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INSTITUTO DE ENSINO DE SEGURANÇA DO PARÁ CURSO SUPERIOR DE POLÍCIA “Especialização lato sensu em Gestão Estratégica e Defesa Social” UBIRAJARA MAGELA DE SOUSA FALCÃO – Ten Cel PM/PA SUICÍDIO DE POLICIAIS MILITARES NO BRASIL: uma revisão da literatura MARITUBA/PARÁ 2020 2 SUICÍDIO DE POLICIAIS MILITARES NO BRASIL: uma revisão da literatura1 Ubirajara Magela de Sousa Falcão– Ten Cel PM/PA 2 RESUMO Nesta pesquisa tem-se por objetivo investigar a temática do Suicídio e sua ocorrência entre os policiais militares. Enfatiza-se como problemática, o fato de o suicídio ser um problema de saúde pública, de elevada magnitude, para o qual o policial militar não está imunizado; Levantou-se como hipótese que “o comportamento suicida do policial militar poderia ser reflexo da sua exposição ostensiva e cotidiana, às incontáveis mazelas sociais”. Neste sentido, a pesquisa desenvolvida foi de caráter bibliográfico fundamentada no modelo de Severino (2007), relacionada com o suicídio no Brasil e no mundo, em especial de policiais militares. O recorte temporal foi de uma década (2010 a 2020) e utilizou-se como descritores de busca: ‘suicídio; suicídio de policial militar, fatores associados ao suicídio, tentativa de suicídio e comportamento suicida’. Na busca foram encontrados 17 artigos como resultados de pesquisas nacionais que avaliaram a relação entre as mortes por suicídio e fatores associados à atividade policial, que se enquadraram no critério de inclusão da presente revisão bibliográfica, dentre os tais: Minayo et al (2011). Concluiu-se como resultado que a questão dos suicídios e das tentativas de suicídio de policiais militares no Brasil, remetem a ideia de que as instituições de Segurança Pública, não podem negligenciar o sofrimento do seu público interno (servidores), principalmente dos seus praças, porque todos os desgastes redundam em problemas para si e afetam a qualidade dos serviços oferecidos à população em geral. PALAVRAS-CHAVE: Policial Militar; Suicídio; Suicídio de Policial Militar; Prevenção ABSTRACT This research aims to investigate the theme of Suicide and its occurrence among military police. It is emphasized as problematic, the fact that suicide is a public health problem, of high magnitude, for which the military police are not immunized; It was hypothesized that "the suicidal behavior of the military policeman could be a reflection of his ostensible and daily exposure to countless social ills". In this sense, the research developed was of a bibliographic character based on the model of Severino (2007), related to suicide in Brazil and in the world, especially of military police. The time frame was one decade (2010 to 2020) and the search descriptors were used: ‘suicide; military police suicide, factors associated with suicide, suicide attempt and suicidal behavior ’. In the search, 17 articles were found as the results of national surveys that assessed the relationship between suicide deaths and factors associated with police activity, which met the inclusion criteria of the present bibliographic review, such as: Minayo et al (2011). It was concluded as a result that the issue of suicides and suicide attempts by military police in Brazil, refer to the idea that Public Security institutions cannot neglect the suffering of their internal public (servants), especially their squares, because all wear and tear results in problems for you and affects the quality of services offered to the general population. KEYWORDS: Military Police; Suicide; Military Police Suicide; Prevention. 1 Artigo apresentado ao Curso Superior de Polícia e Bombeiros Militar/Especialização em Gestão Estratégica em Defesa Social, apresentado ao Instituto de Ensino de Segurança do Pará, para obtenção do título de Especialista, orientado pela Profº Dra Jesiane Calderaro Costa Vale. 2 Tenente Coronel da PMPA e discente do Curso Superior de Polícia e Bombeiros Militar/Especialização em Gestão Estratégica em Defesa Social. 3 1. INTRODUÇÃO A atividade laboral ou simplesmente, a ocupação profissional, exerce grande relevância na existência humana. Para Lessa (1997) essa relevância é tão significativa que assegura não haver nenhuma outra categoria presente no tecido social, que tenha a peculiaridade de mediar a relação do homem, sociedade e natureza – como tem o trabalho. Compreende-se que, ao longo da história, o ser humano tem experimentado diversas formas de lidar com mundo do trabalho, mesmo que as sociedades, tenham sido primitivas, industrializadas, ou pouco complexas tecnologicamente, o indivíduo sempre se envolveu e desenvolveu alguma atividade laboral. Dentre as muitas atividades profissionais existentes, destaca-se a profissão policial militar, que em virtude de sua prerrogativa lida ininterruptamente com o público, desenvolve uma atividade de alto risco no seu cotidiano, combatendo a violência, a criminalidade e se confrontando com a morte. A literatura aponta que os policiais militares, estão entre os profissionais que mais constantemente estão expostos ao perigo e à agressão, propensos a manifestarem estresse, devido à necessidade de como categoria profissional, ter que intervir frequentemente em situações-problemas, conflitos e tensões próprios do meio social/humano. Tal situação acontece, porque no Brasil, a Constituição Federal de 1988, dispõe no seu artigo 144, que: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – (...); II - (...); III - (...); IV - (...); V - Polícias militares e Corpos de Bombeiros Militares. (BRASIL, 1988) Assim, tem-se o entendimento de que em situação de salvaguardar a normalidade, cabe à Polícia Militar, o exercício de polícia ostensiva e a preservação da ordem pública e, ao Corpo de Bombeiros Militar, a execução de atividades de defesa civil, além de outras atribuições definidas em lei. Como se pode observar pela prescrição da Carta magna, os policiais militares por imposição legal, estão na linha de frente na prestação do serviço do Estado, no Sistema de Segurança Nacional, no que tange as questões de repressão, prevenção de ilícitos, e preservação da ordem pública. Ocorre que essa prestação de serviço e controle sociais nem sempre vem 4 acompanhada por uma estrutura suficiente de recursos humanos, de apoio material, e/ou psicológico. Sobre essa questão, Duarte (2019) aponta para ideia de que os profissionais de segurança pública, em especial os policiais militares, vêm sofrendo as consequências do recrudescimento da violência urbana e o aumento da criminalidade. Diante desse contexto, surgiu a proposta desta pesquisa, cujo o objetivo geral é investigar sobre o suicídio de policiais militares no Brasil, haja vista, que policiais militares fazem parte de um grupo que enfrenta cotidianamente a violência urbana, a criminalidade, e o risco de morte e que pela elevada sobrecarga no seu psiquismo, também se depara com a possibilidade de suicídio. Para consecução do objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: a) Conceituar o “suicídio”, a partir de revisão bibliográfica; b) Levantar quais são os principais resultados de pesquisas nacionais que avaliaram a relação entre as mortes por suicídio e fatores associados à ocupação de policial; c) Identificar os fatores de riscos do suicídio de policiais e as condições em que o cometem. Para tanto, considerou-se a seguinte problemática: Na cultura institucional, o policial militar é um profissional em quem não se pode ver fragilidadee, nem sentimentos, e que pela especificidade de sua atividade, acaba nutrindo um “sentimento de superioridade” em relação às demais pessoas da população, o que em certa medida, o faz negligenciar os cuidados com a sua própria saúde mental, tornando-se suscetível ao adoecimento e ao cometimento do suicídio. Assim, levantou-se a seguinte hipótese/questão norteadora: “O comportamento suicida do policial militar poderia ser reflexo da sua exposição ostensiva e cotidiana, às incontáveis mazelas sociais, no seu processo de trabalho na segurança pública. ” Justifica-se a realização da presente pesquisa por se propor a uma investigação tão importante como é a questão temática do suicídio, um problema de saúde pública, de elevada magnitude, para o qual o policial militar não está imunizado, pelo contrário, está suscetível. Compreende-se a relevância desta investigação a partir das considerações de que, é incalculável o impacto do suicídio nas organizações militares e no seio das famílias, por isso, mostra-se um tema proeminente, nos dias atuais, bem como pela escassez de pesquisas sobre o tema no Pará. 5 2 METODOLOGIA Com o objetivo de investigar sobre o suicídio de policiais militares no Brasil, estabeleceu-se primeiramente obter conhecimento sobre a conceituação do tema escolhido através de uma pesquisa bibliográfica, que consiste num embasamento teórico a respeito do assunto por meio de livros, artigos, monografias e consultas de acesso à internet que abordam o tema em questão: A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundaria, abrange toda bibliografia já tornadas públicas em relação ao tema de estudo, desde as publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicações orais: radio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filme e televisão. Sua finalidade é colocar a pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicada quer gravada. (LAKATOS; MARCONI, 2017, p.71) Para Manzo (1971) apud Lakatos; Marconi (2017, p.71) a bibliografia permite “oferecer meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficiente”, e tem por objetivo permitir ao cientista “o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulações de suas informações” (TRUJILIO,1974 apud LAKATOS; MARCONI, 2017, p.71). Dessa forma a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, porém propicia a investigação de um tema ou abordagem sobre novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras. O método de Pesquisa Bibliográfica foi escolhido com base no objetivo especifico definido pela pesquisa, objetivo esse que se refere a demonstrar de forma teórica, os aspectos relacionados ao suicídio no Brasil e no mundo, em especial de policiais militares. Neste sentido, utilizando-se de livros e artigos científicos, procurou-se por informações que seriam fundamentais para o alcance do objetivo e para a construção deste trabalho, inclusive na rede de sites da internet. Ressalta-se Severino (2018, p. 140-141) que: Como se trata de uma enorme rede, com um excessivo volume de informações, sobre todos os domínios e assuntos, é preciso saber garimpar, sobretudo dirigindo-se a endereços certos. Mas quando ainda não se dispõe desse endereço, pode-se iniciar o trabalho tentando exatamente localizar os endereços dos sites relacionados ao assunto de interesse (...) De particular interesse para a área acadêmica são os endereços das próprias bibliotecas das grandes universidades, que colocam à disposição informações de fontes bibliográficas a partir de acervos documentais. 6 Nesta pesquisa a busca foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a plataforma do Google Scholar, por meio da utilização dos seguintes descritores: suicídio, suicídio de policial militar, fatores associados ao suicídio, tentativa de suicídio e comportamento suicida; restringindo-se os anos de busca, ao período de 2010 a 2020. 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Conceito de suicídio De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) (2020, online), conceitua-se suicídio como o óbito provocado por uma ação ou omissão, cuja finalidade é pôr fim a própria vida. Assim, dessa ideia, corrobora Freitas e Borges (2014, p. 40): “o suicídio é o ato humano de causar a cessação da própria vida e a tentativa de suicídio como o ato de tentar cessar sua própria vida, porém sem consumação”. O comportamento suicida, segundo Sampaio & Telles-Correa (2013), pode ser classificado em três momentos: a ideação suicida (que pode ir de pensamentos de morte à intenção suicida estruturada com ou sem planejamento suicida); o suicídio consumado e a tentativa de suicídio que acontece entre a ideação e o suicídio consumado. Para Durkheim (2019), o suicídio “ (..) é todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”. O autor, sustenta a afirmação de que o suicídio não é uma causa individual, mas sim uma causa social, pois segundo ele, cada sociedade tem em sua história um conjunto de indivíduos dispostos ao suicídio, onde essa disposição deve ser estudada não apenas pelos fenômenos orgânico-psíquicos ou do meio físico no qual os indivíduos estão situados, mas sim em conformidade com as causas sociais que geram os fenômenos coletivos. Desse modo, ficam especificados os tipos de suicídios e suas causas, que são, segundo Durkheim, sempre sociais. O quadro a seguir, explicita os três tipos de suicídio, segundo a etimologia de Durkheim (2019): 7 Quadro 1 – Os três tipos de suicídio, segundo a etimologia de Durkheim (2019) Tipo Características Suicídio Egoísta É aquele em que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver. Suicídio Altruísta É aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.; Suicídio Anômico É aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica, por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio anômico são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor com as situações de anomia social. Fonte: Adaptado de Emile Durkheim (2019) Nessa perspectiva, Reger et al. (2020) lembram que o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial e o possível aumento no seu número de casos, em uma situação de pandemia, pode estar relacionado a diferentes fatores como: medo, isolamento, solidão, desesperança, acesso reduzido a suporte comunitárioe religioso/espiritual, dificuldade de acesso ao tratamento em saúde mental, doenças e problemas de saúde, suicídios de familiares, conhecidos ou profissionais de saúde. Para Costa; Forteski (2013 p.50), a pessoa que tenta o suicídio, muitas vezes, não busca a morte como o desaparecimento real do mundo, o suicídio é mais uma tentativa de resolver conflitos e sofrimentos nos quais a existência se encontra, de libertar-se de uma ausência intolerável, a morte é apenas uma consequência. Considerado um dos tipos de mortes violentas mais incidentes no mundo, o suicídio configura-se como um ato deliberado, executado pelo próprio indivíduo, cujo intento é a morte de forma consciente e intencional. Além disso, constitui-se como um fenômeno complexo, de caráter violento, que corresponde às causas externas de mortalidade representado na Classificação Internacional de Doenças (CID); como um ato agressivo, e de forte impacto na sociedade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014). 3.2 Suicídio no mundo e no Brasil O suicídio é caracterizado como um fenômeno humano complexo e universal. Considerado, atualmente, como um grave problema de saúde pública mundial. O suicídio é a terceira maior causa de morte em todos os sexos e faixas etárias, porém os índices vêm 8 apontando que a maior prevalência de suicídio está nos grupos de pessoas mais jovens (BOTEGA, 2014; BERTOLOTE et al, 2010). Segundo a OMS (2020, online), a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta suicídio. Cada suicídio é uma tragédia que afeta famílias, comunidades e países inteiros e tem efeitos duradouros sobre as pessoas deixadas para trás. O suicídio ocorre durante todo o curso de vida e foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo no ano de 2016. O suicídio não ocorre apenas em países de alta renda, sendo um fenômeno em todas as regiões do mundo. De fato, 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda em 2016 (OMS, 2020). Ainda segundo a OMS (2020), a taxa global de suicídio padronizada por idade para 2016 foi de 10,5 por cada 100 mil pessoas. As taxas variaram amplamente entre os países, de cinco mortes por suicídio por cada 100 mil a mais de 30 por cada 100 mil. No Brasil, em 2016, a OMS contabilizou 6,1 suicídios a cada 100 mil habitantes. Já em 2010, foram registrados 5,7 suicídios a cada 100 mil habitantes no país. Os estudos da pesquisadora Bahia et al. (2017), apontam que no Brasil, estima-se, em média, 24 mortes em decorrência do suicídio diariamente, mas há indícios de que essa estatística possa ser maior, pois as tentativas suicidas são apresentadas como responsáveis por um dos principais motivos para hospitalização no período entre 1998 e 2014, com o total de 153.061 internações. As estatísticas oficiais disponibilizadas pelas organizações policiais nacionais também são pouco confiáveis. Não há um procedimento padrão de coleta e classificação da causa mortis (MIRANDA, 2012), daí a razão para a taxa de suicídio entre esses profissionais de segurança serem instáveis. A 13ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019) registra exposição à violência fatal a que os policiais brasileiros estão sujeitos. Em 2018, 343 policiais civis e militares foram assassinados, 75% dos casos ocorreram quando estavam fora de serviço e não durante operações de combate à criminalidade. Segundo a Revista Exame (2019), no ano de 2018, no Brasil, 104 policiais cometeram suicídio, esse se configura um número maior do que o de policiais mortos durante o horário de trabalho, que corresponde a 87 casos, em confronto com o crime. (REVISTA EXAME, online, 2019). 9 Como se pode constatar, o problema dos suicídios se mostra como uma demanda mundial atingindo todas as classes sociais, assim como, países ricos e pobres. Sobre essa questão, Almeida (2018), afirma que o número de suicídios no país pode ser ainda maior, pois muitas pessoas acabam por omitir ou inventar outra causa para o suicídio de seu ente querido por conta do estigma social que esse tipo de morte possui no seio da nossa sociedade. 3.4 Fatores ligados ao suicídio A pesquisa de Cortez (2019), revela que entre os fatores listados em estudos epidemiológicos como associados ao risco elevado de suicídio, estão variáveis demográficas, socioprofissionais e psicossociais, como depressão, agressividade, impulsividade, desesperança, alcoolismo, idade, gênero, substâncias químicas e psicoativas, além de perda de suporte social, emprego, dificuldades profissionais e desengajamento social. A busca do entendimento começa pelo esclarecimento em que o problema existe e tem que ser enfrentado. É necessário saber um pouco das causas (Quadro 2) , um breve entendimento para uma compreensão e abordagem posterior (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE BRASÍLIA, 2014). Quadro 2 – Diagnósticos psiquiátricos e suicídio Doenças mentais Aspectos socias Depressão; Transtorno bipolar; Transtornos mentais relacionados com uso de álcool e outras substâncias; Transtornos de personalidade; Esquizofrenia; Aumento do risco com associação de doenças mentais: paciente bipolar que também é dependente de álcool terá risco maior so que se ele não tivesse essa dependência Gênero Masculino; Idade entre 15 e 30 anos e acima de 65 anos; Sem filhos; Moradores de áreas urbanas; Desempregados ou aposentados; Isolamento social; Solteiros, separados ou viúvos Aspectos psicológicos Condição de saúde limitante Perdas recentes; Pouca resiliência; Personalidade impulsiva agressiva ou de humor instável; Ter sofrido abuso físico ou sexual na infância; Desesperança, desespero e desamparo. Doenças incapacitantes; Dor crônica; Doenças neurológicas; Trauma medular; Tumores malignos; AIDS Suicidabilidade: Ter tentado suicídio, ter familiares que tentaram ou se suicidaram, ter ideias ou planos de suicídio Fonte: Adaptado do Associação Médica de Brasília/Conselho Federal de Medicina, 2014. Várias pesquisas trazem a comprovação de que existem alguns fatores associados ao suicídio, como a dificuldade em elaborar perdas passadas, desestruturação e desajustes 10 familiares, alienação social provocada pela própria pessoa ou por outros indivíduos, violências e as doenças mentais e problemas socioeconômicos entre outros (BURIOLA et al.,2011; SOUZA et al.; 2011) Um estudo realizado por Miranda (2016) aponta outros fatores que influenciam para o comportamento suicida, tais como os transtornos mentais; depressão; alcoolismo; esquizofrenia e transtornos de ansiedade; ideação suicida persistente ou histórico de tentativa de suicídio anteriores; condições clínicas incapacitantes; sofrimento emocional, como perdas recentes ou datas marcantes para o sujeito, tristeza, desânimo e desesperança; e a facilidade de acesso a meios letais. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando os resultados provenientes das pesquisas realizadas nas bases de dados, referidas nesta pesquisa, na seção de Metodologia, depreendeu-se: Após a leitura criteriosa foram escolhidos 17 artigos que se enquadraram no critério de inclusão, da presente revisão bibliográfica. Os artigos apresentam e discutem os aspectos da complexa atividade do policial militar, focando no impacto das atividades profissionais do polícia militar, como fator contribuinte para o suicídio desses atores sociais, quais sejam: Minayo; Assis; Oliveira (2011), Dias (2011), Gonçalves Nogueira; Las Casas Moreira (2012), Bezerra (2013), Alves et al. (2015), Miranda (2016); Sousa (2016), Cancheski et al. (2016); Silva; Bueno (2017); Couto et al. (2017), Almeida (2018), Franco (2018), Porto; Silva (2018), Borges et al. (2018) Winter; Alf (2019) e Reis (2020). As categorias de análises foram: suicídio de policiais no Brasil;comportamento suicida em policiais militares, o por que os policiais se matam e as políticas de prevenção contra o suicídio em policiais militares. 4.1 Suicídio de policiais no Brasil De acordo com Miranda (2016), com a importante missão de salvar e proteger cidadãos da drástica crise de violência que vem ocorrendo nos grandes centros urbanos, os policiais vêm passando por um grande problema de saúde psíquica provocada pelo estresse profissional, pelo risco de morte que correm todos os dias ao sair de suas casas, pelo afastamento da família, pela privação do convívio social, e pela convivência com o lado mais sombrio da vida em meio à criminalidade, a perda de companheiros de trabalho em operações e em missões policiais, ou mesmo pela falta de parceria entre os colegas de equipe de trabalho. 11 Contudo, independentemente do gênero, os policiais, como um todo, estão entre os profissionais que mais sofrem de estresse decorrente da função, pois estão constantemente expostos ao perigo, à agressão e à violência, devendo frequentemente intervir em situação de problemas humanos de muita tensão (SOUSA, 2011). Em um importante estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), foram entrevistados 244 policiais, e 10% destes, relataram já ter tentado consumar o suicídio, e ainda, dos 244 sujeitos, 50 deles assumiram já ter pensado em tirar sua própria vida (MIRANDA, 2016). Nisso depreende-se, tentativa de suicídio e pensamento de suicídio (ideação) A pesquisa de Miranda; Menezes; Nunes (2017) com policiais baianos com comportamento suicida na Polícia Militar do Estado da Bahia, apontou para um cenário mostrando que quase 10% da amostra total de participantes (n=18007). Do total de participantes da PMBA (1850), 3% declararam já ter tentado suicídio; 14% informaram já ter pensado em se matar em algum momento da vida; e 82% disseram nunca ter pensado e nem tentado suicídio em algum momento de suas vidas. A maioria da amostra de policiais militares da PMBA era composta por homens (1634); 69% tinham entre 30 e 44 anos e 69% estavam ocupando o posto de soldado (69,5%). A taxa de ideação suicida por sexo foi de 14% para homens e 16% para mulheres. De tentativa de suicídio foi de 3% para homens e 5% para mulheres. Esse resultado confirma a literatura nacional e internacional sobre o tema. A referida pesquisa também apontou que a taxa de suicídio entre policiais é 3,65 vezes a da população masculina e 7,2 vezes a da população em geral. A taxa de sofrimento psíquico revelada pela pesquisa foi de 33,6% na PM e 20,3% na Polícia Civil. Outro problema apontado é a falta de estatísticas confiáveis. Muitos registros de suicídio não são informados pelas corporações. E muitos casos registrados como mortes de policiais em acidentes são, na verdade, suicídios disfarçados. Visto que em muitos Estados brasileiros, as famílias dos policiais perdem Direitos de indenizações se caso a morte for provocada por suicídio (MIRANDA, 2016). Rosa et al. (2017) mostra que o suicido se tornou uma pandemia com um aumento de mortalidade em 60% nas últimas cinco décadas, representando 20% das principais causas de morte no mundo. Conforme os autores supramencionados, estima-se que mais de um milhão de pessoas cometem suicídio por ano no mundo, e o índice é progressivo a cada ano. A cada três segundos uma pessoa tenta cometer suicídio no mundo, e a cada 40 segundos um suicídio é consumado. Segundo os dados prospectivos da Organização Mundial de Saúde, o número de suicídios até o ano de 2020 passará de 15.000 mil casos ano (ROSA, et al., 2017). 12 Como se pode observar, as estatísticas de suicídio em policiais militares são muito altas, porém, entende-se que visto o crescente número de policiais militares que se suicidam e são acometidos pelos mais diversos sofrimentos psíquicos, há uma escassez de pesquisas voltadas para a temática, dada a importância que esses atores sociais têm para a preservação da ordem pública na sociedade brasileira. Nessa perspectiva, Minayo; Assis; Oliveira (2011), apontam para um cenário que em alguns países, como é o caso do Brasil e especificamente no Rio de Janeiro, também as taxas de mortalidade e de morbidade por causas externas são muito superiores entre os policiais do que as que se referem à população como um todo e a qualquer outro grupo específico. Do ponto de vista emocional, os estudos internacionais e também o nosso reafirmaram os efeitos do risco e do desgaste sobre o psiquismo dos policiais resultando em alcoolismo e drogadicção, insônia, estado de hipervigilância, aumento da agressividade ou embotamento da sensibilidade levando a dificuldades conjugais e à violência intrafamiliar e perpetração, tentativa ou ideação de suicídio. Depreende-se que as corporações e seus oficias devem estar atentas na identificação de potencial comportamento suicida e buscar oferecer tratamento especializado aos policiais, buscando identificar aspectos do estado mental do agente, do seu plano suicida e de seu sistema de apoio social. 4.2 Comportamento Suicida em Policiais Militares Sobre o comportamento suicida, nos vários estudos analisados, do período estabelecido nesta pesquisa, observou-se que a maioria dos policiais que comentem suicídio, o policial normalmente comete o ato final como uma resposta inadequada a enormes problemas pessoais ou profissionais os quais sente que não podem ser resolvidos (COUTO et al., 2017; FRANCO, 2018 e PORTO; SILVA, 2018) Silva; Bueno (2017), sobre o tema, mostraram que ao contrário da maioria das pessoas, os policiais militares são especialmente e emocionalmente ligados a seus papéis profissionais e reagem fortemente quando seu status está ameaçado. Assim, muitos casos de suicídio refletem o impacto cumulativo de vários fatores estressantes, muitas vezes envolvendo uma combinação de problemas de relacionamento interpessoal e do próprio trabalho. Ao se reportar sobre o comportamento suicida, Porto; Silva (2018) alertam que se o comandante suspeitar da incidência de seu policial em comportamento suicida, deverá providenciar a suspensão do porte de arma do policial em crise, nos termos da legislação pertinente, bem como a necessidade de, após o primeiro atendimento, encaminhar o policial aos 13 serviços de assistência social e psicologia da corporação para que os profissionais tecnicamente capacitados acompanhem o desenvolvimento do quadro psicológico daquele policial em crise, evidenciando-se, assim, a necessidade de serviços de assistência social e de psicologia bem estruturados e valorizados dentro das corporações policiais militares. Da mesma maneira, Miranda; Menezes; Nunes (2017), elencam a ideia da necessidade de políticas de intervenção do adoecimento psíquico e prevenção ao comportamento suicida. Miranda; Menezes; Nunes (2017), afirmam ainda que é nessa direção que formulações de ações institucionais de prevenção ao adoecimento mental, como por exemplo, palestras de sensibilização, a produção e divulgação de cards informativos ou folders para a prevenção e o oferecimento de cursos de formação de agentes multiplicadores de prevenção do suicídio. Ao falar de prevenção, Sousa (2016), alerta para o fato de que os militares com ideação e comportamento suicida devem estar longe dos meios letais que possam facilitar um desfecho de consumação do autoextermínio. Ainda, o autor relata que existem meios de prevenção, mas esses meios devem ser utilizados para identificar previamente casos de potenciais profissionais suicidas e não esperar que eles mesmos se apresentem pedindo auxílio. Infere-se o entendimento de que o policial militar não se suicida repentinamente, pois, as pesquisas mostram que o comportamento desse profissional vai mudando de acordo com que sua ideação suicida aumenta, por isso, mostra-se necessário que os oficiais superiores estejam atentose tenham sensibilidade para identificar qualquer traço de comportamento suicida. Nesse sentido, a pesquisa de Miranda; Guimarães (2016) mostrou que atualmente, ainda persiste a invisibilidade dos casos de suicídio no ambiente de trabalho e relacionados ao trabalho. Enfatiza-se que há uma modificação nas formas de trabalho do policial militar por obtenção de resultados, pressão por qualidade no serviço, entre outros tipos de transformações que, de uma maneira geral, concorrem possivelmente para casos de suicídio. 4.3 Por que os policiais se matam? A função da categoria policial reúne inúmeros fatores estressantes e de risco em comparação com as demais profissões. Partindo, da hipótese de que a taxa de morte por suicídio na Polícia é alta. (SOARES, et al. 2012). Entretanto, é necessário questionar se tais ações estão sendo adotadas de forma efetiva e trazendo os resultados esperados, pois as demandas são enormes. Particularmente, pode-se dizer que as diretrizes citadas também são válidas para as corporações policiais militares. Ações e estudos na área são fundamentais, considerando a natureza do serviço e 14 que invariavelmente as tentativas e suicídios consumados por policiais militares estão estreitamente ligados ao trabalho que o profissional desempenha. Sobre esse aspecto, no caso de policiais militares, estudos recentes apontam que o risco relativo de suicídio para esses profissionais é de 4 vezes superior ao da população geral do estado do Rio de Janeiro, de 2005 a 2006 (MIRANDA, 2016). Silva; Bueno (2017), Borges et al. (2018) Winter; Alf (2019), Reis (2020) e Baptista et al. (2020), apontam para a ideia de que o trabalho policial é permeado por riscos reais de morte. Há inúmeros fatores que contribuem para o recrudescimento de tais riscos, como por exemplo, ações falhas, pouco treinamento ou a falta de equipamentos de proteção. O aspecto mais letal, entretanto, é o suicídio, considerando que para o resultado morte basta apenas a conduta autodestrutiva do próprio indivíduo. Quando o policial ultrapassa o limite do sofrimento psíquico suportável, sua resposta poderá ser àquela direcionada à autodestruição. Desta forma, ele busca a solução para seus problemas e também para o fim do sofrimento que o domina por meio do ato fatal, independentemente dos fatores que desencadearam a ação. E, na maioria das vezes, o faz com o uso do meio que está à mão: sua arma de fogo. Nascimento (2019) afirma que suicídio é o ato intencional de matar a si mesmo. Diversos são os fatores que levam a pessoa a ter um comportamento suicida, entre eles pode se destacar: os transtornos psíquicos, o desemprego, rompimento de um relacionamento amoroso, estresse e sobrecarga no trabalho. Os transtornos psíquicos geralmente estão relacionados à depressão, transtorno de humor, esquizofrenia, ansiedade, dependência de álcool e drogas psicoativas, como também a certas características de personalidade. A pesquisa de Miranda (2016), mostrou que os policiais entrevistados, relataram sentir profunda tristeza, tremores constantes e sentimento de inutilidade. E foi alarmante o número de policiais que relataram fazer uso rotineiro de bebidas alcoólicas, remédios controlados ou drogas ilícitas como uma tentativa de fuga à pressão sofrida no ambiente laboral. Contudo, muitos deles referem se sentir constrangidos em assumirem que tem algum tipo de vício e a procurar ajuda profissional, especialmente quando a ajuda vem da própria instituição. Já para Porto; Silva (2018) nas corporações policiais o contexto é ainda mais grave, pois existem peculiaridades que influenciam na prática deste ato por seus agentes. As estatísticas de mortalidade policial em decorrência de ato suicida corroboram com esta afirmação, daí a necessidade de o tema ser amplamente debatido, entendido e assimilado, em especial pelos gestores dessas instituições. 15 Assim, é importante lembrar a constatação no referencial teórico que o suicídio atinge homens e mulheres, de todas as idades e classes sociais, por isso, entende-se que os policiais militares possuem problemas que se tornam difíceis de serem administrados quando ocorrem num mesmo período de tempo. E sem um histórico de vida que ajudem a resolver e superar as adversidades, buscam a solução fatal, ou seja, o suicídio Nessa perspectiva, a pesquisa de Silva; Bueno (2017) afirmam que o suicídio de policiais militares na PMPR é um problema grave. Um conjunto de fatores pode ser levado em consideração quando o suicídio dos profissionais de segurança pública assume essa gravidade perturbadora. Tragicamente, muitas vezes o suicídio se torna a única forma do policial lidar com os problemas que o atormentam. Os estressores internos verificados em seus locais de trabalho aliados a problemas externos à Corporação, como relacionamentos pessoais, por exemplo, juntamente com o abuso de álcool e acesso à arma de fogo criam uma receita para o desastre entre os policiais mentalmente perturbados que podem ver no suicídio a única saída para sua dor e sofrimento. Outro estudo que trata dessa varável é a pesquisa de Duarte (2019), ao trabalhar como o risco profissional influencia na ocorrência das mortes dos Policiais Militares do Estado do Pará nas situações ocorridas na folga, a referida autora sugere a necessidade de um estudo que trate do suicídio, por meio de estudo de caso, diante da existência de ocorrências no âmbito da PMPA, configurando-se em uma das causas da morte de policiais tanto em serviço quanto na folga. Assim, estudar este fenômeno na PMPA é importante no sentido de entender se, suas causas decorrem de fatores laborais (doenças oriundas da atividade peculiar de segurança pública) ou com ela não possuem relação de causalidade; estudos acerca do tema reforçam que a incidência de suicídio entre os componentes das instituições militares, são maiores que os da população civil. 4.4 Políticas de Prevenção contra o suicídio em Policiais Militares No que tange à prevenção, observa-se que se mostra uma variável importante e apresenta um ponto em comum em várias pesquisas, pois, verificou-se que a possibilidade de prevenção ao suicídio, com o foco na atividade policial militar se mostra uma necessidade imperiosa, haja vista, que o conhecimento dos fatores de risco que predispõem o indivíduo ao cometimento do suicídio é uma estratégia válida para sua prevenção (MIRANDA, 2016; SILVA; BUENO, 2017; CANCHESKI et al., 2017; MIRANDA; MENEZES; NUNES, 2017; PORTO; SILVA, 2018; FRANCO, 2018). 16 Para Miranda (2016, p. 92), isso significa “fazer da prevenção do comportamento suicida uma política a ser inserida no planejamento estratégico da instituição”. Num segundo momento, é necessário sensibilizar os integrantes da corporação sobre a gravidade do problema e a necessidade de adesão à campanha de prevenção às mortes autoprovocadas. Desta forma, prevenir o suicídio requer quebrar barreiras institucionais e pessoais, há muito tempo arraigadas. Entende-se aqui que entre as barreiras que devem ser quebradas, a gestão de pessoas é uma das principais, pois, nos dias atuais a valorização do capital humano é primordial para o alcance das metas de uma organização, por isso, é necessário que a Polícia Militar implante uma política voltadas para combater os principais fatores de risco para o suicídio, dando-se ênfase, à utilização excessiva de álcool e outras drogas e às doenças mentais. Apresentaram- se também alguns fatores protetores contra o suicídio, dos quais destacam-se, entre outros, um ambiente de trabalho saudável, a perseguição de metas de vida alcançáveis (GONÇALVES NOGUEIRA; LAS CASAS MOREIRA, 2012, PORTO; SILVA, 2018). Para Sousa (2016), em relação aos anos potencias de vida perdidos, para reforçar a importância da prevenção do suicídio em profissionais de segurança pública, acredita-se que estudo específico poderia estimarvalores pecuniários que o Estado investiu na formação de seus profissionais, com cursos de aperfeiçoamento, com cursos de especialização, com viagens a conferências, com gastos com munições nos treinamentos de tiro, com compras específica de fardamento de elevado custo e equipamento de proteção individual (EPI), entre outros. Compreende-se que a comunidade policial possui práticas exclusivas de socialização entre seus integrantes e que tal situação pode predispor policiais que vivem momentos de angústia ou desespero real ou irreal para uma propensão ao autoextermínio. Essas condições impostas pelo papel desempenhado pelo policial afetam as relações pessoais, promovendo o isolamento social. Sendo a Polícia Militar uma corporação hierarquizada, os seus superiores também podem reforçar o isolamento do policial. E como resultado, caso o indivíduo não possua mecanismos psicológicos para superar os problemas, o suicídio poderá ser cogitado. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar este artigo, é possível concluir por meio da revisão de literatura, que o suicídio é um tema complexo, permeado de tabu na sociedade em geral, entretanto, é imperioso o seu enfrentamento. No que se refere à questão dos suicídios e das tentativas de suicídio em meio aos policiais militares no Brasil, remete-se à ideia de que as corporações precisam estar 17 mais atentas a essa problemática, por ser notória que a atividade de policial militar, está inserida como um dos maiores grupos de risco de morte por suicídio. E, nessa perspectiva, sugere-se a criação e o melhoramento contínuo de quadros específicos para profissionais especialistas, nas áreas de assistência social e de psicologia, valorizando a sua atuação, para que seja possível realizar um acompanhamento de policiais que apresentam problemas psicológicos ou em algum aspecto atinente ao seu sistema de apoio social – pois, como visto, um sistema de apoio social é um dos principais fatores de proteção para o suicídio, devendo portanto, ser estimulado. Ademais, pode-se dizer que o objetivo desta pesquisa foi alcançado e que a hipótese inicial pesquisa foi confirmada, na medida as pesquisas mostraram que comportamento suicida do policial militar advém em grande parte do quadro de sofrimento vivenciado pelo policial militar, principalmente, por conta da sua atividade na segurança pública. As várias pesquisas apresentadas aqui, indicam que policiais militares fazem parte de um grupo de risco de morte por suicídio, pois, a violência urbana e a criminalidade expõem permanentemente esses profissionais e gerando impactos na saúde desses indivíduos, já que quando o peso psíquico do trabalho é elevado, e este, se torna fonte de tensão e desprazer, manifestados como consequências fadiga, astenia e outras patologias (DANTAS et al., 2010; MINAYO et al, 2011; MIRANDA, 2016; MIRANDA; GUIMARÃES, 2016; FRANCO, 2018 e REIS, 2020) Por fim, pode-se dizer que as pesquisas analisadas permitem sugerir que a Polícia Militar deva investir no sistema de apoio do policial. Sugere-se aos comandantes, a promoção de eventos de integração e confraternização (jogos, gincanas, competições etc.) nos batalhões, pois isso pode favorecer a criação de uma rede de apoio que irá buscar à desmistificação do problema e objetivando sempre a sua prevenção, com ênfase no suicídio policial militar. Assim como, pode-se verificar que é necessária a adoção de medidas preventivas e de apoio para que se viabilize o desenvolvimento do homem, policial militar, com a finalidade de que o mesmo seja saudável e preparado integralmente para enfrentar os desafios da atualidade e de sua profissão. 18 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Felipe Mateus. O suicídio. Revista Aurora, v. 11, n. 1, p. 119-138, 2018. ALMEIDA, T. C.; OLIVEIRA, A. Quero Morrer do Meu Próprio Veneno: Representações Sociais da Polícia e do Suicídio entre os Alunos dos Cursos de Formação Profissional da Academia Nacional de Polícia. Instituto Universitário de Lisboa, 2013 (dissertação). ALVES, Verônica de Medeiros et al. Ideação Suicida E Avaliação De Cronotipo Em Enfermeiras E Policiais Militares. MedicalExpress, v. 2, n. 3, 2015. Associação Brasileira de Psiquiatria. Suicídio: Informando para prevenir. Brasília: Conselho Federal de Medicina; 2014. BAHIA, Camila Alves et al. 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