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A Inserção do Brasil no Capitalismo

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24
Unidade II
Unidade II
3 A INSERÇÃO DO BRASIL NOS QUADROS DO CAPITALISMO
Segundo Caio Prado Junior, nos primeiros anos da República “a larga expansão das forças produtivas 
e o progresso material a que assistimos nos últimos decênios do Império ainda se ativarão mais com o 
advento da República” (PRADO JUNIOR, 1981, p. 154).
Vários fatores concorreram para isso: a elevação do nível de vida da população europeia e nos 
Estados Unidos, o desenvolvimento da industrialização e o fomento do comércio internacional. Além 
disso, ocorreu o aperfeiçoamento dos sistemas de transportes e do sistema financeiro em nível mundial, 
o que facilitou a exportação e a importação das mercadorias.
Devemos lembrar que estava em plena expansão o liberalismo, o que facilitou o comércio internacional. 
Nesse período, o capitalismo pregava pela livre iniciativa e o livre comércio. Defendia também que o 
Estado não deveria intervir nas relações particulares. Assim, a burguesia se expandiu por todo o planeta 
e se solidificou no Primeiro Mundo.
O Brasil também estava em expansão econômica. Ocorreu uma numerosa imigração de trabalhadores 
de várias regiões da Europa. Prado Junior (1981, p. 155) alerta que o aperfeiçoamento técnico da 
navegação colaborou tanto para o fluxo dos imigrantes que já possuíam o conhecimento técnico para 
laborar nas indústrias como também para a importação de máquinas necessárias para o desenvolvimento 
da produção.
A figura a seguir, do Censo de 1920, no capítulo “População”, demonstra o grande número de 
estrangeiros que passaram a integrar a população brasileira.
25
REPÚBLICA VELHA
Figura 5 – Censo de 1920
É importante ressaltar a dificuldade do trabalho dos pesquisadores. Vejam que a estatística foi feita 
a mão! Lembrem‑se de que não havia computador na época!
Na figura podemos notar o crescimento da população brasileira em relação à idade. A primeira 
coluna analisa os brasileiros de idade ignorada. Nas demais, faz uma comparação em relação à idade e 
à quantidade de homens e mulheres.
26
Unidade II
Nesse censo foi a primeira vez que a população negra foi excluída. Os censos do Império 
registravam a presença dos negros, mas com o advento da República surgiram as teorias positivistas 
de branqueamento, e uma das formas de apagar a presença do negro da nossa história era a ausência 
de registro da sua existência.
O crescimento dos cafezais no final do Império propiciou recursos necessários para a expansão 
da rede ferroviária, como também para a expansão da rede de energia elétrica, necessária para 
as indústrias.
Há uma transformação na elite. Se antes havia uma preocupação com a política e os assuntos 
da corte, agora, os mesmos indivíduos se tornavam burgueses. A preocupação estava voltada para 
enriquecer, segundo Prado Junior (1981, p. 155), “especuladores e negocistas”
Muitos estrangeiros passaram a investir recursos no Brasil, a maioria na indústria e comércio. Foram 
abertas várias filiais de bancos ingleses, alemães, franceses, norte‑americanos e outros.
O ingresso de capital estrangeiro fomentou ainda mais a lavoura cafeeira. Além do café, outros 
produtos eram feitos visando ao mercado externo: a borracha, o cacau, o mate, o fumo.
Entretanto, o revés da produção voltada para o mercado externo era a baixa produção de 
gêneros utilizados pelo mercado interno, o que forçava a importação de gêneros que faziam parte 
da cesta básica, encarecendo demais os produtos. Esse movimento aumentou em muito a dívida 
externa brasileira:
A dívida externa do Brasil cresce de pouco menos de 30 milhões de libras 
por ocasião da proclamação da República para quase 90 milhões em 1910. 
Em 1930 alcançará a cifra espantosa de mais de 250 milhões (PRADO 
JUNIOR, 1981, p. 157).
Apesar do crescimento da dívida externa, a balança comercial permanecia equilibrada tendo em 
vista o grande volume das exportações. A questão central é que esse momento definiu as futuras crises, 
uma vez que grande parte da produção nacional era para exportação. Nossa economia dependia do 
equilíbrio econômico dos países europeus e dos Estados Unidos.
A elite do período encontrou no liberalismo o modelo econômico para atender às suas 
expectativas. Essas ideias reafirmaram ainda mais as diferenças sociais e, apesar da abolição da 
escravidão, a sociedade brasileira reafirmou as desigualdades, com o empobrecimento ainda maior 
dos trabalhadores livres:
Nessas circunstâncias, o liberalismo adquiria um caráter de consagração da 
desigualdade, de sanção da lei do mais forte. Acoplado ao presidencialismo, 
o darwinismo republicano tinha em mãos os instrumentos ideológicos 
e políticos para estabelecer um regime profundamente autoritário 
(CARVALHO, 1990, p. 25).
27
REPÚBLICA VELHA
Apesar do crescimento da lavoura cafeeira e do enriquecimento dos proprietários de terra, a classe 
trabalhadora não colhia os frutos do crescimento econômico.
Os grandes fazendeiros passaram a enfrentar problemas com a mão de obra livre. Os antigos senhores 
permaneciam com a mentalidade escravocrata e não davam aos trabalhadores estrangeiros condições 
dignas de trabalho.
Os trabalhadores eram tratados em condições análogas à escravidão. Para pagar as despesas da 
viagem e da moradia, não recebiam integralmente os salários. Para sobreviver eram obrigados a 
comprar os gêneros de primeira necessidade das vendas de propriedade dos senhores, onde os preços 
eram muitos altos. Assim, a dívida nunca era paga e o trabalhador e sua família eram obrigados a 
permanecer laborando.
A maioria dos imigrantes veio para o Brasil acreditando nas falsas promessas do governo brasileiro. 
O Brasil publicou em jornais europeus anúncios nos quais oferecia trabalho, afirmando que aqui era 
uma terra de oportunidades onde os trabalhadores poderiam conseguir terras e enriquecer com o 
trabalho.
Segundo Toledo (2004, p. 15), “a maior parte era de imigrantes que fugiam da miséria do campo 
italiano e das condições existentes nas fazendas de café paulistas”, provavelmente atraídos pelas 
promessas e garantias de trabalho.
Agências de imigração foram criadas. Eles aliciavam as famílias ainda em sua terra natal, arcavam 
com as despesas de documentação e transporte. Quando chegavam no Brasil, os imigrantes eram 
encaminhados para os centros de imigração, onde os aliciadores já faziam a triagem e encaminhavam 
os trabalhadores para as fazendas onde iriam trabalhar.
Ocorre que, quando lá chegavam, encontravam uma situação bem diferente da que havia sido 
ofertada. Nesse sentido, analisar o trecho a seguir é de suma importância.
O artigo, publicado no jornal Guerra Sociale, descreve a dura realidade dos imigrantes que vieram 
para trabalhar nas lavouras de café.
Transcrição do artigo publicado:
Escursão de Propaganda
Odissea dos Colonos – A loucura religiosa – A sementeira libertaria
O que no interior do Estado de São Paulo, na região servida pela estrada de ferro 
Araraquarense, mais impressiona o viajante, são as causas dos colonos. Situados em 
lugares onde a inteligência dos fazendeiros os localizou, sem ter em consideração a 
topografia do terreno, a convergência dos mananciais, nem a escolha do clima, esses 
edifícios de construção primitiva distanciam‑se um dos outros por espaços mais ou menos 
28
Unidade II
regulares. As paredes destes palácios são construídas com algumas dúzias de estacas 
toscas, colocadas a distancia de vários centímetros uma das outras. Algumas chegam ao 
telhado, outras alcançam a meio distancia. A maior parte dessa choupana são cobertas 
com palhas e as restantes com zinco.
Nesses chiqueiros o calor, o frio, a chuva, os ventos, as tormentas de pó, de granizo, 
fazem das suas, como em campo aberto, Os insectos nocivos, que ali se criam, assombram 
pela sua proliferação.
Quatro sarrafos atravessados uns sobre os outros, e um pouco de berva silvestre ou palha 
de milho, servem de leito aos desgraçados colonos. É sobre esses leitos que as mulheres 
pertencentes ao proletariado campesino dão à luz, sem assistênciamédica, aos futuros 
escravos, que hão de continuar a obra dos seus perseguidores: trabalhar e sofrer vicissitudes 
espantosas, para enriquecer os modernos feudatários.
O fubá, a mandioca (rais de pau), e feijão, gêneros de ultima qualidade, 
deteriorados, constituem, com escassez, a base da alimentação desses esforçados 
pioneiros do trabalho.
Homens e mulheres, velhos e creanças de ambos os sexos, levantam‑se as altas 
horas da madrugada, invadem os cafezais e, durante todo o dia, torrados pelo 
sol, banhados pela chuva, ou tiritando de frio, labutam, como leões, até a noite, 
estafando‑se completamente, ao ponto de perderem a disposição para comer a 
bazofia, que os cães regeitam.
Raros são os que vestem roupa interior. Farrapos de algodão, cheios de claraboias feitas 
pelos espinhos ou [...]
[...] mistura de diversos idiomas ou dialetos que ninguém entende.
A loucura religiosa domina sensivelmente o pensamento e o sentimento da 
população das cidades, dos lugarejos e das fazendas. Cada casa é uma capela. Não há 
dinheiro para adquirir o pão, mas sempre aparecem para comprar cêra, afim de alumiar 
os bonequinhos de pau.
Todos os males se remediam com rezas e promessas, além de um pouco de azeite de 
lamparina, com a qual os fanáticos se ungem.
A sciencia medica foi substituída pela magia. Os médicos e os farmacêuticos cederam 
o lugar, aos curandeiros, que tratam todas a moléstias com rezinhas, penitencias e orações.
Durante o longo período de esteio organizam‑se procissões, que conduzem as margens 
dos ribeirões, os santos, os padroeiros e banham‑se para que façam chover.
29
REPÚBLICA VELHA
Em Nova América o fanatismo chegou ao ponto de prejudicar o vigário daquela 
localidade.
Um estupido, metido a curandeiro catequisou o povo de tal forma, que este 
passa o dia rezando [...] mas não vae à missa, obedecendo aos conselhos do seu 
facultativo, o qual não poder ver com bons olhos que nas almas ingênuas levem o 
seu pecúlio ao padre.
Esse, por sua vez, está furioso contra o novo messias e contra os seus fanáticos, a causa 
da concorrência, pois sente‑se ameaçados de morrer à mingua.
De mãos dadas com o fanatismo, a pornografia marcha divinamente.
Em Araraquara, por exemplo, vemos mocinhas de quinze anos percorrer em 
nas ruas, penetrando em todos os estabelecimentos... em todas as casas... pedindo 
esmolas para Nossa Senhora, ou vendendo bilhetes de tombolas, dirigindo, aos 
fregueses, gracejos que faziam corar um santo de pedra, ou insultos, quando não 
caem com o cobre.
O mais digno de nota e de satisfação para quem viaja propagando o ideal libertário é a 
psicológica de elemento anarquista destas comarcas.
A amabilidade, e a franqueza a sinceridade, e a bondade, a honradez e o entusiasmo 
da grei libertaria cativam e comovem. O acolhimento leal e expontaneo que encontrei em 
todas as localidades, deu‑me animo e facilidade para realizar em poucos dias e de maneira 
feliz, que sob o ponto de vista do beneficio econômico para nossa folha, quer sob o da 
propaganda em geral, a tarefa que me foi confiada. [...]
Fonte: Guerra... (1916, p. 2).
30
Unidade II
Figura 6 
31
REPÚBLICA VELHA
O artigo descreve o estado de penúria dos imigrantes campesinos, eles viviam em choupanas, cabanas 
rústicas sem as mínimas condições de higiene e segurança, a alimentação era de péssima qualidade, 
verdadeira “basófia”, ou seja, guisado de restos de comida.
Trajavam verdadeiros farrapos, não possuíam roupas de baixo, trabalhavam sob péssimas condições, 
expostos às mais adversas condições e com uma jornada estafante. O descanso era somente no domingo 
para irem à missa, já que grande parte dos imigrantes era católica.
Contudo, precisamos entender que o jornal era uma publicação anarquista. Nesse sentido, além 
das denúncias em relação às condições de vida, ele fazia um ataque direto à religião, ironizava a fé e 
questionava o comportamento das “meninas de 15 anos” que vendiam rifas para ajudar a igreja. Chama 
as benzedeiras de curandeiras, questionando as suas práticas e o comportamento do padre da paróquia. 
Mas ao final, faz propaganda dos ideais anarquistas, elogia os trabalhadores que receberam o ativista e 
divulga as conquistas obtidas.
É importante reconhecer que esses ativistas tinham uma grande dedicação à causa. Viajavam em 
cidades divulgando os ideais, faziam denúncias, organizando os trabalhadores e tentando aproximá‑los 
da causa anarquista.
Muitos desses imigrantes já conheciam os princípios anarquistas em suas terras natais, mas os 
trabalhadores brasileiros somente tiveram contato com os ideais através das reuniões organizadas pelos 
ativistas.
Resumidamente, o artigo deixa claro que os camponeses viviam uma situação de miséria em suas 
pátrias em decorrência da guerra e que foram enganados por propagandas do governo brasileiro que 
prometiam terra e trabalho digno. Vieram trabalhar na lavoura do café e, ao chegar, eram tratados como 
escravos, reproduzindo aqui uma realidade ainda mais cruel do que em suas terras.
A dura realidade do campo fez com que centenas de famílias de imigrantes que estavam nos campos, 
no intuito de fugir dessas condições de vida, se deslocassem para as cidades, passando a engrossar 
as fileiras de operários, tornando‑se, conforme descreveu Toledo (2004, p. 15): “operários industriais, 
chapeleiros, sapateiros, tipógrafos, trabalhadores de olarias, pedreiros, carpinteiros, ferroviários. Eles 
contribuíram para a organização dos sindicatos de São Paulo”.
Com o passar dos anos, unindo‑se a outros imigrantes que se encontravam nos grandes centros, 
mas trabalhando em fábricas, criaram entidades de classe, associações, jornais e fundaram partidos de 
esquerda. Passaram então a se mobilizar, denunciando a situação de miséria, as péssimas condições de 
vida, conforme demonstra o trecho do artigo a seguir:
Trabalhadores da Europa, não venham para o Brasil (1904). Pede‑se aos 
jornais anarquistas do mundo todo que reproduzam o seguinte apelo: 
Que os trabalhadores dos centros industriais e agrícolas fiquem de guarda 
contra os vis engodos de jornalistas e agentes de emigração, interessados 
em lhes pintar o Brasil com as mais deslumbrantes cores a fim de induzi‑los 
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Unidade II
a emigrar. Estejam atentos, agora e sempre, se não querem ser vítimas das 
maiores mistificações e logros. Não é verdade que aqui há trabalho para 
todos. Não é verdade que aqui o operário é bem remunerado. Não é verdade 
que aqui são dadas garantias aos estrangeiros.
Não é verdade que aqui o operário pode fazer fortuna. Tudo isso são 
verdadeiras mentiras inventadas por jornalistas e agentes de emigração 
regiamente pagos pelo governo e grandes proprietários do Brasil, com o único 
fim de fazer chegar até aqui uma nova superabundância de trabalhadores 
braçais, de modo a poder negociá‑los ao mais baixo preço possível. 
Estejam atentos, portanto, os trabalhadores da Europa, especialmente os 
das nações latinas que, iludidos, enganados, abandonam impensadamente 
o país de origem para se jogarem em torrentes nas praias desta infernal 
república onde, uma vez chegados – sem trabalho, sem pão e sem ajuda – se 
encontram à mercê dos consulados que não se interessam absolutamente 
nada por sua desgraçada situação. No Brasil – já avisamos muitas vezes 
– só há condições de vida para os trapaceiros e ladrões profissionais. No 
Brasil só há trabalho para os que se submetem a ser bestas de carga por um 
salário irrisório. No Brasil os patrões obrigam a trabalhar e não pagam. No 
Brasil a vida custa os olhos da cara. No Brasil não existe nenhuma garantia 
para o operário e muito menos para o estrangeiro. No Brasil, o governo é 
composto de um bando de piratas e ladrões. No Brasil a vida e a liberdade 
dos cidadãos estão à mercê de uma Polícia feroz, selvagem, que rouba, 
violenta, mata impunemente, movida apenas pelo instinto de mando e pelo 
hábito de roubalheira. No Brasil, onde a indústria não existe, o elemento 
trabalhador não encontra ocupação a não ser nas fazendas(grandes feudos) 
onde os colonos, bestialmente tratados, estão condenados a levar uma vida 
de padecimentos e atribulações. No Brasil – repitam em voz alta, publiquem 
nos cabeçalhos de todos os jornais – há mais gente que morre de fome do 
que se possa imaginar, há misérias que o velho mundo ignora totalmente; 
aqui se cometem infâmias e atrocidades inauditas, de se arrepelarem os 
cabelos. Cuidado, trabalhadores da Europa: não se deixem enganar pelos 
rufiões. La Battaglia, S. Paulo, 11.9.1904 (CARRONE, 1984, p. 121).
Entretanto, essa relação de exploração do trabalho livre também ocorreu com os trabalhadores 
brasileiros. A falta de formação, a maioria analfabeta recém‑egressa da escravidão, facilitava a exploração.
O trabalhador, embora livre, acabava sendo preso e tratado como escravo diante das dívidas que 
contraíam com os fazendeiros, que pagavam salários miseráveis e ao mesmo tempo vendiam os gêneros 
de primeira necessidade a preços exorbitantes. Assim, os trabalhadores sempre estavam endividados e, 
não tendo como quitar a dívida, eram obrigados a permanecer trabalhando.
Essa situação se reproduziu em todo o território. A exploração era ainda maior nas regiões mais 
distantes, onde o transporte e armazenamento dos gêneros era de domínio completo dos senhores. O 
33
REPÚBLICA VELHA
que era ruim podia ser piorado: o abuso era ainda mais extremo na indústria de exploração de borracha, 
pois os fazendeiros tiravam proveito da enorme distância dos grandes centros e da falta de cultura dos 
trabalhadores.
Devemos lembrar que a indústria de borracha estava localizada no extremo do território brasileiro, 
Manaus e Belém:
O boom da borracha foi responsável por uma significativa migração para 
a Amazónia. Calcula‑se que entre 1890 e 1900 a migração líquida para a 
região foi de cerca de 110 mil pessoas. Elas provieram sobretudo do Ceará, 
um Estado periodicamente batido pela seca.
A economia da borracha trouxe como consequência o crescimento da 
população urbana e a melhora das condições de vida de pelo menos uma 
parte dela, em Belém e Manaus. Entre 1890 a 1900, a população de Belém 
quase dobrou, passando de 50 mil a 96 mil pessoas. As duas maiores cidades 
da Amazônia contaram com linha elétricas de bonde, serviços de telefone, 
água encanada, iluminação elétrica nas ruas, quando isso, em muitas 
cidades, era ainda um luxo. Entretanto, essas mudanças não conduziram à 
modificação das miseráveis condições de vida dos seringueiros que extraíam 
borracha no interior (FAUSTO, 2014, p. 164).
Havia um isolamento tanto pela distância como pela falta de tecnologia. O poder era exercido pelos 
proprietários das terras e das indústrias. O Estado praticamente não intervia na administração local e a 
exploração dos trabalhadores não encontrava nenhuma oposição institucional.
Os trabalhadores europeus contaram com o apoio dos seus países. O governo italiano chegou 
a proibir a imigração para o Brasil. Os cônsules atuavam diretamente e buscavam proteger seus 
cidadãos. As inúmeras denúncias forçaram o parlamento a gerar as primeiras leis de proteção do 
trabalhador rural.
Paralelamente, o fim do trabalho escravo gerou uma grande crise financeira aos proprietários de 
terra que eram conservadores. Muitos optaram por mudar a atividade produtiva para a pecuária.
Ocorre que a criação de gado necessita de uma quantidade menor de trabalhadores. Assim, povoados 
que foram gerados em torno das plantações de café sofreram as consequências da estagnação de 
empregos e da circulação de mercadorias.
Em muitos lugares a produção agrícola será aniquilada, e em seu lugar, 
onde o latifúndio se consegue manter, desenvolver‑se‑á quando muito a 
pecuária, onde o problema da mão‑de‑obra é menos premente. Mas uma 
pecuária extensiva, de nível econômico muito baixo. Em suma, a estagnação, 
a decadência, o despovoamento (PRADO JUNIOR, 1981, p. 160).
34
Unidade II
Ainda no Nordeste também ocorreram mudanças estruturais. Os antigos engenhos se transformaram 
em usinas:
Em lugar do engenho aparecerá a grande usina, unidade tipicamente fabril 
e maquinofatureira, que passará a produzir o açúcar extraído da cana 
fornecido pelas lavouras dos antigos engenhos transformados assim em 
simples produtores de matéria‑prima; divisão de funções que será o germe 
de novas e profundas contradições em que se oporão a usina absorvente, que 
tende a recompor em seu benefício uma grande propriedade de novo tipo, 
e os engenhos (que de engenhos conservam quase sempre apenas o nome, 
pois já não passam de simples lavouras fornecedoras de cana‑de‑açúcar) 
que procuram tenazmente, mas sem sucesso nem perspectivas, se conservar 
(PRADO JUNIOR, 1981, p. 161).
A recomposição de forças econômicas e políticas ocorreu em vários lugares do Brasil. Fortaleceu‑se 
a mentalidade industrial e surgiram novos líderes regionais, que passaram a recompor as forças da 
República.
Entretanto, sem sombra de dúvidas, foi em São Paulo onde ocorreram as maiores transformações. A 
República trouxe consigo as indústrias e a modernização das cidades, além de no campo, em algumas 
regiões, ocorrer uma maior diversificação da produção e do cultivo de animais.
Assim, a República se solidifica com contradições: o crescimento da monocultura como fator 
estrutural da economia, com a circulação do dinheiro que a cafeicultura gerou, e o surgimento 
de outras atividades, em especial da indústria, que passou a capitanear o crescimento de uma 
elite burguesa.
 Saiba mais
MAUÁ, o Imperador e o Rei. Dir. Sérgio Resende. Brasil: Europa Filmes, 
1999. 134 min.
 Observação
Liberalismo é uma teoria que defende a liberdade política e econômica. 
Portanto, defende que o Estado deve abster‑se do controle da economia e 
da regulação das relações privadas. Nesse sentido, valoriza a livre iniciativa, 
o espírito empreendedor, a autonomia das relações econômicas e o livre 
mercado.
35
REPÚBLICA VELHA
 Lembrete
A República consolidou as desigualdades sociais existentes desde a 
fundação do Brasil.
 Saiba mais
Leia:
COSTA, E. V. da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São 
Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas Ltda., 1979.
Exemplo de AplicaçãoExemplo de Aplicação
Durante a primeira fase da República o café era reconhecido como o símbolo do Brasil e o café era Durante a primeira fase da República o café era reconhecido como o símbolo do Brasil e o café era 
conhecido com o ouro verde. Por quê? Qual a importância dessa cultura na nossa formação econômica conhecido com o ouro verde. Por quê? Qual a importância dessa cultura na nossa formação econômica 
e política?e política?
 Saiba mais
FAUSTO, B. História do Brasil. 13. ed. São Paulo: Editora da Universidade 
de São Paulo, 2008.
4 A REPÚBLICA DOS PRIMEIROS TEMPOS
Somos da América e queremos ser americanos (MANIFESTO DO PARTIDO 
REPUBLICANO, 1870 apud CARVALHO, 2009).
O americanismo marcou a República nascente como que por antinomia 
ao europeísmo com o qual se identificava a Monarquia. Se as instituições 
monárquicas prendiam o Brasil à Europa, as republicanas integravam‑no 
ao sistema continental americano. Pretendia‑se romper com a tradição 
monárquica (BUENO, 1997, p. 150).
A República brasileira teve como inspiração o modelo norte‑americano. Preocupou‑se com a 
integração do território e com a retomada de parcerias econômicas com países da América do Sul, em 
especial com o Paraguai, a Argentina e o Chile. Houve mudança na estruturação do Estado brasileiro de 
forma federativa e, por fim, do nome: República dos Estados Unidos do Brasil!
36
Unidade II
Outros aspectos também foram inspirados, conforme demonstra Topik (2009, p. 104):
Listras verdes e amarelas e estrelas substituíram a bandeira da monarquia 
pouco depois que a guarda real rendeu‑se às tropas rebeldes do marechal 
Deodoro da Fonseca no campo de Santana, no Rio de Janeiro, em 15 de 
novembro de 1889. O novo estandarte republicano era uma imitação 
consciente da bandeira dos Estados Unidos. Ainda que a recém‑nascida 
repúblicalogo tenha adotado um padrão distinto para sua bandeira, não 
cessou de imitar a vizinha do norte. O nome do país foi mudado para Estados 
Unidos do Brasil, e a nova Constituição, promulgada em fevereiro de 1891, 
foi claramente delineada com base no modelo norte‑americano.
Figura 7 – Bandeira Provisória da República
José Murilo de Carvalho, em sua obra A Formação das Almas, nos informa que “em São Paulo, desde 
1873 existia o partido republicano mais organizado do Brasil” (1990, p. 24), fruto da insatisfação dos 
produtores rurais paulistas, que não viam na monarquia o retorno aos seus anseios.
Para eles, o modelo de república a ser adotado era o americano. Esse modelo possuía como características 
uma definição mais individual do pacto social, restringindo ao máximo a participação popular:
Mais ainda, ao definir o público como a soma dos interesses individualistas 
do pacto social. A versão do final do século XIX da postura liberal era do 
darwinismo social, absorvido no Brasil por intermédio de Spencer, o inspirador 
do principal teórico da República, Alberto Sales (CARVALHO, 1990, p. 24).
Resumidamente, a expressão “darwinismo social” vem da teoria da evolução das espécies de Charles 
Darwin. Esse importante cientista foi o criador da evolução das espécies: a teoria evolucionista. Nessa 
teoria, as espécies sobrevivem de acordo com a seleção natural, sobrevivem os mais fortes, já que os 
mais frágeis e doentes são naturalmente excluídos, morrem ou são devorados pelos predadores.
37
REPÚBLICA VELHA
Sobrevivendo os mais fortes, são estes que se reproduzem. Assim, ao longo dos anos, as espécies vão 
sendo aprimoradas, já que as matrizes são sempre os espécimes que conseguiram sobreviver.
Do ponto de vista social, os teóricos que defendem o darwinismo social entendem que nas sociedades 
sobressaem aqueles que possuem condições genéticas superiores: os brancos, bens nascidos, cultos, pois 
naturalmente tiveram acesso às melhores condições de vida, gerando seres humanos com capacidade, 
principalmente intelectual, superior. A superioridade existe tanto do ponto de vista intelectual quanto 
físico, formato do celebro, do corpo, entre outros. Na época, vários estudos do cérebro humano foram 
desenvolvidos tendo como base o darwinismo social.
Para os defensores do positivismo, teoria adotada pelos republicanos paulistas, os Estados Unidos 
da América demonstravam a superioridade das ideias e de visão da sociedade. O país era a prova da 
existência da seleção social, em que deveriam dominar os mais cultos e ricos. Assim, a existência de 
uma sociedade dividida em classes era natural, justificada, já que nem todos possuem as condições 
necessárias para dominar e sim para serem dominados.
Vamos analisar o documento apresentado a seguir, trata‑se de uma charge, no jornal O Parafuso, 
de 19 de maio de 1920, que demonstra como os intelectuais brasileiros, engajados nas lutas sociais, já 
haviam percebido a grande identidade dos projetos americanos com os da elite brasileira.
Verificamos a figura do “Tio Sam”, que traz consigo a ideia de modernidade e industrialização. Ao 
segurar a lâmpada, a imagem simboliza como a energia está diretamente ligada à ideia de desenvolvimento 
(o touro, o bonde, o carvão). Já o pobre, seminu, está com a mão estendida como um pedinte, ele é 
excluído deste progresso pela sua situação de miserabilidade. Vejam “o forte dominando o mais fraco”.
O “Tio Sam” possui garras, está com o telefone debaixo dos braços, domina e controla a modernidade:
Figura 8 – O Parafuso, de 19 de maio de 1920
38
Unidade II
Assim nasceu a nossa república. Ao contrário de outros países, como a França, o ideal de república, 
no Brasil, não surgiu fruto de movimentos populares, de lutas de classe ou mesmo de uma revolução 
social.
Não houve sequer confronto. Carvalho (1990) nos revela que, nas marchas dos soldados, na ocasião 
da tomada do poder pelos republicanos, inúmeras mulheres acompanharam os soldados (maridos e 
parentes) imaginando que haveria um grande confronto.
Contudo, tal situação não ocorreu. Na passagem da monarquia para a república não ocorreu um 
levante, uma revolução. Somente uma troca de cadeiras, da qual a população não participou. Essa 
característica, própria do Brasil, gerou inúmeros questionamentos sobre os ideais republicanos entre os 
líderes políticos.
Na verdade, a República nasceu para atender aos anseios da nova classe econômica que se fortaleceu 
com a abolição da escravatura. Com o fim da monarquia, esses novos atores passaram a interferir 
diretamente na política brasileira, utilizando‑se de seu poder econômico.
A prosperidade, a crescente monetarização da economia e as estradas 
de ferro haviam conduzido mais e mais proprietários de terras para os 
investimentos comerciais, financeiros e urbanos. Enquanto a tradicional 
aristocracia detentora de terras gradualmente se aburguesava, a 
burguesia assumia rapidamente feições aristocráticas. Mas apenas 
ao final do período imperial a burguesia aristocrática associa poder 
econômico a político e redefine sua missão. Tais financistas viriam a 
ser os principais organizadores e participantes do Encilhamento. Foram 
também os principais intermediários para os investidores europeus 
no continente. Sua ascensão promoveu uma mudança na política 
externa brasileira. Ao contrário da elite plantadora, que se contentara 
em depender do crédito comercial britânico, os financistas brasileiros 
buscavam mais autonomia e espaço para manobras através de contatos 
com investidores franceses, alemães, portugueses e até mesmo alguns 
norte‑americanos (TOPIK, 2009, p. 117).
Assim, a nova elite republicana nascia com uma proximidade política e econômica com os Estados 
Unidos da América. Além da proximidade com os ideais, havia uma grande identificação com os 
princípios econômicos (ligados à comercialização dos produtos nacionais como o café e o açúcar). A 
nova elite apoiou a consolidação dos EUA como uma hegemonia mundial, substituindo a Inglaterra, que 
era apoiada pelo Império.
Além dos aspectos externos, havia as questões internas das lideranças republicanas. Inspirados na sua 
maioria nas ideias de August Comte, importante filósofo e sociólogo francês do século XIX, considerado 
o criador do Positivismo e da Sociologia, os intelectuais viam a possibilidade de transformar o Brasil em 
um país ideal.
39
REPÚBLICA VELHA
Mantendo a forte defesa dos interesses da elite dominante, o modelo do liberalismo adotado 
reafirmou ainda mais as diferenças sociais. Mesmo após a abolição da escravidão, a sociedade brasileira 
aumentou ainda mais as desigualdades, excluindo os pobres e a classe trabalhadora.
Nessas circunstâncias, o liberalismo adquiria um caráter de consagração da desigualdade, de sanção da 
lei do mais forte. Acoplado ao presidencialismo, o darwinismo republicano tinha em mãos os instrumentos 
ideológicos e políticos para estabelecer um regime profundamente autoritário (CARVALHO, 1990, p. 25).
Essa realidade foi marcante em São Paulo e Rio de Janeiro, as duas capitais pioneiras na industrialização. 
Com o crescimento das indústrias, fortaleceu‑se a figura do industrial, produzindo um outro membro da elite. 
Da mesma forma que ocorreu na Europa, mas com algumas décadas de atraso, nascia no Brasil a elite burguesa.
Um grande número de indústrias foi criado no final do século XIX. Costa (1979, p. 199) informa que:
[...] em menos de dez anos, o número de indústrias passou de 175 em 1874 
para mais de seiscentas. [...] Em 1880, havia 18.100 pessoas registradas como 
operários. Um recenseamento de 1907 registra 2.983 estabelecimentos 
industriais e uma população de 136.420 pessoas dedicadas a essas atividades.
Com o crescimento e desenvolvimento das atividades industriais, aumentou o poder político e 
econômico dos proprietários de indústrias que viam nos ideias liberalistas as respostas aos seus anseios.
O espírito da especulação e a busca pelo enriquecimento pessoal a todo custo, denunciados 
amplamentena imprensa, na tribuna, nos romances, davam ao novo regime uma marca incompatível 
com a virtude republicana.
Em tais circunstâncias não se podia nem mesmo falar na definição utilitarista 
do interesse público como a soma de interesses individuais. Simplesmente não 
havia preocupação com o público. Predominava a mentalidade predatória, o 
espírito do capitalismo sem a ética protestante (CARVALHO, 1990, p. 30).
O confronto entre ideais e realidade era profundo. As propostas republicanas positivistas viam na 
transformação da sociedade a possibilidade da instauração de uma nação civilizada, próxima ao modelo 
europeu. Já os ideais liberalistas, modelo que prevaleceu, viam no momento a possibilidade de um 
grande enriquecimento.
Apesar de minoria em muitos momentos, os ideais positivistas tiveram grande influência na 
sociedade. Para eles “a explicação para o que lhes parecia a ‘anomalia’ da realidade brasileira 
encontrava eco nas teorias racistas de Gobineau e Lapouge e nas doutrinas deterministas de Ratzel” 
(COSTA, 1979, p. 203).
Esses intelectuais acreditavam que grande parte dos problemas brasileiros ocorria pela mistura de 
raças e pela grande influência negra na nossa população. Surge, então, a teoria do branqueamento.
40
Unidade II
O Brasil importou a teoria, mas fez uma adaptação: a ideia de miscigenar. Para isso, a proposta era de importar 
imigrantes europeus que iriam miscigenar com os negros e a raça negra seria suplantada no decorrer dos anos.
Para esses teóricos, após alguns anos, não haveria mais negros; a população brasileira teria sido 
transformada em branca e, portanto, seria portadora das qualidades de virtudes da raça que eles 
defendiam. Andrews (1998, p. 212) nos explica essa teoria:
A única saída para os negros afligidos por este medo era abraçar a “tese do 
branqueamento” desenvolvida na virada do século por intelectuais brasileiros 
em resposta um racismo cientifico europeu. Os racistas científicos doutrinários 
consideravam a mistura racial como um processo regressivo, em que o ancestral 
racial europeu era enfraquecido e diluído ao ser misturado com aquele das 
pessoas não brancas. Alguns intelectuais brasileiros aceitaram esta doutrina, 
e seu implícito prognóstico triste para países em que a miscigenação era 
disseminada. Outros, no entanto, imaginaram uma resposta extremamente 
criativa que na verdade levava o racismo cientifico um passo adiante. Declarando 
que os teóricos europeus tinham muito pouca fé em sua própria herança racial, 
pensadores brasileiros como João Baptista de Lacerda e F. J. Oliveira Viana 
disseram que, quando os brancos misturavam seus gens (ou, na linguagem da 
época, seu sangue) com aqueles dos não brancos, era a herança racial branca, e 
os atributos raciais brancos, que tendiam a dominar nos produtos dessas uniões. 
Por isso, com o tempo, e supondo a chegada continuada de imigrantes europeus 
no país, a mistura racial pouco a pouco “eliminaria” as características raciais 
africanas e indígenas e produziria o “branqueamento” final do Brasil.
Para que a teoria realmente desse certo, mais do que miscigenar com os brancos, surgiu a necessidade 
de apagar da memória a existência e atuação dos negros na construção da nossa sociedade.
Portanto, duas necessidades unidas fizeram com que a imigração de europeus fosse urgente: a 
industrialização e o branqueamento. Veja o quadro a seguir:
Tabela 1 
Período Nº de imigrantes
1851‑60 121.000
1861‑70 97.000
1871‑80 219.000
1881‑90 530.000
1891‑1900 1.129.000
1901‑10 671.000
1911‑20 717.000
1921‑3‑ 840.000
Fonte: Segatto (1987, p. 12)
41
REPÚBLICA VELHA
Segatto (1987, p. 13) informa ainda: “Em 1901, 90% dos operários das fábricas de São Paulo eram 
europeus, principalmente italianos; em 1913, essa proporção era 82%; e em 192, de 40%”.
Vale aqui fazer um parêntese sobre o que estava ocorrendo no mundo: em 28 de junho de 
1914 iniciou‑se a I Guerra Mundial, que durou até 1918. Envolveu vários países que estavam 
em plena 2ª Revolução Industrial. Esses países foram destruídos: fábricas, escolas, hospitais e 
o campo foram dizimados. A miséria cresceu e várias famílias foram forçadas a deixar a sua 
terra natal.
A guerra iniciou‑se pelos efeitos das alterações econômicas mundiais e pelo surgimento de novas 
potências econômicas que acirraram a concorrência econômica entre os países.
Figura 9 – A verdadeira causa da guerra
O jornal Guerra Sociale, de 20 de maio de 1916, apresenta na primeira página um artigo que faz 
relatos da guerra e demonstra como ela somente atendia aos interesses das autoridades e empresários 
que enriqueciam com a morte do povo.
Ou seja, os empresários vendiam armas para os Estados, e estes impunham o seu poder através do 
dominio bélico. Entretanto, quem morria nas guerras eram os soldados, na grande maioria trabalhadores 
comuns, pessoas pobres que perdiam suas vidas e todas as suas posses.
Praticamente todos os países europeus participaram da guerra. Em 1917, ocorre a revolução 
socialista, que implanta um novo modelo econômico: o socialismo. Nasce a União Soviética, 
colocando em questão o modelo econômico até então adotado pelo mundo, o capitalismo. Com o 
transcorrer da segunda década do século XX, outros países adotam o modelo socialista, entre eles 
parte da Alemanha:
42
Unidade II
Figura 10
 Observação
Insurreccinaes eram os revoltosos, pessoas que se manifestaram 
contrárias à realidade.
Foi um período de muita efervescência política! Guerra mundial, surgimento de um novo regime 
político, desenvolvimento de um novo modelo industrial, intensificação das trocas mercantis e circulação 
de pessoas pelo mundo.
Grande parte dos operários imigrantes que vieram para o Brasil participou das discussões políticas 
que envolviam essas mudanças, tanto em seus países de origem como aqui, com as informações que 
recebiam através de cartas e dos jornais operários.
A Lanterna foi um jornal operário, ligado ao movimento anarquista. Trazia notícias da Europa 
e dos movimentos operários que ocorriam no Brasil. Foi de suma importância no sentido de 
informar e auxiliar na organização dos operários. O artigo fala sobre a barbárie e o sofrimento 
causado pela guerra, cujo objetivo era somente atender aos interesses econômicos da burguesia 
e dos governos.
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REPÚBLICA VELHA
Figura 11 – A Lanterna, 27 de fevereiro de 1915
44
Unidade II
Transcrição do artigo:
De Paris
As sopas populares
Quando em todos os campanários de França tocaram os sinos a rebate, anunciando a 
mobilização, paralisou‑se a vida do paiz, imobilizaram‑se as máquinas, as mãos soltaram a 
ferramenta, cerraram‑se as oficinas.
Foi a tempestade das dores e das revoltas, os cantos entusiásticos e os soluços mesclados 
com o estrondo dos comboios, pulando ao longo dos trilhos. A’ medida, que se esvaziavam 
cidades e campos, mordia uma angústia as estranhas da multidão. Se a invasão provocava 
a cólera e se partiam alegremente os que deviam repeti‑la, os outros, sem trabalho, sem 
dinheiro, entreolhavam‑se com ansiedade, e a mesma pergunta acudia a todos os lábios: 
“Comeremos amanhã?” Os mais optimistas abanavam a cabeça e diziam consigo: “Que atroz 
miséria vai pegar este inverno sobre a população laboriosa!”
Vieram os dias frios e mesmo os mais pessimistas são obrigados a reconhecer que a vaga 
de penúria anunciada está longe de ser tam terrível como se previra.
Sob o ponto de vista simplesmente material, é incontestável que a população operária 
não sofre em demasia com o período que atrevassamos. Não faltam certamente miseráveis, 
mendigos, náufragos. Já em tempo de paz existiam e os maus dias lançavam‑nos à rua 
tam lamentáveis como hoje. Não tenhamos em conta esta minoria excepciona, mas sim a 
grande massa popular.
Fonte: A Lanterna (1915).
A situação relatada demonstra a extrema miséria dos trabalhadores franceses, vítimas da 1ª Guerra, 
e descreve o abandono das cidades, o frio e a fome sofridos pela população pobre.
Assim, milhares de trabalhadores fugiram para oBrasil. Parte iludida pelas promessas do governo 
brasileiro de fatura e estabilidade, parte com a intenção de organizar o movimento operário e fomentar 
as ideais anarquistas e socialistas no Brasil.
O campo e os grandes centros se viram abarrotados de imigrantes miseráveis. Tudo isso, reunido, 
gerou ainda mais uma hierarquização do poder, que ficou concentrado nas mãos dos detentores de 
capital e da produção; estes viam na realidade social uma possibilidade de enriquecimento rápido e 
fácil: mão de obra abundante e barata.
Os jornais, documentos importantes para a análise do contexto, em várias situações apontaram a 
realidade dos operários.
45
REPÚBLICA VELHA
Neste livro‑texto estamos utilizando vários jornais operários, já que, desde aquele momento, havia 
uma grande distinção entre as notícias publicadas pela grande imprensa e a imprensa alternativa.
O jornal Guerra Sociale era produzido pelo movimento anarquista. Para se aproximar dos operários 
brasileiros era escrito tanto em italiano como em português. Outros jornais como A Plebe, A Lanterna, 
Terra Livre, entre outros foram de suma importância na formação e organização dos trabalhadores.
A importância é se conhecer o contexto da 1ª República e reconhecer que prevaleceu uma das 
principais premissas da economia: demanda e oferta.
Lembrando, demanda é a procura, refere‑se às pessoas que estão buscando algo. Oferta é o que está 
sendo oferecido, o que está à disposição.
A indústria estava se estabelecendo, precisava de mão de obra abundante e barata. Vieram para os 
grandes centros, centenas de operários com formação, experiência e em uma situação de miséria. Ou 
seja, havia uma grande oferta de mão de obra.
Isso reduzia os salários, já que para cada vaga de trabalho havia vários trabalhadores oferecendo a 
sua mão de obra. Dessa forma, as indústrias puderam explorar a mão de obra à vontade, pois sabiam que 
poderiam substituir os empregados com facilidade e pagando menos.
Não havia uma legislação geral, o que facilitava ainda mais a exploração. As indústrias brasileiras 
puderam se expandir. Ressaltando ainda que a elite industrial contava com total apoio dos governos, 
em especial com a proteção das forças policiais, que reprimiam violentamente os movimentos operários.
Entretanto, a consolidação industrial não ocorreu de forma hegemônica em todo o território nacional 
e é importante reconhecer as grandes diferenças internas que ocorreram no período. A crescente elite 
industrial estava situada principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Havia também divergências 
substanciais entre as políticas do Centro‑Sul e o Nordeste, a visão de estado, a centralização do poder e, 
ainda, a fragilidade da estrutura das forças armadas.
Toda essa situação gerava uma grande instabilidade interna e uma desconfiança dos demais países:
A queda do Império foi vista com incerteza pela maioria das nações 
“civilizadas” e não muito bem recebida em casa. O gradual surgimento 
do republicanismo não angariou tanta aprovação como sustentaram 
posteriormente historiadores apologistas do regime. Em vez disso, a 
República enfrentava profunda vulnerabilidade externa e interna. Foi esse 
estado de coisas, muito mais do que a semelhança das instituições políticas 
ou o súbito iluminismo, o que tornou a amizade com os Estados Unidos mais 
importante do que nunca para a República brasileira nascente, que passou 
a negociar com o primeiro país a partir de uma posição mais frágil do que o 
fizera a monarquia (TOPIK, 2009, p. 119).
46
Unidade II
Era fundamental que o país conseguisse se unir internamente e demonstrar para os demais países 
que o novo sistema político era irreversível e havia surgido para se consolidar.
Fausto (2008, p. 248) explica que:
Recebida com restrições na Inglaterra, a proclamação da República 
brasileira foi saudada com entusiasmo na Argentina e aproximou o 
Brasil dos Estados Unidos. [...] O nítido deslocamento do eixo da 
diplomacia brasileira de Londres para Washington se deu com a entrada 
do Barão do Rio Branco para o Ministério das Relações Exteriores, onde 
permaneceu por longos anos, entre 1902 e 1922, atravessando várias 
sucessões presidenciais.
Dessa forma, a República nasceu com a necessidade de se afirmar interna e externamente. 
Externamente, o apoio dos EUA foi fundamental, já internamente, ocorreram levantes, como veremos 
a seguir.
Canudos
Segundo Fausto (2008, p. 257), “seu líder era Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como 
Antônio Conselheiro”. Filho de comerciante, nascido no Ceará, pretendia ser padre. Transformou‑se em 
beato e foi no sertão da Bahia que ele se estabeleceu e criou a comunidade que, no seu apogeu, alcançou 
30 mil habitantes.
Em inúmeras ocasiões ocorreram confrontos entre os seguidores de Antônio Conselheiro e forças 
oficiais, o que gerou inúmeras desconfianças dos republicanos. Para agravar a situação, Conselheiro 
pregava pela volta da Monarquia. Após um mês e meio de luta (cerca de 45 dias), “uma expedição sob 
o comando do general Arthur Oscar, constituída de 8 mil homens e dotada de equipamento moderno, 
arrasou o arraial em outubro de 1897 (FAUSTO, 2008, p. 258).
Esse conflito demonstrou a grande distância que existia entre o poder central e as inúmeras realidades 
do Brasil. O governo republicano não conseguiu negociar com os sertanejos e teve que impor o seu 
poder por meio da força.
Rio Grande do Sul
Segundo Fausto (2008, p. 255):
entre a proclamação da República e a eleição de Júlio de Castilhos à presidência 
do Estado em novembro de 1893, dezessete governos se sucederam no 
comando do Estado. Opunham‑se, de um lado, os republicanos históricos, 
adeptos do positivismo, organizados no Partido Republicano Rio‑grandense 
(PRR), e, de outro lado, os liberais.
47
REPÚBLICA VELHA
A situação gerou uma guerra que se iniciou em 1893 e durou dois anos e meio. Conhecida como 
Revolução Federalista, ocasionou a morte de milhares de pessoas, os seguidores de Gaspar da Silveira 
Martins, gasparistas ou maragatos que eram oposicionistas dos seguidores de Júlio de Castilhos, 
castilhistas, pica‑paus ou ximangos.
A grande disputa ocorreu pelo poder. Na verdade, o Sul do Brasil queria espaço e reconhecimento no 
novo poder que havia sido instalado e do qual estava excluído.
Prudente de Morais
Desde o início havia um acordo entre Floriano Peixoto e a elite paulista. Com a eleição de Prudente 
de Morais, em 1º de março de 1894, a aliança se rompeu. Foi o fim da intervenção do exército na 
Presidência de República.
No governo de Prudente, tornou‑se aguda a oposição, já existente 
na época de Floriano, entre a elite política dos grandes Estados e o 
republicanismo jacobino, concentrado no Rio de Janeiro. Os jacobinos 
derivavam seu nome de uma das correntes predominantes da Revolução 
Francesa. Formavam um contingente de membros da baixa classe média, 
alguns operários e militares atingidos pela carestia e as más condições 
de vida (FAUSTO, 2008, p. 256).
Com a eleição de Prudente houve uma cisão entre os jacobinos e o novo governo. O modelo que 
assumiu não era mais próximo aos ideais de revolução francesa e aos militares, prevalecendo os ideais 
de capitalismo capitaneados pelos EUA.
Logo nos primeiros anos houve uma grande mudança na liderança do Brasil República. Prevaleceram 
os interesses econômicos, e os militares que derrubaram o Império perderam parte do poder.
Barão do Rio Branco
Personagem emblemático. Da mesma forma que parte da sociedade idolatra a sua atuação na 
República, outra parcela possui críticas severas. Dentre as críticas, o seu papel na teoria do branqueamento. 
Vários teóricos acusam o Barão de ter mandado incinerar os registros dos negros escravizados, temendo 
as inúmeras ações de indenização que poderiam ocorrer.
Na verdade, até o censo de 1920, o primeiro do período da República, a população negra era 
contabilizada. Havia uma discriminação da população brasileira negra e branca. Após 1920, a população 
passou a ser discriminada comobrasileiros e estrangeiros.
Além disso, todos os estrangeiros possuem registros de suas entradas no serviço de imigração, assim 
há registros de entrada de portugueses, italianos, espanhóis, poloneses, japoneses entre outros, mas não 
há registros de entradas dos africanos.
48
Unidade II
A escravidão poderia gerar indenizações. Para termos um paralelo, os judeus foram indenizados pelas 
atrocidades das quais foram vítimas no nazismo, que durou cerca de 10 anos. Já a escravidão no Brasil 
durou 388 anos! Inúmeros africanos e afrodescentes poderiam pleitear indenizações pelas atrocidades 
e explorações de que foram vítimas.
Os documentos que poderiam provar a origem e o período da entrada destes escravizados foram 
destruídos. É muito difícil provar a origem e o destino de cada escravizado que ingressou em território 
brasileiro. Inúmeras vítimas de um sistema de exploração desumano e atroz não possuíam documentos 
comprobatórios de suas existências.
Por outro lado, Barão do Rio Branco é reconhecido pela sua capacidade diplomática:
[...] a tradição diplomática exigia um perfil bastante claro daqueles que 
aspiravam à carreira no Itamaraty. A constituição desse perfil, baseado 
no habitus social e cultural da classe dominante, compunha‑se de 
uma sofisticação e erudição literária e histórica, domínio de idiomas 
e interesse pela cultura internacional de corte “civilizado”. Ou seja, 
europeu‑ocidental, pós‑revolução francesa, monárquico, embora liberal, 
e de um certo toque anticlerical, no estilo do ethos neoabsolutista em 
curso na Europa, próximo do exemplo do Império austro‑Húngaro. O 
conhecimento das ciências em destaque consistia um plus, na medida 
em que trazia um verniz moderno para a erudição tradicionalista com 
enfoque historicista (SILVA, 2008, p. 96‑97).
Ou seja, apesar de Rio Branco representar o novo Brasil internacionalmente, ele era o digno 
representante da elite aristocrática que havia sido deposta e possuía uma formação cultural erudita e 
tradicional.
Sua atuação buscou consolidar o Brasil no continente americano, fortalecendo a posição do Brasil 
em toda a América Latina e com os EUA, firmando inúmeros acordos com vários países europeus.
Ele reconhecia, além disso, que assim como nenhum país dispõe do poder 
total, nenhum é totalmente desprovido de muito poder. A questão se resume 
toda em saber utilizar o limitado poder ao alcance de cada um, buscando 
aumentá‑lo ou complementá‑lo por meio de alianças. A aliança com os 
Estados Unidos servia a esses objetivos e foi o principal meio de que lançou 
mão para inserir o país no mundo (RICUPERO, 2000, p. 54).
A política externa de Rio Branco, entre os anos de 1902 a 1912, adotou três modelos: a busca pela 
soberania nacional, o aumento internacional do prestígio do Brasil e a definição da soberania brasileira.
O que podemos percebemos é que o poder foi se reajustando. Os nobres foram substituídos pelos 
burgueses, a aristocracia pelo conceito de modernidade, mas o povo foi excluído, pois o novo sistema 
econômico aumentava ainda mais as diferenças.
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REPÚBLICA VELHA
Exemplo de AplicaçãoExemplo de Aplicação
Pesquise os inúmeros modelos de bandeira nacional que foram propostos na ocasião da proclamação Pesquise os inúmeros modelos de bandeira nacional que foram propostos na ocasião da proclamação 
república. Você irá se surpreender, pois o modelo atual, na verdade era a última opção.república. Você irá se surpreender, pois o modelo atual, na verdade era a última opção.
 Observação
A nossa primeira Constituição Federal foi uma cópia da Constituição 
dos Estados Unidos da América.
 Lembrete
Barão do Rio Branco foi uma figura emblemática, representava a 
modernidade por um lado e mantinha o perfil conservador da época do Império.
 Saiba mais
O filme a seguir pode propiciar uma inter‑relação com os conteúdos da 
unidade:
POLICARPO Quaresma, herói do Brasil. Dir. Paulo Tiago. Brasil: Paramount 
Pictures, 1988. 123 min.
 Resumo
Nesta unidade pudemos observar as transformações que ocorreram 
na política em decorrência das mudanças econômicas, principalmente 
o impacto do decreto da abolição da escravatura em confronto com os 
interesses da oligarquia cafeeira.
Foi possível verificar que quando falamos de oligarquia cafeeira havia 
uma grande diferença entre as regiões.
Na região de Campinas, os fazendeiros possuíam uma visão mais 
moderna da sociedade, pois mesmo antes da abolição da escravatura, 
investiram na imigração. Eles viam o café como um negócio e usaram os 
recursos da cultura para investir em eletricidade, modernidade, educação e, 
principalmente, na diversificação dos recursos em indústrias.
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Unidade II
Apostaram na República como um sistema político que poderia atender 
aos seus anseios, ao contrário da Monarquia, que investia em manter a 
estrutura social da mesma forma.
Já a velha oligarquia, que estava mais ao centro do estado de São 
Paulo, queria manter a sociedade nos mesmos moldes, inclusive contra a 
abolição. Ao investir na República, acabou se contrapondo à abolição e não 
realmente investindo em mudanças estruturais.
Estes fazendeiros esperavam uma indenização por perderem os seus 
escravos, o que não ocorreu. Dessa forma, opuseram‑se ao regime, que, ao 
final, não atendeu aos seus anseios.
A sociedade assistiu às trocas de cadeiras sem compreender as grandes 
mudanças. Não houve um levante, uma revolução, tudo aconteceu de 
forma ordeira e tranquila.
Com o passar dos anos, a troca de sistema passou a gerar revoltas muito 
localizadas, mas que geraram grandes impactos. A Guerra dos Canudos 
mudou a realidade de uma região do sertão e fez surgir um mito: Antônio 
Conselheiro. Outras pessoas importantes, como Prudente de Moraes e o 
Barão do Rio Branco, também deixaram seu legado nesse período.
Contudo, o importante é reconhecer que, além das mudanças 
estruturais no Brasil, o mundo estava se transformando. O fim da Primeira 
Guerra Mundial criou uma nova polaridade, com o surgimento da União 
Soviética, e expulsou da Europa milhares de imigrantes que se deslocaram 
pelo mundo. Para o Brasil, vieram muitos que contribuíram com suas 
experiências culturais e deixaram a sua marca nesse momento histórico.
 Exercícios
Questão 1. (Enade 2011) A primeira República e, em especial, as décadas iniciais do novo regime 
vêm ganhando crescente interesse e espaço na produção historiográfica brasileira. Dessa forma, muitos 
são os historiadores, particularmente os que se dedicam à história política e cultural, que têm retomado 
o período numa chave distinta daquela que o consagrou como República Velha, uma fórmula que 
certamente merece reflexões, a começar pela constatação de que, não casualmente, foi imaginada e 
propagada pelos ideólogos autoritários das décadas de 1920 a 1940.
Fonte: GOMES, A. C. A República, a história e o IHGB. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009. p. 21.
As interpretações que revisam a primeira República a partir de novos olhares e que se propõem a 
analisá‑la sem o adjetivo “Velha” têm demonstrado que:
51
REPÚBLICA VELHA
A) As eleições cumpriram papel importante no período, contribuindo para que ocorresse um 
revezamento entre os grupos dominantes, sem a necessidade destes recorrerem a fraudes ou a 
violências físicas.
B) Os ideólogos estado‑novistas apontavam o fracasso da República Velha como resultante 
dos embates pelas tentativas de implantação de um Estado forte e centralizado, logo após a 
Proclamação da República.
C) As formas de participação popular iam além das revoltas, motins e greves, que eclodiram em 
diversos pontos do país, e se expressaram também em associações recreativas, esportivas e 
dançantes da população negra e pobre.
D) As constantes perseguições policiais a negros, que ocorriam principalmente nas grandes cidades, 
logo após a abolição da escravidão, cessaram a partir da década de 1910, como resultante do 
movimento que ficou conhecido como a Revolta da Chibata.
E) Os baixos índices de alfabetismo e, consequentemente, de participaçãopolítica durante o período 
foram os responsáveis pela formação de uma sociedade patriarcal avessa a qualquer tipo de 
mobilização política ou reivindicação de direitos.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: os grupos que se consolidaram no poder durante a Primeira República valeram‑se 
exclusivamente das fraudes eleitorais e da violência do voto de cabresto.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: pelo contrário, o problema da Primeira República, segundo os estado‑novistas, era 
justamente o excesso de autonomia, embora as elites dominantes fossem minoritárias.
C) Alternativa correta.
Justificativa: embora a participação popular na política fosse restrita, é fato que tais movimentos 
expressavam legitimamente a voz do povo, que se manifestava ao seu modo em um espaço político 
reduzido.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Revolta da Chibata aconteceu devido aos maus tratos sofridos pelos marinheiros, em 
sua grande maioria ex‑escravos ou filhos de cativos.
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Unidade II
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: houve sim mobilização mesmo com os baixos índices de alfabetização e espaço político 
reduzido.
Questão 2. (Enade 2008) É de lá [dos estados] que se governa a República, por cima das multidões 
que tumultuam, agitadas, nas ruas da capital da União. (...) A política dos estados (...) é a política nacional.
Fonte: SALES, C. Da Propaganda à Presidência. São Paulo: s. ed., 1908, p. 252.
O governo federal entregava cada um dos estados à facção que dele primeiro se apoderasse. Contanto 
que se pusesse nas mãos do presidente da República, esse grupo de exploradores privilegiados receberia 
dele a mais ilimitada outorga, para servilizar, corromper e roubar as populações.
Fonte: BARBOSA, R. apud LESSA, R. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e 
a decadência da Primeira República Brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999. p. 154.
A historiografia brasileira caracteriza o governo de Campos Sales (1898‑1902) como o período de 
construção de práticas de estabilização política do regime republicano. Os testemunhos de Campos Sales 
e Rui Barbosa apresentam uma dessas práticas, a política dos estados, que pode ser entendida como:
A) O revezamento entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais na chefia da Presidência da 
República.
B) O controle da política estadual por parte do governo federal, por meio de intervenção regular na 
política local.
C) O compromisso político entre os coronéis, os governos estaduais e o presidente da República, 
fundado na fraude eleitoral.
D) O pacto construído entre os estados de primeira grandeza (São Paulo e Minas Gerais) para 
beneficiar os interesses dos cafeicultores.
E) A liberdade de ação das oligarquias estaduais, em troca do apoio, na Câmara dos Deputados, a 
projetos do governo federal.
Resolução desta questão na plataforma.

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