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História das Relações Internacionais do Brasil

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Letícia Cunha de Andrade Oliveira
 Prof. Enzo Fiorelli Vasques
Colaboradora: Profa. Tânia Sandroni
História das Relações 
Internacionais do Brasil
Professores conteudistas: Letícia Cunha de Andrade Oliveira / 
Enzo Fiorelli Vasques
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Concluiu o bacharelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) em 2011, além de ter mestrado 
pela Universidade de Brasília (UnB), em 2013, e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2019. Na 
graduação, analisou as propostas de reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). 
No mestrado, examinou o desempenho do Brasil no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 
(ODMs). No doutorado, trabalhou com a implementação do Programa Mais Alimentos na África, mais especificamente 
em Moçambique. A partir de 2015, começou a lecionar Comércio Internacional, Integração Regional e Formação 
Política e Econômica do Brasil no curso de Relações Internacionais do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), 
em São José dos Campos. Em 2017, começou a coordenar o curso de Relações Internacionais do campus de São 
José dos Campos da Universidade Paulista (UNIP) e continuou em sala de aula, lecionando Relações Internacionais 
Contemporâneas, História das Relações Internacionais do Brasil, História das Relações Internacionais, Formação 
Econômica do Brasil Contemporâneo e Teoria Contemporânea das Relações Internacionais, entre outras disciplinas. 
Enzo Fiorelli Vasques
É professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP). Autor do livro 
Técnicas de Negociação e Apresentação, pela Pearson Education do Brasil (2014) e coautor, entre outras obras, 
do Manual Prático de Comércio Exterior, 5ª edição, publicado em 2018 pela Editora Atlas. Graduado em Direito e 
especialista em logística empresarial e supply chain. Obteve seu mestrado em Educação Sociocomunitária com o 
trabalho O ensino das Relações Internacionais no Brasil. Além disso, desenvolve negócios internacionais relacionados 
à inserção de produtos manufaturados brasileiros no mercado mundial, principalmente no sudeste asiático, na África 
e na América Latina. É também membro do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri).
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48h Oliveira, Leticia Cunha de Andrade.
História das Relações Internacionais do Brasil / Leticia Cunha de 
Andrade Oliveira, Enzo Fiorelli Vasques. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
164 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Consolidação da independência. 2. Período democrático. 
3. Mundo globalizado. I. Vasques, Enzo Fiorelli. II. Título
CDU 327(091)(81)
U507.82 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Talita Lo Ré
 Elaine Pires
Sumário
História das Relações Internacionais do Brasil
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O BRASIL NOS QUADROS DO COLONIALISMO EUROPEU (1494-1822) .......................................9
1.1 Relações internacionais da América portuguesa .................................................................... 10
1.2 Imperialismo joanino na América do Sul ................................................................................... 14
2 PRIMEIRO REINADO (1822-1831) ............................................................................................................ 22
2.1 A consolidação da independência ................................................................................................. 24
2.2 A Constituição de 1824 ..................................................................................................................... 27
2.3 A defensiva durante o período regencial ................................................................................... 29
3 INTERVENCIONISMO E PRAGMATISMO (1840-1889) ...................................................................... 32
3.1 A definição dos objetivos externos ............................................................................................... 34
3.2 A política intervencionista na América do Sul ......................................................................... 35
3.3 O fim do Império .................................................................................................................................. 40
4 AMERICANISMO E FRUSTRAÇÃO (1889-1930) ................................................................................... 42
4.1 A Constituição de 1891 ..................................................................................................................... 42
4.2 O alinhamento ingênuo ..................................................................................................................... 44
4.3 O alinhamento estratégico da década de Rio Branco ........................................................... 47
4.4 As frustrações da década de 1920 ................................................................................................ 52
Unidade II
5 DESENVOLVIMENTO, AUTODETERMINAÇÃO E LATINO-AMERICANISMO (1930-1961) ...... 60
5.1 O governo varguista ............................................................................................................................ 61
5.2 A Constituição de 1934 e a “Polaca” de 1937 .......................................................................... 70
5.3 O Brasil na Segunda Guerra Mundial ........................................................................................... 77
5.4 O período democrático ...................................................................................................................... 82
6 AUTONOMIA E UNIVERSALISMO (1961-1985) .................................................................................... 95
6.1 O fim do período democrático ........................................................................................................ 95
6.2 O regime militar ..................................................................................................................................103
Unidade III
7 INSERÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO (1985-2010) ......................................................................116
7.1 Sarney .....................................................................................................................................................116
7.2 Constituição de 1988 .......................................................................................................................1217.3 Collor e Franco .....................................................................................................................................123
7.4 FHC: autonomia pela continuidade da abertura ...................................................................128
7.5 Lula ...........................................................................................................................................................131
8 NOVO PADRÃO DE INSERÇÃO INTERNACIONAL PARA O BRASIL (2011-2019) ....................135
8.1 Dilma .......................................................................................................................................................136
8.2 Temer .......................................................................................................................................................144
8.3 Bolsonaro ...............................................................................................................................................146
7
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto tem como objeto de estudo a trajetória histórica, as tendências, as linhas norteadoras 
e as orientações da inserção internacional brasileira. Discutiremos as concepções sobre a natureza e a 
estrutura do sistema internacional, o modo de inserção do país nesse sistema e como a identidade 
nacional se manifesta no cenário internacional.
É importante dizer que a história das relações internacionais de qualquer país se limitava, até a 
primeira metade do século XX, à história das chancelarias, ou seja, a documentos, tratados, cartas e 
trocas oficiais entre as representações no exterior. Foi Pierre Renouvin, fundador da Escola Francesa de 
Relações Internacionais, que revolucionou a área ao publicar sua obra História das Relações Internacionais, 
em 1953. Em sua obra, Renouvin atribuiu aos fenômenos internacionais o que ele chamou de forças 
profundas, explicações que não poderiam ser apreendidas com base na simples leitura de papéis das 
chancelarias, mas a partir de análises mais aprofundadas sobre os processos históricos.
É por isso que neste livro-texto, graças a Renouvin, você vai encontrar explicações mais holísticas 
e aprofundadas para as ações brasileiras no cenário internacional, e não apenas uma releitura de 
documentos trocados entre o governo brasileiro e os governos de outros países, forma como o assunto 
era costumeiramente abordado até a primeira metade do século XX.
Sobre isso, Garcia (2005) explica o seguinte:
O estudo da história das relações internacionais do Brasil vem experimentando 
significativa evolução nos últimos tempos, tanto em termos de conteúdo 
e qualidade quanto de volume da produção historiográfica. Houve um 
momento, porém, para o martírio dos estudantes, em que se acreditava 
suficiente o desfilar de nomes e datas para a compreensão da história 
internacional do país, com pouca ou nenhuma atenção aos condicionamentos 
estruturais e às contradições políticas, ideológicas, econômicas, sociais e 
culturais inerentes às relações internacionais (GARCIA, 2005, p. 7).
A propósito, no fim deste material constam todas as referências bibliográficas utilizadas para 
produzi-lo. Recomendo que você as leia posteriormente, pois é importante que o aluno diversifique 
suas fontes de conhecimento e não fique restrito ao pensamento de um único autor.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO
Este livro-texto reúne em um único e conciso volume a evolução da história das relações internacionais 
do Brasil, desde antes do próprio “descobrimento”, já a partir do Tratado de Tordesilhas, que destinou 
essa terra a Portugal, até os dias atuais, marcados por uma reformulação do paradigma da inserção 
internacional brasileira com a posse de Jair Bolsonaro.
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O material se apoia em obras escritas por autores nacionais e estrangeiros, incluindo desde os 
principais manuais da disciplina, tal como a História das Relações Internacionais, escrita por Francisco 
Doratioto e Carlos Eduardo Vidigal (2014), passando pelas pesquisas mais amplas, tal como a Cronologia 
das Relações Internacionais do Brasil, escrita por Eugênio Garcia (2005), até os documentos primários 
(tratados, leis, constituições etc.)
No entanto, a revisão da literatura feita neste material não tem a pretensão de ser completa: em 
primeiro lugar, em razão dos limitados tempo e espaço da disciplina, com 60 horas de carga horária; 
em segundo lugar, porque descrever e analisar com riqueza de detalhes todo o período de 1492 a 2019 
seria uma longa e exaustiva tarefa que não cabe a esta disciplina, optando-se, então, pela metodologia 
da relevância histórica.
Sobre a dificuldade de empreender uma análise histórica desse porte, Garcia (2005) argumenta que:
O problema é particularmente agravado no período recente, caracterizado 
pela profusão de fatos e iniciativas, nos âmbitos bilateral e multilateral, 
incluindo inúmeras visitas realizadas e recebidas, acordos e tratados, 
reuniões e conferências especializadas, entre outros eventos que apenas 
corroboram a complexidade e universalização crescentes da atividade 
diplomática na segunda metade do século XX. A própria análise histórica do 
período contemporâneo ainda não se encontra consolidada ou é inexistente 
(GARCIA, 2005, p. 7).
Por isso, este livro-texto vai registrar e analisar apenas os fatos mais relevantes e indispensáveis ao 
seu estudo, os quais, pode ter certeza, serão retomados oportunamente por outras disciplinas, visto que 
as Relações Internacionais respiram transdisciplinaridade.
9
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Unidade I
1 O BRASIL NOS QUADROS DO COLONIALISMO EUROPEU (1494‑1822)
No início do século XV, Portugal iniciou pioneiramente a expansão ultramarina, que consistia num 
grande projeto nacional para a descoberta de novas terras ainda não povoadas fora do continente 
europeu. Tal empreendimento envolveu quase todos os segmentos domésticos do país, exceto os 
empresários agrícolas, que viam na saída de braços do país uma contagem regressiva para o aumento 
do preço da mão de obra (FAUSTO, 2013).
Quase cem anos depois, em 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo, a serviço dos reis 
católicos da Espanha, chegou acidentalmente ao continente americano. Sua intenção era chegar às 
Índias, mas acabou aportando na Ilha de San Salvador, nas Bahamas (GARCIA, 2005).
Esse acontecimento abriu uma disputa entre Espanha e Portugal, que naquela altura lideravam as 
Grandes Navegações e se viram, então, diante de um impasse sobre como gerenciar a descoberta dos 
novos territórios na América. Para apaziguar os ânimos, em 1493, o Papa Alexandre VI, a pedido dos reis 
da Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, estabeleceu uma série de divisões que deixaram 
Portugal em desvantagem, pois não haveria novas terras a serem descobertas na parte que lhe caberia 
na “divisão do mundo” (COUTO, 1998).
Após rejeitar os documentos pontifícios, Dom João II decidiu negociar diretamente com Isabel e 
Fernando, do que resultou o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494 e arrancado da Espanha à custa 
de muita estratégia por parte do rei de Portugal, que fortaleceu seu poder de barganha acenando 
positivamente para os inimigos da Espanha – sobretudo para a França, com a qual os espanhóis lutavam 
pela posse de territórios no norte da África (RIBEIRO, 2005).
 Observação
As decisões do Papa Alexandre VI foram firmadas em documentos que 
ficaram conhecidos como Bula Inter Caetera I e Bula Inter Caetera II, às 
quais se seguiram mais três documentos semelhantes antes do Tratado 
de Tordesilhas.
O Tratado de Tordesilhas moveu o meridiano de divisão 270 léguas a oeste, concedendo a Portugal 
todas as terras a leste de um meridiano localizado a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, e 
não mais a 100 léguas a oeste do referido arquipélago, como propunham os documentos nada imparciais 
do Papa Alexandre VI (GARCIA, 2005). Assim, o tratado deu maior margem de manobra a Portugal, 
possibilitando que, de fato, o paísviesse a descobrir e a conquistar novos territórios na América. Porém, 
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Unidade I
ele nunca foi reconhecido pelas demais potências europeias, o que se comprovou quando das incursões 
francesas para piratear o pau-brasil, ocorridas no início do século XVI e em outras ocasiões ao longo dos 
séculos seguintes (FAUSTO, 2013). É nesse contexto que, em 1500, o português Pedro Álvares Cabral, que 
liderava uma frota a caminho das Índias, chegou a Porto Seguro – também por acidente, assim como 
Colombo chegara às Bahamas.
 Observação
Há uma incerteza acerca do verdadeiro propósito de Cabral naquela 
viagem, se ele realmente se dirigia às Índias ou se estava incumbido de 
alguma missão secreta para o mapeamento da costa brasileira.
Com relação a esse tema, uma discussão pertinente ao campo das Relações Internacionais é se uma 
colônia, não sendo um Estado independente, possui relações internacionais com outros atores, sejam 
eles outras colônias ou mesmo Estados que não a metrópole. É seguro dizer que sim, tendo em vista o 
reconhecimento de atores não estatais na teoria das Relações Internacionais, embora essas interações 
ocorram por meio do Estado colonizador, e não de forma autônoma.
Assim, durante todo o período que vai de 1500 a 1822, a inserção internacional do Brasil, enquanto 
colônia de Portugal, se deu, num primeiro momento, por meio do mercantilismo português e, num 
segundo momento, através do liberalismo britânico e do tráfico negreiro, já que a colônia recebia 
escravos vindos do continente africano (VIZENTINI, 2015).
 Observação
É apenas por força de hábito que ainda se utiliza a expressão descobrir 
para o caso do Brasil, visto que, como se sabe, já existia uma população 
indígena no nosso território antes da chegada dos portugueses.
1.1 Relações internacionais da América portuguesa
A história do Brasil Colônia é dividida em três períodos, cronologicamente desproporcionais entre si:
• de 1500 a 1549, quando havia o governo-geral para promover o reconhecimento e a posse do 
novo território, além de um escasso comércio, fundado na extração de madeira nativa;
• de 1549 até as últimas décadas do século XVIII, quando houve a consolidação da colonização;
• das últimas décadas do século XVIII até 1822, quando um conjunto de transformações internas 
e externas deram origem à crise do sistema colonial e aos movimentos de independência 
(FAUSTO, 2013).
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11
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
De 1500 a 1535, Portugal se limitou a explorar o pau-brasil da colônia recém-descoberta, recorrendo, 
para isso, ao trabalho indígena, que era prestado na medida em que os portugueses concordavam em 
dar pequenos agrados sem valor (tecidos, armas brancas de pequeno porte, quinquilharias etc.) como 
forma de pagamento pela mão de obra dos índios (FAUSTO, 2013).
Quando o pau-brasil acabou, a Coroa se viu diante de um problema, pois não sabia como zelar 
por um território de tamanha proporção sem possibilidades imediatas de geração de renda ou tinha 
condições financeiras para tanto. Por isso, Portugal iniciou o empreendimento açucareiro com o objetivo 
de gerar renda para a própria manutenção do processo colonizador (FURTADO, 2007).
Interessante pontuar que na América espanhola os metais preciosos foram descobertos precocemente, 
ao passo que na América portuguesa esses recursos só seriam descobertos a partir do século XVII, o que 
obrigou Portugal a inovar, investindo na indústria açucareira, e deixou a Espanha acomodada por um 
longo tempo (FURTADO, 2007).
Assim, em 1535, Portugal iniciou o cultivo de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil, empresa que, 
segundo Furtado (2007), prosperou no país em virtude de quatro fatores:
• Portugal possuía conhecimento técnico na produção de açúcar e detinha quase que exclusivamente 
os equipamentos voltados para esse tipo de atividade;
• a experiência comercial dos holandeses ajudou Portugal, já que nessa época eles eram o único povo 
que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes proporções 
para um produto tão novo quanto o açúcar;
• a capacidade econômica dos holandeses também foi essencial, visto que seus capitalistas não se 
limitaram a financiar a refinação e a comercialização do produto, mas também participaram do 
financiamento das instalações produtivas na colônia e do financiamento da importação da mão 
de obra escrava;
• o uso de mão de obra escrava negra resolveu o problema da escassez de braços tanto em Portugal 
quanto no Brasil.
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a formação 
econômica do Brasil, leia a obra indicada a seguir.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2007.
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12
Unidade I
Assim, é possível dizer que, durante o ciclo do açúcar, as relações internacionais da colônia se 
resumiram a Portugal, à Holanda e ao continente africano. Porém, de 1580 a 1640, diante da morte 
do jovem rei Sebastião, de Portugal, e de uma crise de sucessão – já que, devido à tenra idade, o rei 
não deixara filhos –, houve uma união dinástica entre Portugal e Espanha, a chamada União Ibérica, 
quando o rei da Espanha se tornou também o rei de Portugal. A partir daí, Portugal, em consequência 
da união com a Espanha, passou a manter relações conflituosas com a Holanda, que já possuía 
relações ruidosas com os espanhóis (FAUSTO, 2013).
 Observação
É equivocado falar em ciclos da economia do Brasil colonial já que, 
mesmo que uma atividade predominasse durante certo período, dela 
surgiam atividades secundárias que depois, dado o declínio daquela 
atividade principal, continuavam se desenvolvendo. Por exemplo, a 
indústria açucareira incentivou a produção alimentícia e a pecuária para 
suprir as necessidades dos trabalhadores envolvidos com a plantação de 
cana-de-açúcar, as quais ganharam mais atenção com o posterior declínio 
dessa monocultura.
A expulsão dos holandeses trouxe consequências sérias para o Brasil. Até aquele momento, a colônia 
detinha o monopólio da indústria açucareira, porém, expulsos do Brasil, os holandeses foram investir na 
monocultura do açúcar nas Antilhas, que logo prosperou e quebrou o monopólio brasileiro, fazendo com 
que os preços do produto despencassem no mercado internacional. Ali, o Brasil passou por sua primeira 
crise econômica (FURTADO, 2007).
A figura a seguir mostra uma charge referente ao episódio de expulsão dos holandeses do Brasil.
Figura 1 – Charge
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13
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
O declínio da atividade açucareira na década de 1650 deixou a colônia órfã de uma atividade 
econômica principal. Isso durou até a década de 1690, quando foram descobertas as primeiras jazidas 
de ouro em Minas Gerais, o que atraiu grande fluxo populacional para aquela região e possibilitou 
que a política mercantilista de Portugal fosse colocada em prática (GARCIA, 2005). A partir daí, as 
relações internacionais da colônia passaram a se restringir única e exclusivamente a Portugal, embora o 
continente africano continuasse exportando mão de obra escrava para o Brasil (FAUSTO, 2013).
O mercantilismo não deve ser encarado como uma teoria econômica, mas como um 
receituário de normas de política econômica que parte do princípio de que não há ganho para 
um Estado sem prejuízo de outro – ou seja, essa prática deve necessariamente resultar num 
jogo de soma zero, cabendo o papel de vencedor à Coroa e o de perdedor à colônia (RIBEIRO, 
2005). No mercantilismo, as vantagens da Coroa (como a acumulação de metais preciosos) 
e as desvantagens da colônia (à colônia cabia exportar matéria-prima e importar produtos 
manufaturados, valendo o contrário para a Coroa) eram regras gerais.
No mercantilismo português, criou-se ainda o exclusivo colonial, segundo o qual o Brasil só poderiacomercializar seus produtos no mercado português, obrigação que o Marquês de Pombal tentou 
assegurar firmemente num momento em que as práticas mercantilistas já eram colocadas em dúvida 
no resto da Europa. Assim, Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e 
a Companhia de Pernambuco e Paraíba, em 1755, com o objetivo de intermediar a venda dos produtos 
coloniais para a Coroa (FAUSTO, 2013).
Porém, quem de fato usufruía do exclusivo colonial era a Grã-Bretanha, pois Portugal se submetia 
cada vez mais ao poderio britânico, perpetuando uma relação assimétrica por meio da qual a Coroa lusa 
se tornava cada vez mais dependente e, assim, ia perdendo seu poder de barganha.
Sobre isso, Fausto afirmou o seguinte:
Ao longo do século XVII, a Coroa seria levada a estabelecer relações 
desiguais com uma das novas potências emergentes: a Inglaterra. 
Dessas condições resulta que o “exclusivo” colonial luso oscilou de 
acordo com as circunstâncias, ficando entre a relativa liberdade e um 
sistema centralizado e dirigido, combinado com concessões especiais. 
Essas concessões representavam, no fundo, a participação de outros 
países no usufruto da exploração do sistema colonial português 
(FAUSTO, 2013, p. 52).
Essa assimetria foi selada em 1703, quando Portugal e Grã-Bretanha firmaram o Tratado de Methuen, 
segundo o qual, em caráter perpétuo, caberia a Portugal a compra de tecidos ingleses em troca da venda 
de vinhos portugueses para a Grã-Bretanha com taxas de importação mais baixas. Mas foi apenas a 
partir do século XIX, com a vinda da família real para o Brasil, que a Grã-Bretanha passaria de fato a tirar 
mais proveito da colônia do que a própria Coroa lusa (GARCIA, 2005).
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14
Unidade I
A aproximação entre Portugal e Grã-Bretanha não se deu por empatia, mas pelo fato de Portugal não 
conseguir se defender sozinho da França e da Espanha, nações com as quais vinha mantendo relações 
cada vez mais conflituosas. Assim, Portugal estabelecia essas relações especiais com a Grã-Bretanha em 
troca da ajuda na defesa contra os vizinhos europeus. Quando se efetivou essa aproximação, não só 
Portugal sofreu o peso da assimetria, mas também o Brasil (FAUSTO, 2013).
Ademais, a crise do Antigo Regime, por um lado, e a crise do antigo sistema colonial, por outro, 
enfraqueciam o mercantilismo português, fadado à insustentabilidade de uma forma ou de outra, 
tendo em vista o caráter não renovável de recursos como metais preciosos, subordinando cada vez mais 
Portugal ao capitalismo britânico (VIZENTINI, 2015).
Portanto, durante quase toda a vigência do período colonial, até pouco antes da vinda da família 
real portuguesa, as relações internacionais do Brasil se deram através de sua inserção no colonialismo 
europeu, tendo como porta de entrada Portugal, mas não se restringindo a ele, já que Portugal dependia 
de alguns vizinhos. E isso não poderia ser diferente, posto que, mesmo antes da existência da sociedade 
internacional europeia – nascida no século XIX por meio do Congresso de Viena e com o advento do 
Concerto Europeu –, os países europeus já difundiam, através da colonização, seus valores, suas normas, 
suas práticas, seus costumes e suas instituições pelo mundo, das quais o Brasil não logrou (e nem 
poderia lograr) se distanciar (SARAIVA, 2007).
1.2 Imperialismo joanino na América do Sul
É conhecida como período joanino do Brasil colônia a fase em que a família real portuguesa 
esteve no Brasil. A vinda da corte portuguesa foi precipitada por Napoleão Bonaparte, rei da França, 
que estava em guerra contra a Grã-Bretanha e a França. No afã de isolar a Grã-Bretanha, Bonaparte 
decretou um bloqueio comercial entre os britânicos e o resto do continente europeu, ao que Portugal 
resistiu – não por opção, mas por necessidade, uma vez que os britânicos eram os únicos aliados que 
lhe restavam. Em 1807, para fechar a brecha aberta por Dom João VI, Bonaparte enviou suas tropas 
para Portugal, com o objetivo de ocupar Lisboa (SARAIVA, 2007).
É interessante pontuar que essa marcha sobre Lisboa foi possível porque França e Espanha assinaram 
o Tratado de Fontainebleau, que previa a invasão e a partilha de Portugal, bem como a divisão de suas 
colônias entre os dois países (GARCIA, 2005).
Em meio às ameaças francesas e à impossibilidade de continuar declarando neutralidade em relação 
às Guerras Napoleônicas, Dom João VI não hesitou em refugiar-se na sua colônia preferida com toda 
a família e o aparelho burocrático que compunha o Estado português (ministros, juízes, militares e até 
membros do alto clero) (FAUSTO, 2013).
Não demorou para que concedesse mais aos britânicos, pois, assim que chegou ao Brasil, ainda 
no estado da Bahia, Dom João decretou a abertura dos portos do Brasil às “nações amigas”, ou seja, à 
Grã-Bretanha, decisão que pôs fim a 300 anos de sistema colonial e que extinguiu de vez o exclusivo 
colonial (GARCIA, 2005).
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
 Observação
Quando da vinda da corte portuguesa ao Brasil, houve muita confusão 
no embarque: uma tempestade dividiu a frota, faltou água e comida devido 
à superlotação dos navios, a troca de roupas foi improvisada com roupas de 
cama fornecidas pela Marinha inglesa e uma infestação de piolhos obrigou 
as mulheres a raspar a cabeça.
A seguir temos uma charge abordando a abertura dos portos brasileiros às nações amigas.
Figura 2 – Charge
Dom João VI ainda revogou os decretos que proibiam a instalação de manufaturas na colônia, 
isentou de tributos a importação de matérias-primas destinadas à indústria, ofereceu subsídios para 
as indústrias de lã, de seda e de ferro, além de encorajar a invenção e a introdução de novas máquinas. 
Tais decisões foram ruins para Portugal – boas para a Grã-Bretanha, que teria mais mercado para 
consumir seus produtos – e teriam sido boas para o Brasil caso o país realmente tivesse tido a chance de 
industrializar-se, mesmo que minimamente (essas medidas perderam valor após os tratados assinados 
entre Portugal e Grã-Bretanha, em 1810) (FAUSTO, 2013).
Strangford, general britânico responsável pela missão de escoltar a família real ao Brasil, registrou 
em comunicação oficial que a Grã-Bretanha ficaria em posição de estabelecer com a colônia uma 
relação de soberano e súdito, além de poder exigir obediência em troca de proteção (GARCIA, 2005). 
Assim, não restam dúvidas de que as nações amigas se resumiam à Grã-Bretanha.
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Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre essa fase da nossa história, assista ao filme 
indicado a seguir.
CARLOTA Joaquina. Dir. Carla Camurati. Brasil: Copacabana Filmes e 
Produções, 1995. 100 min.
Mas conhecer os motivos que levaram a Coroa a vir para o Brasil não ajuda na compreensão do 
processo histórico como um todo. Afinal, por que havia tanta turbulência política na Europa nos últimos 
decênios do século XVIII e como isso causou impacto em uma colônia que estava a léguas e léguas de 
distância, em outro continente? Bom, tudo começou com a crise do Antigo Regime.
Desde o início do século XVI, existia um conjunto de monarquias absolutas vigentes na Europa, 
as quais compunham o chamado Antigo Regime, um sistema social e político caracterizado pelo 
centralismo, pelo absolutismo, pela rígida hierarquia entre classes sociais, pelos privilégios concedidos à 
aristocracia e pela concentração do poder nas mãos do rei (HOBSBAWM, 1982).
Desafiando a estrutura do Antigo Regime, surgiram as ideais do pensamento ilustrado e, como 
desdobramento, as ideias do liberalismo político e econômico. Nesse contexto, autores como Montesquieu, 
Voltaire, Rousseau e outros começaram a discutir o princípio da razão:
Os pensadores ilustrados, homens como Montesquieu, Voltaire, Diderot e 
Rousseau, apesar de divergirem muito entre si, tinham como ponto comum 
o princípio da razão. Segundo eles, pela razão atingem-se os conhecimentos 
úteis ao homeme por meio dela podemos chegar às leis naturais que regem 
a sociedade. A missão dos governantes consiste em procurar a realização do 
bem-estar dos povos, pelo respeito às leis naturais e aos direitos naturais de 
que os homens são portadores. O não cumprimento desses deveres básicos 
dá aos governos o direito de insurreição (FAUSTO, 2013, p. 93).
Dessas discussões, surgiu ainda o pensamento liberal. Politicamente, o liberalismo defendia o direito 
de representação dos indivíduos, conferindo menor importância ao poder dos reis, os quais deveriam 
governar conforme critérios acordados pelos indivíduos e reunidos no que se chamou de constituição. 
Economicamente, o liberalismo defendia o princípio de não intervenção do Estado na vida em sociedade 
e, sobretudo, na vida econômica da nação (FAUSTO, 2013).
Na Europa, o liberalismo acabou por abalar o Antigo Regime ao questionar os privilégios da 
aristocracia e a monarquia absoluta, representando a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia 
enquanto polo de poder na configuração social. Isso significa que, embora a princípio o regime 
monárquico tenha resistido à crise do Antigo Regime em muitos países, os aristocratas caíram, 
cedendo lugar aos burgueses, que herdariam seus privilégios. Em outras palavras, a estrutura foi 
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
relativamente mantida, tendo sido alterados os atores envolvidos naquela estrutura marcadamente 
corporativista (HOBSBAWM, 1982).
 Observação
O fim da aristocracia e a ascensão da burguesia enquanto classe dirigente 
representaram um processo complexo, com particularidades próprias em 
cada caso, daí não podermos reduzir a queda do Antigo Regime a uma 
simples troca de bastões.
A França foi o berço dessa transformação: vivenciou a Revolução Francesa de 1789 a 1792, pondo 
fim à monarquia, proclamando a república e executando o rei Luís XVI. Já a Grã-Bretanha passou por 
outra transformação: viu a Revolução Industrial possibilitar o uso de novas fontes de energia, a invenção 
de máquinas, o desenvolvimento agrícola e o controle do comércio internacional (FAUSTO, 2013).
Assim, esses dois países acabaram exportando a revolução para o mundo: a França soprou os 
ventos do liberalismo político (preocupando o resto da Europa), e a Grã-Bretanha soprou os ventos do 
liberalismo econômico (forçando o mundo ao livre-comércio, abandonando os princípios mercantilistas, 
pressionando pela abolição da escravatura, provocando rachaduras cada vez maiores no sistema colonial 
e, ao mesmo tempo, protegendo o seu próprio mercado e o de suas colônias) (HOBSBAWM, 1982).
Na América, o liberalismo justificou as tentativas de reforma, o direito de reivindicação dos povos 
colonizados e a tendência a reduzir ou a eliminar a escravidão (processo iniciado pelos franceses e 
principalmente pelos britânicos com o objetivo de ampliar os mercados consumidores, o que só poderia 
se dar a partir da remuneração dos trabalhadores, de modo que eles pudessem gastar seus salários, 
fazendo com que a economia fosse alimentada e crescesse) (FAUSTO, 2013).
Em 1776, os Estados Unidos se tornaram independentes da Grã-Bretanha, e os movimentos rebeldes 
nas colônias espanholas e portuguesas tomaram forma. No entanto, os negócios do mercado negreiro 
não recrudesceram, pelo contrário, o tráfico negreiro aumentou nesse período, pois representava uma 
alternativa para burlar as tentativas britânicas de abolir a escravidão (FAUSTO, 2013).
E foi nesse contexto que Napoleão teve grande influência na Primeira República Francesa ao 
empreender as Guerras Napoleônicas, fechar o cerco contra os vizinhos europeus, sobretudo a 
Grã-Bretanha, e precipitar a vinda da família real portuguesa ao Brasil. 
A mudança da Coroa lusa trouxe mudanças para o Brasil. Em primeiro lugar, Portugal firmou dois 
tratados com a Grã-Bretanha em 1810, o de Aliança e Amizade, que envolvia predominantemente 
questões políticas, e o de Comércio e Navegação, que tratava basicamente de questões comerciais. 
Os termos de ambos os acordos selaram a subordinação de Portugal à Grã-Bretanha e reafirmaram 
tratados anteriores, inclusive o Tratado de Methuen (GARCIA, 2005).
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Unidade I
O Tratado de Aliança e Amizade simbolizou o compromisso português de promover a abolição da 
escravatura de forma gradual e proibiu a implantação da Inquisição no Brasil (GARCIA, 2005).
Um ponto do Tratado de Aliança e Amizade que merece destaque é a reiteração da garantia de 
proteção para Portugal. Sobre isso, o Tratado estabelecia o seguinte:
Artigo II. As duas Altas Partes Contratantes obrarão sempre de comum 
acordo para a preservação da paz e tranquilidade, e caso que alguma 
delas seja ameaçada de um ataque hostil por qualquer potência, a outra 
empregará os mais eficazes e efetivos dos ofícios, tanto para procurar 
prevenir as hostilidades como para obter ajuda completa e satisfação em 
favor da parte ofendida (SOARES, 2015, p. 40).
Outro ponto do Tratado de Aliança e Amizade que também merece destaque é a questão do novo 
tratamento que deveria ser dado à escravidão negra. Sobre isso, o Tratado estabelecia o seguinte:
Artigo X. Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, estando 
plenamente convencido da injustiça e má política do comércio de escravos 
e da grande desvantagem que nasce da necessidade de introduzir e 
continuamente renovar uma estranha e fictícia população para entreter o 
trabalho e indústria nos seus domínios no Sul da América, tem resolvido de 
cooperar com Sua Majestade Britânica na causa da humanidade e justiça, 
adotando os mais eficazes meios para conseguir em toda extensão dos 
seus domínios uma gradual abolição do comércio de escravos (SOARES, 
2015, p. 41).
Vale pontuar que uma cláusula adicional ao Tratado de Aliança e Amizade concedeu aos ingleses o 
direito de visita a navios suspeitos de transportar escravos. Porém, nada disso impediu o tráfico, que se 
intensificou no início de 1820 e passou a ser motivo de conflito entre o governo da Grã-Bretanha e os 
setores dominantes no Brasil (FAUSTO, 2013).
Algumas partes do documento demonstram que a Grã-Bretanha impôs tratamento especial a 
Portugal. Por exemplo, sobre a exclusividade britânica para explorar madeira, o Tratado estabelecia 
o seguinte:
Artigo VI. Há por bem conceder à Sua Majestade Britânica o privilégio de 
fazer comprar e cortar madeiras para a construção de navios de guerra, nos 
bosques, florestas e matas do Brasil excetuando florestas Reais que são para 
uso da Marinha Portuguesa [...]. E expressamente se declara e promete que 
estes privilégios não são concedidos a nenhuma outra Nação ou Estado, seja 
qual for [...] (SOARES, 2015, p. 15).
Já o Tratado de Navegação e Comércio concedeu privilégios alfandegários para os produtos 
britânicos, o que significou na prática uma taxa de 15% sobre o valor do produto para a Grã-Bretanha 
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
contra 16% para Portugal e 24% para os demais países. Permitiu ainda o acesso irrestrito de 
navios de guerra britânicos aos portos portugueses e concedeu extraterritorialidade judicial para 
os súditos britânicos no Brasil, sem reciprocidade (estabelecimento do juiz conservador da nação 
inglesa) (GARCIA, 2005).
Um ponto do tratado que merece destaque é a questão da extraterritorialidade. Sobre isso, o tratado 
estabelecia o seguinte:
Artigo X. Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, desejando 
proteger e facilitar em seus domínios o comércio dos vassalos da 
Grã-Bretanha, há por bem conceder-lhes o privilégio de nomearem 
e terem magistrados especiais para obrarem em seu favor como juízes 
conservadores [...] (SOARES, 2015, p. 41).
Essa manobra permitiu aos britânicos a conquista do direito de extraterritorialidade, ou seja, 
garantiu aos súditos ingleses em domínios portugueses o direito de julgamento por juízes ingleses. 
Essa determinação em especial mostrou mais do quequalquer outra que Portugal perdera parte de sua 
soberania para entregá-la à Grã-Bretanha.
 Observação
Os tratados são considerados fontes primárias de pesquisa e sua análise 
consiste em técnica muito comum entre os historiadores, usada em menor 
escala entre os profissionais de Relações Internacionais.
É curioso notar que, embora a Coroa permitisse a instalação de manufaturas no Brasil desde 1808, o 
Tratado de Comércio e Navegação dificultou seu desenvolvimento, pois a tarifa mais baixa para produtos 
britânicos tornava mais vantajosa a importação, já que os produtos da Grã-Bretanha chegavam ao 
Brasil com preço mais acessível do que se fossem produzidos aqui.
 Observação
A vinda da família real mudou a vida no Rio de Janeiro: ampliou-se 
o acesso aos livros, um jornal passou a ser editado na colônia, e teatros, 
bibliotecas e academias literárias e científicas foram abertas. Ademais, 
vieram ao Brasil cientistas e artistas estrangeiros, como Saint-Hilaire, 
Montigny, Taunay e Debret.
A figura a seguir satiriza a entrada maciça de produtos ingleses no Brasil após a assinatura por Dom 
João VI do Tratado de Comércio e Navegação de 1810.
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Unidade I
Figura 3 – Charge
Mas o círculo de convivência de Portugal nesse período não ficou restrito à Grã-Bretanha. Outra 
consequência da vinda da família real foi a transferência dos conflitos com os vizinhos europeus para as 
colônias europeias. Dom João VI concentrou seus esforços na Colônia de Caiena, pertencente à França, 
e no rio da Prata, especificamente na Banda Oriental (atual Uruguai), onde espanhóis e portugueses já 
estavam em conflito desde os últimos decênios do século XVII (VINHAS, 2013).
Na Colônia de Caiena, Dom João VI encontrou uma chance de vingança contra a França pela invasão 
de Portugal. Em 1809, ele ordenou a ocupação da Colônia de Caiena por forças expedicionárias brasileiras, 
no que contou com o apoio britânico. O território foi colocado sob a administração do desembargador 
João Severiano Maciel da Costa, que desenvolveu na região o comércio e a agricultura, importou gado 
de Marajó e organizou os serviços alfandegários (GARCIA, 2005).
Em 1815, com o cessar fogo na Europa, a posse da Colônia de Caienas foi reclamada pela França e, 
no mesmo ano, Luís XVIII levou a reivindicação ao Congresso de Viena. Ficou estabelecido que a Colônia 
de Caiena fosse devolvida à França, respeitando as antigas demarcações de fronteira vigentes antes da 
invasão portuguesa. Então, em 1817, foi assinada a Convenção entre Dom João VI e Luís XVIII restituindo 
Caiena à França (VINHAS, 2013).
Sobre isso, a Convenção disse o seguinte:
Artigo I. Sua Majestade Fidelíssima, achando-se animada do desejo de 
pôr em execução o Artigo CVII do Ato do Congresso de Viena, obriga-se a 
entregar a Sua Majestade Cristianíssima, no prazo de três meses, ou antes se 
for possível, a Guiana Francesa até o rio do Oiapoque [...] 
Artigo II. Ambas as partes procederão imediatamente à nomeação de expedição 
de Comissários para fixar definitivamente os limites das Guianas Portuguesa 
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
e Francesa [...] Artigo III. As fortalezas, arsenais e todo o material militar serão 
entregues a Sua Majestade Cristianíssima [...] (SOARES, 2015, p. 44).
Já no rio da Prata, Dom João VI viu uma oportunidade. Após invadir a Espanha, em 1808, no contexto 
das guerras, Napoleão impôs seu irmão José Bonaparte no trono espanhol. Como o governante legítimo 
da Espanha, o rei Fernando VII, estava em cativeiro, sua irmã, Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, 
iniciou negociações com o objetivo de assumir ela própria a regência da Espanha no rio da Prata. Porém, 
a Grã-Bretanha se opôs a esses planos (GARCIA, 2005).
Em 1811, o Paraguai declarou sua independência da Espanha, se desligou também de Buenos Aires 
e fez ruir o Vice-reino do Prata. Nesse contexto, Dom João VI promoveu duas intervenções na Banda 
Oriental do Prata, com o objetivo de anexá-la. A primeira intervenção, na Banda Oriental do Prata, 
ocorreu ainda em 1811, em consonância com os planos da esposa (embora não confiasse nela e achasse 
que ela tendia mais aos interesses espanhóis) e também em razão dos metais preciosos que haviam sido 
descobertos na região; a segunda intervenção aconteceu em 1817. Assim, em 1821, a Banda Oriental foi 
incorporada ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves com o nome de Província Cisplatina (GARCIA, 
2005). Mas essa questão não se resolveria tão cedo e ainda despertaria muitos conflitos na região, 
assunto de que trataremos mais adiante.
Conflitos à parte, o Brasil deixou de ser colônia, pelo menos oficialmente, em 1815, quando Dom 
João VI determinou a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Mesmo após o 
fim do Pacto Colonial em 1808, o Brasil continuava sendo colônia, tão dependente juridicamente quanto 
as colônias africanas, mas, com essa nova classificação, passava a ter os mesmos direitos que Portugal. Mas 
essa decisão, de elevar o Brasil a reino unido, foi uma estratégia de Portugal (FAUSTO, 2013).
Dom João VI não possuía mais motivos concretos para continuar no Brasil, pois Portugal se encontrava 
livre da ameaça francesa desde 1815, que havia sido contida pelos países europeus. Enquanto a corte 
esteve na colônia, o Brasil ganhou importância de reino e mais expressividade econômica, o que poderia 
significar a sua independência caso a Coroa voltasse para Portugal. Para evitar esse desfecho, Portugal 
transformou o Brasil em parte do Reino, eliminando, assim, as possibilidades de revolução para a 
independência política (VINHAS, 2013).
Em 1818, Dom João VI foi formalmente aclamado rei no Rio de Janeiro, pois D. Maria I falecera dois 
anos antes, passando seu cargo oficialmente ao até então príncipe regente, seu filho. Esse episódio gerou 
descontentamento em Portugal, pois Dom João VI dava a entender que não voltaria a Lisboa, posto que ainda 
estava no Brasil mesmo após a prisão de Napoleão e o fim da ameaça francesa na Europa. Foi apenas com a 
Revolução do Porto, em 1820, que se deu a volta da Corte a Portugal. Tal revolução, de caráter liberal, exigiu 
o retorno do rei e a adoção de uma constituição que limitasse seus poderes absolutistas (FAUSTO, 2013).
Sobre a Revolução do Porto, Fausto (2013) afirmou o seguinte:
Em agosto de 1820, irrompeu em Portugal uma revolução liberal inspirada nas 
ideias ilustradas. Os revolucionários procuravam enfrentar um momento de 
profunda crise na vida portuguesa. Crise política, causada pela ausência do rei 
22
Unidade I
e dos órgãos de governo; crise econômica, resultante em parte da liberdade de 
comércio de que se beneficiava o Brasil; crise militar, consequência da presença 
de oficiais ingleses nos altos postos do Exército e da preterição de oficiais 
portugueses nas promoções. Basta lembrar que, na ausência de Dom João, 
Portugal foi governado por um conselho de regência presidido pelo marechal 
inglês Beresford. Depois da guerra, Beresford se tornou o comandante do 
Exército português (FAUSTO, 2013, p. 112).
A Revolução do Porto foi um movimento ambíguo, pois era liberal, no sentido de enxergar o 
anacronismo da monarquia, e conservador, no sentido de exigir que o Brasil voltasse a se subordinar 
integralmente a Portugal. No fim das contas, Dom João acabou voltando por receio de perder o trono, 
deixando Pedro I, seu filho, como substituto, na figura de príncipe regente do Brasil (GARCIA, 2005).
Nesse momento, ter sido elevado à condição de reino junto a Portugal e a Algarves não mudou a 
situação brasileira na prática. Quando Dom Pedro I deu indícios de que não conseguiria lidar de maneira 
autoritária com as reivindicações liberais aqui existentes, como era a vontade da coroa, foi convocado a 
voltar a Lisboa imediatamente, ordem a que não atendeu. O que o príncipe regente fez, em lugar disso, 
foi proclamar a República e assumir o cargo de imperador do Brasil, iniciando o período conhecido comoPrimeiro Reinado, que perdurou de 1822 a 1831 (FAUSTO, 2013).
Portanto, durante o período joanino as relações internacionais do Brasil mudaram de direção, visto 
que a subserviência em relação a Portugal foi substituída pela subserviência em relação à Grã-Bretanha. 
Todavia, o Brasil também viu a proatividade portuguesa quando das incursões no rio da Prata e na 
Caiena, que pouco tiveram a ver com os britânicos (a Grã-Bretanha, na verdade, chegou a desestimular 
Portugal no tocante a esses avanços expansionistas em territórios espanhol e francês).
2 PRIMEIRO REINADO (1822‑1831)
Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer formalmente a independência do Brasil, o 
que aconteceu em maio de 1824. Naquele ano, José Silvestre Rebelo foi aceito como encarregado de 
negócios em Washington e, no ano seguinte, Condy Raguet foi nomeado representante diplomático no 
Brasil (RICÚPERO, 2011).
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a presença 
estadunidense no Brasil, leia a obra indicada a seguir.
BANDEIRA, L. A. M. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
A Grã-Bretanha já reconhecia informalmente a independência do Brasil, mas demorou a fazê-lo 
formalmente e não por acaso, mas com vistas a pressionar o país pela imediata extinção do tráfico de 
escravos em seu território. Quando a Grã-Bretanha finalmente reconheceu a independência, em outubro 
de 1825, forçou a assinatura, pelo Brasil, de um tratado de comércio e abolição do tráfico de escravos. 
No entanto, esse tratado acabou não sendo ratificado porque o texto não renovava o mecanismo de 
extraterritorialidade britânica, negava o direito de visita a navios suspeitos e era brando quanto a vantagens 
comerciais. Mas, nos anos seguintes, o Brasil viria a assinar tratados que versavam sobre esses mesmos 
assuntos com a Grã-Bretanha, em um deles, inclusive, a recém-independente nação renovou o percentual 
de 15% de imposto de importação para produtos britânicos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
De todo jeito, nesse meio-tempo, os britânicos serviram como mediadores no reconhecimento da 
nova nação por Portugal, que impôs certas condições antes dessa formalização (FAUSTO, 2013).
O reconhecimento de Portugal veio em agosto de 1825, por um tratado em que o Brasil 
concordou em compensar a Coroa com dois milhões de libras e em não permitir a união de qualquer 
outra colônia com o Brasil. A indenização deu origem a um dos primeiros empréstimos externos 
contraídos pelo Brasil no exterior, empréstimo que foi feito em um banco de Londres. A preocupação 
acerca da união do Brasil com qualquer outra colônia portuguesa advinha do temor, por parte de 
Portugal, de que esse relacionamento viesse a influenciar novos processos de independência na 
África (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Ainda em 1825, México, França e Áustria reconheceram a independência do Brasil, seguidas por 
Suécia, Santa Sé, Suíça, Países Baixos, Prússia e Rússia nos dois anos seguintes. É válido dizer que as 
nações europeias também exigiram do Brasil o imposto de importação de 15% como condição para o 
reconhecimento da independência, ao que Dom Pedro cedeu, comprometendo as finanças do império 
nos dez anos seguintes (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Já a Espanha só cedeu ao reconhecimento em 1835, dois anos após a morte do rei Fernando VII, 
obstinado opositor do reconhecimento da independência dos países da América Latina, o que também 
incluía o Brasil (GARCIA, 2005). Assim, durante todo o período que vai de 1822 a 1831, a inserção 
internacional do Brasil, já independente politicamente de Portugal, mas ainda muito dependente 
economicamente da Grã-Bretanha, se deu a partir das condições impostas pelas nações europeias em 
troca do reconhecimento da independência do jovem império. Tais condições acabaram por prejudicar 
seriamente o Tesouro Nacional (VIZENTINI, 2015).
 Observação
O primeiro a buscar o reconhecimento da independência brasileira 
pela comunidade internacional foi José Bonifácio, um dos raros homens 
públicos da época que negociavam com os britânicos sem insegurança ou 
sentimento de inferioridade. Quando Bonifácio foi afastado do governo, 
em 1823, essa tarefa passou a ser atribuição de Dom Pedro I.
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Unidade I
2.1 A consolidação da independência
Antes mesmo de proclamar a independência, Dom Pedro I fez publicar o Manifesto aos Governos e 
Nações Amigas, documento no qual o imperador convidava essas nações a manterem com o Reino do 
Brasil as mesmas relações de mútuo interesse e amizade e se mostrava ansioso por estabelecer relações 
diplomáticas com outras nações e por manter os portos nacionais abertos a todas as nações pacíficas. 
Mas isso não bastou, o reconhecimento da independência pela comunidade internacional precisou ser 
negociado (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Duas questões merecem destaque nesse período. Uma delas é que existiam sentimentos de aceitação 
do republicanismo e de negação da monarquia (o Brasil se tornara independente de Portugal, mas sob 
a liderança de um rei português). A primeira ameaça à continuidade da monarquia veio de dentro, 
quando, em Pernambuco, em 1824, a família Andrade, liberal, proclamou a Confederação do Equador, 
um movimento separatista, republicano e simpático aos Estados Unidos, mas que representava uma 
ameaça à unidade nacional da jovem nação. Na época, a figura de Frei Caneca se popularizou enquanto 
representante da oposição ao governo imperial (Cipriano Barata objetiva liderar o movimento, mas já 
havia sido preso por subversão àquela altura) (GARCIA, 2005).
 Observação
Em 1822, o Brasil manteve a monarquia. Já a América espanhola, após a 
independência, se dividiu em muitas repúblicas independentes. Isso mostra 
que, aparentemente, o fato de a monarquia ter sobrevivido à declaração da 
independência evitou a fragmentação da América portuguesa.
A Confederação, que tinha forte caráter antilusitano, queria reunir, sob a forma federativa e 
republicana, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará (Piauí e Pará também faziam parte 
dos planos num segundo momento). No entanto, o movimento não teve condições de se consolidar 
e não resistiu ao avanço das tropas do governo. A resposta de Dom Pedro I foi exacerbadamente 
desproporcional: ele determinou o enforcamento dos líderes da Confederação, inclusive de Frei Caneca, 
o que contribuiu para o desgaste político do rei português (FAUSTO, 2013).
 Observação
A opinião pública condenou Dom Pedro I pela repressão à Confederação 
do Equador. Até mesmo o carrasco encarregado de enforcar Frei Caneca se 
recusou a cumprir seu papel, e o vendedor de canecas acabou tendo que 
ser fuzilado pelas tropas reais.
A figura a seguir mostra as províncias que faziam parte da Confederação do Equador (Piauí e Pará 
não aparecem no mapa porque as ambições em relação a essas duas províncias não foram evidentes 
logo de início).
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Figura 4 – Confederação do Equador
É importante mencionar que, na ocasião, os liberais solicitaram ao secretário de Estado 
norte-americano a remessa de uma pequena esquadra ao porto de Recife com vistas a equilibrar forças 
com a Europa, posto que, naquele momento, navios de guerra vindos da Grã-Bretanha e da França já 
estavam atracados na cidade (FAUSTO, 2013).
O pedido dos liberais se apoiou na Doutrina Monroe, a qual difundia a promessa de “América para 
os americanos” (e não para os europeus). Essa política foi declarada em 1823 pelo então presidente 
estadunidense James Monroe com o objetivo de levar a América Latina a acreditar que os Estados 
Unidos estavam dispostos a protegê-la das ambições europeias. A proposta não consistia numa oferta 
desinteressada, pois essa proteção tinha um custo, qual seja, a oportunidade de influenciar diretamente 
o continente. O Brasil foi, portanto, o primeiro país na América do Sul a reconhecer a Doutrina Monroe(GARCIA, 2005).
A outra questão consistiu na Guerra Cisplatina. Essa história começou em 1680, quando Portugal 
fundou a Colônia do Sacramento na margem oriental do rio da Prata, uma região estratégica dos pontos 
de vista comercial e militar. Ao longo do século XVIII, a Colônia do Sacramento foi objeto de disputa 
entre Portugal e Espanha (que era a dona do território localizado na margem oposta do rio da Prata), 
até ser oficialmente considerada posse espanhola pelo Tratado de Badajoz, em 1801 (GARCIA, 2005).
Conforme já mencionado, de 1811 a 1816, Portugal promoveu investidas na Banda Oriental, para 
incorporá-la definitivamente em 1821. Em 1823, após a retirada das tropas portuguesas, os argentinos 
pediram a Banda Oriental de volta, ao que Dom Pedro I não assentiu. Em 1825, os uruguaios iniciaram 
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Unidade I
uma cruzada libertadora contra os brasileiros, que os derrotaram, e os argentinos voltaram a reivindicar a 
posse da região, obtendo como resposta a declaração de guerra pelo Império Brasileiro e o consequente 
início da Guerra Cisplatina, que duraria até 1828. Em 1826, Dom Pedro I decretou o bloqueio do rio da 
Prata por forças navais brasileiras, o que prejudicou o comércio na região e culminou em reclamações 
dos Estados Unidos e da França (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Assim, ainda em 1826, a Grã-Bretanha, a convite da Argentina, passou a mediar o conflito e 
sugeriu a renúncia da Banda Oriental tanto pelos argentinos quanto pelos brasileiros e sua posterior 
independência. O conflito teria como desfecho a independência uruguaia em 1828 e como herança a 
relativa rivalidade entre Brasil e Argentina ao longo dos séculos seguintes. A campanha na Cisplatina, 
considerada desnecessária, também contribuiu para o desgaste da figura de Dom Pedro I (DORATIOTO; 
VIDIGAL, 2014).
 Observação
O Vice-reino do Rio da Prata era composto pelo que hoje são os Estados 
independentes da Argentina, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai, sendo 
esse último a Banda Oriental. A cidade de Buenos Aires era a sede do 
Vice-reino do Rio da Prata.
Muito se discute acerca da derrota brasileira na Banda Oriental, já que o Brasil possuía superioridade 
militar em relação à Argentina. Sobre isso, Doratioto e Vidigal (2014, p. 12) argumentam:
A esquadra imperial contava com superioridade naval – 13 belonaves 
pesadas contra 19 embarcações mercantes das Províncias Unidas [Argentina 
e outras regiões que viriam a ser países soberanos após a independência da 
Espanha] adaptadas para fins militares –, mas, mesmo assim, não dominou 
as águas platinas. A superioridade, nesse caso, revelou-se relativa, pois 
os navios brasileiros, por seu grande calado, tinham dificuldade em 
manobrar no Rio Uruguai ou muito próximos da costa, enquanto os navios 
argentinos, menores e mais leves, eram mais ágeis nas manobras e podiam 
atuar nessas áreas.
A crise na Cisplatina acabou contaminando as relações comerciais do Brasil. Isso porque a Argentina 
utilizou a tática dos corsários na costa brasileira, que consistia em emitir documentos (as cartas de 
corso) autorizando o destinatário a atacar navios de um Estado inimigo (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Essa tática também acabou por causar um sério desentendimento entre Brasil e Estados Unidos em 
1827, conforme explicam Doratioto e Vidigal:
Aliás, a atividade de corso provocou, inclusive, um incidente entre 
o Império e os Estados Unidos. As relações bilaterais sofriam com as 
tentativas feitas por navios mercantes norte-americanos para romper 
27
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
o bloqueio imposto pela Marinha Imperial ao porto de Buenos Aires. 
Em 1827, em razão de o navio Spark, de bandeira norte-americana e 
acusado de servir como corsário a serviço das Províncias Unidas, ter 
sido apresado por uma belonave brasileira, o representante dos Estados 
Unidos declarou rompidas as relações diplomáticas com o Império do 
Brasil. A situação, porém, foi superada, e, em 1828, o Império e os Estados 
Unidos assinaram um Tratado de Amizade, Navegação e Comércio com 
validade de 12 anos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014, p. 12).
Como se vê, a Guerra da Cisplatina não teve frutos positivos para o Brasil, que, além de ter perdido 
a região, gastou recursos que já eram escassos e sofreu uma série de efeitos colaterais pela campanha, 
como o estremecimento das relações com os Estados Unidos e a obrigação de indenizar a França pelos 
prejuízos causados pelo bloqueio do rio da Prata.
Assim, mesmo após o amplo reconhecimento da comunidade internacional, mais comprado do que 
conquistado, a independência do Brasil estava em risco por conta das pressões domésticas que vinham 
dos movimentos liberais brasileiros, por causa da forma como Portugal respondia a essas pressões, 
sempre tentando centralizar ainda mais o poder, numa tentativa de abafar toda e qualquer manifestação 
antilusitana, e também em virtude de um avanço desnecessário no sul do país (FAUSTO, 2013).
2.2 A Constituição de 1824
A Assembleia Constituinte já estava programada antes mesmo da declaração de independência. 
Porém, na fala de abertura dos trabalhos, Dom Pedro citou com apreço Luís XVIII, rei francês que tentara 
retomar a monarquia na França logo após a derrota de Napoleão Bonaparte, indicando que ele também 
tentaria seguir pelo caminho centralizador (FAUSTO, 2013).
A Assembleia não era composta de radicais. Cipriano Barata, por exemplo, que poderia representar 
esse radicalismo, optara por não participar dela, deixando os serviços a cargo de seus colegas moderados. 
Outros liberais extremistas, como José Clemente Pereira, Gonçalves Ledo e Januário Barbosa, já estavam 
presos ou exilados, estando assim impedidos de participar dos trabalhos da Constituinte, cujos 
participantes, em sua maioria, defendiam uma monarquia constitucional que garantisse os direitos 
individuais e estabelecesse limites ao poder do monarca (FAUSTO, 2013).
As primeiras desavenças entre a Constituinte e Dom Pedro I não tardaram a surgir, girando em torno 
das atribuições dos Poderes Executivo e Legislativo. Por um lado, os constituintes pressionavam para 
que o imperador não tivesse o poder de dissolver a futura Câmara dos Deputados nem o poder de veto 
absoluto. Por outro lado, o imperador defendia um poder Executivo forte, capaz de enfrentar os “ventos 
democráticos e fragmentadores” de além-mar (FAUSTO, 2013, p. 157).
A disputa culminou na dissolução da Assembleia por Dom Pedro I. Em março de 1824, o imperador 
fez promulgar a Carta Constitutiva do Brasil Imperial, que vigoraria até o final do período imperial e 
que não diferia muito do projeto da Constituinte, exceto pela instituição do Conselho de Estados e da 
criação do Poder Moderador (FAUSTO, 2013).
28
Unidade I
O Conselho de Estados era composto de conselheiros vitalícios nomeados pelo imperador dentre 
cidadãos brasileiros com idade mínima de 40 anos, idade considerada avançada na época, renda não 
inferior a 800 mil-réis e que fossem “pessoas de saber, capacidade e virtude”, ou seja, pessoas capazes de 
assessorar o imperador, que deveria ouvi-los acerca de assuntos importantes, como negócios e guerras 
(FAUSTO, 2013, p. 158).
Já o Poder Moderador, conforme explica Fausto, dava amplas possibilidades de manobra ao imperador:
O Poder Moderador provinha de uma ideia do escritor francês Benjamin 
Constant, cujos livros eram lidos por Dom Pedro e por muitos políticos da 
época. Benjamin Constant defendia a separação entre o Poder Executivo, 
cujas atribuições caberiam aos ministros do rei, e o poder propriamente 
imperial, chamado de neutro ou moderador. O rei não interviria na 
política e na administração do dia a dia e teria o papel de moderar as 
disputas mais sérias e gerais, interpretando “a vontade e o interesse 
nacional”. No Brasil, o Poder Moderador não foi tão claramente separado 
do Executivo. Disso resultou uma concentração de atribuições nas mãos 
do imperador. Pelos princípios constitucionais, a pessoa do imperador foi 
considerada inviolável e sagrada,não estando sujeita a responsabilidade 
alguma (FAUSTO, 2013, p. 131).
A figura a seguir satiriza a Constituição de 1824, marcada pelo Poder Moderador concedido a 
Dom Pedro I.
Figura 5 – Charge
A dissolução da Assembleia Constituinte também contribuiu para o desgaste da imagem de Dom 
Pedro, somando-se aos episódios da repressão desmedida à Confederação do Equador e à campanha 
onerosa e infrutífera no rio da Prata, evidenciando o isolamento do imperador, que tinha perdido até 
mesmo a parceria de José Bonifácio.
29
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
2.3 A defensiva durante o período regencial
Em abril de 1831, a crise política obrigou Dom Pedro I a abdicar. Após a abdicação, ele seguiu para 
Portugal e iniciou uma disputa com o irmão absolutista Dom Miguel pelos direitos de sua filha, Maria 
da Glória, ao trono português (GARCIA, 2005).
No Brasil, como Dom Pedro II, o herdeiro ao trono, era menor de idade, regentes passaram a 
governar, situação que perdurou até 1840. Durante o período regencial, o Brasil voltou-se para si mesmo 
e retraiu-se diplomaticamente em virtude da instabilidade política interna, das rebeliões provinciais e 
dos movimentos separatistas que ameaçavam a unidade territorial do país. Tratava-se de num momento 
delicado pra pensar em projetar-se para fora, de modo que as relações internacionais se estagnaram, 
exceto pela influência de pensadores europeus nas rebeliões domésticas que marcaram todo o período 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Ademais da fragilidade do Estado brasileiro, os tratados assinados por Dom Pedro I na década de 
1820 amarravam o país a relações comerciais assimétricas com as potências europeias, o que também 
restringia iniciativas em política externa. Assim, os regentes assumiram posição defensiva em relação a 
três situações (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014):
• à tentativa de expansão europeia em direção ao rio Amazonas;
• à guerra civil no Uruguai;
• à pressão inglesa pelo fim da escravidão.
 Observação
O período regencial foi tumultuado. Em 1831, o Brasil foi governado 
por três regentes: Lima e Silva, Senador Vergueiro e Marquês de Caravelas 
(Regência Trina Provisória). De 1831 a 1835, foi a vez de outros três 
regentes: José da Costa Carvalho, João Bráulio Moniz e Francisco de Lima e 
Silva (Regência Trina Permanente). De 1835 a 1837, o Padre Diogo Antônio 
Feijó assumiu o governo sozinho (Regência Una), tendo sido substituído 
por Pedro de Araújo Lima de 1837 a 1840.
Voltemos um pouco no tempo para falar sobre a Amazônia. Ao tornar-se independente, o 
Brasil se deparou com o problema geopolítico amazônico, uma herança deixada por Portugal. 
Em 1750, a coroa lusa, através do Marquês de Pombal, administrou a Amazônia de forma 
diferenciada, mudando a denominação do estado do Maranhão e Grão-Pará para estado do 
Grão-Pará e Maranhão e transferindo a sede de São Luís para Belém. Essa decisão mostrava um 
interesse especial pela Amazônia. Para demonstrar sua soberania sobre a região, Pombal criou 
ainda a Capitania de São José do Rio Negro, a partir da qual surgiria o estado do Amazonas 
(RIBEIRO, 2005).
30
Unidade I
Em 1772, Pombal dividiu o estado do Grão-Pará e Maranhão em dois, o estado do Maranhão e Piauí, 
com sede em São Luís, e o estado do Grão-Pará e Rio Negro, com sede em Belém. A divisão simbolizava 
uma administração exclusiva para a Amazônia, diretamente subordinada a Lisboa (RIBEIRO, 2005).
Quando da independência, o Estado do Grão-Pará e Rio Negro não fazia parte do novo país que 
assumia sua autonomia e soberania, uma vez que era subordinado diretamente a Portugal. A influência 
dos portugueses na região era considerável: eles controlavam o comércio interno e externo, eram 
proprietários das terras e praticavam o extrativismo. Mesmo diante da independência, os portugueses 
tentaram manter a colônia sob o domínio de Portugal e chegaram a projetar um vice-reinado com 
sede em Belém, compreendendo não apenas a Amazônia, mas também o Maranhão e o norte de Goiás. 
Todavia, os nativos não se conformavam com essa situação e viram na independência a chance de se 
rebelarem contra o domínio luso (RIBEIRO, 2005).
Foi nesse contexto que explodiu, em 1835, a Revolta da Cabanagem, composta em sua maioria de 
índios, escravos, mestiços e outras classes oprimidas. Os revoltosos não chegaram a oferecer um projeto 
alternativo ao Pará, tendo apenas se concentrado no ataque aos estrangeiros e aos maçons e na defesa 
do catolicismo, dos brasileiros, do Pará, da liberdade e de Dom Pedro II (FAUSTO, 2013).
Os cabanos foram descritos por Reis da seguinte forma:
Cabanos eram os caboclos que viviam ao longo dos rios, nos sítios, nos 
pontos de pesca, nas fazendas de cacau, viviam quase à lei da natureza, 
sem qualquer possibilidade de ascensão social, econômica e política, e agora 
vinham cobrar, cheios de ódio, aos bem instalados, aos brancos, que eram 
portugueses ou deles diretamente descendentes, a situação difícil em que 
se encontravam, responsabilizando-os pelo que sofriam (REIS, 1965, p. 55).
É curioso mencionar que a abolição da escravidão não foi proposta pelos cabanos, embora muitos 
dos cabanos fossem escravos. Eduardo Angelim, o jovem seringueiro que liderou a Cabanagem, apesar de 
todo o seu protagonismo ao afastar as intenções inglesas, chegou até mesmo a reprimir uma insurreição 
de escravos na ocasião (FAUSTO, 2013).
 Observação
Não confunda a Revolta da Cabanagem, ocorrida no Pará, com a Guerra 
dos Cabanos, ocorrida em Pernambuco na mesma época. Os cabanos de 
Pernambuco lutaram em nome da religião e do retorno de Dom Pedro I, 
sendo compostos dos mais variados grupos, desde índios e escravos até 
pequenos proprietários e senhores de engenho.
Em 1835, um incidente abriu espaço para investidas inglesas na região. O navio inglês Clio, carregado 
de armas, encomendadas pelo então governador do estado do Grão-Pará e Rio Negro, foi assaltado pelos 
cabanos, que assassinaram a tripulação e saquearam a carga. No ano seguinte, os ingleses exigiram de 
31
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Angelim, o novo governador, a reparação daquele assalto, cobrando uma indenização pela perda da 
embarcação e de sua carga, além de exigir o hasteamento da bandeira inglesa (acima da bandeira 
brasileira), que deveria ser saudada com uma salva de 21 tiros (RIBEIRO, 2005).
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a presença inglesa 
no Brasil, leia a obra indicada a seguir.
MANCHESTER, A. Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Angelim foi firme, se recusou a hastear a bandeira inglesa, argumentou que não podia entregar 
os saqueadores sem ordem do governo imperial, assegurou que eles seriam punidos conforme as leis 
nacionais e garantiu que as cargas roubadas seriam indenizadas (REIS, 1965).
Ademais, Angelim também recusou recursos militares do governo dos Estados Unidos da América para 
proclamar a independência da Amazônia, o que evidenciou que a Amazônia quis integrar-se ao Brasil por opção 
e fez questão de dispensar toda e qualquer ajuda externa, a qual sabiam ter algum propósito (CRUZ, 1942).
Apesar de toda a brasilidade da Revolta da Cabanagem, o governo central tratou-a como mais uma 
das revoltas do período que punham em risco a consolidação da independência, repreendendo-a com 
vigor e deixando cerca de quarenta mil mortos, o que correspondia, na época, a aproximadamente 20% 
da população estimada da província. Angelim foi exilado na ilha de Fernando de Noronha (FAUSTO, 2013).
Se Angelim teve uma postura altiva diante das forças externas, a mesma coisa não se pode dizer acerca 
de Feijó, o regente do Brasil de 1835 a 1837. A Amazônia foi muito cobiçada pelas nações estrangeiras na 
época da Revolução da Cabanagem, mas o ápice dessa ameaça ocorreu em janeiro de 1835, quando o Padre 
Feijó propôs a Portugal, França e Inglaterra o envio de cerca de mil soldados para colaborar com o Brasil na 
repressão aos cabanos. A proposta de Feijó evidenciou a irresponsabilidadecom que o governo brasileiro 
tratava as questões amazônicas, chegando a colocar em risco a soberania brasileira na região (RIBEIRO, 2005).
 Observação
A proposta de Feijó aos europeus só veio a público recentemente, nos 
anos 2000, quando o pesquisador David Cleary casualmente encontrou, 
num arquivo em Londres, uma carta dirigida pelo embaixador da Inglaterra 
no Brasil, Henry Stephen Fox, em 17 de dezembro de 1835, ao ministro da 
Relações Exteriores da Inglaterra, Lorde Palmerston. Nela Fox narrava que, 
juntamente com o embaixador da França, Mousieur Pantois, havia tido uma 
reunião com o Regente Diogo Antônio Feijó, no dia 17 de janeiro de 1835, de 
caráter secreto, para ouvi-lo sobre uma proposta de contenção dos cabanos.
32
Unidade I
Em 1836, a França tentou uma nova investida. Naquele ano, tropas francesas alegaram que a 
fronteira entre a Guiana e o Brasil era o rio Amazonas e não o rio Oiapoque, conforme fora estabelecido 
nos tratados de Utrecht e reiterado no Congresso de Viena. O Rio de Janeiro se encheu de indignação 
e pediu a ajuda da Grã-Bretanha, que logo conseguiu afastar a presença francesa na região, para, em 
1838, também tentar sem êxito obter um pedaço da Amazônia (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na questão uruguaia, o Brasil se manteve neutro até 1840. Desde a independência do Uruguai, em 
1828, os partidos liberal e conservador lutavam pelo poder, o que acabou propiciando o desenvolvimento 
de uma guerra civil no país. Não demorou para que a Argentina, a Grã-Bretanha e a França escolhessem 
lados para apoiar no Uruguai, transformando a guerra civil num embate entre federalistas e unitários 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Aos poucos, a história da guerra civil uruguaia se misturou à história da Revolução Farroupilha que 
vinha acontecendo no Rio Grande do Sul, já que Rivera, o então presidente uruguaio, decidiu manter 
comércio e relações amistosas com os farrapos, o que era visto com maus olhos pelo governo brasileiro, 
ansioso por esmagar a ameaça separatista representada pela Revolução Farroupilha. A passividade com 
que o Brasil assistiu a esse entrelaçamento só cedeu lugar à proatividade a partir de 1840, como se verá 
mais adiante (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na questão escravagista, o Brasil tentou, sem muita vontade, erradicar o tráfico negreiro. A Lei Feijó, 
assinada em 1831 por pressão da Grã-Bretanha, tratou de criminalizar a comercialização de escravos, 
mas logo passaram a se referir a ela como uma lei feita “para inglês ver”, ou seja, uma lei que não tinha 
efetividade. Esse episódio causou um mal-estar entre o Brasil e a Grã-Bretanha, afinal, deu a impressão 
de que o Brasil não se intimidava com as pressões britânicas, tendo inclusive ficado a favor da Argentina 
quando da anexação das Ilhas Malvinas pela Grã-Bretanha (GARCIA, 2005).
Portanto, durante o período regencial, as relações internacionais do Brasil ficaram dormentes, 
relegadas a segundo plano por conta dos muitos problemas domésticos, alguns dos quais envolvendo 
atores externos, ao que o Brasil respondeu com uma postura defensiva.
3 INTERVENCIONISMO E PRAGMATISMO (1840‑1889)
Dom Pedro II simbolizava a convergência de interesses entre o poder central e as oligarquias regionais 
que começavam a despontar. Essas oligarquias se localizavam em Minas Gerais, São Paulo e Rio de 
Janeiro e lograram atingir essa situação privilegiada na hierarquia em virtude de seu envolvimento 
exitoso na indústria cafeeira.
Esse contexto foi essencial para que a política externa brasileira abandonasse a passividade e se 
tornasse mais proativa, conforme explicam Doratioto e Vidigal (2014, p. 16):
A união das elites e a melhoria das finanças imperiais, como resultado 
principalmente das exportações de café, fortaleceram o Estado brasileiro, que, 
durante a década de 1840, construiu uma política externa que implementou 
uma relação qualitativamente distinta da que era mantida com a Grã-Bretanha 
33
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
e com as grandes potências, estabeleceu um critério para a definição de 
fronteiras e criou uma política para o rio da Prata, que persistiu até boa parte 
do século XX. Os objetivos e diretrizes dessa política externa resultaram de um 
processo decisório que, durante essa década, adquiriu racionalidade crescente 
à medida que a própria estrutura do Estado se definiu e se fortaleceu com o 
restabelecimento do Conselho de Estado, com a criação da figura do Presidente 
do Gabinete de Ministros, o que, na prática, estabeleceu o Parlamentarismo, 
e com Dom Pedro II adquirindo experiência política e administrativa para 
manejar esses mecanismos de poder.
Essa guinada permitiu que o Brasil tomasse duas medidas. A primeira foi afugentar o fantasma 
da fragmentação e reafirmar a unidade interna, o que conseguiu mediante concessões aos farrapos, 
que acabaram pondo fim a sua luta separatista e concordando em permanecer como província 
pertencente ao território brasileiro. A segunda foi tomar as rédeas do comércio exterior brasileiro e 
recuperar a autonomia fiscal do reino, perdida em virtude das desvantagens comerciais resultantes 
dos tratados assinados por Dom Pedro I na década de 1820 (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
 Observação
A Revolução Farroupilha animou pela primeira vez o espírito separatista 
do sul do Brasil, onde ainda hoje existem iniciativas independentistas, a 
exemplo do movimento “O Sul é o meu país”, fundado em 1992 na cidade 
de Pomerode, Santa Catarina.
Assim, em 1842, o Tratado de Comércio com a Grã-Bretanha, que havia sido assinado em 
1827, não foi renovado por Dom Pedro II. Essa decisão não foi tomada para eliminar a presença 
comercial inglesa no Brasil, mas apenas para suprimir o privilégio da nação mais favorecida, que 
comprometia a arrecadação do Tesouro Imperial. Em 1845, também não foram renovados os tratados 
de comércio com as outras nações europeias, assinados pelo Brasil em troca do reconhecimento 
da independência. Em lugar disso, Dom Pedro II decretou a Tarifa Alves Branco, que estabeleceu 
uma taxa de 30% de importação para produtos sem similar nacional e de 60% para aqueles que 
tivessem concorrente nacional (CARVALHO, 1988).
 Lembrete
Antes da Tarifa Alves Branco, vigia uma taxa de 15% para o imposto de 
importação sobre produtos ingleses, taxa que acabou sendo estendida aos 
produtos das demais nações europeias como troca pelo reconhecimento da 
independência do Brasil.
Nessa mesma linha, em 1845, o governo imperial também comunicou à Grã-Bretanha que não 
continuaria combatendo o tráfico negreiro, ao que os britânicos responderam com retaliações, como 
34
Unidade I
a Lei Bill Aberdeen, por meio da qual os ingleses tinham carta branca para capturar navios negreiros 
brasileiros e julgar sua tripulação em cortes compostas unicamente por juízes britânicos (FAUSTO, 2013).
Essa mudança de postura mostrou que a monarquia havia sido consolidada no Brasil Imperial após 
um longo período de incertezas políticas e que também a política externa havia tomado novos rumos, 
menos dependentes e mais assertivos.
3.1 A definição dos objetivos externos
O governo imperial definiu objetivos em relação ao tráfico negreiro, à navegação do Amazonas, 
às fronteiras do Brasil com os vizinhos ao norte e ao rio da Prata, assuntos dos quais havia mantido 
distância no período anterior.
Apesar da resistência à Lei Bill Aberdeen, o tráfico negreiro teria que chegar ao fim hora ou outra 
no Brasil. Assim, em 1850, o governo imperial promulgou a Lei Eusébio de Queirós, que finalmente 
pôs fim ao tráfico de escravos no país. A iniciativa amenizou as tensões entre Brasil e Grã-Bretanha, 
embora o governo brasileiro ainda não quisesse ceder em relação a um novo tratado de comércio com 
os britânicos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Também houve nesse período um estremecimento nas relações com os Estados Unidos, que vinham 
tentando conseguir do governo imperial uma autorização para navegar no rio Amazonas, autorização 
que o Brasil não concedeu, estendendo também

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