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2011 História Do Brasil imperial Prof. Jó Klanovicz Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof. Jó Klanovicz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 981.07 K633h Klanovicz, Jó. História do Brasil Imperial/ Jó Klanovicz. Centro Universitário Leonardo da Vinci –: Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2011.x ; 148.p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-316-7 1. História do Brasil Imperial 2. Brasil Império I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Impresso por: III apresentação Por meio desta publicação você conhecerá a disciplina História do Brasil Imperial, organizada em dois eixos: o primeiro, temporal, o segundo, temático. O temporal parte da vinda da família real portuguesa para o Brasil e a subsequente transferência da sede administrativa portuguesa para uma colônia (fato inédito na história política mundial). Por outro lado, o eixo temático aborda questões que vão desde história política, passando por historiografia e ensino de história do Brasil Imperial. O conteúdo desta disciplina está assim organizado: A Unidade 1, intitulada “A construção político-administrativa do Império” – tem como perspectiva algumas das questões mais prementes no que tange à independência brasileira, à centralização político-administrativa imperial e a constituição de elites nacionais, à emergência de nativismos e nacionalismos brasileiros, às guerras no Cone Sul – componente importante na consolidação territorial e geográfica no século XIX. A Unidade 2 trata da consolidação do império “nos trópicos” em termos de descrição de suas estruturas econômicas, socioculturais, as suas políticas desde os primeiros anos até a desestabilização do regime, no final do século XIX. A terceira unidade congrega discussões historiográficas sobre o tema abordado e a relação existente entre a historiografia sobre o Brasil Império e o ensino de História do Brasil Imperial. Estimado(a) acadêmico(a), bons estudos e mãos à obra!!! Prof. Jó Klanovicz IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 - A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO ................1 TÓPICO 1 - ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA ................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 MOVIMENTOS CONTRÁRIOS AO DOMÍNIO PORTUGUÊS..............................................4 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................9 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................10 TÓPICO 2 - INDEPENDÊNCIA..........................................................................................................11 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................11 2 D. JOÃO VI, D. PEDRO E A INDEPENDÊNCIA .........................................................................17 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................24 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................25 TÓPICO 3 - CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS ...............................................................27 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................27 2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824 ............................................................................................................29 3 PROBLEMAS PARA A CENTRALIZAÇÃO .................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................34 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................35 TÓPICO 4 - NACIONALISMOS E NATIVISMOS ........................................................................37 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................37 2 CARACTERÍSTICAS DOS NATIVISMOS ...................................................................................37 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................42 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................43 UNIDADE 2 - A CONSOLIDAÇÃO DE UM IMPÉRIO NOS TRÓPICOS ...............................45 TÓPICO 1 - ESTRUTURAS ECONÔMICAS ..................................................................................47 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................47 2 ASPECTOS GERAIS DA ECONOMIA ..........................................................................................50 2.1 O CAFÉ ............................................................................................................................................51 3 ESCRAVIDÃO .....................................................................................................................................55 3.1 A CULTURA AFRICANA ...........................................................................................................57 4 O ABOLICIONISMO E O FIM DA ESCRAVIDÃO ....................................................................58RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................61 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................63 TÓPICO 2 - INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO ......................................65 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65 2 POLÍTICAS INTERNAS ...................................................................................................................69 2.1 AS REVOLTAS ................................................................................................................................69 2.2 AS GUERRAS NO CONE SUL ...................................................................................................71 sumário VIII RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................75 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................77 TÓPICO 3 - ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS ...........................................................................79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................79 2 REGIONALISMOS ............................................................................................................................79 3 GÊNERO ...............................................................................................................................................81 4 VIDA URBANA ..................................................................................................................................84 5 CENAS DO BRASIL MIGRANTE ..................................................................................................88 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................91 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................93 TÓPICO 4 - O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO .........................................................................95 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95 2 VENTOS REVOLUCIONÁRIOS E REPUBLICANOS ................................................................95 2.1 OS CLUBES E OS POLEMISTAS REPUBLICANOS .................................................................96 3 OS MILITARES, GUERRA E POLÍTICA .......................................................................................97 4 A QUEDA DA MONARQUIA .........................................................................................................98 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................99 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................101 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102 UNIDADE 3 - HISTORIOGRAFIA E ENSINO SOBRE O BRASIL IMPERIAL ......................103 TÓPICO 1 - UM POUCO DE HISTORIOGRAFIA .........................................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 A INVENÇÃO DO BRASIL ..............................................................................................................106 3 PERIODIZANDO A HISTÓRIA DO BRASIL ..............................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................107 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108 TÓPICO 2 - INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO (IHGB) ...................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 O IHGB E O SÉCULO XIX ................................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 3 - HISTORIOGRAFIA RECENTE ....................................................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 TÓPICO 4 - ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL IMPERIAL ...................................................131 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 2 SABER E FAZER: REDIMENSIONAMENTO DA RELAÇÃO “HISTÓRIA-ENSINO” ......131 3 RELAÇÃO “DIDÁTICA-HISTÓRIA” ............................................................................................132 4 LINGUAGENS, INSTRUMENTOS, ESPAÇOS ...........................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................141 1 UNIDADE 1 A CONSTRUÇÃO POLÍTICO- ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender a emergência do Brasil Imperial em meio ao contexto de uma economia-mundo de fins do século XVIII e início do século XIX; • identificar os principais eventos constituintes do Brasil como Império; • refletir sobre o processo de independência da colônia; • analisar a situação interna do Império do Brasil e sua relação com os de- mais países da América do Sul. Esta unidade de estudos está dividida em quatro tópicos e em cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a compreender os conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA TÓPICO 2 – INDEPENDÊNCIA TÓPICO 3 – CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS TÓPICO 4 – NACIONALISMOS E NATIVISMOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA 1 INTRODUÇÃO A independência foi um processo que não ocorreu num único instante. Ela foi resultado de várias articulações políticas, econômicas e sociais locais, na América Portuguesa, em paralelo a desarticulações do Antigo Regime na Europa. Nesse sentido, pode-se dizer que desde o final do século XVIII há tensões entre a metrópole e os interesses de colonos no Brasil, o que acabou por fomentar movimentos de separação, em meio aos diversos tipos de nativismo. A força militar, representada pela eficiênciae rapidez das tropas napoleônicas e suas tentativas de expandir o controle sobre a Europa, a partir da França, e bloquear os interesses da tradicional inimiga, a Inglaterra, causou, simultaneamente, o desequilíbrio político do continente, o que acabou por modificar, em certa medida, as próprias relações entre Portugal e a América Portuguesa, representada, especialmente, pela transferência da família real de Lisboa para o Brasil. Nesse sentido, é interessante pontuar que a Independência brasileira, como processo, tem inúmeros focos, em diferentes datas e locais. Pode-se dizer, em certa medida, que alguns eventos, conjunturas políticas, sociais e econômicas, além de personalidades, tiveram peso e relevância nesse cenário antecedente aos eventos políticos que vão redundar na separação política do Brasil com relação a Portugal, oficialmente deflagrada em 7 de setembro de 1822. NOTA Olá!!! Que bom vê-lo(a) novamente! Agora que começamos nossos estudos em História do Brasil Imperial, vai aí uma boa dica: como instrumento para entender a questão das independências no século XIX, sugiro que você leia o texto de Heitor de Andrade Carvalho Loureiro, A independência brasileira: considerações historiográficas, publicado na revista Ibérica n. 13, 2010, disponível em: <http://www.estudosibericos.com/arquivos/ iberica13/independencia-brasileira.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2010. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 4 2 MOVIMENTOS CONTRÁRIOS AO DOMÍNIO PORTUGUÊS Entre os eventos característicos desse processo estão a Conjuração Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), que são consideradas, do ponto de vista da história política nacional, rebeliões separatistas, por representarem, de pronto, a oposição de interesses locais e metropolitanos. A Conjuração Mineira, por exemplo, foi motivada pela decadência da produção de minérios na segunda metade do século XVIII e pelas dificuldades de produtores brasileiros em pagar os tributos cobrados à colônia pelo reino. A exacerbação da derrama, como instituição violenta para obrigar a população da capitania das Minas (atual estado de Minas Gerais) a entregar parte de seus bens para pagar as dívidas, ocasionou o levante de muitas partes contra a metrópole. Muitos colonos estavam descontentes com essa situação, seguida dos altos preços cobrados por mercadorias importadas, tais como calçados, tecidos, ferramentas, manufaturas em geral, que estavam proibidas de serem fabricadas no Brasil por meio de uma legislação que datava de 1785. Somava-se a isso a prerrogativa de ocupação de cargos administrativos da colônia somente por portugueses, a proibição da impressão de jornais e livros no Brasil, o que dificultava, em muito, a emergência de elites locais. Nesse cenário de descontentamento, muitos membros das elites mineiras, uns vivendo no Brasil e outros voltando da Europa, embalados pelos ventos revolucionários, pela exacerbação dos sentimentos liberais, acabaram por começar a reunir-se em Vila Rica, estabelecendo táticas de conspiração contra o governo português e dando início aos preparativos de insurreição. Diversos indivíduos, como Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga, todos poetas, ou os padres José de Oliveira Rolim, Carlos Correia de Toledo e Melo e Manuel Rodrigues da Costa, DICAS Você pode fazer uma pesquisa iconográfica sobre os movimentos contrários ao domínio português na América, diretamente na internet, e buscar perceber neles, padrões de leitura e representação. TÓPICO 1 | ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA 5 mas também militares como Francisco de Paula Freire Andrade, Domingos de Abreu, Joaquim Silvério dos Reis e Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), embrenharam-se por esse processo insurrecional, reivindicando um governo republicano, tomando a Constituição dos Estados Unidos da América como modelo, propondo São João D’El Rei como a capital do novo país, prevendo o serviço militar obrigatório e apoiando a industrialização como base do desenvolvimento, sob os auspícios da ideologia maçônica que deu origem ao mote da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Esses líderes acabaram, inclusive, por desenhar a nova bandeira brasileira, caracterizada por um triângulo verde sobre um fundo branco, com os dizeres “Libertas quae sera tamen”, embora não fazendo menção a problemas locais como escravidão ou concentração de terras e de renda. Às vésperas de uma derrama, eclodiu a revolta em Vila Rica em 1789, e os insurgentes buscaram prender o novo governador da região quando do início da cobrança do imposto, o Visconde de Barbacena, com o apoio da população local. Enquanto esses acontecimentos se desenrolavam em Vila Rica, ficou combinado que Tiradentes deveria ir ao Rio de Janeiro com o objetivo de divulgar as ações insurgentes e tentar conseguir apoio em armas, dinheiro e munição. O projeto foi frustrado porque foi denunciado por Joaquim Silvério dos Reis, em troca de perdão de dívidas pessoais. Por outro lado, o visconde de Barbacena não realizou a cobrança da derrama, e começou a prender os conspiradores, que demoraram três anos para ser julgados. Apenas Tiradentes assumiu integralmente a participação na conspiração, enquanto os outros insurgentes buscaram dissimular suas ações. Todos eles foram desterrados nas colônias portuguesas da África, enquanto Tiradentes foi condenado à morte, enforcado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, depois esquartejado e seus membros distribuídos pelas cidades onde buscava apoio, numa condenação característica do Antigo Regime, baseada no suplício. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 6 FONTE: Disponível em: <http://olhopop.files.wordpress.com/2010/04/tiraden tes_ esquartejado_28pedro_amc3a9rico2c_189329.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. Na Bahia eclodiu um movimento nitidamente popular, com a participação de artesãos, escravos, ex-escravos, burgueses em geral, soldados e alfaiates, padres, médicos e advogados. Um dos motivos era a dificuldade econômica acarretada a Salvador devido à transferência da capital para o Rio de Janeiro em 1763. A Bahia permaneceria FIGURA 1 – TIRADENTES. IMAGEM DE PEDRO AMÉRICO (1888) TÓPICO 1 | ANTECEDENTES DA INDEPENDÊNCIA 7 com uma população miserável, sobrecarregada de tributos, que contestava com frequência a exploração da metrópole. O sucesso da independência dos Estados Unidos da América (1776), as realizações da Revolução Francesa (1789) acabaram por ser divulgadas na Bahia por meio de intelectuais, burgueses e profissionais liberais, empolgando parcela da população soteropolitana. Os grupos de revoltosos começaram a se encontrar em reuniões secretas, para organizar a conspiração em comum acordo com diversas camadas da população. As propostas eram a proclamação de um governo republicano, democrático, livre de Portugal, o livre comércio (contra o mercantilismo), o aumento do soldo e a abolição da escravidão. Entre os líderes desse movimento estavam os soldados Lucas Dantas de Amorim Torres, Luís Gonzaga das Virgens e Romão Pinheiro, o padre Francisco Gomes, o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo, o professor Francisco Barreto, o médico Cipriano Barata e os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos Lira. A rebelião estourou em 12 de agosto de 1798, por meio de cartazes espalhados por toda a cidade de Salvador, enquanto que o então governador de Pernambuco, Fernando José de Portugal, iniciava a repressão, que acabou com vários dos representantes presos, condenados com diversas intensidades, desde suplícios até degredos. Por outro lado, a Revolução Pernambucana, ocorrida mais tarde, em 1817, vinha na esteira de uma série de revoltas daquela capitania contra o regime colonial, desde a Insurreição Pernambucana contra os holandeses até a Guerra dos Mascates entre Olinda e Recife (1710-11). O motivo agora era o tradicional aumento deimpostos causado pela transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1808. O movimento angariou adeptos em Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte e buscou resolver a situação financeira da capitania, tendo por objetivo a libertação do Brasil do domínio português e a constituição uma república em Recife. Alguns representantes desse movimento foram o comerciante Domingos José Martins e padres que acabaram por derrubar o governador e implantar um novo governo, decretando a extinção de impostos, a liberdade de imprensa, de religião e a igualdade entre cidadãos. A revolução acabou sendo reprimida por tropas deslocadas da Bahia e do Rio de Janeiro, tendo seus participantes sido presos e executados. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 8 Esses movimentos separatistas, no todo, acabaram por mostrar a insatisfação com a exploração e a opressão de Portugal sobre a América Portuguesa e a impossibilidade de manutenção do sistema colonial e de seu correspondente sistema econômico (o mercantilismo), no Brasil. 9 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você estudou que: • A independência foi um processo que não ocorreu num único instante. Ela foi resultado de várias articulações políticas, econômicas e sociais locais, na América Portuguesa, em paralelo a desarticulações do Antigo Regime na Europa. • A História do Brasil é periodizada de acordo com os marcos institucionais, começando com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, um dos detonadores do processo de independência do país. • A Independência brasileira, como processo, tem inúmeros focos em diferentes datas e locais. Pode-se dizer, em certa medida, que alguns eventos, conjunturas políticas, sociais e econômicas, além de personalidades, tiveram peso e relevância nesse cenário antecedente aos eventos políticos que vão redundar na separação política do Brasil com relação a Portugal, oficialmente deflagrada em 7 de setembro de 1822. • Houve dissensões locais frente ao domínio português da América, que se deslocam entre o século XVIII e o início do século XIX. 10 AUTOATIVIDADE Elabore um quadro de eventos pré e pós-independência, que são exemplos de movimentos locais contra o domínio português da América, enfatizando líderes, datas, o relato dos eventos e seus símbolos iconográficos, tais como bandeiras ou representações de indivíduos importantes em cada um. 11 TÓPICO 2 INDEPENDÊNCIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A independência do Brasil estava lançada em plena relação com o que Eric Hobsbawm denominou de Era das Revoluções (2007), amparada em plenos ideais republicanos, contrários à manutenção do mercantilismo, em plena expansão do capitalismo e dos princípios de uma industrialização efetiva, da independência dos Estados Unidos da América, da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas. As guerras napoleônicas, no esforço de atingir a Inglaterra, acabaram por englobar diretamente Portugal, na medida em que o país, que se mantinha oportunamente neutro, acabou por ser forçado a tomar partido na contenda, entre França e Inglaterra, com a imposição do bloqueio continental francês. Diversos autores concordam que o início do século XIX foi um período de incertezas para o reino de Portugal, que estava, por conseguinte, pressionado. O Tratado de Badajós (1801) fez Portugal devolver Olivença para a Espanha, então aliada de Napoleão no bloqueio contra a Inglaterra. O reino português percebia que o incremento do poder da França faria com que o país tivesse que abandonar sua posição, buscando acordos secretos com Londres e pagando indenizações para as tropas francesas. Com as portas de Portugal pressionadas pelas tropas francesas, altamente rápidas e eficientes, a própria Inglaterra persuadiu a corte portuguesa a transferir- se para o Brasil, obrigando-a, também, a abandonar a sua inconsistência em termos de política internacional de acomodações para outra de incondicional apoio à política inglesa, ainda em 1808. A escolta que a Inglaterra ofereceu para a transmigração da corte para o Brasil obrigou o soberano português a satisfazer a voracidade comercial inglesa. Desembarcando na Bahia em 24 de janeiro de 1808, já em 28 “abriu as portas do Reino ao comércio de todas as nações amigas, primeiro ato de represália contra Napoleão” (LOSSO, 2008, p. 5). O reino de Portugal, longe de Lisboa, concedia dessa maneira privilégio à Inglaterra, na época, a única potência da Europa capaz de manter e proteger uma possante marinha mercante (HOLANDA, 1985). UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 12 O Brasil acabou, enfim, por se tornar a sede da monarquia entre 1808 e 1821. Ao chegar a Salvador em 1808, D. João VI decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, liberando a importação de quaisquer produtos vindos de países como a Inglaterra, o que beneficiou diretamente aquela nação em plena industrialização. No mesmo ano, o rei revogou a proibição de instalação de manufaturas e indústrias na América Portuguesa, o que, se por um lado foi um passo importante para a liberalização dos mercados, por outro, não representou grande benefício prático na medida em que o surto manufatureiro colonial não conseguiria concorrer com o preço mais barato e a qualidade dos produtos ofertados por ingleses. FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/RicardoBrugger/ image002.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. A partir de 1810, o Tratado de Comércio anglo-lusitano fez emergir no Brasil a movimentação financeira necessária à sustentação das elites comerciais locais e inglesas, que pagariam apenas 15% de direitos para as mercadorias transportadas nos portos regionais pelo pavilhão inglês, ao passo que onerava em 16% as próprias importações de Portugal (HOLANDA, 1985, p. 101). O Brasil, nesse sentido, preparava sua independência política, sem quebrar a dependência econômica, favorecendo o escoamento de produtos ingleses manufaturados e imobilizados pelo bloqueio continental, abrindo comércio à Inglaterra, abastecendo tropas em luta, servindo de ponto seguro de apoio inglês contra as ideias da República Francesa (liberdade, igualdade, fraternidade) que se espalhavam na América. “Por outro lado, Portugal parecia estar abandonado FIGURA 2 – CERIMÔNIA DE ACLAMAÇÃO POPULAR DE D. JOÃO VI PELA ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO, AMBIENTADA PELO PRINCIPAL ARTISTA DA CORTE PORTUGUESA, J. B. DEBRET TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 13 à sua própria sorte, o que fez com que suas elites comerciais, prejudicadas por ficarem do outro lado do Atlântico, não tardassem a se insurgir contra Napoleão, com as despesas custeadas pelo Brasil” (HOLANDA, 1986, p. 102). Entre 1808 e durante a década de 1810, o Brasil custearia o restabelecimento da soberania de Portugal, invadiria a Guiana Francesa e ainda se envolveria na Guerra da Cisplatina, com vistas a anexar a Banda uruguaia, considerada presa fácil do débil império espanhol. D. João VI beneficiou a terra com a revogação das restrições antes existentes sobre as indústrias no país, favoreceu a introdução de máquinas, garantiu direito a inventores, facilitou importação de matéria-prima para a indústria e fábricas, fundou a Escola da Marinha, de Artilharia e fortificações como a Imprensa Régia, o Jardim Botânico, a Biblioteca Pública, a Academia de Belas-Artes, uma fábrica de pólvora e um hospital do exército, porém sob um sistema monetário metálico e defeituoso, sob um sistema tributário assistemático e cheio de problemas, com uma economia acanhada e um primeiro Banco do Brasil do qual o estado era mero acionista. Essa foi a situação administrativa da colônia entre 1808 e 1821, com poucas alterações no meio do caminho. Fatos de destaque: o Rio de Janeiro acabou por ganhar ares europeus com a transferência da família real para o Brasil, por meio da instalação de diversas instituições e órgãos públicos, com o estabelecimento dos ministérios e tribunais, a Casa daMoeda, o Banco do Brasil e outros tantos. Na mesma época é que a América Portuguesa abre-se para missões naturalistas, científicas e artísticas, que tiveram importância decisiva para a descrição do interior do Brasil, suas paisagens e costumes, bem como suas dinâmicas socioeconômicas, ambientais e suas distâncias e geografia. Obras como as de Debret, ou de Rugendas, ou as descrições de David Porter traduziram a dimensão do Brasil por meio da imagem de paisagens, de costumes, de pessoas, ou por meio de textos. Essas imagens e versões escritas do período joanino deixavam não apenas as impressões naturais e geográficas, ou por assim dizer, “fisionômicas” do Brasil, mas também expressavam posicionamentos políticos e impressões sobre a própria relação entre colônia e metrópole. O texto de David Porter (apud HARO, 1990, p. 220), de 1812, falando da capitania de Santa Catarina, nos ajuda a exemplificar tal relação: Antes de ir mais longe, devo dizer alguma coisa sobre Santa Catarina. Os portugueses se estabeleceram naquela ilha (atual Florianópolis) há setenta anos, aproximadamente, e a Vila, que parece em situação próspera, está situada no ponto da ilha mais próximo ao continente, e pode ter cerca de dez mil habitantes; aí reside o Capitão Geral. Parece lugar de comércio; UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 14 vários bergantis e barcos estavam, ainda, em frente à Vila, e os mercados eram numerosos e bem abastecidos do corrente vendível, a bom preço. A Vila está situada em lugar ameno, a baía, que fica em frente, parece cômoda; os habitantes são habilidosos. É defendida por dois pequenos fortes, um em frente ao outro em local que avista a terra. As casas, em geral, são construídas com elegância. Mas, nada de mais belo do que a grande baía, ao norte, formada pela Ilha de Santa Catarina e o continente. Nada ali falta daquilo que pode proporcionar a visão de um lugar lindo: belos povoados e casas dispostas em círculo, praias que, gradativamente, conduzem ao morro, e este coberto até o topo de plantas sempre verdes. Um clima sempre temperado e saudável; ilhotas, esparsas aqui e acolá, e todas verdes, um solo fertilíssimo; tudo combina para dar à gente a impressão do mais belo lugar do mundo. Nós chegamos, desafortunadamente, na estação oposta à das frutas; não mais se podia ter laranjas naquele momento, mas me foi dito que na estação delas se podia ter em abundância e por uma bagatela. Aqueles habitantes parecem ser os mais felizes de quantos vivem sob o domínio português; provavelmente porque estão mais longe de Portugal, estão menos sujeitos aos impostos e opressões, mas, sempre se queixam. Existem aí dois regimentos da guarnição de Santa Catarina, que, quando lhes faltam provisões, um oficial vai à casa dos colonos, se apropria de seus cereais e gado e lhes dá um bônus do governo, que jamais é extinto. FONTE: Disponível em: <http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/uploads/2007/06/curitiba-1827- debret.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. FIGURA 3 – VISTA DE CURITIBA. JEAN-BAPTISTE DEBRET (1827) TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 15 FONTE: Disponível em: <http://www.pousodoalferes.com.br/site/images/artigos/rugendas_ ouropreto.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. Sobre a transferência da família real, Luiz Felipe de Alencastro (1997) descreve o seguinte: FIGURA 4 – JOHANN MORITZ RUGENDAS, OURO PRETO (1824) A transferência da corte trouxe para a América Portuguesa a família real e o governo da Metrópole. Trouxe também e, sobretudo, boa parte do aparato administrativo português. Personalidades diversas, funcionários régios continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes, após 1808. Concretamente, além da família real, 276 fidalgos e dignatários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moeda de ouro e prata retirada do Tesouro Real do Rio de Janeiro. Luccock calcula em 2 mil o número de funcionários régios e de indivíduos exercendo funções relacionadas com a Coroa. Juntem- se ainda os setecentos padres, os quinhentos advogados e os duzentos “praticantes” de medicina residentes na cidade. Terminadas as guerras napoleônicas, oficiais e tropas lusas vêm da Europa para a corte fluminense. Segundo o almirante russo Vassíli Golôvin, que fez duas estadias na cidade, em 1817 havia no Rio de Janeiro de 4 a 5 mil militares. No total, pelo menos 15 mil pessoas transferiram-se de Portugal para o Rio de Janeiro no período. Para melhor medir a força desse empuxo burocrático, convém lembrar que em 1800, quando a capital dos Estados Unidos mudou-se de Filadélfia para a recém-construída Washington, o contingente de funcionários do governo federal americano não excedia o milhar, contando-se desde o presidente John Adams aos cocheiros do serviço postal. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 16 De resto, administradores e colonos de outras partes do império português, notadamente Angola e Moçambique, também migram para o Rio. Em seguida, Portugal atravessa uma fase de instabilidade política que contribui para manter no Rio de Janeiro, até meados do século, uma parte dos interesses lusitanos anteriormente transferidos para o Brasil. De seu lado, setores mais comprometidos da monarquia espanhola saem dos países sul- americanos tomados por revoluções republicanas e mudam-se para o Rio de Janeiro, único refúgio da legalidade monárquica no Novo Mundo. A parcimônia de dados disponíveis não permite que se meça precisamente o fluxo migratório em direção à nova corte sul-americana. Mas é possível captar as mudanças comparando os dados dos censos efetuados na cidade em 1799 e 1821. Entre uma e outra data, a população urbana, excluídas, portanto, as freguesias rurais do município, subiu de 43 mil para 79 mil habitantes. Em particular, o contingente de habitantes livres mais que dobrou, passando de 20 mil para 46 mil indivíduos. Não foram só reinóis e monarquistas latino-americanos que aportaram na corte fluminense. O enxerto burocrático suscitou uma procura de moradias, serviços e bens diversos, atraindo para o Rio mercadorias e moradores fluminenses e mineiros. Enfim, chegam mais africanos, dado que a baía de Guanabara convertera-se, desde o final do século XVIII, no maior terminal negreiro da América. Nesses primeiros momentos de transferência da corte para o Brasil, D. João VI declarou guerra contra a França napoleônica e invadiu a Guiana Francesa (1809), devolvendo-a apenas em 1817, quando Napoleão Bonaparte foi derrotado na Europa. No mesmo tom, contra a América Espanhola, D. João VI tratou de invadir a banda uruguaia ao sul do Rio Grande do Sul, transformando-a em Província Cisplatina. Essa província tornar-se-ia independente só em 1828. Portugal conseguia, paulatinamente e graças ao apoio inglês, voltar-se contra a invasão napoleônica, porém acabaria por se defrontar com problemas econômicos e com o governo lisboeta do comandante militar inglês, Lorde Beresford. Em meio à difusão de ideais iluministas, essas dificuldades acabaram por contribuir sobremaneira para a eclosão, em 1820, da Revolução Liberal na cidade de Porto, norte português. Em síntese, insatisfeitos com o fim do pacto colonial, comerciantes, nobres e militares portugueses, que estavam sob a tutela do governo inglês desde a desocupação do exército de Napoleão, exigiam a convocação do órgão legislativo de Portugal, que não se reunia desde 1698. As Cortes Constituintes da Nação Portuguesa elaboraram uma constituição, à qual D. João VI jurou obediência antes de partir de volta a Portugal, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente. TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 17 Enquanto a movimentação liberal alastrava-se em Portugal e no Brasil, é necessário lembrar que os últimos anos do governo joanino no Brasil foram permeados por uma administração rotineira, corrupta, sob a face de um absolutismo resoluto – embora muitos dos administradores buscassem reformar as instituiçõese abusos burocráticos. Contudo, poucos em Portugal poderiam desenhar o que estava por acontecer no Brasil nos idos de 1820, na medida em que “[...] a monarquia tradicional parecia consolidada, a república do Recife estava vencida com relativa facilidade e a anexação da Banda uruguaia estava em vias de completar-se” (HOLANDA, 1985, p. 153). Em 1821 foram enviados representantes brasileiros para as “cortes”, que pouco puderam fazer além de assistir a uma tentativa de recolonização. Tanto o processo de eleição como a atuação dos representantes brasileiros no Parlamento português foram marcados por violentos conflitos sociais, que não raro acabaram se transformando em batalhas pelas ruas das cidades brasileiras, como no Rio de Janeiro, em março e abril de 1821. Segundo Sérgio Buarque de Holanda (1985), costuma-se datar o embarque de D. João VI para Portugal como o início da desagregação, cujo último denotador seriam os decretos recolonizadores e cujo coroamento viria no 7 de setembro. Se, por um lado, os liberais revoltosos de Porto defendiam reformas liberalizantes em Portugal, muitos deles acabavam por querer restabelecer o controle por meio de uma espécie de recolonização do Brasil. Nesse sentido, propunham a restauração de monopólios e privilégios aos portugueses na colônia, bem como a anulação dos esforços de uma administração que se tornaria autônoma cada vez mais. Na realidade, quando o rei partiu, o Brasil já entrara havia alguns meses no processo final de sua emancipação política. A autoridade absoluta já estava desmantelada e a prática da soberania popular – ainda informe – levaria fatalmente à soberania (HOLANDA, 1985, p. 157). De todas as formas, é necessário descrever alguns processos que aconteceram durante a regência de D. João VI no Brasil para termos compreensão da independência em sua complexidade. 2 D. JOÃO VI, D. PEDRO E A INDEPENDÊNCIA A transmigração da família real para a colônia trouxe consigo efeitos indiretos, porém inevitáveis. Um deles foi a emergência da discussão, na esfera política, da possibilidade de independência da América Portuguesa frente à metrópole. Esse debate acabou sendo encabeçado por alguns indivíduos favoráveis à independência que acabaram por constituir, ainda na Europa, o Partido Brasileiro. De fato, esse grupo de pessoas estava organizado por aristocratas rurais que tinham interesse direto na autonomia, mas também reunia UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 18 burocratas e comerciantes, tanto brasileiros como portugueses de nascimento que tinham vínculos econômicos, políticos e socioculturais fortes com a América. Um dos principais representantes desse movimento foi Gonçalves Ledo. Outro, que deixou profundas marcas inclusive nos traços políticos da independência e dos primeiros momentos do Brasil independente, foi José Bonifácio de Andrada e Silva. Este último, intelectual brasileiro que foi, inclusive, professor da Universidade de Coimbra, prestigiosa instituição acadêmica lusitana, tecia importantes críticas à política e aos traços administrativos e burocráticos daquele país. É o que pode ser identificado em alguns de seus aforismos acerca de Portugal: Em Portugal todo homem de bem que diz verdades é detestado; e se ele tem pretensões à filosofia, então, se o não haja, está exposto às perseguições da chusma imensa dos obscurantes. A astúcia particular de cada chefe que entra no governo português exerce tal ação no ministério que a autoridade soberana só na aparência o é – submissão em palavras e resistência oculta e lenta, porém constante e sucessiva, paralisam tudo o que é contrário a seus interesses particulares – o clero e frades turbulentos e hipócritas perseguidores, a nobreza vil e intrigante, o povo miúdo ignorante e obstinado; donde nascem e se sustentam ódios, cabalas e vinganças recíprocas e contínuas […]. Os abusos do poder têm feito o povo português desconfiado e baixo; a má-fé e a opressão o forçam a que evite o não ser enganado e seja antes enganador. (ANDRADA E SILVA, 1999, p. 186). FONTE: Disponível em: <http://semanact.mct.gov.br/upd_blob/0000/757.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. FIGURA 5 – JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA (1763-1838) TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 19 O Partido Brasileiro tratou de se aproximar de D. Pedro em sua luta contra a recolonização proposta por algumas medidas estabelecidas por Portugal após o retorno de D. João. O Partido Brasileiro acabou elaborando um documento que reuniu milhares de assinaturas, que pedia a permanência de D. Pedro no Brasil e que o mesmo não se submetesse às ordens das cortes portuguesas, em meio à convocação de vários representantes brasileiros para as discussões políticas na metrópole. Em 1821, as Cortes chamam D. Pedro I de volta a Portugal. A recusa do príncipe regente em obedecer, publicamente declarada em 9 de janeiro de 1822 (Dia do Fico), seria o início de um atrito que culminaria nos eventos de 1822, cujo símbolo mais evidente é a cena pintada 66 anos depois, por Pedro Américo. FONTE: ACERVO do Museu Paulista Universidade de São Paulo (Museu do Ipiranga). Disponível em: <http://peregrinacultural.files.wordpress.com/2008/09/o-grito-do-ipiranga-quadro-de-pedro- americo-1888-museu-do-ipiranga-sp.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. FIGURA 6 – O GRITO DO IPIRANGA (PEDRO AMÉRICO, 1888) A simbologia da figura “O Grito do Ipiranga” não deve nos indicar erroneamente que a separação entre Brasil e Portugal foi um ato heroico, fruto da vontade de um príncipe impetuoso. Se atentarmos para o fato de que a tela foi pintada meio século após o acontecimento, podemos interpretá-la muito mais como a tentativa de construir um passado comum entre os brasileiros, em meio ao processo de identificação do Brasil no rol das nações de final de século, bem como na observância dos processos de emergência das nacionalidades, característico da sociedade do século XIX. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 20 O processo pode ser balizado entre janeiro de 1822, com a inequívoca manifestação pública de D. Pedro, de que ficaria no Brasil, e março de 1824, quando é promulgada a primeira Constituição do Império do Brasil, sendo D. Pedro I coroado Imperador. Entre janeiro e setembro de 1822, D. Pedro I tomou uma série de decisões que desagradaram profundamente o governo de Portugal. A primeira delas foi convocar uma Assembleia Constituinte em junho, visando elaborar a lei básica que deveria regulamentar a vida dos brasileiros, em confronto cada vez mais inevitável com a metrópole. Depois, tratou de organizar uma Marinha de Guerra enquanto determinou o retorno a Lisboa de tropas portuguesas que estavam estacionadas no Brasil. Por fim, declarou que nenhuma lei portuguesa entraria em vigor no Brasil sem sua autorização pessoal. Frente a essas primeiras determinações, D. Pedro I tratou de viajar para Minas Gerais e São Paulo, a fim de acalmar determinados setores e grupos e a preveni-los sobre os acontecimentos recentes, e a autonomização da colônia. Na volta de Santos para São Paulo, recebeu correspondência das Cortes de Portugal, comunicando a anulação da Assembleia Constituinte por ele proposta a 7 de setembro de 1822. Foi no meio da viagem, portanto, que D. Pedro I declarou, oralmente, a independência do Brasil. É importante considerar que as declarações de independência não tinham apenas importância metafórica. No contexto do direito internacional do século XIX, elas representavam alguns ideais expressos de liberdade, e consolidavam-se não como normas abstratas, mas como prêmios arduamente conquistados. Por um lado, colocavam ex-colônias de frente, na arena jurídica, com as ex-metrópoles e com a comunidade internacional de países autônomos e independentes, que, seguindo suas próprias agendas políticas internacionais, jogavam com a aceitação ou relutância dessas mesmas declarações. No caso do Brasil, os primeiros países que reconheceram sua independênciaforam os Estados Unidos da América e o México. Os EUA reconheceram mais rapidamente independências na América do Sul na primeira metade do século XIX, do que na segunda metade do século, a despeito de permanecer com uma política externa de não interferência nessa parte do continente. Thomas Jefferson em pessoa começou a fomentar a resistência aos impérios ibéricos ainda no início de 1786, quando se encontrou clandestinamente em Nîmes, França, com um estudante brasileiro de medicina, José Joaquim Maia e Barbalho, que, sob o pseudônimo de “Vendek”, carregou consigo até 1822, uma cópia da Declaração de Independência, elaborada em comum com Jefferson. Não há evidência, contudo, que a declaração oral de independência feita por D. Pedro I em 1822, tenha sido influenciada pela declaração estadunidense de Jefferson. TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 21 Os grupos e as ideias que estiveram envolvidos nesse processo podem ser acompanhados no seguinte trecho, do livro A Independência e a Construção do Império, de Cecília Helena de Salles Oliveira (1995, p. 98-99): No entendimento do grupo de Nogueira da Gama, assim como na concepção de José Bonifácio, a proposta separatista [entre Brasil e Portugal] estava profundamente vinculada à convicção de que construir a Independência do Brasil implicava a organização de um governo representativo, que ao mesmo tempo harmonizasse os interesses provinciais e garantisse o equilíbrio entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo. Isso quer dizer que esses políticos, mesmo sendo opositores de Gonçalves Ledo e dos republicanos, dividiam com ele a certeza de que o absolutismo monárquico e a legislação do Antigo Regime não mais respondiam à dinâmica social. A grande diferença entre eles estava no fato de os membros da Regência considerarem que o ajustamento de interesses, liberdades e direitos entre os homens livres requeria uma constituição sustentada pelos cidadãos e pela autoridade do príncipe. A gravidade dos conflitos e a presença da população escrava faziam com que não acreditassem que o poder soberano da nação pudesse ser exercido pela Assembleia Legislativa. Temiam que as divergências de opinião entre deputados de diferentes tendências provocassem manifestações sociais fora de controle. Ao mesmo tempo que entendiam ser fundamental o consentimento do povo para a legitimidade do novo governo, sustentavam um amplo espaço de atuação para o Poder Executivo, pretendendo centralizar as decisões políticas nas mãos do príncipe e da Corte do Rio de Janeiro, base para a criação de um Império. Defendiam, desse modo, uma monarquia constitucional em que o povo tivesse asseguradas as liberdades civis e o direito de representação, estando formalmente protegido do arbítrio e do abuso de poder, em que as províncias se subordinassem ao poder central e na qual os proprietários teriam participação política efetiva, já que era a propriedade de riquezas e bens o fundamento da plena cidadania. Confrontos houve no Brasil, principalmente nas ruas do Rio de Janeiro, onde tropas leais à metrópole acabaram por ser repelidas e derrotadas. D. Pedro acabou sendo orientado política, administrativa e intelectualmente por José Bonifácio de Andrada e Silva e acabou abrindo caminho para a coroação como D. Pedro I. UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO 22 O processo de independência não teve participação popular e trouxe consigo o fim do período colonial não necessariamente promovendo mudanças na esfera social, política e econômica local. A independência representou o corte dos laços políticos com a metrópole, porém não os de ordem econômica, uma vez que o país continuou ancorado numa elite aristocrática rural, com economia escravista, sem mobilidade social, onde não existiu um projeto claro e preciso de “nova nação”. Do ponto de vista econômico é importante considerar a dependência econômica que o emergente país encontrou como estrutura desde a vinda da família real em 1808 até 1822. Diversos historiadores, principalmente os de formação econômica, apontaram essas dificuldades. Vejamos alguns trechos extraídos de alguns dos principais pensadores a esse respeito. FONTE: Disponível em: <http://www.arqnet.pt/imagens3/imag120301.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. FIGURA 7 – VOYAGE PITTORESQUE ET HISTORIQUE AU BRÉSIL, III, PARIS, FIRMIN DIDOT FRÈRES, 1839. LITOGRAFIA AQUARELADA DE JEAN-BAPTISTE DEBRET O caminho para a coroação foi rápido, ao passo em que a Independência era reconhecida, primeiramente pelos Estados Unidos da América, depois pelos Estados Unidos Mexicanos. Portugal reconheceu a independência brasileira somente após o pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas, dinheiro esse que D. Pedro I conseguiu como empréstimo, da Inglaterra. TÓPICO 2 | INDEPENDÊNCIA 23 Celso Furtado (2007, p. 93-94), em Formação econômica do Brasil, afirmou que: “A abertura dos portos”, decretada ainda em 1808, resultava de uma imposição dos acontecimentos. Vêm em seguida os tratados de 1810 que transformam a Inglaterra em potência privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais a níveis extremamente baixos, tratados esses que constituirão, em toda a primeira metade do século, uma séria limitação à autonomia do governo brasileiro no setor econômico. Caio Prado Júnior (2007, p. 133) observa que Deriva daí [do processo de abertura de portos e submissão à Inglaterra], como consequência imediata que se faria profundamente sentir, o desequilíbrio da vida financeira do país. O comércio internacional do Brasil se torna quase permanentemente deficitário. Entre 1821 e 1860 só excepcionalmente ocorrem anos com balanços positivos. […] O déficit será saldado pelo afluxo de capitais estrangeiros, sobretudo empréstimos públicos, que efetivamente começam a encaminhar-se para o Brasil desde que o país é franqueado ao exterior. Mas isto representava apenas solução provisória que de fato ia agravando o mal para o futuro, pois significava novos pagamentos sob a forma de juros, dividendos, amortizações, e, portanto, novos fatores de desequilíbrio da balança externa de contas. A economia brasileira ficará na dependência de um afluxo regular e crescente daqueles capitais estrangeiros de que não poderá mais passar sem as mais graves perturbações […]. Mas este mesmo afluxo não impedirá a drenagem de todo ouro existente e daquele que continuava a ser produzido no país. 24 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • A Corte Portuguesa chega à Colônia e instala toda uma estrutura burocrática, legal e financeira, dinamizando a sociedade e rompendo os laços coloniais, elevando o Brasil à categoria de reino unido. 25 AUTOATIVIDADE Identifique os elementos que compuseram a primeira estrutura do Brasil, enquanto país autônomo, desvinculado da metrópole europeia. Pense nos legados destas estruturas para o Brasil contemporâneo. 26 27 TÓPICO 3 CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Alguns autores consideram que a construção do império no imediato período que secundou a independência não passou de um acordo de cavalheiros entre bacharéis e as províncias futuras do país. É claro que essa afirmação é demasiada simplista para se entender a construção do Brasil como império a partir da ascensão de D. Pedro I ao trono, oficialmente ratificada com sua coroação em dezembro de 1822. De todas as formas o Estado que nasce acaba sendo um Estado vinculado a oligarquias, e o processo de centralização do país em termos políticos, administrativos e burocráticos precisa ser interpretado à luz das dinâmicas dessas mesmas elites. Devemos observar, contudo, que esse processo de centralização administrativa e burocrática, que levou ao aparelhamento do estado e à sua unificação política, ao contrário do que afirmam diversas levas de historiadores, principalmente de orientação republicana, foi rápido e eficiente, apesar de violento e vertical. Historiadoresdo Brasil convencionaram ser possível dividir a história do Império do Brasil a partir de um recorte cronológico específico, do qual o primeiro período é chamado de Primeiro Reinado, entre 1822 e 1831. Nesse momento é que identificamos os processos de centralização político-administrativa do Brasil. A proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, que efetivamente reverberou como um grito de autonomia perante Portugal, afastou o risco da recolonização e reposicionou D. Pedro no eixo da nova ordem política, abrindo espaço para a inserção do Brasil no sistema internacional. Nesse sentido é necessário observar que a constituição do Brasil foi rápida, ao contrário do que ocorreu em outras ex-colônias americanas, que passaram por longos períodos de guerra externa, guerras civis e guerras de unificação. O Brasil ex-colônia conseguiu manter sua integridade territorial, e esse elemento acabou sendo preponderante para a consolidação do império posteriormente. 28 UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO Já dissemos que a independência brasileira foi reconhecida primeiramente por dois países, os Estados Unidos da América e os Estados Unidos Mexicanos, em meio à reação absolutista que se seguiu à derrota de Napoleão Bonaparte em 1815. Por outro lado, é necessário considerar que os EUA, em 1824, propunham a Doutrina Monroe, que tecia um acordo com a Europa, no qual os estadunidenses concordavam em não intervir e opinar sobre a política europeia, desde que a Europa não reagisse à autodeterminação dos povos americanos. A Doutrina Monroe foi caracterizada pela expressão “A América para os americanos”. Incontinente, a Inglaterra trabalhou como mediadora junto às cortes portuguesas pelo reconhecimento da independência brasileira, o que aconteceu efetivamente em 1825, quando foi assinado um Tratado de Paz e de Aliança entre Portugal e Brasil, documento esse que também impunha ao Brasil a não aceitação de união com quaisquer outras colônias portuguesas. O tratado foi oficialmente reconhecido pelas nações europeias. Em 1823 foi convocada uma Assembleia Constituinte composta por 90 deputados pertencentes à aristocracia (grandes proprietários, membros da Igreja, juristas). Grande parte dos constituintes defendia a construção de uma monarquia constitucional que limitasse os poderes do imperador, que provesse liberdades individuais, mas que não modificasse as estruturas socioeconômicas. Antônio Carlos de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, apresentou à Assembleia um esboço de constituição que apresentava como princípios a soberania do poder legislativo (senadores e deputados), que subordinavam o poder executivo (imperador) e as forças armadas. A ideia era estabelecer o voto censitário como instituição, podendo então votar quem apresentasse comprovante de elevada renda, obtida, principalmente, pela atividade agrícola e avaliada segundo o número de escravos e de terras de cada interessado em votar. De um modo objetivo, essa proposta foi denominada de “Constituição da Mandioca”, e ela limitava, de um lado, a participação popular, e de outro, o poder do imperador. D. Pedro I percebeu o alcance negativo que tal proposta poderia ter sobre seu reinado e, utilizando pretextos como a crítica da oposição representada por setores aristocratas, burocratas e das Forças Armadas, dissolveu a Constituinte, ordenando, ainda em novembro de 1823, a prisão e o exílio de muitos deputados, entre eles o antigo conselheiro, José Bonifácio de Andrada e Silva. José Bonifácio de Andrada e Silva (1999, p. 125), antes aliado, agora referia- se ao imperador nos seguintes termos: PÉRFIDO PEDRO O império perseguiu os únicos homens que podiam defender a realeza no Brasil; e por isso está hoje em perigo de perder-se. É do caráter de Pedro o preferir a atividade do crime à tranquilidade da virtude, que não pode alimentar as paixões de um atroz. TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS 29 Pensamentos prontos como o raio vinham-se à cabeça e projetos atrevidos e quiméricos pululavam-lhe nos miolos. […] Pérfido Pedro, quando me fazia amizades com a metade do rosto, com a outra se azedava da minha popularidade e no seu corrompido coração tramava calúnias, que espalhava contra mim – clandestinamente espalhava entre os seus escravos rumores surdos, que me eram desfavoráveis, e por todos os meios procurava abortar os meus planos e projetos. Com a máscara da franqueza iludia a minha boa-fé, e acolhia os meus mais secretos pensamentos, que espalhava às escondidas, desnaturando-os e empeçonhentando-os. Quando obrava despropósitos, dizia que lhos tinha aconselhado; e quando cedia às minhas representações, diz que se tinha arrependido de ter cedido à amizade que bazofiava de ter por mim. 2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824 Depois da dissolução da Assembleia Constituinte, o imperador criou um conselho de Estado, reduzido, com a missão de auxiliá-lo na redação da primeira constituição do império, que seria outorgada em 25 de março de 1824. O processo de redação da Lei teve diversos passos, desde as cópias do texto que foram enviadas aos municípios brasileiros para que eles dessem sugestões, até a redação final que disfarçava o autoritarismo, tendo como inspiração a Constituição da França, outorgada por Luís XVIII, em 1814. A Carta brasileira de 1824 constituía uma monarquia hereditária, com a divisão dos poderes em Executivo (na mão do imperador e dos ministros de Estado, que responsabilizar-se-iam pela execução das leis), Legislativo (que incluía a Câmara dos Deputados e o Senado, considerados por conseguinte legisladores), o Judiciário (constituído pelos juízes e tribunais) e o Moderador (atribuído ao imperador, com a missão de regular os outros poderes). Essa constituição acabara de combinar, portanto, características político-administrativas e burocráticas marcadamente constitucionalistas a elementos absolutistas. Os deputados teriam mandato de quatro anos e seriam escolhidos por eleições indiretas, nas quais os eleitores “de paróquia” escolheriam os “eleitores de província”, que seriam os representantes oficialmente instituídos para votarem em deputados e senadores numa segunda eleição. Poderia votar quem tivesse mais de 25 anos de idade (exceto bacharéis e militares), e que fossem homens. Apesar de D. Pedro I ter outorgado uma constituição diferente daquela proposta por Andrada e Silva, a capacidade de votar continuou tendo por base a renda do cidadão votante: 100 mil réis para votante de paróquia; 200 mil réis para eleitor de província; 400 mil para deputado e 800 mil para senador. Cabe dizer ainda que a constituição previa um conselho de Estado composto por membros vitalícios, a divisão administrativa do país em províncias dirigidas por presidentes nomeados pelo imperador, a oficialização da religião católica com o reconhecimento de seus membros como funcionários públicos. 30 UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO Acompanhe na grafia original o trecho inicial da Constituição de 1824: FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3 %A7ao24. htm>. Acesso em: 24 jul. 2010. Do Imperio do Brazil, seu Territorio, Governo, Dynastia, e Religião Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se opponha à sua Independencia. Art. 2. O seu territorio é dividido em Provincias na fórma em que actualmente se acha, as quaes poderão ser subdivididas, como pedir o bem do Estado. Art. 3. O seu Governo é Monarchico Hereditario, Constitucional, e Representativo. Art. 4. A Dynastia Imperante é a do Senhor Dom Pedro I actual Imperador, e Defensor Perpetuo do Brazil. Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu cultodomestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. 3 PROBLEMAS PARA A CENTRALIZAÇÃO Veja como estava traçada a organização político-administrativa dos primeiros momentos do Império do Brasil, conforme a descrição de Luiz Felipe de Alencastro:(1997, p. 18-19): Desde 1828, o Primeiro Reinado começa a erodir o autonomismo municipal, restringindo a competência das câmaras às matérias econômicas locais e proibindo que os vereadores deliberassem sobre temas políticos DICAS Se você quiser analisar todo o conteúdo da primeira Constituição do Brasil, acesse o link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao24. htm> e boa pesquisa!!! TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS 31 provinciais ou gerais. A regionalização instaurada pelo Ato Adicional (1834) cria as assembleias provinciais, mas a tendência antimunicipalista prossegue. Nesse movimento, o governo central subtrai a autonomia das municipalidades e, sobretudo, a competência jurídica e policial dos juízes de paz eleitos em cada cidade e dos juízes de paz eleitos em cada cidade e dos juízes municipais indicados pelas câmaras. Ora, o exercício do poder público por autoridades designadas pelos presidentes de províncias, ou seja, pelo governo central – em detrimento das autoridades locais escolhidas pelos proprietários, eleitores qualificados da região –, afigurou-se como uma ameaça à ordem privada, isto é, à ordem em geral. Esse embate pode ser ilustrado pelo levante ocorrido nos sertões do Maranhão, a Balaiada (1839-1841), conflito típico de uma região desconjuntada pelo recuo do comércio interno, pelo novo desenho da geografia econômica do país. A dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador D. Pedro I, associada à imposição da Constituição de 1824, provocou protestos em inúmeras províncias, principalmente no Nordeste do país, que não conseguira reverter os problemas econômicos regionais, ainda mais com a crise de produtos como o algodão e o açúcar, que não tinham competitividade com o preço de congêneres estrangeiros, bem como as dificuldades no que diz respeito ao pagamento de impostos cobrados pelo governo central. É importante considerar que o Nordeste já havia sido sacudido por revoltas autonomistas antes da transferência da corte portuguesa para o Brasil e durante a regência joanina. A Província de Pernambuco, por exemplo, que havia se levantado em 1817 contra o governo português, acabou novamente se rebelando quando da nomeação do seu novo presidente por D. Pedro I. Esse evento desembocou na criação da Confederação do Equador, articulada pelo presidente deposto da Província de Pernambuco, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, e pretendia-se separatista, republicano, popular e urbano, e que acabou tendo adesão de Rio Grande do Norte, do Ceará e da Paraíba. Essas províncias, agora unidas, adotaram provisoriamente a Constituição da Colômbia, e tiveram como ideólogos republicanos o frei Joaquim do Amor Divino Rebelo (frei Caneca) e Cipriano Barata (veterano dos levantes da Bahia de 1798 e de 1817 em Pernambuco). A repressão central à Confederação do Equador contou com empréstimos financeiros da Inglaterra, e com o envio de tropas à região nordeste sob o comando de Francisco Limo e Silva e pelo oferecimento de serviços especializados de guerra de Lorde Cochrane, militar inglês e herói nacional britânico. Dezesseis revoltosos foram condenados à morte, incluindo o frei Caneca. 32 UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO A Bahia também passava por conflitos desde 1821. Naquele ano, a Bahia já havia se levantado contra Portugal, a partir de conflitos entre soldados portugueses e brasileiros nas ruas de Salvador. Nesse período alicerçou-se um nativismo interessante na região, que veio a proclamar a independência da Bahia, e sua posterior incorporação ao Império do Brasil, em 1823. A independência da Bahia, se não trouxe uma separação daquela província do restante do país, serviu para balizar e para construir alguns elementos identitários nacionais, que foram incorporados pelo Brasil no futuro, tais como Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), uma militar brasileira que passou a ser incorporada no panteão nacional a partir da República. Enquanto o Estado centralizado lutava com as forças centrífugas, a balança comercial era deficitária, o país convivia com dívida externa e com uma economia totalmente frágil. O café brasileiro começou a despontar no mercado internacional apenas em 1820, mas ainda o açúcar e o algodão tinham prevalência na balança comercial de exportações. Diante desse quadro, associado aos elevados gastos com a organização do Estado, D. Pedro I lançou mão de um recurso que será copiado por governos futuros do país, que foi autorizar sucessivas emissões de dinheiro, gerando inflação e ocasionando a falência do Banco do Brasil, em 1829. Esse clima de instabilidade econômica fez com que D. Pedro I passasse a enfrentar oposicionistas que em artigos criticavam o autoritarismo imperial, principalmente a partir da desarticulação violenta da Confederação do Equador. Muitos dos críticos do imperador atacavam-no como se fosse antibrasileiro, com intenções recolonizadoras, e com muita proximidade aos grupos portugueses. Eventos críticos como a Guerra da Cisplatina e a Guerra da Sucessão, em Portugal, depois da morte de D. João VI em 1826, impediram D. Pedro I de permanecer à frente do governo brasileiro: primeiro porque se reacenderam os temores brasileiros de uma recolonização, e segundo, porque Pedro seria um dos indicados a assumir o trono português. Em Portugal, a situação estava posta da seguinte maneira: D. Pedro estava sendo pressionado para abdicar do trono em nome de sua filha Maria da Glória, que tinha sete anos de idade na época, e que, até atingir a maioridade, seria representada por um regente que era seu tio, D. Miguel. Mas D. Miguel proclamou-se rei assumindo o poder sozinho. D. Pedro I iniciou uma guerra contra o irmão para garantir a coroa à filha, usando para isso dinheiro e tropas do Brasil. Aliados do imperador, visando diminuir a pressão da opinião pública, trataram de assassinar o principal opositor de D. Pedro I, em São Paulo, no ano de 1830, Líbero Badaró. Depois disso, inúmeras manifestações contrárias ao governo agitaram cidades em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO E ELITES POLÍTICAS 33 No caso do Rio de Janeiro, apoiadores do imperador trataram de organizar uma recepção calorosa para D. Pedro I, com vistas a compensar as manifestações de desapreço vindas de Minas Gerais. Isso não diminuiu a margem de atuação da oposição, o que deu origem a diversos conflitos de rua, principalmente na noite de 13 de março de 1831, que ficou conhecida como a Noite das Garrafadas, a principal manifestação de oposição ao imperador, e que foi muito similar às lutas liberais da Europa, contra a restauração imposta pelo Congresso de Viena (1815). Visando dissuadir os opositores, o imperador constituiu, poucos dias depois desse evento, um ministério liberal totalmente composto por brasileiros, aniquilando-o em seguida, para daí em diante nomear um novo ministério composto por colaboradores tendenciosamente absolutistas. D. Pedro I, pressionado pelas elites e pelas Forças Armadas, abdicou do trono em 7 de abril de 1831, indo em seguida para Portugal, onde travou batalha e venceu D. Miguel, e assumiu o trono com o título de D. Pedro IV. Em 1834, abdicou do trono português em favor de Dona Maria da Glória, sua filha. FONTE: Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/Ricard oBrugger/image005 .jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010. FIGURA 8 – D. PEDRO I COM PEDRO II AINDA MENINO NA SACADA DO PAÇO IMPERIAL, EM ATO PÚBLICO, DEPOIS DE ABDICAR DO TRONO, EM 7 DE ABRIL DE 1831 34 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • O processo de centralização administrativa e burocráticado Império do Brasil levou ao aparelhamento do Estado e à sua unificação política, apesar de violenta e vertical. • A dissolução da Assembleia Constituinte pelo imperador D. Pedro I, associada à imposição da Constituição de 1824, provocou protestos em inúmeras províncias, principalmente no Nordeste do país, que não conseguira reverter os problemas econômicos regionais, ainda mais com a crise de produtos como o algodão e o açúcar que não tinham competitividade com o preço de congêneres estrangeiros, bem como as dificuldades no que diz respeito ao pagamento de impostos cobrados pelo governo central. • D. Pedro I, pressionado pelas elites e pelas forças armadas, abdicou do trono em 7 de abril de 1831, indo em seguida para Portugal, onde travou batalha, venceu D. Miguel e assumiu o trono com o título de D. Pedro IV. Em 1834, abdicou do trono português em favor de Dona Maria da Glória, sua filha. 35 AUTOATIVIDADE Caracterize a construção do Império do Brasil a partir das relações internas e das forças descentralistas que havia no período. 36 37 TÓPICO 4 NACIONALISMOS E NATIVISMOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO 2 CARACTERÍSTICAS DOS NATIVISMOS O período que vai da chegada da família real à abdicação de D. Pedro I foi marcado pela emergência de nativismos e nacionalismos no Brasil. Num primeiro momento, esses dois sentimentos estavam vinculados a um preceito comum, o antilusitanismo que pode ser interpretado genericamente como uma expressão de incompatibilidade de interesses entre colônia e metrópole, que teve consequências e infiltração profundas no todo social brasileiro, e que ainda parece estar presente na cultura nacional, principalmente no anedotário do cotidiano. De onde vem esse antilusitanismo? Em certa medida, é possível afirmar que já no período colonial esse processo se desenrola, principalmente quando pensamos em obras como a de Gregório de Mattos e em revoltas do período, que eram um indício de que as hostilidades com relação à coroa portuguesa se avolumavam. Lembremo-nos, por exemplo, do escárnio que a população fluminense tecia sobre os membros da corte, chamando-os de “toma-larguras, devido a suas casacas abertas de longas abas pendentes”. Nesse sentido, coube a D. João VI proceder a uma ruptura inevitável, enquanto sua memória, para usar a expressão de Ricardo Luiz de Souza, passou a conviver com a antipatia da historiografia brasileira e com a imagem depreciativa que se entranhou no imaginário popular. O sentimento antilusitano consolidou-se em razão de uma necessidade característica da ex-colônia, que era a de construir uma identidade nova que rompesse com o passado colonial. Não é à toa que um líder como frei Caneca referia-se à colônia nos seguintes termos: “[...] trezentos anos já não digo de infância, sim de vil escravidão, ainda não sucedeu a povo nenhum do globo, por mais desfavorecido da fortuna e natureza” (MELLO, 2001, p. 38), criticando, assim, o monopólio dos empregos e do comércio por portugueses, que só foi enfraquecido no início do século XX. Ricardo Luiz de Souza enfatiza que não é gratuita a hostilidade aos portugueses, ainda mais se considerarmos que, dos 67% dos portugueses que entraram no Brasil em 1827, 44,8% dos que entraram em 1828 e 41% dos que entraram em 1829 destinavam-se a caixeiros e que isso resultava em críticas como a que foi feita pelo farmacêutico carioca, Ezequiel Correia dos Santos, que publicou um jornal intitulado “Nova Luz Brasileira”, entre 1829 e 1831, e que descrevia 38 UNIDADE 1 | A CONSTRUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO IMPÉRIO os portugueses como “caixeiros imprudentes com presunção de possuir a cor branca que é a cor conquistadora ou dos senhores” (SOUZA, 2007, p. 73). No período pós-independência, o nativismo foi exacerbado. Manifestações antilusitanas tomaram a forma de violência efetiva, tais como espancamentos de portugueses na Bahia em 1826, ou atentados a propriedades e pessoas no Rio de Janeiro, no mesmo ano. Esses eventos não se restringiram apenas à Bahia e ao Rio de Janeiro, e foram registrados muitos casos de chacinas, espancamentos, roubos e depredações de patrimônio em diversas regiões. Em certa medida, guardadas as construções lusitanistas e brasileiristas que opunham, ora os “trabalhadores” portugueses vitimados desses conflitos contra os “orgulhosos e indolentes brasileiros”, ou vice-versa, fato é que o antilusitanismo foi um dos caminhos para o reconhecimento da nacionalidade brasileira, bem como para enfraquecer as identificações regionais que ainda predominavam na época da independência, mas também para tocar em temas importantes como a tomada de consciência de diferenças entre mulatos e negros. Em Recife, no ano de 1823, versos separavam marinheiros e caiados (os marinheiros como portugueses, e os caiados como brasileiros brancos), e prometiam eliminar ambos em benefício de negros e pardos. Com a abdicação de D. Pedro I, os nativismos acabaram por adquirir novo formato. O inimigo político não existia mais, mas sim eram prementes as reformas que precisavam articular a nacionalidade num processo de construção de um novo país. Nesse sentido, era necessário reafirmar o corte com o passado colonial, do qual ainda os portugueses, que residiam no Brasil, eram vistos como herdeiros. Essa racionalização refletiu-se em propostas como a que surgiu em 1831, e que tentava proibir a entrada de portugueses no Brasil por dez anos. Mesmo no período regencial, o antilusitanismo continuou forte e impregnado no novo país. O projeto de Hino Nacional proposto por Francisco Manuel da Silva, e que ficou conhecido no período regencial como Hino ao 7 de Abril, descrevia os portugueses como monstros, em três versos diferentes: Os bronzes da tirania Já no Brasil não rouquejam; Os monstros que o escravizavam Já entre nós não vicejam. (estribilho) Da Pátria o grito Eis que se desata Desde o Amazonas Até o Prata TÓPICO 4 | NACIONALISMOS E NATIVISMOS 39 Ferrões e grilhões e forcas D’antemão se preparavam; Mil planos de proscrição As mãos dos monstros gizavam. FONTE: Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/curiosidades/hino/>. Acesso em: 24 jul. 2010. O período regencial, contudo, promove uma virada nesse antilusitanismo e nativismo. A nacionalidade passa a ser tratada em outras arenas que não apenas a política, partindo para o mundo da economia, da sociedade, da literatura e do jornalismo. O Jornal “O Echo de Pernambuco”, por exemplo, traz, na edição de 30 de janeiro de 1851, uma expressão interessante e explícita do antilusitanismo e do nativismo brasileiros, numa crítica à criação do Gabinete Literário Português de Recife: O Gabinete Litterario Portuguez quando por aqui se espalhou a noticia de que o Sr. João Vicente Martins tinha criado nesta província um gabinete litterario portuguez, pouco apreço demos a isso, entendendo que sendo pouco os portuguezes que sabem ler e escrever correctamente a sua língua, e que teem alguns conhecimentos, essa instituição tinha por fim fazê los aprender alguma cousa e applicarem se a leitura: realmente não atinamos com o fim, a que parece hoje dirigir-se essa associação; mas agora em vista de certos fatos, e melhor refletindo sobre o caso, cremos que esse gabinete traz machiavelismo, e compreende mais política, do que instrucção. Quem é o Sr. João Vicente Martins para promover a criação de um gabinete litterario em Pernambuco, e onde sómente entrem portuguezes? É um senhor que tem alguma habilidade, que passa por cirurgião homeopatha, que é muito vivo; mas que não ta num caso de um litterato, que só almeja o saber, a instrução, e que sacrifica seus dias e sua fortuna neste empenho. Mas supponha-se que Sr. João Vicente Martins é uma grande capacidade, o que é só por hypothese adimittimos, e que ama a sciencia, e por isso a applicação aos estudos, e gosta de vê-la progredir, ainda assim achamos um pouco extraordinário que andando por tanta parte do Brasil, só se lembrase da criação
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