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A escravidão indígena e os jesuítas

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A escravidão indígena e os jesuítas
APRESENTAÇÃO
Durante muito tempo, os indígenas foram tratados pela historiografia como passíveis frente ao 
processo de colonização e expansão europeia na América. De acordo com essas versões, teria 
havido somente aculturamento e extinção de algumas etnias. Novos estudos, entretanto, têm 
problematizado essas interpretações, evidenciando o protagonismo indígena e suas relações com 
os colonos e os jesuítas. Em se tratando da escravidão, os jesuítas tiveram um papel muito 
importante em denunciar a ilegalidade e a imoralidade do trabalho compulsório indígena.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar alguns aspectos da escravização do trabalho 
indígena durante o período colonial. Você vai compreender as diferenças de visões de mundo 
entre os nativos e os portugueses no que diz respeito ao trabalho, o que evidencia os choques 
culturais do período. Por fim, vai saber mais sobre a Companhia de Jesus, os jesuítas e as 
relações que foram estabelecidas com os indígenas.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Relacionar o conceito da escravidão com o contexto do Brasil colonial.•
Analisar os aspectos de confronto cultural entre indígenas e portugueses no processo de 
escravidão da população indígena.
•
Definir a missão jesuítica com os reflexos do movimento de Reforma na Europa.•
DESAFIO
A promulgação da Lei n. 11.645/2008, que alterou a Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação Brasileira, implementando a história e a cultura dos povos indígenas na 
Educação Básica, representou uma vitória para o movimento indígena e um benefício para todos 
os alunos brasileiros, 
que puderam acessar outras matrizes para se pensar a história do Brasil.
No parecer do Conselho Nacional de Educação, que operacionaliza a aplicação da referida lei, 
encontra-se o seguinte trecho: “a inclusão da temática da história e da cultura dos povos 
indígenas implica em produzir um novo olhar sobre a pluralidade de experiências socioculturais 
presentes no Brasil, o que exige, em termos de metodologia de ensino, que essa temática seja 
trabalhada durante todo o período formativo do estudante, em diferentes disciplinas e com 
diferentes abordagens, sempre atualizadas e plurais, evitando que o tema fique restrito a datas 
comemorativas. Assim, a título de exemplo, propõe-se às unidades de ensino como enfoque 
metodológico a comparação, seja entre povos indígenas distintos (nomeando, caracterizando, 
contextualizando os aspectos abordados), seja entre os povos indígenas e outros segmentos da 
sociedade brasileira, para evidenciar diferenças e proximidades. Os conceitos antropológicos de 
diversidade, diferença, cultura, interculturalidade, identidade, etnocentrismo terão que ser 
trabalhados sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, constituindo-se em conceitos 
chave para a abordagem da temática indígena”.
Na próxima reunião de professores, você será responsável por fazer uma apresentação sobre 
essa prática. Assim, analisando o trabalho e pensando na sua apresentação, aponte quais foram 
os acertos e os erros nessa atividade, levando-se em consideração o que o Conselho Nacional de 
Educação recomenda para a operacionalização da Lei n. 11.645/2008.
INFOGRÁFICO
A narrativa da destruição e da mortandade das populações indígenas, embora conte com 
exemplos concretos, não pode ser utilizada para a totalidade das etnias presentes no Brasil no 
momento do estabelecimento dos contatos com os portugueses. Houve muitas formas de 
elaboração e reformulação de identidades como respostas criativas às mudanças estruturais 
daquela conjuntura. Para dar conta dessa realidade complexa, é necessário o estudo de alguns 
conceitos importantes.
Veja, no Infográfico a seguir, de que forma os conceitos de etnogênese, etnificação e etnicídio 
podem ajudar a compreender essa realidade.
CONTEÚDO DO LIVRO
A Companhia de Jesus e os jesuítas, ao chegarem ao território português na América, vieram 
motivados a converter os nativos à religião católica. Para tanto, estabeleceram aldeamentos e 
colégios e, na medida em que o Vaticano mudava sua compreensão a respeito dos indígenas, 
mudaram também suas práticas na colônia. Assim, passaram a condenar a escravização dos 
nativos e defendê-los das iniciativas dos colonos e bandeirantes, que os aprisionavam para 
vendê-los como mão de obra para a agricultura, a pecuária e os engenhos. Os indígenas não 
foram passivos nesse processo e, muitas vezes, aliaram-se aos colonos ou aos jesuítas 
para conseguir sobreviver a uma conjuntura de intensas transformações em seu território.
No capítulo A escravidão indígena e os jesuítas, da obra História do Brasil Colonial, você vai 
compreender as especificidades da escravidão indígena no Brasil em relação às demais formas 
de trabalho compulsório e assalariado existentes no período. Você vai estudar as diferenças 
culturais de europeus e indígenas em relação ao trabalho e demais aspectos do choque cultural 
existente no convívio entre esses dois mundos após o contato. Por fim, vai estudar o papel dos 
jesuítas e da Companhia de Jesus na América bem como seu posicionamento quanto à 
escravidão indígena.
Boa leitura.
HISTÓRIA DO 
BRASIL 
COLÔNIA
Caroline Silveira Bauer 
A escravidão indígena 
e os jesuítas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Relacionar o conceito da escravidão com o contexto do Brasil colonial.
  Analisar os aspectos de confronto cultural entre indígenas e portu-
gueses no processo de escravidão da população indígena.
  Definir a missão jesuítica com os reflexos do movimento de Reforma 
na Europa.
Introdução
Europeus e indígenas estabeleceram no Brasil Colônia diferentes formas de 
relação, que afetaram mutuamente suas culturas. Certamente, essa influência 
mútua não foi proporcional, em função de uma visão de mundo etnocêntrica 
dos conquistadores e de seus objetivos de exploração do território americano. 
Assim, não demorou muito para que os portugueses passassem das relações por 
escambo para a escravização indígena, e utilizassem da religião para dominá-los.
Neste capítulo, você vai estudar a especificidade da escravidão in-
dígena e suas diferenças em comparação com a escravidão africana. 
Além disso, vai examinar as diferenças existentes nas visões de mundo 
de portugueses e dos indígenas e de que forma elas afetaram as relações 
de trabalho. Por fim, conhecerá o papel da Companhia de Jesus e dos 
jesuítas no contexto colonial português na América.
1 A escravidão indígena na América portuguesa
Até pouco tempo, a escravização de indígenas na América portuguesa era 
relatada de modo quase hegemônico, tendo como foco o início do processo de 
colonização e expansão dos europeus na América e assentando seu término 
na incapacidade do indígena em se adaptar aos modos de trabalho exigidos 
pelos colonizadores, quando sua mão-de-obra foi substituída pelos africanos 
escravizados. Contudo, novas abordagens historiográfi cas vêm procurando 
desconstruir essa narrativa demasiado simplista, que não abarca toda a com-
plexidade do contato, da expansão e das relações estabelecidas entre europeus 
e as populações nativas da América.
A primeira forma de exploração do trabalho indígena se deu pelo escambo. 
Em troca de sua mão-de-obra na extração e transporte do pau-brasil, os indígenas 
recebiam dos portugueses uma série de quinquilharias europeias, pelas quais 
tinham apreço em função de seu desconhecimento. Além disso: os índios supriam 
igualmente em alimentos a pequena população europeia residente, com a qual tra-
tavam de estabelecer laços cerimoniais e alianças envolvendo não só trocas de bens 
como, também, a concessão de esposas indígenas aos brancos (CARDOSO, 1990).
Contudo, com o início do processo de colonização e expansão dos europeus 
na América e a complexificação das atividades econômicas,foi necessário 
estabelecer novas formas de exploração do trabalho, e a escravidão foi uma 
delas. “A partir de 1532, com o início da colonização efetiva e da economia do 
açúcar, as exigências de alimentos para a produção europeia crescente, e de 
mão-de-obra para os engenhos, mudaram com rapidez o caráter das relações 
com os autóctones” (CARDOSO, 1990, p. 102)
Assim, foi aprovada uma série de medidas para o tratamento dos indígenas, 
que podemos chamar de “legislação indigenista”. Segundo Ramos (2004, p. 
244), essas medidas se referem “[...] ao conjunto de leis, alvarás, cartas régias, 
avisos que regularam a atuação colonial em relação às populações indígenas, 
sabendo que estas compunham, na maioria das vezes, um projeto de ocupação 
e administração do Estado”.
As primeiras regulamentações sobre a utilização da mão-de-obra indígena 
datam de março de 1570 (RAMOS, 2004) e abordam diferentes métodos para 
a obtenção de indígenas escravizados. Uma das formas de aprisionamento foi 
a utilização, em proveito dos colonos, dos conflitos intertribais, 
[...] com a finalidade de se obter escravos originalmente prisioneiros de guerra, 
inicialmente com amparo legal, sob o argumento das expedições de resgate 
de tornar o preso livre das ameaças da antropofagia, desenvolvendo-se pos-
teriormente para troca ou compra (RAMOS, 2004, p. 244). 
As táticas utilizadas pelos europeus, portanto, aproveitavam-se de práticas 
culturais dos indígenas, revestindo-as de um ideal salvacionista.
Os indígenas também eram capturados em expedições realizadas pelos 
bandeirantes no sertão (interior) da colônia. Essas expedições de apresamento 
A escravidão indígena e os jesuítas2
começaram a ser realizadas no século XVI e seguiram ocorrendo até o século 
XVIII (MONTEIRO, 2013).
É importante ressaltar que a legislação indigenista estabelecia uma dis-
tinção entre os nativos, que permitia uma diferenciação e uma legitimidade 
em relação às práticas coloniais: 
[...] um, direcionado para as sociedades indígenas consideradas aliadas, favo-
recendo a incorporação como mão-de-obra através dos aldeamentos formados 
a partir dos descimentos liderados pelos missionários. O segundo, dirigido 
aos ‘índios bravos’, os quais se combatia numa estratégia de guerra colonial, 
permitindo-se a escravização (RAMOS, 2004, p. 246).
Em certo momento do processo colonizador e de expansão europeia, a 
legislação indigenista passou a evidenciar as contradições e oscilações da 
coroa portuguesa, que procurava atender os interesses conflitantes dos colonos 
escravocratas, bem como as reivindicações dos jesuítas. 
Chocaram-se os missionários, apoiados pelo Estado português, que pretendiam 
converter os índios ao catolicismo, ‘pacificá-los’ e torná-los disponíveis como 
trabalhadores eventuais assalariados, e os colonos, cuja urgente necessidade 
de braços levava a expedições de escravização — diretas, ou lançando uns 
grupos indígenas contra outros e em seguida negociando com os vencedores 
os cativos de guerra (CARDOSO, 1990, p. 102).
Além disso, em certo momento, a escravidão dos indígenas se tornou 
um problema moral. Nos séculos XVI e XVII, a mentalidade ibérica era 
totalmente norteada pela tradição cristã, e, nesse contexto, os diferentes 
pesos e medidas usados para julgar a escravização de negros e indígenas 
não eram interpretados como um questionamento da escravidão em si. “Esse 
era primordialmente um problema de ordem jurídica e política, na medida 
em que os índios eram considerados súditos das monarquias europeias” 
(FREITAS, 2011, p. 2652).
A escravidão indígena foi extinta com as reformas pombalinas na se-
gunda metade do século XVIII, estabelecendo que as relações entre colonos 
e indígenas em termos de mão-de-obra se daria mediante o trabalho livre. O 
historiador Ciro Flamarion Cardoso chama a atenção para a longa duração do 
processo de extinção da escravidão indígena: “[...] embora a escravização dos 
índios tenha sido banida por numerosas leis desde 1570, não cessou jamais 
de todo no período colonial, só perdendo importância, nas regiões coloniais 
periféricas, em meados do século XVIII” (CARDOSO, 1990, p. 103).
3A escravidão indígena e os jesuítas
Como mencionado anteriormente, o término da escravidão indígena foi 
atribuído ao “caráter” do indígena e a substituição de sua mão-de-obra pela 
dos africanos escravizados. Entretanto, esse processo foi muito mais complexo, 
havendo coexistência na utilização do trabalho compulsório africano e indígena, 
além de envolver outras questões que extrapolavam os julgamentos de caráter. 
Segundo Freitas (2011, p. 2652), 
[...] dentro do arrazoado da época, a diferença de opinião sobre a legitimidade 
da escravização de africanos e índios não estava relacionada com a cor da pele, 
com o desenvolvimento cultural ou com o fato de eles serem ou não idólatras. 
A questão residia na condição político-jurídica que era bem diferente entre os 
índios e os africanos. Os últimos provinham de terras que a coroa portuguesa 
não tinha nenhum compromisso político. Não era responsabilidade dos reis 
averiguar se os escravos eram bárbaros ou prisioneiros de guerra justa. A 
coroa não requeria o dominium sobre as terras africanas e apenas feitorizava 
a costa do continente. Já os americanos eram vassalos das coroas ibéricas e, 
portanto, sua escravização não era simples de ser justificada.
Segundo John Monteiro, um dos principais empecilhos para que houvesse 
um florescimento pleno de um sistema escravista baseado na mão-de-obra 
indígena foram os jesuítas, que foram vistos como competidores pelos ban-
deirantes, porque levavam os indígenas para os aldeamentos: 
[...] eles pressionaram a Coroa para proibir o cativeiro injusto dos índios. A 
“Lei sobre a Liberdade dos Gentios”, de 1570, estabeleceu um dos funda-
mentos da política indigenista portuguesa, declarando livres todos os índios, 
salvo aqueles sujeitos à “Guerra Justa” — grupos inimigos que apresentavam 
alguma resistência armada (MONTEIRO, 2013, p. 29).
As “guerras justas” eram uma justificativa ideológica e religiosa para legitimar as 
expedições de aprisionamento de indígenas considerados hostis. Se esses grupos 
não aceitassem a catequização, atacassem os colonos ou praticassem a antropofagia, 
estava autorizado o extermínio. Era uma prática com um viés jurídico e teológico 
baseado no direito de guerra medieval. A guerra propagaria a fé cristã aos povos 
“bárbaros” (AMANTINO, 2006).
A escravidão indígena e os jesuítas4
2 Os confrontos culturais entre indígenas 
e portugueses
O escritor uruguaio Eduardo Galeano (2012), em seu livro Os fi lhos dos dias, 
afi rma que no ano de 1492 os nativos descobriram que eram índios, descobri-
ram que viviam na América, descobriram que estavam nus, descobriram que 
existia o pecado, descobriam que deviam obediência a um rei e a uma rainha 
de outro mundo, além de um deus de outro céu. Essa irônica observação do 
autor é bastante ilustrativa dos confrontos culturais existentes entre os euro-
peus e as populações autóctones. No momento do contato, houve o confronto 
entre dois mundos distintos, implicando diferentes culturas, práticas sociais, 
religiosidades, etc.
É importante ressaltar que, diferentemente daquilo que foi afirmado por 
uma historiografia que pretendeu denunciar as mazelas da colonização, não 
houve somente um processo de aculturação ou extermínio dos indígenas, mas 
também processos de negociação e apropriação de referentes europeus por parte 
dos grupos nativos em proveito próprio (MONTEIRO, 2001). Nesse sentido, 
seria importante abandonar o binarismo “pureza originária” e “contaminação 
pós-contato”, ressaltando-se um processo contínuo de inovação cultural a 
partir da expansão europeia.
Um dos primeiros confrontos culturais entre os portugueses e as populações 
nativas foi a redução promovida pelos primeiros à diversidade cultural indígena 
em apenas dois grupos: os tupis, que representavam os grupos localizados no 
litoral, que possuíam contato com os europeus,e os tapuias, os “desconheci-
dos”, que não eram conhecidos pelos portugueses. É importante destacar que 
os próprios portugueses tinham noção dessa heterogeneidade e, ainda assim, 
realizaram essa classificação simplificadora (DEL PRIORE, 2016).
Temos informações sobre a cultura e os hábitos dos povos originários do 
território da América portuguesa através dos relatos de missionários e viajantes, 
que os descreviam a partir do estabelecimento de contatos. Muitas práticas 
indígenas chocavam os europeus, como a antropofagia e a poligamia (DEL 
PRIORE, 2016). Por isso, não demorou muito tempo para que os portugueses 
resolvessem “instruir” os indígenas. De acordo com Mary Del Priore, “ins-
truir” significava “a substituição de suas tradições por aquelas dos brancos: 
batizar os filhos, casar-se na igreja, evitar a bigamia, andar vestido, aprender 
a ler, escrever, contar e mesmo cantar” (DEL PRIORE, 2016, p. 64). Esse foi 
o principal papel dos jesuítas na América, como veremos na próxima seção.
5A escravidão indígena e os jesuítas
De que forma o contato com os europeus afetou a vida dos indígenas? 
O historiador Ciro Flamarion Cardoso nos ajuda a compreender os efeitos 
adversos do choque cultural:
Desde aproximadamente 1560, os jesuítas trataram de reunir os índios da 
costa e proximidades em aldeias, rompendo com os seus padrões culturais de 
forma radical. Além disso, a concentração em povoados facilitou a expansão 
de ondas epidêmicas, algumas das quais historicamente comprovadas em sua 
terrível mortandade. Nas regiões costeiras ou próximas à costa, a luta dos 
religiosos foi vã: os próprios catecúmenos das aldeias tornaram-se escravos 
com frequência, enquanto expedições (“entradas”) iam ao interior negociar 
índios que, pelo menos teoricamente, “resgatavam” da morte em mãos de 
tribos inimigas — o que configurava um dos casos de escravização que a lei 
continuava permitindo (CARDOSO, 1990, p. 103).
Assim, podemos afirmar que as epidemias, a mortalidade ligada ao trabalho 
forçado, a ruptura da economia de subsistência indígena tradicional ou da 
vida seminômade e o abandono de práticas culturais (antropofagia, poligamia) 
afetaram diretamente os indígenas. Entretanto, o historiador John Monteiro, 
especialista em história indígena, chama a atenção para outra possibilidade 
de compreendermos a interação entre europeus e indígenas: 
Mas há outras leituras possíveis. Cresce, na bibliografia etno-histórica das 
Américas, a ideia de que o impacto do contato, da conquista e da história da 
expansão europeia não se resume apenas na dizimação de populações e na 
destruição de sociedades indígenas. Esse conjunto de choques também produ-
ziu novas sociedades e novos tipos de sociedade (MONTEIRO, 2001, p. 55).
No que diz respeito especificamente ao trabalho indígena, havia diferenças 
significativas entre as concepções indígenas e portuguesas sobre o tema. 
Enquanto os indígenas preocupavam-se com o cultivo para a subsistência, os 
portugueses interessavam-se no cultivo e na produção para fins comerciais, 
o que implicava em uma rotina de trabalho estranha à cultura indígena. Por 
isso, a utilização do trabalho forçado foi algo a que resistiram e se rebelaram 
muitas vezes, ou utilizaram as regras de produção a seu favor.
De acordo com Paraíso (1994, p. 185):
A escravidão passa a ser massiva e os aprisionados começam a ser destinados, 
na sua quase totalidade, à implantação da efetiva ocupação e colonização 
do Brasil, baseadas, preferencialmente, na produção agrário-exportadora 
A escravidão indígena e os jesuítas6
açucareira. E para que tal ocorresse, havia a necessidade de ajustar a mão-
-de-obra a um novo ritmo de trabalho e sua inserção compulsória no novo 
sistema produtivo, gerando os primeiros grandes conflitos.
A autora afirma que as novas relações de trabalho desestruturaram o 
sistema organizacional de diferentes grupos étnicos ao violar a divisão do 
trabalho das sociedades indígenas. Assim, enquanto os colonos fomentavam 
a mão-de-obra masculina para as atividades agrícolas, os homens aceitavam 
realizar apenas tarefas de derrubadas e queimadas. “As demais atividades, por 
serem atribuídas às mulheres, eram rejeitadas, o que não era compreensível 
ou aceitável pelos colonos” (PARAÍSO, 1994, p. 186).
Além disso, houve uma progressiva tomada de consciência quanto à uni-
lateralidade dos direitos, somente garantido aos portugueses, o que fez com 
que os indígenas questionassem as vantagens dos acordos estabelecidos com 
os europeus. A proibição do ritual antropofágico, por exemplo, com a entrega 
dos indígenas capturados à escravidão, era questionada tanto pelos indígenas 
vencedores quanto pelos perdedores, porque aquele ato era considerado de 
extrema importância em suas culturas (PARAÍSO, 1994).
Por fim, outro aspecto que deve ser assinalado no choque cultural dos 
sistemas de trabalho indígena e europeu diz respeito à lógica comunitária 
dos nativos americanos. Para que não houvesse um total rompimento nesse 
aspecto, foram criados os aldeamentos, em que era possível reproduzir parte 
de sua vida em comunidade. 
3 As missões jesuíticas na América
Antes de falarmos sobre as missões jesuíticas na América, é importante conhe-
cermos quem era os jesuítas. Eram membros da ordem religiosa Companhia 
de Jesus, de Inácio de Loyola, aprovada em 1540 pelo papa Paulo III. Era uma 
ordem “[...] de caráter reformista e militante (soldados de cristo), cuja ética 
loyolana baseava-se no ‘salvar a alma’” (TORRES, 2007, p. 217).
A Companhia de Jesus foi fundada na conjuntura da Reforma Protestante e do 
Renascimento, com a renovação da vida espiritual da Europa Ocidental nas pri-
meiras décadas do século XVI. De acordo com Sousa e Ferreira Júnior (2012, p. 4):
O pano de fundo das ações dos missionários era a contrarreforma e a neces-
sidade de combater os protestantes na Europa e na América, tendo em vista 
que os huguenotes já travaram combates com os jesuítas no Rio de Janeiro e 
7A escravidão indígena e os jesuítas
Maranhão, e seu princípio de livre exame das escrituras, que transformou a 
escola em instrumento da catequese dos reformadores e, consequentemente, 
era alvo das preocupações dos jesuítas, o Concílio de Trento, que reafirmava 
as tradicionais doutrinas católicas e o intento de triunfo do catolicismo sob a 
autoridade papal. Daí o caráter marcial dos inacianos.
O historiador Ronaldo Vainfas (2000), no entanto, reforça outro aspecto 
que vincula os jesuítas ao movimento da reforma da Igreja Católica, ou Con-
trarreforma. Estavam eles imbuídos de um “espírito cruzadista medieval”, e 
se propuseram a difundir a fé através do conhecimento e do ensino. Por isso, 
também atuaram instalando colégios em suas áreas de atuação.
Além da América, os jesuítas também estiveram na África e na Ásia. No continente 
africano, instalaram-se no Congo, em 1548, favorecidos pela conversão do Manicongo, 
o governante do Reino do Congo, ao cristianismo. Posteriormente, instalaram-se em 
Angola, fundando o colégio de Luanda. Seu objetivo era disseminar o cristianismo para 
o povo banto (VAINFAS, 2013).
No território português na América, o primeiro grupo de jesuítas, liderado 
por Manuel da Nóbrega, chegou em 1549, junto com a comitiva de Tomé de 
Souza, o primeiro governador-geral. Aos jesuítas, foi garantido o monopólio 
das atividades de conversão dos indígenas, chamados de “gentios”, o que 
demonstra a confiança conquistada com a coroa (VAINFAS, 2000).
A tarefa de conversão dos gentios à fé católica colocava desafios inéditos para os 
religiosos. Desconhecendo as sociedades nativas, os europeus tinham a impressão 
de que os índios viviam “sem Deus, sem lei, sem rei, sem pátria, sem república, 
sem razão”. O grande mérito dos jesuítas consistiu na percepção da humanidade 
dos nativos da América. Foi ela que os incentivou a desenvolver procedimentos 
capazes de atingir a sensibilidade dos nativos, aproximando-os da cultura cristã, 
como aliás, fariam logo depois em seus colégios.Essa estratégia assentava sobre 
três convicções básicas: a de que os índios eram tão capazes dos sacramentos 
quanto os europeus; a de que eram “livres por natureza”; e a de que tinham um 
caráter de um “papel branco”, em que poderia ser impressa a palavra de Deus. Com 
essas diretrizes, os jesuítas buscaram na catequese, antes de tudo, a mudança de 
alguns costumes ameríndios, incompatíveis com a fé católica — como a poligamia 
e a antropofagia — e, para isso, fizeram largo uso da música, da dança, dos autos 
religiosos e das procissões (VAINFAS, 2000, p. 327).
A escravidão indígena e os jesuítas8
Foram duas as formas de atuação dos jesuítas na América: pelo aldeamento 
dos indígenas e pela fundação de colégios. 
Os colégios inacianos se espalharam por todos os continentes, atravessando os 
sete mares. Formavam professores, intelectuais e missionários. Dominaram o 
ensino em várias universidades, como a de Coimbra, consolidando a neoesco-
lástica, com ênfase no estudo filosófico e teológico (VAINFAS, 2013, p. 90).
Os jesuítas também enfrentaram dificuldades para desenvolver seu trabalho em 
função dos conflitos com os colonos, que utilizavam os indígenas como mão-de-
-obra, na maior parte das vezes escravizada. Esse conflito, em função do crescente 
poder temporal dos jesuítas, que, além do controle dos índios possuíam, muitas 
vezes, o controle do crédito e a propriedade da terra, iria perdurar por muito tempo: 
o contencioso arrasta-se até os anos 1750, quando a Companhia é expulsa do 
Reino e das conquistas. De certa forma, esse conflito demonstra a inviabilidade 
política dos enclaves americanos baseados no trabalho compulsório indígena 
e situados fora do controle metropolitano (ALENCASTRO, 2000, p. 37).
Por isso, os jesuítas criaram as aldeias ou aldeamentos, centros localizados 
longe dos núcleos urbanos, para não serem incomodados em sua atividade 
evangelizadora. Nessas aldeias, os indígenas realizavam trabalhos agrícolas 
e artesanais, com momentos de lazer e de oração.
Não obstante o apoio da Coroa à organização desses aldeamentos — cuja 
expressão final foi o Regimento das Missões (1686), que somava à jurisdi-
ção espiritual o privilégio de administrá-los temporalmente — essa política 
converteu-se, de um lado, em motivo de tensão permanente com os colonos, 
sempre ávidos da mão-de-obra indígena. De outro lado, ao fixar populações 
seminômades e alterar radicalmente seu modo de vista, os aldeamentos de-
sarticulavam as culturas indígenas, o que foi objeto, posteriormente, de forte 
crítica historiográfica (VAINFAS, 2000, p. 327).
Aproveitando-se dos monopólios obtidos com a coroa portuguesa, além 
da isenção de impostos e outras vantagens fiscais, a Companhia de Jesus 
tornou-se uma das instituições com mais opulência. Recebia doações e admi-
nistrava seu patrimônio, que consistia em sesmarias, propriedades urbanas, 
fazendas de gado, engenhos e africanos escravizados. Isso transformou-a 
em um tema conflituoso não somente para a coroa portuguesa, mas também 
a espanhola: 
9A escravidão indígena e os jesuítas
Tais tensões chegaram ao paroxismo na década de 1750, devido à resistência 
dos jesuítas espanhóis em dar cumprimento ao estipulado no Tratado de Madri, 
que previa a devolução a Portugal do território a ocidente do atual estado do 
Rio Grande do Sul, e aos crescentes desentendimentos, no vale amazônico, 
com a política do governador do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier 
de Mendonça Furtado, de converter os nativos em vassalos livres da Coroa 
e reassumir o controle temporal sobre as aldeias indígenas, política definida 
por seu irmão, o poderoso Marquês de Pombal (VAINFAS, 2000a, p. 328).
Os conflitos originários da atuação da Companhia de Jesus na América foram 
sanados com a expulsão dos jesuítas, em 1759, de todos os territórios portugueses e 
o confisco de seus bens. Posteriormente, França (1764) e Espanha (1767) tomaram 
semelhante decisão, até que o papa Clemente XIV, em 1773, extinguiu a ordem.
As missões jesuíticas
As missões ou reduções jesuíticas espalharam-se por diferentes pontos do 
território português na América, mas houve duas principais regiões de con-
centração: foram duas as principais regiões de estabelecimento das missões ou 
reduções jesuíticas: ao sul da colônia, em uma região de constante disputa entre 
espanhóis e portugueses, que hoje compreenderia parte do território pertencente 
a Argentina, Brasil e Paraguai; e na região amazônica, no território do Pará e 
do Maranhão, que foram responsáveis por diversos núcleos de povoamento.
Atualmente, no sul do país, encontramos as ruínas de sete reduções jesuíticas, que 
formam os Sete Povos das Missões. São elas, por ordem de fundação: redução de São 
Francisco de Borja (1682), São Nicolau (fundada em 1626, abandonada e repovoada 
em 1687), São Miguel Arcanjo (atacada por bandeirantes, abandonada e novamente 
povoada e reconstruída em 1687), São Lourenço Mártir (1687), São João Batista (1697), 
São Luiz Gonzaga (1687) e Santo Ângelo Custódio (1707) (GARBOSSA; SCHIER, 2018). 
O surgimento das missões ou reduções no sul da América possibilitou o 
surgimento de uma nova sociedade, com:
[...] uma organização social de caráter comunitário e católico, político-admi-
nistrativamente vinculada aos órgãos metropolitanos (Casa de Contratação 
A escravidão indígena e os jesuítas10
e Conselho das Índias), coloniais (Audiências, Vice-Reis, governadores, 
autoridades), clericais (superiores da Companhia de Jesus e Igreja de Roma) 
e locais (Cabildo); prestando serviços militares, pois os guaranis eram súditos 
do Rei (pagando impostos sobre a produção agropecuária e a exportação); 
promovendo a produção artística, artesanal e técnica, segundo o imaginário 
da sociedade europeia católica (diabo × conversão) (TORRES, 2007, p. 2018).
As cartas que os jesuítas escreviam a seus superiores na Europa nos permitem com-
preender como era o cotidiano nas missões e o convívio entre indígenas e padres:
“Se ouvem tanger missa”, conta um inaciano, “já acodem e tudo que nos 
veem fazer, tudo fazem. Assentam-se de joelhos, batem nos peitos, levantam 
as mãos para o céu”. A clientela era feita de filhos de índios e mestiços, 
acrescida, de tempos em tempos, de um principal, ou seja, um chefe. As 
primeiras atividades religiosas consistiam em recitar, nas igrejas, ladainhas 
ou a Salve-Rainha. Nas sextas-feiras, disciplinavam-se em cerimônias de 
autoflagelação e, com o corpo coberto de sangue, saíam em procissão. [...] 
Confessavam-se de oito em oito dias e saíam para caçar e pescar todas as 
tardes, pois não havia qualquer forma regular de aprovisionamento. A ali-
mentação baseava-se na farinha de pau, nome dado à farinha de mandioca, 
e caça, “como sejam os macacos, as corças, certos animais semelhantes a 
lagartos, pardais e outras feras”, explicava o padre Anchieta. As meninas 
indígenas eram ensinadas a tecer e a fiar algodão, capaz de vestir os jovens 
nus. O tempo livre das crianças ficava por conta do banho de rio ou no “ver 
correr as argolinhas”, brinquedo, segundo Nóbrega, importado de Portugal 
[...] As atividades físicas mais simples impregnavam-se de cantos e danças 
nos quais a cultura indígena se impunha. Em festas nos aldeamentos, os 
meninos levantavam-se à noite para a seu modo cantar e dançar [...] A 
sensibilidade musical do indígena fazia crer aos jesuítas que, “tocando 
e cantando entre eles, os ganharíamos” e que “se cá viesse um gaiteiro”, 
anotava Nóbrega, não haveria cacique que recusasse seus filhos à escola 
jesuítica. Nos batismos em grupo, os meninos índios eram vestidos com 
“roupas brancas, flores na cabeça e palmas na mão”, sinal da vitória que 
teriam alcançado contra o Demônio (DEL PRIORE, 2010, p. 27).
As missões foram, dessa forma, um exemplo de como a interação entre 
os indígenas e os europeus não ocorreu somente mediante a aculturação ou 
o extermínio, possibilitando espaços de negociação que originaram novas 
formações sociais e possibilitaram a sobrevivência de diversasetnias em um 
contexto nada favorável para sua existência.
11A escravidão indígena e os jesuítas
ALENCASTRO, L. F. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI 
e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
AMANTINO, M. As guerras justas e a escravidão indígena em Minas Gerais nos séculos 
XVIII e XIX. Varia História, v. 22, n. 35, p.189–206, 2006.
CARDOSO, C. F. S. O trabalho na colônia. In: LINHARES, M. Y. et al. História geral do Brasil. 
Rio de Janeiro: Campus, 1990.
DEL PRIORE, M. Histórias da gente brasileira: colônia. São Paulo: Leya, 2016. v. 1.
DEL PRIORE, M; VENANCIO, R. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010.
FREITAS, L. G. Princípios jurídicos na colonização ibero americana: o debate sobre a 
escravidão indígena. In: CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA, 5., p. 2650–2659, 2011.
GALEANO, E. Os filhos dos dias. Porto Alegre: L&PM, 2012.
GARBOSSA, G. M.; SCHIER, D. A. Reduções jesuíticas no Rio Grande do Sul e viagens de 
estudos. Caderno Intersaberes, v. 7, n. 12, p. 161–182, 2018.
MONTEIRO, J. Bandeiras indígenas. In: FIGUEIREDO, L. (Org.). História do Brasil para ocu-
pados: os mais importantes historiadores apresentam de um jeito original os episódios 
decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país. Rio de Janeiro: Casa 
da Palavra, 2013. p. 35–40.
MONTEIRO, J. M. Entre o etnocidio e a etnogenese: identidades indígenas coloniais. 
In: MONTEIRO, J. M. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do 
indigenismo. 2001. 233 f. Tese (livre-docência) — Universidade Estadual de Campinas, 
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP, 2001. p. 53–78.
PARAÍSO, M. H. B. De como se obter mão-de-obra indígena na Bahia entre os séculos 
XVI e XVIII. Revista de História, São Paulo, n. 129–131, p. 179–208, ago./dez. 1994.
RAMOS, A. R. F. A escravidão do indígena, entre o mito e novas perspectivas de debates. 
Revista de Estudos e Pesquisas, Brasília, v. 1, n. 1, p. 241–265, jul. 2004.
SOUSA, N. M.; FERREIRA JÚNIOR, A. Soldados da fé: a formação dos jesuítas que atua-
ram nas missões do Itatim. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO, 
A EDUCAÇÃO E SEUS SUJEITOS NA HISTÓRIA, 4., 2006. Goiânia: Universidade Católica 
de Goiás, 2012. p. 1–10.
TORRES, L. H. Missões jesuítico-guaranis: entre o tempo medieval e o moderno. Biblos, 
Rio Grande, v. 21, p. 215–224, 2007.
VAINFAS, R. Dicionário do Brasil colonial: 150–1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
A escravidão indígena e os jesuítas12
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sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
VAINFAS, R. Exércitos de Cristo. In: FIGUEIREDO, L. (Org.). História do Brasil para ocupa-
dos: os mais importantes historiadores apresentam de um jeito original os episódios 
decisivos e os personagens fascinantes que fizeram o nosso país. Rio de Janeiro: Casa 
da Palavra, 2013. p. 98–102.
Leituras recomendadas
ALENCASTRO, L. F. Índios, os escravos da terra. In: ALENCASTRO, L. F. O Trato dos Viventes: 
formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 117–154.
ALMEIDA, M. R. C. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais 
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.
COUTO, J. A construção do Brasil: ameríndios, portugueses e africanos, do início do 
povoamento a finais de quinhentos. Lisboa: Edições Cosmos, 1998.
CUNHA, M. C. (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
DEL PRIORE, M. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1994.
GADELHA, R. M. A. F. As missões jesuíticas do Itatim: estruturas sócio-econômicas do 
Paraguai colonial, séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
MONTEIRO, J. M. Negros da terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1994.
PUNTONI, P. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste 
do Brasil, 1650–1720. São Paulo: Hucitec, 2002.
13A escravidão indígena e os jesuítas
DICA DO PROFESSOR
A Companhia de Jesus estabeleceu dois modos de trabalho na América portuguesa: além dos 
rituais litúrgicos, realizava a catequese por meio da educação, em colégios, ou em aldeamentos, 
onde eram concentrados os indígenas para trabalharem e para serem educados nos preceitos 
cristãos. Contudo os constantes ataques promovidos pelos bandeirantes, apresadores dos 
indígenas para o trabalho compulsório, fizeram com que os jesuítas e os indígenas se 
deslocassem cada vez mais para o interior.
Algumas regiões da colônia tinham certas especificidades. No caso das missões jesuíticas 
localizadas na região que hoje compreende os territórios do Paraguai, da Argentina e do Brasil, 
esses espaços também serviam como defesa das fronteiras, onde os limites eram motivo de 
conflitos e negociações.
Veja, na Dica do Professor, a origem dos Sete Povos da Missões, situados na região noroeste do 
atual estado do Rio Grande do Sul, e como era o cotidiano de indígenas e missionários nesse 
espaço.
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EXERCÍCIOS
Os indígenas, chamados pelos portugueses de “negros da terra”, foram utilizados 
como mão de obra no processo de colonização e exploração econômica da América 
portuguesa. Sobre esse fato, são feitas as seguintes afirmações. Assinale V para 
verdadeiro e F para falso:
( ) Com a introdução da mão de obra africana escravizada, o trabalho compulsório 
dos indígenas foi extinto em todo o território colonial português.
( ) No processo de escravização dos indígenas, os colonos se valeram dos conflitos 
intertribais pré-existentes e de expedições de apresamento.
( ) Houve diversos conflitos de interesse entre colonos e jesuítas no que diz respeito à 
1) 
escravização dos indígenas, tendo a coroa portuguesa que mediar esses conflitos por 
meio de várias leis indigenistas.
( ) Os aldeamentos foram formas de organização social criadas pelos indígenas para 
se proteger das investidas econômicas e religiosas dos colonos e dos padres.
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
A) F – V – F – V.
B) F – F – V – V.
C) F – V – V – F.
D) V – V – V – F.
E) V – F – V – F.
As novas tendências historiográficas têm ressignificado o papel dos indígenas no 
processo de colonização e expansão europeia na América. Leia o trecho abaixo, 
retirado do livro Negros da terra (1994), de John Monteiro:
“No dia de Natal de 1562, Martim Afonso Tibiriçá perdeu sua última batalha, 
sucumbindo a uma das doenças infecciosas que grassavam entre os habitantes 
indígenas do Brasil na época. De certo modo, a vida e a morte deste importante 
guerreiro e chefe tupiniquim espelharam a própria marcha da expansão europeia na 
capitania de São Vicente no século XVI. Muitos anos antes, ele já havia incorporado a 
seu grupo – como genro – o primeiro branco e assistira à rápida ascensão deste como 
influente líder de índios e portugueses. Na década de 1530, Tibiriçá consentira na 
formação de uma aliança com os estranhos, certamente tendo em vista a vantagem 
que esta lhe proporcionaria sobre seus inimigos tradicionais. Com a chegada dos 
primeiros jesuítas, no meio do século, autorizara a edificação de uma capela rústica 
dentro de sua aldeia e permitira que os padres convertessem seu povo, ele próprio 
sendo o primeiro catequizado. Os jesuítas, por sua vez, expressaram sua reverência 
2) 
por este índio considerado exemplar sepultando-o no interior da modesta igreja de 
São Paulo de Piratininga.”
De acordo com a leitura do trecho acima, podemos afirmar que:
A) o contato, para os indígenas, significouapenas a aculturação e o extermínio, como 
demonstrado pelo relato da morte por doença infecciosa.
B) a miscigenação foi uma política promovida pela administração colonial como forma de 
“branquear” a população da colônia.
C) a conversão dos indígenas era obrigatória caso quisessem escapar da escravidão ou do 
extermínio promovido pela coroa portuguesa.
D) existiram formas de interação entre indígenas e portugueses que evidenciam o 
protagonismo daqueles em processos de apropriação e negociação.
E) os colonos e os jesuítas não souberam utilizar os confrontos intertribais em benefício 
próprio, já que não compreendiam a língua e a cultura dos nativos.
Ao chegar na América, um dos membros da esquadra de Cabral, Pero Vaz de 
Caminha, escreveu uma carta ao rei de Portugal narrando o episódio do 
“achamento” da terra e o que encontraram por ali. Leia um trecho dessa carta:
“Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não 
podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até 
agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou 
ferro; nem lho vimos. [...] Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece 
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em 
ela deve lançar.”
Levando-se em consideração o excerto acima e seus conhecimentos sobre a interação 
entre portugueses e indígenas, são feitas as seguintes afirmações:
3) 
I – O trecho evidencia que o único benefício buscado na exploração colonial da 
América era a conversão dos nativos.
II – O excerto da carta de Caminha mostra que a colonização está intrinsecamente 
relacionada a aspectos religiosos, não somente econômicos.
III – A salvação à qual Caminha faz referência diz respeito a evitar que o território 
seja ocupado por outras nações devido à riqueza das terras.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) Apenas II e III.
4) No período colonial, a relação entre os colonos e os jesuítas, durante o período em 
que estiveram na América portuguesa, foi conflitiva. A seguir, são citados alguns 
motivos para esses conflitos:
I – Os jesuítas se opunham à escravização dos indígenas, protegendo-os em 
aldeamentos.
II – A coroa portuguesa apoiava integralmente os colonos na escravização indígena.
III – Os confrontos entre colonos e jesuítas se davam pelas diferenças religiosas dos 
dois grupos.
Qual(is) está(ão) correto(s)?
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) Apenas II e III.
5) A Companhia de Jesus foi criada no contexto das reformas religiosas ocorridas na 
Europa no século XVI. Subordinadas diretamente ao papa, seu objetivo era atrair, 
por meio da conversão, mais fiéis para a Igreja Católica. Leia o trecho baixo, que 
trata dessa ordenação:
Os métodos utilizados pelos jesuítas diferiram-se das demais ordenações porque, 
além da ação catequizadora, fundaram ______________. Houve alguns confrontos 
com os colonos, principalmente com os bandeirantes, porque, em relação aos 
indígenas, os jesuítas tinham uma opinião ______________ à escravidão. As 
atividades desenvolvidas na colônia geraram _________________ para a Companhia, 
e, durante as reformas pombalinas, a coroa portuguesa determinou a 
_______________ da Companhia de Jesus em suas possessões americanas.
A alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto é:
A) colégios – contrária – endividamento – expulsão.
B) colégios – favorável – endividamento – institucionalização.
C) colégios – contrária – enriquecimento – expulsão.
D) capitanias – contrária – endividamento – expulsão.
E) capitanias – favorável – enriquecimento – institucionalização.
NA PRÁTICA
A Igreja Católica, por meio de diferentes ordenações, teve grande importância na formação 
econômica e social da América portuguesa. A Companhia de Jesus e seus membros, os jesuítas, 
inserem-se nesse panorama que, na Europa, buscava reforçar o poder do papado frente às 
reformas religiosas e, na América, objetivava obter novos fiéis. Na colônia, os jesuítas 
defrontaram-se com realidades que lhes exigiram posicionamento, como a escravidão.
Veja, Na Prática, como um professor de uma turma do Ensino Médio abordou o tema do 
posicionamento dos jesuítas frente à escravidão africana e indígena utilizando os sermões de 
dois padres.
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SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Histórias compartilhadas: propostas universitárias de construção de conhecimentos 
decolonizados
Leia, neste artigo, algumas propostas desenvolvidas no âmbito universitário comprometidas com 
uma perspectiva decolonial na abordagem da história indígena.
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A Companhia de Jesus e a questão da escravidão de índios e negros
Leia, neste artigo, as diferentes concepções dos jesuítas sobre a escravidão indígena e a 
escravidão africana, e saiba por que esses padres tinham impressões distintas sobre o trabalho 
cativo desses dois grupos.
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Estratégias de justificação para a conversão do gentio nas missões jesuíticas
Leia, neste artigo, como os jesuítas legitimaram a conversão religiosa dos indígenas, a despeito 
de suas crenças e de seus hábitos.
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