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP STORCH: sífilis (S), o protozoário Toxoplasma gondii que causa a toxoplasmose (TO) e os vírus da rubéola (R), citomegalovírus (C), vírus herpes simplex (H). Além disso, precisamos ficar alerta aos sinais e sintomas, principalmente quando estiverem sido relatados febre, anemia, icterícia, alterações vasculares, perda de peso, queixas respiratórias, queixas articulares, ascite, adenomegalias, prurido, antecedentes de hemorragias entre outros. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Hemograma: pode ajudar muito na diferenciação etiológica quanto aos valores que são encontrados, como por exemplo uma pancitopenia, uma leucocitose ou atipia linfocitária. Pesquisa direta de parasitas: exame muito importante e deve ser feita para identificar o parasita e que se baseiam na demonstração do parasito em lâmina. Mielograma: é um exame muito utilizado para diagnóstico principalmente para leucemias e outras neoplasias, assim como para casos de suspeita de calazar também. É um dos exames para avaliação da medula óssea e é realizado através de uma punção óssea, seguida de aspiração, sendo realizada sob anestesia local. Os ossos mais abordados são o ilíaco, o esterno e a tíbia. Provas bioquímicas: instrumentos mais utilizados, mas devem ser sempre solicitadas de acordo com as suspeitas. Colesterol Glicemia Ureia e Creatinina Amônia Bilirrubina TGO e TGP (transaminases) Fosfatase alcalina (FA) e Gamaglutamiltransferase (GGT) LDH Eletroforese de proteínas Dosagem de Cu2+ (soro e urina) Fe2+ / Fe3+ e Ferritina Sorologias e culturas: (hemocultura, coprocultura, urocultura) referentes às etiologias, principalmente quando estas tiverem uma natureza infecciosas. Teste tuberculínico de PPD Teste imunocromatográfico Rk-39. 3 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP LEISHMANIOSE VISCERAL INTRODUÇÃO O termo leishmaniose se refere às doenças causadas por protozoário do gênero Leishmania. Ela é transmitida pela picada da fêmea do mosquito flebótomo. Conforme a região, vários animais e até o homem pode atuar como reservatório. As manifestações clínicas da leishmaniose variam de acordo com a patogenicidade do parasita (que difere entre espécies) e a resposta imune celular geneticamente determinada pelo hospedeiro humano, podendo variar de assintomáticas e autolimitadas à comprometimento da pele e mucosas. Transmissão principal: Vetorial, mosquito Lutzomya Protozoários do gênero Leishmania (América: L. Chagasi) Doença de notificação compulsória OBS: A LV que ocorre na Índia e é também conhecida como calazar (kala-azar) significa febre negra, em virtude do escurecimento observado na pele. No Brasil, a LV americana não apresenta esta característica por ser causada por outra espécie de leishmânia. Principais Síndromes da Leishmaniose Reservatórios da doença: Mosquito do gênero Lutzomya Urbano (cães) Silvestres (raposas, lobos) Vetores – Lutzomya Vetor: flebotomíneos A depender de cada região terá nomes diferentes: mosquito-palha, tatuquira, birigui. Picada da fêmea que irá transmitir a doença Geralmente picam ao entardecer (vespertino) Reservatórios Cães (principais reservatórios no ambiente urbano) Silvestres: Roedores, marsupiais, lobos, raposas, cavalos Antigamente sacrificava-se todos os cachorros com calazar. Hoje já existe tratamento para cães com leishmaniose a base da medicação miltefosina. 4 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP PATÓGENO Protozoário do gênero Leishmania Parasita intracelular obrigatório Duas formas de vida no ciclo desse protozoário: Amastigota → é encontrado dentro do tubo digestivo do vetor e no interior dos fagócitos mononucleares (macrófagos) no homem e em outros animais. Promastigota → irá invadir o sistema reticuloendotelial, por isso baço e fígado são os principais órgãos acometidos nas formas graves da doença. As fêmeas do mosquito ingerem macrófagos contendo amastigotas quando se alimentam do sangue de um reservatório contaminado. No intestino da fêmea do mosquito, a Leishmania sofre uma transformação, tomando a forma de promastigotas, que são flagelados e extracelulares; até que, após várias etapas de diferenciação se transformam em metacíclicos infecciosos, que irão migrar para o aparelho bucal do mosquito e são inoculados quando o flebótomo tenta se alimentar novamente. Período de Incubação Bastante variável Homem: varia de 10 dias a 24 meses Cão: 3 meses a vários anos Em relação ao período de transmissibilidade, o vetor poderá se infectar enquanto o parasitismo persistir na pele ou no sangue circulante dos reservatórios. A leishmania causa doenças que podem se apresentar de formas muito distintas, a depender do agente etiológico (subtipo específico de Leishmania) e da resposta imunológica do paciente, sendo classificada como uma antropozoonose que pode se apresentar: Cutânea localizada Cutânea disseminada Cutânea difusa Mucocutânea Leishmaniose visceral 5 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP EPIDEMIOLOGIA A forma visceral também conhecida como calazar, é endêmica em 88 países, incluindo países da África, Ásia, Europa e América Latina. No Brasil, os estados com maiores prevalências de LV são: MG, Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. A doença predomina no meio periurbano. A forma tegumentar é endêmica na América Latina. Brasil, Peru e Bolíviasão responsáveis por 90% dos casos. No Brasil, a maior incidência é na região Norte e Nordeste. No Brasil existem 6 espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão. O mais prevalente é a L. braziliensis. Outras espécies menos comuns são: L. guyanensis, L. lainsoni, L. naiff. Os registros da OMS de 2015 indicam cerca de 200.000 novos casos de LV nesse ano, no entanto, acredita-se que esses dados sejam muito subestimados, uma vez que a LV é uma doença endêmica de áreas pobres, com assistência limitada à saúde e problemas tanto na assistência quanto na notificação da doença, principalmente na África. A LV é uma doença de notificação compulsória no Brasil. Há ainda muitos casos assintomáticos que não são descobertos e notificados. Fatores de risco para infecção entre os moradores das áreas endêmicas são: Idade < 5 anos Coinfecção pelo HIV ou outra forma de imunodeficiência Desnutrição. FISIOPATOLOGIA A infecção é adquirida quando uma fêmea de flebotomíneo inocula promastigotas em uma área exposta da pele, que pode formar um nódulo cutâneo, úlcera ou não ter nada (maioria dos casos). Os parasitas se convertem em promastigotas e se multiplicam no interior de fagócitos mononucleares e se disseminam através dos vasos linfáticos e do sistema vascular para outros fagócitos ao longo de todo o sistema reticuloendotelial. A maioria das infecções serão assintomáticas e autolimitadas, e a menor parte evolui para a leishmaniose visceral clássica (ou calazar). Alguns estudos acreditam que esta susceptibilidade é por uma associação genética entre a leishmania e o gene SLC11A1 (regula a atividade do macrófago); assim como o polimorfismo da IL-4. Sendo que o tipo de resposta imune montada contra o patógeno determina as consequências da infecção: Resposta Th1 consegue conter o processo infeccioso de forma mais adequada, pois eles ativam os macrófagos através de citocinas como IL-12, IFN-gama e TNF-alfa, levando a destruição das formas amastigotas intracelulares. Entretanto, pacientes que secretam IL-10 tem uma resposta Th1 frustrada, evoluindo com uma multiplicação desenfreada do parasita, compondo o quadro clínico no calazar. Mecanismos adaptativos do parasita para impedir o combate efetivo do organismo: A Leishmania reduz a ativação das células T CD4+, reduzindo a reação inflamatória contra a infecção. Além disso, para serem capazes de sobreviverem e se reproduzirem dentro dos macrófagos, as amastigotas impedem a produção de superóxido por parte do macrófago, bem como reduz a produção do óxido nítrico, importantes mecanismos de exposição à radicais livres para combate a microorganismos invasores. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS No Brasil, a LV caracteriza-se por três formas clínicas distintas: Forma assintomática: Corresponde à infecção inaparente e é detectada em indivíduos sem manifestação clínica em inquéritos epidemiológicos ou em áreas de transmissão, pela positividade da intradermorreação (leishmaniose) ou pela presença de anticorpos específicos no soro. 6 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP Os títulos de anticorpos são baixos e podem permanecer positivos por tempo indeterminado. Indivíduos que tiveram LV, foram tratados e se curaram apresentam também positividade do teste intradérmico e anticorpos específicos em títulos baixos. Forma oligossintomática: A sintomatologia dessa forma pode passar despercebida ou ser confundida com outras doenças infecciosas. O paciente, em geral criança, apresenta discreto comprometimento do estado geral. A suspeita clínica baseia-se na história de febre, discreta anemia, diarréia, emagrecimento e adinamia. Em geral, não se relata febre. Hepatomegalia → presente e não ultrapassa 5 cm; Esplenomegalia → é discreta e pode estar ausente. As alterações laboratoriais são pouco evidentes: hemograma normal ou com anemia, velocidade de hemossedimentação elevada e eletroforese de proteína normal. A intradermorreação é geralmente negativa. Os anticorpos anti-leishmânia estão sempre presentes. Na área endêmica, esses quadros de infecção oligossintomática ou subclínica foram observados no acompanhamento prospectivo de criança, após soroconversão. Esses quadros são autolimitados e, em geral, não se indica tratamento. Os sintomas podem persistir por cerca de 3 a 6 meses. A pesquisa dos parasitas em aspirado de medula óssea e cultura em meio NNN tem baixa positividade. Forma clássica: É a doença plenamente manifesta. Instalação insidiosa e a doença, em geral, tem curso crônico. O período inicial também é denominado período agudo e caracteriza-se por febre diária com duração de 15 a 21 dias e estado geral preservado; frequentemente evidenciam-se hepatoesplenomegalia e anemia discretas. Febre: geralmente alta, recorrente e com 2 a 3 picos diários, podendo sofrer períodos de remissão espontânea. Pode ser acompanhada de calafrios e ser seguida de sudorese. Esplenomegalia: devido a hiperplasia de células do sistema reticuloendotelial do baço densamente parasitadas. Anorexia, enfraquecimento e emagrecimento Sinais clínicos de desnutrição grave, como cabelos secos e quebradiços, cílios longos e pele seca. Palidez cutânea que vai se acentuando Aumento progressivo do volume abdominal, referindo desconforto no hipocôndrio esquerdo. Aumento gradativo do tamanho do fígado e sobretudo do baço. Manifestações hemorrágicas e gastrintestinais, respectivamente Epistaxes Gengivorragias Quadros diarreicos Tosse seca: que estaria relacionada à pneumonite intersticial da LV. A sorologia revela presença de anticorpos (>1:4.000) e a intradermorreação (leishmânia) é negativa. A velocidade de hemossedimentação eleva-se (50 mm) e ocorre anemia discreta (Hb > 9 g/dL), além de leucócitos normais com linfomonocitose. A pesquisa de amastigotas em aspirado esplênico ou na medula óssea pode ser positiva, e a cultura em meio NNN é positiva. A duração da sintomatologia na ocasião em que o diagnóstico é realizado é de vários meses, em geral mais de 3 meses de evolução. São observadas pancitopenia e hipergamaglobulinemia. No período final, a forma de apresentação clássica pode evoluir de forma mais grave, chegando a grande esplenomegalia até a cicatriz umbilical e até a fossa ilíaca direita, caquexia pronunciada e anemia intensa. Podem ocorrer as complicações determinantes de óbitos como hemorragias, ascite e icterícia ou infecções bacterianas. 7 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP OBS: A diferença entre alguns pacientes possuírem formas mais simples e outros pacientes formas mais sintomáticas, irá depender da resposta imunológica ao protozoário. Cerca de 40% dos pacientes com LV apresentam algum grau de comprometimento renal, sendo o achado mais comum a presença de proteinúria aumentada. Em uma pequena porção dos pacientes, é detectada também redução da taxa de filtração glomerular. Essas lesões parecem estar relacionadas a uma nefrite intersticial por imunocomplexos. Esse quadro costuma apresentar melhora espontânea com o tratamento da LV. Há associação entre a presença de LV e imunossupressão, com coinfecções bacterianas complicando o quadro clínico. O quadro da LV apresenta alta mortalidade, chegando a 10% mesmo com tratamento adequado, apresentando mortalidade ainda maior em pacientes imunossupressos, principalmente aqueles com HIV, que representam cerca de 6% dos pacientes com LV no Brasil. Leishmaniose Tegumentar Período de incubação: 1-3 meses; A sequência de eventos é a seguinte: 8 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP DIAGNÓTICO Faz-se uma suspeita diagnóstica presuntiva com basena clínica do paciente, sendo mais difícil na fase inicial e em pacientes com AIDS, que apresentam quadro clínico atípico. Pensar sempre em calazar se: FEBRE ASSOCIADA A ESPLENOMEGALIA. PANCITOPENIA: anemia, leucopenia e plaquetopenia. Outro achado clássico: Hipoalbuminemia e Hipergamaglobulinemia (são inespecíficas, porém dentro de um contexto epidemiológico deve-se pensar em leishmaniose visceral) PADRÃO OURO: cultura em meio de NNN A confirmação é feita pela presença dos amastigotas em tecidos ou com o isolamento de promastigotas em cultura. O aspirado do tecido pode ser realizado no baço (padrão ouro), medula óssea (menos sensível: 70%), fígado e linfonodos (quando aumentados). Para a cultura o meio mais utilizado é o NNN, Schneider e LIT, sendo que leva cerca de 5-15 dias para as formas promastigotas se proliferaram e o exame positivar (sensibilidade de 60%). OBS: Geralmente a punção aspirativa do tecido (biópsia) é feito na medula óssea pela facilidade. TP: tempo de protombina Pode-se eventualmente visualizar a Leishmania no esfregaço de sangue periférico, porém é pouco sensível (30%). 9 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP Os testes sorológicos são úteis para triagem e apesar de muito sensíveis, são pouco específicos, ou seja, sempre deve-se confirmar o resultado positivo com a pesquisa direta do parasita. Os testes sorológicos se tornam menos sensíveis naqueles pacientes que apresentam imunodeficiências primárias ou adquiridas. Testes sorológicos: pesquisa de anticorpos contra leishmania Testes moleculares também são utilizados, detectando o DNA da Leishmania, apresentando como vantagem o fato de identificar pacientes imunosupressos. COMPLICAÇÕES Geralmente a imunidade pode cair e essas complicações são secundarias a imunidade baixa. Infecções bacterianas: otites, piodermites, infecção urinaria; Sepse; Hemorragias secundárias e plaquetopenia; Hemorragia digestiva alta (HDA), icterícia: maior gravidade. TRATAMENTO Drogas disponíveis: Anfotericina B lisossomal: é a droga que apresenta maior eficácia e segurança terapêutica. Anfotericina B desoxicolato: essa opção apresenta mais efeitos colaterais, com destaque para a nefrotoxicidade. Glucantine e pentostan: foram usadas por muito tempo como a primeira linha de tratamento para Leishmaniose, no entanto, devido a menor toxicidade da anfotericina, o papel dessas drogas como primeira escolha na monoterapia tem caído. - Alta incidência de flebite e trombose - Risco aumentado de desenvolvimento de pancreatite aguda - Risco de arritmias → monitorização eletrocardiográfica - Náuseas, dor muscular, astenia e cefaleia Paromomicina, miltefosina e isetionato de pentamidina: essas drogas são menos utilizadas do que a anfotericina B e que os pentavalentes antimoniais. A combinação de drogas pode ser necessária em casos de Leishmania resistente, o que não é comum no nosso meio Mecanismo de ação da Anfotericina B A ação clássica da anfotericina B é através da toxicidade contra a membrana celular fúngica, particularmente contra o ergosterol, uma molécula semelhante ao colesterol que compõe a parede celular fúngica. No entanto, no caso da ação da anfotericina B contra a leishmaniose, isso ocorre através de outros mecanismos de ação. Estudos in vitro indicam que a anfotericina B apresenta capacidade de inibir a respiração celular dependente de oxigênio da forma amastigota, aumento da permeabilidade da membrana celular da leishmania causando perda de moléculas importantes para o seu metabolismo. A anfotericina interefere, ainda, com o funcionamento do transporte ativo de substâncias importantes para o metabolismo do protozoário, causando efeitos importantes como redução da eficácia do transporte de glicose do meio extracelular para o meio 10 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP intracelular. Através desse conjunto de ações, a anfotericina B é uma droga que apresenta alta eficácia no tratamento da leishmaniose. INTERNAÇÃO Está indicada, de forma geral, a todos os pacientes com a forma grave de LV; Com alterações laboratoriais que podem ser consideradas como fatores de mau prognóstico em decorrência de risco de infecção ou sangramento, como: Leucopenia menor que 1.000/mL ou neutropenia grave (menor que 500/mm3); Plaquetopenia abaixo de 50.000/mL; Outros achados laboratoriais que também indicam gravidade são: - hemoglobina sérica < 7 g/dL - creatinina > 2x o valor de referência - alteração no coagulograma (atividade de protrombina < 70%) - alteração hepática (bilirrubina total acima dos valores de referência - AST/ALT > 5x o limite superior da normalidade - albumina < 2,5 mg/mL) - exame radiológico de tórax sugestivo de pneumonia. Para perceber se o paciente está melhorando observa-se os critérios de cura: Desaparecimento da febre Melhora o estado geral, aumento do apetite e ganho de peso Recuperação das alterações hematológicas (normalização do número de plaquetas e de leucócitos), melhora da anemia. Redução das “megalias” nas primeiras semanas. A albuminemia eleva-se com a melhora clínica do doente mesmo durante o tratamento, e a hipergamaglobulinemia persiste por várias semanas ou até meses após a cura clínica. A falha terapêutica é definida como a não-melhora dos critérios clínicos e laboratoriais (hematológicos e bioquímicos) durante a reavaliação do paciente no 1º, 3º, 6º e 12º mês de acompanhamento. Seguimento Avaliar 3, 6 e 12 meses após o tratamento Provas sorológicas não são indicadas Deve-se avaliar se melhorou a citopenia, se o baço e fígado voltaram para o tamanho normal e demais critérios clínicos. Controle Redução da transmissão e da letalidade Vigilância e controle de reservatórios Vigilância e controle de vetores Vigilância de casos humanos Educação em saúde 11 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL INTRODUÇÃO No diagnóstico diferencial do calazar clássico, devem ser consideradas as doenças de curso crônico e que apresentem durante a evolução febre e hepatoesplenomegalia, como a histoplasmose, a tuberculose miliar, a toxoplasmose, a endocardite bacteriana e a malária crônica. Deve-se incluir as doenças não transmissíveis como os linfomas e as leucemias, especialmente a mielóide crônica e as colagenoses. No decurso da forma hepatoesplênica da fase crônica da esquistossomose mansônica não ocorre febre. Esta costuma estar presente na forma toxêmica da fase aguda da esquistossomose ou quando se associam outras infecções, como a malária ou o próprio calazar. A enterobacteriose septicêmica prolongada é uma bacteriemia crônica por enterobactérias, principalmente Salmonella, que acomete indivíduos com esquistossomose mansônica especialmente na forma hepatoesplênica, e é uma das principais hipóteses no diagnóstico diferencial de LV. ESQUISTOSSOMOSE Esquistossomose é uma doença causada pelo Schistosoma mansoni, parasita que tem no homem seu hospedeiro definitivo, mas que necessita de caramujos de água doce como hospedeiros intermediários para desenvolver seu ciclo evolutivo. É uma verminose muito relacionada à falta de saneamento básico. ASPECTOS CLÍNICOS Fase Aguda Pode ser assintomática ou apresentar-se como dermatite cercariana, caracterizada por micropápulas eritematosas e pruriginosas, até cinco dias após a infecção. Com cerca de 3 a 7 semanas após a exposição, pode ocorrer a febre de Katayama, caracterizada por linfadenopatia, febre, anorexia, dor abdominal e cefaleia. Esses sintomas podem ser acompanhados de diarreia, náuseas, vômitos ou tosse seca, ocorrendo hepatomegalia. Após seis meses de infecção, há risco do quadro clínico evoluir para a fase crônica. Fase crônica Hepatointestinal Presença de diarreias e epigastralgia. Exame físico: fígado palpável, com nodulações que, nas fases mais avançadas dessa forma clínica, correspondem a áreas de fibrose decorrentes de granulomatose periportal ou fibrose de Symmers. Hepática Assintomática ou com sintomas da forma hepatointestinal. Exame físico: fígado é palpável e endurecido, a semelhança do que acontece na forma hepatoesplênica. Ultrassonografia: presença de fibrose hepática, moderada ou intensa. Hepatoesplênica compensada Característica fundamental: presença de hipertensão portal, levando a esplenomegalia e ao aparecimento de varizes no esôfago. Sinais e sintomas gerais inespecíficos, como dores abdominais atípicas, alterações das funções intestinais e sensação de peso ou desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido ao crescimento do baço. Às vezes, o primeiro sinal de descompensarão da doença é a hemorragia digestiva com a presença de hematêmese e/ou melena. Exame físico: detecta hepatoesplenomegalia. Hepatoesplênica descompensada Considerada uma das formas mais graves. Diminuição acentuada do estado funcional do fígado. 12 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP Essa descompensação relaciona-se a ação de vários fatores, tais como os surtos de hemorragia digestiva e consequente isquemia hepática e fatores associados (hepatite viral, alcoolismo). Período de incubação Em média, 1 a 2 meses após a infecção. ANEMIA FALCIFORME A anemia falciforme é uma anormalidade da hemoglobina, herdada geneticamente, caracterizada por glóbulos vermelhos em forma de foice (meia- lua) e anemia crônica causada por destruição excessiva de glóbulos vermelhos anormais. Piora da anemia, febre e falta de ar com dor nos ossos longos, abdômen e tórax podem indicar crise de anemia falciforme. SINTOMAS Sempre apresentam algum grau de anemia (que geralmente causa fadiga, fraqueza e palidez) e podem ter icterícia (amarelecimento da pele e dos olhos). Algumas pessoas apresentam poucos sintomas adicionais. Outras têm sintomas graves e recorrentes que causam invalidez significativa e morte precoce. Crise de anemia falciforme Devido a redução da quantidade de oxigênio no sangue, como em exercícios vigorosos, escalada, voar a altitudes elevadas sem oxigênio suficiente, ou uma doença. Piora súbita da anemia Dores (com frequência no abdômen ou nos ossos longos dos braços e das pernas) Febre e, às vezes, falta de ar. A dor abdominal pode ser intensa e podem ocorrer vômitos. Às vezes, uma crise de dor vem acompanhada de mais complicações, incluindo: Crise aplásica: a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea para durante a infecção por alguns vírus. Síndrome torácica aguda: causada pelo bloqueio de capilares nos pulmões. Sequestro hepático (do fígado): aumento rápido do tamanho do fígado. COMPLICAÇÕES A maioria das pessoas com anemia falciforme desenvolve aumento do tamanho do baço durante a infância porque as células falciformes ficam aprisionadas no baço. Quando a pessoa atinge a adolescência, o baço está com frequência tão lesionado que encolhe e para de funcionar. Como o baço ajuda a combater infecções, as pessoas com anemia falciforme são mais propensas a desenvolver pneumonia pneumocócica e outras infecções. Infecções, especialmente as virais, podem reduzir a produção de glóbulos vermelhos, de maneira que a anemia se torna mais grave. O tamanho do fígado pode aumentar de modo progressivo ao longo da vida (causando sensação de inchaço na região superior do abdômen) e frequentemente se formam cálculos biliares a partir do pigmento produzido pela fragmentação dos glóbulos vermelhos. O coração geralmente aumenta, e um coração aumentado é menos eficaz para bombear sangue para o corpo, o que leva, possivelmente, à insuficiência cardíaca. Sopros cardíacos são comuns. OUTROS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Dengue Linfoma Tuberculose disseminada Causas Infecciosas: Hepatite viral aguda (vírus da hepatite A, B, C, D e E). https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/icter%C3%ADcia-em-adultos https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-sangue/dist%C3%BArbios-do-ba%C3%A7o/ba%C3%A7o-aumentado https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-do-sangue/dist%C3%BArbios-do-ba%C3%A7o/ba%C3%A7o-aumentado https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-bact%C3%A9rias-gram-positivas/infec%C3%A7%C3%B5es-pneumoc%C3%B3cicas https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-bact%C3%A9rias-gram-positivas/infec%C3%A7%C3%B5es-pneumoc%C3%B3cicas https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/dist%C3%BArbios-da-ves%C3%ADcula-biliar-e-dutos-biliares/c%C3%A1lculos-biliares 13 MARC 10 – Heloísa Paraíso 6ºP Infecções bacterianas: Treponema pallidum (Sífilis), Leptospira (Leptospirose) e Mycobacterium (ou micobactéria, que é um gênero de bactérias de actinobactérias causadora de lepra, tuberculose, linfadenite e outras doenças cutâneas). Por protozoários, devemos nos atentar a acometimentos pelo Toxoplasma gondii (Toxoplasmose) e pelos agentes da Malária. Reacional Dentro desse ramo, algumas situações podem por si só gerar a hepatoesplenomegalia como consequência do próprio processo, como acontece com a disfunção orgânica e o uso de alguns medicamentos ou drogas que são hepatotóxicas. São exemplos dessas drogas: Amoxicilina-clavulanato, Flucloxacilina, Eritromicina, Diclofenaco, Cotrimoxazol, Isoniazida, Dissulfiram e Ibuprofeno. Hepatopatia Dentro das hepatopatias, como já é de se imaginar, a hepatopatia crônica e a cirrose são os principais elementos do conjunto dessas doenças que representam a hepatomegalia. Metabólica Acerca das doenças metabólicas, a mucopolissacaridose (MPS), a amiloidose, as colagenoses e as doenças infiltrativas são as que mais comumente cursam com hepatoesplenomegalia.
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